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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3 Cadernos PDE I

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Artigos

Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE

I

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A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NA PRODUÇÃO

DE ALIMENTOS

MÁRCIO JOSÉ SERENINI

2014/2015

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A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NA PRODUÇÃO DE

ALIMENTOS

SERENINI, Márcio José1

MALYSZ, Sandra Terezinha2

RESUMO:

A produção de alimentos é uma atividade fundamental para a existência da humanidade. O

Brasil é um dos maiores produtores de alimentos e a agricultura familiar é a grande

responsável pela produção de alimentos básicos. Neste contexto, este artigo objetiva

apresentar uma proposta didático-pedagógica a fim de analisar com alunos do Ensino

Fundamental, o espaço ocupado pela agricultura familiar no município de São Tomé- PR e

sua importância na produção de alimentos. A pesquisa teve caráter qualitativo, com

procedimentos interventivos, coerentes com a pesquisa-ação. Foram realizados estudos

bibliográficos para elaboração de um projeto de pesquisa e ensino e de uma unidade didática

para subsidiar a implementação do projeto com alunos do Ensino Fundamental de uma escola

pública de São Tomé - Pr. Foi abordado, inclusive a participação dos agricultores familiares

do município no Programa de Aquisição de Alimentos – PAA e Programa Nacional de

Alimentação Escolar – PNAE. A intervenção pedagógica foi realizada com a apresentação do

projeto para comunidade escolar; atividades em sala, com aulas expositivas/dialogadas e

utilização de recursos audiovisuais (imagens e vídeos), para conhecimento teórico dos

conteúdos; aula de campo em propriedades de agricultores, para observação in lócus e coleta

de dados pelos alunos, das características da agricultura familiar no município (entrevistas aos

agricultores, fotografias, gravações e coleta de ferramentas e instrumentos antigos). Outros

recursos também foram utilizadas, como pesquisas na internet e em outras fontes, leitura,

interpretação e produção de textos e vídeo, sistematização e socialização do conhecimento

com a comunidade escolar, com a exposição de vídeos, fotografias e instrumentos utilizados

no trabalho agrícola. Espera-se assim, colaborar na valorização da agricultura familiar pela

comunidade escolar, a partir do conhecimento da realidade agrícola do município de São

Tomé e dos acontecimentos que contribuíram para a transformação do espaço rural.

PALAVRAS – CHAVES: Agricultura Familiar; Produção de Alimentos; Valorização do

pequeno produtor; Ensino de Geografia.

INTRODUÇÃO

Segundo Wanderley (2009, p.2), a agricultura familiar é a agricultura praticada pela

família que ao mesmo tempo é dona dos meios de produção e também trabalha no local

produtivo. A agricultura familiar é responsável pela produção de quase 70% dos alimentos

básicos consumidos pelos brasileiros, sendo muito importante para o desenvolvimento local,

1 Professor de Geografia da Rede Estadual Pública do Estado do Paraná. Integrante do Programa de

Desenvolvimento Educacional, turma 2014.

2 Professora Mestre em Geografia da Universidade Estadual do Paraná (UNESPAR), Campus de Campo

Mourão.

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evita e/ou diminui o êxodo rural e tem como destino final a comercialização da grande

maioria de sua produção para o mercado local e regional. As pequenas e médias propriedades

são os espaços onde se produzem boa parte dos alimentos que são consumidos no dia a dia,

que são necessários à sobrevivência e à Segurança Alimentar e Nutricional (SAN).

Ultimamente tem-se discutido muito sobre a Segurança Alimentar no Brasil, no qual é

posto em questão o aumento da produção de alimentos básicos de boa qualidade, para atender

a demanda da população, principalmente da classe que vive em situação de vulnerabilidade

social. A agricultura familiar tem cumprido com seu papel na produção de alimentos bem

como no fornecimento de diversos produtos no mercado interno para a erradicação da fome.

No entanto, nas últimas décadas, tem enfrentando enormes problemas e desafios para manter

seu espaço produtivo frente à modernização agrícola tais como a forte pressão exercida pelos

latifundiários, a baixa sucessão rural, a falta de valorização e de políticas públicas específicas

para esse segmento.

Neste contexto, é importante que os estudantes compreendam as transformações

ocorridas no meio rural a partir da década de 1970, com a mecanização, para que assim

entendam a importancia da agricultura familiar na produção de alimentos e valorizem o

trabalho dos agricultores, principalmente em comunidades escolares com alunos inseridos

diretamente no contexto do trabalho no campo. As máquinas começaram a chegar ao campo,

substituindo o trabalho de muitas pessoas, o que fez diminuir consideravelmente a população

que residia no meio rural e tinha como fonte de sobrevivência o trabalho na agricultura. Além

disso, ao associar família-produção-trabalho são apresentadas consequências em relação à

forma como os agricultores agem economicamente e socialmente, considerando o importante

papel da agricultura familiar e dos pequenos agricultores na erradicação da fome e pobreza,

em particular nas áreas rurais. Um outro problema é a sucessão rural, pois os jovens filhos de

agricultores, de forma geral, estão deixando o campo, a propriedade dos pais para o trabalho

urbano.

No contexto da agricultura familiar, destacam-se, portanto as seguintes questões: As

políticas públicas estão cumprindo seu papel no direcionamento da modernização e

conseguindo manter os pequenos agricultores no trabalho agrícola? A esfera governamental

oferece incentivos e políticas diferenciadas aos pequenos agricultores? Os pequenos

agricultores são valorizados pela sociedade? Como os adolescentes dos centros urbanos,

muitos deles, descendentes de pequenos agricultores, veem a agricultura familiar e o trabalho

do agricultor? Quais as expectativas para os filhos dos agricultores? O trabalho no campo está

tendo o devido valor pelos adolescentes que estão nas escolas?

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Dessa forma, o objetivo deste trabalho é refletir com os alunos do Ensino

Fundamental, sobre o espaço ocupado pela agricultura familiar, especificamente no município

de São Tomé – Paraná; o seu modo de vida; as tecnologias utilizadas no seu espaço e as

dificuldades enfrentadas quanto à implantação de novas tecnologias; os principais produtos

produzidos e as principais formas de comercialização; a sua rentabilidade; os incentivos e a

valorização do homem do campo; entre outros. Espera-se que com isso, que estes alunos

compreendam o espaço do campo como espaço produtivo, e a importância da agricultura

familiar e do trabalho do pequeno agricultor na produção de alimentos, valorizando também

os jovens, filhos de agricultores.

Ao longo do tempo, com a expansão urbana, muitos adolescentes foram perdendo a

noção da relação existente entre o espaço rural e o urbano, chegando inclusive a não saber a

origem de muitos alimentos que são consumidos diariamente em suas principais refeições.

Vale ressaltar que estas questões nem sempre são abordadas na escola. Muitos jovens filhos

de agricultores, já foram hostilizados pelos colegas na escola e até por adultos, incluindo

familiares: “Se não quer estudar, vai carpir mato”, não considerando assim a importancia da

formação do jovem, da sua escolarização para o trabalho no campo. Ou seja, o jovem entendia

que se estudasse não precisaria ficar no campo, ou ainda, que não era necessário estudar, caso

sua opção era o trabalho agrícola.

