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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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TRABALHANDO CONTEÚDOS CONCEITUAIS, PROCEDIMENTAIS E ATITUDINAIS POR

MEIO DE HISTÓRIAS EM QUADRINHOS: UM ENFOQUE NA PREVENÇÃO DE

TUBERCULOSE, HANSENÍASE E HEPATITE

Vera Lúcia Branchi1 Juliana Moreira Prudente de Oliveira2

RESUMO: Este trabalho apresenta os resultados da implementação de uma unidade didática em uma turma de 7º ano do ensino fundamental na disciplina de ciências, com a temática prevenção de doenças transmissíveis e infecciosas como a tuberculose, a hanseníase e a hepatite. O objetivo do estudo foi trabalhar com os alunos a construção de histórias em quadrinhos (HQ) e investigar quais conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais eles apontam em relação a essas doenças. Portanto, este trabalho trata-se de uma investigação qualitativa, na qual os dados foram coletados por meio das HQ construídas pelos alunos. Após a realização de uma análise descritiva e documental os resultados apontaram que a utilização das HQ possibilitou a construção de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais sobre as doenças trabalhadas. Portanto, as HQ podem ser utilizadas no ensino de ciências como um recurso didático auxiliar no processo de ensino e aprendizagem. Palavras - chave: Lúdico; Ensino de Ciências; Ensino e Aprendizagem.

Introdução

Este estudo tem como temática a prevenção de doenças transmissíveis e

infecciosas, mais especificamente a tuberculose, a hanseníase e a hepatite, as quais

podem ser tratadas de maneira preventiva, permitindo que muitas pessoas

mantenham a garantia de saúde. Essas doenças requerem ajuda e cuidado médico

para realizar tratamento adequado. No entanto, é necessário compreender que

podem ser evitadas desde que todos tomem cuidados de higiene e prevenção. A

prevenção nem sempre acontece por meio de vacinas, em muitos casos medidas

simples como lavar as mãos, usar máscaras, evitar aglomerações são suficientes

para evitar doenças contagiosas. Essas doenças são perigosas e necessitam de

tratamento eficiente e rápido, pois isso é importante impedir a disseminação delas

para outras pessoas (SANTOS, 2005).

1 Professora PDE. Licenciada em Ciências Físicas e Biológicas, com habilitação em Matemática.

Docente no Colégio Estadual Presidente Costa e Silva - Foz do Iguaçu - PR. 2 Professora orientadora. Mestre em Educação para a Ciência e a Matemática. Licenciada em

Ciências Biológicas. Professora Assistente da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

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Diante disso, neste trabalho esse assunto foi aliado a um recurso lúdico, a

saber, a história em quadrinhos (HQ) a fim de realizar um trabalho de prevenção e

ao mesmo tempo de investigação. A construção de história em quadrinhos para

trabalhar a prevenção de doenças é uma escolha que pode demonstrar-se eficiente,

pois esse tipo de construção tem como característica aliar a força da palavra à

imagem, facilitando a compreensão da mensagem em qualquer informação que se

deseja realizar. Segundo Cabello, La Roque e Sousa (2010) a história em quadrinho

é um tipo de arte em sequência que une dois símbolos gráficos a imagem e a

escrita. Trata-se de uma construção rica em elementos que se encaixam na história

para fazer sentido.

A construção de história em quadrinhos para o ensino de ciências representa

uma inovação, ao mesmo tempo em se apresenta como oportunidade de refletir

sobre os preconceitos ou conceitos errôneos que podem ser aprendidos no entorno

da vizinhança e da família. A história em quadrinhos é um instrumento de ensino

que pode expressar muitos sentimentos e revelar as expectativas dos alunos em

relação a assuntos que são desconhecidos ou simplesmente ignorados por eles. Os

quadrinhos eram utilizados apenas nas aulas de comunicação e linguagem, mas

com o tempo foram surgindo muitas aplicações da criação de quadrinhos pelos

alunos, sendo importante para a aula de ciências, pois também permitem ao

professor verificar a aprendizagem do aluno. Para Cabello, La Roque e Sousa

(2010) as histórias em quadrinhos possuem uma ampla opção de uso,

demonstrando ser uma ferramenta de ensino em diferentes disciplinas do currículo

escolar, portanto, uma mídia muito importante que merece espaço dentro das

instituições de ensino.

