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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA: Considerações preliminares

José Armando Peletti 1

João Batista Zanardini2

RESUMO A escola é um espaço supercomplexo, no qual se encontram alunos ditos “normais”, alunos com deficiências psicológicas, pedagógicas, físicas e sociais, além de professores e demais funcionários com suas características complexas e diversas, consequentemente também, com diversos entendimentos teóricos. Diante de tantas diversidades que compõem o todo escolar existe o desafio de se praticar uma Gestão Democrática, tema deste trabalho, e

que pode significar também o compreender e estar à disposição das contradições, das críticas, de novas formas de pensar/agir, das possíveis provocações de mudanças. Sobre o tema muito se comenta, se escreve, se debate quanto a gestão “ideal”, a forma de administração que se deve implementar. E, algumas ideias vão surgindo, tais como a de que o diretor ou gestor deve estar disposto e ser capaz de proporcionar que os membros dos diversos segmentos que compõem o ambiente escolar participem, discutam, decidam e contribuam com as realizações daquilo que se decidiu em conjunto, no coletivo, principalmente, a disposição dos sujeitos componentes em contribuir na teoria e na prática. Ter como ideal a democracia e tê-la como princípio na gestão escolar, é um tema que desperta interesse de muitos, mas é preciso compreender o que é democracia, como ela pode se desenvolver dentro das escolas. Assim, é o que se busca discutir neste artigo e em sua proposta questões que envolvem a gestão escolar democrática e participativa pensando que a escola é um espaço onde se procura educar para viver na sociedade os “ideais” dentre os quais o de uma democracia que respeitando a todos e todas e seus respectivos posicionamentos permita-se tomar as decisões que vise atender todos os sujeitos que se propõem viver em uma comunidade.

Palavras chaves: Educação, Gestão, Democracia, Paricipação

INTRODUÇÃO

O presente artigo é resultado do trabalho de implementação do projeto de

PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional - que teve como principal

objetivo envolver mais profissionais em torno do tema sobre Gestão democrática e

participativa, buscando ao mesmo tempo discutir sobre a escola que queremos e a

sociedade que desejamos ver esta escola ajudando desenvolver e quais possíveis

1 Professor de História, na EJA – Educação para Jovens e Adultos em Cascavel, Paraná e aluno do PDE – Plano

de Desenvolvimento Educacional.

2 Professor do Colegiado de Pedagogia da UNIOESTE – Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de

Cascavel, Paraná.

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desafios que, na prática, surgem obstaculizando, dificultando um trabalho

administrativo-educacional autônomo-participativo.

Este projeto desenvolveu-se fundamentado em leituras de materiais, textos,

livros, vídeos/documentários e legislações pertinentes, conforme referencia

bibliográfica, discutindo-se as diversas questões apresentadas ao público alvo.

(debate)

Ter como ideal a democracia e tê-la como princípio na gestão escolar, é um

tema que desperta interesse de muitos, mas é preciso compreender o que é

democracia, como ela pode se desenvolver dentro das escolas. Assim, busca-se

discutir neste artigo questões que envolvem a gestão escolar democrática e

participativa pensando que a escola é um espaço onde se procura educar para viver

na sociedade os “ideais” dentre os quais o de uma democracia que respeitando a

todos e todas e seus respectivos posicionamentos permita-se tomar as decisões que

vise atender todos os sujeitos que se propõem viver em uma comunidade

A escola é um espaço supercomplexo, na qual se encontram alunos ditos

“normais”, alunos com deficiências psicológicas, pedagógicas, físicas e sociais e

também professores e demais funcionários com suas complexidades de

características e, consequentemente também, com diversos entendimentos teóricos.

Diante de tantas diversidades que compõem o todo escolar existe o desafio

de se praticar uma Gestão Democrática, tema deste trabalho, e que pode significar

também o compreender e estar à disposição das contradições, das críticas, das

novas ideias, das possíveis provocações de mudanças.

Sobre o tema muito se comenta, se escreve, se debate quanto a gestão

“ideal”, a forma de administração que se deve implementar. E, algumas ideias vão

surgindo, tais como a de que o diretor ou gestor deve estar disposto e ser capaz de

proporcionar que os membros dos diversos segmentos que compõem o ambiente

escolar participem, discutam, decidam e contribuam com as realizações daquilo que

se decidiu em conjunto, no coletivo e para que os sujeitos componentes estejam,

também, dispostos a contribuir.

Em torno da Gestão escolar discorrem-se diversas questões, pois não

basta saber, querer e até participar de momentos de reuniões, de decisões, mas faz-

se necessário primeiramente ter consciência de que tais decisões e realizações

devam ser para o bem coletivo, proporcionando acima de tudo uma educação de

qualidade, com vistas a emancipação dos sujeitos, considerando-se que para se

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caracterizar gestão democrática não é suficiente que o gestor trate todos sem

distinção, não basta o dirigente ouvir a todos sobre decisões a ser implementadas.

