OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE … · 2013 e 2014. O propósito foi trabalhar com o...
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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
A POÉTICA SHAKESPEARIANA EM SALA DE AULA
Elizete de Souza Klein1
José Carlos Aissa2
RESUMO O presente artigo tem por finalidade apresentar e discutir uma experiência realizada em uma sequência didática com a disciplina de LEM – Língua Inglesa no ano de 2014, no Colégio Estadual Marcos Claudio Schuster, com alunos dos nonos anos do Ensino Fundamental. Esta experiência foi resultado de estudos realizados no PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional) nos anos de 2013 e 2014. O propósito foi trabalhar com o gênero “poema”, especificamente com o Soneto 116 de Shakespeare e mostrar abordagens didáticas pedagógicas na utilização do texto literário e o estímulo das quatro habilidades no ensino de língua estrangeira, visando contribuir para uma formação crítica do aluno. A escolha do gênero e do autor deu-se pelo fato de o autor explorar, mediante seus sonetos e obras, o tema homem nos seus sentimentos mais profundos. Palavras-chave: Poema. Soneto. Shakespeare. Literatura.
1 Introdução
O objetivo deste artigo é discutir e relatar o resultado de práticas pedagógicas
envolvendo o gênero “poema” nas aulas de Língua Inglesa como incentivo à leitura e
à interpretação de poesia, seguindo a proposta das Diretrizes Curriculares da
Educação Básica (2008) de LEM.
Para o desenvolvimento do referido projeto foi utilizado o recurso denominado
sequência didática, com atividades organizadas em torno de um gênero textual, para
um ensino mais significativo e motivador para o aluno. Visava-se, explicitamente,
não utilizar o texto literário como mero propósito para trabalhar com termos
gramaticais, mas, diferentemente, o intuito era despertar o interesse e o prazer pela
leitura literária e o contexto que a envolve, tanto o contexto cultural quanto o
intelectual.
A literatura é responsável por um ensino lúdico que traz em foco o poético. No
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1 Graduada em Letras em 1997; especialista em Língua Portuguesa e Metodologia Educacional; professora da rede pública de ensino desde o ano 1986.
2 Professor da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/ Departamento de Letras; doutor em Letras pela UNESP/SP, tradutor público e interprete comercial - JUCEPAR, avaliador de condições de ensino (MEC/INEP).
gênero “poema”, o diálogo entre leitor e texto é muito estreito e pessoal. Nesse
sentido, o envolvimento cultural, ideológico e emocional acontece naturalmente.
Além disso, o referido gênero nos proporciona vários recursos para serem
explorados em sala de aula, tais como: sonoridade, figuras de linguagem, estilo,
época, etc. E, também, abrange informações culturais e de autor que contribuem
com a interação entre leitor e texto. Observe esse contexto no soneto 116 de
Shakespeare:
Let me not to the marriage of true minds
Admit impediments; love is not love
Which alters when it alteration finds,
Or bends with the remover to remove.
O no, it is an ever-fixed mark
That looks on tempests and is never shaken;
It is the star to every wand'ring bark,
Whose worth's unknown, although his height be taken.
Love's not Time's fool, though rosy lips and cheeks
Within his bending sickle's compass come;
Love alters not with his brief hours and weeks,
But bears it out even to the edge of doom.
If this be error and upon me proved,
I never writ, nor no man ever loved. 1
Enfim, a literatura não envolve só emoção e criatividade, mas estimula o
pensar crítico da realidade pessoal, isso culminando numa reflexão acerca da
realidade social, realidade questionável e passível de mudanças. O ensino deixa de
ser sobre a língua, então se voltando para a língua enquanto interação social.
