OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · compreende a interpretação pelo estudo da...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Produções Didático-Pedagógicas

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-075-9Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Produções Didático-Pedagógicas

Ficha para identificação da Produção Didático-pedagógica – Turma 2013 Título: O cinema como linguagem e expressão artística: uma nova forma de aprender e dizer

Autor: Silvia Gabriela Alves de Albuquerque Queluz

Disciplina/Área: Língua Portuguesa

Escola de Implementação do Projeto e sua localização:

Col. Estadual Hildebrando de Araújo

Município da escola: Curitiba

Núcleo Regional de Educação: Curitiba

Professor Orientador: Soraya Sugayama

Instituição de Ensino Superior: UFPR

Relação Interdisciplinar: Arte

Resumo:

Motivada pela facilidade de acesso às tecnologias digitais, do uso dos dispositivos móveis como o celular e a máquina fotográfica, como também a produção audiovisual no ambiente escolar, esse projeto propõe o estudo do cinema enquanto linguagem e expressão artística. O projeto compreende a interpretação pelo estudo da recepção e análise do discurso de filmes e vídeos hospedados no YouTube e a produção audiovisual dentro dos princípios da linguagem cinematográfica.

Numa relação intertextual com a arte - vista aqui como ruptura da cultura social e escolar estagnadas, reprodutoras de práticas fechadas em si mesmas – e a Língua Portuguesa, o Projeto pretende incorporar às praticas escolares novos modos de aprender e dizer.

Palavras-chave:

Linguagem; cinema; recepção; vídeo com celular;

Formato do Material Didático: Caderno Temático. Público:

Alunos do Ensino fundamental: 9º ano e, Também, para o 1º do Ensino Médio.

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEED PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE

Professora: Silvia Gabriela Alves de Albuquerque Queluz

PRODUÇÃO DIDÁTICO PEDAGÓGICA: O cinema como linguagem e expressão artística: uma

nova forma de aprender e dizer

Curitiba, 2013

As diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa do Estado do Paraná apontam para a necessidade do trabalho interdisciplinar, “entendidas como necessárias para a compreensão da totalidade”, em um constante processo dialógico entre as áreas do conhecimento.

Esta unidade pedagógica propõe uma relação interdisciplinar entre a Língua Portuguesa e a Arte através do cinema como uma nova prática pedagógica, ampliando as possibilidades de expressão pelos estudantes de forma lúdica, utilizando-se das novas tecnologias digitais como o celular, a máquina fotográfi ca e os recursos dos softwares de edição, além da já conhecida produção e interpretação de textos. Pensar o cinema na escola é algo no qual “se experimenta, se transmite por outras vias além do discurso do saber” (BERGALA, 2008, p.31). Segundo as Diretrizes Curriculares Estaduais do Paraná a relação interdisciplinar deverá proporcionar aos estudantes um olhar crítico para a realidade com as contradições existente e à “criação artística, nos contextos em que elas se constituem”.

Faraco, ao desenvolver o pensamento de Bakhtin sobre a arte, diz que “atividade estética, a arte, recorta elementos da realidade, do mundo da vida e da cognição, e os transpõem para um plano externo, dando a eles um novo acabamento”, numa nova composição, o fi lme, construído pelo “autor-criador”. Este, ao recortar, isolar elementos da realidade o faz carregado de valores (relações axiológicas) para transpor para o plano estético, de forma a “libertá-los”. É a partir dessa “outra realidade” criada, de elementos já experimentados e/ou conhecidos que o expectador pode “reagir aos estímulos recebidos”. (FARACO, 2002, p. 104-105)

Serão seis unidades organizadas da seguinte forma:A primeira unidade apresentará atividades que envolvem

um breve histórico sobre a origem do cinema. Nesta unidade propõe-se como metodologia a pesquisa, de modo que instigue

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Para ‘revelar’ o mundo é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor.

Henri Cartier-Bresson

Decupagem: é a descrição de como uma cena apresentada no roteiro será fi lmada, observando o enquadramento, tipo de plano, posição e movimento da câmera.Storybord: para um bom planejamento do fi lme, além da decupagem, costuma-se fazer desenhos estilizados, de cada cena, que ilustram, mostram como a cena será fi lmada – aquilo que será visto através da câmera.

o estudante a conhecer os aspectos técnicos e o contexto histórico do surgimento do cinema. Além disso, também uma ofi cina de construção do bloquinho imagem e movimento, na qual o estudante experimentará a ideia de que a imagem é estática, o que dá ideia de movimento é a sequencialidade das imagens.

Na segunda, assistiremos ao fi lme: Os Incompreendidos (1959) – de FrançoisTruffaut -, um clássico do cinema europeu, cuja temática está relacionada ao drama de um adolescente em confl ito com o mundo em que vive: a família, a escola e a sociedade. Nesta unidade observar-se-ão alguns aspectos da teoria da recepção de Wolfgang Iser. O fi lme enquanto narrativa, como discurso apresenta múltiplos sentidos, sendo que o receptor, a partir das suas experiências de vida, da sua cultura construirá sentido. Neste aspecto, propõe-se a discussão das temáticas que emanam da obra, o interdiscurso, o discurso de memória. Como exercício, propõe-se também a produção de um texto observando a paráfrase x a polissemia. Compreendendo aqui a paráfrase como a reconstrução da história baseando-se nela, a polissemia, carregada das experiências individuais, a história contada com novos signifi cados.

Na terceira unidade o trabalho desenvolver-se-á com a linguagem cinematográfi ca, tendo como referência o fi lme assistido. Compreender a linguagem cinematográfi ca é fundamental, pois nela observar-se-ão as intenções do autor. Quando se escolhe uma forma de contar uma história, numa narrativa escrita observa-se a posição do narrador (em primeira ou terceira pessoa). Neste caso, temos um fi lme sob a ótica da personagem principal, Doinel. Um menino de origem humilde, cuja mãe solteira não lhe dá atenção, a escola e a sociedade não lhe apresentam perspectivas. Neste sentido, a escolha dos planos e enquadramentos revelam aspectos fundamentais, assim como a música e o cenário. Ao se fazer a análise dos planos, também será trabalhada a decupagem e o storybord e a função que exercem na construção da narrativa.

É importante destacar que o fi lme, embora seja do século passado, apresenta uma temática atual: a condição de muitas

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Cinema de autor: as ideias do diretor prevalecem. Ele tem autonomia sobre a obra, sem muitas vezes considerar as ideias do roteiro. Características estilísticas próprias do autor são observadas ao longo de sua produção.

crianças e adolescentes. Também é signifi cativo o aspecto artístico da obra, um fi lme preto e branco, produzido por um diretor consagrado. O cinema de autor é uma forma interessante de olhar, de conhecimento sobre a produção cinematográfi ca, fazendo um contraponto com o cinema comercial, em que há uma linguagem pobre, facilitada em detrimento da linguagem simbólica da arte. Um fi lme segundo Truffaut “é uma etapa na vida do diretor e como o refl exo de suas preocupações no momento” (TRUFFAUT, 2005, p.20).

