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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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GOSTO E GOSTOSURAS: trabalhando o tema gastronomia, como

incentivo à leitura, em uma perspectiva rizomática

Autor: Ana Maria Miranda1 Orientadora: Elisiani VitóriaTiepolo2

Resumo

Este artigo apresenta o resultado da implementação pedagógica do Projeto de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2013, realizado no Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon – EFM - , na cidade de Curitiba-PR, com uma turma do 9º ano do Ensino Fundamental. A finalidade deste trabalho foi promover momentos de leitura, nos quais usamos o gênero textual crônica, com o tema gastronomia, desenvolvendo atividades na perspectiva rizomática. A perspectiva rizomática é uma teoria que visa uma multiplicidade de conexões com contextos sociais e históricos, propiciando a construção do conhecimento, além de fazer com que os alunos consigam interpretar, investigar, refletir e ampliar a sua visão de mundo, para que se tornem leitores assíduos, críticos e competentes. Além do gênero textual crônica, trabalhamos com outros gêneros textuais, além de pesquisas, visualização de imagens, vídeos, músicas e outras mídias, propiciando o acesso as mais variadas formas de linguagens.

Palavras-chave: Leitura. Crônicas. Gastronomia. Perspectiva rizomática.

Introdução

A escola tem sido o principal espaço formal da prática da leitura e da

formação de leitores e, por isso, propicia a interação social, o acesso à cultura,

insere as pessoas no mundo da escrita e no contato com as variadas formas de

linguagens.

Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais de Língua Portuguesa

(DCEs,2008,p.56),

compreende-se a leitura como um ato dialógico, interlocutivo, que envolve demandas sociais, históricas, econômicas, pedagógicas e ideológicas de determinado momento. Ao ler o indivíduo busca as suas experiências, os seus conhecimentos prévios, a sua formação familiar, religiosa, cultural, enfim, as várias vozes que o constituem.

No entanto, percebemos que a leitura que encontramos no espaço

escolar não está voltada para desenvolver leitores autônomos, aqueles que têm a

1 Formada em Letras, UFPR, Especialista em Currículo e Prática Educativa, PUC-Rio. Professora da

Rede Estadual de Ensino

2 Formada em Letras e Mestre em Literatura Brasileira, UFPR. Professora da UFPR, Setor Litoral.

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capacidade de buscar e escolher suas leituras, de acordo com a sua necessidade.

Ao realizar tais escolhas, eles agem com o seu poder de decisão, selecionando o

que querem ler e também o que não querem.

O que vemos na maioria das escolas são leituras selecionadas para

satisfazer exigências dos conteúdos, do professor ou do livro escolar. A maioria dos

textos que os alunos entram em contato estão muito distantes da sua realidade, pois

são dispersos e fragmentados, por isso não interagem com o aluno-leitor, nem

traduzem os seus desejos e aspirações.

Diante deste aspecto, o professor torna-se o responsável em despertar o

interesse pela leitura literária, mas para que isto aconteça, ele deve ter uma visão

crítica do seu trabalho, o domínio de conhecimentos e técnicas dos processos de

leitura, ser um leitor assíduo, crítico e competente. Também deve ter em mente uma

série de reflexões que vão desde a seleção de materiais até os procedimentos para

a leitura, além do que a leitura não deve se restringir apenas às aulas de Língua

Portuguesa, mas estar presente em todas as disciplinas, bem como não pode ter

ação isolada, que não propicia a construção coletiva do conhecimento.

Neste sentido, desenvolvemos uma proposta de trabalho com a leitura de

crônicas com o tema gastronomia, desenvolvendo atividades na perspectiva

rizomática, teoria que objetiva conexões entre saberes e abre um mundo de

possibilidades no trabalho de incentivo ao hábito da leitura.

O projeto foi desenvolvido com alunos do 9º ano do ensino fundamental e

escolhemos o gênero crônica, por ser um texto curto, em prosa, criado a partir de um

fato cotidiano. Além disso, demonstra as reflexões do cronista com humor, poesia,

ironia e crítica, considerado como um gênero híbrido, pois mescla o literário e o

jornalístico.

No decorrer da implementação do projeto, os alunos tiverem contato com

crônicas selecionadas dos livros: A mesa voadora, de Luís Fernando Veríssimo e

A Rainha que virou pizza, de J.A. Dias Lopes, além de outros gêneros textuais,

filmes, músicas e programas de televisão.

Considerações sobre leitura e formação do leitor

Ler é interagir e implica em um diálogo entre sujeitos históricos. A

leitura é compreensão e interpretação, porém este contexto depende de cada

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pessoa, das suas experiências com a vida, a maturidade, o momento histórico, do

seu estado emocional, do nível intelectual, das vivências na família e na sociedade e

das próprias experiências com a leitura.

Segundo Orlandi (2005, p. 58-59),

(...) quando lemos estamos produzindo sentidos (reproduzindo-os ou transformando-os). Mais do que isso, quando estamos lendo, estamos participando do processo (sócio-histórico) de produção dos sentidos e o fazemos de um lugar e com uma direção determinada.

