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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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CONSEQUÊNCIAS SOCIOAMBIENTAIS NO ESPAÇO AGRÁRIO DO MUNICÍPIO

DE JURANDA – PARANÁ

Carmina Aparecida Pereira Corghi1

Gisele Ramos Onofre2

Resumo: A partir de 1950 teve início no Brasil o processo de capitalização da agricultura,

que se intensificou nas décadas de 1960 e 1970, ocasionando significativas alterações no

espaço agrário brasileiro, nas formas de produção agrícola e no relacionamento entre o

homem e a natureza. As transformações ambientais estão atreladas especificamente à

modernização da estrutura produtiva do campo, que se constituiu num processo desigual de

expansão do capital entre produtores e regiões. Nesse sentido este estudo tem como objetivo

buscar conhecimentos sobre a concepção do espaço local, propondo aos alunos do 7º ano do

Colégio Estadual João Maffei Rosa do município de Juranda um estudo de campo que

abrange o conhecimento sobre o espaço local, o processo histórico de colonização e as

consequentes transformações ocorridas no espaço nacional, regional e municipal, bem como

desenvolver uma análise sobre os impactos socioeconômicos com ênfase no êxodo rural,

ocasionados com as alterações no modelo produtivo da agricultura no município. Como

fundamentação da pesquisa, os dados bibliográficos apontam estudos que comprovam

cientificamente as mudanças da natureza e compreendem as transformações no inter-

relacionamento homem/natureza. A coleta de dados tem como embasamento um estudo

desenvolvido pelos alunos, com entrevistas e questionários que revelam as características do

desenvolvimento da modernização e as consequências das transformações do meio ambiente.

Os resultados da pesquisa apontam esclarecimentos sobre o processo de colonização do

município em questão, e sobre os principais impactos causados com a incorporação da

tecnologia, destacando questões ligadas à concentração de terras e o êxodo rural,

desenvolvendo, assim, novas atitudes nos educandos, contribuindo para a formação de alunos

capazes de atuar de modo consciente em seu espaço cotidiano.

Palavras-chave: Geografia Agrária. Modernização. Educação

INTRODUÇÃO

A abordagem da temática que envolve as relações entre os homens e a natureza

permite explorar conceitos relevantes para o estudo da geografia, no que tange as

transformações relativas às variáveis que envolvem o sistema produtivo e as alterações sobre

os espaços urbanos e rurais. Entretanto, há uma crescente preocupação de ambientalistas,

cientistas e até mesmo da população em encontrar caminhos que levam a preservação e o uso

dos recursos naturais com consciência, servindo de reflexos para a proteção e preservação da

natureza.

1 Professora especialista em Geografia da Rede Estadual de Ensino do Paraná. Participante do PDE.

([email protected]) 2 Professora Doutora na Universidade UNESPAR, Campus de Campo Mourão, colegiado de geografia.

Coordenadora do Laboratório de Geografia Humana ([email protected]/[email protected])

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Em reflexões sobre a realidade do campo brasileiro, percebemos a importância de

vincular a prática de ensino ao estudo do espaço geográfico em particular da questão

ambiental que se desencadeia no espaço rural. Portanto, este estudo tem como objetivo

alavancar os conhecimentos dos alunos sobre o sistema produtivo, as transformações

ocorridas na natureza com a exploração dos recursos naturais e as alterações sofridas no meio

ambiente.

Nesse encaminhamento, verificamos que os caminhos educacionais apontam para a

transformação histórica da natureza e revelam condições de conscientização quanto ao uso e

preservação da natureza. Embora seja necessário transformar para produzir, a conscientização

sobre as formas de produção e o estabelecimento de métodos para cultivar a qualidade de vida

dos seres humanos e do meio ambiente, são recursos primordiais da educação. Considerando

que a grande maioria dos alunos do Colégio João Maffei Rosa da cidade de Juranda-Paraná

são advindos de um espaço, com característica totalmente agrária, esse tem um significado

particular, que os aproxima de suas formas culturais de construção da sua existência.

Assim encaminhado, justificamos esse estudo na importância do acompanhamento e

entendimento das transformações e mudanças que ocorrem no mundo, por meio do

conhecimento proporcionado pelo estudo da geografia, que envolve as relações entre o

processo histórico na formação das sociedades humanas e do funcionamento da natureza

concretizado a partir da leitura do lugar, do território, e da sua paisagem. Consequentemente,

ampliar as formas de conhecimento sobre o sistema produtivo agrário e as técnicas de

produção, é que se pode melhorar a qualidade de vida da população jurandense, possibilitando

criar estruturas que viabilizem mudanças de hábitos e comportamentos no decorrer da

formação escolar.

Cumpre considerar que o aluno em sua formação escolar, necessita de uma

alfabetização geográfica, partindo do objeto de estudo da Geografia que é o espaço

geográfico, produzido e apropriado pela sociedade. Espaço esse entendido como um produto

social em permanente transformação, e sempre que a sociedade sofre mudança, as formas

(objetos geográficos) assumem novas funções. Novos elementos, novas técnicas são

incorporados à paisagem e ao espaço, demonstrando a dinâmica social. Os objetos construídos

sobre o espaço são datados e vão incorporando novas tecnologias e novas formas de produzir.