A partir da preocupação de proporcionar uma escola autônoma onde se

desperte e se pratique uma gestão educacional consciente, democrática, com

participação, decisões e ações coletivas no projeto pretendia-se discutir e apontar

ideias sobre a democracia escolar e o enfrentamento diante dos desafios, tais como

as questões sobre que forma de política pública deve ser proporcionada para haver

atendimentos específicos, diante da não homogeneidade de ritmos, possibilidades e

características para um aprendizado universal.

Existem muitas questões a serem respondidas sobre o tema Gestão escolar,

mas talvez as mais importantes sejam: que sociedade que eu quero; que tipo e

formação devem ter estes sujeitos para compor este tipo de sociedade; que tipo de

escola deverá formar estes sujeitos que irão formar esta sociedade; que

profissionais poderão proporcionar tal escola e; que concepções deve ter o gestor

para dirigir esta escola?

Inicia-se com a ideia de que para haver gestão democrática faz-se necessário

a participação efetiva de todos os segmentos que constituem o espaço escolar e que

havendo integração de todos os sujeitos destes, certamente haverá divergências de

opiniões de posicionamentos críticos. E que, a partir desse entendimento é que a

disposição do gestor em proporcionar o debate e a busca coletiva de soluções, de

decisões, de praticas administrativo-pedagógico, é essencial para participação e

construção de uma escola democrática.

A gestão escolar participativa é atendida como uma forma regular e significante de envolvimento de professores e demais funcionários, especialistas, pais alunos e diretores de uma organização no seu processo decisório. Em organizações democraticamente administradas – inclusive escolas – os funcionários são envolvidos no estabelecimento de objetivos, na solução de problemas, na tomada de decisões, no estabelecimento e manutenção de padrões de desempenho e na garantia de que sua organização está atendendo adequadamente às necessidades do cliente (Lück, Freitas, Girling e Keith. 1998, capa).

Desconsiderando-se o fato dos autores tratarem o estudante como cliente,

conotando uma visão de educação sob a ótica de produto comercial, destaque-se a

necessidade de todos os segmentos de uma escola estarem envolvidos nas

decisões, na avaliação para manutenção e/ou alteração dos rumos da organização

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escolar, o que impõe uma visão participativa por parte de “todos”, para todos,

pressupondo a formação de determinados sujeitos.

Como diversas questões incomodam, tais como o tipo de formação ao ser

humano que se pretende; como envolver todos e mais, qual o tempo que temos para

todas as discussões, considerando a diversidade de opiniões, de entendimentos, de

soluções a serem propostas, procurou-se com este projeto de ação e pesquisa

apontar minimamente o que é e como se constitui uma gestão democrática

participativa na prática, considerando também o que

Dirigentes de escolas estaduais comumente apontam a dificuldade que tem em dedicar-se à implementação do seu projeto político-pedagógico, tendo em vista as constantes demandas, muitas vezes descontroladas e urgentes, impostas à instituição pelos diferentes órgãos das secretarias estaduais de Educação (Lück. 2006, p. 68).

Outra consideração importante discutida no grupo de estudos “Gestão

Democrática e Participativa” que fizemos encontra-se neste mesmo livro em que se

apresentam aspectos da transformação do enfoque centralizador da administração

para o de gestão compartilhada, participativa, modificando o enfoque

a) da óptica fragmentada para a óptica organizada pela visão de conjunto; b) da limitação de responsabilidade para a sua expansão; c) da centralização da autoridade para sua descentralização; d) da ação episódica por eventos para o processo dinâmico, contínuo e global; e) da burocratização e hierarquização para coordenação e horizontalização; e f) da ação individual para a coletiva (idem, p.66-67).

A parcialidade, o trabalho isolado de cada professor, de cada disciplina, de

cada membro dos segmentos da escola precisa ser superado, permitindo que o

coletivo, a totalidade, o conjunto se sobrepunha, com projeto de construção de uma

escola que proporcione a formação de sujeitos preocupados não com o

individualismo que o sistema consumista da sociedade impõe, mas com uma visão

de sujeitos participativos, cooperativos, compreendendo-se a sociedade como um

organismo vivo em que todo ele sente tendo um de seus membros doente.

