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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS APLICADOS À APRENDIZAGEM DE NOÇÕES DE ECONOMIA E ESTATÍSTICA

Autora: Marlene Ananias1

Orientador: Cesar Pereira2

RESUMO

O presente artigo aborda resultados da implementação de uma unidade didática junto aos

alunos dos nonos anos A e B do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Vera Cruz – CEVEC, na

cidade de Mandaguari-PR, no período de fevereiro a julho/2014. Contempla contribuições de um grupo

de professores participantes do GTR – Grupo de Trabalho em Rede. Trabalhos estes, desenvolvidos e

regulamentados por meio do PDE/2013 – Programa de Desenvolvimento Educacional de formação

continuada da Rede Pública Estadual do Paraná. Nesse conjunto de propostas se procurou perceber

como um elenco de conhecimentos matemáticos podem ser aplicados à aprendizagem de noções de

Economia e Estatística, possibilitando ações que podem contemplar sugestões de práticas

pedagógicas propostas pela LDB 9394/96 em relação ao ensino de Matemática. Focou o orçamento

familiar ou doméstico para realização de estudos, reflexões e pesquisas junto às famílias com a

finalidade de aproximar a realidade da sala de aula às necessidade dos membros familiares por meio

de questões de consumo, gastos, variação de preços, recebimento salarial, poupança e

sustentabilidade. As questões se desdobraram em atividades de ensino e aprendizagem de conteúdos

matemáticos permeados por noções de Economia e Estatística visando promover a formação de

indivíduos conscientes para uma Educação Econômica sustentável primeiramente em seu núcleo

familiar. Nesse contexto se pôde também levantar pontos relevantes, face a percepção da mínima

adoção desta forma de educação frente ao uso de recursos, dentre eles o financeiro.

Palavras chaves: Aprendizagem matemática. Transversalidade. Orçamento familiar.

Educação Econômica.

1. INTRODUÇÃO

Diferentes abordagens de ensino-aprendizagem se tornam importantes

recursos na melhoria do entendimento dos conteúdos (SANTALÓ; 1996). O trabalho

1 Especialista em Ensino da Matemática, Supervisão, Orientação e Administração Escolar. Pedagoga e Bacharel

em Ciências Econômicas. Professora de Matemática e da Educação Profissionalizante da Rede Pública Estadual

do Paraná. 2 Mestre. Departamento de Matemática da Universidade Estadual de Maringá.

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de pesquisa em educação matemática e escola desenvolvido junto aos alunos dos

nonos anos A e B do Ensino Fundamental no Colégio Estadual Vera Cruz CEVEC,

trouxe consigo o desejo de aliar conhecimentos da Matemática, já desde as séries

finais do Ensino Fundamental às aplicabilidades presentes nos demais campos do

conhecimento, dentre eles os campos econômico e estatístico, tão presentes no

cotidiano das pessoas.

Atualmente professores buscam dar sentido ao que ensinam. Da mesma

forma alunos caminham questionando para que aprendem isto ou aquilo. Há a

sensação de que os elementos envolvidos diretamente no processo ensino-

aprendizagem caminham ao encontro de novas possibilidades de aprendizagens mais

significativas, prazerosas e ativas pelo envolvimento de tecnologias informacionais e

uso de outras mídias.

“... propõe-se que o currículo da Educação Básica ofereça, ao estudante, a formação da realidade social, econômica e política de seu tempo. Esta ambição remete às reflexões de Gramsci em sua defesa de uma educação na qual o espaço de conhecimento, na escola, deveria equivaler à ideia de atelier-biblioteca-oficina, em favor de uma formação, a um só tempo, humanística e tecnológica” (PARANA, 2008, p. 20).

Nossos jovens vivem num cenário aparentemente sem grandes variações de

preço na maioria dos produtos consumidos pela família. Também se percebe que nas

escolas brasileiras há poucas discussões à cerca de questões de consumo, gastos,

endividamento familiar e consumo responsável e planejado. Poucas crianças têm

como hábito guardar dinheiro, comparar preços ou escolher produtos mais baratos.

Conforme aponta (ANDRADE, 2013), nossa juventude desconhece a

desvalorização continuada e generalizada do dinheiro, também chamada inflação.

Salientar a participação da Educação Matemática promovendo a cidadania a

partir de questões da realidade social dos alunos reforça o papel fundamental da

escola nesta tarefa de multiplicar em vários os instrumentais de exercício pleno da

cidadania por meio de conceitos contidos na Economia e Estatística, particularmente

voltados para uma educação econômica3.

