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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA E A ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

PEDAGÓGICO NA ESCOLA

Enaide Severo de Araujo

1

Tamara Cardoso André 2

Resumo: Estuda a institucionalização do sistema de avaliação em larga escala da educação básica do Brasil nas últimas décadas. Esclarece a função da avaliação escolar. Discute o conceito de qualidade na educação. Pesquisa o papel do pedagogo na rede pública estadual paranaense com base nos documentos vigentes. Busca entender como as avaliações externas impactam a organização do trabalho pedagógico da escola. Apresenta como está composto o perfil estrutural e descreve basicamente a Organização do Trabalho Pedagógico de duas escolas estaduais de Foz do Iguaçu. Apresenta os resultados do IDEB e as projeções das duas escolas e como estas direcionam ou não o trabalho didático pedagógico para alcançar os índices. Realiza entrevistas com os pedagogos que trabalham diretamente com os 9º anos. Conclui que as avaliações em larga escala acarretam em mais trabalho para os pedagogos, uma vez que estes participam da aplicação da prova e da preparação dos alunos para as avaliações. Isso se reflete pelo fato de haver um pedagogo apenas para o 9º ano, no ano de aplicação da Prova Brasil. O Pedagogo passa a atender mais às demandas externas, do que agir com autonomia frente às reais necessidades de ensino e aprendizagem dos alunos. Palavras-chave: Avaliação; Avaliação em larga escala; Organização do Trabalho Pedagógico.

1 Introdução

Este artigo analisa o papel do pedagogo diante das avaliações em larga

escala, baseadas em testes padronizados da educação básica no Brasil,

institucionalizadas nas últimas décadas. Trata-se de pesquisa qualitativa, que teve o

projeto aprovado pelo Comitê de Ética no Parecer nº 461.201, de 28 de outubro de

2013.

Para entender qual é o papel do pedagogo na organização do trabalho

pedagógico na escola pública, buscou-se estudar as leis vigentes e os documentos de

duas escolas estaduais de Foz do Iguaçu, sendo eles: o Regimento Escolar, o

Projeto Político Pedagógico e a Lei Complementar 103/2004 - Plano de Carreira dos

Professores do Estado do Paraná. Além da consulta a estes documentos, foram

entrevistados 04 pedagogos no total, 03 de escola denominada A e 01 da escola B,

que atendem diretamente aos 9º anos de dois colégios estaduais de Foz do Iguaçu,

com o objetivo de compreender as funções legais previstas para os pedagogos e se

lhes são atribuídas outras funções decorrentes da regularidade das avaliações em

larga escala. Parte-se, neste estudo, das seguintes hipóteses: A regularidade das

1 Professora da rede estadual de ensino, Núcleo de Foz do Iguaçu. E-mail: [email protected]

2 Doutora em Educação, professora Adjunta da Universidade Estadual do Oeste do Paraná.

avaliações externas e em larga escala, efetivadas na escola pública, interferem e

acarretam sobrecarga de demandas ao trabalho pedagógico, prejudicando a sua

função primordial. As avaliações em larga escala modificam o trabalho do pedagogo

no chão da escola? Este artigo traz os estudos realizados nas duas escolas aqui

denominadas de A e B.

A investigação ocorreu durante o ano de 2013 e 1º semestre de 2014. As

entrevistas, inicialmente deveriam ser com todos os pedagogos das duas escolas ,

mas como o foco deste estudo foi analisar os impactos causados na organização do

trabalho pedagógico na escola pelas avaliações em larga escala, optou-se durante o

processo de pesquisa em realizar primeiramente um estudo investigativo sobre a

organização geral das escolas para compor um perfil estrutural dos colégios

estaduais pesquisados para entender como o trabalho pedagógico é distribuído na

escola. Pois de uma maneira mais geral a direção é que administra o direcionamento

e distribuição dos trabalhos pedagógicos. Daí a necessidade de estabelecer um

diálogo com as direções para a obtenção dos dados escolares, o qual foi

extremamente importante para a elaboração de um artigo como produção didática.

Artigo que foi um dos subsídios que auxiliou nas discussões, do grupo de estudo

presencial e no Grupo de Trabalho em Rede-GTR durante a implementação do

projeto de intervenção do professor PDE na escola, atividade do 3º período do

programa.

A metodologia adotada foi de pesquisa qualitativa, segundo os pressupostos

de Jurgenson (2003). Foram realizadas entrevistas abertas, semiestruturadas, nas

quais outras perguntas foram inseridas, de acordo com o andamento do processo de

pesquisa. As entrevistas foram baseadas nas questões abaixo:

1) Há quanto tempo você atua na escola? Quais suas funções?

2) Participou da elaboração do Projeto Político-Pedagógico da escola?

3) Conhece o Regimento Escolar do(s) estabelecimentos em que atua?

4) O que você entende por avaliação em larga escala?

5) Em sua opinião, as avaliações em larga escala estão contribuindo para

melhorar a educação no Brasil?

6) Você acompanha o processo de realização da Prova Brasil do 9º ano

na escola? Como é sua participação?

7) Como as avaliações em larga escala modificaram suas funções na

organização do trabalho pedagógico?

8) O que significa, para você, qualidade na educação?

9) Como o resultado do IDEB influi no cotidiano da escola, em sua

opinião?

10) Você sabe qual foi a nota do IDEB na escola onde você trabalha

atualmente?