(SANTOS, 2006)

De acordo com as Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Geografia, é

necessário “a formação de um aluno consciente das relações sócioespaciais de seu tempo”.

Para isso, o ensino da geografia deve assumir o quadro conceitual das abordagens críticas

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dessa disciplina, que propõe a análise dessas mudanças, conflitos e contradições sociais,

econômicas, culturais e políticas, constitutivas de um determinado espaço. (PARANÁ, 2008,

p.53).

Portanto, é de extrema importância para os alunos o estudo do meio no qual estão

inseridos. Pelo fato deste possibilitar a observação direta, mais próxima, mais presente do

espaço geográfico, de maneira a ajudar a construção de uma compreensão da realidade vivida,

articulando o espaço local com o espaço regional, nacional e global, com a necessária

teorização.

2 TRANSFORMAÇÕES NOS ESPAÇOS GEROGRÁFICOS DO BRASIL

A partir do final da década de 1970, o espaço agrário brasileiro passou por

significativas transformações por causa, em grande parte, das ações governamentais.

Notadamente, o crédito rural ofertado aos produtores, especialmente, a partir de meados da

década de 1960. A partir daí, verificamos que a agricultura brasileira passou a apresentar

características inovadoras e especializações técnicas, científicas e organizacionais que,

articuladas, contribuíram para a criação de novos usos do tempo, novas formas de trabalhar a

terra, culminando no processo de modernização da agricultura. (ROCHA, 2009).

Segundo Brum (1988), as principais razões dessa modernização estão na elevação da

produtividade do trabalho, que visa ao aumento do lucro; redução dos custos unitários de

produção para vencer a concorrência; necessidade de superar os conflitos entre o capital e o

latifúndio, visto que a modernização levantou a questão da renda da terra e possibilitar a

implantação do complexo agroindustrial no país.

Complementando as ideias de Rocha (2009) e Brum (1988), sobre a incorporação

tecnológica na agricultura e a tentativa de justificar tal processo, destacamos o pensamento de

Hespanhol (2008); de que inicialmente esse processo esteve concentrado nos países

desenvolvidos e que passa a se alastrar também pelos países subdesenvolvidos, denominado

como Revolução Verde3.

Esse processo foi um padrão agrícola químico, motomecânico e genético, gestado nos

EUA e na Europa, que transformado em pacote, foi gradativamente se espalhando e se

instalando em todo o mundo, criando uma nova racionalidade produtiva.

3 “Modernização do Campo” ficou denominada de Revolução Verde as inovações tecnológicas na agricultura

para a obtenção de maior produtividade através do desenvolvimento de pesquisas em sementes, fertilização do

solo, utilização de agrotóxicos e mecanização no campo que aumentassem a produtividade.

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Segundo Alr (2008, p.157), o chavão deste modelo era: “acabar com a fome no

mundo”. Dessa forma “com a modernização tecnológica e com o consequente aumento da

renda familiar e, portanto, desenvolvimento rural”, teria o início da capitalização da

agricultura sobre a qual Fleischfresser (1998) argumentou que:

[...] a modernização da agricultura brasileira teve seu início fortemente direcionado e

estimulado pelo Estado, através de medidas de política econômica. As ideias

oriundas da Revolução Verde criaram a expectativa de superação do

subdesenvolvimento através de transformações no setor agropecuário. Com isso o

setor agrícola se dinamizaria e geraria um aumento de produção através do qual

acabaria com a fome da população e, com o excedente, poderia incrementar suas

exportações e gerar divisa promovendo um progresso generalizado e auto-sustentado

(FLEISCHFRESSER, 1998, p.12).

Ainda sobre esse processo de modernização, complementou Santos (1985), que, entre

o final da II Guerra Mundial, os primeiros anos da década de 1970, a economia mundial

apresentou grande expansão. Foram efetuados significativos investimentos em atividades

produtivas, não somente nos países desenvolvidos, mas também em países subdesenvolvidos.

No referido período, os conhecimentos da ciência e da tecnologia passaram a ser aplicados

diretamente aos processos produtivos de todos os setores, inclusive da agropecuária. Para ele:

Com a globalização, a especialização agrícola baseada na ciência e na técnica inclui

o campo modernizado em uma lógica competitiva que acelera a entrada da

racionalidade em todos os aspectos da atividade produtiva, desde a reorganização do

território ao modelo de intercâmbio e invade até mesmo as relações interpessoais. A

participação no mundo da competitividade leva ao aprofundamento das novas

relações técnicas e das novas relações capitalistas (SANTOS, 2006, p.304).

Nessa citação, analisamos que Santos (2006) considera a globalização como o meio

responsável pela capitalização do campo, por meio do desenvolvimento de grande aparato

tecnológico, provido de variedades de plantas modificadas geneticamente em laboratório.