O trabalho pretendeu permitir aos alunos o diálogo com os familiares sobre

como acontece a dinâmica da origem e destinação dos recursos aplicados na

satisfação das necessidades dos membros da família. Na relação pedagógica com o

3 Segundo ARAUJO (2009) p. 67, a Educação Econômica se constitui por ações educativas que têm objetivos de fornecer às

crianças e jovens noções básicas sobre economia e consumo e proporcionar-lhes estratégias que auxiliem na condução de

situações cotidianas e a se posicionarem como pessoas conscientes, criticas, responsáveis e solidárias

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tema proposto os educandos puderam relacionar conceitualmente função do 1º grau,

identificando diferentes formas de registro. Quanto ao tratamento da informação

discorreram situações estatísticas e outras permeadas por porcentagens, juros

simples e traçado de funções do 1º grau utilizando o software Geogebra.

No campo relacional de epistemologia, conhecimento, metodologia e

aceitação da proposta encaminhada à comunidade escolar, pretendeu iniciar

atividades exploratórias do tema orçamento familiar ou doméstico junto aos membros

familiares em especial junto aos alunos do nono ano e seus pais. Houve também a

intenção semear o conceito do que vem a ser Educação Econômica.

2. CONCEPÇÕES E ABORDAGENS TEÓRICAS

Atualmente a busca pela aprendizagem significativa promove pesquisas e o

desenvolvimento de sugestões metodológicas que possibilitam tornar o ensino mais

atraente e significativo para o aluno. Desta forma se pretende que o papel do professor

seja o de introduzir novos instrumentais matemáticas aos alunos, com a consciência

de que cada um traz consigo uma bagagem de ferramentas alternativas para qualquer

situação de resolução de problemas. Verifica-se então, a necessidade de se valorizar

aquilo que os alunos sabem e usar esse conhecimento para ajudá-los a saltar para

novos mundos de conhecimentos (SUTHERLAND, 2012). Nesta mesma linha de

pensamento se agregam as contribuições de (VERGNAUD, 2012) quando propõe que

a aprendizagem da Matemática precisa ir além do cálculo numérico.

“... é necessário trabalhar com uma boa noção epistemológica da Matemática. A conceituação matemática fundamenta-se em uma série de objetos e ralações que não são apenas numéricas. Pensemos, por exemplo, nas situações de proporção, que são muito importantes na matemática: nelas não há somente números, há também relações entre grandezas de mesma natureza e de naturezas diferentes, e tudo isso não é só puramente numérico.” (VERGNAUD, 2012).

O fato de se pensar numa educação matemática que contemple a possibilidade

se visitar outros campos de conhecimento para trazer significados ao aprendizado

pode ser verificado nos Parâmetros Curriculares (PCN) de 5ª à 8ª publicados em 1988.

Neste documento se pode perceber o registro quanto à importância do papel da

Matemática no estudo de diversos temas transversais (PONTE, 2009, p. 134 – 138).

Também é possível encontrar subsídios afirmativos do caráter transdisciplinar

dos conteúdos matemáticos nos encaminhamentos metodológicos presentes nas

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Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, onde expõe que a

modelagem matemática tem como pressuposto a problematização de situações do

cotidiano constituintes como partes integrantes de outras disciplinas (PARANÁ, 2008,

p. 64).

É importante dizer que algumas formas de linguagens e códigos como:

linguagem algébrica, linguagem natural (escrita), tabelas e gráficos são elementos

para se perceber articulações que o professor poderá explorar em suas atividades

buscando uma maior apreensão do objeto de conhecimento pretendido (LOPES;

FREITAS).

No decorrer do trabalho desenvolvido se coordenou diferentes registros nos

estudo dos conteúdos abordados, especificamente quanto ao trato com a função

linear conotada para a identificação do salário, receita, despesas e poupança,

tomando por base a afirmação de (DAMM, 2010, p.170 apud SALGUEIRO, 2011):

[...] as representações através de símbolos, signos, códigos, tabelas, gráficos, algoritmos, desenhos é bastante significativa, pois permite a comunicação entre os sujeitos e as atividades cognitivas do pensamento, permitindo registros de representações diferentes de um mesmo objeto matemático. Por exemplo, a função pode ser representada através da expressão algébrica, tabelas e/ou gráficos, que são diferentes registros de representação.

Para Duval (1995), apud (LOPES; FREITAS) ao levantarmos a questão da

aprendizagem da matemática devemos levar em conta os conteúdos matemáticos e

o funcionamento cognitivo do aluno, observando suas produções e buscando um

modelo que seja pertinente para analisar e interpretar tais produções.

Segundo Plaisance e Vergnaud (2003) apud NERES (2010, p.57), o aumento

do conhecimento pode ser classificado em quatro ideias: a atividade do sujeito que

aprende; a oferta de situações favoráveis ao aprendizado; a troca de experiências

com as pessoas do seu entorno e a utilização de formas linguísticas e de formas

simbólicas, para comunicar e representar.