Também afirma Martins (1994,p.36) que “(...) se a leitura tem mais

mistérios e sutilezas do que a mera decodificação de palavras escritas tem também

um lado de simplicidade que os letrados não se preocupam muito em revelar.”

Assim, um dos maiores desafios que o professor tem é o de conseguir

aguçar a curiosidade dos alunos, mediando a prática da leitura entre o leitor e as

ideias dos autores. Conforme Martins (1989, p.20),

A experiência de leitura é de natureza dialógica, coloca o texto com um desafio para o leitor, inapelavelmente enraizado em suas vivências anteriores, orientado pelo seu horizonte de expectativas. E sua realização se desenvolve no fluxo do diálogo da novidade com o conhecimento, circunstanciado por sensações, emoções, ideias efêmeras, mas com mil desdobramentos.”

A leitura compreende também uma série de implicações pedagógicas

que podem ser promovidas pelo professor para que ele possa ser um mediador

desta leitura, descritas por Irandé Antunes (2003, p.79 – 85) e que apresentamos

aqui de forma sucinta:

Uma leitura de textos autênticos: é importante ler textos com uma

função comunicativa, um objetivo interativo e que sejam reais, com o

nome do autor, data e que apareçam em algum suporte de

comunicação social, tais como livros, revistas, jornais, entre outros.

Uma leitura interativa: aquela leitura que ocorre o encontro entre leitor

e autor, com a compreensão do sentido e as intenções propostas pelo

outro com quem estamos nos interando.

Uma leitura em duas vias: todo texto escrito deve ser lido para que os

alunos possam vivenciar a relação de interdependência que existe

neste ato de escrever, ler e compreender.

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Uma leitura motivada: é papel do professor mostrar a importância da

leitura, os motivos para ler este ou aquele texto, despertando o

interesse do aluno.

Uma leitura do todo: o texto deve ser lido de forma integral para criar

sentidos, para que o aluno possa identificar o tema, a ideia central do

texto, sua finalidade, ideologia, argumentos e informações secundárias.

Uma leitura crítica: o aluno deve identificar que todo texto tem uma

ideologia, que ele sempre apresenta uma visão de mundo, uma

crença, um modo de ver as coisas e é imprescindível que o leitor

realize uma leitura plena, para que haja a identificação destes valores.

Uma leitura da reconstrução do textos: o aluno deve perceber as partes

do texto e os elementos articuladores do mesmo.

Uma leitura diversificada: o aluno deve ler vários gêneros textuais com

objetivos diferentes, com materiais variados, observando estas

diferenças na linguagem e na apresentação destes textos.

Uma leitura para “curtir”: a leitura, em muitos momentos, deve ser livre

de cobranças, pelo simples prazer de ler e o professor deve selecionar

textos que propiciem estes momentos.

Uma leitura apoiada no texto: a leitura também deve dar atenção às

palavras do texto, seu sentido contextualizado, suas interações e

coerência.

Uma leitura não só das palavras expressas no texto: o aluno deve

interpretar não só a palavras do texto, ele deve ter um sentido integral

na leitura, usando o repertório que ele traz antes da leitura, realizando

inferências ou interpretando os elementos não explicitados,

compreendendo-o

Uma leitura nunca desvinculada do sentido: para que se facilite a

compreensão do texto, é necessário que o aluno tenha orientações de

como realizar a leitura e o modo mais eficaz para que ela seja

produtiva.

Além de todas estas implicações pedagógicas, cabe ao professor propor

práticas em sala de aula com temas transversais e de forma diversificada,

transpondo o abismo que existe entre a leitura e a sua prática, visando à formação

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do leitor. Temos consciência que esta atitude requer renovação, persistência e

mudanças nas práticas pedagógicas. Também sabemos que a aprendizagem da

leitura não acontece só na escola, visto que o aluno é influenciado por atitudes e

valores sociais que o rodeiam, mas é na escola que ele passa pelo processo de

aprendizagem científica da leitura e o professor é o intermediário deste processo.

Desta forma, o professor não deve ficar atrelado aos textos do livro didático,

ele deve buscar outras leituras que sejam atraentes para os alunos e fazer com que

estes tornem-se bons leitores, que eles obtenham conhecimento com ela e usem a

leitura como instrumento de pesquisa e fonte inesgotável de entretenimento,

extraindo tudo de bom que ela pode proporcionar.

Conforme Filipouski e Marchi (2009, p.23):

A leitura literária torna-se significativa quando é sucedida de um espaço para trocas entre os alunos e deles com o professor, de criações coletivas a partir do lido, que valorizem diferentes negociações de sentidos e invistam na existência de uma ambiente de diálogo como suporte à construção de conhecimentos e à liberdade de expressão. Para possibilitar que ocorram e valorizar a atribuição de sentidos ao lido, é importante que o professor estabeleça pactos de leitura, com objetivos definidos, através dos quais os alunos saberão qual a expectativa em relação à leitura solicitada. Tais práticas têm o potencial de ampliar o repertório, estimular a variedade de experiências, a formação de juízo crítico, a autonomia e a responsabilidade do leitor.