Os livros didáticos disponibilizados dão maior ênfase à grande propriedade, no modelo

mais conhecido como agronegócio, deixando de contemplar a realidade encontrada

principalmente nos pequenos e médios municípios do estado do Paraná e do Brasil, onde a

agricultura familiar marca presença de forma mais acentuada, exercendo um importante papel

na produção de alimentos, na geração de emprego e renda, na preservação ambiental e na

manutenção de uma rica cultura popular. Além disso, a agricultura familiar também fomenta a

economia dos pequenos municípios, sendo que grande parte dos recursos captados pelos

agricultores com essa atividade são gastos no comércio local. Ou seja, de forma geral, na

escola, valoriza-se o trabalho e a cultura urbana, com isso, muitos jovens crescem sem saber

de onde vem o que eles comem, e o trabalho envolvido na produção dos alimentos, essencial à

sobrevivência.

De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (PARANÁ, 2008), a

Geografia exerce uma função extraordinária nas escolas, no sentido de possibilitar ao aluno a

compreensão do mundo que está a sua volta, do espaço que habita, das pessoas e das relações

existentes entre os seres humanos e a natureza.

Neste sentido e no contexto da pesquisa, como forma de reconhecimento e valorização

da agricultura familiar, buscou-se demonstrar aos alunos a importância dessa atividade

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considerando a produção de alimentos, a geração de empregos no campo, o espaço ocupado

por essa atividade no município de São Tomé-Pr, as principais formas de organização e

comercialização da produção, além da sua representação em termos econômicos e a

participação dos agricultores familiares desse município no Programa de Aquisição de

Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE).

Este trabalho é resultado de estudos durante o Programa de Desenvolvimento

Educacional (PDE), ofertado pela Secretaria de Estado da Educação do Paraná.

Consequentemente é composto por pesquisas bibliográficas, construção de material didático-

pedagógico e pesquisa ação junto a uma turma do 7º ano do período vespertino no Colégio

Estadual Pedro Fecchio – EFM, situado no município de São Tomé. Com os alunos, foram

desenvolvidas várias atividades em sala de aula por meio de aulas expositivas, dialogadas,

com projeção de imagens e vídeos, leituras, interpretação e produção de textos, entre outros;.

Para articular teoria e prática e tornar o conhecimento menos abstrato e mais significativo

foram também desenvolvidas atividades extraclasses com aula de campo em propriedades

rurais administradas por agricultores familiares e na cantina da escola. As atividades

desenvolvidas subsidiaram as aulas e a elaboração de materiais que foram apresentados à

comunidade escolar no encerramento do projeto.

1. MECANIZAÇÃO AGRÍCOLA

Durante vários milênios a agricultura foi a principal atividade econômica mundial.

Além de produzir alimentos básicos para a população, também empregava grande parte da

mão de obra no desempenho de várias atividades agropecuárias, nas quais a força humana era

fundamental, pois existiam poucas ferramentas de trabalho.

Nos últimos anos, tem-se verificado uma redução da participação das atividades

agropecuárias na economia dos países industrializados, além da diminuição do número de

indivíduos que se dedicam à agricultura. Conforme Silva (1998, p. 3) “as novas tecnologias já

estão não só alterando profundamente as formas de organização do processo de trabalho, mas

também reduzindo a escala mínima necessária da atividade econômica e redefinindo os

requisitos fundamentais de sua localização espacial”.

Isso pode ser explicado pelas transformações ocorridas no campo tecnológico,

permitindo um aprimoramento das técnicas de produção, com emprego de máquinas mais

modernas e sofisticadas, fazendo atingir um nível de produção maior, com o emprego de

menos mão de obra, contribuindo fortemente para o êxodo rural.

Silva (1998) afirma que a modernização agrícola no Brasil, iniciou-se após metade da

década de 1960, quando muitas indústrias de tratores, equipamentos agrícolas, fertilizantes

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químicos, rações e medicamentos veterinários começaram a se instalar no país, contribuindo

para o princípio de uma transformação gradativa no campo, modificando inclusive a base

produtiva, priorizando a produção de produtos com fácil comercialização no mercado

exterior. Esse modelo de desenvolvimento que caracterizou a agricultura brasileira gerou uma

grande concentração de terras e de renda no meio rural, marginalizando do processo, mais de

dois terços da população que vivia no campo, forçando milhares de pessoas a deixarem o

trabalho no campo, migrando para os centros urbanos (Gráfico 1).

Gráfico 1 - Distribuição da população brasileira por situação de domicílio, 1950-2010.

Fonte:Censo do IBGE in ALVES, Eustáquio D. José; CAVENAGHI, Suzana, 2012.

Até a década de 1960, a grande maioria da população brasileira morava no meio rural,

vivendo da exploração da atividade agropecuária. A partir dessa década, o processo de

modernização agrícola, aliado ao desenvolvimento da atividade industrial, principalmente nos

grandes centros, fez com que esse cenário se invertesse. Muitos trabalhadores rurais perderam

seus postos de trabalho e propriedades, pressionados pelo novo modelo agrícola que estava

sendo desenhado, no qual máquinas passaram a realizar o trabalho de muitas pessoas. Grandes

proprietários passaram a adquirir pequenos lotes rurais, promovendo uma concentração de

terras, com a prática da monocultura com foco na exportação.

O resultado deste modelo tem se refletido, de maneira geral, apesar de aumento na

produção, no agravamento de desemprego no campo, na degradação do meio

ambiente e, na ocupação desordenada do território nacional, a queda na qualidade

biológica dos alimentos e o progressivo desaparecimento das tradições culturais no

meio rural (SILVA, 1998, p. 87).

Segundo Mello (1988, p.11), desde então, o país teve um crescimento agrícola

concentrado nos produtos de exportação (soja, café, laranja, cacau, cana-de-açúcar e fumo,

principalmente), em detrimento a produtos alimentares domésticos (arroz, feijão, milho,

mandioca, batata, carne suína e ovos), apresentando uma consequente alta dos seus preços, em

especial durante o período que antecedeu a recessão econômica brasileira (1981/1983).

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Este acontecimento é explicado por Fleischefresser (1988), quando diz que a

tecnologia moderna influenciou na mudança econômica e social entre os grandes produtores

rurais, sendo que os pequenos produtores não foram totalmente absorvidos pelo mesmo

processo. Ainda segundo o autor, as políticas agrícolas adotadas pelos governos ao longo do

tempo, beneficiaram a modernização das técnicas utilizadas para cultivo, favorecendo uma

minoria - principalmente os grandes proprietários e deixando em desvantagem a Agricultura

Familiar.

Silva (1998, p. 3), define o processo de modernização da agricultura “como a

introdução de ‘novos fatores’ que incluíam desde as sementes geneticamente melhoradas da

Revolução Verde, os adubos e defensivos químicos, as máquinas e equipamentos, até a

educação formal, nos moldes urbanos, é claro”. Esse processo fez ocorrer uma especialização

da produção agrícola em torno de produtos de fácil mecanização e bem aceitos no mercado

internacional, as chamadas “commodities”.

2. A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA FAMILIAR NO CONTEXTO DA

SEGURANÇA ALIMENTAR

São baixos os percentuais de produção de produtos alimentícios em média nas grandes

propriedades rurais. Para Mello (1988, p. 42), “os pequenos agricultores são exatamente

aqueles que produzem a maior parte dos nossos alimentos”, ressaltando a enorme participação

desses produtos no mercado interno, com destaque para os mercados local e regional.

Este fato vem mais uma vez demonstrar a importância da agricultura familiar na

produção de alimentos básicos e a significativa contribuição para segurança alimentar do país.

Contudo, é importante destacar a permanência das famílias no campo, com condições de

continuarem laborando em suas pequenas propriedades, tendo acesso a benefícios oferecidos

através de políticas públicas que desonere os custos de produção e ofereçam alternativas para

comercialização dos produtos com garantia de preços justos.

