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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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A POESIA KOLODYANA E INTERFACES SONHO E REALIDADE

Rodrigo Recalcatti (Professor PDE/2013)

Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira

(Professora Orientadora/Unicentro – PR.) RESUMO Este artigo é o resultado de uma pesquisa teórica desenvolvida no projeto de intervenção e implementada por meio de um caderno pedagógico, composto de quatro unidades, encaminhada seguindo-se os pressupostos metodológicos da pesquisa qualitativa, em sua modalidade de pesquisa-ação. O artigo apresenta o resultado do projeto PDE, 2013, foi feita no Colégio Estadual Olavo Bilac – EFM, na cidade de Cantagalo - PR. O público alvo da pesquisa foi uma turma de 7º ano, do Ensino Fundamental. Neste contexto, objetivou-se estimular a formação de leitores competentes, por meio das estratégias de letramento literário, a partir da obra Letramento Literário: teoria e prática (COSSON, 2011), de forma que a leitura possibilitasse a efetiva interação entre o leitor e os textos literários lidos (poesias de Helena Kolody) e, a partir dessa experiência, fornecesse subsídios ao educando para a construção de significados, a participação em práticas sociais, a formação de novos sentidos ou reafirmação de outros. Essa interação com o texto permite ao aluno a identificação dos elementos implícitos, estabelecendo relações entre o texto e seus conhecimentos prévios ou entre textos já lidos. O propósito norteador em todas as atividades, do caderno pedagógico foi o de fazer da leitura literária uma prática significativa para os educandos, assim, foi indispensável a melhoria das suas habilidades nas leituras que fizeram, possibilitando, dessa forma a compreensão efetiva, novas formatações ao que leram, conduzindo-os à novas maneiras de ver e viver o mundo, produzindo liberdade consciente de atos e, nas palavras de Antonio Candido, humanizando-se. Palavras chave: Leitura. Poesia. Letramento literário. Helena Kolody 1. INTRODUÇÃO

A pesquisa foi desenvolvida no Colégio Estadual Olavo Bilac – EFM, no

primeiro semestre de 2014, numa turma de 7º ano do Ensino Fundamental, com 29

alunos, numa faixa etária entre 11 e 14 anos.

A pesquisa ateve-se ao letramento literário e à formação do leitor, por meio

de estratégias de leitura, aplicadas em poemas da paranaense Helena Kolody e

que permitiu interpretar o processo de letramento escolar vivido pelos educandos,

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sequencialmente proposto, aplicado e com o respaldo teórico do autor: Rildo Cosson

(COSSON, 2011)

O objetivo maior foi o de formar leitores competentes, pela aplicação de

estratégias de letramento literário e só foi possível a efetivação, graças a forma

significativa como a leitura foi trabalhada, possibilitando a efetiva interação entre

os alunos e os textos literários lidos, no caso, poemas.

Com o desenvolvimento da pesquisa, estimulou-se a reflexão crítica acerca

de diversos temas kolodyanos, como: a brevidade da vida, o amor, a passagem do

tempo, etc. Promoveu-se o contato dos alunos com os livros de Helena Kolody,

fisicamente falando, também com produções áudio visuais realizadas a partir de

poemas kolodyanos, bem como com textos jornalísticos sobre a autora e sua poesia

e, até mesmo, com textos autobiográficos. Isso tudo, com a intenção de que o aluno

compreendesse que a poesia de Helena trabalha o real e o imaginário de

sentimentos, sensações, observações, que fazem parte do dia-a-dia de cada um.

Sabemos que a leitura tem o papel social fundamental de transformar a

realidade pelo desenvolvimento do ser humano, proporcionado por ela. E a escola,

possui importante possibilidade de promover o hábito da leitura, desenvolvendo

estratégias que incentivem a prática do ato de ler. É preciso que se diga, que o

enfoque do projeto, sobre o qual se debruçou essa pesquisa, foi centrado na leitura

literária como ponte que conduz à pluralidade de significados, importantíssimos na

construção do homem e, por conseqüência, do meio em que vive.

Nesse sentido, fez-se necessário refletir sobre atividades que colaborassem e

estimulassem o processo de formação de um leitor hábil. Diante desse contexto,

surgiram indagações, entre elas: como trabalhar poesia em sala de aula, frente a

falta de interesse dos alunos por tal estigmatizada forma literária?

Dessa forma, a pesquisa-ação ateve-se na construção de significados que se

fazem necessários na formação de um leitor que consiga ler o mundo a partir de

suas vivências, passando a ter suas próprias reflexões, compreendendo o que leu.

Rildo Cosson afirma que a leitura literária efetiva depende de um processo

bem sucedido de letramento literário, que nas palavras do próprio Cosson é definido

como sendo “Um aprendizado crítico da leitura literária, que não se faz sem o

encontro pessoal com o texto, princípio de toda experiência.” (COSSON, 2011)

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No final do século XX, na Alemanha, o teórico Hans Robert Jauss divulgou

seus estudos sobre o papel do leitor no processo de leitura, disseminando a ideia da

valorização do mesmo. Nascia, assim, a estética da recepção, investigando como o

leitor relaciona o que lê ao seu arsenal de conhecimentos historicamente

construídos. Jauss declarou ser importante considerar o contexto social e as

condições históricas, pois tais influenciam o leitor em seu papel ativo de

interação com o texto, influenciando a interpretação e a construção de sentidos,

contribuindo para a relação dialógica: “[...] a função social somente se manifesta na

plenitude de suas possibilidades quando a experiência literária do leitor adentra o

horizonte de expectativas de sua vida prática” (JAUSS, 1994, p. 50)

Cada pessoa lê o mundo a partir de suas vivências, passa a ter suas próprias

reflexões, mas só pode ser considerado como leitor se compreender o que leu.