3. EDUCAÇÃO ECONÔMICA: POSSIBILIDADES FACE A SUA PROPOSIÇÃO

Conceitos de ordem financeira e econômica se transpõem na medida em que

os objetos de conhecimento disciplinar também o fazem em seus respectivos campos

abordados.

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A Educação Econômica se constitui por ações educativas que têm por objetivos

o fornecimento de noções básicas sobre economia e relações consumo.

Neste bojo educativo há a necessidade de se proporcionar estratégias que

auxiliem na condução de situações cotidianas referentes as decisões de consumo

frente a escassez de recursos.

É importante ressaltar que a Educação Econômica é uma nova área curricular

surgida após investigações da Psicologia Econômica, cujo foco é questões financeiras

e de relações de consumo, buscando favorecer o desenvolvimento de novos

comportamentos para auxiliar as pessoas a enfrentarem os desafios econômicos de

decisões de consumo cotidiano e viver com qualidade sustentável hoje e amanhã.

“Desta maneira, a educação econômica precisa ser inserida no currículo escolar, pois toda criança necessita ter acesso a noções de poupança, investimentos, consumismo, financiamento de bens de consumo, pois da mesma maneira que já são, elas certamente continuarão sendo assediadas pelas muitas propagandas muito bem elaboradas, que visam o enriquecimento próprio e, desta forma, elas precisam de orientações tanto na escola quanto na família sobre como entender a sutil diferença entre o que se realmente precisa daquilo que apenas se deseja comprar,” BUENO (2010).

Tomando por base ARAUJO (2009) e BUENO (2010), é possível estabelecer

uma análise de que é necessário ir além da relação quantitativa e qualitativa que se

estabelece com o dinheiro, caracteristicamente estabelecida pela ordem da Educação

Financeira.

Por meio de alguns pontos apresentados nos estudo realizados pelo EDUCOM

- Grupo de Estudos “Educação Econômica e Teoria Piagetiana” (2011) é possível

elencar algumas características averiguadas em pesquisas que envolvem o público

jovem e familiares, as quais são destaque:

“1- Observa-se que crianças e jovens de diferentes níveis socioeconômicos estão inseridas num contexto no qual:

O consumo está presente na vida das crianças e jovens;

Recebem massivamente dinheiro;

Compram ou querem comprar os mesmos itens;

Desejo de compra se concentra em eletrônicos;

Poupam para gastar depois;

Necessidades satisfeitas pelos pais e, mesmo assim, recebem dinheiro para seus gastos.

Todos têm acesso às diferentes mídias;

A televisão é a rainha da mídia;

Assistem a comerciais;

Tecnologias estão presentes na maioria dos lares. 2 – Em relação aos pais e educadores, observa-se que:

Um número expressivo disponibiliza dinheiro para os filhos sempre que pedem ou precisam;

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Baixo percentual utiliza a oferta regular de dinheiro na forma de mesada ou semanada para que os filhos tenham o compromisso de administrá-lo;

Tendem a comprar ou querer comprar o que os filhos pedem;

Tecnologias estão presentes na maioria dos lares, têm acesso às diferentes mídias;

Apresentam, predominantemente, comportamentos econômicos intuitivos e não planejados na administração financeira;

Defendem a importância de controlar o dinheiro e de poupar, mas recorrerem frequentemente ao crédito;

Sente-se despreparados diante da massificação do consumo e dos apelos do marketing;

Acreditam que a educação econômica deva fazer parte da formação das crianças, mas não promovem ações sistemáticas para fomentar hábitos e condutas adequadas para o consumo.

Sendo assim, o processo de Educação Econômica, perpassa por âmbitos mais

restritos de se compreender o mundo econômico e de interpretar os acontecimentos

que afetam a alfabetização econômica. Esta Alfabetização trata de se ir ao encontro

da compreensão dos conceitos econômicos e financeiros básicos existentes na

sociedade, tais como: consumo, gastos, poupança, leis de oferta e demanda, valor do

dinheiro, juros e outros de maior complexidade. É importante aliar a eles, os processos

econômicos e os seus impactos sobre a conduta familiar, de indivíduos adultos,

crianças e jovens. Tais conceitos permitem compreender o mundo econômico e

interpretar os acontecimentos que os afetam direta ou indiretamente, possibilitando

tomadas de decisões racionais e viabilidades de melhores controles sobre futuro

econômico (FERMIANO, 2010), de modo a realmente se distinguir necessidade de

desejo ou impulso de consumo.

4. CONTRIBUIÇÕES DOS PROFESSORES CURSISTAS GTR – GRUPO DE

TRABALHO EM REDE

Os professores cursistas do GTR (Grupo de trabalho em rede) trocaram ideias

em torno dos fundamentos teóricos relacionados à temática proposta. Também

refletiram sobre a contribuição deste projeto para a escola pública de modo geral.

