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A GINÁSTICA LABORAL COMO CONTEÚDO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Autor: Marcelo Bettero Lages¹

Orientador: Fábio Múcio Stinghen²

RESUMO

Este estudo avaliou como os exercícios de ginástica laboral podem contribuir para a melhoria do processo de ensino aprendizagem nos alunos da Educação de Jovens e Adultos através da transposição dos benefícios destes exercícios na melhoria do processo produtivo e promoção de bem estar geral do aluno trabalhador, ressaltando a importância de se contemplar na EJA conteúdos articulados com o cotidiano destes alunos. As sessões de ginástica laboral foram realizadas uma vez por semana com a duração aproximada de 25 minutos que consistiram de exercícios de alongamento, resistência muscular localizada, automassagem, técnicas de relaxamento e dinâmicas de grupo. Durante as 12 semanas de implantação do projeto, também foram realizadas aulas expositivas com o estudo da produção didática que destacou as temáticas do trabalho, da ginástica, da LER/DORT e da ergonomia no trabalho e no dia a dia também a importância de transpor estes momentos da educação formal para o cotidiano do aluno e sua família. Para verificar os efeitos das sessões de ginástica laboral foram aplicados questionários adaptados de Polito e Bergamaschi 2002 e de topografia e intensidade da dor de LEITE (1992) adaptado de Blone & Echternach (1987), após a análise dos dados ficou constatado uma discreta melhora nos níveis de dores na região da coluna lombar e refletindo na melhora bem estar geral do aluno, mesmo não sendo um dos objetivos o que ficou ressaltado foi baixo índice de evasão indicando que conteúdos articulados com o cotidiano e um bem estar geral do indivíduo favorece em muito a permanência do aluno.

Palavras chave:

Educação de Jovens e Adultos; Ensino da Educação Física, Trabalho; Ginástica.

¹ Profº Marcelo Bettero Lages. Graduado em Educação Física UFPR, Especialista em Magistério Superior FACINTER. [email protected] 2 Profº.Msc.Fábio Mucio Stinghen Responsável por Atividades de Estágios do curso de Ed.

Físicas - Disciplinas de Atletismo e de Projeto Integrador I, II e III UTFPR - Curitiba – PR [email protected]

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1. INTRODUÇÃO

Este artigo se propõe inicialmente a analisar que os conteúdos do ensino da

Educação Física na Educação de Jovens e Adultos esta pautado via de regra

apenas por atividades de cunho teórico devido ao alunado já chegar aos bancos

escolares oriundos de uma jornada de trabalho desgastante e muitas vezes as

práticas são encaradas como mais uma atividade desgastante para um corpo eu já

está cansado sendo comum que os alunos não vejam um sentido/significado nas

atividades práticas sendo mais um fator desmotivante para o educando desta

modalidade de ensino.

Ressaltando esta problemática Gadotti aponta que:

O que eles sabem não é considerado: eles trazem consigo uma história, as marcas da socialização e da formação que tiveram. Só precisam ser considerados como sujeitos de direitos. Muitos alunos de EJA não acham significativo para suas vidas o que estão aprendendo e abandonam o curso.

Os cursos de EJA não atendem às suas expectativas. (GADOTTI, 2014)

Enfrentar este problema é um grande desafio a todos os professores que

atuam nesta modalidade de ensino e o projeto de intervenção pedagógica se propôs

a atuar em um dos fatores que indiretamente influenciam na desmotivação do aluno

que são os processos dolorosos decorrentes do cotidiano do aluno trabalhador

procurando atuar na promoção do bem estar geral através dos exercícios de

ginástica laboral.

Além de toda a preocupação com conteúdos que sejam presentes no

cotidiano do aluno trabalhador, promover a reflexão e atuação consciente deste

aluno no mundo do trabalho entendendo que somente a Ginástica Laboral ou

qualquer outra atividade física não se constitui em garantia de saúde se não tiver um

ambiente de trabalho favorável onde sejam respeitados os aspectos ergonômicos e

conforto ambiental, e que sejam considerados as pausas e jornadas de trabalho

adequadas as diversas funções se torna importante e significativo estes

conhecimentos que contribuirão para se não mudar a realidade proposta possa pelo

menos ser um instrumento de reivindicação de condições de trabalho mais

adequadas.