A HQ foi utilizada neste trabalho na tentativa de diversificar as estratégias

utilizadas nas aulas de ciências e a partir disso investigar se a elaboração das

mesmas pelos alunos do ensino fundamental possibilitou a construção de

conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais em relação às doenças

trabalhadas.

Recurso para um ensino de ciências diferenciado: a utilização da HQ

O desenvolvimento de uma educação lúdica não pode ser excluído do

processo ensino-aprendizagem, pois esta resulta de uma interiorização do sujeito,

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que ao interagir com o conhecimento, realiza ações de construção, as quais não

possuem uma forma fixa, são sensações aprendidas de maneira subjetiva, por isso

é tão importante diversificar, desafiar e desvendar o conhecimento a partir de ações

mais próximas da realidade, uma vez que se não tem relação com a prática, não é

significativo (ROCHA, 2006).

Neste contexto, ensinar ciências utilizando quadrinhos pode ser uma ação de

interiorização do conhecimento e de contextualização. Essa concepção se aproxima

da teoria piagetiana que explica que mesmo as sensações físicas mais simples

pressupõem um quadro interno de interpretação, conduzindo à ideia de até um

material simples e criado pelo aluno se constitui numa operação de aprendizagem

para o sujeito (SEBER, 1997).

Rocha (2006, p. 108) explica que “a ludicidade do jogo e do brinquedo pode

estar presente no ato de ensinar ciências com objetivos e ideias que utilizam o

conhecimento científico como regra ou atributo lúdico”. Isto indica que utilizar ou

criar jogos, charadas, histórias em quadrinhos podem contribuir para o

desenvolvimento e a fixação do conhecimento de forma prática.

Kamel (2006) citado por Cabello, La Roque e Sousa (2010, p. 230) afirma:

A utilização das HQ no contexto escolar proporciona ampliação de leituras e interpretações do mundo, e por se tratarem de publicações de cunho popular, estão estreitamente relacionadas ao contexto do aluno. As HQ têm a capacidade de atrair o jovem leitor e esse fato está fazendo com quer os educadores aproveitem cada vez mais esse instrumento, pois a sua utilização valoriza as situações do cotidiano e da vivência das crianças e jovens.

Portanto, as estratégias utilizadas no ensino de ciências devem e necessitam

superar os aspectos superficiais, inserindo conceitos, procedimentos e atitudes em

relação ao conhecimento que se deseja construir. Desta forma, os conteúdos do

ensino devem ser reconhecidos por proposições conceituais, procedimentais e

atitudinais.

Segundo Campos e Nigro (1999) as proposições conceituais estabelecem as

relações entre os conceitos e ajudam a desvendar os seus significados, os

conteúdos procedimentais fazem referência ao saber fazer, abordando as técnicas,

métodos e habilidades necessárias à aprendizagem. Os conteúdos atitudinais se

referem às atitudes que os alunos necessitam desempenhar para favorecer a

aprendizagem dos conceitos e procedimentos, estes estão relacionados ao

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comportamento, aos sentimentos e valores atribuídos pelo aluno aos conteúdos do

aprendizado.

Desta forma, os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais no ensino

de ciências podem contribuir para refletir sobre a construção de conhecimentos

sobre hanseníase, tuberculose e hepatite, pois é necessário dominar os conceitos,

compreender os procedimentos necessários para superar cada uma dessas

doenças e desempenhar atitudes que permitam realizar a prevenção e auxiliar quem

já tem a doença.