Segundo Maluf (2001, p. 147):

[...] segurança alimentar significa garantir, a todos, condições de acesso a alimentos

básicos de qualidade em quantidade suficiente, de modo permanente e sem

comprometer o acesso a outras necessidades básicas, com base em práticas

alimentares saudáveis, contribuindo, assim, para uma existência digna num contexto

de desenvolvimento integral da pessoa humana.

Todo esse esforço, no tocante das políticas de combate à fome e à insegurança

alimentar em um de seus eixos principais de ação, visa o fortalecimento da agricultura

familiar (estímulo à produção para autoconsumo). A agricultura familiar é a responsável pela

geração de alguns dos mais importantes princípios do conceito de segurança alimentar e

nutricional em relação às famílias beneficiadas pela distribuição dos alimentos por programas

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governamentais. Gomes Junior e Botelho Filho (2008, p. 6, 7) ressaltam a importância da

agricultura familiar como:

um tipo de arranjo de produção e de práticas sociais, produtor de bens materiais e

imateriais para a sociedade e com relevância história para sustentar a preservação de

costumes e hábitos alimentares, dentre outros, que poderá contribuir de modo

decisivo para a construção da condição de segurança alimentar e nutricional na

sociedade.

A maior e mais importante contribuição gerada pelos agricultores familiares é na

produção dos produtos que compõem a dieta alimentar básica da população brasileira. É

comum encontrarmos um número maior de habitantes no meio rural em municípios em que há

o predomínio da Agricultura Familiar. Segundo Schneider (1999, p. 133), “os agricultores

familiares, mesmo com todos os problemas que a agricultura tem de ordem conjuntural e

estrutural, têm o maior interesse em continuar na unidade agrícola com seu grupo familiar,

produzindo alimentos para o consumo […]”.

O fortalecimento da agricultura familiar pode efetivamente constituir-se numa das

principais estratégias de efetivação de uma política de segurança alimentar no Brasil,

possibilitando tanto o incremento da produção agrícola nacional como também a reprodução

social e econômica de um contingente significativo de trabalhadores rurais que, mesmo

enfrentando algumas adversidades no campo, ainda resistem ao processo atrativo exercido

pelos centros urbanos, permanecendo no campo e cultivando produtos para produção de

alimentos.

3. O MUNICÍPIO DE SÃO TOMÉ - PR NO CONTEXTO DA AGRICULTURA

FAMILIAR E SEGURANÇA ALIMENTAR

O Município de São Tomé, pertence à região noroeste do estado do Paraná, situado na

microrregião de Cianorte. Tem como limites Japurá e São Carlos do Ivaí ao norte, Cianorte e

Jussara ao Sul, São Jorge do Ivaí a Leste e Indianópolis a Oeste, apresentando uma área de

21.400 hectares, ou 252.937 km2 . O município de São Tomé está a 23º 33’ de latitude Sul e

52º 40’ de longitude Oeste, no Terceiro Planalto Paranaense (Figura1).

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Figura 1 – Localização do município de São Tomé no noroeste do Paraná. Fonte: Base Digital

do Paraná (2001), IBGE – Atlas Geográfico Escolar (2007), IPARDES (2004). Elaborado

por: BERNARDINO, V. M. P. e COLAVITE, A. P.

Os solos do município estão na faixa de transição entre o basalto e o Arenito Caiuá

(EMATER, 2013). Em relação ao relevo, as terras apresentam-se com aspectos ondulados

sem grandes diferenças altimétricas, com altitude de 420m acima do nível do mar. O clima

predominante é o subtropical úmido, verões quentes e chuvosos, invernos não muito rigorosos

e mais secos, com temperatura média anual ficando em torno de 25ºC e precipitação média

anual ficando em torno de 1.400mm a 1.600mm (CAIADO, 1997).

De acordo com IBGE (2010), o município de São Tomé tem uma população de 5.349

habitantes, sendo que 903 pessoas (16,89%) moram no campo e 4.446 (83,1%) na cidade. A

população rural e total de São Tomé diminuiu gradativamente, enquanto a população urbana

aumentou (Tabela 1 e Gáfico 2):

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Tabela 1- Município de São Tomé – Evolução da População Urbana e Rural: 1970 – 2010.

Ano População Urbana População

Urbana %

População Rural População

Rural %

Total

1970 1.742 19% 7.556 81% 9.298

1980 2.012 28% 5.146 72% 7.158

1991 2.576 50,3% 2.539 49,7% 5.115

2000 3.737 74% 1.304 26% 5.041

2010 4.446 83% 903 17% 5.349

Fonte: Ribeiro, 2013, p. 212.

1742 20122576

37374446

7556

5146

2539

1304903

9298

7158

5115 50415349

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

7000

8000

9000

10000

1970 1980 1991 2000 2010

População urbana População rural

População total Exponencial (População urbana)

Exponencial (População rural)

Gráfico 2 – Distribuição da População de São Tomé por situação de domicílio, 1970 –

2010. Fonte: Censos demográficos do IBGE In: Ribeiro (2013).

Em São Tomé até a década de 1970 haviam 9.298 habitantes e maioria morava no

campo e trabalhava nas lavouras de café. As pressões do processo de modernização agrícola

ocorridas a partir da década de 1960, aliada a fatores naturais como à geada negra ocorrida no

ano de 1975, que dizimou muitas lavouras de café, fizeram com que muitas pessoas fossem

vítimas do processo de êxodo rural. Deixaram a zona rural em busca de novas oportunidades

de trabalho e instalaram-se no espaço urbano de São Tomé e principalmente nos grandes

centros urbanos (CARVALHO, 2003). Diante de tal situação, o café que se desenvolvia com

facilidade nas terras férteis do município foi dando lugar a outras culturas:

1970 1980 1991 2000 2010

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A produção das lavouras cafeeiras no município era muito grande e proporcionou

um grande desenvolvimento, tanto na agricultura como para o comércio local e

moradores da época. Mas a partir de 1975, alguns problemas começaram a surgir,

como as geadas que além de prejudicar os cafezais, desestimulou os cafeicultores,

fazendo com que muitos deixassem de produzir café passando a cultivar outras

culturas, como a mandioca, pecuária, frutíferas, etc (CAIADO et al., 1997, p. 11).

Com o enfraquecimento das lavouras cafeeiras, o cultivo que passou a ser feito de

forma quase extrativista, sem nenhum tipo de adubação e controle de pragas, também

contribuiu para que o rendimento diminuísse gradativamente, desestimulando o agricultor.

Outro fator desfavorável à cultura do café foi a implantação da COAMTO (Cooperativa

Agroindustrial dos Produtores de Cana de São Tomé), na década de 80, estimulando os

agricultores que não estavam contentes com a cafeicultura, a migrar ao cultivo da cana-de-

açúcar para o setor sucroalcooleiro.

Segundo dados do escritório local da EMATER de São Tomé (2014), atualmente,

poucos agricultores cultivam café, devido à falta de mão de obra, altos custos de manutenção

dessa cultura e baixos preços pagos. À medida que ocorreu a diminuição das lavouras

cafeeiras, cresceu a diversificação na produção agrícola com o cultivo de várias lavouras

temporárias e algumas permanentes, além da pecuária que também é bastante expressiva no

município. As pastagens ocupam cerca de 44% das terras de São Tomé e a agricultura 51%

sendo os 5% restantes, ocupado por áreas de matas nativas, reflorestamento e outras áreas.