Podemos afirmar, então, que ler é antes de tudo compreender, por isso não basta a

decodificação, é necessário tomar postura diante do texto, transformá-lo e se

deixar transformar, em sua experiência humana e intelectual. Autores como Bordini

e Aguiar escreveram sobre propostas de abordagem do texto literário: “Quando o

ato de ler se configura, preferencialmente, como atendimento aos interesses do

leitor, desencadeia o processo de identificação do sujeito com os elementos da

realidade representada, motivando o prazer da leitura”. (BORDINI; AGUIAR, 1993,

apud NIERO, 2010).

Cosson (2011) ressalta a importância da motivação para a leitura, da

contextualização do texto literário a ser trabalhado em sala de aula, da leitura

propriamente dita, das interpretações, tanto contextualizando a obra em seus

aspectos mais gerais, como enfocando os aspectos específicos, verificando quais as

“verdades do mundo que o livro revela” ( COSSON, 2011, p.65) e, por fim, refletindo

sobre a importância da intertextualidade para a compreensão total da obra.

Ainda segundo Cosson ( 2011), a literatura precisa ter um objetivo concreto

para o aluno, para que assim haja realmente a formação de leitores que, ao

menos, experimentem a leitura literária prazerosa, como fonte de reflexão sobre seu

papel social, caminhando para a formação de leitores que em seus espaços sociais

formarão comunidades de leitores: críticos, reflexivos. Em outras palavras, Cosson

afirma que a leitura literária por fruição depende de um processo bem sucedido de

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letramento literário, que nas palavras do próprio Cosson se define como “um

aprendizado crítico da leitura literária, que não se faz sem o encontro pessoal com o

texto enquanto princípio de toda experiência” (COSSON, 2011, p. 120) .

Magda Soares (2003) trata como: “modelo ideológico de letramento” ao

referir-se às formas que as práticas de leitura assumem em determinados contextos

sociais, determinando as estruturas de poder sociais, “aumentando a

consciência dos sujeitos sobre as suas vidas e sua capacidade de lidar

racionalmente com decisões”, conscientizando-se da sua realidade e podendo até

transformá-la.

Roberto Willian Cereja (2005) relata haver vantagens e desvantagens em

quase todas as opções metodológicas de ensino de Literatura, cabendo ao professor

avaliar a melhor proposta. Problemáticas como o distanciamento histórico, a

linguagem pouco acessível e temáticas pouco interessantes para o público juvenil,

que não raras vezes se apresentam durante o trabalho de ensino da Literatura tem,

segundo Cereja (2005), como solução a criação de uma sequência didática

que adeque os gêneros literários à realidade da sala de aula. Contudo, durante a

aplicação das atividades propostas no caderno pedagógico estudadas nesta

pesquisa, tais problemáticas não foram emergentes, pelo fato de a poeta e sua obra

serem próximas a nós, tanto no tempo quanto no espaço, como também pelas

temáticas abordadas, intensamente atuais, na verdade, atemporais.

Sobre poesia, Alice Áurea Penteado Martha (2005), que abordou os níveis de

leitura da recepção do texto literário no ensino, remete-nos a importância de o leitor

conhecer a relação entre o autor, a poesia por ele produzida e o contexto dessa

produção, para que a leitura efetivamente se concretize. Esse procedimento

ficou evidente durante a aplicação das atividades do caderno pedagógico estudado

nesta pesquisa e seria indispensável que assim o fosse. Essa relação contexto de

produção (realidade) e poesia produzida (manifestação artística) também é

debatida por Maria Natália Ferreira Gomes Thimóteo (2005) quando fala em

“conhecimento emocional do real: “As coisas são sempre mais do que aquilo que

são, do que parecem ser.” Poesia é fruto da relação entre o homem e o mundo em

que vive, homem este, que poetiza o seu tempo e que nessas poesias retrata

imagens de seu tempo, imagens em constante mudança perante o olhar do leitor.

Ainda segundo a mesma autora, as relações “realidade/sonho,

verdade/imaginação” é indispensável que sejam feitas pelo leitor, a fim de

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compreender o poema como o eixo-revelador, tanto do mundo real como dos

sentimentos humanos. A autora ainda completa:

“ Se para o poeta o processo de criação artística é como o trabalho de Sísifo, no que ele tem de intenso e constante, não é diferente para o leitor. Aquele que procura tomar consciência de seus valores estéticos, descobri-los na sua realidade expressiva e na tentativa do poeta de desvendar conceitos, sentimentos, deverá fazer uma leitura sempre nova, exigida pelo texto, sempre a seu serviço, par ajudar a alcançar a ordem, o equilíbrio e o sentido do mundo real, através da palavra. A um tempo,o poema terá a finalidade de aguçar a sensibilidade, permitindo ao homem ver o mundo criticamente; e a outro, tem o poder de criar mundos.” (THIMÓTEO, 2005, p. 161)

Numa sociedade como a nossa, regida pelo imediatismo e pela velocidade,

a leitura literária, em particular, de poesia, praticamente inexiste, até mesmo por

ser vista, enganosamente, como uma leitura de não utilidade prática. Na escola isso

não é diferente e o pouco incentivo à leitura de poesias não produz os resultados

esperados nos educandos: hábito e gosto por esse tipo de leitura, tornando-se, a

escola, o espelho de uma sociedade discriminatória da leitura de poesias.