Na quarta unidade os alunos assistirão e analisarão vários vídeos que circulam na internet, como o vídeo-arte; vídeo experimental e os chamados “vídeos caseiros”, procurando identifi car o conteúdo, a intenção, a quem se dirigem e as técnicas utilizadas.

Esta unidade é também um momento de análise crítica do produto audiovisual. Propõe-se uma avaliação estética e conceitual dos vídeos assistidos. Na primeira etapa os alunos trarão vídeos que acham interessantes do YouTube e justifi carão o porquê desta escolha através de elementos já discutidos. A turma assistirá aos vídeos e os comentará observando o conceito, a intenção, a temática e escolha dos planos (se intencional ou não).

Na quinta unidade, os alunos produzirão seus próprios vídeos procurando conceituá-los. Num primeiro momento propõe-se a escrita do argumento, roteiro e decupagem.

A sexta e última unidade os estudantes assistirão e exibirão à comunidade escolar seus fi lmes. Observar-se-á neste momento como os vídeos serão “recebidos” pelos realizadores, bem como pela comunidade, para que haja uma avaliação tanto do processo, como também de como cada um foi “afetado”, sentiu o fi lme.

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Fotograma: também chamado de frame ou quadro.

“Um fi lme é uma escrita em imagens.”Jean Cocteau

“O cinema é uma linguagem de imagens, com seu vocabulário, sua sintaxe, suas fl exões, suas elipses.”Alexandre Armoux

O cinema pode ser defi nido como a imagem em movimento, imagens gravadas em fotogramas, que são as imagens, que desde 1929 foram padronizadas em 24 fotogramas por segundo – o que nosso cérebro consegue decodifi car - dando a ilusão de movimento contínuo.

Você já viu aqueles bloquinhos com desenhos que passados rapidamente dão a ideia de movimento?

Experimente:Recorte 24 pequenos pedaços de papel;Desenhe em cada um deles algo que ao passar rapidamente

dará a ideia de movimento. Pode ser um bonequinho andando, uma fl or abrindo etc.

Cole um dos lados do papel de ponta a ponta; (se você for destro, cole o lado esquerdo, se for canhoto, o direito)

Segure o bloquinho fi rmemente pelo lado colado e com a outra mão – pela borda - vá soltando as páginas.

Então verá a imagem em movimento.Isto é um fi lme? Dependendo do desenho ainda não. O

fi lme conta ou relata uma história, real ou imaginária. Pode ser dividido em várias categorias. Veremos algumas:

Quanto ao tempo de duração: a) Curta-metragem: até 15, 20 minutos;b) Média-metragem: superior a 20 minutos até 70;c) Longa-metragem: Superior a 70 minutos.Quanto ao tipo:Ficção: É uma história inventada. Pode ter se inspirado em

fatos reais, mas não tem compromisso com a verdade.Documentário: A defi nição usual é o que não é considerado

fi ccional. Os documentários propõem-se, em geral, a relatar um fato verídico, biográfi co, utilizando-se, na maioria das vezes, de depoimentos, entrevistas e imagens reais dos fatos.

Assistiremos a seguir alguns exemplos. Documentário sobre a história do cinema.http://www.youtube.com/watch?v=6CXRdOmwvg0A chegada de um trem na estação, dos Irmãos Lumiére,

1895.

UNIDADE 1: O que é um fi lme?

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https://www.youtube.com/watch?v=RP7OMTA4gOEViagem à Lua de George Méliès, 1902.https://www.youtube.com/watch?v=9FTjRIq9xZQUm trecho do Longa Metragem O auto da compadecida,

dirigido por Guel Arraes e com roteiro de Adriana Falcão, da Globo Filmes.

http://www.youtube.com/watch?v=4i327tfYccAUm trecho do documentário - videoarte Je vous salue

Sarajevo, (1993) do cineasta francês Jean-Luc Godard. O fi lme apresenta uma refl exão sobre a cultura e sobre a guerra.

http://www.youtube.com/watch?v=LU7-o7OKuDg&hd=1

Atividades: 1) Cada um desses fi lmes foi produzido dentro de um

contexto e com uma intenção (ou várias intenções). Procure identifi cá-las e relacioná-las ao fi lme. Observe também como foram realizados (duração, estilo).

2) O último fi lme é um videoarte, um vídeo fi losófi co, pois há na fala do narrador sua refl exão sobre duas ideais que se confundem: cultura e arte. Confunde porque a arte também é uma manifestação cultural.

Embora não nos aprofundemos na análise de vídeo, refl itam sobre a questão cultura - tradição, arte – ruptura:

a) Que elementos da cultura você questiona? Por quê?b) Observe como o vídeo foi construído. Como as imagens

são apresentadas em relação à narração? Elas contradizem ou reforçam a opinião do autor?

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Para iniciarmos esta unidade, assistiremos ao fi lme: Os Incompreendidos de François Truffaut.

François Truffaut (1932-1984) foi um cineasta francês que veio de uma família pobre viveu sem a infl uência do pai. Teve pequenos atos de delinquência. Neste fi lme, embora negue, há traços de sua biografi a. Era um menino solitário e encontrou na leitura e no cinema uma companhia. Aos 15 anos de idade, após abandonar a escola, funda um cineclube onde conhece André Bazin – grande teórico e crítico de cinema – que será uma

UNIDADE 2: Aprendendo a ler/ver um fi lme

Figura 1: Kroon, Ron / Anefo. Français: François Truffaut en 1967 à l’aéroport Schiphol d’Amsterdam.

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(...) decifrar o sentido das imagens

como se decifra o das palavras. Marcel Martin

1 CARLOS, Cássio Starling. François Truffaut: Os incompreendidos/[textos] Cássio Starling Carlos e Pedro Maciel Guimarães. - São Pailo, 2011 - (Coleção Cinema europeu; 15)

forte infl uência em sua vida. Foi para a guerra, mas desertou, consequentemente esteve preso por um tempo.