Foram realizadas atividades expressas em fóruns e diários. Nos fóruns foram

abordados diversos parâmetros percebidos pelos professores junto à leitura do projeto

proposto. Enfatizaram a importância de se inserir desde as séries finais do ensino

fundamental o trato com ensino da matemática financeira, noções de Economia,

Estatística e questões relacionadas ao consumo consciente. Apontaram também para

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a necessidade de revisão em documentos legais da escola como PPP, garantindo que

o currículo possa justificar esta educação financeiro-econômica pelo viés da

transdisciplinaridade dos conteúdos de Economia e Estatística.

Alertaram também para a amplitude da proposta e que a realidade de cada

escola deve ser levada em consideração.

Nos diários as reflexões se mostraram fundamentadas na teoria sugerida e

além.

Ficou firmada pela fala dos cursistas a importância deste tema como aliado

para tornar o ensino da matemática mais ativo e significativo no enfrentamento de

questões voltadas para o consumo e relacionamento com o orçamento doméstico ou

familiar. Entenderam que a parceria entre família e escola é necessária à melhoria da

aprendizagem dos alunos.

No referente à Unidade Didática, os professores cursistas se socializaram

com a Produção Didático-pedagógica estabelecendo olhares para as possibilidades

que a proposição oferece em termos de aplicabilidade na sua realidade escolar.

Uma preocupação recorrente do grupo é de que a realidade de cada escola

deve ser considerada. O desinteresse dos pais pela rotina escolar dos filhos também

se despontou como um dos grandes desafios. Também apontaram para a

possibilidade de alguns pais não aderirem à proposta em função do receio da

exposição de dados familiares principalmente no tocante ao rendimento familiar.

Salientaram que o tema é necessário no cenário brasileiro para o pleno

desenvolvimento dos cidadãos, do país e dos conhecimentos matemáticos. Levar os

jovens a se preocuparem com questões de escassez de recursos e a refletirem suas

relações com estes recursos frentes às ilimitadas necessidades das pessoas pode ser

um dos caminhos para se melhorar questões de ensino-aprendizagem.

Também tiveram um olhar voltado para as metodologias e estratégias

propostas, fundamentadas na valoração dos diferentes registros possibilitando a

melhor compreensão do aluno frente aos conteúdos envolvidos.

Foi discutido o papel que a verdadeira leitura matemática tem em desvelar

relações de juros, compra e venda ora exercidos pela mídia na contramão do

realinhamento dos nossos hábitos de consumo.

O conceito de Educação Econômica surgiu como nova possibilidade

explicativa para se “entender a sutil diferença entre o que se realmente precisa daquilo

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que apenas se deseja comprar"(BUENO, 2010). Apontaram para o dimensionamento

da atuação do professor como facilitador, investigador, construtor e gerador de

processos para a promoção do conhecimento pedagógico.

Nesta etapa de trabalhos do PDE- Programa de Desenvolvimento

Educacional voltados para o GTR – Grupo de Trabalho em Rede, se verificou que os

cursistas tiveram diferentes formas de contribuição. Alguns relataram atividades

desenvolvidas em suas práticas, outros propuseram atividades a serem desenvolvidas

utilizando estratégias utilizadas no projeto. Houve ainda aqueles que selecionaram

uma das atividades propostas no projeto e aplicaram junto a seus alunos. Segundo

estes, os alunos também se demonstraram interessados e ativos em relação aos

conhecimentos trabalhados.

De modo geral, ficou demonstrado que os cursistas compartilharam da

importância de se levar o jovem estudante a participar mais das atividades realizadas

pela família. Convidar os familiares a conversar sobre os gastos, receitas, poupança

e aplicação gerenciada dos recursos disponíveis frente às nossas ilimitadas

necessidades.

Salientaram que é importante a consideração das diferentes realidades

escolares. Ficou demonstrado que mesmo com realidades diferentes, a proposta

didático-pedagógica é viável e absorve ajustes de forma positiva.

A forma de abordagem das contribuições e sugestões de atividades, bem

como os relatos ocorridos trouxeram contribuições para o enriquecimento da unidade

didática com posteriores reflexões e registros.