A prática de leitura poética passa necessariamente pelo empenho dos

educadores em desenvolver estratégias para o trabalho em sala de aula, que ao

envolver o aluno envolva seu círculo social: família, vizinhos, moradores de seu

bairro; criando o hábito de ler poesias pelo prazer, pelo gosto, mas também

entendendo que toda poesia é fruto da experiência social, interpretando a

sociedade, reproduzindo-a, questionando-a.

Certamente, havendo esse entendimento, o hábito de leitura poética será

mais intenso, seja na escola, em casa, nos diversos espaços comunitários,

gerando o intento social que se espera da produção literária e sua leitura: colaborar

para que o leitor atue como sujeito ativo socialmente.

Tal resultado pode ser comprovado pela pesquisa de Aguiar (2008) que ao

estudar sobre o processo de formação de leitores concluiu que somente com a

circulação da obra literária no ambiente social do educando, esta será valorizada e

produzirá, pela sua leitura, um sujeito agente socialmente e, a cada experiência de

leitura, mais capaz de escolhas próprias, com fruição social consciente e um com

habilidades para trocar experiências. “[...] a inclusão do livro literário em seu dia-a-

dia refletiu, enfim, a apropriação do capital cultural por parte do público em questão”

(AGUIAR, 2008). Não há como o indivíduo tornar-se um sujeito agente socialmente

sem essa aquisição cultural, proporcionada pela leitura literária, em específico pelo

retrato humano-social denominado poesia, que sensibiliza e instrui, que retrata o

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real, mas também emociona e ficciona a realidade, uma literatura ao mesmo tempo

emancipatória e prazerosa. A mesma autora colabora ainda mais em nossas

reflexões quando relata que “[...] temos que dar atenção ao desenvolvimento de uma

postura leitora, que significa valorizar o contato do sujeito com o livro literário [...]”

(AGUIAR, 2008) nos incitando a dizer que desta forma, sim, alcançaremos o objetivo

de colaborarmos na formação de sujeitos capazes de conquistar seu lugar

socialmente, com autonomia para atuar, para intervir na sua história e,

criticamente, na sociedade.

Nesse sentido, a presente pesquisa constatou que a implementação do

caderno pedagógico foi além da sala de aula, adentrando aos lares dos alunos,

proporcionando momentos de leitura em família, propiciando interação entre o aluno

e seus familiares, quando das atividades finais de cada unidade e mesmo durante as

mesmas. Com a interação aluno/texto/família, acredita-se que o educando terá mais

interesse pela leitura e que tal interesse possa ser despertado também em sua

família, protagonizando exemplos recíprocos de leitura literária habitual,

revitalizando valores e conhecimentos através da literatura, demonstrando a

dualidade dela: bela e útil, convertendo o mundo e a si próprio em metáforas que

direta ou indiretamente possibilitam indagar, decifrar e pensar o existir.

3. IMPLEMENTAÇÃO DAS AÇÕES

Este artigo é resultado de uma pesquisa teórico-metodológica, qualitativa e

prática, mais precisamente, uma pesquisa ação, que tem por objetivo colaborar na

árdua tarefa do letramento literário escolar, valendo-se da proposta de sequência

básica apresentada por Rildo Cosson ( COSSON, 2011) e aplicada em poemas de

Helena Kolody. A pesquisa-ação é uma modalidade de pesquisa muito utilizada na

área de educação, na atualidade e visa à mudança pela transformação da ação. De

maneira a complementar a definição de pesquisa-ação, cabe observar a citação:

A pesquisa-ação é um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de modo cooperativo ou participativo (THIOLLENT, 2005, p.16).

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Assim, resolve-se uma situação problema envolvendo a participação de

todos, e onde, portanto, as soluções são encontradas, ou os problemas são

amenizados democraticamente.

As atividades foram encaminhadas conforme o método da “Sequência básica”

de letramento literário de Cosson (2011), que é constituído por quatro passos:

motivação, introdução, leitura e interpretação, nesse caso em estudo, concedendo

especial atenção aos “intervalos de leitura”, assim denominados por Cosson.

A Unidade 1, do caderno pedagógico, teve como motivação inicial uma

atividade interpretativa de versos kolodyanos e de uma imagem, sendo que a

intertextualidade entre ambos estava no fato deles representarem a relação entre o

real e o ficcional. Os alunos demonstraram certa dificuldade em entender essa

relação, mas a partir do diálogo e da orientação do professor, conseguiram fazer a

correlação de idéias a que se almejava inicialmente. Também ficou claro aos alunos

que uma declamação bem feita, com a entonação certa de voz, propicia não apenas

uma excelência estética, mas um entendimento mais adequado. Além de que, a

citação kolodyana, ao final da interpretação também colaborou de forma efetiva para

o entendimento da relação existente entre realidade e a transfiguração desta,

ganhando vida em forma de poesia. A prova de que houve a compreensão por parte

dos alunos foram os comentários que eles registraram nos cadernos, a grande

maioria com coerência e boa argumentação das suas opiniões.

O passo seguinte, e de fundamental importância para o decorrer do projeto, foi

conduzir os alunos à compreensão de o porquê do projeto. Assim, fez-se necessário

explicar como participar do projeto capacitaria eles a compreender a representação

de ideias de um texto escrito, identificando o implícito em suas várias presenças.

Os alunos demonstraram entusiasmo maior quando tomaram conhecimento de que

as atividades se dariam, sempre que possível, utilizando-se de material visual, áudio

visual, bem como que estavam programadas atividades onde eles seriam os

protagonistas de produções de vídeo e afins, além de atividades fora do espaço

físico que usam como sala de aula diariamente.