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1. DEMOCRACIA E EDUCAÇÃO

A educação escolar tem como principal importância a formação intelectual

dos sujeitos para pensarem, analisarem, questionarem, proporem, transformarem a

realidade, porém sem a pretensão de que a escola seja a única responsável para as

mudanças que se fazem necessárias para a realidade. Ela deve contribuir para que

os sujeitos possam intervir na construção da sociedade que a coletividade pretenda,

[...] e considerando que uma sociedade democrática só se desenvolve e se fortalece politicamente de modo a solucionar seus problemas se pode contar com a ação consciente e conjunta de seus cidadãos, não deixa de ser paradoxal que a escola pública, lugar supostamente privilegiado do diálogo e do desenvolvimento crítico das consciências, ainda resista tão fortemente a propiciar, no ensino fundamental, uma formação democrática que, ao proporcionar valores e conhecimentos, capacite e encoraje seus alunos a exercerem ativamente sua cidadania na construção de uma sociedade melhor (Paro.2000, p.3).

Assim, entende-se que uma dessas formas de contribuição se materializa na

gestão da escola, para tanto a escola deveria ser pensada, praticando internamente

o exercício da democracia participativa.

E é pensando na democracia como exercício difícil, pois em si mesma ela é

contraditória, questionável e exige administrar conflitos de interesses, de caminhos e

entendimentos diferentes, que propomos algumas questões e ousamos propor

sugestões no sentido de construirmos em nossas escolas, especificamente no

CEEBJA - Professora Joaquina Mattos Branco3, atividade que nos leve a pensar

sobre como podemos ter uma escola em que todos os membros representantes de

todos os seus segmentos possam participar efetivamente na gestão da escola, no

sentido de uma construção coletiva e com participação ainda maior.

Como já afirmamos, muito se comenta, se escreve, se debate sobre a gestão

“ideal”, a forma de administração que se deve implementar nas escolas.

Apresentam-se diversas teses descrevendo sobre como deve ser uma gestão

democrática. Muitos desses trabalhos indicam em primeiro lugar que o diretor ou

gestor deve estar disposto e ser capaz de proporcionar que os membros dos

3 CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica Para Jovens e Adultos – Professora Joaquina Mattos Branco,

situado na cidade Cascavel, Estado do Paraná (atende exclusivamente modalidade da EJA – Educação de Jovens

e Adultos – últimas séries do Ensino Fundamental e Ensino Médio para estudantes acima de 15 e de 18 anos

respectivamente).

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diversos segmentos que compõem o ambiente escolar participem, discutam,

decidam e contribuam com as realizações daquilo que se decidiu em conjunto, no

coletivo bem como os sujeitos componentes devem estar dispostos a contribuir para

a execução dessas ações.

A partir destas constatações nos deparamos com diversas questões que se

discorrem mais adiante, pois não basta saber, querer e até participar em momentos

de reuniões, de decisões, mas antes de tudo faz-se necessário ter conhecimento de

que tais decisões e realizações devam ser para o bem coletivo e sobretudo

pensadas pelo coletivo, proporcionando uma educação de qualidade que, por sua

vez, proporcione a emancipação dos sujeitos.

Mas também há que se ter o cuidado de não incorrer na defesa de uma

escola “gerenciada” sob o ponto de vista de uma empresa, conforme nos chama

atenção a afirmação de Christian Laval, dizendo que

Esse trabalho de redefinição da instituição escolar como “empresa educativa” foi desenvolvido desde o fim dos anos 1970 [...]. No desvio dos anos 1980, a pedagogia se torna uma “gestão”, mesmo uma “gestão mental” e alguns propõem ver no professor um “gerente de sua classe”. Saberes, inovação, parcerias, tudo depende dessa lógica que tem atração das visões totalizantes. Esses discursos permitiram colocar, simbolicamente, a instituição escolar sob a jurisdição de uma lógica de gestão estranha à sua referência cultural e política antiga mas, também, submetê-la à pressão de lógicas sociais e econômicas que até então lhe eram exteriores, favorecendo, assim, a interiorização de novos objetivos e a constituição de novas identidades profissionais(Laval. 2004, p.44/45).

A educação, a escola concebida e administrada sob essa lógica está voltada

para uma “função utilitária, relacionada ao bem-estar, à prosperidade, ao serviço dos

interesses individuais...”, “[...] adaptada ao capitalismo global de hoje [...], por que a

educação é confundida como um produto privado, uma mercadoria”, conforme

afirma o próprio Christian Laval em entrevista à Folha Online, em 24/06/2003.

Daí decorre a preocupação de se proporcionar uma escola autônoma, onde

desperte e pratique-se uma gestão educacional consciente, democrática,

participativa, com decisões e ações coletivas que este trabalho visou discutir e, na

medida do possível, apontar ideias sobre a democracia que queremos nas escolas,

superando os desafios que se apresentam para assim a praticarmos.

Como dito anteriormente, a escola é um espaço supercomplexo, onde

encontramos alunos ditos “normais”, alunos com deficiências psicológicas,

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pedagógicas, físicas e sociais. Professores e demais funcionários com mesmas

complexidades de características. Aí, podemos nos defrontar com questões tais

como que tipo de política pública deveria ser implementada para que haja

atendimentos específicos, pois não há homogeneidade de ritmos, possibilidades,

características para um aprendizado que se pretende universal.

