OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · Stewart e o vampiro Edward Cullen, no filme é...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Produções Didático-Pedagógicas
01. Ficha para identificação da Produção Didático-Pedagógica
Título: Literatura para arrepiar e gostar!
Autor: Sílvia Kelly do Amaral Pereira
Disciplina/Área: Língua Portuguesa
Escola de Implementação do Projeto e sua localização:
Colégio Estadual do Jardim Panorama – Rua Euclides da Cunha nº 504 – Jd. Panorama
Município da escola: Sarandi
Núcleo Regional de Educação: Maringá
Professor Orientador: Prof. Dr. Fábio Lucas Pierini
Instituição de Ensino Superior: Universidade Estadual de Maringá – UEM
Resumo: O presente material foi elaborado objetivando transportar o interesse que muitos alunos têm em obras populares que tematizam o sobrenatural para leituras mais aprofundadas. Para tanto, utilizando-se do Método Recepcional, de Bordini e Aguiar, foram desenvolvidas seis seções: as duas primeiras exploram o sobrenatural em livros e filmes de grande sucesso atualmente; a seção 3 tematiza as origens da Literatura Fantástica e a autora do primeiro conto; as seções 4 e 5 trazem a leitura e análise de dois contos fantásticos: um da Literatura Brasileira e outro da Literatura universal. A última seção traz uma proposta de leitura dramatizada.
Palavras-chave: Literatura; Sobrenatural; Contos
Formato do material didático: Unidade Didática
Público-alvo: Alunos do 3º ano
02. Apresentação
Cada vez mais se percebe o profundo desinteresse pela leitura e
mais inegavelmente, pela leitura de textos literários, considerados, pelos
alunos, como muito difíceis de compreender e que, comentam eles, só são
lidos na escola.
Mas, um fato tem chamado à atenção: a crescente e estrondosa
ascensão de alguns romances, suas adaptações para o cinema e séries que
tematizam o sobrenatural; estes sim, não importando o quão volumosos sejam
seus exemplares, o quão grande seja a fila do cinema ou se a série só passa
no canal fechado, sempre encontram uma maneira de satisfazer o desejo de
vê-los ou lê-los. É inegável que este tipo de leitura realmente tenha caído no
gosto dos jovens. Como também é inegável a frustração de nós, educadores,
diante da rejeição que a leitura dos clássicos provoca em muitos de nossos
alunos.
Esse gosto pelo sobrenatural, pelo fantástico, fantasioso já existe há
muito tempo, pois a curiosidade é inata do ser humano e o espanto que o
mistério de certas coisas inexplicáveis pode provocar é muito bom! Então,
explorando essa tendência observada objetivamos resgatar o gosto pela obra
literária mais profunda.
Procurando não desvalorizar o tipo de leitura preferida pela “grande
massa” e considerando todos os seus aspectos positivos, sendo o maior deles
a capacidade de fazer de nossos alunos: leitores em potencial, buscamos
transportar essa satisfação, esse prazer para a leitura de clássicos literários,
tentando desmitificar o pré-conceito já construído pelos alunos, revelado em
afirmações como: “é muito difícil”; “não é para mim”; “não tem nada a ver
comigo” e muitas outras negativas.
Este material fundamentou-se nos pressupostos teóricos da
Estética da Recepção, de Jauss (1994) e da Teoria do Efeito, de Iser (1996),
sugeridos nas Diretrizes Curriculares do Paraná (2008), por considerá-los de
suma importância para que nas aulas de Literatura ocorra a interação
necessária para a prática da leitura, transgredindo a passividade do leitor.
Utilizaram-se as cinco etapas do Método Recepcional, desenvolvido pelas
autoras Vera Teixeira de Aguiar e Maria da Glória Bordini, por considerá-lo o
mais adequado aos objetivos aqui buscados, a saber: - incentivar o gosto pela
leitura de autores consagrados por meio de narrativas com elementos
sobrenaturais; - proporcionar reflexões sobre o elemento sobrenatural nas
narrativas; - apresentar os elementos composicionais do gênero conto; -
oportunizar o entendimento de dois contos clássicos.
Concretizando a primeira etapa do método, chamada
“Determinação do horizonte de expectativas”, entendendo que a palavra
horizonte aqui significa visão de mundo, que pode e deve ser ampliada, a
atividade é uma conversa com questionamentos sobre as preferências dos
alunos quanto à temática de livros, séries de TV e filmes de sucesso; com as
esperadas respostas direcionando as preferências às produções narrativas
com elementos sobrenaturais; a segunda etapa: “Atendimento ao horizonte de
expectativas” será realizada com a exibição de um filme de grande sucesso
entre o público jovem, com a observação minuciosa da presença do
sobrenatural no enredo. A etapa da “Ruptura do horizonte de expectativas”
dar-se-á com a leitura e análise de dois contos pertencentes à Literatura
Fantástica: um da grande escritora brasileira Lygia Fagundes Telles e o outro
de um cânone da literatura universal: o escritor Edgar Allan Poe.
A etapa de “Questionamento do horizonte de expectativas” será
proporcionada com atividades que evidenciem a inevitável comparação entre
as fases anteriores, onde o aluno deverá perceber que nos contos houve um
maior empenho para interpretá-los e que foram estes que lhes trouxeram
maior satisfação, pois lhes proporcionaram maiores descobertas. Consciente
de sua nova condição de leitor mais crítico e exigente, a “Ampliação do
horizonte de expectativas” far-se-á com a sugestão de outras leituras do
gênero e a posterior apresentação de uma delas para outras turmas do
Ensino Médio do colégio.
03. Material Didático
APRESENTAÇÃO
Caro aluno,
É sempre muito bom ouvir histórias, elas podem nos
provocar inúmeros tipos de emoções: alegria, ternura, piedade,
revolta, raiva e até mesmo: o medo!
E o mais incrível: esse medo, na maioria das vezes é
prazeroso! Quem nunca ouviu ou contou uma história de arrepiar?
Estando em uma roda de amigos que compartilham histórias
assustadoras sentiu-se dividido entre dois desejos igualmente
proporcionais: fugir pelo pavor ou ficar pela curiosidade?
Talvez você lendo os best-sellers1 contemporâneos ou
assistindo suas séries favoritas, vendo seus filmes prediletos,
onde o elemento sobrenatural se faz bem presente, nem imagina
que este já há muito tempo existe na literatura.