Passado esse primeiro impacto, foi bastante curioso ouvir as mais diversas

descrições que os alunos imaginavam para a fisionomia de Helena Kolody,

diversidade essa que, ao verem as imagens da poeta, a partir do site de pesquisas

Google imagens, desapareceram, ficando apenas a realidade do rosto angelical

daquela “velhinha simpática”, como eles mesmo a definiram. Destacaram, orientados

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pelo professor, as peculiaridades de cada foto: os adereços, as roupas, a aparência

da poeta (mais jovem em uma, adulta em outra, etc.). Esse primeiro contato com

Helena Kolody, ficou ainda mais vivo e real com a apresentação áudio visual que

assistiram em seguida, montagem do youtube, em que os alunos tiveram contato

com a voz da própria autora, em declamações recitadas por ela; com a letra da

própria autora, em que escreve poeticamente sua biografia; bem como, com a

tocante história de vida da mesma. Aliás, foram muitos os comentários que

ressaltaram a relação entre a realidade da infância da poeta, no interior, em contato

com a natureza, que vem a ser a realidade da grande maioria dos alunos.

Enquanto ouviam os depoimentos de familiares e amigos sobre a poeta, um

aluno sugeriu que poderiam, cada um, também escrever um depoimento sobre um

colega, amigo ou familiar, em demonstração de afeto. Como esta atividade não

estava prevista no caderno pedagógico, mas me pareceu excelente oportunidade de

escreverem textos e escreverem com sentido, com real e significativa vontade

pessoal dos educandos, não resisti e oportunizei, após discutirmos as verificações

de todos sobre o vídeo assistido, que o tempo que ainda teríamos daquela aula

fosse usado para a escrita do depoimento, a ser lido na próxima aula.

Nas aulas seguintes, o estudo e as atividades se seguiram como as águas de um

rio que corre livre em seu leito. Após algumas pinceladas rápidas de reestruturação

de um e outro texto produzido pelos alunos e, com o máximo de cuidado para não

tirar a grande qualidade daquelas produções: a originalidade, passamos à leitura,

realizada espontaneamente e por quase a totalidade dos alunos. Foi realizador ver

que aquela produção textual foi pensada pelos alunos, teve dedicação espontânea

deles, que os textos foram produzidos com palavras sinceras, enfim, que ouve o

verdadeiro sentido da escrita: LIBERTAÇÃO.

No caderno, eles deixaram colado o scanner do texto auto-biográfico escrito pela

própria Helena Kolody e que está com a própria letra dela. Saliento que isto era uma

preocupação minha: que os alunos tivessem esse contato com registros o mais

originais possível, então, tanto quando eles viram o vídeo que mostrava Helena

ainda em vida, declamando, sorrindo, sendo ela mesma, tanto nesse contato com

algo tão próprio de Helena e de cada um, a letra, meu objetivo se realizou.

Já iniciando o próximo passo, nos dirigimos até a Biblioteca Pública Municipal,

onde em uma sala preparada em ambiente de cinema, assistiram ao vídeo de uma

campanha publicitária sobre os “Cem anos de Helena Kolody”, divulgada pela RPC

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TV, de duração de 16 segundos, na comemoração do centenário do nascimento da

poeta. Após assistirem o vídeo, por várias vezes, foram feitos rápidos comentários

sobre o que assistiram e os alunos foram convidados a se deslocarem a um local

bem próximo dalí, em que o cenário natural é muito parecido com o local onde foi

filmado o VT que assistiram. Nem todos os alunos quiseram protagonizar a releitura

da produção assistida, mas onze alunos toparam o desafio e, em questão de vinte

minutos tínhamos filmado as treze releituras, que seriam assistidas na próxima aula.

Figura 1 – Alunos durante gravação da releitura

Fonte: arquivo do professor

Início de nova semana de estudos, prosseguimos, inicialmente, assistindo na TV

pendrive, as releituras do poema kolodyano Cantar, presente na campanha

publicitária, produzidas na semana anterior. Acordamos que não as passaríamos

durante a reunião de pais, como sugeri e como estava registrado no caderno

pedagógico, mas que cada aluno protagonista traria ao professor um disco virgem

ou um pendrive, onde seria gravada a sua releitura, a qual o aluno assistiria em seu

lar, com sua família. Isto se deu durante a semana e nos dias que se seguiram pedi

aos alunos que, conforme fossem assistindo com seus familiares, compartilhassem

com a turma, os comentários e observações feitas por eles.

Distribuí o livro Sinfonia da Vida, um volume a cada aluno e conduzi-os à leitura,

primeiramente, das informações de capa e contracapa, colaborando para que as

interpretassem e salientando aos alunos importância das mesmas para a

compreensão geral da obra. Em seguida, pedi que se agrupassem em oito grupos,

o que daria em torno de três ou quatro integrantes em cada grupo. Numerados os

grupos, de um a oito, direcionei a cada grupo, um poema do livro. Os integrantes do

grupo tiveram dez minutos para ler e reler o poema que coube ao grupo, conversar

sobre ele. Enquanto isso, o professor assessorava os grupos em suas discussões e

distribuía diversas figuras impressas da internet e com relação de significado com

os poemas em estudo. Os alunos escolheram a figura que mais se relacionava em

significado com o poema que lhes coube. Essa atividade exigiu dos alunos atenção

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interpretativa, no sentido que foi necessário dar interpretação aos versos do poema,

depois às figuras e depois correlacionar as duas interpretações, julgando a relação

de sentido entre texto escrito e texto visual.