Os 20.443 hectares de São Tomé utilizados com a agropecuária são explorados por

638 produtores, sendo 312 agricultores familiares (48,9%), 303 médios produtores (47,4%) e

23 (3,7%) grandes proprietários (EMATER, 2013).

No início da colonização de São Tomé, a pecuária era uma atividade de pouca

expressão, devido à intensa expectativa em torno da cultura do café. Com o tempo, cresceu o

número de pecuaristas praticando uma pecuária semiextensiva. Atualmente a pecuária tem

grande expressão na economia do município, existindo 98 pecuaristas, com um rebanho

estimado em 4.911 cabeças (EMATER, 2013). Segundo Caiado et al (1997, p. 12) a pecuária

“destina-se na maior parte à produção de gado de corte, sendo que em menor parte à produção

de leite na qual vários produtores utilizam técnicas modernas como Inseminação Artificial

(prestada pela Prefeitura Municipal).

O município de São Tomé, tem grande aptidão agrícola. No entanto, a maior parte de

sua produção está concentrada em produtos que não estão presentes na alimentação básica dos

brasileiros, com destaque para a soja e a cana-de-açúcar. A maior parte dessa produção tem

como origem pequenas propriedades de até 80 hectares, que na maioria das vezes não tem

como base o trabalho familiar. É administrada pelo seu dono, ou por um arrendatário, ou pela

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usina de álcool, instalada nesse município, utilizando-se de técnicas mais modernas, por meio

de máquinas e equipamentos com tecnologia avançada, que garantem alta produtividade com

pouca mão de obra. A produção da soja e do etanol em São Tomé tem como destino o

mercado externo, não circulando no comércio local.

No Quadro 1 é possível verificar a variedade de culturas no Municipio, observando

que os alimentos básicos concentram-se nas pequenas propriedades:

Lavouras Produtores n.º Área (ha) Produtividade em kg/há

Amendoim 04 8,00 1.800

Amoreira 03 9,60 380 (Casulo)

Café Adensado 08 78,00 956 (em coco)

Cana-de-açúcar 02 10.154,00 764

Feijão das águas 04 5,00 800

Feijão das secas 06 25,00 1,500

Mandioca 30 570,00 19,933

Milho safra normal 05 25,00 3,200

Milho safrinha 17 1.500,00 4.000

Soja 33 1.840,00 3.200

Abacaxi 03 2,00 55.000

Acerola 03 2,50 25.000

Goiaba 16 27,00 20.000

Laranja 11 168,00 22,000

Maracujá 05 4,00 15.000

Morango

Olerícolas

Palmito pupunha

08

153

15

10,00

Variada

23,00

26.000

Variada

2.000

Quadro 1 - Produtividade das lavouras predominantes no município de São Tomé. Fonte: EMATER, 2013.

Em meio ao conjunto de propriedades rurais que se destinam a prática da monocultura,

em São Tomé existe um número considerável de pequenas propriedades, tendo na mão de

obra familiar, a principal força de trabalho. Nestas propriedades são produzidos grande parte

dos alimentos que abastecem os mercados locais e regionais, destacando-se a comercialização

com Cianorte-Pr. Dentre os produtos, destacam-se a produção de verduras e legumes, como:

alface, couve, almeirão, cenoura, beterraba, repolho, abóbora e muitas outras; além de

algumas frutas: goiaba, laranja, abacaxi, morango, tangerina, acerola e a palmácea pupunha.

Frutas como a laranja, a tangerina, o morango e a acerola são comercializadas com indústrias

da região, já a goiaba e o abacaxi são vendidos na sua maioria para sacoleiros, que revendem

em pontos nas rodovias de cidades vizinhas.

Na Feira do Produtor Rural, seis pequenos agricultores trazem seus produtos para

vendê-los à população local. Outro mercado importante que vem crescendo é a venda aos

programas governamentais, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), Programa

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Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que adquirem esses produtos da agricultura

familiar e os redistribuem nas entidades públicas de São Tomé, como Escolas, Igrejas,

Assistência Social, Pastoral da Criança dentre outras.

Apesar de ter regredido nas últimas décadas, a produção familiar tem grande

importância em São Tomé, sendo cultivada em aproximadamente 312 propriedades,

envolvendo mais de trezentas famílias no meio rural, com um total de 903 pessoas (IBGE,

2010). A produção familiar tem correspondido a uma parcela considerável da economia desse

município, gerando renda e oportunidades de trabalho/emprego no campo, com

aproximadamente 200 empregos no último ano (EMATER, 2014).

4. METODOLOGIA

A metodologia para realização deste trabalho caracterizou-se pela pesquisa ação, com

intervenção do professor pesquisador através de projeto de pesquisa e ensino com uma turma

de alunos de 7º ano do Ensino Fundamental, do período vespertino no Colégio Estadual Pedro

Fecchio – EFM, situado no município de São Tomé.

A primeira etapa da pesquisa pautou-se em pesquisa bibliográfica sobre agricultura

familiar, mecanização agrícola, segurança alimentar e produção agropecuária no município de

São Tomé.

Na segunda etapa foi elaborada uma unidade didática, intitulada “A importância da

agricultura familiar na produção de alimentos” (SERENINI e MALYSZ, 2015), para

utilização com alunos do Ensino Básico.

A terceira etapa consistiu na pesquisa participativa com implementação do projeto

junto aos alunos de 7º ano do Ensino Fundamental, com utilização da unidade didática

produzida, entre outros materiais, e o trabalho de campo, em uma perspectiva da Geografia

Crítica. Foi desenvolvida uma proposta de metodologia de trabalho com participação dos

alunos em todas as etapas dessa fase do projeto, com aulas expositivas dialogadas com

projeção de imagens e vídeos, aula de campo em propriedades de agricultores familiares e na

cantina da escola, sistematização do conhecimento e organização de materiais para exposição

à comunidade escolar (Quadro1).

A avaliação foi contínua. Os alunos foram avaliados em todas as etapas, por meio da

participação, interação, envolvimento, realização de atividades, trabalhos, pesquisas, entre

outras atividades e também na avaliação final, onde todos, de forma oral, expressaram suas

considerações a respeito da participação e do conhecimento adquirido.

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Etapa Temática e

conteúdos

Objetivo Principal Metodologia/estratégias N. de

aulas

1. Divulgação do

Projeto para

comunidade escolar.

Valorização da

Agricultura Familiar

(AF)

Divulgar o projeto para

comunidade escolar

Exposição do projeto

para comunidade com

recursos audiovisuais.

01

2. Avaliação

Diagnóstica

Agricultura Familiar

e sua importância

Avaliar o conhecimento

dos alunos sobre o tema

trabalhado.

Questões abertas 01

3. Análises,

discussões, reflexões

teóricas e atividades

em sala de aula sobre

o tema

Conceitos da AF,

formas de

organização, sua

importância e

viabilidade.

Caracterizar a AF e sua

importância,

principalmente na

promoção da Segurança

Alimentar

Textos, debates, vídeos,

figuras, reportagens,

gráficos e pesquisas na

Internet e outros.

27

4. Aula de Campo

em propriedades

rurais de São Tomé e

na Cantina da Escola.

Modo de vida no

campo, cultivo de

alimentos e forma de

comercialização.

Relacionar teoria e

prática, abstraindo o

conhecimento.

Entrevista aos

agricultores e cantineiras,

registro fotográfico,

relatório de campo.

05

5. Coleta de objetos

utilizados nas

práticas agrícolas.

Evolução dos

instrumentos de

trabalho no campo.