Neste material você vai ter a oportunidade de saber um
pouco mais sobre esse assunto, além de conhecer dois grandes
escritores que não precisaram de muitas páginas para conseguir
nos assombrar, produzindo contos que... “Nem te conto”! “São
sinistros”; nos dois sentidos da palavra!
Então, prepare-se para conhecer uma literatura que vai
te arrepiar e acredite – você vai gostar!
1 Palavra estrangeira já incorporada ao nosso idioma usada para se referir aos livros de grande sucesso.
Figura 1 – Fonte: Portal Dia a Dia Educação.
Seção 1 – Partindo do que você já conhece...
Vamos iniciar nossos trabalhos com uma conversa sobre suas preferências: leituras, séries, filmes...
Estando em seu último ano no colégio, você já deve ter lido várias histórias, talvez umas você considerou mais interessantes ou mais marcantes do que outras. Recorde algumas dessas e compartilhe com a turma.
Diga um elemento dessa história que não te deixou esquecê-la.
Você costuma assistir séries de TV? Quais os temas que mais lhe atraem?
E ao cinema, você vai frequentemente? Qual seu gênero preferido?
Entre os grandes sucessos de bilheteria recentes, a quais deles você já assistiu? O que mais lhe chamou a atenção?
E os chamados best-sellers atuais, quais você já leu ou ouviu comentários a respeito?
Qual a sua hipótese para tanto sucesso? O que eles têm de extraordinário?
Seção 2 – Conhecendo um pouco mais...
Esta explanação faz-se necessária visto que podem haver alunos que não leram ou não assistiram aos filmes, fato este que pode ocasionar dificuldades para compreender o final da Saga, que é o que vamos trabalhar. É importante frisar que se eles gostaram dos filmes, irão gostar muito mais dos livros, pois a adaptação sempre resume muito a história.
A “Saga Crepúsculo” é uma série constituída por quatro livros, da
escritora estadunidense Stephenie Meyer, que já vendeu mais de 55 milhões
de exemplares em todo o mundo, com traduções em 37 línguas, sendo que
suas adaptações para o cinema já quebraram vários recordes de bilheterias.
O primeiro livro da Saga – intitulado: “Crepúsculo”, foi publicado em
2005 e chegou às telonas em 2008, arrecadando cerca de 36 milhões de
dólares só no primeiro dia de estreia. Os protagonistas são: Isabella Swan, que
no filme é interpretada pela atriz Kristen
Stewart e o vampiro Edward Cullen, no
filme é interpretado pelo ator Robert
Pattinson2, ela, uma jovem de 17 anos,
tímida, desajeita e entediada com a
pacata cidade de Forks, onde foi morar
com o pai, contra a sua vontade. Ele,
misterioso, atraente, ao mesmo tempo
irresistível e impenetrável.
Nasce um grande amor entre esse casal incomum, ela fascinada pela
beleza hipnótica de Edward e ele intrigado com a atração inexplicável que
sente por ela e por não conseguir ler sua mente, um poder adquirido quando
tornou-se vampiro. Este vive com uma família de vampiros “vegetarianos”, que
irão proteger Bella dos outros vampiros que querem desesperadamente seu
sangue.
O segundo livro: “Lua Nova”, foi publicado em 2006 e teve sua
adaptação para o cinema em 2009, quando conseguiu angariar quase 73
2 Dados técnicos e bilheterias sobre os filmes: fonte de pesquisa: wikipedia.org/wiki/a enciclopédia livre.
Figura 2 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação.
milhões de dólares, tornando-se o filme que mais arrecadou em um único dia
nos EUA e Canadá. Nesta sequência, Edward percebe que é quase impossível
o amor entre os dois, depois de observar a reação de um de seus irmãos
vampiros, quando Bella corta-se sem querer em sua festa de aniversário. Então
decide terminar o namoro e some de Forks, deixando Bella em profunda
depressão. Esta percebe que quando se põe em perigo Edward aparece em
visões, então se envolve em várias situações arriscadas e estreita ainda mais
seus laços de amizade com Jacob Black, a terceira peça do “triângulo
amoroso”, no filme esse personagem é interpretado pelo ator Taylor Lautner, o
que a faz descobrir que este faz parte de uma tribo de lobisomens, ancestrais
inimigos dos vampiros. Pensando que Bella havia morrido, Edward vai ao clã
Volturi, onde Aro, seu líder não quer matá-lo, mas ao vê-la salvando o amado,
sente a ameaça de ter o segredo dos
vampiros revelado. Firma-se, então,
um pacto onde Edward compromete-
se a transformar Bella em breve.
O terceiro volume da Saga:
“Eclipse”, escrito em 2007, teve sua
estreia no cinema em 2010, sendo
que nos primeiros cinco dias cerca de
dois milhões de americanos
assistiram ao filme. Bella se vê obrigada a escolher entre seu amor por Edward
e sua amizade por Jacob. A vida de Bella está ameaçada por uma vampira
chamada Victoria que quer vingança por Edward ter matado seu grande amor;
vários vampiros comandados por ela vêm à Forks caçar Bella. Edward vai para
as montanhas com sua amada para protegê-la e luta com Victoria matando-a.
Os Volturi aparecem para verificar como a situação terminou e novamente
intimidam os Cullen para que a humana seja logo transformada, para que o
segredo dos vampiros mantenha-se intacto. Bella confirma para Jacob que
escolheu Edward, que vai se casar e será transformada.
O último livro: “Amanhecer”, escrito em 2008, ao ser adaptado para o
cinema foi dividido em duas partes, a primeira delas estreou em 2011, com o
Figura 3 – Fonte: Portal Dia a Dia Educação
título de “Amanhecer – Parte 1”, onde vemos os protagonistas: Bella e
Edward casando-se e indo para o Brasil em lua de mel. Após algumas
semanas Bella engravida e Edward fica desesperado, pois sabe que seria
impossível essa criança meio vampira, meio humana, sobreviver sem matar
sua amada. Então voltam a Forks e Bella decide, contra a vontade de Edward e
Jacob, levar adiante sua gestação. Ela passa por grande sofrimento, pois a
criança suga suas forças e essa só mostra melhora quando bebe sangue para
alimentá-la; a criatura, como muitos a chamam, cresce dentro da mãe em uma
velocidade extraordinária. A tribo dos lobisomens quer matar a criatura,
argumentando que esta, ao nascer será um grande risco, pois não conseguirá
controlar sua sede, Jacob rompe com eles e passa a vigiar Bella o tempo todo.