No dia seguinte, o professor trouxe a imagem escolhida por cada grupo, já com o

poema estudado naquele grupo, impresso na imagem. Os alunos receberam uma

pequena taboa de fina madeira, onde colaram a imagem. No tempo que se seguiu,

um representante de cada grupo fez a declamação do poema à turma, enquanto os

demais membros faziam e ouviam comentários sobre o poema e a imagem que

haviam escolhido para ilustrar o poema. Finalizando, as imagens foram presas à

parede da sala, para que ficasse em exposição. Ali, relembrei a eles, os conceitos

básicos de “verso” e “estrofe” e identificamos, juntos, o número de versos e estrofes

em cada poema ilustrado.

Figura 2 – Mural com os trabalhos expostos

Fonte: arquivo do professor

A dinâmica seguinte foi iniciada quando da solicitação a cada aluno que relatasse

uma palavra do poema que trabalhou em seu grupo, a que mais fosse representativa

para ele. O professor registrou no quadro de giz as palavras citadas, organizando-as

pela terminação, sendo que as que nada tinham de semelhante na terminação, eram

agrupadas por outras características de som. O passo seguinte foi, através da

sugestão dos alunos, organizar um verso com cada palavra registrada no quadro.

Este trabalho de construção de versos, demorou menos do que eu imaginava. Os

alunos se envolveram de tal forma, que por vezes teve-se que optar por um entre

vários versos citados, ou ainda, organizar um verso mesclando três ou quatro

citados. Por fim, coube aos alunos organizar os versos citados, no sentido de

posicioná-los ordenadamente, segundo um tema central e de modo a formar um

poema coeso e coerente. Estava, dessa forma, fisicamente finalizado o poema

coletivo do 7º A, “O tempo nosso.” Os alunos demonstraram estar orgulhosos com a

produção e muitos até se surpreenderam com a qualidade estética (sonoramente

falando) do poema que ajudaram a construir. A divulgação do poema coletivo da

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turma, contudo, não seguiu o que previa o caderno pedagógico, pelo fato de que o

site de notícias que faria a divulgação, estar, naquela época, passando por

reestruturação. Para sanar tal carência, optou-se pela divulgação do poema também

de forma coletiva, sendo que cada aluno se comprometeu a declamar o poema para

doze pessoas com que tenha contato (família, amigos, vizinhos, etc.), totalizando

quase quinhentas pessoas que vieram a conhecer o poema “O tempo Nosso”

O mesmo poema, produzido coletivamente pela turma, foi estudado mais uma

vez, quando na aula seguinte, os alunos foram instruídos sobre o conteúdo curricular

figuras de linguagem, em especial, antíteses. Se deram conta, então, que haviam

produzido um poema com qualidades estéticas de uso da língua, que até então nem

tinham consciência que sabiam usar. Antes de focar o estudo de antíteses no poema

coletivo, os alunos passaram por estudar a figura de linguagem em outros poemas

kolodyanos presentes na produção áudio visual intitulada “Poemas sobre o sol e o

anoitecer”, assistida diretamente do youtube. Mais uma vez evidenciou-se que

trabalhar um conteúdo específico com o auxílio da ferramenta áudio visual gera

maior atenção por parte dos alunos e, conseqüente, maior aprendizagem. Neste

ponto da aplicação do projeto, em que se encerra a primeira unidade, fica evidente o

envolvimento dos alunos, ainda que inicialmente tímido, contudo, agora, já

demonstrando desenvoltura por parte da grande maioria da turma, mesmo os mais

tímidos. Eles foram recomendados a compartilhar com seus familiares o que

aprenderam durante essa unidade e a registrarem no caderno alguns dos

comentários que ouviram, para que na próxima aula, quem achasse por bem,

fizesse a leitura aos colegas em sala de aula.

A segunda unidade do caderno pedagógico iniciou com os alunos lendo aos

colegas os comentários que receberam de familiares quando declamaram os

poemas kolodyanos estudados e falaram de Helena Kolody. Alguns comentários

demonstraram encantamento, outros, sensibilização, assim como, alguns, friamente

descritos. Mesmo os alunos ainda alheios a toda emoção que os poemas

kolodyanos vistos transmitiram, começaram a se sensibilizar, quando assistiram a

produção da RPC TV Casos e causos, que narrava a história de uma moça, que à

hora de cometer suicídio, leu o poema kolodyano Prece e desistiu do ato.

O professor explanou, nesse momento, mais uma vez, sobre a relação poesia-

realidade e a interdependência entre ambas. Debatido foram cada verso do poema e

em especial o título. Também, evidenciou-se, a intrínseca relação entre a poesia

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Kolodyana e a intensa profissão de fé da poeta. O professor propôs a atividade de

confeccionar um adesivo de geladeira com o poema. Essa atividade foi muito

prazerosa, os alunos colocaram a criatividade em ação, colorindo os adesivos,

recortando em diversas formas, os levando para casa, fazendo mais uma vez a

ponte sala de aula/família e levando Kolody aos seus lares. Salientamos que,

embora o caderno pedagógico propusesse o auxílio do professor de Artes do colégio

para auxiliar a confecção do adesivo, tendo em vista os tais professores estarem

ministrando aulas, o trabalho se deu organizado pelo professor da disciplina.