Compartilho neste momento o registro da fala de alguns professores, os

quais seguem:

Prof. “A”: [...] Sendo assim me empolga a riqueza da diversidade de registros que o educando poderá obter, por meio da produção didático pedagógica da professora Marlene. Culmina no que desejamos que é produzir e consolidar na vida do educando princípios de Educação Matemática, e que este sujeito levará por toda vida pessoal ou acadêmica.” Prof. “B”: “Esta citação no início da apresentação da unidade didático pedagógica: “...Entende que o aprendiz resgata do seu cognitivo conceitos, situações e esquemas para dar suporte a novas aprendizagens VERGNAUD ...”, chamou-me a atenção dentre as várias ideias apontadas para implementação do projeto de intervenção. Pois penso que a professora Marlene Ananias, traz resposta à questões que foram levantadas no XI Encontro Nacional de Educação Matemática - Curitiba – Paraná, 18 a 21 de julho de 2013 no trabalho sob o título: O ENSINO DA ÁLGEBRA DE ACORDO COM TEORIA DOS REGISTROS DE REPRESENTAÇÃO SEMIÓTICA SEGUNDO RAYMOND DUVAL, entre muitas lá apresentadas, lembro-me de algumas que exponho: quais sistemas, estruturas ou capacidades do sujeito

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são necessárias ou mobilizadas para ter acesso aos objetos, diretamente ou por uma sequência de processos conscientes ou não conscientes? Qual a natureza da relação cognitiva entre esses processos e os objetos? Não tenho certeza se relacionei corretamente as propostas. Mas quando fornecemos uma preocupação ao educando, como exemplo “orçamento familiar”, estamos ampliando elementos à serem conhecidos e experimentados pelos educandos que irão contribuir para” ... a diversidade dos registros de representação semiótica que ela mobiliza obrigatoriamente. [...].” E neste ponto poderíamos dar conhecimento ao aluno de uma série de símbolos atendendo a três condições, para que um registro seja convertido em outro, sem dificuldades, ou de forma espontânea.”

Prof. “C”: O que chama a atenção também é a atividade sobre como economizar, o que podemos fazer com o que conseguimos guardar, onde investir, e também economia de água, luz, temas transversais como escassez de água no planeta, e assim por diante. Através do projeto dá pra se estender muito além e olha que tem conteúdo pra trabalhar o ano inteiro, o mais importante não é a quantidade mais a qualidade do projeto e suas aplicações. Para esse bimestre que se inicia aplicarei a tabela da cesta básica, de itens e preços.” Prof. “D”: Considero sua Produção muito pertinente à nossa realidade escolar e oportuno ao momento financeiro que estamos vivendo. A forma diferenciada de trabalhar e abordar os conteúdos matemáticos, relacionando-os com as práticas da vida é muito significante para nossos alunos. Abordar o tema "Orçamento Familiar" é interessante mas em alguns momentos pode-se sentir alguma forma de resistência por parte de alunos ou famílias, que não querem mostrar suas particularidades. A forma como foram elaboradas as atividades, abordando os conteúdos matemáticos por meio de vídeos, palestras, planilhas e o uso das tecnologias, tornam as aulas de Matemática mais dinâmicas e interessantes, despertando no aluno o gosto pelo estudo. Prof. “E”: “O tema deste GTR é muito pertinente levando-se em consideração a atual situação financeira, pois muito se foi noticiado que o endividamento dos brasileiros foi recorde em 2013. Infelizmente, no Brasil, já virou uma questão cultural associar a matemática à dor de cabeça, sendo temida pela maioria dos alunos. Pior ainda do que essa relação com a matemática é a relação do brasileiro com o dinheiro. O brasileiro entende muito mal o significado do dinheiro e não sabe se relacionar bem com ele e, atualmente, o dinheiro dita as regras em quase todos, senão em todos os aspectos de nossas vidas. Para que possa haver uma mudança nesse cenário é importante que esses assuntos sejam tratados desde cedo na vida desses jovens. O melhor lugar para que essa mudança comece a acontecer é na escola, já que o papel da escola é educar para o exercício pleno da cidadania.” Prof. “F”: O projeto de intervenção, atende a proposta da pedagogia crítica, onde o professor deixa de ser transmissor de conhecimento, para agir como parceiro de pesquisa, debate os temas pesquisados e conclui junto com o aluno. Com essa postura garante a qualidade da construção do conhecimento científico e avaliação dos saberes adquiridos no processo. Prof. “G”: Usar a disciplina de Matemática, voltada ao cotidiano familiar, é fundamental no entendimento das relações que estabelecemos com o dinheiro, necessidades reais e promovidas pela mídia, o valor do trabalho, o salário, a saúde, impostos, taxas, entre tantos outros. A economia, em consequência, rege o “valor” do dinheiro e, a estatística simplifica os resultados expressos em pesquisas e/ou dados já concretizados pelos consumidores. Ao iniciar a Unidade Didática, a proposição de abordagem de conceitos de economia como ponto de partida é essencial ao

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desenvolvimento do tema: matemática, economia e estatística pois, sem esses conceitos não há como dissertar sobre todo o projeto. Outro ponto, muito bem, colocado e pertinente ao desenvolvimento do trabalho, são as ligações do orçamento doméstico no contexto econômico real da população brasileira como cesta básica, despesas fixas (água, luz, condomínio, transporte, gás, aluguel, entre tantas outras) – as atividades a serem realizadas são da vivência do educando, para o contexto em que foram pensadas, e oportunizam a todos amplo entendimento dos objetivos descritos e desenvolvidos culminando na efetiva análise das reais necessidades da família e, proporcionando dados à família de melhor administrar seus recursos, dando subsídios para canalizar suas despesas e, com isso poupar.