Espécies agrícolas foram desenvolvidas para alcançar alta produtividade e uma série de

procedimentos técnicos, como o uso de defensivos agrícolas e de maquinários foram

viabilizados por meio do crédito rural, uma das políticas públicas implementadas pelo Estado.

O crédito rural subsidiado era um dos principais instrumentos para induzir pobres e

simples agricultores brasileiros a aumentarem a produtividade de suas lavouras, fazendo uso

de sementes selecionadas, corrigindo o solo ácido predominante no país com a utilização de

calcários, uso de fertilizantes, além de defensivos agrícolas.

Portanto, Teixeira (2005), retrata que as indústrias de equipamentos e insumos

passaram a pressionar, direta ou indiretamente, a agricultura a se modernizar, visto almejarem

uma venda cada vez maior. Porém, o que vai realmente dar um grande impulso na

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transformação da base técnica da produção agrícola é o incentivo governamental em razão do

chamado crédito rural, viabilizado em particular, a partir de meados da década de 1960. Sobre

isso ressalta Hespanhol (2008):

O crédito rural oficial, principal instrumento utilizado para promover a

modernização da agricultura foi altamente seletivo, pois a sua oferta se restringiu aos

médios e grandes produtores rurais. Os pequenos arrendatários, parceiros e meeiros,

com reduzido ou nenhum patrimônio, não tiveram acesso ao crédito oficial em razão

de não disporem das garantias exigidas pelo sistema financeiro. No início dos anos

1980, o padrão de financiamento público da agricultura brasileira se esgotou em

decorrência do aprofundamento da crise fiscal do Estado. A partir de 1984 as taxas

de juros que incidem sobre o crédito rural oficial se tornaram positivas. O período

que se estende de 1980 até o início dos anos 1990, foi marcado pela instabilidade

macroeconômica. O Estado se voltou para a gestão da crise, não sendo estabelecidas

políticas públicas com horizontes de médio e longo prazo (HESPANHOL, 2008,

p.382).

Por sua vez, Coelho e Terra (2005) comentam que o processo de modernização não

atingiu por igual nem com a mesma intensidade os diferentes produtos, produtores agrícolas e

áreas do país. Os grandes produtores ou empresários rurais foram os que mais tiveram acesso

à modernização, por meio da aquisição de máquinas e insumos, bem como da obtenção de

créditos.

A maior parte dos pequenos produtores, desprovidos de recursos (capital e crédito), foi

marginalizada desse processo modernizado. Com isso, esta modernização atrelada a um

discurso capitalista promoveu uma desigualdade cada vez mais acentuada entre os produtores

agropecuários.

Porém, várias outras consequências desse novo modelo de padrão agrícola podem ser

apontadas, além da acirrada concorrência no que diz respeito à produção, os efeitos sociais e

econômicos sofridos pela população envolvida com atividades rurais. Ainda sobre os efeitos

do campo modernizado, destaca Hespanhol (2008):

Apesar do aparente sucesso da modernização da agricultura, o passivo ambiental

dela decorrente, é muito grande. A expansão de monoculturas e o uso

indiscriminado de máquinas, implementos, fertilizantes químicos e de biocidas,

comprometeram a qualidade ambiental de vastas áreas dos países desenvolvidos e

subdesenvolvidos. (HESPANHOL, 2008, p.28).

Com base no pensamento de Hespanhol (2008), a qualidade ambiental se acentuou por

causa da expansão de monoculturas como: a cana-de-açúcar, a laranja, frutas cítricas, o café,

e, mais especificamente, a soja. O pacote tecnológico da Revolução Verde contribuiu para a

implementação e a utilização de diferenciadas técnicas agrícolas modernas como fertilizantes,

agrotóxicos e irrigação nessas monoculturas, com a intenção de aumentar a produção.

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De acordo com Batalioti (2004), com a modernização da agricultura houve um

aumento da produtividade, justamente porque se utiliza maiores proporções de insumos

modernos, como fertilizantes e defensivos agrícolas. Porém, esse processo de modernização

tem provocado principalmente o desemprego com a redução da mão de obra rural, e como

conseqüência, o êxodo rural, modalidade de migração caracterizada pelo deslocamento de

uma população do campo em direção às cidades.

No entanto, essas transformações na agricultura brasileira decorrente do processo de

modernização, intensificaram o êxodo rural. Pequenos proprietários deixaram suas terras por

endividamento, decorrente do processo de incorporação tecnológica no campo, ou pela não

mecanização de suas propriedades, o que os tornou menos competitivos e vulneráveis ao novo

modelo de agricultura globalizada, que se instaurou no país. De acordo com Fleischfresser

(1998), as alterações na agricultura na década de 1970 foram tão expressivas que mudaram

radicalmente a trajetória da população rural paranaense. E assim relata:

[...] a população rural cresceu a altas taxas, apresentando um saldo migratório

positivo de aproximadamente 2.800 mil habitantes. Em apenas uma década, 1970-

1980, o saldo migratório foi negativo em cerca de 2.600 mil pessoas. A população

excedente dos cafezais localizados no Norte do Paraná se deslocava em direção as

ainda existentes fronteiras agrícolas no Estado. Entretanto, nos anos 70, quando

gradativamente se esgota a fronteira agrícola, concomitante ao processo de

intensificação no uso da moderna tecnologia e à substituição de culturas, agora não

mais somente o café, mas também alimentares como a soja e pecuária, verifica-se

uma notável evasão da população residente no meio rural (FLEISCHFRESSER,

1988, p.21).