Figura 3 – Geladeiras na casa de alunos com os adesivos produzidos

Fonte: arquivo do professor

A semana seguinte, pós-páscoa, iniciou-se com os alunos compartilhando,

através da leitura, os comentários sobre os adesivos de geladeira produzidos e

expostos nas geladeiras de suas casas. Na sequência das atividades, foram

formados cinco grupos, que colocados diante de cinco poemas kolodyanos, tiveram

a oportunidade de debater, internamente ao grupo, o sentido dos poemas, suas

características explícitas e se arriscar em desvendar meandros implícitos. Quando

apresentadas figuras, já pré-selecionadas, diante dos grupos, sendo solicitado que

os grupos optassem pela figura que melhor representava o sentido do poema.

Esperava-se que as escolhas fossem feitas sem dúvida, contudo, os alunos

demonstraram, alguns maior dificuldade, outros, menor , em compreender a relação

de significado da figura com determinado poema. Ao final da atividade, o professor

fez o fechamento da mesma, ressaltando alguns pontos relevantes sobre o tema

central aos cinco poemas: a brevidade da vida, em especial, enfocando o modo

como Helena transfigurou esse tema tão comum à realidade em poesia.

Ressaltamos que a roupa poética que seria utilizada pelo professor para apresentar

os poemas a serem estudados aos alunos, foi substituída pela apresentação em

cartolinas. Para registrar a atividade concluída, os alunos, em grupo, receberam

uma folha de sulfite em que colaram a figura, copiaram o poema e, assim, todos

juntos, os alunos organizaram o mural da sala com esses registros. Nesse momento

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da aplicação das atividades do caderno pedagógico, ressalte-se a produtiva e

espontânea participação dos alunos ao longo das unidades.

Iniciaram a atividade proposta na sequência didática, interpretando imagens de

epitáfios. Com certa facilidade os educandos formaram um significado escrito para o

termo epitáfio, registrando-o no caderno. A cada atividade os educandos

demonstravam maior familiaridade com as temáticas kolodyanas e com os trejeitos

estéticos dos poemas de Helena. Essa familiarização dos alunos com a Helena:

presente e viva na alma de seus poemas, fomentava a cada aula a espera pelo

próximo passo da sequência didática em aplicação. Assim, seguiu-se com a

interpretação oral e coletiva da letra da canção Epitáfio, autoria da Banda Titãs,

também copiada no caderno, para fins de registro. Aliás, ainda que sem

formalmente ter sido sugerido cantar Epitáfio, já enquanto copiavam a letra e

enquanto assistiam o vídeo do youtube, espontaneamente as vozes eram ouvidas e

ficou bem natural quando foi proposto, formalmente, que cantassem. No

fechamento das aulas, o professor fez os comentários relacionando

intertextualmente a letra de Epitáfio e os poemas kolodyanos estudados nas aulas

anteriores. Também deixou de tarefa aos educandos que, em casa, produzissem um

texto sob o título: O mundo em que todos gostariam de viver. Nele, os alunos

citariam o modo como as pessoas deveriam viver para aproveitarem bem sua vida.

Coube, também aos alunos, ler o texto produzido aos seus familiares e amigos,

bem como citando pontos que lhes chamaram a atenção durante as últimas quatro

aulas, ouvir os comentários e compartilhar com os colegas, nas próximas aulas.

Antes de iniciar a terceira unidade, vi a necessidade de realizar interferências nos

textos que os alunos produziram em casa, colaborando para a correta

reestruturação e algumas refacções, realizadas diretamente pelo aluno autor.

Embora o tópico central das atividades seja a leitura, seria impróprio o professor se

abster do necessário trabalho de conduzir reestruturações e refacções de escrita.

Depois de dedicar o estudo a poemas de Helena que trataram de temas como

morte, brevidade da vida e sub-temas afins, nesta terceira unidade, foi enfocado o

tema amor e a relação realidade e mimese a partir desse tema. Os diálogos que

antecederam ao estudo de duas produções áudio visuais de dois poemas

kolodyanos sobre o tema do amor, deixou evidente o quanto os adolescentes tem

uma visão restrita do tema, restringindo, basicamente, apenas ao amor homem-

mulher. Contudo, a sequência de atividades produziu o antídoto contra essa

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carnalização do amor, que principalmente os meios de comunicação promovem

publicamente. Durante a atividade de motivação da sequência didática, após

assistirem aos vídeos no youtube, Abismal e Cântico, os alunos começaram a

desconstruir a idéia tão ínfima de reduzir o sentimento amor apenas à relação

homem/mulher. Através do diálogo conduzido pelo professor, os alunos retomaram à

consciência de que é preciso demonstrar o amor pelos familiares, pelos amigos,

pelas pessoas, e que o amor pelo gênero oposto é mais uma possibilidade, não a

única.Também se discutiu como a sociedade atual vem tratando o tema, muitas

vezes super valorizando o amor carnal, suprimindo o amor ágape, criminalizando o

amor casto, discriminando o amor idealizado, entre outras conclusões a que se

chegou após alguns minutos de conversa entre os presentes. Como conclusão

desse libertador diálogo, que espera-se tenha propiciado meditação sobre o que

realmente é o amor para cada um, os alunos tiveram a oportunidade de produzir

pequenos cartões , em papel cartão, em que, após produzirem um acróstico a partir

do nome de alguém a quem eles tem esse sentimento, tendo grampeado um

bombom, tendo a missão de entregar o cartão à pessoa que fizeram o acróstico a

partir do nome. Ficava, assim, cumprido o segundo ponto da atividade: se o primeiro

objetivo era com que os alunos repensassem o que é o amor para cada um, o

segundo era propiciar que eles demonstrassem esse sentimento e se permitissem a

alegria dessa demonstração.