O parto foi extremamente difícil e dramático e o coração de Bella não
suportando tanta dor, para. Então, Edward a morde em várias partes do corpo
e a dolorosa transformação se inicia.
ercebeu como o elemento sobrenatural se faz bem presente em todas as histórias? Seja através da figura do vampiro e seus extraordinários poderes ou com os
personagens transfiguradores, que nestas histórias se transfiguram em lobos gigantescos e outros elementos...
Ficou curioso para saber como termina essa Saga?
Com a leitura dos resumos dos filmes anteriores, agora estamos preparados e motivados a assistir a parte final dessa
longa história – o filme:
“Amanhecer – Parte 2” (Disponível em : http://www.youtube.com/watch?v=OvrsO-ZjQcc
Ao realizar tal atividade você deverá observar
alguns aspectos da obra:
os mesmos elementos sobrenaturais que
aparecem nos outros filmes se fazem
presentes também neste? Há algum novo?
P
Ficha Técnica do filme:
Título original: The Twilight Saga: Breaking Dawn-Part 2
País de origem: EUA
Gênero: Aventura
Duração: 115 minutos
Ano de lançamento: 2012
Elenco principal original: Kristen Stewart, Robert Pattinson, Taylor Lautner
os ambientes em que ocorrem as ações contribuem para
evidenciar o sobrenatural? De que maneira?
por que não nos assustamos tanto ao assistirmos esse gênero de
filme?
Agora produzam um comentário sobre esses aspectos
observados.
Entendendo as adaptações
Muitas pessoas assistem a um filme e nunca chegam a ler a obra que a
originou e perdem a oportunidade de “vivenciar intensamente” e de maneira
muito mais aprofundada as angústias sofridas pelos personagens, deixam de
apreciar e “visualizar” os ambientes descritos minuciosamente; isso acontece
porque os livros ao serem adaptados ganham uma nova
linguagem, é a chamada “linguagem cinematográfica” onde
o que mais tem importância é a ação.
O efeito que isto provoca no leitor do livro e
expectador do filme é a sensação de que está assistindo a
um resumo, ou melhor, uma síntese do livro. O que é
importante entender é que se trata de obras diferentes, com
linguagens diferentes e que suscitarão leituras diferentes.
Para uma melhor compreensão dessa relação entre literatura e cinema,
assistiremos ao Vídeo “Cinematógrafo”3 e depois você deve preencher o
quadro abaixo, a fim de perceber as diferenças e semelhanças entre as duas
obras:
3 Disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=8687
Figura 4 – Fonte: Portal Dia a Dia Educação
Trechos do livro Páginas / Parágrafos4
De que assunto
tratam os trechos?
Aparecem ou não no filme? Comente cenas.
290 / 10 291 / 03 292 / 06 e 07
325 / de 01 a 05
402 / 01 e 05 403 / 04, 05 e 06
451 / 13 459 / 03 460 / 02 e 03
527 / 07 e 08 534 / 11
550 / 22 551 / 01 e 02
552 / de 05 a 10 553 / inteira
554 / 14 a 17 555 / de 10 a 13
4 Fonte: MEYER, Stephenie. Amanhecer. Tradução de Ryta Vinagre. RJ: Intrínseca, 2009.
ealmente, tanto o livro quanto o filme são bem interessantes...
O que você talvez não saiba é que estes ingredientes que transformaram essas obras em grandes sucessos: vampiros,
poderes sobrenaturais, transformações, já há muito tempo figuram na literatura...
Seção 3 – O sobrenatural na literatura
Temos como início desse gênero literário,
a obra: “Castelo de Otranto”, do escritor Horace
Walpole, de 1764, que inaugura a tendência
chamada pelos franceses de “romance negro”,
conhecido também como “romance gótico”,
sendo esta a primeira forma de literatura
sobrenatural na Inglaterra do século XVIII e que
possui as principais características do gênero,
influenciando todos os demais escritores que o
cultivaram. Também merece destaque na
literatura inglesa a obra “Drácula”, de Bram
Stoker, que data de 1897, que pode ser
considerada um manual básico para todas as
histórias de vampiros que se seguiram, pois
esta obra trata do primeiro deles.
Conheça um trecho da obra e saiba um pouco mais sobre as
características desse gênero assistindo ao vídeo5: “Leitura de contos de terror”.
Essas são as raízes da chamada literatura fantástica, que se perpetua
até nosso tempo, como vimos nas primeiras seções deste material.
O termo fantástico refere-se ao que é criado pela imaginação, o que não
existe na realidade, o imaginário, o fabuloso, por isso mesmo ser tão adequado
5 Disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=8452
R
Segundo o Dicionário Houaiss (2009, p.380)- gótico: diz-se de ou estilo arquitetônico que predominou na Europa entre os séculos XII e XVI, notável especialmente pela construção de catedrais, com arcos e abóbodas ogivais. Segundo estudo de Albuquerque, esse tipo de arquitetura provocava um efeito emocional sobre quem as via, evocando a sensação de estar diante de um poder superior, sentindo-se vulnerável e insignificante; era um espaço do oculto e do não-explicável.
à literatura, pois esta, mesmo que se aproxime muito da realidade, sempre será
ficcional por excelência.
Percebemos nas obras pertencentes a esse gênero – o fantástico -
fenômenos estranhos, mas que nos parecem reais, é essa dúvida: real ou
sobrenatural, essa hesitação que torna o texto próprio da literatura fantástica.
Essas histórias apresentam mais do que em qualquer outro tipo de narrativa
certas lacunas, incertezas que possibilitam ao leitor a liberdade para fantasiar.
Muitos desses preenchimentos podem causar
sensações de medo, certo temor, provocadas pela
intensidade emocional da história, pela presença de
mundos desconhecidos ou poderes estranhos.6
Falando agora de Brasil, que muitas vezes fica
em desvantagem em relação às inovações artísticas,
no século XIX tivemos um autor que já usava
elementos fantásticos, trata-se do grande escritor
Machado de Assis, em sua obra: “Memórias
Póstumas de Brás Cubas”, com o seu defunto-autor.
Depois dele muitos outros se aventuraram pelo gênero; destaque para
alguns mais contemporâneos: J.J. Veiga, Murilo Rubião, Guimarães Rosa,
Moacyr Scliar, Flávio Moreira da Costa e a autora do conto que será lido e
analisado mais adiante: Lygia
Fagundes Telles.