Nesse tipo de proposta, o papel do professor é o de mediador da prática
ensino/aprendizagem, tendo como centro o discurso textual como prática social,
constituindo um ensino onde os gêneros textuais assumem seu papel de mostrar a
língua enquanto função comunicativa e de interação social e cultural. Colocando o
_________________
1 www.shakespeare-online.com/sonnets/116.htm. Acesso em 09 out. 2014.
estudo da língua dessa forma, isso propicia ao aluno o uso do seu discurso em
diferentes contextos de forma autônoma e significativa. Trata-se de um discurso
para entender o mundo e a sociedade na qual ele está inserido, ultrapassando o
espaço de sala de aula e posicionando-se como sujeito da sua própria história.
Segundo Jorge (2009, p. 163),
O caráter educativo do ensino de uma LE está nas possibilidades que o aluno pode ter de se tornar mais consciente da diversidade que constitui o mundo. As múltiplas possibilidades de ser diferente, seja pela cultura, seja pelas identidades individuais, podem fazer com que o indivíduo se torne mais consciente de si próprio, em relação a seu contexto local e ao contexto global.
Enfim, o ensino de Língua Inglesa deve estar pautado nos discursos sociais
que nos cercam, representados na diversidade de textos que circulam no nosso dia
a dia.
2 A importância dos gêneros textuais e da sequência didática em LEM
De acordo com Bazerman (2011, p. 11), “[...] não se ensina um gênero como
tal e sim se trabalha com a compreensão de seu funcionamento na sociedade e na
sua relação com os indivíduos situados naquela cultura e suas instituições”. Nesse
sentido, o trabalho com gêneros deve acontecer enquanto prática social da
linguagem em sala de aula, possibilitando ao aluno reflexões acerca de si e do outro,
numa maturidade reflexiva de leitor/produtor, a partir dos saberes historicamente
produzidos e superando o senso comum do conhecimento científico e social. Assim,
o gênero deixa de ser simplesmente explorado através de uma leitura somente
como exercício escolar, uma obrigação, ou seja, uma atividade sem sentido e,
principalmente, como uma atividade difícil. De acordo com Kleiman (2004, p. 16) e
Geraldi (2005, p. 89),
Ninguém gosta de fazer aquilo que é difícil demais, nem aquilo do qual não consegue extrair sentido. Essa é uma boa caracterização da tarefa de leitura em sala de aula: para uma grande maioria dos alunos ela é difícil demais, justamente porque ela não faz sentido. Na prática escolar, porém, o “eu” é sempre o mesmo; o “tu” é sempre o mesmo. O sujeito se anula em benefício da função que exerce. Quando tu-
aluno produz linguisticamente, tem sua fala tão marcada pelo eu –
professor – escola que sua voz não é a voz que fala, mas voz que devolve, reproduz a fala do eu – professor – escola.
Então, tem-se que repensar a leitura de gêneros como uma prática
motivadora, prazerosa e significativa, analisando a heterogeneidade da língua em
seus aspectos possíveis de sentido ─ e não com o propósito de explorar estruturas
gramaticais. Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 65),
O papel do estudo gramatical relaciona-se ao entendimento, quando necessário, de procedimentos para construção de significados usados na Língua Estrangeira. Portanto, o trabalho com a análise lingüística torna-se importante na medida em que permite o entendimento dos significados possíveis das estruturas apresentadas. Ela deve estar subordinada ao conhecimento discursivo, ou seja, as reflexões lingüísticas devem ser decorrentes das necessidades específicas dos alunos, a fim de que se expressem ou construam sentidos aos textos.
Um dos objetivos da aula de LEM é, então, aprimorar o conhecimento
linguístico a nível lexical, semântico e estrutural do aluno, através da exploração
textual envolvendo oralidade, escrita, interpretação e compreensão auditiva.
Conforme Marcuschi (2008, p. 243),
Os textos sempre se realizam em algum gênero textual particular, seja uma notícia de jornal, uma piada, uma reportagem, um poema, uma carta pessoal, uma conversação espontânea, uma conferência, um artigo científico, uma receita culinária ou qualquer outro. E cada gênero tem maneiras especiais de ser entendido, não se podendo ler uma receita culinária como se lê uma piada, um artigo científico ou um poema. O gênero textual é um indicador importante, pois a produção e o trato de um artigo científico são diversos dos de uma tirinha de jornal ou um horóscopo. Os gêneros não são simples formas textuais, mas formas de ação social.