Ainda no que tange à leitura dos poemas kolodyanos, utilizados no início da

motivação, vale salientar que o professor alcançou êxito no intuito de exemplificar o

que vem a ser o “eu poético”, bem como, a desconstrução da idéia simplista e

inconveniente de que “eu poético” é pura e simplesmente a pessoa do escritor. O

registro de algumas questões interpretativas, demonstrou que os alunos evoluíram

bastante desde os primeiros poemas estudados, principalmente no que tange à

compreensão de plurissignificância da linguagem poética e ao uso estético da

linguagem em um poema.

A atividade seguinte, foi de fundamental importância ao contexto geral da

unidade, nela os alunos imitaram na forma escrita uma conversa ao telefone, com

um(a) amigo(a), onde o motivo da ligação foi colocar o(a) amigo(a) a par dos dois

poemas trabalhados nas aulas anteriores, bem como, das impressões e

conhecimentos construídos a partir deles. A comprovação dos bons resultados das

situações de aprendizagem aplicadas aos alunos nas últimas aulas, pôde acontecer

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durante a leitura, que os alunos fizeram à turma, de suas produções. Para fins de

formação de média trimestral, as produções lidas foram avaliadas nos quesitos: uso

adequando da linguagem; correta explanação do conteúdo rima/estrofe; adequado

uso de pausas de leitura; criatividade no uso da linguagem.

Antes da finalização da unidade, ainda realizou-se cópia, leitura e interpretação

oral de três textos poéticos, com ligação de intertextualidade, para fins de estudo de

tal característica textual, bem como de seus pormenores históricos, de linguagem,

de intencionalidade e tratando, os três, da temática do amor, apresentados também

através de produções áudio visuais, assistidas diretamente no site youtube.com.br .

Seguindo a temática das produções poéticas trabalhadas, os alunos copiaram no

caderno o misterioso caso de um final triste de amor de um casal, aparentemente

sem explicação, que nossos estudantes-detetives, com o apoio de familiares,

amigos, vizinhos, trouxeram desvendado na aula seguinte. Unir amor e mistério foi

uma boa tática dessa atividade final da unidade, que gerou entusiasmo e dedicação.

O professor iniciou a aula e, a quarta e última unidade do caderno pedagógico,

dialogando a respeito da atividade que havia para ser feita em casa: ouvindo, junto

com a turma, as respostas, discutindo-as, conduzindo os alunos à compreensão

exata dos fatos. A produção áudio-visual assistida a seguir, enfocou as fases da

vida, a transformação desde criança até a velhice. Após três vezes assistida e

discutida a maioria das imagens de forma particular, bem como da contribuição da

imagem ao conjunto do vídeo, os alunos copiaram, de uma cartolina que o professor

afixou no quadro de giz, o poema que Helena Kolody escreveu em homenagem a

seu pai: Tristeza de Mãos. O professor pediu que um aluno, espontaneamente, o

declamasse. Então, foram divididos em sete grupos e cada grupo recebeu um

conjunto de alguns versos do poema para interpretar. Confrontados com imagens

afixadas no mural da sala, pelo professor, os alunos tiveram que fazer a leitura

visual das imagens e correlacionar com a interpretação dos versos que coube ao

grupo, identificando a imagem que melhor representava aqueles versos.

O professor salientou aos seus alunos para que fizessem a relação estrofe e

imagem dando importância não unicamente à figura como um todo, mas: às cores

presentes em cada imagem, aos elementos secundários, aos detalhes.

Estabeleceu um tempo de 5 minutos, para que se fechasse uma decisão e se

passasse à apresentação à turma. No decorrer das apresentações, interpelou seus

alunos, através de questionamentos, a verem os detalhes do uso da linguagem no

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poema, que eles, porventura, não conseguiam identificar. Após as apresentações, o

professor pediu aos alunos que fossem onde estavam as figuras e fixassem a

estrofe trabalhada pelo grupo junto à imagem.

Uma atividade de colorir utilizando pigmentos e através do sopro em superfície

untada de cola, foi utilizada na atividade proposta para a sequência, em que os

educandos deixaram sua marca (sua mão) gravada em um pedaço de papel cartão

azul, medindo 20cmX25cm. Por sugestão dos alunos, que a todo momento deram

suas contribuições ao longo desses meses, as folhas de papel com as mãos

gravadas foram colocadas dentro de um envelope, junto com um texto produzido: O

que eu espero do futuro; o mesmo foi lacrado e todos os envelopes colocados

dentro de uma caixa, fazendo o papel de cápsula do tempo. A (cápsula do tempo) foi

guardada em local de difícil acesso, dentro do colégio e ficou combinado entre

professor e alunos, que em 2018, quando eles estiverem n 3º ano do Ensino Médio,

a cápsula será aberta. Salientamos que houve a substituição em relação ao que foi

proposto no caderno pedagógico, do uso de madeira, pelo uso de folhas de papel

cartão, pelo fato de facilitar o manuseio. Foi muito prazeroso o desenrolar da

atividade, afinal, os alunos demonstraram mais uma vez, através da participação

efetiva, que a construção do conhecimento estava se realizando.

Figura 4 – mãos e textos dos alunos colocados na Cápsula do Tempo

Fonte: arquivo do professor

Caminhando para a finalização da aplicação das atividades propostas no

Caderno Pedagógico, cada aluno escolheu um dos poemas kolodyanos trabalhados

ao longo das aulas, depois, no laboratório de informática, digitaram os versos, em

fonte tamanho 62, o que deu visibilidade maior aos versos, que foram impressos. No

retorno à sala de aula, cada aluno recebeu uma taboinha medindo 50cmx40cm onde

colou o poema escolhido. Houve uma breve apresentação aos colegas, onde os

alunos compartilharam o porquê de escolherem aquele poema, o porquê de ele ser

o mais significativo entre todos os estudados.