Prof. “H”: “Professora Marlene li e reli o seu projeto, como já comentei, adorei o tema e título, muito coerentes e atual. Os adolescentes gastam sem nenhum limite. Há coisas que muitas vezes nos frustramos em não poder compra-las. O projeto é perfeitamente aplicável em todas as escolas públicas ou privadas, quanto a viabilidade de implementação na escola, sinto uma barreira gigante, já que precisamos deles, os pais para implementá-lo. Na minha escola precisamos fazer sorteio de alguma coisa ou um bingo para atraí-los, já que viramos no meu entendimento babás, mães, psicólogas, menos educadores. Portanto temos que criar um atrativo para chamar os pais ou selecioná-los. O seu Projeto de Intervenção Pedagógica está perfeito, mas na minha escola será difícil a aplicabilidade. Temos muitos alunos assistidos, que são mandados pelo promotor, que não querem nada com nada, e pais que dão Graças a deus por eles, os alunos não estarem roubando nas ruas, ou batendo em alguém. Peço desculpas pelo desabafo, mas nesta semana a polícia e conselho tutelar foram chamados três dias seguidos sem solução nenhuma. Já virou gozação. Nós professores preparamos todo tipo de aula e não alcançamos êxito. Sei que saí do tema proposto mas precisava falar a verdade. Só é professor quem sente amor pela profissão e tem dom, e a tendência é piorar. Sou professora desde que entrei na faculdade com dezesseis anos. Neste ano faço 25 anos de magistério e nunca vi o que está acontecendo. Como já falei o tema é ótimo, a professora, competentíssima mas e a viabilidade…Por favor peço ajuda.”

5. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

Para realização desta proposta pedagógica foi elaborado um caderno de

atividades para ser trabalhado junto aos alunos em 32 horas, organizado em módulos.

Tal caderno de atividade pode ser encontrado na unidade didática, disponibilizado no

SACIR, em www.diaadiaeducacao.pr.gov.br.

No primeiro módulo se introduziu os conceitos econômicos básicos necessários

ao desenrolar da interação proposta para os campos matemático, econômico e

estatístico por meio de palestra aos pais e alunos proferida pela professora Marlene

Ananias. Nesta palestra foi apresentado o projeto à comunidade escolar.

Foram explorados conceitos econômicos, básicos a esta abordagem: recursos

(renda, receita, salários), necessidades, escassez, consumo, despesas, poupança,

trabalho, mão de obra (SILVA, 2010) e orçamento familiar por meio de vídeos. A partir

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daí as atividades formam desenvolvidas com os alunos mediante a colaboração dos

pais nas pesquisas solicitadas.

Os pais vieram para a palestra e trouxeram o filho/aluno e filhos mais jovens.

Participaram e manifestaram o desejo dos filhos poderem refletir sobre questões de

gastos, sobrevivência e planejamento de hoje e do futuro. Estes pais acompanharam

entusiasmados todos os trabalhos desenvolvidos.

Neste primeiro módulo, foram conduzidas atividades pedagógicas a partir do

salário mínimo vigente. Os cálculos permitiram sistematizar os elementos de uma

função do linear. Cada aluno localizou as coordenadas calculadas e traçou o gráfico

percebendo o crescimento do valor a ser recebido em função dos dias trabalhados no

decorrer do mês. Também foi interessante que esta atividade envolvendo o salário

mínimo proporcionou debates à cerca de como é baixo o valor diário ganho por um

trabalhador remunerado pelo salário mínimo.

No segundo módulo, foi proposto o diagnóstico da economia doméstica pela

ótica do orçamento familiar com registros por meio de porcentagens, juros simples e

iniciação à linguagem estatística.

Neste módulo conversamos sobre a estrutura do orçamento familiar focalizando

despesas (variáveis/fixas) e receitas auferidas pelos membros da família. Para isto os

alunos realizaram pesquisas em duplas para organização de um “guia inicial de

conceitos econômicos”. Buscaram informações sobre a cesta básica, tomada de

preços e lista de compras. Os pais colaboraram a partir de informações da despesa e

receita familiar.

A partir das informações obtidas foram exploradas comparações por meio de

porcentagens em relação ao porcentual que cada despesa familiar representava em

relação à renda familiar total. Houve conversação de qual despesa estava maior e se

era possível estabelecer objetivos de diminuição no porcentual apurado.

Foi abordado também se despesas pagas em atraso geram custos maiores.