Praticar uma gestão democrática na escola significa estar à disposição das

contradições, das críticas, das novas ideias, das possíveis provocações de

mudanças. Isto por que para se caracterizar gestão democrática não é suficiente o

gestor tratar a todos sem distinção, não basta o dirigente ouvir a todos sobre

decisões a serem implementadas, é preciso considerá-las na tomada de decisões.

Para haver gestão democrática faz-se necessário a participação efetiva de

todos os segmentos que constituem o espaço escolar. Havendo integração dos

sujeitos dos segmentos, certamente haverá divergências de opiniões de

posicionamentos críticos. E para efetivar-se deve haver disposição do gestor em

proporcionar o debate, no sentido de se buscar coletivamente soluções, decisões,

práticas administrativo-pedagógicas, o que é essencial para participação, para

construção de uma escola democrática.

Neste sentido, além da disposição do gestor, para efetivação de uma gestão

democrática, em que todos os sujeitos que compõem a escola possam interferir nas

decisões e ações, não pode haver empecilhos, numa “... relação entre

descentralização, participação e autonomia...” de forma “populista” e/ou autoritária

que possa “... ser utilizada tanto por aqueles que defendem políticas atreladas ao

neoliberalismo, quanto por aqueles que defendem políticas que garantam os

interesses da maioria da população” (VIRIATO et all,2001).

É preciso romper com esta cultura de estruturas hierarquizante-burocráticas

que dificultam a prática da gestão democrática, permitindo-se/conquistando-se maior

diálogo e decisões de acordo com interesses/necessidades da comunidade escolar.

Mas, para isso faz-se necessário que essa comunidade queira decidir,

participar e agir e, por sua vez ela precisa compreender a relevância de se colocar

como parte responsável do processo. Assim, a socialização do conhecimento é a

base dessa formação.

E, é com essas preocupações que se propôs alguns questionamentos para

debate sobre o tipo de formação ao ser humano que se pretende, como envolver

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todos os demais, qual o tempo que temos para todas as discussões, tendo em vista,

certamente, a diversidade de opiniões, entendimentos e soluções a serem definidas.

São estas e tantas outras preocupações que nos desafiaram propor o projeto

que pudesse apontar minimamente o que é e como se constitui uma gestão

democrática participativa na pratica. Como sobressair da situação geralmente

encontrada nas escolas quanto às dificuldades dos gestores e equipes em se

dedicar integralmente a um projeto pedagógico, principalmente devido a imposições

de órgãos superiores e pelas solicitações sempre de última hora para serem

atendidas. Como agir de forma “autônoma” e de acordo com as

necessidades/decisões da comunidade escolar? (LÜCK, 2006)

São muitas as questões que precisam ser respondidas em torno do tema da

gestão escolar, mas talvez as mais importantes sejam: que sociedade queremos?,

que tipo e formação devem ter estes sujeitos para compor este tipo de sociedade?,

que tipo de escola deverá formar estes sujeitos que irão formar esta sociedade?,

que profissionais poderão proporcionar tal escola e que concepções deve ter o

gestor para dirigir esta escola?

É necessário envolver todos os profissionais da escola, os estudantes, pais, a

comunidade como um todo em torno da Gestão democrática e participativa,

buscando ao mesmo tempo discutir-se sobre a escola que queremos e a sociedade

que desejamos ver esta escola ajudando desenvolver e quais possíveis desafios

que, na prática, surgem obstaculizando, dificultando um trabalho administrativo-

educacional autônomo-participativo.

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, em seu artigo

14, consta que:

Art.14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios: I - participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico da escola; II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes (BRASIL, 1996, s/p)

Mas a grande questão que podemos apresentar é sobre o como fazer para

que estas participações sejam significativas no sentido de permitir que “todos” os

membros dos segmentos possam estar se reunindo e contribuindo para tomada de

decisões.

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Os Conselhos Escolares são “órgãos” que representam todos os segmentos

de uma escola e, no intuito de contribuir com análise e buscar formas de como

fortalecer estes, o Ministério de Educação e Cultura, em seu site

http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=12384:co

nselhos-escolares-apresentacao&catid=316:conselhos-escolares&Itemid=655,

lançou o “Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares”, e na sua

apresentação nos diz que

Aos Conselhos Escolares cabe deliberar sobre as normas internas e o funcionamento da escola, além de participar da elaboração do Projeto Político-Pedagógico; analisar as questões encaminhadas pelos diversos segmentos da escola, propondo sugestões; acompanhar a execução das ações pedagógicas, administrativas e financeiras da escola e mobilizar a comunidade escolar e local para a participação em atividades em prol da melhoria da qualidade da educação.(BRASIL, s/d. s/p).