O fi lme, Os Incompreendidos, teve um grande sucesso mundial, recebeu em 1959 o prêmio de melhor “Mise em Scène (Melhor Direção) no festival de Cannes”. O protagonista do fi lme, Doinel (Jean-Pierre Léaud, tornou-se grande amigo de Truffaut, vindo a protagonizar vários outros fi lmes, alguns deles uma continuação da história de Doinel). 1

ATIVIDADE - 1 )

Agora que você já assistiu ao fi lme, faça uma sinopse e a fi cha técnica. Siga as orientações:

a) Quem?; O quê ?; Como?; Onde?; Porquê?b) Quem são as personagens? Quem são os respectivos

autores?c) Ficha técnica: Título do fi lme; Diretor; Diretor de

Fotografi a; Direção de arte; Edição; Produção. d) Qual o gênero (Romance, drama, suspense, policial,

fi cção científi ca etc.)? (na sua opinião)

DEBATE: Quais impressões e sensações o fi lme lhe trouxe? Quais características estéticas chamaram sua atenção? Que relações são possíveis estabelecer com a sua realidade?

ATIVIDADE – 2)Nas próximas unidades, iniciaremos uma nova forma de se

olhar um fi lme. Veremos o papel da câmera, do enquadramento e da montagem de maneira simples e objetiva. Antes, porém, vamos fazer mais uma atividade com esse belo fi lme de Truffaut: Os incompreendidos, observando o aspecto narrativo. Não temos acesso ao roteiro deste fi lme, no entanto há alguns aspectos que são muito importantes para pensar um fi lme, como ele surge. Vamos assumir o “papel” de Truffaut e escrever a base dessa história.

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Inicialmente, antes do roteiro, se faz o que se chama de storyline. É onde se começa a pensar um fi lme, tendo em vista uma linha, com começo, meio e fi m. Necessariamente não nessa ordem, pois se pode começar uma ideia do fi m.

Escreva em “uma linha”, de forma objetiva, como é essa história.

B) O argumento é a próxima etapa antes do roteiro, é quando se começa a desenvolver a história, criando uma justifi cativa. No argumento é importante mostrar como seu vídeo será, quais infl uências, intenções, de modo que se visualize o fi lme. No argumento deve ter uma descrição do fi lme, o gênero, indicar se haverá diálogo ou não. É importante, também, já antever o “ponto de virada”: que é um evento, uma situação que mudará o decorrer da história para o seu desfecho.

Pensando nesses conceitos, escreva um argumento para o fi lme de Truffaut, respondendo as seguintes perguntas:

Quem é o protagonista? Como ele se caracteriza (idade, classe social, descrição física e psicológica), onde vive, com quem vive. Como é sua mãe? Seu padrasto? Como é seu amigo, como é a relação que um mantém com o outro?

Aspectos do cenário: Onde se passa a história? (cidade, residência, lugares frequentados pelo personagem).

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Quando vimos o fi lme dos Irmãos Lumiére (unidade 1), pudemos observar que a câmera era fi xa. Nesta época, elas eram pesadíssimas, o que difi cultava sua movimentação. Durante algum tempo o cinema estava preocupado em registrar fatos. A câmera fazia o papel do expectador. Com o passar do tempo e da evolução dos equipamentos o cinema mudou. A construção da imagem foi aos poucos se modifi cando, a história não mais acontecia na frente da câmera, não era encenada num quadro como num teatro, o que deixava de ter um aspecto documental. A história passa a ser contada através de planos, com movimento da câmera, enquadramentos e cortes, a Montagem, nesse caso, é a construção da narrativa. Muitos cineastas teorizaram sobre esse assunto: os norte-americanos Edwin Porter e David Griffith e os soviéticos Lev Kulechov, Vsevolod Pudovkin, Sergei Eisenstein e Dziga Vertov. Esses artistas foram muito importantes para o cinema.

Como basicamente se constrói uma narrativa cinematográfi ca?

Para responder a pergunta vamos observar a construção dos planos e como eles são ligados através da Montagem. A imagem é a base da linguagem cinematográfi ca. Cada plano constitui uma parte que encadeado a outro construirá uma sequência narrativa.

“O papel criador da câmera” :É importante observar que estes planos são formados a

partir do Roteiro, que é transformado em imagem através da decupagem, (o texto escrito “traduzido” por imagens) na qual o Diretor organiza a narrativa. Na decupagem há, então, uma descrição técnica: com o uso das siglas dos enquadramentos, da angulação e posição da câmera, do movimento de câmera e ainda um breve resumo do que está acontecendo. Há também um cabeçalho, com a identifi cação do plano em relação à cena e sequência em que ela está inserida, bem como se a cena ocorre no interior ou exterior, se de dia ou à noite. Um plano também

UNIDADE 3. A linguagem cinematográfi ca.

Roteiro é a história escrita de uma produção audiovisual.

Decupagem é a descrição de como uma cena apresentada no roteiro será fi lmada, observando o enquadramento, tipo de plano, posição e movimento da câmera.

Traduzido está entre aspas, pois, mesmo quando o roteirista é o diretor, e ao escrever o roteiro muitas vezes já o pensa em imagens, há que se imaginar de que forma as ideias escritas seriam traduzidas para imagens. Também há fi lmes que são elaborados a partir de romances, contos, poemas que precisam ser interpretados e “traduzidos” para a linguagem cinematográfi ca.

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Para ‘revelar’ o mundo é preciso sentir-se implicado no que se enquadra através do visor...

Henri Cartier-Bresson

pode ser decupado várias vezes, para que o diretor experimente as possibilidades daquela cena. Essas informações deverão ser registradas num boletim de gravação, enquanto se está fi lmando.

A câmera de fi lmar tem um papel fundamental, o olhar do diretor sobre o que deseja mostrar é capturado pela máquina. Esta pode estar posicionada, em relação ao objeto a ser fi lmado, em angulações diferentes e em alturas diferentes. Considera-se a posição normal, quando a câmera está na altura dos olhos de uma pessoa em pé.

A posição e angulação da câmera podem ser:Normal – horizontal.Baixa - horizontal.Alta - horizontal.Plongê: Oblíqua de cima para baixo.Plongê absoluto (à prumo): Vertical de cima para baixo.Contra- plongê: Oblíqua de baixo para cima.Contra- plongê absoluto: vertical de baixo para cima.Os planos ou enquadramentos são elaborados pela

distância entre a câmera e o objeto. A escolha de um plano está ligada às necessidades da narrativa e às intenções do Diretor. A classifi cação dos planos está relacionada ao tamanho da fi gura humana dentro do quadro e podem variar. Esta classifi cação não é absoluta, pois permite variações conforme o que se quer mostrar.

Grande Plano Geral: (GPG) Este é bem abrangente, pode mostrar desde o cenário, o lugar onde a narrativa desenvolve-se, como pode mostrar a personagem em relação a um acontecimento.

Figura 2 - Arquivo pessoal.