Saiba mais sobre ela lendo o
boxe abaixo e assistindo ao vídeo7
onde ela mesma comenta algumas
de suas obras.
6Conceituações dos teóricos Todorov e Lovecraft apresentadas no livro “O fantástico”, de Selma C.
Rodrigues, pp.27 e 28. 7 Disponível em: http://www.portugues.seed.pr.gov.br/modules/video/showVideo.php?video=8391
Segundo o dicionário Houaiss (2009, pág. 495)- medo é uma perturbação psicológica diante de ameaça ou perigo, real ou imaginário e temor é uma sensação de ameaça, um receio (pág.720).
Figura 5 - Fonte: Portal Dia a Dia da educação.
Nascida em 19 de abril de 1923, na
cidade de São Paulo. Desde criança já
lhe fascinavam as histórias com temas
aterrorizantes com lobisomens e
tempestades; com apenas quinze anos
publica seu primeiro livro de contos:
“Porão e Sobrado”. Forma-se em
direito e Educação Física, mas sua
grande paixão é mesmo a literatura.
Ganhadora de vários prêmios
nacionais e internacionais, membro
das Academias Paulista e Brasileira
de Letras, teve suas obras traduzidas
para várias línguas, bem como
algumas delas foram adaptadas para
filme (As meninas), novela (Ciranda
de Pedra) e episódio de série de tv (O moço do saxofone). A coletânea
“Seminário de ratos”, onde está inserido o conto que iremos analisar foi
publicada em 1977, pela Editora José Olympio e recebeu o prêmio da
categoria “Pen Club do Brasil”. Suas obras enfocam os desencontros
afetivos e conflitos existenciais de personagens sufocados pelas imposições
sociais e familiares.
Fonte de pesquisas: http://www.releituras.com/lftelles_bio.asp e SARMENTO, Leila L. TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática, produção de texto. 1. ed. SP:
Moderna, 2010.
Seção 4 - Um conto fantástico da Literatura Brasileira
Imagine a situação: um casal está indo para um jantar e de repente seu
carro fica sem gasolina no meio de uma estrada escura e deserta... Laura sai
do carro e resolve seguir um misterioso perfume de flor, enquanto Fernando,
muito irritado tenta resolver o problema... Acontecimentos inexplicáveis
acontecem...
Figura 6 - Fonte: Portal Dia a Dia da Educação.
Embarque nessa aventura fantástica lendo o conto: “Noturno
amarelo”8.
Figura 7 - Fonte: Portal Dia a Dia da educação.
“O ruído do fiozinho de gasolina caindo no tanque. Os ruídos miúdos vindos da terra. Fui andando na direção daquele lado, conduzida pelo perfume que ficou mais pesado enquanto eu ia ficando mais leve. (...) Segui pela vereda. Tão familiar. Como a casa lá adiante, lá estava a casa alta e branca fora do tempo, mas dentro do jardim. (...) Vi as estrelas maiores nessa noite dentro da noite (...)”.
Fragmento do conto “Noturno amarelo”, in: TELLES, Lygia Fagundes. Seminário de ratos, 4ª.
ed. RJ: Nova Fronteira, 1984, pp.140,141.
A leitura será dividida em três partes, essa primeira irá até a página 143, penúltimo parágrafo: “- Perdoar o quê? - ouvi alguém perguntar atrás de mim, Ducha?” Primeiramente de forma
silenciosa, depois com a participação dos alunos.
8Disponível em: http://pt.scribd.com/doc/7198488/Lygia-Fagundes-Telles-Noturno-Amarelo.
Todo conto, narrativo por natureza, possui um enredo, que é o conjunto
de acontecimentos decorrentes do conflito vivido por um ou mais personagens.
Esse enredo possui algumas partes, a saber: situação inicial (onde nos são
apresentadas informações acerca do local, dos personagens, é a construção
da situação); complicação (configura-se na apresentação de um problema a ser
desenvolvido e resolvido); clímax (caracterizado como o momento de maior
tensão da narrativa, detentor de alta carga de emoção) e o desfecho (na
maioria das vezes é a resolução do conflito).
Além do enredo, outros elementos são fundamentais em uma narrativa:
a presença de um narrador que conta a história; os personagens que vivem o
conflito, evidenciado muitas vezes por meio dos diálogos que estas constroem;
o local onde ocorrem os fatos e o elemento que se refere à sequência, ao fluxo
da narrativa: o tempo.
Esses elementos serão abordados nas atividades que seguem.
Atividades sobre a primeira parte:
1) A escolha de um narrador em 1ª pessoa é preferível nos contos fantásticos, pois dão mais veracidade ao relato. É isso que ocorre no conto lido? Você concorda com essa afirmação? Por quê?
2) O ambiente que nos é apresentado no início da história é favorável ao clima sobrenatural? Justifique.
3) A personagem-narradora está em uma situação inicial, já descrita no início da seção e algo a retira dessa “normalidade”. Qual é esse elemento que a faz mudar de atitude perante a situação?
4) Percebe-se que a história que será contada marcou e muito a personagem, tanto que a fez tornar-se uma outra pessoa. Retire o trecho que confirma essa afirmação.
5) O trecho que essa seção se refere ao caminho e ao local misterioso para onde a personagem foi conduzida. Marque as informações corretas sobre eles:
( ) o caminho parecia estar meio abandonado, com mato rasteiro, galhos e carrapichos
( ) era totalmente desconhecido para ela, nada familiar
( ) a casa aonde chegou era branca e térrea
( ) a casa tinha andares, jardim e varanda
( ) o portão estava bem enferrujado
( ) ao chegar, todas as luzes estavam acesas e várias pessoas foram recebê-la.
6) Observe um trecho do conto:
“Então Ifigênia apareceu na porta principal, o avental nítido no fundo preto do vestido. Levou as mãos à cara, numa alegria infantil. Voltou-se para dentro:
- É dona Laurinha! Que bom que a senhora veio, dona Laurinha, que bom!
Abracei-a. Cheirava a bolo. (...)” (pág. 141)
Pelas caracterizações e aparente intimidade, quem poderia ser esta personagem? O vestido preto pode nos indicar algo sobrenatural?
7) Perceba que o sobrenatural não é tão explicitado, mas a autora nos dá indícios de que ele está presente. Indique esses indícios na página 141.