Para que a gestão escolar seja democrática e participativa é preciso que

todos os segmentos encontrem seus espaços para contribuir administrativa-

pedagogicamente com as transformações, superando o que se apresenta como

desafios intra e extra-escola, pois a prática da democracia no espaço escolar pode e

deve ser também exercitada na sociedade como um todo e vice versa.

2. DESENVOLVIMENTO DO PROJETO EM DEBATES

Passamos, a partir de agora a relatar mais minuciosamente a forma de

desenvolvimento do projeto na escola. Com apoio, sobretudo do orientador

professor João Batista Zanardini e de materiais como o projeto, textos, livros e

legislações pertinentes, conforme referencia bibliográfica, iniciou-se a

“implementação” do projeto com apresentação ao público alvo, explicando-se como

e quais os objetivos como o de se buscar conjuntamente respostas a algumas

questões apresentadas no projeto.

Para proporcionar condições de mais profissionais da educação participar, foi

desenvolvido em dois dias da semana (terças e sextas feiras). Não se envolveu

alunos, pois a maioria são trabalhadores e já se previa (por experiência) a

dificuldade destes em participar.

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O trabalho de implementação na escola foi desenvolvido com profissionais da

escola, CEEBJA Professora Joaquina Mattos Branco, além de duas professoras que

atuam em outras escolas.

Ao final dos trabalhos de discussões/implementação, distribuiu-se

aleatoriamente a professores e demais funcionários um questionário com 4

questões: 1. Você participou da reunião pedagógica no início do ano letivo – 2014,

no CEEBJA? 2. Estava presente quando foi explicado sobre a implementação do

projeto PDE? 3.Participastes do grupo de implementação do projeto Gestão escolar

democrática e participativa – PDE – Professor José? 4. Por qual ou quais motivos

não participastes?

Das 33 respostas às questões acima, 12 disseram “não” e 21 “sim” à primeira

questão; à segunda questão 17 ”sim” e 16 “não”; à terceria questão as respostas

foram 5 “sim” e 28 “não” e as justificativas, na questão 4 foram: 1 por que é PSS

(CONTRATO), 6 responderam que fizeram Reunião Pedagógica em outras escolas

portanto não ficaram sabendo do projeto, 1 por que estava adaptada, 1 disse que

não participou por falta de interesse, 2 por que não tinham tempo disponível uma

vez que estavam envolvidos em outros cursos, 1 não participou por que estava

envolvido no seu projeto de PDE, 6 não responderam, 10 por dificuldade quanto ao

tempo, 1 respondeu que estava participando, 4 disseram não participar por falta de

informação quanto ao tempo da “formação” ou que ficaram esperando resposta

sobre validade ou não das horas de certificação para classificação junto ao Núcleo

Regional de Educação 4.

Você participou da

Reunião Pedagógica

no início do ano letivo –

2014, no CEEBJA

. Estava presente quando

foi explicado sobre

implementação do projeto

PDE

Participastes do grupo de

implementação do projeto

Gestão escolar

democrática e participativa

– PDE – Professor José

Por qual ou

quais motivos

não

participastes

SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

21 12 17 16 5 28

Ainda que estas questões possam não ter um rigor científico, pode-se concluir

daí a dificuldade de participação de grande parte dos sujeitos trabalhadores na

escola. Ou se “impõe” de certa forma uma participação, ou a vivência democrática é

4 Tabela elaborada pelo autor.

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uma constante tentativa de construí-la. Também se pode perceber que a maioria dos

que participaram do projeto de discussão sobre a gestão democrática na escola não

esteve presente na reunião inicial, quando se detalhou sobre a implementação do

projeto.

2.1. TRABALHO DESENVOLVIDO NO GRUPO DE IMPLEMENTAÇÃO NA

ESCOLA

Para conclusão deste trabalho, na escola, discutiu-se e sintetizou-se a partir

de 11 questões básicas que entendemos necessárias para tentar dar respostas às

questões que fundamentaram a proposição deste projeto que entendemos

essenciais para pensarmos uma escola que prepare os sujeitos que irão atuar na

sociedade, de forma democrática (definir que sociedade queremos; que tipo de

formação devem ter estes sujeitos para compor este tipo de sociedade; que tipo de

escola deverá formar estes sujeitos que irão formar esta sociedade; que

profissionais poderão proporcionar tal escola e que concepções deve ter o gestor

para dirigir esta escola).