Plongée: (do francês) Mergulhado.

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Plano Geral (PG): Este mostra a fi gura humana inteira. Há também a sigla PFI.

Plano Conjunto (PC): Este plano abrange um conjunto de pessoas.

Figura 3 - Arquivo pessoal.

Figura 4 - Arquivo pessoal.

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Plano Médio (PM): O corte se dá entre a cabeça e a cintura.

Plano Americano (PA): O corte inferior se dá logo à acima do joelho.

Figura 5 - Arquivo pessoal.

Figura 6 - Arquivo pessoal.

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Primeiro Plano (PP): Compreende o espaço entre a cabeça e próximo ao ombro. Há uma variação neste plano, compreendendo da cabeça ao queixo, ou ao peito.

Primeiríssimo Plano (PPP), Plano Detalhe (também conhecido por close-up) (PD): O espaço é restrito, da testa ao queixo, podendo compreender partes do rosto como somente os olhos, a boca, ou ainda partes do corpo como a mão, uma arma na cintura, ou as chaves no sofá.

Figura 7 - Arquivo pessoal.

Figura 8 - Arquivo pessoal.

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A escolha dos planos tem uma intenção e não há uma regra fi xa para utilizá-lo. Ainda é preciso observar que também podemos ter objetos, pessoas ou ações que ocorrem fora do plano e que são sugeridas ou evidenciadas pelo som, ou pelo olhar de algum personagem. Por exemplo, um personagem está dentro de casa, e ouve-se uma freada brusca, que revela um acidente. Não vemos o acidente, somente quando a personagem olha pela janela e que se revela o acontecimento. Isto é chamado de extracampo, ou seja, acontece fora do quadro, do campo do visor da câmera. Há outras situações de extracampo, como o olhar expressivo do personagem para algo que não vemos e nos será revelado posteriormente. Este recurso é muito comum em fi lmes de suspense.

Nos Primeiros planos há uma força dramática, pois podem evidenciar aspectos psicológicos importantes para que conheçamos o personagem, também um detalhe que gerará suspense como uma arma na cintura, o calçado de um personagem que ainda não podemos ver etc. Nos Planos gerais esta força dramática também pode existir, por exemplo, ao mostrar um personagem observando outro mais distante, gerando suspeita sobre suas intenções. O Plano e contraplano são muito utilizados nos diálogos e tanto se pode focar na pessoa que fala, como na pessoa que escuta, para observarmos a reação e as expressões das personagens.

A duração do plano está ligada ao enquadramento, pois

Figura 9 - Arquivo pessoal.

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quanto mais objetos na cena, mais tempo o expectador terá para observar e entender o quadro. No entanto, vale lembrar que isso não é uma regra. A câmera pode ainda estar fi xa ou movimentar-se. Devido ao grande desenvolvimento tecnológico, as máquinas fi caram mais leves e novos acessórios foram criados para auxiliar o operador de câmera. Há os seguintes movimentos:

Panorâmica: (PAN): a câmera gira sobre o seu eixo transversal: (horizontal) da esquerda para direita; da direita para esquerda; (vertical) (conhecido por TILT) de cima para baixo, de baixo para cima.

Travelling: O travelling exige um carrinho que deslizará sobre um trilho. Seu efeito é de aproximação, semelhante a um zoom (para frente), ou de distanciamento (para trás). Também é utilizado nos movimentos laterais, acompanhando, por exemplo, um personagem caminhando.

Observe um exemplo de decupagem elaborado para um curta de seis segundos: Distraídas.

1 - EXTERIOR. DIA – MUSEU

Duas amigas vão passear no museu. Estão

chegando. Ao fundo um rapaz suspeito acompanha

as meninas, observando-as.

GPG. NORMAL. CÂMERA FIXA. A CENA MOSTRA A

CHEGADA DAS MENINAS AO MUSEU.

Enquanto uma das amigas vai ao banheiro, a

outra observa um rapaz suspeito.

PG. CÂMERA CAPTA O AMBIENTE E A PERSONAGEM.

(Com olhar desconfi ado a personagem 1 pensa

-Com voz em off .:)

... que estranho, já vi este menino antes...

ATIVIDADE:A partir dos conceitos explicados, elabore um pequeno

roteiro técnico de uma situação simples de sala de aula (2 cenas), observando o que mostrar na cena e quais enquadramentos utilizaria. Justifi que sua escolha.

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O CORTE E A MONTAGEM DE UM FILME.Observamos que as cenas são gravadas separadamente.

Há um corte, que constituirá num plano que posteriormente, na montagem, será colado a outro plano e assim por diante. Há fi lmes de 500 a 700 planos, mas esse número varia muito. O modo de junção desses planos determina o tipo da montagem. Vamos observar que uma das relações da junção dos planos é a de espaço-tempo, um princípio que dá ao fi lme fl uência e ritmo. Vamos lembrar-nos do início do fi lme Os Incompreendidos, onde vemos uma sucessão de cenas: enquanto Doinel está de castigo na sala de aula, os meninos estão no recreio envolvendo-se numa briga. As duas cenas acontecem no mesmo instante, no entanto em lugares diferentes. Na cena dentro da sala, vemos e ouvimos Doinel, que escreve na parede, sua fala acompanha as duas cenas. Como se mostra isso? Através do corte. São cenas fi lmadas separadamente e na montagem são apresentadas em sequência de modo a produzir uma continuidade. Isso é o que se chama raccord. Neste caso ainda temos o efeito sonoro, ou seja, da fala da personagem que tem um efeito importante ligando as cenas.

Nesta mesma cena, observamos os outros alunos saindo para o recreio. O plano mostra Doinel chateado na sala de aula. Logo depois os meninos no pátio com o professor. Não há uma cena mostrando os alunos saindo da sala de aula e caminhando para o pátio. Há nesse caso uma elipse, ou seja, não há uma descrição visual do que acontece, mas compreendemos que os meninos saíram da sala de aula e foram para o pátio.

Também observamos esse efeito na cena em que Doinel sai para a escola: ele pega seu material, o lanche e abre a porta. Depois o vemos saindo do edifício onde mora, correndo, na rua.

Há também o efeito de montagem que se dá no plano e contra plano. Observamos isso em vários momentos, por exemplo, quando a mãe e o padrasto conversam à mesa. Ora a câmera mostra a mãe falando, ora o padrasto.

Outro efeito de raccord é por analogia, ou seja, por uma

Raccord: do francês, ajustamento de duas partes de um trabalho.

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relação de comparação. Há também outras relações de raccord, relacionadas ao

tempo. Podemos ter um fl ashback, quando um personagem lembra-se de algo do passado, fazendo uma ruptura na cronologia da narrativa. Não veremos todos os efeitos, mas é importante observar que em todo corte há uma intenção.