Segundo Bourdieu (1993) a entrevista científica pode causar uma violência

simbólica ao entrevistado, então se faz necessário, ao entrevistador, reduzir ao

mínimo tal violência, tomando alguns cuidados e utilizando um olhar mais

compreensivo, sociológico. É fundamental que o pesquisador entrevistador domine

bem o assunto antes de partir para a entrevista. Partindo desse pressuposto é que

as entrevistas foram realizadas em abril e maio de 2014.

2 Avaliação em larga escala no Brasil

Nos últimos anos muitas matérias nas mídias vinculam a ideia de que escola

de qualidade é a que obtém os melhores resultados nas avaliações em larga escala.

Muitas destas matérias são escritas por economistas, e não por educadores. Um

exemplo disso é a matéria veiculada no Portal Terra, em 10/07/2011, na qual o

economista Gustavo Ioschpe defende que as escolas públicas deveriam ser

obrigadas a afixar, nas portas de entrada, nota do Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica (IDEB). O economista sugere aos congressistas que façam uma lei

com esta determinação:

O que tem fomentado essa discussão em torno da qualidade do sistema

educacional é a regularidade das avaliações em larga escala baseada em testes

padronizados no Brasil nas últimas décadas, bem como a centralidade que estas

ocupam no nos programas políticos educacionais. O próprio sistema político

educacional alia os resultados à premiação para professores e para escolas que

atingem os melhores índices. Indicam para a escola soluções mercadológicas, que

se adequariam para uma empresa, e não para a realidade complexa de um

estabelecimento escolar ou, até, do grande sistema educacional brasileiro. O

interesse pelas estatísticas passa a ser o foco, enquanto questões relevantes para

melhorar a educação passam despercebidas. Reformas educacionais promovidas

por grandes corporações e de iniciativa privada fazem parte da realidade das últimas

décadas nos Estados Unidos.

"Corporate reformers"- assim são chamados reformadores empresariais da educação nos Estados Unidos, em termo criado pela pesquisadora Diane Ravitch (p.26, 2011). Ele reflete uma coalizão entre políticos, mídias, empresários, empresas educacionais, institutos e fundações privadas e pesquisadores-alinhados com ideia de que o modo de organizar a privada é uma proposta mais adequada para ―consertar‖ a educação americana, do que as propostas feitas pelos educadores profissionais. (FREITAS, p.2.2012).

Freitas (2009) cita Taubman, ao afirmar que a avaliação em larga escala tem

trazido sérias consequências para a educação. Programas aprovados com grandes

custos não resultaram em melhor desempenho por parte dos estudantes

americanos. Trata-se de uma reforma educacional fundamentada na crença e numa

cultura de auditoria, que subordina a qualidade educacional à lógica mercadológica.

Para Freitas (2010), a educação lida com seres humanos, e não com máquinas, de

modo que o foco no controle acaba por desumanizar as relações no interior da

escola. A deficiência no desempenho dos alunos, baseada a partir dos resultados

das avaliações, enfatiza a falha de gestão e adição de tecnologias, aos moldes do

que Saviani denomina-pedagogia tecnicista, na qual os alunos e professores devem

cumprir metas pré-estabelecidas. Faz-se necessário entender que a avaliação em

larga escala realizada no Brasil hoje é semelhante aos testes padronizados

internacionais, como o PISA, sigla do Programme for International Student

Assessment, que em português significa Programa Internacional de Avaliação de

Alunos, programa coordenado e desenvolvido pela Organização para a

Cooperação do Desenvolvimento Econômico-OCDE coordenada no Brasil pelo

Instituto de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira-INEP. Segundo informações

disponibilizadas no site do INEP (2014), o PISA, é um programa internacional de

avaliação comparada, avalia estudantes na faixa etária de 15 anos, idade que

pressupõem o término da educação básica obrigatória na maioria dos países

participantes. As avaliações ocorrem a cada três anos e as áreas avaliadas são

Leitura, Matemática e Ciências. A cada edição do programa uma área é foco da

avaliação, assim essa área apresenta mais questões, como por exemplo, leitura

em 2009. Conforme informação obtida no site da OCDE (2014) a função do PISA

é fomentar indicadores da qualidade educacionais a fim de verificar se os países

estão formando cidadãos aptos a atuarem na sociedade.

O Brasil aderiu ao PISA em 1998 assumindo assim as perspectivas

educacionais propostas por esse programa de avaliação internacional.

Segundo Freitas (2007) o Brasil tem como principal marco de criação,

institucionalização e desenvolvimento das avaliações em larga escala, com o Sistema

de Avaliação da Educação Básica, que se firmou e emergiu. A escola, neste contexto,

é responsabilizada pelos resultados educacionais em exames.

Levando em conta que as avaliações em larga escala afetam o chão da escola

em todas as tarefas que envolvem gestores educacionais, pedagogos, pais, alunos e

demais segmentos da sociedade, torna-se importante discutir a problemática dos

causados. Tal prática institucionalizada no Brasil recentemente monitora a

educação básica, com a proposta segundo, Freitas (2007), de medir, avaliar e informar

dados sobre qualidade pretendida para as instituições de ensino pelo governo. Trata-

se de uma prática realizada nas escolas com regularidade, o que justifica este

estudo. As avaliações externas se efetivam por meio de testes padronizados e

conjuntos de dados obtidos sobre um sistema educacional. A temática da avaliação

do sistema educacional surge com mais força a partir da década de 2000, mas é

tema antigo, de debates no cenário brasileiro.