8) Apesar de estranho, não é com esse primeiro encontro que Laura se altera. Marque no texto o início da complicação.
9) Pela conversa entre as personagens pode-se deduzir que este novo personagem – Rodrigo – tinha sérios problemas e Laura parece muito preocupada com ele. Complete o quadro abaixo com as informações que nos são dadas por Ifigênia referentes a esses problemas.
problema possível solução
loucura
alcoolismo
suicida
histerismo
10) As figuras de linguagem são recursos muito utilizados na literatura, estas garantem maior expressividade ao texto. Vejamos algumas delas que se fazem presentes no conto:
Metáfora: consiste no emprego de uma palavra fora de seu sentido próprio, tendo como base uma comparação subentendida, já que a conjunção comparativa não aparece claramente.
Ironia: consiste em dizer o contrário do que se pensa, normalmente com intenção sarcástica.
Hipérbole: caracteriza-se pelo exagero da linguagem, a fim de intensificar uma ideia.
Personificação: consiste na atribuição de características humanas a seres inanimados ou irracionais.
Fonte: SARMENTO, Leila L. A gramática em textos. 2. ed.rev. SP: Moderna,
2005.pp.576,577.
Agora complete o quadro abaixo relendo os trechos onde os fatos indicados são narrados, retire os trechos, diga qual é a figura de linguagem presente e justifique-a.
Fato Trecho Figura Justificativa
As gentilezas de Fernando
Que ela tinha um relacionamento “enrolado”
Que ela tinha segredos que a acompanhava
Um fato inédito e diferente aconteceu
O convite para entrar
O comentário sobre o preço do xale
11) Novamente o ambiente é descrito (2º parágrafo da página 143), mas agora é o interior da casa. Retire palavras: substantivos e adjetivos que ajudam a construir o clima sobrenatural.
12) A complicação se instaura através da confissão da mágoa de Ifigênia. Quanto a essa revelação assinale (V) ou (F):
( ) Ifigênia estava cansada de não ser valorizada e sempre quis ganhar mais.
( ) Seu grande sonho era viajar para a cidade de Aparecida para cumprir uma promessa.
( ) Laura prometeu leva-la, mas foi adiando e acabou esquecendo.
( ) Ifigênia pediu muito à Laura, pois não tinha condições de ir sozinha.
( ) Com “gestos melífluos” Ifigênia demonstra doçura, mesmo magoada.
( ) Laura quer ser perdoada.
13) O diálogo é um componente essencial no conto, pois é por meio dele que ficamos conhecendo o conflito a ser resolvido. Com o auxílio das informações do boxe diga qual é o tipo de discurso/diálogo presente nos trechos:
a) “Fernando arrancou o paletó no auge da impaciência e perguntou com voz esganiçada se eu pretendia ficar a noite inteira ali de estátua.” (pág. 139)
TIPOS DE DISCURSO:
Direto: são as falas dos personagens, geralmente com travessão ou aspas;
Indireto: quando a fala do personagem é resumida e contada pelo narrador;
Indireto livre: é uma mescla dos dois primeiros: temos falas de personagem inseridas no discurso do narrador;
Monólogo interior: é o personagem falando consigo mesmo.
b) “ _ Estão todos aí? (...)
_ Só falta o Rodrigo.” (pág. 141)
c) “Agora ela fechava o xale em redor do meu ombro e seu gesto era o mesmo com que enrolava em meu pescoço uma meia embebida em álcool um santo remédio para dor de garganta, mas não pode mexer, menina _ ah, o pé de meia verde do pai.” (pág. 142)
Leitura da segunda parte do conto que vai do final da página 143, último parágrafo, até a página 150, na frase: “Às vezes volta o medo – eu disse.”
Atividades sobre a segunda parte
a) Compare as descrições das personagens Ifigênia e Ducha, o que há em comum entre elas, na aparência e nos sentimentos em relação à Laura? Alguma dessas semelhanças é indício da presença do sobrenatural? Por quê?
b) Ao analisar o 3º parágrafo da página 144, onde Ducha explica o motivo da mágoa que ela guarda da irmã, pode-se deduzir que ela é:
Infantil Aplicada displicente quanto ao ballet
fútil dissimulada carinhosa egoísta
c) No parágrafo seguinte, que se inicia: “Quis abraçá-la e ela se esquivou
(...)” temos vários sinais de que esse encontro tem ligação com o sobrenatural.
qual o momento em que a personagem percebe que não está no tempo presente?
Figura 8 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação
que palavras ou expressões indicam que também Ducha pode estar morta?
d) Releia a página 145 e assinale os sentimentos que podem ser depreendidos das reações da personagem Laura diante dos fatos:
Remorso alegria tristeza assombro
Indiferença confusão saudosismo
e) Justifique com trechos do texto duas de suas escolhas na questão anterior.
f) Além da irmã vários outros personagens aparecem nesta parte, todos também se sentem magoados, alguns mais, outros menos. Utilize os seguintes sinais para indicar o quanto Laura parece tê-los magoado: (+) profundamente, (+-) razoavelmente, (?) se ainda não há como avaliar:
( ) o avô ( ) o professor alemão ( ) a avó
( ) Eduarda ( ) o menininho
g) Outra figura de linguagem presente é a Antítese, que consiste em empregar palavras ou expressões de sentidos opostos para caracterizar um mesmo elemento, que acabam por realçar o contraste de significados.9 Explique o porquê da utilização desse recurso na frase: “(...) era nova essa noite antiga.” (pág. 146)
h) O tempo da narrativa pode ser cronológico, quando for marcado, de forma objetiva, pelo relógio ou psicológico, quando subjetivamente, 9 In: SARMENTO, Leila L. A gramática em textos. 2. ed.rev. SP: Moderna, 2005.p.574.
Figura 9 - Fonte Portal Dia a Dia educação
estiver relacionado com a repercussão emocional, estética e psicológica de cada indivíduo. Sabendo disso, complete:
Até esta parte da narrativa o tempo foi..................................., pois .....................................................mas a partir da frase: “O grande
relógio marcando nove horas” (pág 146)., nos dá a impressão de que o tempo agora passa a ser........................................porque percebemos.........................
i) observando os trechos: “_ Vamos, beba, não tem veneno (...)” pág. 146 e
“(...) Eduarda guardava o mistério dos ingredientes.” pág. 147 e considerando o caráter sobrenatural desse encontro, podemos deduzir que essa personagem pode ter cometido um deslize mortal. Qual seria? Indique outro trecho que confirma essa hipótese.
j) É na página 148 que a triste história de Eduarda é exposta. Nesta história, Laura “brincou com os sentimentos" de três pessoas. Conte o que ela fez com:
EDUARDA
RODRIGO
NOIVO DE EDUARDA
k) Identifique no último parágrafo da página 149 outro indício do sobrenatural.