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2. REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 A Educação de Jovens e Adultos

A seguir apresentaremos algumas características da Educação de Jovens e

Adultos, com o objetivo de aproximar da realidade do aluno trabalhador.

Historicamente a educação formal e não formal do grupo de trabalhadores sempre

esteve a serviço de formar de maneira técnica, moral e ideologicamente para o

trabalho, com a educação voltada para os interesses dos meios de produção.

Educação de Jovens e Adultos – EJA – é a forma como a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional – LDB – se refere a educação de pessoas sem a

escolarização regular completa.

Art. 37 – A educação de jovens e adultos será destinada àqueles que não tiveram acesso aos estudos, ou continuidade deles, nos ensinos Fundamental e Médio na idade própria. § 1º Os sistemas de ensino assegurarão, gratuitamente, aos jovens e adultos que não puderam efetuar os estudos na idade regular, oportunidades educacionais apropriadas, considerando as características do alunado, os seus interesses e as suas condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames. § 2º O poder público viabilizará e estimulará o acesso do trabalhador à escola e a permanência nela, mediante ações integradas e complementares entre si. (BRASIL,1996).

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), regulamentada como modalidade de

ensino, se configura como uma educação de classe, apresentada como uma

possibilidade de elevação da escolaridade para aqueles aos quais foi negado o

direito à educação na fase da vida cronologicamente adequada. Uma forma de

educação para a classe trabalhadora que não necessitam de um maior investimento

por parte do Estado para atender as demandas do meio produtivo. Assumindo um

caráter reparador de dívida social e tal destinação de classe conforme o Parecer

11/2000 do Conselho Nacional de Educação (RUMMERT, 2007).

Segundo Rummert (2007), e conferido a Educação de Jovens e Adultos um

papel inferior, quando ações governamentais de redução de idade mínima para a

prestação de exames, prevalecendo a certificação em detrimento do processo

pedagógico para a aquisição plena do domínio tecnológico e científico.

Todos estes problemas levantados são verificados na prática, uma vez que os

índices de evasão nesta modalidade de ensino são alarmantes e gradativamente vai

perpetuando e exclusão desta parcela da população, as politicas promovidas se por

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um lado aumentaram a oferta desta modalidade de ensino por outro não se efetiva o

compromisso com uma educação de qualidade para estes trabalhadores.

Os diversos processos de exclusão, o analfabetismo e a baixa escolaridade

demandam tanto o ensino escolar imediato e adequado quanto a reformulação das

políticas educacionais e práticas pedagógicas. Estes fatores além de impedirem o

acesso e a permanência contribuem negativamente para o êxito do alunado na

educação escolar. A partir da análise das propostas pedagógicas de EJA vigentes, a

Secretária de Estado da Educação do Paraná, estabeleceu a reorganização da

oferta de EJA no que se refere à sua identidade e à flexibilidade no processo

ensino–aprendizagem. Identificou-se que é preciso consolidar uma pedagogia que

viabilize o acesso, a permanência e, sobretudo, o êxito educacional dos educandos

(PARANÁ, 2006).

Esta nova estruturação resultou na construção das Diretrizes Curriculares

para a EJA e um documento orientador para a construção do Projeto Político

Pedagógico da Educação de Jovens e Adultos. Os cursos semipresenciais foram

extintos e atualmente a carga horária é 100 por cento presenciais tanto na

organização individual quanto na coletiva com a avaliação ocorrendo durante o

processo. Esta proposta também prevê as (Aped) ações pedagógicas

descentralizadas visando o atendimento de comunidades com baixa demanda nesta

modalidade de ensino.

As Diretrizes Curriculares da Educação de Jovens e Adultos (PARANÁ, 2006)

apontam algumas características desta modalidade de ensino.