Hanseníase, tuberculose e hepatite: algumas noções

Existem muitas doenças que são contagiosas e que exigem cuidados

intensivos, pois comprometem a saúde e a vida das pessoas, no entanto existem

algumas que são mais disseminadas por se tratar de contágio de contato como o

caso dos vírus influenza, da hepatite, da tuberculose e da hanseníase.

Santos (2005) explica que a tuberculose é uma infecção causada pela

bactéria Mycobacterium tuberculosis, mais conhecida como bacilo de Koch, em

homenagem ao cientista que a descobriu, Robert Koch (1843-1910). Em cerca de

90% dos casos, ataca apenas os pulmões, mas pode afetar também quase todos os

órgãos do corpo. Em 1976, calculava-se entre 700 mil e 1,5 milhão o contingente de

brasileiros afetados por tuberculose. Nesta doença o contágio se dá através de

gotículas de catarro, eliminadas pela tosse, pelo espirro, pela saliva, etc. e a

prevenção pode ser realizada com a melhoria da alimentação e das condições de

vida da população. Outro meio é a vacinação com BCG (Bacilo de Calmette e

Guérin), do 1º mês aos 14 anos de vida. Imuniza em 85% dos casos e previne as

formas mais graves da doença. Algumas bactérias, responsáveis pela tuberculose

no gado, podem atacar também o homem, através do leite. Por isso, o leite deve ser

sempre fervido.

A hepatite é uma infecção por vírus que ataca o fígado e é contagiosa. O

contágio de hepatite acontece quando o vírus passa das fezes da pessoa

contaminada para a boca do indivíduo sadio, através da água, dos alimentos, das

roupas e das mãos sujas. Moscas e agulhas de injeção não esterilizadas também

podem provocar o contágio. A prevenção dessa doença é indicada pelos hábitos de

higiene que são expressos por ações como: enterrar ou queimar as fezes e

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secreções do nariz e da garganta do doente, higiene pessoal e do ambiente, as

quais são medidas essenciais que contribuem para evitar o contágio (SMELTZER;

BARE, 2000).

A hanseníase, que também é conhecida como lepra, é produzida por uma

bactéria (Mycobacterium leprae) mais conhecida como bacilo de Hansen, em

homenagem ao seu descobridor. Dos três tipos de lepra – “virshuniana”,

“tuberculóide” e “inicial” – a primeira é a única contagiosa e engloba,

aproximadamente, 50% dos casos. No Brasil, em 1979, o número total de casos

registrados no Ministério da Saúde era de cerca de 170 mil. Seu contágio acontece

pela falta de diagnóstico e de cuidado, pois só depois de muitos anos de

convivência, sem tratamento, é que a doença contagia outras pessoas. A

transmissão se faz através do contato com gotículas de saliva, secreções nasais ou

feridas de uma pessoa infectada. A exposição ao bacilo não significa a instalação

imediata e obrigatória da doença. O controle e o tratamento dos doentes, bem como

os exames periódicos e a melhoria das condições de vida da população, contribuem

para evitar a doença (SANTOS, 2005).

Aspectos metodológicos

Este estudo trata-se de uma investigação qualitativa que, segundo Lüdke e

André (1986), tem como característica manter o pesquisador em contato direto e

prolongado com o ambiente e a situação que está sendo investigada e apresenta

dados descritivos.

A coleta de dados envolveu a implementação de uma unidade didática de 32

horas para duas turmas de 7º ano do ensino fundamental, na disciplina de ciências,

de um colégio estadual de Foz do Iguaçu/PR. Durante a implementação foram

trabalhados os conceitos, procedimentos e atitudes relacionados às doenças

enfocadas, assim como, as técnicas envolvidas na construção das HQ. Em seguida,

os alunos elaboraram as suas próprias HQ, que consistiram em um instrumento de

coleta de dados.