Nesta unidade faremos uma visita à sede da CineTv, Faculdade de Artes do Paraná, para conhecermos os equipamentos e o estúdio de gravações.

ATIVIDADE:Observe em outros fi lmes esses efeitos. Separe duas

cenas e faça um exercício de decupagem.

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A facilidade de acesso às inovações tecnológicas tem mudado a cultura do produto audiovisual. Antes, produzir um fi lme exigia ter um equipamento que custava muito caro. As fi lmadoras e as máquinas fotográfi cas eram analógicas, exigiam fi lmes (película), que por sua vez, exigiam a revelação. Além disso, ainda precisava de um suporte para a visualização, como os projetores, ou a televisão. As produções cinematográfi cas eram vistas exclusivamente nas salas de cinemas.

Com o desenvolvimento da tecnologia digital, a câmera armazena a imagem que é decodifi cada por impulsos elétricos, que são facilmente transmitidos a um computador. Além dessa facilidade, a indústria tem desenvolvido diversos tipos de equipamentos que cada vez mais apresentam múltiplas funções. O aparelho celular é o que mais tem sido desenvolvido nesse sentido, trazendo múltiplas funções, de máquina fotográfi ca, fi lmadora, computador, rádio, Mp3 etc.

O celular é um dispositivo móvel mais consumido no mundo. Com todos esses recursos, permitem ao seu usuário, em qualquer lugar, registrar diversos acontecimentos. Como muitos além de registrar, também enviam, via internet, seu conteúdo, o que se vê hoje são inúmeros registros de atividades cotidianas. Observa-se todos os tipos de vídeos na internet.

Você já fez um vídeo com um celular?Que conteúdo tinha seu vídeo?Você o disponibilizou sua visualização na internet?Você costuma assistir vídeos na internet?Tudo que fazemos tem uma intenção, da mesma forma

os vídeos também as tem. Há vídeos que mostram situações cotidianas, como festas, acidentes, brigas nas escolas, ou até denúncias de agressões e abusos por parte de policiais, cuidadores entre outros, assédio moral e sexual. Há os que mostram piadas, pegadinhas, gafes etc.. Há também o “Vlog”, que são pessoas que criam vários vídeos com sugestões e dicas de maquiagem, receitas culinárias, consertar o carro, como também queixas e piadas.

4ª UNIDADE – VÍDEO E INTERNET – TUDO PODE ACONTECER.

Analógico: há uma relação com o meio físico, com a fi ta na qual as ondas magnéticas são impressas.

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ENUNCIADO 1 - Vamos assistir os três vídeos indicados abaixo. Primeiramente vamos analisá-los individualmente. Na segunda etapa, procurando estabelecer elementos de comparação entre eles, observe as técnicas de fi lmagem utilizadas (já estudas, como enquadramentos, movimentos de câmera), as intenções de direção, a temática, público destinado e intenção do autor. Ao fi nal, produza um texto abordando estas questões, levando em consideração a análise individual dos vídeos assistidos, relacionando-os entre si.

ATIVIDADE:

1) Meu primeiro celular. http://www.youtube.com/watch?v=seQx9THGKDA

a) Qual o papel do celular na vida de um adolescente nos dias de hoje?

c) Você se identifi cou com as questões abordadas no vídeo? Qual/quais?

d) Quais intenções são percebidas no tom de fala da menina?

e) Analise o plano de fi lmagem: Tem mais de um plano, tem corte? Qual a posição da câmera? Como é o enquadramento?

f) Observe o cenário, o que ele revela?

2) Como fi car com uma garota.http://www.youtube.com/watch?v=3kb882exFsE a) Esse tema faz parte da sua vida? De que maneira?b) Qual é a ambientação inicial da história? O que ela

revela?c) O “amigo” faz uma brincadeira que remete a uma lenda

alemã? Você a conhece? O que ela narra? d) Marciano pede a um “amigo” uma dica sobre como fi car

com as meninas. O que, na fala do amigo, lhe dá credibilidade?e) Qual sua opinião sobre as dicas que o “amigo” dá? Você

concorda com elas? O que elas revelam da relação amorosa entre os adolescentes?

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f) Observe os cortes e os enquadramentos, a posição da câmera. O que elas revelam quanto à construção da narrativa?

g) O que você observou quanto à atuação dos atores?

3) O próximo vídeo foi fi lmado na sala de aula. O título é: Briga na escola - cenas fortes.

a) Esse título sugere que tipo de fi lme?http://www.youtube.com/watch?v=EuJCVq9oNyQ b) As situações são mostradas relacionam-se ao título? Por

quê?c) Quais parecem ser as intenções do autor?d) Como as pessoas fi lmadas reagem à situação? e) Qual sua opinião sobre esse tipo de situação?f) Observe os enquadramentos e o movimento da câmera.

O que elas revelam em relação ao tipo de vídeo?

ENUNCIADO 2 - Você sabe o que é uma videoarte? Após assistir os cinco vídeos que se seguem, relacione alguns deles de forma a tentar responder a questão.

O vídeo a seguir tem o nome de Vídeo Arte. a) Você sabe o que é um videoarte?http://www.youtube.com/watch?v=ik2IaxgAk3g&hd=1a) Qual intenção é possível depreender das imagens?b) A música I hate a camera ouvida no vídeo é grupo

musical The Bird and the Bee. Hate, em inglês, signifi ca odiar. O refrão diz “Don’t want you to take my picture”, que quer dizer: “Não quero que você tire uma foto mina”. Qual relação é possível estabelecer entre a letra da música, o vídeo e a forma como as pessoas utilizam as máquinas fotográfi cas e as redes sociais?

c) Que elementos contidos no vídeo remetem a ideia de arte?

ENUNCIADO 3 - Os três vídeos que se seguem foram produzidos por Agnès Varda, (1938) fotógrafa e cineasta Belga, estudou História da Arte na Ecole Du Louvre. Seus fi lmes, fotografi as e instalações são focados no realismo documental,

Conceito: (do latim conseptus, do verbo concipere, que signifi ca “conter completa-mente”, “formar dentro de si”).A arte é atividade humana e é produzida a partir de emoções, percepções, ideias e técnicas.

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no feminismo e na crítica social, com um estilo experimental singular.

Agnès recebeu o Leão de Ouro no Festival de Veneza, em 1985, por “Vagabond/Whithout Roof or Rule” e, em 2009, seu fi lme “As praias de Agnes” ganhou o Cesar Award por melhor documentário. Realizou também uma série de videoarte a partir de fotografi as suas e de outros autores. Sobre as fotos, tece comentários refl exivos.

a) Após assistir aos três vídeos relate quais impressões eles lhe causaram.