A Educação de Jovens e Adultos (EJA), como modalidade educacional que atende a educandos-trabalhadores, tem como finalidades e objetivos o compromisso com a formação humana e com o acesso à cultura geral, de modo que os educandos aprimorem sua consciência crítica, e adotem atitudes éticas e compromisso político, para o desenvolvimento da sua autonomia intelectual. O papel fundamental da construção curricular para a formação dos educandos desta modalidade de ensino é fornecer subsídios para que se afirmem como sujeitos ativos, críticos, criativos e democráticos. Tendo em vista esta função, a educação deve voltar-se a uma formação na qual os educandos possam: aprender permanentemente; refletir de modo crítico; agir com responsabilidade individual e coletiva; participar do trabalho e da vida coletiva; comportar-se de forma solidária; acompanhar a dinamicidade das mudanças sociais; enfrentar problemas novos construindo soluções originais com agilidade e rapidez, a partir do uso metodologicamente adequado de conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio históricos (KUENZER, 2000, p. 40 apud PARANÁ, 2006, p. 27).

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Para a efetivação de um processo de ensino aprendizagem é necessário

compreender o perfil do educando da Educação de Jovens e Adultos requer

entende-lo como um sujeito com diferentes experiências de vida e que em algum

momento afastou-se da escola devido a fatores sociais, econômicos, políticos e/ou

culturais.

A EJA deve contemplar ações pedagógicas específicas que levem em

consideração o perfil do educando jovem, adulto e idoso que não obteve

escolarização ou não deu continuidade aos seus estudos por fatores, muitas vezes,

alheios à sua vontade.

A Lei n. 9394/96, em seu artigo 38, determina que:

Art. 38. os sistemas de ensino manterão cursos e exames supletivos, que compreenderão a base nacional comum do currículo, habilitando ao pros seguimento de estudos em caráter regular. § 1º os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: I – no nível de conclusão do ensino fundamental, para os maiores de quinze anos; II – no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores de dezoito anos. § 2º os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos mediante exames.(BRASIL, 2006).

As deliberações do Conselho Estadual de Educação, onde permitem o

ingresso na EJA aos 14 anos para o Ensino Fundamental e aos 17 para o Ensino

Médio. Essa alteração da idade para ingresso e certificação na EJA, dentre outros

fatores, ocasionou uma mudança significativa na composição da demanda por essa

modalidade de ensino, sobretudo pela presença de adolescentes.

Atualmente, os adolescentes ainda são presença marcante nas escolas de

EJA. A grande maioria é oriunda de um processo educacional fragmentado,

marcado por frequente evasão e reprovação no Ensino Fundamental e Médio

regulares. A demanda desses adolescentes não deve ser vista apenas como fato

mas como a oportunidade da educação escolar responder a alguns

questionamentos (PARANA 2006a p.30).

A partir de então se tem um novo desafio, a inclusão destes jovens com um

histórico de insucesso e evasão escolar numa modalidade de ensino onde existe

uma grande heterogeneidade de idade, vivencias, expectativas de vida e de

escolarização.

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2.2 A Educação Física

A Educação Física como campo do conhecimento escolar é necessário

analisar o que esta disciplina pode proporcionar aos alunos em ternos educativos.

Inicialmente não podemos mais pensar a educação física como um estudo da

aptidão física, tal prática o objetiva doutrinar corpos fortes, ágil e apto ao mercado

de trabalho, alienando-o como sujeito histórico, capaz de interferir na transformação

da sociedade.

Segundo COLETIVO DE AUTORES (1992, p24), buscando o

desenvolvimento da aptidão física, o conhecimento necessário é o exercício de

atividades corporais que lhe permitam atingir o máximo rendimento em sua

capacidade física.

Porém, a Educação Física escolar na perspectiva da cultura corporal, busca

desenvolver uma reflexão pedagógica sobre as formas de representação do mundo

que o homem/mulher tem produzido ao longo da história, exteriorizadas pela

expressão corporal.

Esta percepção possibilita a compreensão, por parte do aluno, de que a

produção da humanidade expressa uma determinada fase e que houve mudanças

ao longo do tempo. Segundo Darido (2001 p.13), “... à seleção de conteúdos para as

aulas de Educação Física propõem que se considere a relevância social dos

conteúdos, sua contemporaneidade e sua adequação às características sócio

cognitivas dos alunos...”.

O Coletivo de Autores (1992, p. 61) “a Educação Física é uma Disciplina que

trata pedagogicamente, na escola do conhecimento de uma área denominada

cultura corporal”.