Após a conclusão das apresentações, o professor explicou aos alunos que a

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“placa poética” que eles tinham em mãos, por eles construída, era o elemento físico

através do qual, eles compartilhariam a poesia kolodyana com as pessoas em seu

redor. O professor sugeriu que cada estudante fixasse a placa poética em local

próximo à rua, contudo dentro do pátio de sua residência e, se possível, ali

plantasse algumas flores, formando o que seria chamado de “jardim poético”.

Figura 5 – jardins Poéticos ou “Jardins de Kolody”

Fonte: arquivo do professor

Nas aulas que se sucederam à tarefa domiciliar de construírem os “jardins de

Kolody”, também chamados de “jardins poéticos”, os alunos compartilharam vários

comentários, sendo que em maior número, o que se ouviu foram comentários

agradáveis, de surpresa; relatos de pessoas que ao passarem pela frente da casa

do aluno, pararam para ler o poema. Concluímos, em conjunto, professor e alunos,

que o objetivo de levar as pessoas à reflexão sobre a relação entre realidade e

representação da realidade, entre o que é real e a poesia, foi conseguido.

Em virtude do acréscimo da atividade de produção de escrita na Unidade 1, e

que não estava prevista no Caderno Pedagógico, bem como por diálogos que se

estenderam mais do que o previsto, a marca de previsão de aplicação que era de

32h/a foi, na prática, suplantada e ao finalizar a aplicação de todas as atividades

culminamos com um total de 43h/a. Vejo tal resultado quantitativo como um

resultado qualitativo, pois as aulas não previstas e ainda assim utilizadas na

implementação foram necessárias justamente pela participação dos alunos durante

as atividades e que ficaram além das expectativas.

As atividades implementadas no Colégio, os materiais desenvolvidos no PDE,

2013, ficaram disponíveis no GTR – Grupo de Trabalho em Rede, no Portal dia-a-

dia Educação, para a troca de experiência com outros professores da rede estadual

de ensino. É possível destacar inúmeros depoimentos de professores que cursaram

o GTR “A poesia kolodyana e interfaces sonho e realidade” e que aplicaram as

atividades propostas no caderno pedagógico, conforme proposto. Contudo, prefiro

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deixar registrado a imensa quantidade de atividades realizadas, a partir do GTR,

envolvendo poemas kolodyanos em atividades, além das do caderno pedagógico,

situações de aprendizagem como encenações, ilustrações, confecção de painéis,

varais poéticos, entre outros, comprovando que mais do que apresentar um caminho

único, as atividades sugeridas pelo caderno pedagógico, alvo dessa pesquisa,

suscitam, sugerem, inspiram novas possibilidades de atividades pedagógicas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fim de todo o percurso, desde o projeto de intervenção até a construção do

artigo final, muitas questões quanto às práticas de ensino associadas à leitura

literária tornaram-se claras, dentre elas, a comprovação de que é possível, sim,

conduzir o aluno à prática da leitura mais aprofundada, de modo prazeroso, de modo

a que tenha sentido à vida dele e por interesse próprio e consciente, sem a tão

falada obrigação escolar.

Assim, quando a sequência didática implementada, baseada na proposta de

Rildo Cosson (COSSON, 2011) sugeria atividades de compartilhamento, em sala de

aula, com os colegas, e principalmente, em casa ou com amigos ou com os

moradores das redondezas de suas residências, viu-se um intenso fator de

entusiasmo, de incentivo à leitura e a construção de significados às poesias em

estudo, efetiva-se, assim, a interação com a poesia.

Todo o sucesso alcançado, creio, deve-se, em grande parte, a

fundamentação teórica refletida neste artigo, em especial, Cosson (2011). Termina-

se aqui parte de um percurso pelos encantos especiais da poesia kolodyana, da

literatura e da leitura. Nesse percurso, observou-se a intensa relação entre a

realidade e a representação dela na poesia de Helena Kolody, compreendendo-se

que a efetivação da leitura do texto poético, no contexto escolar exige trabalho

criativo, dedicação por parte do professor, ainda mais, exige que o professor ao

preparar as atividades, se coloque no papel de aluno, tente refletir sobre leituras que

e como os alunos gostariam de fazê-las e quais.

Na realidade do cotidiano escolar, observou-se a carência de livros da poeta

Helena Kolody, o que julgamos inadmissível, afinal, é notório ser ela o maior ícone

feminino da poesia paranaense.

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Enfim, o trabalho com leitura literária, em específico de poesias, em sala de

aula, mostrou-se uma experiência muito significativa, mas destaque-se que o é

fundamental que a leitura exista nos espaços além-escola: nos lares, na roda de

amigos, na convivência com vizinhos, com os demais da família. Leitura literária

escolar se efetiva quando o aluno carrega a leitura consigo, onde ele for.

REFERÊNCIAS

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THIMÓTEO, Maria Natália Ferreira Gomes. De Sísifo, de poetas e de poesia. In Crítica do tempo presente: estudo, difusão e ensino de literaturas de língua portuguesa. Org. Maria da Glória Bordini, Maria Luiza Remédios e Regina Zilbermann. Porto Alegre: Nova Prova Editora, 2005. THIOLLENT, Michel. Notas para o debate sobre pesquisa-ação. In: BRANDÃO, Carlos (Org.). Repensando a pesquisa participante. São Paulo: Brasiliense, 1984.