Por quê? Esta diferença paga pelo atraso é o juro, que representa o custo do dinheiro

que se empresta de outra pessoa ou empresa por um período de tempo.

Um grupo de quatro mães manifestaram a preocupação de estarem expondo

seus valores familiares auferidos. Chegaram até mesmo a se mostrarem invadidas

em sua intimidade familiar financeira. Porém as mães deste grupo não estiveram na

apresentação do projeto no início das atividades. Uma dessas mães manifestou

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também sua obtusidade, pois para ela os conteúdos abordados não faziam parte dos

conteúdos para a série. Segundo o ponto de vista desta mãe uma aluna de nono ano

não tem que aprender conhecimentos de noções Economia e Estatística, pois isso só

deveria ser abordado lá na universidade. Desta forma foi necessário um reunião na

presença da equipe pedagógica e direção escolar para esclarecer novamente os

objetivos e regulamentação estabelecida pelo PDE sobre o projeto proposto, frente às

dúvidas surgidas. Sendo assim, foi reiterado pela professora Marlene Ananias,

idealizadora do estudo proposto que os valores poderiam ser aleatórios não

representando os seus valores familiares, pois as famílias não seriam identificadas

nas informações prestadas pelos filhos. Também foi ratificadamente sugerido que

podiam usar um “codinome” para sua família. Em fim foram informadas alternativas

que não exporiam os seus dados, visto que todas essas informações já era de

conhecimento dos alunos.

Quanto ao fato de que os conteúdos supostamente não pertenceriam ao rol de

conteúdos para a série, foi esclarecido pela professora Marlene Ananias que os

conteúdos foram adaptados aos conteúdos da série de forma a contemplar o plano de

trabalho docente previsto para o nono ano apesentado ao colégio e que a equipe

pedagógica estava ciente do trabalho a ser desenvolvido denominado

“Conhecimentos Matemáticos aplicados à aprendizagem de Economia e Estatística”,

totalmente regulamentado pelo PDE – Programa de desenvolvimento educacional da

SEED/PR – Secretaria de estado da educação do estado do Paraná, por sua vez na

íntegra, disponíveis junto à equipe pedagógica.

No entanto, tal episódio trouxe contribuições valiosíssimas para se perceber

quão distante é a percepção de como o conhecimento matemático está presente na

realidade cotidiana das famílias especialmente quando se refere ao orçamento familiar

ou doméstico e questões de sustentabilidade tendo como foco de planejamento no

núcleo familiar. Esta pequena parcela de mães representou evidências que destoaram

dos restante do grupo de pais, os quais se mostraram interessados e colaborativos

junto aos seus filhos no acompanhamento das atividades propostas. Grande maioria

dos pais, mesmo de origem humilde e com tempo restrito manifestaram total apoio ao

desenvolvimento das atividades propostas permitindo que seus filhos fossem em

período contra turno, lendo e respondendo inclusive com ricas sugestões e avaliações

positivas todas as informações enviadas referentes ao projeto.

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Também no segundo módulo, foi apresentado aos alunos o software Geogebra

onde a maioria do grupo esteve em período contra turno para o desenvolvimento desta

familiarização com este software. As atividades desenvolvidas compreenderam desde

a explicação dos menus utilizados até registro das coordenadas e o gráfico.

O terceiro módulo estabeleceu uma prévia análise dos componentes do

orçamento familiar e do planejamento de metas relacionadas à diminuição da

aplicação dos recursos disponíveis bem como sua otimização perante a satisfação

das necessidades da família. Houve também o registro do “diário de gastos familiar”

por um período de duas semanas. Por meio desta atividade os alunos perceberam a

importância do controle da saída de dinheiro. Chegaram a ficar admirados com a

quantia apurada comparando-a diariamente frente à renda familiar.

Nesta fase foi oportuna a satisfação demonstrada por alguns alunos do nono

ano, pois já têm sonhos do primeiro emprego. Querem ter o seu próprio dinheiro.

Outros ainda se demonstraram bem imaturos. Pareceram não observar a realidade

presente na rotina da vida dos pais: trabalho, sustento, descanso, contas e demais

compromissos. Também foi interessante, o fato da diversidade de informações que

trouxeram acompanhadas de questionamentos, por exemplo: símbolo do transgênico,

por que o litro de óleo tem 900 ml e não 1000 ml, por que na cesta básica não tem

sabão?

Nas situações matemáticas propostas se percebe que há alunos, que lançam

mão de diferentes estratégias de resolução. A incerteza na resolução e no

alinhamento das informações deixaram evidentes a sistematização utilizada por eles,

dos conhecimentos matemáticos presentes nos algoritmos das quatro operações.