A retrospectiva histórica no Brasil sobre a avaliação da educação básica em

larga escala revela que desde 1930 são realizadas tentativas de obter dados

estatísticos das escolas no intuito de planejar ações. No texto da Constituição

Brasileira de 1988 a avaliação educacional é apresentada como demanda pública do

Estado em uma concepção federalista na relação Estado-sociedade. Entretanto,

somente em 1994, foi criado o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB),

instituído pela Portaria nº 1.795, de 27.12.1994. Desde 1995 o SAEB realiza seu

ciclo de avaliação a cada dois anos. Na edição de 2001, o Saeb passou a avaliar

apenas as áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Tal formato se manteve nas

edições de 2003, 2005, 2007 e 2009. Em 2005 o SAEB foi reestruturado pela

Portaria Ministerial nº 931, de 21 de março de 2005, passando a ser composto por

duas avaliações: Avaliação Nacional da Educação Básica (ANEB) e Avaliação

Nacional do Rendimento Escolar (ANRESC), esta última conhecida como Prova

Brasil. Conforme informação disponível no site do MEC, a Prova Brasil mede, avalia e

informa com foco em matemática (resolução de problemas) e leitura.

Inseridos neste contexto os estabelecimentos escolares estaduais submetem

seus estudantes aos testes e os gestores respondem questionários. Assim,

atualmente, as avaliações são práticas institucionalizadas no cotidiano das escolas.

Ressalta-se que o SAEB é uma ação do Governo Federal desenvolvida pelo

Instituto Nacional e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Críticos das avaliações em larga escala, como Freitas (2011), salientam que

as avaliações em larga escala podem direcionar, ou seja, focar o ensino nas

habilidades necessárias para obtenção de melhores escores, ou seja, nos

resultados, em detrimento dos saberes necessários para a formação do educando,

inclusive a escrita.

Numa perspectiva crítica e emancipatória, a avaliação não deveria servir ao

controle a á substituição do Estado Executor pelo Estado Avaliador. Os resultados

das avaliações deveriam servir de diagnóstico para a realização de intervenções

pedagógicas para melhoria do processo de ensino e aprendizagem, como esclarece

Luckesi (2010):

O que diferencia essas duas modalidades de avaliação — avaliação da aprendizagem e avaliação do sistema de ensino? A avaliação da aprendizagem tem como função dimensionar a qualidade da aprendizagem dos educados em sala de aulas e — no caso da avaliação de acompanhamento do educando no seu percurso de aprender —, se necessário, proceder a uma intervenção de correção na aprendizagem (ensinar de novo, se necessário); já a avaliação dos sistemas de ensino tem a função de verificar a qualidade do sistema em termos de sua eficácia em produzir os resultados desejados. (LUCKESI, 2010).

As avaliações em larga escala têm assumido um papel tão importante na

educação, que o próprio Plano Nacional de Educação para o decênio 2011-2020 tem

como metra o aumento nos índices.

O grande problema destas avaliações é que a qualidade fica atrelada a

rankings. Escores passam a indicar a qualidade. No Brasil não há um sistema

nacional de educação, há uma descentralização, ou seja, existem vários sistemas,

como: Sistema Municipal, Estadual, Federal. Segundo André (2013), o sistema de

avaliação é nacional, mas não há um sistema nacional de educação. A autora cita

Saviani (2010), ao mostrar que a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

Lei 9394/1996 reforça a lógica da liberdade de ensino através do favorecimento de

aportes públicos para as escolas privadas, como as católicas. Freitas (2011) aponta

que há o surgimento de uma terceira via, pois a primeira seria a pública, segunda a

privada e a terceira seria o dinheiro público investido na rede privada, por vias de

programas de favorecimento de bolsas auxílio.

O propósito da avaliação em larga escala, como a Prova Brasil, se diferencia

do objetivo da avaliação da aprendizagem escolar exatamente neste ponto, é

aplicada no 5º ano e no 9º ano, ou seja, apenas examina o desempenho do sistema

escolar, com vistas a avaliar a qualidade do sistema escolar como um todo, e não

com vista a melhorar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos.

Com a descentralização, diferentes sistemas atendem a diferentes níveis de

ensino. No Estado do Paraná, cada município é responsável por atender da

educação infantil até o quinto ano dos anos iniciais do ensino fundamental. A partir

do sexto ano do ensino fundamental, até o terceiro ano do ensino médio, o

atendimento público é feito pelo Estado. Sendo assim, o aluno avaliado pela Prova

Brasil no quinto ano do ensino fundamental, passa de uma rede municipal de ensino

para a rede estadual. Deste modo, a escola avaliada não poderá resgatar com o

aluno que foi avaliado aquilo que fez falta em sua formação, pois este passará para

outra rede de ensino. Ou seja, o aluno avaliado no quinto ano é estudante de uma

rede municipal e, no ano seguinte, ingressa no 6º ano no sistema estadual, onde

cessa de certa maneira a etapa de estudos. Neste sentido, não será oportunizado

pela mantenedora municipal, estadual ou federal a superação das defasagens com

o aluno que foi avaliado, mas apenas com outro público. Ou seja, a avaliação em

larga escala mede, classifica, mas não prevê intervenções pedagógicas.