As HQ foram analisadas por meio de uma análise documental que, conforme

Lüdke e André (1986), busca identificar informações factuais nos documentos a

partir das questões e ou hipóteses investigadas. Portanto, a análise dos dados foi

realizada buscando destacar os achados da pesquisa, apresentando uma análise

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descritiva do processo em suas categorias específicas. Para isso, foi necessário ler

e reler o material, a fim de buscar os resultados (LÜDKE; ANDRÉ, 1986).

Para manter o anonimato dos alunos que construíram as HQ, estes foram

identificados pela letra A (aluno) seguida de números arábicos (1, 2,...) e para deixar

mais claro os trechos/diálogos retirados das HQ para a análise, as falas dos

personagens foram identificadas pela letra P seguida de números arábicos (1, 2...).

A separação dos trechos de cada HQ na discussão foi realizada mediante o seguinte

símbolo (-----).

Desenvolvimento do trabalho

A implementação do trabalho foi um tanto complicada, uma vez que se tratava

de uma escola de periferia e de duas turmas com muitas dificuldades de

aprendizagem, repetência e indisciplina. No início os alunos se recusavam a

participar de algo diferente, que não fosse o uso do livro e do caderno, o que levou a

insistir no lúdico. Assim, após se acostumarem com as atividades propostas em

classe (vídeos, recorte de filmes, cruzadinhas, caça-palavras, etc.) todas foram bem

aceitas e realizadas de forma tranquila, o que contribuiu para construir uma

aprendizagem significativa sobre o tema estudado, porém a construção das HQ

encontrou resistência mesmo com toda ajuda fornecida pela professora.

Os conteúdos a serem enfocados nas HQ foram trabalhados a partir da leitura

de textos, discussão de cartilhas do Ministério da Saúde e pesquisas na biblioteca.

Após, os alunos montaram roteiros com diálogos, demonstrando o que aprenderam.

O passo seguinte foi transformar os diálogos em HQ, criando e desenhando

personagens que conversam sobre o conteúdo aprendido. Entretanto, ficou claro

que um dos problemas que estes alunos enfrentam e dificulta a sua interação e

aprendizagem causando sérios problemas comportamentais, é marcado pela

dificuldade em expressar por meio de desenho e de textos o que compreenderam

dos conteúdos. Portanto, as HQ dos alunos foram construídas apenas com muito

encorajamento da professora e, algumas podem ser mais bem classificadas como

tirinhas, pois se constituíam de três ou quatro quadrinhos, não chegando a cinco ou

mais para tratar-se de uma HQ.

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As construções dos alunos...

Como já mencionado anteriormente, os alunos apresentaram bastante

resistência para construir as suas HQ. Mas, com perseverança e bastante auxílio, foi

possível levá-los a trabalhar, totalizando 24 construções entre HQ e tirinhas, as

quais foram analisadas de forma conjunta. A análise possibilitou evidenciar

conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais, os quais foram

sistematizados no quadro abaixo:

Diferentes tipos de conteúdos Presentes nas HQ dos alunos Quantidade de HQ em que foi mencionado

Conceituais

Sintomas das doenças 11

Formas de contágio 10

Características das doenças 8

Agentes causadores 6

Procedimentais Formas de tratamento 12

Formas de prevenção das doenças tuberculose

11

Atitudinais Informar os leitores sobre as doenças 12

Quadro 1: Conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais presentes nas HQ dos alunos.

No quadro (1) é possível verificar que o conteúdo conceitual mais presente

nas HQ foram os sintomas das doenças trabalhadas (em 11 HQ), como

exemplificam alguns diálogos das HQ elaboradas:

P1: O que uma pessoa com hepatite sente?

P2: Mal estar... (A1, 7º D) (-----)

P1: Quais os sintomas da hepatite?

P2: Febre, pele e olhos amarelos, náusea... (A2 e A3, 7º D) (-----)

P1: E Hanseníase, você sabe o que é?