Como mediador do conhecimento, o professor tem papel fundamental na

motivação para leitura, incentivando a reflexão, a discussão, a análise, a posição

que os alunos tomam depois dela, pois assim haverá uma melhoria significativa na

qualidade da educação em nosso país.

Silva (2002, p. 14) complementa:

Quem se dispõe a entrar numa sala de aula para ensinar tem que saber satisfatoriamente aquilo que ensina, tem que dominar os conteúdos e suas disciplinas, para orientar a leitura, o professor tem que ser leitor, com paixão por determinados textos ou autores e ódio por outros.

Outro aspecto que deve ser discutido sobre a motivação é que ela deve estar

ligada ao gosto do aluno e as suas experiências com os textos já lidos, aliados à

bagagem cultural que ele traz. Com estas informações, os professores têm que levar

em conta a idade, a situação sócio-cultural, os conteúdos, o assunto e como será

conduzida esta leitura.

Após a observação destes aspectos, o professor poderá planejar as

atividades e selecionar os materiais adequados para que o aluno cresça

culturalmente, amplie seus conhecimentos, tenha uma compreensão daquilo que lê,

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interaja com os textos, elabore conceitos, crie um ritmo de leitura e estabeleça suas

conclusões.

Complementa Orlandi (2005, p.74):

O sujeito que produz uma leitura a partir de sua posição, interpreta. O sujeito-leitor que se relaciona criticamente com sua posição, que a problematiza, explicitando as condições de produção da sua leitura, compreende. Sem teoria não há compreensão. No seu trato usual com a linguagem, o sujeito apreende o inteligível, e se constitui em intérprete. A compreensão, no entanto, supõe uma relação com a cultura, com a história, com o social e com a linguagem, que é atravessada pela reflexão e pela crítica.

Com este embasamento teórico e com os objetivos que foram traçados, o

gênero textual escolhido para a implementação deste projeto foi a crônica, com o

tema gastronomia, pois acreditamos que este gênero literário provoca o aluno a

olhar de perto o seu dia a dia, criando relações entre a sua vida e o texto literário.

Além do trabalho com as crônicas, também foram usados filme, programas de

televisão e outros gêneros textuais, em uma perspectiva rizomática.

Saboreando a Crônica

Como nos apresenta Márcia Porto (2009, p.83), a palavra Crônica deriva do

latim chronica e seu significado no início da Era Cristã era o relato de

acontecimentos em ordem cronológica e um breve registro de eventos. No século

XVI, os cronistas portugueses, espanhóis ou franceses, eram enviados nas

embarcações que faziam as rotas para as Índias, na busca por especiarias ou por

novas terras.

No discurso destes cronistas encontramos um olhar dirigido para a nova

Terra, local de confronto com o estranho e o maravilhoso, que fugia da explicação

do mundo até então conhecido e revelava a necessidade de buscar significações

para tanta diversidade.

No século XIX, com o desenvolvimento da imprensa, a crônica, passou a

fazer parte dos jornais. Apareceu pela primeira vez em 1799, no Journal de Débats,

publicado em Paris. Esses textos comentavam, de forma crítica, acontecimentos que

haviam ocorrido durante a semana. Tinham um sentido histórico e também como

outros textos de jornal, serviam para informar o leitor.

Na segunda metade do século XIX a crônica chegou ao Brasil e era muito

parecida com os textos publicados nos jornais franceses. Porém a crônica brasileira

foi se distanciando de forma gradual daquela crônica inicial e passou a ter um

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caráter mais literário, fazendo uso de uma linguagem mais leve, envolta em lirismo,

poesia e fantasia.

Segundo Antônio Cândido (1992, p. 14), “A crônica está sempre ajudando a

estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas. O exercício que

a crônica propõe é mostrar a grandiosidade no miúdo, no singular e no inesperado.”

O cronista tem como matéria-prima os acontecimentos diários, porém dá a

eles uma nova roupagem, incluindo ficção, fantasia, crítica e ao selecionar o seu

material para criação do texto, ele mostra ao leitor a sua visão de mundo, expõe a

sua compreensão da realidade e dos acontecimentos.

Complementando ainda com Antônio Candido (1992,p.19), “Ler crônicas é

um modo peculiar de aprendizado divertido, constituindo-se em veículo privilegiado

para mostrar de modo persuasivo muita coisa que, divertindo atrai, inspira e faz

amadurecer a nossa visão das coisas.”

Com o objetivo de fazer com que os alunos compreendessem a importância

da crônica como material de leitura e também assimilassem que ela retrata um

painel da história e da vida cotidiana nas diversas camadas sociais, desenvolvemos

um trabalho com a leitura de algumas crônicas selecionadas das obras: A mesa

voadora, de Luiz Fernando Veríssimo e A rainha que virou pizza, de J.A. Dias Lopes.