Ainda segundo Fleischfresser, o fenômeno de esvaziamento populacional foi

responsável pelo início de um rápido processo de urbanização, no qual grande parte desses

migrantes rurais procuraram principalmente os grandes centros de São Paulo. Assim como

outras regiões, o município de Juranda, na década de 1970, passou pelo processo de

mecanização, por meio da modernização da agricultura.

Percebemos por meio de dados sobre população do município (censo realizados pelo

IBGE), que a população rural diminuiu ao longo do tempo enquanto a população urbana

cresceu nas últimas décadas. Muitos pequenos produtores foram forçados a vender suas terras

e migrar, levando a um processo de maior concentração de terras nas mãos de poucos,

afetando assim o desenvolvimento local, perdendo população e aumentando o número de

desempregados.

Portanto, diante desse quadro de transformações no qual a sociedade atual vem

passando, destaca Oliveira: “[...] cabe à geografia levar a compreender o espaço produzido

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pela sociedade em que vivemos hoje, suas desigualdades e contradições, as relações de

produção que nela se desenvolvem e a apropriação que essa sociedade faz da natureza”

(OLIVEIRA, 1994, p.142).

Complementando a citação de Oliveira, segundo as considerações propostas nos

PCNs, Brasil (1998), o ensino de Geografia na escola precisa estar compromissado com

conteúdos articulados à realidade dos alunos, e de forma a contribuir efetivamente para a

formação da sua criticidade em relação ao tipo de realidade vivenciada, com respeito às

singularidades de cada grupo de aluno. Enfim frisamos na ideia de uma proposta de ensino de

Geografia destinada a proporcionar uma efetiva compreensão do espaço agrário que tenha

como pressuposto um processo de formação do indivíduo consciente e ativo no seu espaço de

vivência.

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A linha de pesquisa adotada neste projeto é a perspectiva crítica, já que sua elaboração

partiu da observação da realidade, objetivando a melhora do ensino aprendizagem, na

disciplina de geografia e nas áreas inter-relacionadas.

O estudo foi realizado com os alunos do 7º Ano, do período vespertino do Colégio

Estadual João Maffei Rosa, município de Juranda-Pr, vinculado à Secretaria de Estado da

Educação, sob jurisdição do Núcleo Regional de Educação de Goioerê – Paraná. A aplicação

do projeto ocorreu com o desenvolvimento de oito encontros presenciais, no total de carga

horária de 32 (trinta e duas) horas, articulado para 25 (vinte e cinco) alunos, com aulas

teóricas, pesquisas bibliográficas, desenvolvimento de trabalho de campo com entrevista e

questionários debate em sala de aula, registro escrito sobre a contextualização da temática

abordada.

Para o conhecimento histórico sobre as divisões do município de Juranda, foram

trabalhados 3 (três) aulas com demonstração de mapas do Estado do Paraná e da Messoregião

Centro Ocidental Paranaense, na busca de identificar os dados populacionais em relação ao

número de habitantes, a densidade demográfica e a área territorial.

Foram distribuídos mapas e textos para os alunos identificar as linhas de limite do

município e a historicidade presente na identidade jurandense de acordo com a formação

colonial desse espaço. Com o apoio tecnológico do Google Earth, os alunos observaram as

transformações ocorridas no espaço rural e urbano.

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No aprofundamento da temática, os alunos partiram para a pesquisa de campo, com a

finalidade de obter maiores conhecimentos sobre a historicidade que envolve a colonização e

a formação do município, com uma visita a “Casa da Memória” (local estão expostas fotos e

objetos que contam grande parte da história do município de Juranda) observando mais

atentamente as transformações do ambiente.

Na área rural, foram contextualizadas as lavouras e a organização do espaço territorial,

bem como os modelos de famílias e sociedades existentes desde o início da colonização até a

contemporaneidade. Para tanto, foram realizadas visitas nas áreas rurais, com entrevistas para

as famílias moradoras, a fim de angariar dados que contribuirão com intervenções para

estratégias de disseminação de hábitos mais saudáveis, tanto no espaço rural como também

urbano.

Os recursos utilizados no decorrer das aulas foram tecnológicos, audiovisuais,

ilustrações e fotografias, para dinamizar o processo de ensino e ampliar a aprendizagem

oferecendo ao aluno a possibilidade de conhecer seus espaços por meio das diversas

ferramentas e recursos didáticos e metodológicos.