P2: Eu sei, é uma doença infecciosa que dá febre, infecção e feridas. (A4 e A5, 7º C) (-----)

P1: Como se sabe se está com tuberculose?

P2: Quando tem febre mais de três semanas e tem febre também. (A6 e A7-7º C)

As formas de contágio das doenças trabalhadas foi outro conteúdo conceitual

bastante presente (em 10 HQ), como exemplificam os diálogos a seguir:

P1 - Como se transmite hepatite?

P2 - É transmitido por contato oral ou pelo sexo, por isso é importante a higiene e a prevenção com camisinha. (A8 e A9, 7ºD)

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(-----)

P1 [...] doenças como tuberculose. P2 - Que doença é essa?

P1 - É uma doença infecto contagiosa e transmitida por gotículas de saliva e secreção nasal. (A10 e A11, 7º D)

(-----)

P1 - Como se transmite? P2 - Por secreções nasais, feridas na pele, gotículas de saliva, tosse e

espirro de alguém contaminado (A12 e A13, 7º C).

Também foi possível identificar conteúdos conceituais referentes a

características das doenças em oitos histórias: tuberculose (3), hanseníase (3) e

hepatite (2). Sendo que, os alunos apresentaram as características da seguinte

forma:

P1- O que é hepatite?

P2- É uma doença infecciosa que ataca o fígado. (A2 e A3, 7º D )

Os agentes causadores foram mencionados em seis HQ, como pode ser

exemplificado em dois trechos abaixo:

P1 - Você sabe o que é hepatite?

P2- Sim, é um vírus que ataca o fígado (A10 e A11, 7ºD). (-----)

P1 - Sabia que as bactérias se reproduzem por bipartição e podem se

multiplicar com muita rapidez? P2 - Sim e podem causar doenças como tuberculose e hanseníase. (A8 e

A9, 7ºC).

Percebe-se que os alunos mencionaram vários conteúdos conceituais

(sintomas/formas de contágio/características/agentes causadores das doenças) em

suas HQ. Conforme Campos e Nigro (1999) as proposições conceituais estabelecem

as relações entre os conceitos e ajudam a desvendar os seus significados. Nas HQ

elaboradas foi possível identificar várias proposições, o que indica que os alunos

conseguiram estabelecer significados para os conceitos trabalhados.

Em relação aos conteúdos procedimentais os alunos mencionaram as formas

de tratamento das doenças estudadas, as quais foram citadas em doze histórias

criadas, conforme exemplifica o diálogo abaixo de uma das HQ:

P1- Hanseníase tem tratamento?

P2- Tem sim. P1- Como?

P2- Tomando remédio, tem que ir ao médico e não pode parar o tratamento. (A8 e A9, 7º C).

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Para Campos e Nigro (1999) os conteúdos procedimentais fazem referência

ao saber fazer, abordando as técnicas, métodos e destrezas. E, embora estejam

mais relacionados aos alunos aprenderem como executar determinada tarefa, como

por exemplo, como elaborar histórias em quadrinhos, o que também foi trabalhado

com eles durante essa unidade didática. Nesta análise priorizou-se o que os alunos

deveriam saber fazer em relação às doenças e os dados evidenciam que houve

indícios em relação à compreensão das formas de tratamento, assim como em

relação às formas de prevenção, presente em onze HQ. O diálogo abaixo apresenta

como exemplo, uma conversa em relação à forma de prevenção da hepatite.

P1: Como prevenir para não pegar hepatite?

P2: Previne-se com higienização das mãos, roupas e utensílios e evitar o contato direto com pessoas infectadas.