No Brasil no ano de Prova Brasil os professores que trabalham nas turmas

que serão avaliadas recebem do MEC cadernos com as matrizes de referências das

disciplinas, bem como recebem formação por parte das mantenedoras sobre como

trabalhar preparando os alunos para a prova.

A avaliação do sistema educacional baseada em testes padronizados,

premiação e punição é experiência realizada nos Estados Unidos há mais ou menos

20 anos. Ravitch (2011), professora de História da Educação na Universidade de

Nova Iorque e que, no passado, foi defensora dos testes padronizados, reavalia sua

posição hoje. Segundo a autora, os testes padronizados comprometem a melhoria

do sistema educacional.

Esse processo vem acompanhado de crescente interferência do setor privado na educação. Grandes fundações vêm promovendo reformas escolares baseadas em modelos de gestão do setor corporativo, sem considerar sua pertinência ás instituições de ensino (RAVITCH, 2011, p.63).

A autora salienta que os testes padronizados transmitem a ilusão de

apresentarem uma visão científica sobre a qualidade da educação, quando, na

verdade, não são instrumentos precisos. Nos Estados Unidos o uso dos testes

padronizados para avaliar o sistema educacional, acabou transformando o currículo,

focando em algumas disciplinas, priorizando áreas do conhecimento em detrimento

de outras.

Pesquisadores de diversas instituições nos Estados Unidos comprovaram que

estas avaliações promoveram um estreitamento curricular, uma vez que questões

presentes nos testes passaram a orientar o currículo.

3 A Organização do Trabalho Pedagógico na Escola Estadual Paranaense

Autores defendem que o Pedagogo é um profissional que tem o papel de

organizar o trabalho pedagógico na escola no que se refere ao planejamento,

avaliação e estruturação do Projeto Político-Pedagógico.

O Pedagogo, segundo Libâneo, também deve atuar junto aos professores e

alunos.

(...) a atuação do pedagogo escolar é imprescindível na ajuda aos professores no aprimoramento do seu desempenho na sala de aula (conteúdos, métodos, técnicas, formas de organização da classe), na análise e compreensão das situações de ensino com base nos conhecimentos teóricos, ou seja, na vinculação entre as áreas do conhecimento pedagógico e o trabalho de sala de aula (LIBÂNEO, 2010, p.61).

No Estado do Paraná é muito recente a efetivação deste profissional, pois

somente em 2004 é que foi realizado concurso público para preenchimento destas

vagas, com o objetivo de compor as equipes pedagógicas, hoje presentes nas

escolas estaduais. Embora os documentos prescrevam as funções do pedagogo,

ainda não há muita clareza.

Anteriormente não havia uma equipe pedagógica com tais exigências, havia o

orientador educacional e a supervisão escolar, porém com funções que atendiam ao

contexto político educacional da época. O cargo do Pedagogo era chamado de

supervisão escolar. Professores de disciplinas específicas das diversas áreas do

conhecimento poderiam ocupá-lo e era também um cargo de confiança, escolhido,

indicado pela direção do estabelecimento escolar. Com a aprovação da lei acima, o

pedagogo denomina-se professor pedagogo com funções determinadas.

A lei vem corroborar com o reconhecimento e valorização deste profissional

da educação, tão importante no processo educativo no âmbito escolar. Importante

ressaltar que o pedagogo assume diferentes funções ou denominações conforme a

unidade da federação, ou nos sistemas municipais. Na escola pública paranaense o

planejamento escolar é composto pela seguinte estrutura: Regimento Escolar;

Projeto Político Pedagógico; Proposta Pedagógica Curricular, Plano de Ação; Plano

de Ação Docente, dentre outros. No entanto, na prática, as demandas diárias

enfrentadas no chão da escola, nem sempre cooperam para o exercício desta

função, bem como as demandas emanadas das mantenedoras. Assim, apresenta-se

neste projeto uma breve análise do Regimento Escolar. Previsto pela Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996).

O regimento escolar tem a função de normatizar o funcionamento interno do

estabelecimento educacional, regulamentar todo o trabalho pedagógico,

administrativo e institucional com base nas disposições previamente estudadas e

implementadas para cumprimento por todos os envolvidos nas atividades escolares.

Vários elementos que constituem o trabalho pedagógico sofrem influências do

sistema político, econômico e social. Ou seja, a organização do trabalho pedagógico

no interior das escolas, nem sempre é resultante de uma prática dialógica e

autônoma. De acordo com Freitas, (2000), a escola é território de disputa:

Há uma tendência para que a função social atribuída à escola capitalista seja transmitida ao seu projeto político pedagógico o qual procura controlar as ações no interior da escola e da sala de aula em meio a tensões, resistências e contradições existentes na disputa pelo controle técnico/político da escola (FREITAS, 2000, p.143).