Buscando ampliar este sentido de cultura corporal Bracht destaca que:

Precisamos considerar/ postular que a cultura corporal/movimento resume um acervo produzido pelo homem que precisa ou merece ser veiculado pela instituição educacional, acrescentando-se, no entanto, que é preciso fazer a crítica cultural e superá-la é o nosso saber, é o saber que vamos transmitir educação do movimento (BRACHT, 1992 p.49).

A Educação Física entendida como uma disciplina que trata de um tipo de

conhecimento denominado de cultura corporal que tem como temas, o jogo, a

ginástica, o esporte, a dança, a capoeira e de outras temáticas que apresentarem

relações com os principais problemas sociais e políticos vivenciados pelos alunos.

Darido (2001 p.13) aponta que:

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Enquanto organização do currículo, ressaltam que é preciso fazer com que o aluno confronte os conhecimentos do senso comum com o conhecimento científico, para ampliar o seu acervo de conhecimento. Além disso, sugerem que os conteúdos selecionados para as aulas de Educação Física devem propiciar a leitura da realidade do ponto de vista da classe trabalhadora. Deve, também, evitar o ensino por etapas e adotar a simultaneidade na transmissão dos conteúdos, ou seja, os mesmos conteúdos devem ser trabalhados de maneira mais aprofundada ao longo das séries, sem a visão de pré-requisitos (DARIDO, 2001 P.13).

Os conteúdos clássicos da educação física tratados na escola, expressam um

significado onde se interpretam, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do

homem e as intenções/objetivos da sociedade (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.

62).

E necessário compreender as relações que estes conteúdos tem com os

problemas sócio-políticos atuais como: ecologia, gênero, sexualidade, saúde.

Trabalho, preconceitos, classe e outros.

A partir da reflexão sobre tais problemas o objetivo é o de possibilitar ao aluno

entender a realidade social na qual está inserida. Ou seja, e escola deve

proporcionar a apreensão da prática social, e para isso, os conteúdos devem ser

buscados dentro desta realidade (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 62).

Portanto, a escola, apoiada na pedagogia critico superadora, deve selecionar

os conteúdos da Educação Física, com o objetivo de promover a leitura da

realidade, buscando subsídios para transformar a realidade.

Propõe-se que a Educação Física seja fundamentada nas reflexões sobre as

necessidades atuais de ensino perante os alunos, na superação de contradições e

na valorização da educação. Por isso, é de fundamental importância considerar os

contextos e experiências de diferentes regiões, escolas, professores, alunos e da

comunidade (PARANÁ , 2006b p. 50).

As Diretrizes Curriculares de Educação Física trazem os elementos

articuladores com o intuito de romper a forma como são tratados os conteúdos na

Educação Física e para este trabalho abordaremos os elementos articuladores:

Cultura Corporal e Corpo: O corpo é entendido em sua totalidade, o corpo, que

sente, pensa e age. Os aspectos subjetivos devem ser analisados sob uma

perspectiva crítica da construção mercadológica e midiática do referencial de beleza

e saúde, os quais fazem do corpo uma ferramenta produtiva e um objeto de

consumo. Esse elemento propõe a reflexão crítica sobre as diferentes visões

construídas ao longo da história da humanidade em relação ao corpo que favorecer

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o dualismo corpo-mente e sua interferência nas aulas de Educação Física e nas

práticas corporais de um modo geral (PARANÁ, 2008, p.54).

Cultura Corporal e Saúde: Procurar entender a saúde como construção que

supõe uma dimensão histórico-social, contrária à tendência predominante de

conceber a saúde como simples vontade individual. A manutenção da saúde não

pode ser somente a uma responsabilidade do sujeito, mas sim, compreendidos no

contexto das relações sociais, por meio de práticas e análises críticas dos discursos

a ela relativos (PARANÁ, 2008).

Cultura Corporal e Mundo do Trabalho: Analisar as relações sociais de

produção/assalariamento vigentes na sociedade, em geral, e na Educação Física, a

reestruturação produtiva, o trabalhador que deve executar as tarefas laborais com a

máxima flexibilidade, relegando as práticas corporais a um segundo plano, tornando-

as um mero desperdício de energias que poderiam ser destinadas ao meio produtivo

(PARANÁ, 2008, p.57).