Para tanto, no desenvolvimento das atividades propostas durante a aplicação do

projeto, a turma foi dividida em duplas, para os registros dos principais pontos debatidos e

para a interação com os demais grupos da turma, a fim de desenvolver diálogos, debates e

sinergia na contextualização da proposta, como recurso para a transposição do conhecimento

em prática de aprendizagem.

Os alunos foram participativos, expondo em seus debates seus pontos de vistas que

acercam suas vivências, como muitos são filhos de agricultores ou tem familiares que residem

ou trabalham em propriedades rurais. Eles apresentaram argumentos sobre a necessidade de

ampliar as bases da economia com o processo de evolução e desenvolvimento das bases com

maquinários agrícolas e até mesmo com o uso de agrotóxicos, porém sendo necessária a

conscientização do uso para não afetar o meio ambiente nos termos da poluição da água e do

solo. Também o uso de maquinários agrícolas que são movidos a combustível que exala gases

tóxicos para a saúde, entretanto, também pode beneficiar a saúde com outros aspectos, menos

movimentos físicos e mais saúde do corpo, além da agilidade no processo de produção. Com

o diálogo entre os alunos e a professora mediadora, foi argumentado por várias vezes a

tecnologia, e dois alunos ressaltaram que a tecnologia não é parte somente da produção

agrícola para movimentar o setor econômico, mas de empresas como a COAMO que vende

maquinários, peças, insumos, agrotóxicos entre outros elementos da agricultura gerando

empregos na área urbana para grande parte da população do município de Juranda.

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3 RESULTADOS E DISCUSSÕES DA IMPLEMENTAÇÃO PEDAGÓGICA

Para a aplicação das atividades programadas e obtenção dos resultados, inicialmente

analisamos o conhecimento sobre as alternâncias socioambientais e a concepção dos alunos

sobre o espaço agrário que engloba o município de Juranda-PR.

Para isso, na unidade 1, foram trabalhados dados sobre a região sul do Estado do

Paraná e dos municípios vizinhos, com a distribuição de material de apoio como atlas

geográfico, mapas políticos do Brasil Regiões segundo IBGE, do Paraná, Município de

Juranda e mapa das mesorregiões do Paraná.

Além disso, foi contextualizada historicamente de forma expositiva sobre a fundação

do município e seus colonizadores, embasado na leitura e análise do texto “Histórico da

colonização do Município de Juranda”.4 Por meio dessa análise, os alunos entenderam as

descendências dos moradores, a origem do nome que se destina para a cidade, a época e as

leis de criação que determinaram a formação da cidade e a identidade dos seus moradores.

Já na exploração dos dados, realizamos pesquisas de campo com a finalidade de

ampliar os conhecimentos dos alunos com a leitura de imagens fotográficas que marcam a

história do município e as transformações que ocorreram com o passar dos tempos. Com essa

pesquisa, foi possível criar uma aproximação dos alunos com suas realidades e uma ponte

entre o passado e o presente (Foto 1). Após as observações fotográficas, os alunos foram

visitar os locais, para observar as mudanças ocorridas na paisagem geográfica urbana.

Foto 1: Avenida Paraná no início da formação do município de Juranda

Fonte: reprodução Casa da Memória.

Os alunos observaram as fotografia do início da formação do município de Juranda.

Em sala de aula debateram sobre os aspectos do cenário que se apresentava e identificaram os

4 Disponível em: http://www.cidades.ibge.gov.br/pai. php?lang=&codmun=411295, e um vídeo “A História de

Juranda”, disponível em https://www.facebook.com/photo.php?v=3628282121193&notif_t=video_processed.

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modelos de veículos, o processo de urbanização sem ainda a pavimentação asfáltica e o uso

de bicicletas. (Foto2)

Foto 2: Avenida Paraná do município de Juranda no ano de 2014

Fonte: Dados da pesquisa feita pelos alunos

O aspecto que se destacou no decorrer das observações realizadas tanto nas imagens

como nas visitações se refere a identidade da população jurandense. Pelas reflexões realizadas

entre alunos e professor, identificamos e estabelecemos conjuntos de valores expressos nas

fotografias que foram visualizados pelos elementos históricos presentes nesse espaço

geográfico.

No passeio realizado com os alunos pelo centro da cidade, resgatamos as imagens do

município na contemporaneidade estabelecendo as ligações com o passado, inter-relacionando

as fontes históricas e o processo de desenvolvimento da cidade. Também, foram coletadas

imagens nas quais os alunos debateram em sala de aula sobre o perfil atual do município,

enfatizando a arborização, os calçamentos, o asfalto, placas, iluminação e todas as mudanças

pertinentes entre as imagens do passado e as fotografias observadas nos distintos momentos

até o presente.