Agnès Varda sobre uma fotografi a de Marc Garanger: Mulher Argelina, 1960

http://www.youtube.com/watch?v=gbI8RYutoooAgnès Varda comentou sobre a fotografi a de Juan

Fontcuberta (1972)http://www.youtube.com/watch?v=QUQpYs9l4L8&hd=1Agnès Varda sobre uma fotografi a de André Martin (1968):http://www.youtube.com/watch?v=DnYqkYXpSA0

b) Que características da obra de Agnès Varda você observou nos vídeos?

c) Os três vídeos foram realizados a partir de fotos tiradas por outros fotógrafos. Agnès Varda realizou sobre elas uma intervenção ressignifi cando-os, construído um novo discurso. Chamamos de interdiscurso quando há um discurso que se apropria de outro de forma explícita ou implícita. De que forma há uma apropriação do discurso do outro?

d) Ao criar seu próprio discurso a partir do discurso do outro, a autora imprime suas visões. Em sua opinião, que intenções são possíveis de depreender-se desses vídeos?

Observe os processos de criação de Agnès Varda. Escolha uma fotografi a (pode ser de jornal, revistas ou uma foto de família) e construa um texto expondo suas impressões.

O vídeo Espaço tempo foi produzido a partir de um poema.

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http://www.youtube.com/watch?v=Suu_BJh60nI

a) Quais sensações você teve ao assisti-lo?b) A água é um elemento simbólico encontrado em rituais,

culturas diferentes. O que signifi ca a água nesse contexto?

ENUNCIADO 4 - O último vídeo é sobre o Youtube. Os números apresentados impressionam. Após assisti-lo refl ita: Qual o impacto da internet na vida das pessoas?

http://www.youtube.com/watch?v=MeznBcWWMU8&hd=1

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A partir das experiências e dos conhecimentos adquiridos, agora chegou a sua vez de produzir o seu fi lme.

Nós utilizaremos os equipamentos que dispomos: Celular e máquina fotográfi ca.

PROPOSTA: Você produzirá um vídeo entre 2 e 5 minutos. Seu vídeo pode contar uma história (uma narrativa) ou ser um vídeo experimental, ou ainda um videoarte. Para qualquer proposta você deverá elaborar um storyline, um argumento, um roteiro e uma decupagem adequados a ela. Apresente um conceito ou gênero para seu fi lme.

ORIENTAÇÕES:Toda produção exige uma ideia e um planejamento. Para

esta etapa é importante seguir alguns passos. Aqui, apresentarei os passos básicos de uma produção

cinematográfi ca. Como nosso trabalho será mais simples, seguiremos algumas destas orientações.

a) Elabore, a partir da sua ideia, uma storyline, ou seja, uma ideia simples do roteiro.

b) Refl ita sobre sua ideia e desenvolva-a em um argumento, uma justifi cativa para sua história.

c) Em seguida, vamos elaborar o roteiro. Há uma forma, estrutura para elaborá-lo, para isso, utilizaremos um programa: o celtx.

No roteiro você desenvolverá sua história, a partir das cenas, propondo uma sequência a ser seguida. Por que propondo: muitas vezes o roteirista não é o diretor, as escolhas do diretor não estão totalmente presas ao roteiro.

O roteiro deve ser pensando a partir da ideia de que o cinema é imagem em movimento, numa relação de espaço-tempo. Desta forma, a escrita deve ser pensada dentro da imagem.

d) Produção: O produtor, num fi lme, tem uma função essencial, pois é ele quem providenciará tudo que é necessário para a execução do projeto, desde a escolha das locações, dos profi ssionais que atuaram na composição do fi lme como técnicos

5ª UNIDADE – CRIANDO SEU VÍDEO

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de som, iluminação; serviços gerais (limpeza, alimentação, motorista, veículos, equipamentos em geral etc.).

Equipe técnica de um fi lme:Um fi lme é organizado a partir de departamentos, cujos

responsáveis são os Diretores: de Produção, de Arte, de Som, de Fotografi a, de Atores. O Diretor é aquele que em geral escolhe os profi ssionais das outras áreas para trabalhar com ele. Com ele trabalha o assistente de direção. Este é um profi ssional muito importante, pois juntamente com o diretor, fará a decupagem do fi lme. Muitas vezes ele também assume a função de continuista e quem bate a claquete.

É importante para que tudo ocorra bem, que se fi lme tenha um bom produtor e uma boa pré-produção.

Com o seu roteiro em mãos, vamos fazer um cronograma de fi lmagens.

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Após concluirmos nosso trabalho, vamos mostrá-lo?A recepção de um obra ou produto cultura, artístico

compreende aspectos subjetivos, ou seja, o gosto é particular de cada um e são muitos os fatores que envolvem a atribuição do julgamento.

A identifi cação com o universo cultural do indivíduo, o que se chama de “horizontes de expectativas”, compreende fatores como o contexto histórico no qual ele está inserido. Quando o “leitor” assume um papel de coprodutor, pois a obra se completa quando esta lhe faz sentido.

No entanto, ao analisarmos a obra, poderão surgir elementos desconhecidos. Esse estranhamento nos levará a compreender a realidade em que ela está inserida, suas intenções, levando-nos a construir novos conceitos para julgar a obra.

Para construirmos, então, uma avaliação desse processo, cada um responderá um questionário quantitativo e uma análise qualitativa através de um debate, procurando não só avaliar o gosto, mas o processo de criação. O questionário será dividido em partes:

Questionário:1º) Perfi l do entrevistadoa) Nome:b) Idade:c) Série:d) Cargo que exerce no colégio:e) Assistiu quantos fi lmes no último mês:

2ª) Avaliação do fi lme:a) Excelente:b) Muito bom:c) Bom:d) Regular:e) Ruim:

3ª) Recomendação:a) Recomendaria:

6ª UNIDADE – A RECEPÇÃO

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b) Não recomendaria:

4ª) Qual aspecto julgou mais signifi cativo:a) A história:b) A atuação dos atores:c) A fotografi a:d) O som:e) A montagem:

5ª) O que não estava bom:a) A história:b) A atuação dos atores:c) A fotografi a:d) O som:e) A montagem:

5ª) Em poucas palavras, apresente sua opinião sobre o fi lme e em que ele lhe impressionou.

Para o debate, leve em consideração suas respostas. Apresente suas opiniões de forma ética, respeitando o trabalho do seu colega/do estudante.