As questões debatidas, respondidas e sistematizadas pelos participantes

foram as seguintes: que tipo de sociedade gostaríamos de ajudar a construir?; que

sugestões podemos definir importantes para a escola representar esse ideal de

sociedade que se quer construir?; como nossa escola deve agir de forma a contribuir

com a construção dessa sociedade que queremos?; se a temos, como está se

construindo uma escola autônoma?; se os participantes deste projeto participam da

gestão escolar, por que e como?; se a gestão de uma escola pode contribuir para

que ela participe ou não na mudança social?; se a gestão de nossa escola pode ser

considerada democrática?; se a escola não é autônoma, democrática e participativa

por que isso não ocorre?; se os órgãos colegiados tem participação assídua em

nossas escola?; o que falta para termos de fato uma gestão democrática e

participativa? e; por fim, o que é democracia?.

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2.1.1. RELATÓRIO A PARTIR DO GRUPO DE ESTUDOS NA ESCOLA 5

A partir de agora, passamos a relatar as impressões advindas do grupo que

debateu/estudou durante a implementação do projeto na escola, por considerar sua

importância para as conclusões deste trabalho.

Destacamos, do relatório feito pelo grupo, o que pensamos relevante para

compreendermos quão importante foi e é o estudo/debate a respeito da prática

democrática nas escolas e sociedade.

2.1.1.1. QUE SOCIEDADE SE QUER?

Para a pergunta sobre que tipo de sociedade gostaríamos de ajudar a

construir, concluiu-se que se deseja

uma sociedade “harmônica”, sem exploração, com educação de qualidade

para todos, inclusiva, democrática, plural, justa, ecologicamente sustentável,

solidária, pacífica, feliz, articulada, mobilizada, [...] , reflexiva e capaz de superar as

ideologias manipuladoras, com qualidade, dignidade e, principalmente, com respeito

e sabedoria.

Uma sociedade composta pela democracia plena, com espaço para que as

pessoas pudessem desenvolver suas atividades físicas e intelectuais. De maneira

que a igualdade, trabalho e formação fossem princípios para a reorganização da

vida em sociedade, com todos os cidadãos com oportunidades “parecidas” e que

seus direitos fossem garantidos e respeitados.

Para isso faz-se necessário trabalhar na educação com conteúdos que

conscientize a importância do coletivo. Neste momento de transição da sociedade,

onde tolerância, sustentabilidade, multiculturalismo são essências para

encontrarmos uma sociedade que se apresente mais participativa, a sociedade ideal

pretendida poderia ser representada pelo exercício pleno da democracia, na qual as

pessoas pudessem ter os direitos respeitados em sua plenitude.

Que a escola também faça parte desta transformação já que a mesma é um

agente político, visando formulação de um projeto emancipatório do cidadão, tendo

como foco a construção de uma sociedade que vá além do valor monetário da

mercadoria, do trabalho, que busque a formação do cidadão como sujeito.

Construir uma sociedade igualitária, com maior participação popular, livre de

preconceitos sexuais, econômicos, políticos, filosóficos e de discriminações, e que

todos tenham acesso à cultura, ao lazer e uma educação de qualidade, com menos

diferenças sociais, com maior participação nas decisões e ações, que seja menos

5 Neste item tratamos especificamente das contribuições dos integrantes do grupo desenvolvido no CEEBJA Professora Joaquina Mattos Branco que concluíu elaborando um relatório que aqui constamos.

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julgadora e mais “bairrista”, pois até as particularidades de cada região estão

perdendo sua identificação por meio da mídia globalizada.

2.1.1.2. PAPEL DA ESCOLA PARA UM PROJETO DE SOCIEDADE

Para que a escola contribua com esse “ideal” de sociedade, respondendo à

questão sobre que sugestões podemos definir importantes para a escola

representar esse ideal de sociedade que se quer construir o grupo concluiu ser

importante:

Inicialmente que a escola deva ter mais autonomia para discutir, refletir,

decidir acerca de que escola pretende ser, quais são suas perspectivas,

responsabilidades para construir ou contribuir para uma sociedade mais igualitária e

que haja práticas de pré-assembleias e assembleias com os alunos, repensando-se

a organização de materiais que os professores utilizam em sala de aula (elaborar

material pedagógico para o aluno e execução ou construção de projetos.), discutindo

o conjunto da escola em reuniões para que todos possam conhecer a amplitude

desse estabelecimento de ensino, instigando o compromisso de agir conforme

decisões tomadas em grupo.

É preciso romper às vezes com o que está estabelecido, verificando o que é

mais adequado à escola e lutar coletivamente para o fortalecimento de melhores

condições de trabalho e de aprendizagem, com projetos sobre ética e cidadania,

conceitos de sociedade e comunidade, a sustentabilidade, a intolerância em todos

os níveis, entre tantas outras ações pois enquanto professores, funcionários e

equipe, todos os sujeitos de todos os segmentos acreditarem que a

responsabilidade é só da direção da escola (como acontece na maioria), jamais

atingiremos esse objetivo.