A avaliação/objetivos, por exemplo, expressos no projeto político pedagógico,

na proposta pedagógica curricular das disciplinas, nem sempre resultam de um

pensar pedagógico, um debate crítico e reflexivo tão necessário no processo

educativo de ensino e aprendizagem escolar numa perspectiva democrática. No ano

de 2011, foi proposto e estabelecido um Caderno de Expectativas de Aprendizagem,

(fruto de uma discussão mais aligeirada), o qual contém uma lista de pré-requisitos

mínimos que o aluno tem que dominar em cada ano das séries finais do Ensino

Fundamental e do Ensino Médio. No ano de 2012, foi solicitada às escolas pela

mantenedora a elaboração do caderno de gestão denominado de Caderno de

Subsídio para Acompanhamento Pedagógico, assim justificado pela SEED:

A Secretaria de Estado da Educação do Paraná, em 2011, iniciou na semana pedagógica, em 2011, iniciou na Semana Pedagógica as discussões sobre processos avaliativos e análise de resultados de avaliações externas... Para o ano de 2012, a SEED pretende continuar esse trabalho propondo encaminhamentos para as oficinas dos pedagogos. Para tanto, surge a construção do Caderno de Subsídios contendo reflexões

pedagógicas e informações e dados de cada uma das 2530 escolas da Rede Pública Estadual. estas informações e dados contemplam os resultados da Prova Brasil 2005/2007/2009, IDEB 2005/2007/2009, taxas de rendimento escolar de 2007 a 2010, taxas de distorção idade série 2007 a 2010, além de material pedagógico indicando temas e reflexões pertinentes ao processo educativo que podem interferir nos processos de ensino e aprendizagem. (PARANÁ, Secretaria de Estado da Educação. Caderno de Subsídios para Acompanhamento Pedagógico, p.05, 2012).

Sendo as escolas um espaço marcado também pelas formas de resistência

nem todas as escolas produziram. Em 2013, surge o Plano de Ações

Descentralizadas (PAD), criado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Nas semanas pedagógicas, foram disponibilizados instrumentos para compilação

de dados das escolas, como: taxas de aprovação, aprovação por Conselho de

Classe reprovação e abandono, indicadores importantes para o planejamento da

organização do trabalho pedagógico e a elaboração do Plano de Ação da escola.

Entretanto, a escola precisa dar conta de novas demandas como, por exemplo,

avaliação estadual que teve sua 1ª edição em 2012, com o Sistema de Avaliação da

Educação do Paraná, que segundo o 3Portal de Educação do Paraná, tem o

objetivo de avaliar as capacidades cognitivas dos alunos em Língua Portuguesa e

Matemática.

Essa é uma tendência que se assemelha muito à experiência americana,

monitoramento dos dados internos da escola e indicação de medidas para serem

adotadas na proposta de melhorar os índices. Assim, o cotejo entre o papel do

pedagogo e as mudanças ocorridas devido ás avaliações externas torna-se um

objetivo relevante. No próximo tópico serão apresentadas análises das escolas

onde este estudo foi realizado.

4 Análise das escolas onde foi realizada a pesquisa

Esta pesquisa apresenta dados do ano de 2013. As duas escolas

apresentam uma comunidade escolar bastante heterogênea no que tange ao perfil

socioeconômico e cultural, isso ocorre pelo fato de atender estudantes provenientes

de diferentes bairros.

3 http://www.educacao.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=342. Acesso em 01 de

dezembro de 2013.

4.1 Caracterização do estabelecimento A:

Oferta Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), Ensino Médio por Blocos,

Profissionalizante (Integrado e Subsequente). Oferta também Educação de Jovens

e Adultos-EJA, Fase II e III no período noturno. Localizada em um bairro nobre da

cidade, atende 2400 alunos. Tem 18 turmas de ensino fundamental, contabilizando

neste nível 826 alunos. No ensino médio tem 14 turmas, atendendo 461 alunos.

Atende 727 alunos de Educação de Jovens e Adultos, fases I e II. Atende 105

alunos em 06 cursos profissionalizantes. Em relação aos recursos humanos, a

escola tem 01 diretor, 01 secretário, 14 pedagogos, 102 professores, 38 agente

educacionais.

4.2 Caracterização do estabelecimento B:

O estabelecimento B tem 898 alunos matriculados nos anos finais do ensino

fundamental, 522 alunos no ensino médio. Conta com 30 alunos que frequentam

sala de recursos multifuncionais. Em relação aos recursos humanos, tem 01 diretor,

10 pedagogos e 02 diretores auxiliares.

4.3 Notas no IDEB das escolas

Nas atuais políticas de avaliação em larga escala, são projetadas, pelo

governo, e dispostas na página do INEP, notas a serem atingidas. A seguir,

seguem, conforme site do INEP, as metas projetadas para as escolas A e B.

ESCOLAS MÉDIAS PROJETADAS 8º SÉRIE 9º ANO

Escola A

2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

4,1 4,4 4,8 5,2 5,4 5,7 5,9

Escola B

2009 2011 2013 2015 2017 2019 2021

3,2 3,5 3,9 4,3 4,6 4,8 5,1

Abaixo, seguem as médias atingidas:

MÉDIAS ATINGIDAS 8º SÉRIE 9º ANO

2005 2007 2009 2011 2013

ESCOLA A

4,1 4,6 5,6 5,7 60

ESCOLA B

3,0 4,1 4,1 3,9 4.0

4.4 Entrevista com a diretora da escola A

Segundo a Diretora, a escola organiza-se da seguinte maneira desde 2005:

os/as alunos advindos das séries iniciais (rede municipal) que ingressam ao 6º ano,

passam por uma avaliação diagnóstica com o instrumento prova, de Língua

Portuguesa e Matemática. De posse desses dados, são feitos encaminhamentos

para Salas de Apoio de Língua Portuguesa e Matemática, no contra turno, aos

alunos com dificuldade. Os dados também servem de referência para o

planejamento e orientação pedagógica. Ficou evidenciado que os critérios adotados

na Prova Brasil interferem no planejamento escolar. Por exemplo, com relação ao

SAEP e com o PAD, a escola recebe um caderno com os resultados e

planejamento de ações, ao qual é dado prioridade também. Porém, em 2013 em

função da criação e aplicação do SAEP para o 6º ano, a escola não aplicou a

avaliação própria, e sim a externa. A partir dos dados obtidos os trabalhos foram

direcionados. Para o 9º ano, os conteúdos deram ênfase aos descritores. Foram

realizados 06 simulados para verificar a aprendizagem destes conteúdos e, a partir

deste diagnóstico, realizar as intervenções pedagógicas para superar as

defasagens.