2.3 A Ginástica Laboral

A ginástica laboral “é uma atividade que parece nova, mas surgiu em 1925

como uma ginastica de pausa para operários, inicialmente na Polônia, Rússia,

Bulgária entre outros países, na mesma época” (MENDES & LEITE, 2004, p.1).

No Brasil a ginástica laboral foi introduzida pelos executivos nipônicos do

Estaleiro Ishikavajima e inicialmente precedia o inicio da jornada de trabalho, onde

diretores, operários realizavam durante 8 minutos exercícios dedicados à coluna

vertebral, abdome e aparelho respiratório (MENDES & LEITE, 2004).

A ginástica laboral possui algumas classificações de acordo com o horário de

execução e quanto ao objetivo. Para este trabalho iremos usar a classificação de

acordo com os objetivos da aplicação, que estão assim classificadas:

A ginástica laboral preparatória: Ministrada no começo do expediente e do

turno de trabalho, com o objetivo de preparar o corpo para a atividade laboral. A ginástica laboral compensatória ou de pausa: Ministrada durante uma

pausa no turno de trabalho, geralmente no horário de pico de fadiga, seu

objetivo e prevenir os vícios posturais da vida diária e do trabalho. A ginástica laboral relaxante: realizada no termino do expediente de trabalho,

consiste em exercícios de relaxamento e massagens nas partes do corpo

mais afetadas pela atividade laboral.

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Ginástica corretiva: visa reestabelecer o equilíbrio muscular e articular,

consiste em exercícios de alongamentos para a musculatura encurtada e

fortalecimento para a musculatura enfraquecida. Ginástica laboral de manutenção: busca o equilíbrio físio-morfológico,

caracteriza-se por um programa de condicionamento físico para prevenir ou

reabilitar as doenças crônicas degenerativas.

Após a coleta de dados, através de questionários e medidas investigativas,

pode-se começar com maior segurança o planejamento do programa de Ginástica

Laboral visando o seu pleno sucesso.

Para Martins (2001, p 68), os testes e os questionários respondidos e

preenchidos embasam todo o programa de promoção de saúde ao trabalhador,

servindo de base para a elaboração do programa de Ginástica Laboral, além de

expressar o quadro atual de saúde dos participantes.

Segundo Mendes e Leite (2004, p 156), as estratégias utilizadas nas

aulas podem ser dos seguintes tipos: atividades em pequenos grupos, atividades em

grandes grupos, individualmente, em duplas, em trios, em círculos, em colunas, em

fileiras, com mímicas, parado ou em deslocamento, com ou sem materiais e com ou

sem música.

Os materiais utilizados nas aulas podem ser os mais diversos possíveis, tais

como: balões, bolinhas de borracha ou de tênis, bastões, extensores, colchonetes,

aparelho de som, bolas coloridas, cordas, aquatubos, halteres, caneleiras, arcos,

materiais que podem ser criados, cadeiras e outros materiais aproveitados do

próprio ambiente de trabalho. (MENDES e LEITE, 2004, p 157)

Para Lima (2003, p 80), a escolha dos exercícios é de extrema importância,

porém deve-se analisar antecipadamente o nível de coordenação motora e o grau

de flexibilidade das pessoas que participarão do programa de Ginástica Laboral. A

partir de exercícios mais simples para os exercícios mais complexos, é importante

planejar a aplicação e a evolução dos mesmos, prestando atenção se alguns

movimentos causam desconforto aos participantes.

Diferentes estratégias devem ser utilizadas no planejamento das atividades

de Ginástica Laboral evitando deste modo apenas à prescrição de exercícios de

alongamento e sem muita variação. O planejamento das atividades pode ser dividido

em partes, como: planejamento geral, mensal, semanal e plano de aula. (MENDES

e LEITE, 2004, p 153).

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O ambiente de trabalho também interfere no que refere ao acometimento das

chamadas LER e DORT e o aspecto ergonômico. Nesse sentido, o termo ambiente

não se refere apenas ao contorno ambiental, no qual o homem trabalha, mas

também a suas ferramentas, seus métodos de trabalho e à organização deste,

considerando-se este homem, tanto como indivíduo quanto como participante de um

grupo de trabalho (MURIEL,1969 apud Ferreira, 2008).