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REFERÊNCIA:

BERGALA, A. (2008). A Hipótese cinema – Pequeno tratado de transmissão do cinema dentro e fora da Escola. Rio de Janeiro: Booklink; CINEAD-LISE-FE/UFRJ.FIELD, Syd. Manual do roteiro: fundamentos do texto cinematográfi co. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.ISER, Wolfgang. O ato da Leitura: uma teoria do efeito estético. vol.2. São Paulo: Editora 34. 1999.MARTIN, Marcel. A linguagem cinematográfi ca.São Paulo: Brasiliense, 2007.TRUFFAUT, F. O Prazer dos Olhos: escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005. CARLOS, Cássio Starling. François Truffaut: Os incompreendidos/[textos] Cássio Starling Carlos e Pedro Maciel Guimarães. - São Pailo, 2011 - (Coleção Cinema europeu; 15)

Imagens:1.Wikmedia commos: http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Fran%C3%A7ois_truffaut.jpghttp://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/f/fb/Fran%C3%A7ois_truffaut.jpg/395px-Fran%C3%A7ois_truffaut.jpg acesso em 15 set. 2013.2 a 9 - Arquivo pessoal; Fotos tiradas por Silvia Gabriela Alves de Albuquerque Queluz.

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Orientações aos professores e possíveis respostas.

Caro colega.Esta proposta didática tem dois caminhos: o da refl exão

e o da ação. Muitas das questões levantadas têm respostas subjetivas, que devem ser trabalhadas em forma de debate, através do diálogo das impressões dos estudantes diante do fi lme e do vídeo apresentados. A ação principal é a criação do vídeo, em que se espera que o aluno, apropriando-se do conhecimento técnico e das refl exões e impressões obtidas durante o processo de aprendizagem do material, conceitue e se manifeste na sua produção.

Na primeira unidade apresento algumas defi nições sobre o que é o cinema. É importante observarmos tanto o aspecto tecnológico, como também o veículo expressivo e artístico, que engloba múltiplas linguagens, híbrido ao incorporar manifestações culturais diferentes, que envolve uma produção cinematográfi ca.

O primeiro vídeo apresentado oferece um panorama sobre a origem do cinema, predominantemente nos Estados Unidos da América. Faz referência ao cinema mudo de Charles Chaplin, do cinema de animação de Walt Disney, da grande tecnologia dos fi lmes chamados de fi cção científi ca e de grande destaque pelos efeitos especiais. Este vídeo foi escolhido por falar de um cinema próximo à realidade do estudante.

O Segundo vídeo é muito signifi cativo ao mostrar uma das primeiras experiências cinematográfi cas dos Irmãos Lumière. Eles eram fotógrafos e empresários que fabricavam os equipamentos fotográfi cos e foram os que inauguraram o cinema como espetáculo. Embora não achassem que sua invenção fosse emplacar como entretenimento.

O terceiro vídeo, Viagem a Lua de Georges Méliès – contemporâneo dos irmãos Lumiére – apresenta já uma inovação nos cortes e na montagem, na animação e principalmente os efeitos especiais. Méliès era ilusionista, mágico e construiu o primeiro estúdio cinematográfi co da Europa.

O quarto vídeo, Je vous salue Sarajevo, (1993) do cineasta francês Jean-Luc Godard é o mote deste trabalho, ao questionar

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a o papel da cultura como aquela que mantém a tradição de comportamentos negativos, destrutivos, discriminatórios como a violência. A arte vem como uma forma de ruptura dessa forma de comportamento, como uma nova forma de olhar para a realidade.

Respostas:1ª Unidade: O que é um fi lme? O primeiro vídeo apresenta uma narração em “off”. Com

imagens de arquivo de fi lmes aos quais a narração faz referência. É um curta-metragem. Foi realizado com o intuito de informar o expectador sobre uma parte da história do cinema. O tema está relacionado ao cinema de entretenimento norte-americano.

O segundo vídeo é um curta-metragem, experimental, que reproduz uma cena do cotidiano da época em que foi feito. A intenção era a de registrar um acontecimento e de experimentar a câmera. É em preto e branco. Não há narração, nem diálogo. A música acompanha as imagens. Lembrar que a música era tocada ao vivo durante a apresentação. A câmera é fi xa. E o fi lme é realizado num único plano e não há atores.

O terceiro vídeo de Georges Méliès, também um curta-metragem, é colorido (na película) posteriormente. O fi lme foi feito em preto e branco. Apresenta uma narração, com cortes e vários planos que foram unidos posteriormente. Há um roteiro, pois vemos uma história com começo, meio e fi m. Há atores contracenando. Com a intenção de entreter, o vídeo apresenta cenas com humor, com efeitos especiais sobre um assunto que para época era um mistério: a viagem à lua, como era a vida na lua.

O quarto vídeo e um excerto do Longa metragem O Auto da Compadecida. É um fi lme colorido com a intenção de entretenimento. O trecho apresenta vários cortes. Há uma montagem. Há atores contracenando.

O quinto vídeo tem vários aspectos que se diferenciam dos demais. Ele foi produzido a partir de uma imagem parada, de uma fotografi a de Luc Delahaye tirada em 20 de Junho de

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1992 em Saravejo. Jean-Luc Godard utiliza-se de um recurso de edição de vídeos e foca a imagem em planos menores que vão ampliando-se à medida que a narração se desenvolve. Não há atores. A intenção é de crítica à cultura da guerra. As respostas são subjetivas. Instiga os alunos a manifestarem-se a partir da realidade deles. Pesquise mais sobre o vídeo na Revista Fevereiro, reportagem de Alexandre Carrasco. http://www.revistafevereiro.com/pag.php?r=03&t=08

2ª Unidade: Aprendendo a ler/ver um fi lme.Os incompreendidos: “Les Quatre Cents Coups”. Atores:

Jean-Pierre Léaud, Claire Maurier, Albert Rémy, Gy Decomble, Patrick Auffay, Jean Moreau. Música: Jean Constantin. Direção de Arte: Bernad Evein. Edição: Marie-Josèphe Yoyotte. Fotografi a: Henti Decaë. Roteiro: François Truffaut, Marcel Moussy. Assistente de Direção: Philippe de Broca. Produção e Direção: François Truffaut. Duração: 100 minutos. Estreou no Brasil em 1962. Recebeu o Prêmio de Melhor Direção no Festival de Cannes. Foi indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Original.