Término da leitura do conto.
Atividades sobre a última parte do conto
1) Na página 151 temos mais algumas informações sobre Rodrigo.
a) ao falar sobre ele a avó sempre utiliza verbos no pretérito, o que isso pode significar?
b) o que é esclarecido sobre a sua personalidade?
c) e sobre o que aconteceu com ele, fica claro? O que houve?
2) A mágoa da avó, que até então não havia sido esclarecida, aparece em qual parágrafo da página 152? Do que se trata afinal?
3) O que faz Ducha nos parágrafos 4 e 6 da página 152? Podemos dizer que suas palavras refletem a consciência pesada de Laura? Por quê?
4) Na “teatralização” do acidente de Rodrigo feita por Ducha confirma-se sua morte? Justifique.
5) Marque no texto onde se inicia o clímax e o desfecho. Escolha um trecho que você considerou o mais emocionante da página 153.
6) Aponte entre os trechos abaixo retirados da página 153, quais podem ser considerados indícios de que esse encontro entre Laura e Rodrigo tem algo de sobrenatural:
( ) Ele arrumou meu cabelo. Acendeu meu cigarro.
( ) Éramos muito jovens. Éramos? Levantei a cabeça.
( ) E continuam as bandagens?
( ) Ele pegou um copo de ponche, me fez beber (...)
( ) Comecei a sentir frio (...)
( ) Mas ainda dói, Rodrigo?
7) Que hipótese poderia explicar a tamanha vergonha que Laura sente perante a presença do “menininho”?
8) Após todos desaparecerem e Laura voltar ao carro, alguns fatos a fazem duvidar do ocorrido. Quais são esses fatos?
9) A dúvida se instaura ainda mais pela presença de um objeto, é o efeito fantástico do conto. Qual é esse objeto e por que ele confere esse efeito à história?
10) Observe:
“(...) Começara uma melodia um tanto dissonante. Esgarçada. (...) _ esta música é minha, você gosta? Vai se chamar Noturno amarelo.” (pág. 153)
Sabendo que “dissonante” significa algo sem harmonia, sons desagradáveis e “esgarçada” é o mesmo que rasgada. Assinale possíveis relações com o título do conto:
( ) toda as confissões foram difíceis de ouvir e soarem desagradáveis para Laura
( ) as verdades ouvidas “rasgaram”, dilaceraram seu coração
( ) a música que tocava na hora da conversa não era muito agradável
( ) ao mesmo tempo que a experiência foi um pouco sombria também foi esclarecedora
( ) “noturno” pois aconteceu durante uma noite e “amarelo” porque terminou quando amanheceu.
Figura 10 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação
Seção 5 – Um conto fantástico da Literatura Universal
Sentiu uns arrepios? Essa era a intenção...
E que tal mais uma história do gênero?
Esta foi escrita há muito mais tempo que a anterior, data de 1843, obra
prima de um famoso escritor americano, considerado por muitos “o pai do
romance policial moderno”, pois foi ele o primeiro a introduzir as características
deste gênero que teve e tem muitos seguidores até hoje.
Mas, além destas, este escritor foi inigualável também em
reproduzir o horror da loucura em suas histórias, conseguindo traduzir,
como poucos depois dele, a angústia do inesperado e o desespero do
homem entregue às forças que ele não domina. Trata-se do mestre Edgar
Allan Poe (1809-1849), que viveu pouco, mas intensamente. Sempre
precoce, já com dezessete anos estava na universidade e aos vinte publicou
seu segundo livro de poemas. Teve uma vida muito conturbada: ficou
órfão duas vezes, foi maltratado e deserdado pelo padrasto, enviuvou aos
38 anos e quando ia se casar
novamente, depois de uma viagem
coberta de acontecimentos misteriosos,
morre. Apesar de ter alcançado grande
fama, sempre viveu na miséria. Esses
fatos estabelecem um estranho nexo com
a sua obra: a morte, o medo, a dor
sempre foram seus temas prediletos.
Tendo sofrido tanto não é de se admirar
que suas obras estejam carregadas de
um profundo pessimismo, “seus contos
parecem concentrar uma força
irracional e maligna à qual todo o ser
humano está condenado, como se o
terror estivesse não só nos ambientes
sinistros, mas dentro de cada um de
nós.”10
Fonte: POE, Edgar Allan. Histórias de crime e mistério. 2. Ed. Tradução: Geraldo Galvão Ferraz. Série: ”Eu leio”. SP: Editora Ática, 2000.
10
Afirmação feita por Eliane Robert Moraes, no posfácio da referida obra, página 165.
Figura 11 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação
Vamos à leitura do conto: “O gato negro”11
(...) Agarrei-o e então ele, assustado com essa violência, fez um pequeno ferimento com os dentes em minha mão. A fúria de um demônio imediatamente me possuiu. Não sabia mais quem era. Minha alma original parecia, de repente, ter fugido do meu corpo e uma maldade mais que demoníaca, alimentada pelo gim, percorreu cada fibra de meu ser. (...)
Fragmento do conto: “O gato negro” in: POE, Edgar Allan. Histórias de crime e mistério. 2.
Ed. Tradução: Geraldo Galvão Ferraz. Série: ”Eu leio”. SP: Editora Ática, 2000. Pág. 149.
A leitura será realizada em três partes, sendo que esta primeira irá até a página 150, até a frase: “Havia uma corda em volta do pescoço do animal”.
Atividades sobre a primeira parte
1) No primeiro parágrafo temos várias informações sobre o narrador e a história. Marque (v) para as informações verdadeiras ou (F) para as falsas.
( ) A história acontece ao mesmo tempo em que é narrada
( ) O narrador não é um personagem dessa história
( ) essa história traz boas recordações ao narrador
11
Disponível em: http://maxliteratura.blogspot.com.br/2010/09/conto-o-gato-preto-de-edgar-allan-poe.html.