Haver formação política, constante, que resulte em ações concretas no intuito

de que, nós trabalhadores, tenhamos ciência da nossa posição de oprimidos na

sociedade capitalista, pois a escola precisa de mais reflexão sobre os problemas

relativos a ela, para isso necessita um envolvimento integral de toda a comunidade

escolar.

2.1.1.3. CONTRIBUIÇÃO DA ESCOLA PARA CONSTRUIR A SOCIEDADE QUE

SE QUER

Na questão que solicita analisar o desempenho da escola, a partir da

pergunta sobre como nossa escola deve agir de forma a contribuir com a

construção dessa sociedade que queremos, fora relatado que

A escola deve ser espaço efetivo de construção dos saberes, isto é, que

contribua de fato, para a formação de um cidadão crítico, participante e atuante na

sociedade na qual está inserido, que tenha como principio educativo a emancipação

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da educação e como objetivo a formação de um sujeito com visão crítica do mundo,

uma sociedade assumindo uma educação crítica reflexiva, humanizadora, científica.

Proporcionando reflexões, assumindo atitudes em grupo, participando de

reuniões, promovendo eventos que caracterizam a região, ouvindo todos da

comunidade escolar, registrando e divulgando as decisões. Uma escola que aja

com a oferta da educação “problematizadora”, em que o aluno pense e se posicione

e não como transmissora de conceitos e informações, sustentada por listas de

conteúdos supostamente “necessários” para o avanço do educando em seus

estudos.

Toda escola tem um regimento que deve ser repensado de acordo com as

necessidades da comunidade onde a escola esteja inserida através de seus órgãos

representativos. A questão da violência na escola, por exemplo, é representação de

nossa sociedade na qual ela está inserida. Isto é um paradigma social, se querem

cidadãos honestos é preciso também que nossos políticos e a sociedade como um

todo sejam honestos.

A escola é por excelência um local onde os educandos têm oportunidade de

elaborar pensamentos mais críticos e isso ajuda toda a sociedade, pois ao sair da

escola esse educando tem oportunidade de disseminar suas ideias. É um espaço de

ação-reflexão-ação, de Paulo Freire, que aponta os desafios da atualidade,

aproxima a escola da vida real e ajuda a desencadear soluções viáveis para além da

sala de aula.

2.1.1.4. A AUTONOMIA DA ESCOLA

Quanto à questão que remete à análise da escola que temos, se está se

desenvolvendo uma gestão democrática, ou seja, sobre como está se construindo

a escola autônoma, relata-se uma certa frustração, pois

A autonomia, muitas vezes, consta em documentos, mas na prática, às vezes,

cumprimos determinações. Sabe-se que a participação efetiva da comunidade no

processo educacional e a autonomia progressiva da escola são indispensáveis para

uma melhor qualidade de ensino, entretanto, na prática, ainda é preciso criar

condições e mecanismos que favoreçam essa autonomia.

Não estamos vivenciando uma escola totalmente autônoma, pois tudo

depende de algo que não está ao nosso alcance, cada um trabalha no seu setor

sem conhecer ou valorizar o setor do outro. Assim, cada um fica sozinho,

executando sua função, sem forças para reivindicar suas necessidades que na

verdade são necessidades para melhorar o atendimento a todos. Vejo ações

isoladas e não percebo um coletivo numa mesma direção. Falta formação politica

constante e dentro do horário de trabalho, não como tarefa de casa.

A propalada democratização de nossas escolas está atrelada às mudanças

que estão ocorrendo em nosso cenário político, desde a época da queda da ditadura

militar. A luta pela democratização no Brasil passa pela defesa de uma gestão mais

autônoma das escolas públicas, os reformadores dos sistemas de ensino, muitas

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vezes, respondem a esta demanda transferindo responsabilidades para as escolas,

tarefas que eram concentradas na própria administração do sistema de ensino.

A autonomia somente existe na proporção em que ela acontece nas relações

sociais e por este caminho ela é construída, tanto no plano individual quanto no

coletivo ou institucional. Sem dúvidas, estamos “tentando” caminhar para uma

escola cada vez mais autônoma, buscando a cada momento construir a identidade

social desta instituição escolar, através da inserção de seus membros e,

principalmente, acolhendo-os em suas necessidades. Enfim, é uma construção

processual continua.

2.1.1.5. A PARTICIPAÇÃO DEMOCRÁTICA NA GESTÃO ESCOLAR

Parece que na questão sobre a participação dos membros deste grupo de

debate, na gestão escolar, se ocorre e como ela se desenvolve, pareceu-nos tão

ínfimo o relato quanto à prática de uma gestão democrática participativa, pois diz-se

que

A participação pode ser entendida entre várias ações diferenciadas, entre elas

colaborando com os pares para manter a boa ordem no ambiente escolar.