Esta escolha aconteceu de forma que os alunos pudessem compreender os motivos

do escritor e também percebessem que este gênero textual está entre a linguagem

jornalística e a literária, é de fácil acesso e leitura e o que é fundamental,

proporciona ótimas oportunidades de reflexão a respeito da vida e das histórias que

cercam os seres humanos.

A perspectiva rizomática

No século XX, aconteceu um grande encontro dos filósofos Gilles Deleuze

com Félix Guattari que juntos produziram obras significativas e um importante

pensamento filosófico que trata do conhecimento formado a partir de encontros, ou

seja, quando produzimos algo, esta produção está baseada em outra criação, visto

que ninguém cria a partir do nada e que a criatividade aparece quando trabalhamos

com ideias já produzidas.

Estes filósofos não trataram especificamente da educação, porém sua

teoria pode ser utilizada nesta área porque podemos apresentar um conceito e a

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partir dele criar possibilidades, uma multiplicidade de outros conceitos que podem

ser construídos.

Sílvio Gallo (2008), filósofo e pedagogo, estudioso da obra de Deleuze e

Guattari, afirma que todo conhecimento adquirido na história da humanidade, a partir

da escrita, teve como objetivo central a busca pela verdade. Este acúmulo de

saberes foi se ramificando ao longo do tempo e originou a teoria do rizoma, que é

explicada através de uma metáfora: uma árvore cujo tronco detém o conhecimento,

das suas raízes seguem interações, conexões de saberes, em uma perspectiva

rizomática.

Desta forma, Deleuze e Guattari (1995) mostram que a visão rizomática da

estrutura do conhecimento não estabelece começo e nem fim para o saber. Esta

ideia apresenta uma multiplicidade que surge como linhas independentes que

representam dimensões, com maneiras diversificadas de construir o real, inventá-lo

e leva o aluno a viajar por caminhos inusitados. O professor que trabalha com a

leitura e a formação do leitor nesta perspectiva, poderá abrir inúmeras possibilidades

de conceitos e novos olhares sobre a leitura e o que ela abrange.

Tomar como base esta teoria na implementação deste projeto, foi entender

que há inúmeras formas de conhecimento, que estas formas se comunicam em

contextos sociais e históricos, são criadas ramificações e se estabelecem redes na

construção do conhecimento.

Deleuze e Guattari também destacam a existência de platôs e que um rizoma

seria composto por platôs com pontos contínuos de intensidade e não apenas um

ponto culminante. Estes platôs podem ser vistos de várias maneiras, por isso, não

podemos ler um texto de uma forma só, lemos fazendo conexões com outros temas,

outras informações, pois, para Deleuze e Guattari (1995,p.15), “qualquer ponto de

um rizoma pode ser conectado a qualquer outro e deve sê-lo”.

Por isso, o trabalho com a leitura no método rizomático proporciona uma

série de conexões, de rupturas e de caminhos que são percorridos durante esta

leitura, dependendo da maturidade de cada leitor, da sua experiência de vida e

bagagem cultural, o que também é interessante, pois pode-se ampliar esta

bagagem. Cada leitor pode ter uma interpretação e interação com o texto lido e fazer

conexões com outros textos, ou seja, realizar a intertextualidade.

Complementa Schmidt (2005,p 10), em seu artigo científico “Viajando nos

canais do rizoma”:

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A proposta rizomática se dá quando um conteúdo busca outras dimensões do conhecimento, outros conteúdos. Estamos diante de um texto em diálogo constante com outros textos, é uma conexão a instilar-se nos veios de outras leituras numa dimensão global e abrangente. O rizoma nos fará percorrer caminhos que nos conduzam para fora da escola, para os problemas sociais numa rota de retorno ao interior de nós mesmos. É uma forma não só de ampliar a visão e o conhecimento de mundo do leitor, mas, também, de ensinar a ler. Assim, além da possibilidade das relações rizomáticas despertarem no aluno o gosto pela leitura, elas também propiciarão a ele a diversidade do conhecimento.

Ao utilizar a perspectiva rizomática neste trabalho com a leitura de crônicas,

com o tema gastronomia, pudemos realizar atividades com grande diversidade

textual, compreendendo a história, dialogando com a arte, usando o cinema e outras

mídias, tendo como objetivo principal o gosto pela leitura, além de ampliar o

conhecimento de mundo do leitor.

O tema gastronomia

Em toda história da humanidade, a alimentação aparece principalmente

na luta pela sobrevivência, mas também como uma ação social repleta de

simbolismos que está dentro de todas as relações humanas, tanto na vida privada

como na vida social.

Quando se fala em Gastronomia, estamos falando de todo o estudo

que envolve a alimentação e o comportamento humano diante do alimento. Este

estudo vai desde a descoberta dos alimentos, da sua elaboração, da compreensão

dos sabores até a evolução da cultura alimentar.