Os alunos observaram também as fotografias da Antiga Igreja Matriz, no debate

proporcionado para que pudessem expor suas contextualizações. Eles dialogaram sobre o

modelo da construção, o material usado para construir e relacionaram essa imagem com o

modelo artístico das igrejas antigas que faziam parte do projeto de arte moderna. (Foto 3)

O sino ao lado da igreja, as janelas construídas em projeto moderno, com janelas e

portas fazendo parte da entrada e sem entradas nas laterais. Os trabalhadores envolvidos na

construção do pátio que dá acesso a igreja.

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O local era bem arborizado, já com árvores mais crescidas, porém com pouca

luminosidade nas ruas que dão acesso a igreja matriz. Foi possível observar que os alunos

tiveram empenho em destacar os pontos relevantes das construções antigas destacadas pelo

método de observação que permitiu explorar os campos do conhecimento e do processo

cognitivo pela leitura da fotografia como uma imagem intertextual. (Foto 3)

Foto 3: Antiga Igreja Matriz

Fonte: reprodução Casa da Memória.

Ao fazer a análise das mudanças do cenário atuante, os alunos observaram nos

registros de fotografias a antiga Igreja Matriz, e agora, a Paróquia Nossa Senhora Mãe de

Deus, 2014, convencidos de que a modernidade desenvolveu não somente as estruturas das

construções, mas favoreceu no enriquecimento da arte contida nesta construção, com janelas

coloridas, a torre que da acesso a porta de entrada, o jardim com acesso a matriz, as

iluminações nas ruas, as árvores e todo o cenário que desperta o olhar metodológico sobre os

fatores observáveis nas transformações das paisagens. (Foto 4)

Foto 4: Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus, 2014

Fonte: Dados da pesquisa feita pelos alunos

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A Igreja Matriz e a atuante Paróquia Nossa Senhora Mãe de Deus, apresentam

características peculiares. A professora pediu para que os alunos destacassem quais seriam

essas especialidades. Os alunos revelaram em diálogo a claridade dentro da igreja e no centro

dela, marcada pelas janelas nas laterais, na porta de entrada frontal e lateral e nas janelas

frontal que são várias e com tonalidades de cores em suas vidraças.

Foi possível argumentar as mudanças ocorridas nas escolas do município de Juranda,

sendo explorada pelos alunos durante a visita na Casa da Memória e apresenta peculiaridades

significativas e que foram notadamente detalhadas pelos alunos em suas visões. (Foto 5, 6 e

7)

Foto 5: Escola em 1975

Fonte: Reprodução Casa da Memória.

Foto 6: Escola Pio X no ano de 2014

Fonte: Dados da pesquisa feita pelos alunos

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Foto 7: Colégio Estadual João Maffei Rosa no ano de 2014

Fonte: Dados da pesquisa feita pelos alunos

Com a observação das imagens dos Colégios, os alunos notaram o brilho e o colorido

das paredes, os materiais usados nas construções, à arquitetura, com salas de aula em um

mesmo ambiente, sem corredores, pátio, campo ou quadra, as janelas antigas, as portas sem

proteção de sol ou chuva, a quantidade de alunos, as roupas que estes vestiam. Em debate

conseguiram expor as observações acerca do desenvolvimento urbano, com escolas projetadas

com salas de aula, corredores, pátio e outros elementos estruturantes da escola. As cores

usadas para pintura das paredes e janelas padronizadas, a arborização para melhorar o clima,

as flores e folhagens para harmonizar o ambiente, servem de pontos de reflexão sobre a

evolução, além do grande destaque que é o orelhão com telefone no portão de acesso a escola.

Além disso, a pesquisa de campo por meio de coleta de dados e observações no espaço

urbano, u nos alunos a necessidade de se criar memoriais que enfatizam as origens. Para tanto,

em sala de aula, apresentamos imagens em slides que foram discutidos e debatidos sobre os

elementos das paisagens de cada local e em cada período, quais foram as mudanças e os

formatos dessas mudanças.

Os alunos foram unânimes na sua participação, contribuindo com suas análises,

destacando as condições climáticas ocasionadas com calçamentos e pavimentações asfálticas.

O fator que mais chamou a atenção dos grupos foi a constatação por meio da observação das

imagens que antes quase não havia muitas árvores formadas e atualmente essas árvores são

preservadas como patrimônio cultural, como as árvores da avenida Paraná que ainda estava

em processo de formação e as árvores do fundo da igreja matriz.

Outra observação pertinente feita pelos alunos que levantou debate foi a palavra

“Igreja” que atualmente é conceituada como “Paróquia”. A professora explicou as linhas

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divisórias geopolíticas existentes nas instituições religiosas, como no caso a “Paróquia” é o

termo usado para subdividir um território pertencente a uma diocese, sob o comando de um

pároco. O termo “Igreja” é usado para definir o espaço de cultos ou missas, com pessoas de

uma mesma fé para estudar os ensinamentos sagrado.

Após passamos para a discussão da Unidade 2, por meio da qual desenvolvemos

estudos teóricos sobre a área rural e a dinâmica economia regional atrelada um estudo sobre a

evolução tecnológica aplicada no campo e no cultivo das lavouras. Inicialmente, utilizamos

textos e apresentação de slides explicando as mudanças no cenário do setor agrícola no país,

com a modernização da agricultura no município.