4.5 Entrevista com a diretora da Escola B

Segundo a diretora do colégio B, os professores dos sextos anos percebem

defasagens nos alunos nas áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Os alunos

com dificuldades nestas disciplinas são encaminhados para as Salas de Apoio, no

contra turno. Para o 9º foi realizado simulado, no intuito de prepará-los para

responder provas com gabarito, para verificar a aprendizagem e realizar as

possíveis intervenções pedagógicas.

TABELA 01 – ATUAÇÃO NA ESCOLA/PARTICIPAÇÃO DA ELABORAÇÃO DE DOCUMENTOS

ESCOLARES/PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE APLICAÇÃO DA PROVA BRASIL DO 9º ANO

TÓPICOS PEDAGOGO 01 PEDAGOGO 02 PEDAGOGO 03 PEDAGOGO 04

ATUAÇÃO NA ESCOLA

Possui 20 anos de

profissão, 03 anos

na rede estadual.

Há dois anos

02 anos indo para

o terceiro na

escola A

10 anos na Rede Estadual, 03 anos na escola B.

02 anos e meio na Rede Estadual, 06 meses na escola B.

trabalha no

escola B

CONHECIMENTO E PARTICIPAÇÃO NA ELABORAÇÃO DO REGIMENTO ESCOLAR E DO PPP

Não participou da elaboração, mas fez análise.

Não participou da elaboração dos dois documentos, porque as produções são divididas por período, cada período fica com a responsabilidade de elaborar um documento, depois é analisado e conhecido por todas as pedagogas.

Participou da reformulação do Regimento Escolar e participa a cada semestre da análise e realimentação do Projeto Político Pedagógico.

Não participou da elaboração e nem da análise durante a semana pedagógica do início do ano letivo na escola B, porque só assumiu a função na escola em março de 2014.

TABELA 02 - PARTICIPAÇÃO NA APLICAÇÃO DA PROVA BRASIL DO 9º ANO.

PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO DE APLICAÇÃO DA PROVA BRASIL DO 9º ANO

PEDAGOGO 01 Sim. Seleciona as turmas e na correção dos gabaritos (Olimpíadas de Matemática). Orientação aos professores. Pergunta se os alunos fizeram simulados no ano de Prova Brasil. Sim 02 simulados. Perguntei qual era o objetivo dos simulados. A pedagoga disse que era pra se preparar melhor pra prova, questão de concentração em relação ao preenchimento dos gabaritos. Como deveriam agir na hora da prova. Segundo a pedagoga questão de aprendizagem mesmo.

PEDAGOGO 02 Acompanhei. Na última prova Brasil acompanhei todo o processo. Na distribuição do Trabalho Pedagógico da escola você ficou com o acompanhamento dos 9º anos? Sim. Daí assim foi um trabalho de conscientização também da importância. Porque o aluno que estuda no período da tarde, ele não gosta de vir de manhã pra escola. Ele tem uma dificuldade. Foi um trabalho bem difícil. Você tem que convencê-lo que precisa frequentar a sala de apoio. O acordar cedo pra ele é bem difícil. Foi um trabalho bem intenso com esses alunos. A mesma coisa com os alunos da manhã, “eu já estudo de manhã, pra quê preciso ir a tarde?”. Então assim, aproveita essa oportunidade. A mentalidade que eles têm da sala de apoio é que sala de apoio é pra aquele aluno que não sabe. Aquele aluno que não aprendeu. Não é só pra isso. Na verdade é para aquele aluno que está aprendendo naquele momento. Então o professor pode voltar um pouquinho e dizer é assim. Nós percebemos o gradativo progresso, até no sentido da diminuição da evasão, reprovação. Então os alunos dos nonos anos como foi feito esse trabalho eles foram muito bem. Fez a diferença. Não só voltado a avaliação externa. O Trabalho ano dessa avaliação é um pouco mais intenso. Mas o simulado, aqui no colégio... Tem todos os anos. Ele existe além dos anos de prova Brasil e SAEP. Os professores cobram trabalham produção de texto com os alunos. Do 6º ao 8º ano, os alunos tem caderno de redação. No 9º ano tem uma ficha (espécie de formulário) para que o aluno tenha noção de quantas linhas devem ser usadas. Os

professores já avaliam se teve coerência ou não. Se ele colocou título. O professor corrige e devolve para o aluno. Como são 05 aulas... Uma produção textual a cada mês, o professor consegue trabalhar e avaliar. Uma pena que esse ano não tenha sala de apoio. Nós trabalhamos neste sentido. Mas nós já conseguimos conscientizá-los de que no Ensino Médio devem ter outra postura. Sendo mais cobrados, num ritmo acelerado. Existe um acompanhamento da avaliação escrita.