A carência da utilização dos conhecimentos sobre a ergonomia no ambiente

de trabalho seja no mobiliário ou na própria atividade laboral em si, acarreta ao

longo do tempo damos no sistema musculo esquelético dos indivíduos que

consequentemente poderão desenvolver LER/DOR, com afastamentos do trabalho e

também de quaisquer outras práticas corporais.

3. METODOLOGIA

3.1 Caracterização da pesquisa

Neste trabalho a pesquisa convém ressaltar de que no se refere a seleção de

conteúdos de Educação Física da Educação de Jovens e Adultos está pautado via

de regra apenas por atividades de cunho teórico devido ao alunado já chegar aos

bancos escolares oriundos de uma jornada de trabalho desgastante e a analisar

como o mundo do trabalho e os processos dolorosos decorrente da atividade laboral

influenciam no processo de ensino aprendizagem dos jovens e adultos, e como a

inclusão do conteúdo de ginástica laboral com a aplicação dos exercícios de

ginástica laboral atuariam para minimizar estas dores promovendo uma melhora no

bem estar geral e consequentemente no processo de aquisição do conhecimento.

3.2 Instrumentos metodológicos

Inicialmente foi realizada uma coleta de dados com a aplicação do

questionário inicial adaptado de POLITO & BERGAMASCHI 2002 e topografia e

intensidade da dor de LEITE (1992) adaptado de BLONE & ECHTERNACH (1987).

Após a tabulação e dados ficou evidenciado que a grande necessidade

quanto a seleção de exercícios de ginástica laboral para este determinado grupo

deveria priorizar a coluna vertebral membros inferiores.

No segundo momento da implementação da intervenção pedagógica e

objetivando contextualizar os exercícios práticos de ginástica laboral, foram

realizados estudos da produção didático pedagógica a fim de permitir a analise e

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reflexão sobre o mundo do trabalho, as doenças relacionadas ao trabalho

LER/DORT e a ergonomia no trabalho e vida cotidiana.

Após as 12 semanas de aplicação do projeto de intervenção pedagógica

foram aplicados os dois instrumento citados anteriormente a fim de verificar se

houve alguma mudança significativa no que tange sobretudo aos processos

dolorosos anteriormente descritos, também foi solicitado que relatassem suas

impressões sobre a aplicação do projeto de intervenção.

3.3 Universo da pesquisa

Para este trabalho utilizamos como publico alvo 12 alunos de ambos aos

sexos do Ensino Médio da Educação de Jovens e Adultos, com idade variando entre

18 e 55 anos, alunos na sua grande maioria trabalhadores.

3.4 Resultados e discussão

Os dados levantados no diagnostico inicial além de fornecerem informações

para a seleção de exercícios mais adequados de acordo com aos processos

dolorosos relatados, conforme está descrito no gráfico 1, 64% dos alunos sentem

algum tipo de dor no corpo.

Gráfico 1- Dores no corpo

Fonte: dados do autor.

O gráfico 2 nos mostra a topografia das dores e este revelou que a coluna

lombar lidera com 71% dos relatos, o que já era esperado pois segundo dados da

Organização Mundial da Saúde 85% das pessoas já tiveram, têm ou terão dores nas

costas em algum momento da vida.

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Gráfico 2 – Topografia da dor.

Fonte: dados do autor.

Alisando o gráfico 3 se verifica que 60% sentem dores de intensidade moderada

escala de 5 a 8 e 40% sentem dores de intensidade máxima 9 a 10 segundo o

questionário de topografia e intensidade da dor de LEITE 1992 adaptado de BLONE

1987 e de ECHTERNACH 1987.

Gráfico 3- Intensidade da dor

Fonte: dados do autor.

Após a tabulação e dados ficou evidenciado que a grande necessidade

quanto a seleção de exercícios de ginástica laboral para este determinado grupo

deveria priorizar a coluna vertebral membros inferiores.

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Outro dado importante é que os dos alunos que não apresentavam algum tipo

de dor apenas 25% exerce atividade profissional remunerada o que é um forte

indício de que a atividade laboral remunerada favorece o acometimento das diversas

doenças osteoarticulares. Ficou evidenciado que dos alunos que relataram algum

tipo e dor apenas 1 respondeu positivamente quanto a prática de atividade física

regular.