O trabalho com o gênero “poema” através da sequência didática propiciará ao
aluno perceber o reconhecimento do referido gênero e sua função social,
compreender os elementos estruturais para sua produção e, além disso, entender a
função de estruturas gramaticais no gênero em questão. Como refere Marcuschi
(2008, p. 214), “[...] a finalidade de trabalhar com sequências didáticas é
proporcionar ao aluno um procedimento de realizar todas as tarefas e etapas para a
produção de um gênero”.
Segundo as Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p. 53),
Propõe-se que a aula de Língua Estrangeira Moderna constitua um espaço para que o aluno reconheça e compreenda a diversidade linguística e cultural, de modo que se envolva discursivamente e perceba possibilidades de construção de significados em relação ao mundo em que vive. Espera-se
que o aluno compreenda que os significados são sociais e historicamente construídos e, portanto, passíveis de transformação na prática social.
O professor deve propiciar uma aula de LEM (língua estrangeira moderna)
levando em conta a relação sujeito e linguagem num processo reflexivo de
ensino/aprendizagem. Isso assim deve ser porque, quando o aluno entra em contato
com uma LEM, ele é colocado à frente de outra cultura. Então as reações dele a
essa nova cultura, em termos linguísticos, numa perspectiva discursiva real
cumprindo seu papel de sujeito social marcado por valores, serão fundamentais na
relação texto-leitor e fator determinante na aula de LEM.
Exemplificando:
[...] ensinar e aprender línguas é também ensinar e aprender percepções de mundo e maneiras de atribuir sentidos, é formar subjetividades, é permitir que se reconheçam, no uso da língua, os diferentes propósitos comunicativos, independentemente do grau de proficiência atingido. (DCEs, 2008, p. 55).
Então, através do uso da literatura em sala de aula, o viés do contexto acima
pode ser atingido com sucesso. Cabe lembrar que o propósito do ensino de LEM é
formar um leitor capaz de produzir sentidos e de preencher lacunas ─ um leitor
capaz de reconhecer o texto na sua função ideológica de reprodução social.
3 O gênero “poema” no ensino de Língua Inglesa
O gênero “poema” representa um fator cultural importante, pois permite ao
educando familiarizar-se com autores e obras da literatura nacional e estrangeira.
Além disso, o estudo desse gênero possibilita ao professor uma abordagem mais
apurada em relação às quatro habilidades da Língua Inglesa.
De acordo com Izarra (2007, p. 8):
Estudar a língua Inglesa através do texto literário é quebrar metaforicamente essa vidraça, que espelha nossa condição numa realidade complacente e rotineira. O processo de ensino-aprendizagem da língua estrangeira através do texto literário permite atravessar as fronteiras das estruturas linguísticas e culturais ao romper com a mera repetição de estruturas interativas que propiciam diálogos críticos entre culturas e sujeitos. Professores e alunos cruzam fronteiras imaginárias, detectam os discursos dominantes em um processo de releitura, reescrevem contra-discursos e afirmam suas identidades em face da unicidade etnocêntrica.
Nesse contexto, a aula de Língua Inglesa deve mostrar-se como espaço de
compreensão e de conhecimento de diversidades linguísticas, ideológicas e
culturais, propiciando ao aluno o engajamento com outros discursos a partir da sua
própria vivência de mundo, ao mesmo tempo em que transforma a sua própria
construção histórica e cultural.
Segundo Brandão e Micheletti (1997, p. 22 e 23):
A literatura é um discurso carregado de vivência íntima e profunda que suscita no leitor o desejo de prolongar ou renovar as experiências que veicula. Constitui um elo privilegiado entre o homem e o mundo, pois supre as fantasias, desencadeia nossas emoções, ativa o nosso intelecto, trazendo e produzindo conhecimento. Ela é criação, uma espécie de irrealidade que adensa a realidade, tornando-nos observadores de nós mesmos. Ler um texto literário significa entrar em novas relações, sofrer um processo de transformação.