É um drama autobiográfi co, cujo personagem principal, Doinel, (Jean-Pierre Léaud) com aproximadamente 12 anos, vive uma relação difícil com a mãe, com o padrasto e com a escola. Doinel faz malandragens como muitos meninos de sua idade e, diante das adversidades, vale-se da mentira para conseguir viver. Envolve-se com um amigo de escola, René (Patrick Auffay), cuja família não está presente, a mãe alcoólatra, embora acompanhe o fi lho nas refeições, também não se preocupa muito. Ambos gazeiam as aulas se divertirem nas ruas de Paris. Por não ser compreendido e acolhido pela mãe, pratica pequenos furtos e é preso. Vai para um reformatório, mas acaba fugindo.

É importante destacar o título ao fi lme e relacioná-los a situações atuais, em que tanto a família quanto a escola não conseguem atingir o adolescente.

3ª Unidade: Nesta unidade, espera-se que o estudante compreenda a

linguagem cinematográfi ca dos enquadramentos dos planos e da sua importância no planejamento do que será fi lmado através

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da decupagem. Os planos apresentam regras de uso. É importante destacar

que há sempre uma intenção na escolha de um enquadramento. Também é importante observar que uma mudança brusca de um plano Geral para um plano detalhe (close-up) criará um choque. Não há um impedimento no uso dessas rupturas, mas a passagem de um plano geral, por exemplo, para um plano médio não será sentida pelo expectador.

Na primeira atividade pode-se sugerir que o aluno retrate a chegada de uma pessoa convidada, apresentando a expectativa da chega com planos detalhes (close-up) no relógio, a hora passando, para plano médio da porta fechada, novamente para um plano detalhe do celular com a hora, um plano médio do trinco mexendo ou do som de alguém batendo na porta, para um terceiro plano da pessoa entrando. Ou uma situação de alguém colando com um livro aberto embaixo da carteira, o professor caminhando pela sala.

Para a próxima atividade, de decupar uma sequência de um fi lme é importante que os alunos ou utilizem os vídeos disponíveis no Youtube ou aluguem.

4ª Unidade:Nesta unidade, em que os alunos assistirão vários vídeos,

é importante dar espaço para que os alunos expressem e discutam sobre suas impressões.

No vídeo Como fi car com uma garota, a lenda alemã é Fausto, escrita por vários escritores, a versão mais conhecida é a de Goeth de 1806. A lenda conta que Dr. Fauto vende a alma ao diabo, Mefi stófeles, por poder.

O vídeo é realizado pelo menino, cujo pseudônimo é Marciano. Ele faz todos os personagens e utiliza recursos sofi sticados de edição para contracenar com ele mesmo. A câmara é sempre fi xa.

O vídeo Briga na escola - cenas fortes realizado na escola mostra um comportamento típico por parte de alguns adolescentes: o registro de situações do cotidiano. O título não condiz com as cenas, no entanto é possível associar as cenas

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fortes por seu aspecto invasivo. O fi lme é realizado num plano de sequência, sem cortes.

O vídeo arte desenvolvido numa ofi cina de Artes pelo professor Anderson Leitão. Há cortes e é fi lmado com a câmera na mão, percebem-se movimentos pouco precisos, mas bem enquadrados. Há uma sincronia com a música, cuja letra refl ete o uso das imagens, da fotografi a com os dispositivos móveis como o celular.

Os três vídeos de Agnès Varda utilizam a fotografi a como base. Há movimentos de Câmera com narração em off. Os vídeos são interessantes, pois há um processo que vai além de uma descrição. A autora produz uma paráfrase e também a polissemia, ressignifi cando e refl etindo sobre as imagens e sua relação com o contexto em que foram criadas. Professor, aqui se pode apresentar os conceitos de paráfrase e polissemia. Espera-se que os estudantes produzam um material semelhante, utilizando-se desses recursos.

O vídeo Espaço é muito interessante por apresentar uma releitura de uma frase de um conto através da interpretação do texto em imagens. Esse é um exercício muito interessante do ponto de vista da construção simbólica do discurso visual cinematográfi co. Transpor palavras para imagens através de metáforas, metonímias, elipses etc. é parte do fazer artístico da obra.

A frase de Jorge Luis Borges diz: “Se o espaço é infi nito, estamos em qualquer ponto do espaço”. O autor do vídeo utiliza-a de forma livre do texto. A água pode simbolizar a passagem do tempo, a ideia de infi nito. As lâmpadas refl etidas na água remetem aos pontos que “ocupamos” no espaço. Os pés na água pode sugerir o caminho por onde se passa. Outra interpretação possível é a relação transitória do homem pela vida.

O último vídeo desta unidade apresenta o resultado de uma pesquisa sobre a dimensão do Youtube na sociedade. Refl etir com os alunos sobre a os números apresentados e o que eles revelam.

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5ª Unidade: É importante que o aluno prepare-se para fazer deu fi lme

seguido cada passo das orientações. O planejamento, como na criação de um texto, é fundamental. Mesmo que o aluno não crie uma narrativa, o roteiro é muito importante para mapear as ações. O roteiro não é algo imutável, é um guia. No entanto pode ser modifi cado. Caso isso ocorra, é interessante questionar o porquê da mudança.

6ª Unidade:Mostrar o resultado é um dos momentos mais importantes

do processo. É importante valorizar o trabalho do estudante. Da mesma forma é importante que os colegas valorizem e respeitem a obra produzida, que se posicionem nos debates de maneira ética e construtiva.

Avaliar o trabalho dos alunos, observando o contexto em que foi produzido, procurar estabelecer uma relação da obra com seu autor, sua história, as intenções, os aspectos estéticos compreendendo as escolhas dos planos, a cor, o som, as estruturas que o compõe. É importante lembrar que um fi lme é uma sugestão, as imagens são construídas na mente do expectador.

Ao mostrar para a comunidade escolar, explicar o projeto e seus objetivos: de fazer a arte ocorrer na escola; despertar o interesse pela leitura crítica através de fi lmes, curta metragens e videoartes; desenvolver o olhar crítico na perspectiva da linguagem do audiovisual; introduzir e ensinar conhecimentos básicos da linguagem audiovisual; produzir vídeos: vídeo arte, curta metragens fi ccionais e/ou documentários.

A fi cha de avaliação do fi lme, o questionário, deverá ser entregue para cada apresentação. O professor deverá ler e

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A experiência estética não se inicia pela compreensão e interpretação do signifi cado de uma obra; menos ainda, pela reconstrução da intenção de seu autor. A experiência primária de uma obra de arte realiza-se na sintonia com [...] seu efeito estético, i.e., na compreensão fruidora e na fruição compreensiva. (JAUSS, 1979, p. 46).

tabular os dados, divulgando posteriormente aos alunos o resultado.

REFERÊNCIAS:JAUSS, H. R. A estética da recepção: colocações gerais. In: COSTA LIMA, L. (org.). A literatura e o leitor, textos da estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

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