Após serem submetidos as aulas de ginástica laboral e aplicação do

questionário final foi constatado que houve uma pequena mudança apenas no nível

de intensidade da dor onde 100% dos questionários apontaram intensidade

moderada de dor na coluna lombar. O baixo índice de melhora pode ser explicado

devido a uma variável não prevista no projeto pois não havia a previsão de

interrupção nas atividades praticas de ginástica laboral perfazendo um total de 12

semanas que corresponde o que é preconizado pela literatura para se respeitar o

principio do treinamento desportivo da adaptabilidade que segundo Weineck (2000)

“define a adaptação biológica sendo compreendida fundamentalmente como uma

reorganização orgânica e funcional do indivíduo, em que se pode registrar uma

sequência temporal dessa adaptação”.

Essa adaptação que a literatura aponta vem sucedida de um outro principio

que deve ser respeitado e as interrupções são maléficas aos resultados pois a

reversibilidade, que se constitui que qualquer capacidade física treinável ao mesmo

tempo que sofre uma melhora com o treino esta é reversível quando é sessado ou

interrompido este treinamento.

Contudo apesar as dificuldades que se apresentaram no decorrer da

implementação houve uma excelente aceitação por parte dos alunos ao projeto de

intervenção, pois a participação era voluntária e não estava vinculada às avaliações

formais como os demais conteúdos desenvolvidos no decorrer da carga horária

destinada á disciplina, uma vez que dos 13 alunos apenas 1 não participou das

ações propostas pelo projeto de intervenção e apenas 1 evadiu-se no decorrer do

processo. Reforçando esta afirmação transcrevo (respeitando a grafia deles) alguns

relatos de alunos que participaram das ações

“A ginástica laboral faz bem a saúde eu faço 3 vezes por semana, onde eu

trabalho contrataram uma fisioterapeuta para ginástica laboral, cada vez que eu faço

me sinto ais disposta para o trabalho”.

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“Eu que nunca fiz atividade física pra mim foi bom, fazer alongamentos deu

mais animo pra fazer as atividades de casa”.

“No um caso foi uma boa, me ajudou a melhorar o movimento no serviço, eu

trabalho muito tempo sentado no caminhão e ao fazer uma viagem ao descer agora

faço um alongamento pois não tinha o hábito. Agora em cada parada dou uma

esticada no corpo e me sinto melhor para continuar a viagem”.

“Foi muito bom ter participado, pois apesar de na hora sentir alguma dor,

valeu muito a pena. Pois com o decorrer dos exercícios eu sentia uma melhora

considerável, pena que não tenha adquirido este hábito no meu dia a dia, mas

aproveitei bem todas as aulas, por isso eu aprovo e recomendo”.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados apresentados anteriormente sugerem que para a uma discreta

melhora nos níveis de intensidade de dor o que pose ser explicado devido aos

diversos problemas apresentados durante a aplicação do projeto de intervenção que

sobre os quais faz se necessário serem descritos, pois não inicio do ano letivo não

havia uma turma de Ensino Médio de Educação Física e a que havia não tinha carga

horária suficiente para a aplicação e devido a isso houve uma readequação de

cronograma que depois se agravou devido a greve geral de professores e

funcionários e outra alterações de calendários o que retardou ainda mais a

implementação passando pelo recesso da Copa do Mundo e férias de julho o que

promoveu uma interrupção na aplicação dos exercícios o que afeta negativamente

os “efeitos” que a ginástica laboral promove na prevenção e manutenção do sistema

osteomuscular.

Apesar de não ser o objetivo do projeto de intervenção pedagógica e de

análise deste artigo ao final do período letivo da turma em questão ficou evidente

que houve uma diminuição drástica nos índices de evasão nesta turma, pois 92%

dos alunos que iniciaram completaram a carga horária da disciplina e apenas 1, 8%

evadiu-se das aulas, caracterizando um índice muito abaixo, dos cerca mais de 35%

que se apresentam no ensino noturno de um modo geral.

Também é gratificante e ultrapassa os resultados numéricos estatísticos

quando se obtém relatos onde fica evidente que muito além de benefícios no corpo

quanto a diminuição de dores os alunos descrevem que despertaram e sentem a

necessidade da atividade física e que os exercícios de ginastica laboral e

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alongamentos são importantes não somente no ambiente de trabalho mas na sua

vida diária.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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