Assim, suscitar a imaginação do aluno acaba por desinibi-lo, estimulando sua
autoconfiança para mostrar um mundo que é só seu, onde emoção/razão e
sentir/pensar confundem-se num labirinto sem fim. O gênero “poema” propicia o
desenvolvimento emocional e intelectual, questionando seus valores através de
preenchimento das lacunas que o texto poético oferece.
Exemplifica-se com o entendimento de Rosing e Rettenmaier (2003, p. 69), no
seguinte parágrafo:
O texto literário pede e supõe, pois, um leitor ativo, atento ao texto, inteligente, imaginativo, sensível, criativo, racional, um leitor parceiro dos autores e cooperando com os co-leitores, para se dedicar voluntariamente a um jogo de reconhecimentos e de conivências.
Logo, o mencionado soneto 116, de Shakespeare, vem como um elemento
motivador para que a relação entre texto e leitor resulte num processo de
compreensão dialógica, envolvendo tanto a linguagem no seu âmbito estrutural e
discursivo, quanto a linguagem numa interação de sentido inferida pelo aluno a partir
de sua realidade de mundo. Afinal, de acordo com Brandão e Micheletti (1997, p.
26):
A literatura, por ser um discurso dialógico, dialoga com o leitor que lhe dá vida e lhe atribui significações. Desse encontro brota uma outra voz que se junta às já articuladas no discurso literário. É pela linguagem, enquanto prática social, que o aluno compreende e age no mundo. É no processo de interlocução com o outro que o aluno se faz dono de seu próprio discurso.
É interessante refletir sobre o impacto do texto literário na aula de LEM e nos
alunos, porque explorar o gênero poesia, na tipologia soneto, é explorar um texto
especial na sua plenitude, tanto em âmbito histórico, cultural, linguístico, ideológico
e, por que não, em instância interna sentimental?! Shakespeare, no soneto 116,
declara que, se o amor é verdadeiro, não muda com os obstáculos que a vida
apresenta, mas permanece na sua plenitude.
A importância de se trabalhar com a literatura em LEM é incontestável,
porque, segundo Polidório (2004), ela propicia um aprendizado concreto de
linguagem para os alunos,
Literature may make them feel more secure about... what they already know and about what they are learning. Through literature, students can express their feelings. If students feel free to express their feelings, they are going to learn more. [...]. (p. 47).
Para realizar uma ação de linguagem, o educando tem de mobilizar diversas
capacidades, tais como: adaptar-se às características do contexto e do referente
(capacidade de ação), mobilizar modelos discursivos (capacidades discursivas) e
dominar as operações psicolinguísticas e as unidades linguísticas.
4 Metodologia
A aplicação deste projeto realizou-se com duas turmas de nonos anos do
Ensino Fundamental, com aproximadamente 30 alunos em cada turma, nos
períodos vespertino e matutino, durante o primeiro semestre de 2014. Os recursos
pedagógicos utilizados foram DVD player, CDs, multimídia, aparelho de som,
câmera digital e quadro de giz.
De início foi realizado um encontro com as duas turmas esclarecendo sobre
como se daria toda a implementação do projeto. Os alunos mostraram-se
interessados e receptivos.
O autor selecionado para trabalhar com sua obra foi Willian Shakespeare,
sendo explicado aos alunos que essa escolha se deveu à importância desse literato
para a literatura inglesa e universal. O primeiro passo para a concretização do
referido projeto foi assistir ao filme: “Ten things I hate about you” (1999), do diretor
americano Gil Junger. Após conhecido o filme, discussões acerca do tema, das
personagens, do modelo de sociedade que o filme apresenta e do contexto histórico
foram realizadas com os alunos, que participaram ativamente e contribuíram de
forma crítica. No final das discussões é que foi ressaltado que o filme foi baseado na
obra de Shakespeare intitulado A Megera Domada” ─ ao que se ficou sabendo que
muitos dos alunos não conheciam a referida obra. Dando continuidade ao trabalho,
sugeriu-se uma pesquisa, em grupos de três alunos, sobre Shakespeare: vida, obras
e sonetos mais populares.