Os conteúdos atitudinais também estiveram presentes nas HQ, pois em doze

delas havia um personagem informando o outro sobre a doença discutida. Nesse

sentido, é possível inferir que os alunos construíram noções de compartilhamento,

pois evidenciaram nas HQ a atitude de levar essas informações adiante, portanto, de

informar os outros acerca do que aprendeu. Campos e Nigro (1999) afirmam que os

conteúdos atitudinais estão relacionados aos sentimentos e valores atribuídos pelos

alunos aos conteúdos do aprendizado. Para exemplificar isso de uma forma mais

abrangente, na sequência, estão duas HQ na íntegra:

Figura 1: História em quadrinho sobre hepatite produzida por uma das alunas. Fonte: Dados da autora/professora PDE.

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Figura 2: História em quadrinho sobre hanseníase produzida por duas alunas. Fonte: Dados da autora/professora PDE.

Portanto, o uso das HQ como uma estratégia no ensino de ciências contribuiu

para a construção de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais pelos

alunos envolvidos. As estratégias utilizadas no ensino de ciências devem e

necessitam superar os aspectos superficiais, inserindo conceitos, procedimentos e

atitudes em relação ao conhecimento que se deseja construir, pois isto representa

ao aprendiz a possibilidade de aplicar o conhecimento na sua vida cotidiana. Nesse

sentido, o desenvolvimento das HQ contribuiu para trabalhar os conceitos mais

próximos da realidade do aluno, e segundo Rocha (2006) diversificar, desafiar e

desvendar o conhecimento a partir de ações mais próximas da realidade o torna

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mais significativo. Deste modo, este trabalho poderá repercutir na vida diária dos

alunos, no que tange as doenças trabalhadas.

Considerações finais

O desenvolvimento deste trabalho trouxe benefícios, pois permitiu aos alunos

do 7º ano a construção de conhecimentos conceituais, procedimentais e atitudinais a

respeito de doenças gravíssimas que podem ser evitadas por meio da mudança de

atitude em relação às formas de contágio e tratamento. O uso da história em

quadrinho como recurso pedagógico lúdico contribuiu para tornar o conhecimento

mais efetivo, e permitiu que os alunos externassem a sua aprendizagem por meio de

tais representações, ao mesmo tempo em que refletiam sobre os assuntos

trabalhados.

A resistência dos alunos para elaborar suas próprias HQ foi a maior

dificuldade no início do trabalho. Mas, essa questão estava mais relacionada com o

contexto, por se tratarem de duas turmas formadas por alunos com defasagem de

aprendizagem (repetentes) e que demonstravam baixa autoestima, não acreditando

no seu potencial. No entanto, após muita insistência e incentivo da professora as HQ

foram produzidas e, a análise revelou que mesmo limitadas em questão de números

de quadrinhos apresentavam evidências de aprendizagem.

Este trabalho demonstrou que o ensino de ciências pode ser prazeroso se

trabalhado de forma lúdica, pois contribui para que os conteúdos sejam significativos

para os alunos e tenham aplicabilidade em sua vivência cotidiana.

Para os professores que desejarem criar histórias em quadrinhos na

produção do conhecimento de ciências, ressalta-se que é necessário ter claro os

objetivos, planejar os conteúdos e definir as técnicas de forma que os alunos

possam perceber no final de suas produções o quanto aprenderam. Sem, contudo,

deixar de valorizar a criatividade de cada aluno, pois é necessário perceber que

existem diferentes talentos e habilidades dentro de uma mesma sala de aula.

Referências

CABELLO, K. A. S.; LA ROQUE, L. de; SOUSA, I. C. F. de. Uma história em quadrinhos para o ensino e a divulgação da hanseníase. (2010). In: Revista

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Eletrônica para o Ensino de Ciências, v. 9, n.1, p. 225-241, 2010. Disponível em: <www.scielo.br>. Acesso em: 01 de maio 2013. CAMPOS, M. C. da C.; NIGRO, R. G. Didática de Ciências: o ensino-aprendizagem como investigação. São Paulo: FTD, 1999. LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: abordagens qualitativas. São Paulo: EPU, 1986.

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