Perceber que as técnicas

de produção do meio

rural estão em constante

evolução.

Coleta de instrumentos

de trabalho no campo nas

propriedades visitadas,

com outros agricultores e

com pais de alunos.

02

6. Produção de Vídeo

baseado na visita

feita em propriedades

rurais de São Tomé

A importância da

Agricultura Familiar

na Produção de

Alimentos.

Sistematizar os

conhecimentos

adquiridos, incentivando

o protagonismo dos

alunos.

Seleção, organização,

catalogagem de fotos e

filmagens e montagem

do vídeo.

03

7. Apresentação dos

resultados à

comunidade escolar.

A distinção da AF em

relação a outras

formas de

organização, suas

particularidades e

resultados.

Valorização da

Agricultura Familiar com

a divulgação do resultado

do projeto à comunidade

escolar.

Exposição na escola com

apresentação de paineis,

projeção de vídeo e

exposição de objetos do

trabalho no campo

02

8. Avaliação do

Projeto

Viabilidade da

Agricultura Familiar

e sua importância em

vários aspectos.

Avaliar o conhecimento

adquirido pelos alunos

no decorrer da

implementação do

projeto.

Atividades escritas

diversificadas, debates e

depoimentos.

02

Quadro 1: Etapas e atividades desenvolvidas na implementação do Projeto.

5. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A análise a seguir é resultante da implementação do projeto realizada com os alunos

do 7º ano do Ensino Fundamental, tendo como tema a importância da agricultura familiar na

produção de alimentos. A maior parte do trabalho ocorreu durante as aulas, no período

vespertino. As atividades de campo foram desenvolvidas em dois dias, em contratruno. Parte

das aulas utilizadas na implementação foram expositivas e participativas, utilizando como

apoio a Unidade Didática, elaborada pelo mesmo autor, além do livro didático (ADAS, 2011)

adotado pela escola.

A Unidade Didática “A importância da agricultura familiar na produção de

alimentos” (SERENINI e MALYSZ, 2015), objetiva explicar e valorizar a agricultura

familiar. Aborda textos e atividades diversificadas, sugestões de filmes, entre outros, com as

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seguintes temáticas: Cenário e importância da agricultura familiar; Modernização das

atividades agropecuárias no Brasil; Êxodo rural; Estrutura fundiária e concentração de terras

no Brasil; Principais diferenças entre a agricultura familiar e o agronegócio; A importância

da agricultura familiar na produção de alimentos básicos e na segurança alimentar e

nutricional; Participação da agricultura familiar na produção agro ecológica; Barreiras e

entraves que afligem os agricultores familiares; O município de São Tomé e realidade

agrícola; Principais formas de comercialização da produção agrícola familiar e Valorização

do agricultor.

Para melhor entendimento do trabalho desenvolvido na intervenção junto aos alunos,

dividimos em tópicos descritos a seguir:

Sondagem diagnóstica e resgate de conhecimentos prévios:

As atividades foram iniciadas realizando-se uma sondagem diagnóstica, a fim de

identificar o conhecimento prévio que os alunos tinham sobre a agricultura familiar, com

questionamentos sobre os principais alimentos que fazem parte das principais refeições diárias

dos alunos, a origem desses alimentos, os responsáveis pela sua produção e a importância do

agricultor familiar. Os principais alimentos citados pelos alunos foram: arroz, feijão, leite,

carne, batata, tomate, alface, frutas, pão, bolacha, chips, refrigerante, entre outros. A maior

parte desses alimentos é comprada no mercado local. Alguns alunos disseram que os

alimentos vêm da roça. Muitos alunos tiveram dificuldade em identificar os responsáveis pela

produção dos alimentos e relacionar a importância do agricultor.

Análise em sala de aula sobre a temática:

Por meio de slides e da Unidade Didática, mediou-se aos alunos que existem muitos

outros elementos relacionados à agricultura familiar não abordados pelos livros didáticos

disponíveis na escola, como por exemplo, diferenças existentes na estrutura fundiária local; a

existência de outras formas de organização de produção no meio rural, além do agronegócio,

como a agricultura familiar. Abordou-se teoricamente as principais diferenças existentes entre

esses dois modelos de produção, os pontos positivos e negativos de cada um deles, com

destaque para a agricultura familiar e a importância para economia brasileira, com ênfase à

economia local.

- Conceito de Agricultura familiar: Realizou-se com os alunos uma reflexão teórica

sobre o conceito da agricultura familiar, destacando sua importância na produção de

alimentos, na geração de emprego e renda no campo, preservação ambiental e manutenção de

uma rica cultura popular. O vídeo intitulado Agricultura Familiar3, reforçou e ilustrou os

conteúdos enfatizando o espaço ocupado por essa atividade no meio rural, sua participação na

3 Disponível no endereço eletrônico: https://www.youtube.com/watch?v=FvMoY2OdupE

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economia dos pequenos municípios, a quantidade de pessoas envolvidas e a forma de

organização e produção. Com tais atividades 60% dos alunos conseguiram descrever as

principais características da agricultura familiar e sua importância. Dentre a turma, 40%

confundiram o rural e o urbano e não distinguiram a pequena propriedade do agronegócio,

sendo que alguns deles se referiam a propriedade como “fazenda”.

- Evolução das técnicas agropecuárias no meio rural: Tratou-se do processo de

evolução das técnicas de produção agropecuária que ocorreram no Brasil a partir da década de

1970, por meio de leitura de textos da Unidade Didática. Com utilização de projeção de

imagens, foram comparadas algumas técnicas de produção, máquinas e implementos

utilizados pelos agricultores ao longo do tempo. A temática chamou muito a atenção dos

alunos, principalmente com a discussão sobre as diferentes máquinas existentes no mercado e

as tecnologias focadas no meio rural, que vem facilitando o trabalho e gerando consequências

positivas e negativas que foram elencadas em conjunto com os alunos. A organização

fundiária brasileira foi discutida por meio de demonstrações em gráficos e tabelas, destacando

a concentração de terras existente no país, o avanço das tecnologias e o estimulo a

monocultura, priorizando produtos de exportação.

Os debates ocorreram com várias interferências e contribuições dos alunos, que

demonstraram ter conhecimento sobre esse assunto, citando exemplos da realidade do

município de São Tomé, no qual a modernização está presente no campo, principalmente nas

áreas exploradas pela usina de álcool, que utiliza tratores e implementos modernos, até

mesmo a aplicação de herbicidas por meio de avião. O aprofundamento de conteúdo ocorreu

com pesquisas no laboratório de informática da escola, seleção de de imagens e construção de

painel. Esta atividade despertou o interesse dos alunos para o processo de evolução das

técnicas de produção agropecuárias, eles realizaram comparações entre ferramentas e

máquinas antigas, com as utilizadas na atualidade. Houve relato de alunos que disseram nunca

terem visto algumas das máquinas apresentadas nas imagens. Concluiram, por exemplo que

atualmente está mais fácil trabalhar na roça, pois as máquinas facilitaram o trabalho, além de

agilizar as etapas de produção, com aumento na produtividade.

- Comparação entre agricultura familiar e o agronegócio: Aproximadamente 80% dos

estudantes não conheciam a diferença entre o Agronegócio e a Agricultura Familiar. Quando

questionados em sala de aula, responderam que no meio rural haviam apenas agricultores,

sendo todos iguais. Apenas 20% dos estudantes conseguiram dar respostas coerentes com a

realidade.