Também foi trabalhado um vídeo que reflete esses aspectos5 e dissemina bases para a

compreensão das mudanças no setor agrícola. Com base nestes materiais, os alunos em dupla,

debateram sobre os assuntos agricultura, tecnologia e transformações, apresentando para os

demais colegas suas análises e concepções.

Com a mediação da professora, os alunos foram a campo entrevistar moradores de

áreas rurais que residem no município a mais de 40 anos. Nas entrevistas as questões foram

selecionadas pelo grupo a fim de descobrir as especialidades de cultivo agrícola presentes no

início da colonização e a evolução dessas especialidades.

Após a entrevista, os alunos descreveram em formatos de desenhos e histórias em

quadrinhos a observância das consequências ambientais no espaço agrária em um cenário de

mudanças tanto na postura do comportamento social com a inserção da tecnologia e das

maquinas favorecendo o do êxodo rural, como também nas mudanças no cultivo de

determinadas especialidades e as tecnologias inseridas nesse processo, que contribui

atualmente na produção funcional de grãos.

Os alunos, em momento de debate para demonstrar suas fontes de pesquisas,

apontaram para o início da formação colonial de Juranda, destacando as lavouras nas décadas

de 50, 60 e 70, com cultivo diverso de hortelã, cana de açúcar e o produto mais cultivado

nessas épocas, o café. Para o cultivo dessas lavouras era necessária a utilização da mão de

obra humana, desde a plantação, os cuidados e a colheita, favorecendo as famílias que

residiam em espaços rurais e sobreviviam da agricultura ou do trabalho rural como os

chamados “bóias-frias”, que trabalham durante o ciclo produtivo da lavoura e em diversos

cultivos.

5 Vídeo disponíveis em: http://www.youtube.com/watch?v=K1aDsACjZAg.

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Após essas décadas, a chegada do algodão, soja, trigo e posteriormente o milho. O

algodão e o milho ainda dependente da mão de obra dos bóias-frias. Já a soja e o trigo com

recursos mecanizados. Algumas propriedades possuíam trilhadeiras, e outras já contavam com

o auxilio de tratores, caminhões e colheitadeiras.

Esses avanços da mecanização proporcionaram em grande escala o êxodo rural, pois

as máquinas substituíram a mão de obra dos bóias-frias, assim como o café, hortelã e a cana

de açúcar também foram substituídas por outras produções como soja, trigo e milho.

As consequências da modernização da agricultura foram desenvolvidas com atividades

da unidade 3. Os benefícios da modernização podem ser percebidos com o olhar detalhado

sobre os aspectos estruturais das cidades e do campo. Entretanto, as conseqüências devem ser

analisadas de acordo com os pontos relevantes dos problemas ambientais que alteram o

cenário da sociedade em termos da qualidade de vida das pessoas. Para a análise dessas duas

vertentes, foram trabalhados em sala de aula com os alunos um parágrafo de um livros que

conceitua o processo de modernização diante das duas temáticas modernização com o

processo de desenvolvimento político, econômico e social na vida das pessoas, e a

conscientização sobre as problemáticas geradas pela evolução, conforme consta na Unidade

didática.

Os alunos desenvolveram a atividade proposta na Unidade Didática, descrevendo

individualmente os benefícios e os impactos negativos à sociedade com o processo de

modernização.

Em seguida abriu-se espaço para debater as questões que foram observadas sobre a

modernização da agricultura, com divisão da turma em duas partes. A parte I ficou

encarregada de defender o processo de modernização, apontando os resultados positivos desse

processo. A parte II, em oposição, ficaram encarregados de apontar os pontos negativos que

vertem sobre a modernização.

Durante o debate, mediado pela professora, os alunos relacionaram as questões

positivas visualizadas na industrialização e debateram sobre o aumento da produção agrícola,

as pavimentações asfálticas das cidades, o aumento de empregos em áreas comerciais e

industriais, as facilidades de mobilidade, a evolução tecnológica nos meios de comunicação,

a tecnologia embutida nos maquinários, nos veículos, na internet em todos os setores da

sociedade, assim como também argumentaram durante o debate sobre o aumento no uso de

bens e consumo e maior rotatividade de troca de produtos duráveis.

Em contraposição, o grupo dois, apresentaram argumentos sobre os pontos negativos

da modernização como: poluição e ambiental com o uso excessivo de agrotóxicos, de

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produtos de bens duráveis como celulares, televisores, computadores, e outros, que são

descartados no meio ambiente sem designação correta de descarte; além do descarte incorreto

de bens não duráveis como pilhas, baterias, plásticos, vidros e outros que agridem o meio

ambiente e levam muitos anos para se dissolverem e recompor a biosfera.