Compreendemos o tema gastronomia com algumas definições

encontradas na obra Gastronomia no Brasil e no Mundo, de Dolores Freixa e Guta

Chaves, que nos dizem que cozinha e culinária são sinônimos e se referem ao

conjunto de utensílios, ingredientes e pratos característicos de um país ou uma

região. Estes termos também se referem à arte de preparar os alimentos, às práticas

e técnicas usadas para este fim.

A alimentação se refere a alimentos naturais ou industrializados que servem

para nossa nutrição, porém, quando analisamos a alimentação sob o aspecto das

preferências, das tradições sociais, religiosas, culturais, históricas, estamos nos

referindo à gastronomia.

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Como nos diz Freixa e Chaves (2008, p.25), “A gastronomia é fruto do

homem, um ser inteligente que vive em sociedade e produz cultura e, uma das mais

peculiares do ser humano é a cultura ligada à alimentação.”

A escolha do tema gastronomia se deu pela atenção que o ser humano

dispensa ao alimento e ao ato de comer, sozinho ou em grupos, visto que desde os

tempos mais remotos, a necessidade de se alimentar, a forma de conseguir o

alimento e reparti-lo, fez com que surgisse a socialização entre as pessoas e por

conseguinte a linguagem também estava envolvida neste ato.

Como já citamos, além da necessidade vital para a sobrevivência humana,

nas primeiras civilizações, o alimento já era reconhecido como de fundamental

importância, pois tornou-se moeda de troca e mais tarde transformou-se na base do

comércio mundial. Na história da culinária no mundo, as grandes navegações foram

também de suma importância, pois quando os europeus partiram em busca das

especiarias - que eram alimentos de luxo - bem como as bebidas: o chá,o café e o

chocolate, por causa deles acabaram descobrindo novos lugares, novas civilizações,

com gostos, culturas e apreciações gustativas exóticas aos olhos de quem chegava

às novas terras.

Considerando todo o contexto histórico que envolve a gastronomia, devemos

pensar que foi no espaço da cozinha que aconteceu a arte de elaborar os alimentos,

dando-lhes sabor e sentido. A cozinha sempre foi e é até os dias de hoje um local de

encontro familiar, pois é neste espaço que ocorre a maior intimidade da família,

com a reunião das pessoas em torno da mesa, saboreando alimentos, trocando

ideias, revelando sentimentos, como numa espécie de ritual gastronômico.

A cozinha é um microcosmo da sociedade e as cozinhas de todos os

lugares são modelos sociais, nelas encontramos a elaboração dos pratos

tradicionais, dos refinados e até as cozinhas compartimentadas, dos fast-foods,

como é exemplo o McDonald’s.

Santos (2005, p.165 ) nos fala que:

As cozinhas locais, regionais, nacionais são produtos da miscigenação cultural, fazendo com que as culinárias revelem vestígios das trocas culturais. Hoje, os estudos sobre a comida e a alimentação invadem as Ciências Humanas a partir da premissa de que a formação do gosto alimentar não se dá, exclusivamente, pelo seu aspecto nutricional, biológico. O alimento constitui uma categoria histórica, pois os padrões de permanência e mudanças dos hábitos e práticas alimentares têm referências na própria dinâmica social. Os alimentos não são somente alimentos. Alimentar-se é um ato nutricional, comer é um ato social, pois

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constitui atitudes ligadas aos usos, costumes, protocolos, condutas e situações.

Estamos vivendo novas práticas e representações alimentares, pois a

necessidade de consumirmos alimentos de fácil cozimento ou pratos prontos

mudou o modo de encararmos a alimentação. Por outro lado, a gastronomia ganhou

ares de requinte, como nos diz Bourdieu (1983), que o gosto, especificamente o

gosto alimentar, é constituído socialmente e tem função importante na diferenciação

social, na medida em que por meio dele formam-se estratégias de distinção, que

exprimem estilos de vida e posições hierárquicas na estrutura de classes.

Para Pilla (2005, p. 62), “ Se o homem é aquilo que come, o que gosta de

comer representa seu caráter, portanto, se gosta de alimentos refinados, seu gosto

lhe confere qualidade e distinção”.

Desta forma, ter bom gosto alimentar é um valor socialmente construído

desde o século XVII, aparecendo como uma virtude social, valorizado por quem

possui e pelas pessoas que a admiram, é uma demonstração de superioridade

econômica e cultural, como observa Pilla (2005, p.68):

Os banquetes das sociedades ocidentais, desde há muito, contribuem para manifestar publicamente o lugar dos que neles participam. A ostentação está tanto no efeito visual como na qualidade dos alimentos oferecidos. Os modos de vestir, de falar, as habilidades à mesa, a postura, a composição e as opções de cardápio e as predileções alimentares podem classificar os indivíduos.