Diante dessas respostas, trabalhou-se em sala de aula com as diferentes formas de

produção, por meio de textos, tabelas e gráficos. Os alunos puderam compreender então, as

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principais diferenças entre a Agricultura Familiar e o Agronegócio, no que diz respeito ao

tamanho das propriedades rurais; a relação existente entre o proprietário e o trabalho

desenvolvido; a rentabilidade; os principais produtos cultivados, com destaque para a

produção de alimentos; o acesso ao crédito rural; o volume de produtos agrícolas

comercializados; as tecnologias empregadas no cultivo; a importância de ambas as formas de

produção, tanto no fortalecimento da economia, através das exportações de commodities,

quanto na segurança alimentar, produzindo comida aos brasileiros.

Para aprofundamento deste conteúdo, com destaque ao protagonismo da Agricultura

Familiar na produção de alimentos, foi apresentado o vídeo A força dos pequenos na

agricultura familiar4, que demonstra a quantidade de pessoas envolvidas nesse trabalho, a

participação desse segmento no cultivo orgânico, os principais incentivos dados pela esfera

governamental e as principais tecnologias empregadas nessa atividade. Foram confeccionados

cartazes e gráficos, demonstrando a participação da agricultura familiar, na comparação com

o agronegócio. Por meio de questionamentos escritos e debates em sala de aula, verificou-se

que 90% dos alunos atingiram os objetivos do trabalho.

- Importância da agricultura familiar na produção de alimentos: O conteúdo foi

mediado por meio de interpretação de gráficos, tabelas e textos; pesquisas na internet; debate

em sala, com cada aluno expondo os resultados da pesquisa. Evidenciou-se a forte atuação

dos Estados da região Sul do Brasil na produção de alimentos, dentre eles o Paraná. Foi

debatido com os alunos a importância do protagonismo da agricultura familiar na produção de

alimentos, na promoção da Segurança Alimentar e Nutricional, garantindo uma grande

variedade de alimentos, em boas condições de sanidade para o consumo humano. Assistindo o

filme Segurança Alimentar – Expedições5, os alunos perceberam que os pequenos agricultores

também se destacam no cultivo e produção orgânica, devido a demanda do mercado

consumidor; a disponibilidade de mão de obra, fundamental para a prática agroecológica; e

pelo preço diferenciado na hora da venda, que agrega valor ao produto.

A partir desses estudos, os alunos fizeram um levantamento em suas residências sobre

a origem dos principais alimentos que consumiam, resultando em um debate em sala de aula.

Todos os alunos relataram que consomem produtos da agricultura familiar, com destaque para

o arroz, o feijão, o leite, a carne, frutas e verduras, mas também consomem produtos

industrializados, como bolachas, chips, lanches, entre outros. Nenhum dos alunos tem o

hábito de consumir alimentos orgânicos, 70% deles não sabiam o que eram orgânicos e 30%

4 Disponível no endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=GWr4jCS2aLQ> 5 Disponível no endereço eletrônico: <https://www.youtube.com/watch?v=mvE_gWcvR1Q>

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disseram já ter ouvido falar de orgânicos, mais não associavam esses produtos à inexistência

de agrotóxicos em sua produção.

A partir do vídeo e dos materiais analisados pelo grupo, os alunos concluíram que a

agricultura familiar vive em maior harmonia com a natureza, com menor degradação do solo,

das matas e dos rios, quando comparada ao agronegócio; sendo a agricultura empresarial, a

maior responsável pela degradação ambiental, resultante da utilização de produtos

agroquímicos.

Algumas imagens foram projetadas, destacando as diferentes formas de aplicação de

agrotóxicos nas lavouras. Os alunos relacionaram as imagens apresentadas com realidade

vivenciada no município: por exemplo, o aluno A1 relatou que tem visto com certa frequência

um avião aplicando agrotóxico em lavouras de cana-de-açúcar do município. O aluno A2

disse que já viu esse avião e sentiu um cheiro forte, considerando ser do veneno aplicado. O

aluno A3, filho de produtor rural, relatou que ouviu seu pai dizer que devido ao veneno

lançado nas lavouras de cana por esse avião, o pomar do sítio deles deixou de produzir.

Ressaltou-se que o agrotóxico utilizado pode causar uma série de danos ao meio ambiente,

inclusive à saúde humana.

- Algumas das principais dificuldades enfrentadas pela agricultura familiar na atualidade:

Este conteúdo foi mediado por meio de uma dinâmica com textos. A turma foi dividida em

quatro grupos, que recebeu um texto cada, abordando diferentes problemas, para estudo. Após

meia hora, cada grupo fez uma breve exposição do assunto. Os demais grupos deveriam fazer

no mínimo um questionamento, sobre o assunto. Houve muita interação entre os grupos e

80% dos alunos souberam tecer comentários a respeito do tema abordado e fizeram

questionamentos com coerência.

O conhecimento foi ilustrado por meio de duas músicas que trazem em suas letras,

elementos que caracterizam a vida no campo, fazendo comparações entre o meio rural e o

urbano: Saudade da Minha Terra (Belmonte e Amaraí) e Caboclo na Cidade (Chitãozinho e

Xororó). Os alunos perceberam que no passado, mesmo a agricultura sendo praticada com

técnicas rudimentares, com quase todas as etapas da produção realizadas de forma manual,

havia mais preservação da natureza, maior convívio familiar, interação entre as gerações e

respeito pela cultura camponesa.

- Principais características do Município de São Tomé: Inicialmente o conteúdo foi

mediado aos alunos por meio de textos, mapas, tabelas e gráficos da Unidade Didática e de

projeção de imagens, trazendo as principais características do município de São Tomé, no que

se refere à localização, clima, solo, relevo, população e potencial agrícola. Antes do trabalho,

cerca de 40% dos alunos declararam que não sabiam da grande extensão de área rural

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existente em São Tomé, nem mesmo tinham conhecimento do cultivo de tantos produtos

agrícolas. Após o trabalho, os alunos se apropriaram do conhecimento, por exemplo, o aluno

A1 destacou que grande parte das terras do município, estão concentradas nas mãos de poucos

proprietários, sendo que os pequenos agricultores cultivam uma área de terra bem menor, e,

conseguiu destacar a diversificação agrícola na Agricultura Familiar.

Aula de campo nas propriedades rurais:

A fim de conhecer os principais aspectos da agricultura familiar do município de São

Tomé, realizou-se aula de campo com visitas em três propriedades administradas por

agricultores familiares. Os alunos entrevistaram alguns agricultores, realizaram registro

fotográfico e gravaram imagens contemplando os elementos que caracterizam o trabalho no

campo para elaboração de um pequeno vídeo.

Para organizar o trabalho de campo, foi elaborado juntamente com os alunos, um

questionário para as entrevistas com os agricultores. Os alunos organizados em quatro grupos,

tiveram funções específicas: um seria o entrevistador, tendo como função dirigir os

questionamentos; dois alunos seriam responsáveis pela realização das anotações nos

questionários; um aluno teria como tarefa colher imagens e outro fazer gravações de vídeo.

Além disso, foi estabelecido um roteiro das visitas, com previsão de tempo que seria gasto em

cada uma das propriedades e regras que deveriam ser obedecidas. Cada grupo de alunos

recebeu um kit, contendo os formulários para entrevistas, roteiro, guia de orientação de

postura no decorrer das visitas, além da descrição das funções de cada um dos membros do

grupo.