Na atividade seguinte houve a exploração dos conceitos de poema, poesia e
de soneto. As atividades, em sua maioria, foram realizadas em língua inglesa,
apesar da dificuldade de compreensão apresentada pelos alunos. A exploração
desses conceitos resultou na discussão do que é o amor e como esse sentimento
afeta as pessoas em cada momento histórico. A turma dividiu-se em duplas e
conceituaram amor em língua inglesa. Em seguida foi realizada uma seleção das
melhores e mais criativas definições e tudo foi comentado nas turmas.
A atividade seguinte foi iniciada com a apresentação do poema “Dez coisas
que eu odeio em você”, declamado pela atriz principal do referido filme, em inglês,
sem legendas. Os alunos anotaram as palavras que entenderam. As palavras mais
anotadas foram: “I”, “you”, “my”, “car”, “hate”, “cry” e “close”. Os vocábulos
compreendidos por eles foram poucos. Após o término da apresentação das
palavras anotadas, distribuiu-se a forma escrita do poema em inglês e explorou-se o
significado das palavras em língua materna. Este contexto culminou na exposição do
soneto 116 de Shakespeare. O poema foi apresentado em vídeo de forma
declamada em língua inglesa. Em seguida, distribui-se aos alunos a forma escrita do
soneto para leitura oral, individual e coletiva. Sobre esse texto escrito, primeiramente
foram verificados os termos cognatos ao português, depois palavras formadas por
prefixos ou sufixos e, enfim, foram analisadas as palavras conhecidas. Foram
aplicadas, também, atividades interpretativas referentes ao soneto. No contexto das
questões anteriores, houve explanação, por parte da professora, sobre os sonetos
shakespearianos ou soneto inglês e o soneto petrarquiano. Também foram
apresentadas informações sobre o contexto histórico do século XVI europeu e a
importância do soneto naquela época nos países latinos. Enfim, foi feito um esforço
de identificação das rimas do soneto 116 (“minds”/”finds”, “love”/”remove”,
“mark”/”bark”, “shaken”/”taken”, etc.).
Na atividade posterior realizou-se um paralelo das épocas históricas do
século XVI até a atual, explorando invenções e tecnologias com a Unidade 2 do livro
didático (“Vontade de Saber Inglês”, de Mariana Killner e Rosana Amancio), na
página 20. Um dos pontos gramaticais trabalhados no contexto do Soneto 116 foi o
“Simple Present” e os verbos auxiliares “do” e “does”.
No final do projeto realizou-se uma releitura do Soneto 116 de Shakespeare.
Houve pintura em tela, desenhos com materiais diversos e produções de poesias,
tudo com exposição dos trabalhos para a apreciação de toda comunidade escolar.
Importante é salientar que, durante o desenvolvimento do projeto em sala de
aula, ocorreu o GTR – Grupo de Trabalho em Rede. Trata-se de grupo de trabalho
formado por professores de Inglês, de que as atividades acontecem em ambiente
virtual e com o objetivo de socializar o projeto de intervenção pedagógica entre si.
Os docentes interessados se inscreveram no grupo para que pudessem acontecer
trocas de informações e de experiências, e mesmo debates sobre pontos polêmicos.
Quanto a isso, o GTR foi composto por três temáticas, com duração de quinze
dias cada temática, abordada mediante fóruns virtuais diários. A primeira temática
refletiu acerca da importância do Projeto de Intervenção na escola. A segunda
resultou numa discussão sobre os encaminhamentos metodológicos elaborados e
sua aplicabilidade. Na terceira temática os cursistas opinaram a respeito do plano de
ação da implementação e de algumas atividades aplicadas por eles em sala de aula.