Também, discorremos sobre o uso excessivo no tráfego de veículos que produzem

gases poluentes acarretam o aquecimento global. No entanto, ficou evidente que a evolução

tecnológica abriu caminhos para o consumo exagerado de mercadorias, com propagandas

insistentes influenciam em um público cada vez mais consumista e sem consciência sobre os

descartes adequados para os produtos substituídos. O agravamento maior pode ser visualizado

no meio rural, com poucas famílias habitando o campo e a grande maioria morando nas

cidades. O desmatamento que provocou a abertura das cidades e o aumento da produção

agrícola. As poluições dos rios, do solo e do ar devastam a natureza e traz consequências a

saúde do homem.

Essas ideias tornaram o debate um momento sinérgico para a compreensão das

mudanças ocasionadas com a modernização do homem no meio ambiente. Com isso, foi

apresentado aos alunos um gráfico sobre o quadro populacional do município de Juranda entre

os anos de 1991 e 2008, apresentando decadência. Outro texto trabalhado para explicar sobre

o agravante êxodo rural permitiu que aos alunos refletisse sobre os assuntos e debater suas

identidades históricas, ou seja, a origem emigratória da sua família. A maioria dos alunos são

filhos de emigrantes rurais.

A mediação da professora permitiu fazer com que os alunos compreendessem as

diferenças entre migração e emigração, destacando que os fatores de emigração se enquadram

neste contexto, por muitos terem deixado suas residências em áreas rurais para residir na

cidade, já o fator de migração, as famílias ou membros deixam suas cidades e locais de

residência para residir em outra cidade ou Estado.

Com os conteúdos registrados com o uso de imagens e fotografias, os alunos

desenvolveram cartazes representando as questões socioambientais no município de Juranda,

destacando o êxodo rural, danos ambientais, comparação do município no início nos anos de

1970 e 1980 que ocorriam a colonização juntamente com a migração, pessoas saindo do

município em busca de locais mais propícios para desenvolver suas condições

socioeconômicas com melhor qualidade de vida e oportunidades de trabalho. Os cartazes

feitos pelos alunos foram expostos nos murais do Colégio João Maffei Rosa, para socializar

conhecimento explorado pelos alunos do 7º Ano do período vespertino, com os demais alunos

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do colégio também de outros turnos como matutino e noturno, abrangendo o ensino

Fundamental Anos Finais e o Ensino Médio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho foi desenvolvido em parceria com a Secretaria de Estado da Educação do

Paraná (SEED) e o Plano de Desenvolvimento Educacional (PDE), que visa à formação

continuada dos professores da rede pública do Paraná. Nele apresentamos a temática sobre as

consequências socioambientais no espaço agrário no município de Juranda, trabalhado com

uma turma de 25 alunos do 7º ano do Ensino Fundamental anos finais.

Com base em informações teóricas partimos para a aplicação do projeto que primou

por trabalhar teoria e pratica a partir da base cognitiva referente aos conhecimentos dos alunos

sobre o espaço agrário. Assim realizamos uma leitura sócio construtivista sobre sistema

produtivo e as manifestações que elencam os benefícios e também as consequências que

causaram a modernidade para o município de Juranda, permitindo explorar de modo

observacional as transformações ocorridas com o meio, tanto na área rural como também na

urbana.

Assim os alunos apresentaram resultados em seus debates e considerações que a

modernização causou grandes transformações tanto para os campos da evolução e

qualificação de vida da população com os cenários de estradas em boa qualidade,

pavimentação asfáltica da cidade, estrutura das casas, comércio e outros ambientes, acesso a

tecnologias e outros que conceituamos como qualitativos para as vivencias contemporâneas.

Também destacaram os prejuízos e danos ambientais, como desmatamento para construção de

cidades, estradas e propriedades agrícolas para plantação de lavouras, uso excessivo de

agrotóxicos causando poluição da água, do ar e até mesmo uma sobrecarga no solo.

O estudo sobre a exploração dos recursos naturais permitiu os alunos visualizar as

mudanças no cenário rural e urbano em especial a arborização, poucas árvores plantadas no

centro da cidade, assim como poucas matas, pomares e árvores que antes eram principais

recursos para melhorar o clima. Isso ocasionou adotar outras estratégias tecnológicas como o

uso de ventiladores, ares condicionados e outros climatizadores do ambiente.

Além dessas premissas, a temática de maior destaque foi a questão do êxodo rural, que

levou os alunos a conhecer suas raízes e origens. Foi muito satisfatório, perceber que a

grande maioria é filho ou possui um familiar que mora ou morou em área rural.

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Contudo, este trabalho proporcionou aos alunos explorar com o olhar metodológico,

critico e construtivo sobre as bases socioambientais do município de Juranda. Por meio da

observação espacial foi possível averiguar informações teóricas que retratam a construção

histórica do colonialismo e as bases da contemporaneidade, no qual as mudanças são

constantes e mais assíduas que no passado. Assim, foi proporcionamos um estudo geográfico

de bases materiais a partir do processo histórico na formação da sociedade humana no

município, visualizando as mudanças e as transformações do ambiente com a leitura do lugar,

do território e da sua paisagem.

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