Com este breve estudo sobre a alimentação e a gastronomia, este

artigo pretende demonstrar que o trabalho com crônicas em torno da história da

comida no mundo e curiosidades da gastronomia, foi trabalhado de forma lúdica e

bem humorada, para que os alunos pudessem ampliar a sua bagagem cultural e

realizar momentos de prazer com a leitura.

Também temos que destacar que o tema gastronomia, mesmo que

implícito, é constante na literatura universal e brasileira, pois aparece na memória

gustativa de inúmeros escritores quando tratam dos prazeres à mesa. Na literatura

brasileira, desde as primeiras obras escritas, tanto pelos cronistas como pelos

romancistas, os autores mostraram a nossa natureza exuberante, a contribuição da

culinária dos escravos, a influência dos imigrantes, os cheiros e sabores brasileiros,

retratados em verso e prosa, o requinte gastronômico das culturas estrangeiras que

vieram para a nossa mesa.

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Relato da Implementação da Produção Didático-Pedagógica

A Unidade Didática aqui relatada foi desenvolvida com alunos do 9º ano do

Ensino Fundamental, no Colégio Estadual Marechal Cândido Rondon, entre os

meses de fevereiro e maio de 2014. A implementação da proposta de intervenção

contou com a atuação do professor, além dos recursos físicos, humanos, didáticos e

tecnológicos.

Inicialmente explicamos aos estudantes que a Produção Didático-Pedagógica

(Unidade Didática), era um dos requisitos exigidos pelo Programa de

Desenvolvimento Educacional (PDE), implantado pelo governo do Estado do

Paraná, que entendeu a necessidade do professor em procurar sempre estratégias

diferenciadas para desenvolver um trabalho que realmente possa ajudar o aluno a

tornar-se um leitor assíduo, crítico e competente.

Em seguida, iniciamos com a apresentação do Projeto de Intervenção

Pedagógica, da opção pelo tema gastronomia e também pela escolha do gênero

textual crônica, além da explicação dos objetivos do projeto e que a intenção

principal deste trabalho foi proporcionar aos alunos o contato com diversos gêneros

textuais, realizando leituras significativas e prazerosas. Também informamos que o

Projeto se desenvolveria a partir das atividades da Produção Didático Pedagógica,

que foi construída em forma de Unidade Didática, dividida em quatro oficinas.

Apresentamos aos alunos como desenvolveríamos as atividades, a

organização dos trabalhos, de que forma seria a avaliação e a conclusão das

atividades. Desta forma, iniciamos com a Oficina 1, e o primeiro momento de leitura

com a crônica A decadência do Ocidente, de Luís Fernando Veríssimo; em seguida,

relembramos a teoria sobre o gênero textual crônica, o histórico da crônica,

características e elementos do gênero. Para concluir este estudo teórico, lemos a

crônica Crônica sem jabuticabas, de Antônio Prata, e os alunos responderam

algumas questões sobre a leitura que serviram para fixar a teoria que foi revista

com eles.

A Oficina 2 começou com a leitura da crônica Fomes, de Luís Fernando

Veríssimo, durante a leitura chamamos a atenção para algumas palavras e

informações não conhecidas pelos alunos e partimos para o momento da pesquisa.

Neste momento, os alunos foram levados ao laboratório de informática e com o

auxílio da professora, realizaram a pesquisa. Na aula seguinte, eles leram o que

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pesquisaram e trocaram informações. Esta atividade foi muito importante para

mostrar que em muitos momentos de leitura, nós não conseguimos interpretar os

textos ou não nos interessamos pela leitura porque não compreendemos o que o

autor quis dizer. Também observaram que um texto pode dialogar com outros

textos, com outras formas de arte, como a pintura, a música, o cinema, entre outras.

Na continuação, realizamos a visualização de imagens depois de lermos o

significado do termo “Fome” no dicionário. As imagens chamaram a atenção dos

alunos, pois houve muitos comentários sobre elas, tais como: “Ai que gostoso”, “Traz

um deste para nós professora!”, “Eu quero estes cupcakes para mim!” e

responderam no caderno as questões que foram colocadas para eles, também

apresentamos o tema “Alimentação Saudável”, com um pouco de teoria, da

visualização da pirâmide alimentar, todos mostrados na TV Multimídia. Os alunos

levaram para casa a atividade de montagem de cardápios saudáveis com a pesquisa

nos sites sugeridos ou encontrados por eles. Na aula seguinte, eles trouxeram os

cardápios e vimos o programa “Bem Estar” da Rede Globo que tratava da montagem

de pratos saudáveis para o café-da-manhã e almoço. Para concluir esta atividade,

os alunos criaram cartazes sobre os cardápios montados por eles e esta produção

foi considerada como tarefa avaliativa.

Ainda nesta oficina ouvimos a música: Comida, da banda Titãs, também

lemos a letra da música, conversamos e debatemos sobre as fomes do ser humano

e que a palavra “fome” traz vários significados. Importante destacar que os alunos

perceberam que as fomes que o ser humano tem vão muito além da fome física.