PEDAGOGO 03 Sim, acompanho. Naquele ano, tivemos que trabalhar muito com a sala de apoio. Nosso trabalho ficou focado nisso, para que o aluno venha, para que o aluno participe. Não se evada. Nós focamos o nosso trabalho naquele ano pro nono ano. Para que o aluno vá bem, na prova. Acaba interferindo nisso nosso trabalho, manipulando, não seria essa a palavra, mas focando nisso. Esse trabalho de acompanhamento ocorre em todas as turmas, mas nesse ano foi intensificado.

PEDAGOGO 04 Sim. Minha participação foi na distribuição das provas, organização, nas orientações com professores numa forma mais geral. Não especificamente dentro de sala.

TABELA 03- OPINIÃO SOBRE A AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA BASEADAS EM TESTES

PADRONIZADOS

OPINIÃO SOBRE A IMPORTÂNCIA DAS AVALIAÇÕES EM LARGA ESCALA.

PEDAGOGO 01

Disse que toda avaliação beneficia o aluno. Desde seja feita pra uma melhor aprendizagem para os alunos levar pra vida. E acredita que a avaliação em larga escala contribui pra aprendizagem do aluno. Eu acredito que sim, que se aluno, se empenha e tem interesse toda avaliação é importante.

PEDAGOGO 02

Contribui. Acredita que sim, porque se vem pra avaliar o que o aluno não está assimilando em relação aos descritores e se os professores planejarem para ajudar a superar. Acredito que ajuda muito. Eu acho que é importante. Eu acho muito pessoal. Porque se você parar pra pensar, existem os que acham que sim e os que acham que não. Até pela região que as escolas estão inseridas. Eu falo pela realidade que eu conheço. Que indica qualidade sim. Até pelos alunos que vêm de classe média... Os pais pesquisam que nota que a escola teve. Quando é divulgada essa nota, a escola fica bem vista. É uma escola boa pra deixar seu filho. E a escola que não obteve aquela nota, de repente já é descartada pelos pais.

PEDAGOGO 03

É uma avaliação que o governo coloca para as escolas, dita para avaliar o rendimento escolar das escolas. Só que na verdade a gente observa que não é bem isso. Por que governo acaba fazendo com que haja competição entre as escolas. Pela nota que a escola tira. E acaba sim interferindo no nosso trabalho pedagógico, principalmente nos anos da avaliação, a escola se volta pra essa avaliação. E a gente acaba tendo que se focar somente nisso. Focar no como preencher uma prova, sem se importar realmente com a qualidade na educação, mas, para ir bem na prova, pra ser bem avaliada, para tirar uma boa nota e ser bem vista pelo sistema educacional. Então na verdade, acaba que não avalia a aprendizagem ou a qualidade da educação da escola, mas sim se os alunos foram ou não foram bem na prova e enfim depois acaba elencando as escolas, a melhor e a pior... Como eu disse antes, eu penso que elas não estão contribuindo. Ela não prova realmente aprendizagem do aluno. Ela prova aquela prova que o aluno fez. Não avalia a localidade que a escola está inserida. Não leva em consideração a realidade social da escola. Não leva em consideração nada disso. Leva em consideração àquela prova que o aluno tá fazendo. Considera a evasão da escola. Mas não considera o porquê da evasão e a qual é realidade social daquela escola.

PEDAGOGO 04 Acredito que sim. Pois através dos resultados dessas avaliações. Nós podemos

criar metas, estabelecer parâmetros e também melhorar e superar esses resultados já alcançados. No município de Foz do Iguaçu séries iniciais, há pontos positivos e negativos, em relação à Prova Brasil do 5º ano: Pontos positivos porque se criou uma expectativa de superação, de melhorar a qualidade, de realmente até ansiedade para realizar esta prova. Porém, também criou um clima, também acredito que no meu ponto de vista, foi negativo, de competitividade entre as escolas. Então se criou assim certa divergência. Um pouco de competição. E acredito que isso não foi legal. Porque é um sistema municipal, no caso, é um só sistema e que a gente não deveria competir, porque cada escola tem sua realidade... Tem seus alunos, é diferente. Deveria ter uma avaliação pra cada realidade.

TABELA 03 - OPINIÃO SOBRE RELAÇÕES ENTRE GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO EM

LARGA ESCALA

OPINIÃO SOBRE RELAÇÕES ENTRE GESTÃO ESCOLAR E AVALIAÇÃO EM LARGA ESCALA

PEDAGOGO 01

Eu acredito que sim. Tudo que vem a mais... Exatamente agora estou envolvida com a Olimpíada de Matemática... “Tem que sentar, selecionar turmas, organizar... Poderia fazer outras coisas mas não posso, por exemplo atender os alunos em relação ao Conselho de Classe.

PEDAGOGO 02

Influenciam sim. Você organiza esse trabalho pedagógico de avaliação em larga escala com o nono ano. Então no início do ano os professores sentaram e analisaram os dados e fizeram um projeto. A partir do IDEB e da Prova Brasil, os professores fizeram projetinhos para trabalharem de alguma forma. Abaixo do desejado elevado eles analisaram. Os resultados do SAEP vieram mais detalhados. Assim os professores puderam analisar os dados e a partir daí desenvolver um trabalho com os alunos que apresentaram baixo desempenho relacionado aos descritores de 6º ano e 9º ano com os alunos.