No GTR proposto, neste presente projeto, inscreveram-se treze professores
de diversas cidades do Paraná, mas só 10 concluíram as atividades com o grupo. O
referido projeto teve uma aceitação boa. Os professores participantes interagiram
nas discussões levantadas e colaboraram para que este trabalhado se efetivasse
com qualidade. Aplicaram atividades referentes ao projeto e comentaram os
resultados. É interessante apresentar as experiências dos cursistas. Com o objetivo
de preservar suas identidades, seus nomes estão substituídos por letras a exemplo
de CA , CB, etc.
Fiz a atividade com os alunos do 7º ano, pedi que fizessem uma pesquisa sobre a vida do autor e suas obras. Dividi em grupos de quatro alunos e montaram um painel de cartolinas, colocaram os poemas e apresentaram. Sendo que houve grupos que explicaram a pesquisa e leram os poemas. Trabalhamos com a oralidade em Português e Inglês. (CA – 2014)
Apresentei a proposta ao 2º ano do ensino médio, assistimos o vídeo em três aulas, alguns assistiram em casa e tornaram assistir com a turma. Para inserir o tema, eles fizeram uma pesquisa na sala de informática sobre Shakespeare. Foi bem interessante as questões relacionadas ao autor. Foram feitos questionamentos sobre o amor e a loucura. Língua Inglesa e Língua Portuguesa trabalharam o conteúdo relacionado ao Romantismo. Foi muito proveitoso. (CB – 2014) Passei o filme “Ten things about you” para meus alunos do 9º ano de Língua Espanhola. Analisamos e fizemos a discussão sugerida pelas ações da proposta de implementação, em espanhol. Os alunos gostaram do filme e participaram da atividade. Estudamos um pouco sobre a vida e a obra de Shakespeare [mediante o livro] “Willian Shakespeare, um resumen de su vida y obra”. (CC – 2014) Já citei anteriormente sobre o trabalho que realizei com alunos de 9º ano com o poema “Ten things about you” nas minhas de Inglês. Depois de ter trabalhado com a vida e obra de Shakespeare, apresentei o vídeo do poema e, na sequência, entreguei o poema impresso para que pudessem acompanhar a letra e trabalhar com a pronúncia. Nesta atividade foquei na pronúncia e entonação do poema, podia ser em dupla. Teve duplas que intercalaram os versos no poema. (CD – 2014).
A cursista ainda comenta que os alunos se empenharam e o resultado foi
surpreendente. E que é necessário trabalhar mais com o referido gênero para
abordar outros aspectos da Língua Inglesa.
5 Considerações finais
Neste trabalho o objetivo era aproximar os alunos do gênero “poema” na
Língua Inglesa, proporcionando-lhes alguma familiaridade com essa arte literária em
aspecto geral e, assim, ampliando sua visão cultural. Ao longo de todo o processo
ficou claro que os alunos apresentam muita dificuldade, nas aulas de Língua Inglesa,
na utilização das quatro habilidades: ouvir, ler, falar e escrever.
No início, os alunos não se sentiram à vontade nas atividades de oralidade.
Segundo eles, o inglês é difícil. Percebeu-se que os educandos não estão
acostumados a demonstrarem sentimentos e nem a falar sobre eles mesmos,
principalmente em outra língua. Mesmo assim, porém, no transcorrer do projeto
mostraram-se mais motivados no papel de sujeitos coautores do processo de
ensino-aprendizagem. Então, o que aqui cabe mencionar é que o referido gênero foi
trabalhado em contexto real de comunicação em sala de aula, ampliando o uso da
língua inglesa, bem como construindo significados nas lacunas que o soneto
apresentou. Isso, como se pode perceber, envolveu o seu conhecimento de escritor
– texto – leitor.
Ao explorar o gênero “poema” provocou-se nos alunos possibilidade de
criação mais íntima de parâmetros de linguagem, arte e cultura, o que culminou na
sua interação coletiva, através de seu discurso social e cultural com os outros
colegas sobre sentimentos variados.