Figura 12 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação
( ) estando à beira da morte, escrever essa história servirá para aliviar a alma do narrador
( ) o narrador não tem explicações lógicas e cabíveis para os fatos que lhe sucederam
( ) ele não parece ter ficado assustado com o que lhe aconteceu
( ) não exige que o leitor acredite, mas afirma tratar-se de uma história doméstica
2) Que indício do sobrenatural podemos perceber por meio da descrição do gato de estimação?
3) O próprio personagem confessa, com pesar que algumas mudanças ocorreram em sua personalidade com o passar dos anos. Sobre essa afirmação, responda:
a) como ele é descrito nos primeiros parágrafos?
b) quais as mudanças que ocorreram?
c) quais as justificativas dadas para tais mudanças?
4) O primeiro ato de extrema maldade relatado no 6º parágrafo é mesclado por justificativas reais e sobrenaturais. Comente-as.
5) Observe os tempos verbais empregados nos trechos:
“Fico vermelho, queimo, estremeço ao descrever essa atrocidade danada (...) experimentei um sentimento meio de horror, meio de remorso, pelo crime do qual era culpado; mas era, quando muito, um sentimento fraco e equívoco.” Pág. 149
a) Explique o porquê desse emprego diferenciado.
b) Afinal ele sentiu ou não algum arrependimento pelo ato? Justifique.
Na cultura popular e estudos em geral sobre a sua simbologia o preto é a cor das trevas, do mundo inferior, pois representa o que nega a luz do dia, tornando-se um símbolo do mal. As vestes negras simbolizam dor e sofrimento. Também há uma superstição referindo-se aos animais pretos como os gatos ou bodes como sendo mensageiros do azar. Fonte:http://www.literaturafantastica.pro.br
6) A complicação se instaura a partir do momento em que o personagem toma consciência do novo sentimento que tomou conta dele. Qual é esse sentimento? Quais as considerações que faz sobre isso?
7) Reflita sobre a frase: “Esse insondável desejo da alma de (...) fazer o mal apenas
pelo mal” (pág. 150) e responda:
a) é essa a explicação para o enforcamento do gato? Você a considera aceitável?
b) qual a outra explicação dada para tamanha crueldade? É plausível?
8) Paradoxo é a figura de linguagem que intensifica a antítese, ou seja, o contraste de ideias mais reúne ou associa do que opõe. Localize-o no 1º parágrafo da página 150.
9) Após o incêndio da casa um novo episódio com características sobrenaturais é testemunhado por várias pessoas, o que faz aumentar a veracidade do fato. O que aconteceu?
A segunda parte da leitura irá até a página 155, 1º parágrafo, até a frase: “Ela caiu morta ali mesmo, sem um gemido.”
Atividades sobre a segunda parte
a) Novamente o personagem tenta dar uma explicação racional ao ocorrido dizendo que:
( ) seria um outro gato que entrou na casa sem ser percebido
( ) seria só uma mancha causada pelo fogo
( ) alguém achou o gato no jardim e jogou-o dentro do quarto para acordá-lo
( ) foi uma alucinação coletiva
( ) com o incêndio as paredes ruíram sobre o gato e os materiais como o reboco recente, a cal e o amoníaco da carcaça produziram um efeito estranho.
b) Um outro gato aparece na história; este novo personagem é coberto de muito mistério. Complete o quadro com informações sobre ele:
Semelhanças físicas com Pluto
Diferenças físicas com Pluto
Sua origem
Relacionamento com o casal
c) A Antítese é bastante utilizada no último parágrafo da página 153. Localize e copie as três passagens onde ela ocorre.
d) Nesta parte temos de forma explícita as informações sobre o tempo presente do personagem e sobre seus reais sentimentos em relação ao gato. Em que trecho?
e) Além do narrador em primeira pessoa o autor utiliza-se de outro artifício para dar maior credibilidade a sua história: coloca o leitor como testemunha. Identifique o trecho onde isso ocorre.
f) Enumere a sequência na ordem em que os acontecimentos relatados entre os parágrafos 19 e 22 ocorreram até culminar no clímax da narrativa:
( ) sente raiva de tudo e de todos
( ) fica horrorizado com a marca em forma de forca no peito do gato
Figura 13 - Fonte: Portal Dia a Dia Educação
( ) em um acesso de fúria, mata a esposa
( ) torna-se uma criatura atormentada pelo medo
( ) tenta matar o gato, mas sua mulher o impede
Término da leitura do conto.
Atividades sobre a última parte
1) Dentre as várias possibilidades pensadas por ele para esconder o corpo, qual foi a escolhida e por que lhe pareceu a mais adequada?
2) Identifique entre os adjetivos abaixo quais refletem os sentimentos do personagem após monstruoso ato:
Culpado feliz triste inconsolável orgulhoso
depressivo realizado tranquilo desesperado triunfante
3) Comprove duas de suas escolhas da questão anterior com passagens do texto.
4) Esses sentimentos não surgiram somente pelo fato de ele ter conseguido esconder o corpo da mulher. Qual é o outro motivo que o deixou tão aliviado?
5) Como o crime é descoberto? Este desfecho era o esperado por você? Comente.
6) Tentando descrever o som que saiu da parede o personagem constrói uma gradação utilizando alguns adjetivos para caracterizá-lo. Faça a relação
Figura 14 - Fonte: Portal Dia a Dia da Educação
dos substantivos (os sons) com seus respectivos adjetivos (as características), depois coloque-os em uma ordem crescente de intensidade:
(a) berro ( ) longo
( ) agudo e contínuo
(b) uivo ( ) de lamento
( ) meio de horror, meio de triunfo
(c) guincho
( ) abafado e interrompido
(d) gemido
( ) anormal e inumado
Agora em ordem:
7) A princípio o personagem achava que sua arrogância foi a culpada pela descoberta de seu crime, mas no final acaba concordando que foi vítima do sobrenatural. Em que trecho evidencia-se essa constatação? Você concorda com as conclusões do personagem? Por quê?
Seção 6 – Ampliando suas leituras
Como vocês puderam perceber a chamada Literatura Fantástica está
longe de ser “uma moda passageira”, somente criada para fins comerciais,
como a princípio se poderia pensar; esta tem suas raízes em grandes nomes
da literatura universal. Também devemos compreender que a fantasia e o
sobrenatural não fogem das temáticas ligadas aos problemas humanos, ao
contrário, ao analisarmos profundamente as obras ditas “fantásticas”, sempre
encontraremos questionamentos próprios da existência humana.