O fato de se possibilitar diferentes estratégias, linguagem/registros deixaram os

alunos mais expansivos, questionadores e autônomos nas suas resoluções. (Desde o

início deixei claro para eles, que mesmo sem “enxergar” a resolução deveriam então

escrever o porquê de não ter conseguido resolver).

Um grupo de alunos achou interessante acompanhar os pais nas próximas

compras no supermercado e registrar informações dos gastos da família nos meses

de março, abril e maio de 2014.

No relato da fala de uma aluna, o qual transcrevo “professora, a minha mãe

disse que está gostando muito de eu ir com ela no supermercado e somar o que ela

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vai comprando”, é possível perceber o surgimento de “novo” diálogo entre esta mãe e

filha que passaram a ir juntas às compras da família, com um olhar de controle.

Um outro aluno, disse preferir escrever a lista de comprar porque isto agiliza o

tempo no supermercado.

Foi também interessante ver o resultado de como os alunos proporam

sugestões de economia dos itens considerados de elevado consumo na renda

familiar. Todas as propostas contemplaram a participação coletiva de todos os

membros da família.

No relato do vídeo “Vale a pena economizar?”, reafirmaram a importância de

que é necessário se pensar no futuro, mas que também devemos viver de forma a

contemplar o presente de forma responsável. Reaproveitar recursos e cada um fazer

sua parte na economia da família, pois o que é guardado pode ser revertido para o

bem estar de todos os membros familiares.

Nos quarto e quinto módulos foram destacados a ampliação da forma de

registro dos itens componentes do orçamento familiar com uso do software Geogebra

para a representação gráfica de pontos de funções estabelecidas pelos componentes

do orçamento familiar, por exemplo, as funções receita/renda (salário), poupança e

despesa em cada família. Nesta etapa os alunos também realizaram pesquisas para

registrarem o “guia inicial de termos econômicos” e organizarem painéis, folhetos e

cartazes com dicas de economia, de como economizar de forma sustentável e obter

melhores resultados para a família na aplicação dos recursos não só financeiros

disponíveis à satisfação das ilimitadas necessidades.

O trabalho foi concluído no com uma palestra intitulada “Economizar, guardar e

investir: dos pequenos aos grandes montantes” proferida pelo professor Antonio

Zotarelli, coordenador do departamento de Economia da Universidade Estadual de

Maringá, aos pais e alunos das duas séries participantes do projeto. Nesta

oportunidade foram expostos os folhetos, cartazes e painel elaborados pelos alunos

aos pais. Os alunos participaram ativamente do evento organizando o anfiteatro com

painéis, cartazes e maquetes. Recepcionaram os pais, convidados, palestrante.

Apresentaram e registraram as atividades por meio de fotos e filmagem.

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6. Considerações finais

Este estudo junto aos alunos do ensino fundamental e professores cursistas do

GTR, possibilitou interessantes significações e ressignificações em relação à ideia

inicialmente pretendida. Principalmente pela ampliação e motivação na busca de

novos conhecimentos visando a execução e superação de desafios surgidos no

decorrer do desenvolvimento do projeto.

Aliar proposições de transdisciplinaridade/transversalidade de conteúdos e

objetos de diferentes conhecimentos requer investimentos constantes em pesquisa

por parte dos professores e alunos para superar as lacunas impostas pelo grau de

especialização que cada um contém.

” Segundo (RAMOS, apud PARANÁ, 2008, p.28) “Quando se parte do

contexto de vivência do aluno, é preciso enfrentar as concepções prévias que

eles trazem e que, mesmo consideradas como conhecimento tácito, podem

estar no plano do senso comum, constituído por representações equivocadas

ou limitadas para a compreensão e a explicação da realidade”.

Desta forma os alunos e familiares se mostraram inicialmente receosos em

relação à proposta de ensino-aprendizagem. Foi necessário “quase um

convencimento” justificado pela articulação entre teoria, metodologia e atividades

apresentadas de que é possível tratar de conhecimentos do campo econômico e

estatístico com alunos já nas séries finais do Ensino Fundamental de forma prazerosa

possibilitando o estudo em equipe e desenvolvimento de um olhar crítico sobre as

relações entre recursos e consumo por meio de conhecimentos matemáticos.

Questões de sustentabilidade e planejamento de consumo atual e futuro devem

ser dialogadas no núcleo familiar e se tornar um exercício constante para a formação

de indivíduos ativos e protagonistas quanto à responsabilidade de racionalização do

uso dos recursos frente às necessidades ilimitadas.

Outro dado interessante constatado é que os professores participantes do GTR

também tinham formação em outras áreas de conhecimento em que a Matemática

Aplicada se faz necessária, tais como a própria Economia, Contabilidade, Finanças e

Administração. Esta característica do grupo enriqueceu as contribuições

apresentadas.

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7. REFERÊNCIAS

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