Estas afirmações foram bem assimiladas pelos alunos e complementadas quando

lemos algumas opiniões sobre a música e sobre os direitos humanos que constam

na Constituição Federal. Passamos para a leitura do poema O Bicho, de Manuel

Bandeira, o qual foi escrito no quadro para que os alunos copiassem; eles também

levaram como atividade para casa a leitura do texto O que você precisa saber

sobre a fome em 2012.

Na aula seguinte, os alunos foram divididos em grupos e cada grupo

escolheu, a partir da leitura realizada em casa, uma proposta em forma teórica e

possível, de ajudar a acabar com a fome no mundo. Como atividade avaliativa, os

alunos escreveram as sugestões em papel bobina e ilustraram com imagens

recortadas de revistas. As produções foram guardadas para serem expostas na

escola após a finalização dos trabalhos e assim concluímos a Oficina 2

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Iniciamos a Oficina 3, explicando que ela foi especialmente elaborada para

compreendermos o tema Gastronomia e como ele está ligado a nossa história e

também à literatura. Fizemos a leitura do pequeno texto informativo que falava

sobre a História da Gastronomia e algumas definições de termos específicos sobre o

tema. No momento da leitura, a crônica lida foi Especiarias, de Luís Fernando

Veríssimo. Destacamos que esta leitura é fundamental para o conhecimento geral

dos alunos, pois este termo “especiarias” é muito comentado em várias disciplinas e

tem um contexto histórico envolvido na busca pelas especiarias durante as grandes

navegações.

Desta forma, realizamos a atividade de “linkar” o texto, que foi desenvolvida

em grupos e a professora distribuiu o texto e as cópias com informações para que as

equipes pudessem realizá-la.

A atividade durou duas aulas e percebemos que não houve grandes

dificuldades na execução da tarefa, mas para que ela se tornasse significativa, foi

importante frisar que cada palavra destacada tinha uma informação histórica.

Destacamos também que estas palavras estavam ligadas a nossa própria história,

tanto mundial quanto da construção do nosso país. Para a conclusão dos trabalhos,

apresentamos em forma de slides a crônica já “linkada” com as informações, que

foram lidas em voz alta e explicadas para a turma.

Nas duas aulas seguintes falamos sobre a formação da cozinha de um país e

fomos ao laboratório de informática pesquisar um pouco sobre os pratos típicos das

regiões brasileiras e do nosso estado. Vimos no site Youtube, o vídeo do Pato

Donald, do Diário do Oliver e o programa Larica Total, do Canal Brasil. Em seguida,

a aula foi dedicada a conhecer a história do pão, a formação da cozinha brasileira, a

importância do açúcar e do sal para a gastronomia e lemos o texto Uma evolução

em banho-maria, que tratava da história e evolução da gastronomia no mundo.

Deixamos de realizar algumas atividades da Oficina 3 por falta de tempo, por

isso não fizemos nesta oficina o trabalho com os ditos populares e também com os

painéis da história.

Partimos para a Oficina 4 e fizemos a leitura da crônica Fondue com as

estrelas, de Luís Fernando Veríssimo; comentamos sobre a receita de fondue de

chocolate, que foi repassada a eles, e todos se empenharam em trazer os

ingredientes para que pudéssemos realizar a atividade prática. A professora

comprou o chocolate e trouxe as panelas de fondue, os alunos se responsabilizaram

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em trazer o creme de leite e as frutas. No dia marcado, fomos para uma sala

especial que tinha pia e micro-ondas, fizemos o derretimento do chocolate,

misturamos o creme de leite e os alunos lavaram e espetaram as frutas e os

biscoitos em espetos de churrasco. Terminamos a atividade prática com a

degustação do fondue e esta atividade foi um sucesso, os alunos adoraram. O

interessante foi que a maioria deles nunca havia comido este prato e o acharam

muito gostoso.

Com alguns imprevistos que aconteceram durante a implementação, como a

mudança no calendário escolar e, consequentemente, na redução do tempo

destinado à implementação do projeto, resolvemos concluir os trabalhos com a

produção de um vídeo e não com uma Feira Cultural, como foi proposto na

Produção Didático-Pedagógica. Fizemos esta escolha junto com os alunos, que se

propuseram a trazer o material para as filmagens e a ler as crônicas em casa.

Assim, dividimos a turma em equipes e os alunos receberam cópias das

crônicas da obra A rainha que virou pizza, de J.A. Dias Lopes, além dos textos que

foram lidos sobre as cozinhas no mundo, a história do sal, do açúcar e do pão. As

crônicas Sopa para todos, A invenção da faca, O banquete fúnebre do Rei Midas,

Cleópatra e os festins egípcios, Chaplin, o palhaço que comia botinas, O lorde

sanduíche, O colossal apetite de Elvis Presley, Mazzaropi e a culinária caipira, além

de outras práticas que os alunos acharam necessárias para complementar o vídeo.