Sabendo disso, convido vocês, leitores experientes e sedentos de novas
leituras desafiadoras, a saborearem mais algumas histórias fantásticas e
escolherem uma delas para realizar uma leitura
dramatizada. Como sugestão, três contos de
escritores brasileiros: “A armadilha”, de Murilo
Rubião; “O espelho”, de J.J. Veiga e novamente um
conto de Lygia Fagundes Telles: “A caçada”. Leia
estes, leia outros e façam sua escolha!
Como exemplificação para essa atividade
assista ao vídeo da “Cia Em Cena Ser”12, com a
atriz Cristiane Gimenes contando mais uma história
de Edgar Allan Poe, intitulada: “Sepultamento Prematuro”. Observem as
entonações, o ambiente, o figurino, a música; enfim, todos os recursos
utilizados para criar “o clima” propício para esse tipo de leitura.
Selecionada a história, vamos dividir as tarefas; organizem-se em
grupos para: leitura/“atuação”; cenografia, figurino e sonoplastia.
Com certeza ficará fantástico!
12 Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=LJCOqAdpsFc
Figura 15 – Fonte: Portal Dia a Dia Educação.
4. ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS
O referido material didático será apresentado, primeiramente à direção e
equipe pedagógica para conhecimento e aprovação. Depois conversarei com
os alunos sobre os objetivos do projeto, quanto tempo trabalharemos com essa
temática, bem como o material foi estruturado e entregarei uma cópia a cada
um deles.
Quanto às atividades, algumas orientações se fazem necessárias: para
assistir ao filme, seria interessante um passeio, aonde a turma toda fosse ao
cinema, acompanhada pela professora; não havendo essa possibilidade, sua
exibição deve ser preferencialmente utilizando-se de um Datashow, pois se
trata de um filme de muita ação e que se exibido somente na tv comum irá
perder um pouco de seu encantamento.
O primeiro vídeo informativo: “O cinematógrafo”, que se encontra no item
“Entendendo as adaptações”, foi produzido pela Rede Minas e tem a duração
de 06:17 (seis minutos e dezessete segundos). Após sua exibição faz-se
necessários alguns comentários para facilitar a resolução do exercício que se
segue, que aborda as diferenças entre o livro e o filme.
O segundo vídeo informativo: “Leitura de contos de terror”, presente na
seção 3, tem a duração de 5:05 (cinco minutos e cinco segundos) e é uma
produção da Revista Nova Escola, roteiro da escritora Heloísa Pietro e
apresentação da professora e atriz Edi Fonseca. Após sua exibição, alguns
comentários são necessários relembrando e anotando no quadro as
características do gênero apontadas no vídeo. Nesta mesma seção temos o
vídeo estrelado por Lygia Fagundes Telles, produzido pela “Companhia das
Letras” e que tem a duração de 5:45 (cinco minutos e quarenta e cinco
segundos). Deve-se aproveitar os comentários da própria autora sobre
algumas de suas obras e verificar quais delas estão disponíveis na biblioteca
do colégio, incentivando os alunos a emprestá-las e lê-las.
As leituras dos dois contos foram fragmentadas objetivando enfatizar o
clima de suspense que esse gênero suscita, o início e o término estão
indicados antes de cada bloco de questões, sendo que cada bloco refere-se
somente ao trecho em questão. Serão entregues fotocópias das partes
referidas em cada seção, estas deverão ser lidas em casa e depois na sala de
aula.
Após as leituras domiciliares, deve-se comentar o clima construído nos
contos para efetuar leituras dramatizadas dos mesmos.
As leituras dos dois contos foram fragmentadas objetivando enfatizar o
clima de suspense que esse gênero suscita; o início e o término estão
indicados antes de cada bloco de questões, sendo que cada bloco refere-se
somente ao trecho em questão.
Na seção final, o vídeo da “Cia Em Cena Ser”, tem a duração de 13:22
(treze minutos e vinte e dois segundos).
Após ensaios e orientações da professora, outras turmas do Ensino
Médio do colégio serão convidadas a assistirem a apresentação do conto
escolhido.
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Vera Teixeira de & BORDINI, Maria da Glória. Literatura: a formação do leitor: alternativas metodológicas. 2. Ed. Porto Alegre, RS: Mercado Aberto, 1993.
ALBUQUERQUE, Danielle de F.G.C. A literatura gótica: uma breve apreciação. Disponível em: http://www.arcos.org.br/artigos/a-literatura-gotica-uma-breve-apreciacao/a-literatura-gotica-uma-breve-apreciacao/ Acesso em 20/11/13.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de S. Minidicionário Houaiss da língua Portuguesa. 3.ed. rev. e aum. RJ: Objetiva, 2009.
ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. SP: Editora 34, 1996, vol.1
JAUSS, H.R. A história da literatura como provocação a teoria literária. SP: Ática, 1994.
MEYER, Stephenie. Amanhecer. Tradução de Ryta Vinagre. RJ: Intrínseca, 2009.
_______, Stephenie. Crepúsculo. 2.ed. Tradução de Ryta Vinagre. RJ: Intrínseca, 2008.
_______, Stephenie. Eclipse. Tradução de Ryta Vinagre. RJ: Intrínseca, 2009.
_______, Stephenie. Lua Nova. 2.ed. Tradução de Ryta Vinagre. RJ: Intrínseca, 2008.
PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Diretrizes Curriculares da Educação Básica - Língua Portuguesa. Curitiba, 2007/2008.
POE, Edgar Allan. ”O gato negro”. In: Histórias de crime e mistério. 2.ed. Tradução: Geraldo Galvão Ferraz. Série ”Eu leio”. SP: Editora Ática, 2000. pp.147 a 151.
RODRIGUES, Selma Calasans. O fantástico. “Série Princípios”. SP: Editora Ática, 1988.
RUBIÃO, Murilo. “A armadilha”. In: Para gostar de ler – Contos. Vol.9 SP: Editora Ática, 1984.
SARMENTO, Leila L. A gramática em textos. 2.ed. rev. SP: Moderna, 2005.
__________, Leila L. TUFANO, Douglas. Português: literatura, gramática, produção de texto. 1.ed. SP: Moderna, 2010.
TELLES, Lygia Fagundes. “A caçada”. In: Antes do baile verde. RJ: José Olympio Editora, 1979.
_______, Lygia Fagundes. “Noturno amarelo”. In: Seminário de ratos, 4. Ed. RJ: Nova Fronteira, 1984. pp. 139 a 155.
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