Quanto ao trabalho com gêneros textuais, um trabalho desse teor permite aos
alunos produzir e compreender a linguagem na sua interação comunicativa. Cabe,
porém, advertir para a dificuldade de que explorar um gênero de linguagem envolve
responsabilidade por parte do professor no sentido de apresentar aos educandos
gêneros que favoreçam o propósito comunicativo, tendo como objetivo a
compreensão do discurso do outro manifestado textualmente. Nessa visão, através
do gênero “poema” propicia-se aos alunos que encontrem na produção poética
novas identidades, preservando sua liberdade de construção de sentidos ─ e, a
partir do construído, reconstruir novas certezas, incertezas, confrontando realidades
e irrealidades, numa completude de valores culturais, tudo resultado de complexas
ações envolvendo leitores/produtores.
Percebeu-se, também, a importância do trabalho com a leitura em LEM, pois
a leitura é sempre uma oportunidade de reflexão sociocultural resultante de uma
interação de sujeitos sociais que dialogam entre si a partir do texto escrito. Muitas
vezes, o ensino de outra língua centra-se somente na gramática, ou o texto é visto
apenas como uma atividade linguística. Esquece-se, assim, no processo de ensino,
que o texto é recurso para uma leitura significativa, para construção ativa realizada
pelo leitor. E, segundo Bakhtin (2003), o texto não é um objeto, portanto é
impossível que alguém toma consciência dele de forma neutra. Decorre que é
importante que os educandos estejam sempre em contato com uma tipologia textual
diversificada e que saibam lidar com os gêneros discursivos de que essas tipologias
fazem parte. É importante que os educandos mantenham esses contatos de forma
ampla e compreensiva, solidificando sua criticidade enquanto cidadãos socialmente
ativos.
E, enfim, a escola, enquanto ambiente de conhecimento científico, deve
possibilitar aos alunos o contato com a diversidade textual circulada socialmente,
ampliando, assim, sua visão cultural e sua reflexão social. Nesse sentido, os alunos
terão alternativas motivadoras no processo de leitura como ação perceptiva,
cognitiva e social. Terão a vivência de uma leitura que proporcione a inserção deles
no mundo da escrita e leitura, de conhecimentos únicos, significativos e libertários.
Logo, o ensino de LEM deve possibilitar aos alunos oportunidades de
compreender e de agir criticamente sobre diferentes visões de mundo numa
perspectiva multicultural.
6 Referências
BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003.
BAZERMAN, Charles. Gêneros textuais, tipificação e interação / Charles Bazerman; Angela Paiva Dionisio, Judith Chambliss Hoffnagel (organizadoras); tradução e adaptação de Judith Chambliss Hoffnagel; revisão técnica Ana Regina
Vieira [et al.]. – 4. ed. – São Paulo: Cortez, 2011.
BRANDÃO, H. & MICHELETTI, G. Teoria e prática da leitura. Aprender e ensinar com textos didáticos e paradidáticos. Coord. Geral: Ligia Chiappini. Coordenadoras: Helena Brandão e Guaraciaba Micheletti. Vol. 2. São Paulo: Cortez, 1997.
GERALDI, João Wanderley. O texto na sala de aula. São Paulo: Ática, 2005.
IZARRA, Laura P. Z. & CANDIA, Michela Rosa di (Org.). Ensino de língua inglesa através do texto literário. São Paulo: Associação Editorial Humanista, 2007.
JORGE, Miriam Lucia dos santos. Ensino-aprendizagem de língua inglesa: conversa com especialistas / Diógenes Cândido de Lima (Org.). São Paulo: Parábola Editorial, 2009.
KLEIMAN, Ângela. Oficina da leitura: teoria & prática. Campinas, SP: Pontes, 2004.
MARCUSCHI, Luiz Antonio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola Editorial, 2008.
POLIDORIO, V. The use of literature in the English teaching. Cascavel, PR: Coluna do Saber, 2004.
RETTENMAIER, Miguel & ROSING, Tania M. Kuchenbecker. Questões de leitura. Passo Fundo, RS: UPF, 2003. PARANÁ, Secretaria de Estado de Educação. Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do PR. Curitiba, PR: SEED, 2008.