Realizamos as filmagens durante quatro aulas e o vídeo das filmagens foi

editado pelo pai de uma das alunas, que se prontificou em dar o acabamento no

trabalho. A visualização do vídeo pela comunidade escolar será realizada no

segundo semestre e estará disponível no site da escola.

Paralelamente à implementação da Produção Didático-Pedagógica, todos os

professores do PDE tornam-se tutores de um curso on-line intitulado GTR – Grupo

de Trabalho em Rede, ofertado para os professores que desejam compreender

como os trabalhos foram desenvolvidos naquele ano. O curso consiste em

apresentar o percurso da Implementação da Produção Didático-Pedagógica, o

desenvolvimento do trabalho, as dificuldades, pontos positivos e negativos, bem

como os resultados alcançados. Durante o curso há uma troca importante de

informações e sugestões para que o trabalho do professor PDE fique ainda mais

produtivo, por isso destaco que a participação do meu Grupo de Trabalho em Rede

foi bem expressiva, pois contribuíram com sugestões de atividades, muitos

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adaptaram estas atividades para a sua realidade escolar, outros já haviam

trabalhado com o tema Gastronomia e por isso demonstraram o resultado do

trabalho que fizeram. Alguns professores sugeriram textos narrativos, instrucionais,

dissertativos, todos com o tema gastronomia, além de poemas que abordavam a

paixão pelo alimento, sua importância na vida das pessoas, o gosto e os sabores do

Brasil. Foram tantas sugestões de atividades que poderia resultar em outra

Produção Didática ou até mesmo em uma obra sobre Literatura e Gastronomia.

Considerações Finais

Um dos maiores desafios que o professor tem é o de conseguir aguçar a

curiosidade dos alunos, mediando a prática da leitura com as ideias dos autores,

conforme Martins (1989,p.20):

A experiência da leitura é de natureza dialógica, coloca o texto como um desafio para o leitor, inapelavelmente enraizado em suas vivências anteriores, orientado pelo seu horizonte de expectativas. E sua realização se desenvolve no fluxo do diálogo da novidade com o conhecimento, circunstanciado por sensações, emoções, ideias efêmeras, mas com mil desdobramentos”.

Com o desenvolvimento das atividades sugeridas por esta proposta de

intervenção, é possível dizer que os alunos passaram a ver a leitura como uma

atividade prazerosa e significativa, refletindo sobre o texto lido, relacionando-o com

os contextos históricos, com as pesquisas realizadas e com todas as informações

recebidas durante a implementação. Além de compreenderem que a leitura é

imprescindível para suas vidas, dentro e fora do universo escolar.

Rojo (2004) complementa dizendo que para ser um bom leitor é preciso

localizar informações dentro do texto e responder questões sobre a leitura, inferir

significados às palavras pelo contexto, dar sentido ao texto através do título,

ilustrações, gêneros, reconhecer a sua finalidade e as intenções do autor, além de

relacionar o conteúdo com a sua experiência de vida.

Desta forma, acreditamos que o objetivo principal do projeto, que era

despertar e incentivar o hábito da leitura foi atingido, pois a proposta de trabalhar

com a leitura na perspectiva rizomática possibilitou o contato com uma grande

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diversidade textual e a leituras se sobrepuseram a outras, levando a combinações

diversas e infinitas.

Um grande desafio foi optar pela leitura de crônicas com o tema

gastronomia e associá-lo a um trabalho que percorreu os canais do rizoma, pois

apesar de ser muito interessante, não sabíamos se os alunos do 9ºano

demonstrariam interesse por ele, no entanto, foi surpreendente ver as ramificações

que as leituras proporcionaram, os platôs que surgiram e levaram ao

desenvolvimento de um trabalho produtivo e gratificante, tanto para os alunos como

para o professor.

Partindo do tema gastronomia, os alunos viajaram pelos canais do rizoma e

por meio dele encontraram sucessivamente novos platôs que surgiram das relações

entre as leituras e atividades práticas, assim perceberam como a alimentação está

relacionada às atividades humanas e a história do homem no mundo.

Após o desenvolvimento deste trabalho, podemos concluir que as atividades

de leitura nas escolas deveriam ser incentivadas por todos os professores e

acreditamos que este é o caminho certo. Na escola em que este trabalho foi

desenvolvido iniciou-se um projeto diário de incentivo à leitura, sendo que os

alunos leem por vinte minutos uma obra a sua escolha. Desta proposta já

percebemos que a maioria dos nossos alunos estão apreciando estes momentos,

procurando mais a biblioteca, tirando dúvidas sobre os temas, autores e obras.

Sabemos que é apenas uma ação dentre tantas que podem ser realizadas

para que além do acesso à cultura, os estudantes possam ter novas ideias e

atitudes e que o aprendizado que o PDE proporcionou a todos eles possa ser

valorizado e incentivado para novas ações dentro da escola.

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