As aulas de campo nas propriedades rurais foram realizadas no contraturno, iniciando

na propriedade do Sr. Guilherme Klobuchar, na Estrada Boa Sorte, Gleba do Sutis, explorada

por quatro membros da sua família. Essa propriedade tem 2,5 alqueires, na qual são cultivados

goiaba, acerola, morango, café e, se pratica a bovinocultura de leite no sistema convencional.

Há utilização de algumas máquinas e implementos simples e irrigação em algumas partes. O

agricultor mora nessa propriedade a mais de 30 anos e sempre trabalhou em regime de

economia familiar, inicialmente cultivando café e agora se especializaram na produção de

frutas. Ele está satisfeito com a vida no campo, considera ser mais tranquila, pode criar alguns

animais e produzir parte dos alimentos que consomem. Vão à cidade quando necessitam

comprar algo que não produzem ou para ir ao médico ou a Igreja. A comercialização dos

produtos cultivados é realizada por meio do PAA e PNAE, com o comércio local ou

vendedores ambulantes e, a maior parte com a indústria, no município de Japurá. O filho

desse agricultor, disse que não pensa em deixar o trabalho no campo, pois vive bem com a

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renda que consegue obter com a venda dos produtos ali cultivados e sem a pressão existente

no meio urbano e. (Figura 3A e 3B).

A segunda aula de campo foi realizada na propriedade do Sr. Marcos Antônio

Escudeiro, situada na Estrada Monte Castelo, Gleba dos Sutis. Lá ele cultiva goiaba e

morango e, trabalha com a pecuária de corte (4 alqueires). O trabalho é realizado pelos 4

membros da família desse produtor, utilizando mão de obra temporária nas épocas de

colheitas dos frutos. Ele sempre morou no meio rural, gosta muito de campo, encontra mais

tranquilidade, não tem a correria e a pressão que ocorre na cidade. Relatou que só vai à cidade

para fazer compras nos finais de semana, levar seus produtos para serem entregues nas

indústrias, além de participar de reuniões ou atividades da escola das filhas e da Igreja. Em

relação à comercialização dos produtos, disse que participa PAA e também já participou em

alguns anos do PNAE, mais a maior parte é negociada com vendedores ambulantes e

indústria, que fica no município de Japurá. Em relação à tecnologia utilizada, disse que

possuem um trator, veículo utilitário para transporte dos produtos e carro de passeio além de

diversos recursos que anteriormente eram privilégios do espaço urbano, como antena

parabólica, computador com internet e telefone celular. Ele consegue tirar uma boa renda no

trabalho rural, em média de dois salários mínimos mensais por membro da família (Figura 3

C).

A terceira aula de campo foi realizada na propriedade do jovem produtor Marciel de

Lima, na Estrada Piau, Gleba São Tomé, com 6,36 alqueires, na qual são cultivados: laranja,

mandioca de mesa, hortaliças; além da criação de suínos, frango caipira e peixes, em tanques

escavados. Nessa propriedade trabalham três pessoas, sendo ele, um irmão e sua mãe. Durante

mais de cinco anos, todos os produtos cultivados nessa propriedade eram orgânicos, mais

devido à dificuldade de conter os resíduos de agrotóxicos que vinham pelo ar quando vizinhos

aplicavam em suas lavouras, assim como a falta de incentivo da população local, que não

queriam pagar um valor diferenciado por esses produtos, somada à burocracia e alto valor

cobrado pela empresa responsável em fazer a vistoria e emitir o selo orgânico, vem aos

poucos convertendo sua produção para o sistema convencional. Não possui muita tecnologia,

apenas um trator simples e um veículo utilitário (caminhoneta) para transportar os produtos.

Uma parte dos produtos é comercializada por meio do PAA e PNAE, sendo que a maior parte

vendida em comércios do município de São Tomé e de Cianorte. Outra parte é vendida em

indústrias da região. Disse que gosta muito de morar no sítio, não trocaria o trabalho no

campo pelo da cidade, por considerar o campo mais tranquilo, onde encontra paz e pode

organizar sua forma de trabalhar, sem ter muita pressão porque é a família que planeja e

executa todas as atividades dessa propriedade (Figura 3D).

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Figura 3A. Entrevista com Guilherme Klobuchar Figura 3B. Entrevista com Denivaldo Klobuchar

Figura 3C. trevista com Marcos A. Escudeiro Figura 3D. Entrevista com Marciel de Lima

Figura 3. Entrevista com agricultores

Análise das entrevistas realizadas nas aulas de campo nas propriedades rurais e

seleção das fotos para montagem do vídeo:

A partir das aulas de campo nas propriedades rurais e das informações coletadas, foi

realizado um debate em sala de aula, no qual os alunos tiveram oportunidade de expressar sua

opinião, relatando os principais elementos que viram. Grande parte dos alunos relataram que

não tinham conhecimento das condições de vida dos agricultores, pensavam que eram

atrasados, moravam em casas antigas e trabalhavam de forma diferente.

Por exemplo, o aluno A1 considerou as propriedades visitadas bem organizadas e se

encantou com as lavouras de frutas, principalmente a de morango. O aluno B1 falou sobre a

quantidade de pessoas que trabalham no meio rural, verificando assim que praticamente todos

são da mesma família. O aluno B2 relatou a existência de carros novos sob a posse dos

agricultores e de muitas tecnologias que naturalmente podem ser vistas na cidade, como é o

caso de antenas parabólicas, celulares, computadores ligados à internet, além de muitos

eletrodomésticos existentes nas residências dos agricultores. Já o aluno C1 disse ser

interessante a forma dos produtores levarem seus produtos para serem comercializados, nas

caixas, organizados nas caminhonetas. O aluno D1 considerou que a renda declarada pelos

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agricultores é muito boa, bem mais do que seu pai ganha trabalhando de empregado na Usina

de Álcool. O aluno D2 fez relação dos produtos vistos nas diferentes propriedades com alguns

produtos que são servidos na merenda da escola. De forma geral, todos os alunos fizeram

comentários, sendo que 90% dos educandos participaram mais ativamente do debate.

Na sequencia ocorreu a sistematização do conteúdo, com as informações relevantes

das entrevistas e seleção das fotos e imagens para elaboração de um pequeno vídeo. Dentre as

principais formas de comercialização dos produtos agrícolas, foram destacadas as vendas

feitas por meio dos programas governamentais PAA e PNAE dos quais fornecem produtos

para escolas, creches, Assistência Social e outras entidades beneficentes desse município, do

comércio local, do comércio ambulante nas residências e em algumas indústrias de

beneficiamento existentes principalmente em São Tomé e no município de Japurá.

Pesquisa na cantina da escola:

A fim de comprovar os fatos levantados nas aula de campo nas propriedades rurais,

alunos realizaram aula de campo na cantina do Colégio e entrevistaram as cantineiras. De

acordo com o relato dessas funcionárias, aproximadamente dez agricultores fazem entrega de

diversos produtos de qualidade com frequência na cantina como: mandioca, olerículas, feijão

e frutas tais como goiaba, morango, laranja e tangerina. Essas informações foram

sistematizadas e socializadas na sala de aula, com grande envolvimento dos estudantes. Por

exemplo, o aluno A1 disse que não imaginava que muitos dos produtos servidos na merenda

escolar vinham das propriedades rurais do município. O aluno A2 destacou a qualidade dos

produtos fornecidos pelos agricultores locais. O aluno A3 relatou que achava que todos os

produtos da merenda escolar vinham de outros municípios porque já observou um caminhão

descarregando mercadorias, porém nunca viu agricultores trazendo esses produtos até à

escola.