PEDAGOGO 03

A gente desempenha mais do que as nossas funções como pedagoga na escola. “Como Bombril 1001 funções na escola”. Desde professor substituto a Assistente Social, várias funções que a gente tem que desempenhar por conta das necessidades da escola. Tendo que desempenhar vários papéis na escola. É uma rotina discutir dados do IDEB nas semanas pedagógicas, avaliarmos os resultados da nossa escola. É uma prática da nossa escola. Não posso dizer pelas nossas escolas como é feito esse trabalho. Mas aqui na escola é uma rotina. Estramos discutindo porque tivemos esse resultado e ações que temos que desempenhar a partir disso. Como já falei a gente acaba tendo que desempenhar outras funções por conta das demandas impostas a escola. Por exemplo, nosso papel seria a mediação do processo ensino aprendizagem entre aluno e professor e muitas vezes a gente tem que ficar focando o nosso papel para um bom desempenho nessas provas. Não nesse papel de mediação, porque a escola tem que ir bem nessa avaliação, até porque para o Estado ter um bom resultado, ter um bom investimento de organismos que estão envolvidos com essa avaliação... Penso que não isso o foco da escola, muitas vezes essas avaliações eles preparam os alunos pra fazer a prova. O aluno é bom pra fazer aquela a prova, o aluno não é bom em todo o processo de ensino aprendizagem. A escola muitas vezes foca treina o aluno pra tá desempenhando essa prova, pra tá preenchendo corretamente questionário e acaba esquecendo o real papel dela (escola) no processo de ensino aprendizagem. Isso interfere no nosso trabalho, claro. A gente acaba envolvida nesse treinamento. As demandas As demandas, eu não sei te dizer se aumentaram ou se desvirtuaram, acabaram por modificar o papel do pedagogo. A gente deveria estar mediando esse processo. Mediando esse processo de ensino de ensino e aprendizagem. Possibilitando um bom rendimento escolar no final do ano. Principalmente nos anos de Prova Brasil a gente foca num bom resultado na

avaliação e não na aprendizagem. O foco não no sucesso do processo de ensino e aprendizagem e sim no sucesso da prova. Ou seja, seria um treinamento para aquela prova. Não posso afirmar que seria em todas as escolas, mas a gente observa que na maioria das escolas, isso é feito. Os esforços são para que a escola vá bem

PEDAGOGO 04

Não. Não interferem porque os professores já trabalham durante o ano letivo preparando o aluno para que também se adapte a avaliação. O que interfere é no dia realmente. Que a gente precisa remanejar professor; Criar um horário específico; No dia que interfere mesmo. Uma coisa assim que é pontual.

As pedagogas entrevistadas, todas com formação em Pedagogia e Pós-

graduação, afirmam não terem tido uma formação específica sobre a temática da

avaliação em larga escala. Também afirmam que a autonomia no desempenho de

suas funções é relativa. As pedagogas têm autonomia relativa no desempenho de

suas funções, ou seja, na organização do trabalho pedagógico no interior das

escolas, já que estas funções são desencadeadas a partir das demandas

emanadas da mantenedora. Embora cada escola tenha sua realidade escolar, o

currículo, o calendário, os ritmos são mais ou menos padronizados, cabendo a cada

escola adequar-se. Assim as demandas emanadas da mantenedora em relação às

avaliações em larga recebem mais ênfase ou não dependendo da gestão da escola.

Um fato marcante é o de haver pedagogo para atender especificamente os nonos

anos e as demandas decorrentes da realização da Prova Brasil.

5 Considerações Finais

Mesmo no colégio, onde não há um trabalho intensivo para melhoria dos

índices, focado nas avaliações externas, verifica-se nas observações preliminares

que a aplicação das avaliações em larga escala interfere diretamente na

organização do trabalho pedagógico, pois devido à ênfase no controle do Estado

seja, Federal, Estadual o Municipal, aumentam as demandas pedagógicas no

interior das escolas. Demandas ampliadas para dar conta das sistematizações e

cumprimento das metas estabelecidas pelo mantenedor ou até organismos

internacionais a fim de melhorar os índices. Conforme constatação do Joint

Commitee on Standards for Educational Evaluation (1981), "a avaliação é parte

inevitável de todo empreendimento humano", citado por CARDOSO (1999). Porém,

a questão é: a quem cabe avaliar? Ao Estado cabe a função de Executor (seja na

esfera municipal, federal ou estadual). No entanto, nesta atual conjuntura, o Estado

assume o papel de Avaliador eximindo-se cada vez mais de sua função primordial.

Entende-se que avaliar implica em confrontar dados e atribuir juízo de valor, mas

não apenas informar.

Em uma perspectiva emancipatória, democrática de avaliação da

aprendizagem escolar, avaliar é diagnosticar, analisar e realizar intervenção

didática pedagógica essencial no processo de ensino aprendizagem. No entanto, o

objetivo das avaliações em larga escala diverge deste pressuposto, ao coletar

dados e informar, mapear, ao fazer um ranking das escolas, atrelando qualidade da

educação aos escores obtidos nos testes padronizados. Tem-se como hipótese, a

ser confirmada em pesquisas posteriores, que as avaliações em larga escala

provocam estreitamento curricular, tensão, competição entre escolas e professores,

estimulando nos pais a seleção de uma ou de outra escola, contrariando a proposta

de educação de qualidade para todos.

5.REFERÊNCIAS

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