Exposição:

Os alunos, após selecionarem as fotos e gravações realizadas durante as aulas de

campo, passaram a trabalhar na organização de materiais para a exposição. Foram construídos

cartazes e mural com fotos. Realizaram a identificação e catalogamento de objetos e

ferramentas antigas que caracterizam o trabalho rural e um pequeno vídeo com o conteúdo

das aulas de campo e a avaliação dos alunos foi produzido. Houve um grande envolvimento

dos alunos que não mediram esforços para participarem e prepararem os materiais que foram

apresentados à comunidade escolar (Figura 6A e 6B).

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Figura 6A: Alunos preparando e organizando materiais para

apresentação dos resultados

Figura 6B: Alunos preparando mural de fotos

Figura 6. Alunos organizando materiais para exposição

A exposição para a comunidade escolar ocorreu no dia 19 de outubro, em uma das

salas de aula, no pátio e mural da escola (Figura 7A e 7B), com uma breve apresentação pelo

professor, dos objetivos do trabalho, seguido da apresentação dos materiais elaborados e

construídos ao longo da implementação (cartazes, gráficos, mural de fotos); exposição das

ferramentas e objetos que caracterizam o trabalho e a vida no campo; apresentação do vídeo

construído pelos alunos; relato de alguns alunos e avaliação oral dos resultados do projeto.

Participaram da exposição os alunos, a equipe pedagógica e direção da escola, além de outros

membros da comunidade escolar, que fizeram pronunciamento ao final, considerando que

esse trabalho foi muito importante tanto para a aprendizagem dos alunos quanto para a escola

e comunidade.

Figura 7A: Comunidade Escolar participando da exposição. Figura 7B: Exposição de ferramentas utilizadas no trabalho

rural.

Figura 7. Exposição na escola

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Durante a realização do projeto apresentado, procurou-se traçar ações planejadas,

executadas com divisão de trabalho e avaliadas quanto ao processo de ensino aprendizagem, a

fim de envolver a comunidade e ampliar a compreensão sobre a importância da agricultura

familiar na geração de emprego e na produção de alimentos básicos, que fazem parte da nossa

alimentação.

O tema abordado no projeto veio ao encontro da realidade local, na qual os alunos

participantes estão inseridos, uma vez que a base da economia do município de São Tomé é a

atividade agropecuária, onde é cultivado uma diversidade de produtos, por meio de diferentes

formas de organização, tanto da agricultura familiar, quanto do agonegócio.

Com a implementação do projeto de pesquisa e ensino com os alunos, além de

identificar os agricultores familiares de São Tomé, também oportunizou aos alunos do 7º ano

C dessa escola, um conhecimento mais aprofundado, indo além dos conteúdos trazidos pelos

livros didáticos. Contemplou-se as diferentes formas de organização existentes no meio rural

e os sujeitos envolvidos na rotina do campo, com as especificidades da realidade agropecuária

de São Tomé-Pr.

Os alunos passaram a conhecer a origem de grande parte dos alimentos que estão

presentes em suas principais refeições do dia, inclusive na merenda escolar, além de conhecer

os agricultores que são responsáveis pela sua produção, a forma como estão organizados, os

incentivos que recebem das diferentes esferas governamentais, seu modo de vida, seus lucros

e os principais motivos que os prendem a essa atividade, que muitas vezes sofrem com muitos

problemas que os afligem. Além disso, discutiu-se a valorização do trabalho do agricultor e a

importancia da agricultura familiar.

A metodologia utilizada para o trabalho oportunizou aulas mais dinâmicas, alunos

mais motivados, incentivo a reflexão crítica e a pesquisa. A associação da teoria com a prática

e a articulação do conteúdo com exemplos da realidade local, com os que ocorrem em outros

espaços, trouxeram maior ãbstração e significação ao conhecimento, facilitando o processo

ensino-aprendizagem. Para tanto foi fundamental a diversificação de metodologias, com

trabalho em sala de aula e com aulas de campo, juntamente com a exploração de diferentes

recursos didáticos (data show, quadro branco, propriedades rurais, cantina da escola, sala de

aula, livros, mapas, internet, entre outros) e diferentes linguagens (cinematográfica com

vídeos documentários; fotográfica; cartográfica com imagens, gráficos, tabelas e mapas;

escrita com exploração de diferentes tipos de texto; oral com leituras, debates, apresentação

de trabalhos; artística com a exploração de músicas, construção de paineis; entre outras).

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Foi visível a evolução de conhecimento adquirido por parte dos alunos, que

demonstraram certa resistência na parte inicial da implementação, mais foram se envolvendo

e pegando gosto pelos assuntos abordados em cada aula. A participação e envolvimento foi

ainda maior quando foi trabalhado a parte prática, no trabalho de campo, onde foram feitas

visitas em propriedades rurais administradas por agricultores familiares desse município.

Houve grande envolvimento dos alunos na elaboração dos materiais que foram utilizados

nessa etapa, além do protagonismo desses educandos na seleção e preparação dos materiais

utilizados na apresentação dos resultados à comunidade escolar. Portanto, avalia-se de forma

positiva todas as etapas desse projeto.

Foi visível a evolução de conhecimento dos alunos a respeito da agricultura familiar,

suas principais características e sua participação na produção de alimentos e na promoção da

Segurança Alimentar e Nutricional. A partir desses conhecimentos, os alunos passaram a dar

mais valor ao agricultor familiar e seu trabalho, além de respeitar sua cultura e forma de vida.

É importante destacar que perceberam a relação de interdependência entre o rural e o urbano,

uma vez que muitos dos participantes são de origem urbana e desconheciam a existência e a

importância do meio rural como fornecedor de alimentos, gerador de trabalho, renda e de uma

rica cultura.

Não se pode negar que houve dificuldades e imprevistos. Entre as dificuldades,

destacamos a produção do material didático, a organização das aulas de campo, a resistência

dos alunos na fase inical do projeto, as poucas aulas de geografia disponível na grade

curricular. Mas, ao longo do processo as dificuldades foram superadas e atingiu-se os

objetivos propostos.

Por meio da pesquisa, destacou-se a importância da agricultura na produção de

alimentos com destaque para a Agricultura Familiar, que produz mais de 70% da comida dos

brasileiros. Dessa forma, procurou-se refletir que cabe a cada um de nós, principalmente

educadores, incentivar e valorizar cada vez mais a tarefa digna de lavrar o solo todos os dias,

de sol a sol, mesmo enfrentando problemas como as condições climáticas, a concorrência

desleal sofrida junto ao agronegócio, a falta de incentivo dos nossos governantes, entre outras.

Todavia é imprescindível visionar uma estrutura político-econômica que possa não só

reconhecer como também favorecer ainda mais os agricultores familiares no seu processo de

desenvolvimento.

Destaca-se também a importância do professor e dos alunos serem pesquisadores e

protagonistas do processo de ensino, em uma perspectiva critica, reflexiva e transformadora

da educação escolar, prevendo a necessidade de tempo e condições estruturais na escola para

isso. Tais condições envolvem recursos para o professor pesquisar, estudar e planejar suas

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aulas. É necessário tempo disponível no currículo para o ensino de Geografia e estrutura para

a viabilização de metodologias que vão além do ensino bancário tradicional. O conhecimento

escolar se constrói, principalmente na mediação pelo professor aos alunos, considerando a

vivência destes e articulando o conhecimento científico com o conhecimento do cotidiano, nas

diferentes escalas de analise, indo do local ao global.

No ensino de geografia, neste contexto, as práticas espaciais vivenciadas pelos

alunos são fundamentais na significação do processo de ensino-aprendizagem.

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