Participando dos eventos promovidos pela escola e ações que possibilitam o

fortalecimento da instituição, embora ainda consideremos a importância de reservar

um momento pedagógico para tomar ciência do Projeto Político Pedagógico. Mas,

muitas vezes não se considera importante a participação por que geralmente vem

tudo estabelecido.

Por considerar relevante, participa-se nas reuniões em grupo e por meio das

conversas informais, opinando, sugerindo, questionando, criticando, analisando,

cobrando, identificando e comentando sobre as necessidades e os acertos, enfim

contribuindo no que for necessário.

2.1.1.6. A ESCOLA, A GESTÃO ESCOLAR E MUDANÇA SOCIAL

Refletindo-se sobre a importância do papel do gestor escolar para que esta

possa contribuir na formação dos sujeitos atuantes na transformação da sociedade,

o grupo sintetizou que

A gestão de uma escola pode contribuir para mudança social, mas é preciso

pensar qual sociedade e valores queremos construir. Assim, é necessária haver a

participação de todos os integrantes da escola e um planejamento estratégico que

consiste em educar contribuindo para formação de cidadãos íntegros, conscientes

comprometidos com o desenvolvimento da ciência e da cultura na formação de

valores éticos e sociais.

Mas isso depende do conhecimento político e envolvimento social que a

equipe de gestão tem com a educação e com a sociedade. Uma gestão mais

participativa que provoque e promova ações voltadas à realidade escolar no intuito

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da promoção da qualidade da vida é fundamental, por exemplo, para construção da

proposta ou Projeto Político Pedagógico que pode ser dinâmico na mudança

contemporânea.

Embora seja bastante difícil devido à diversidade de opiniões e ideologias

presentes dentro da escola, acredito que, aos poucos é possível sim, através das

nossas ações diárias contribuir para esta transformação. A gestão constitui um

importante espaço onde a totalidade das ações da escola sejam elas políticas ou

pedagógicas são definidas por toda a comunidade escolar. Pensar em mudanças

sociais implica pensar no coletivo, impera mudanças que sejam construídas e

praticadas com a participação de todos os cidadãos partícipes de uma região,

cidade etc.

Nesse sentido, a escola pode sim ser um canal de debates, lutas, envolvendo

o seu entorno social na busca de soluções de seus anseios. Dessa forma, a gestão

sugerida é participativa, a qual está centrada no indicativo que busca uma sociedade

efetivamente democrática. A gestão pela gestão representa uma forma de

administrar, pode haver “sinergia”, mas nem sempre significa a expressão da

participação dos envolvidos no processo.

2.1.1.7. QUANTO A GESTÃO DA ESCOLA

A sétima questão apresentada ao grupo, sobre se a gestão da escola, pode

ser considerada democrática, o relato sistematizado concluiu que

Se pensarmos em democracia como autonomia para decidir, modificar sobre

aspectos dos quais discordamos, não a temos, pois muitas vezes a escola age não

de acordo com suas convicções e interesse, mas cumpre determinações. O Estado

não é democrático, logo, a escola não o é. Isto é, nas atitudes do dia a dia, nas

análises oportunizadas em sala de aula ou em reuniões de funcionários, até se pode

agir de forma mais autônoma. Mas nas ações que mobilizariam a sociedade mesmo,

como a autonomia financeira, de contratação de funcionários, organização de

currículo, depende da hierarquia estadual e federal.

A gestão democrática implica um processo de participação coletiva, com

reuniões, onde todos têm a liberdade para falar, questionar, analisar em conjunto, de

questionar e reivindicar individualmente aos representantes legais, no entanto, são

poucos os que participam e o sistema dificulta as decisões no interior das escolas.

planejamento, escolha do livro didático, etc. Em partes, o que é imposto pela SEED,

se não concordarmos leva muito tempo até conseguirmos chegar a um acordo.

Assim, o que é da competência da escola, percebemos todos os esforços

voltados a tal prática, mas o “governo” impõe regras, as quais desqualifica o

conceito mencionado. Um exemplo vivido este ano refere-se a instrução 08/EJA:

Quem mesmo que sugeriu as alterações proposta para EJA? Por que precisamos

nos mobilizar em período de férias para contestar tal instrução? Onde e como foi

aplicado o conceito de democracia?

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2.1.1.8. DIFICULDADES DA ESCOLA IMPLEMENTAR A GESTÃO

DEMOCRÁTICA

Numa das questões sobre a possibilidade da escola não ser autônoma,

democrática e participativa, indagou-se sobre os motivos que possam dificultar que

os trabalhos sejam democráticos e participativos e respondeu-se que

A escola tem de cumprir o que lhe é imposto muitas vezes, sem discussão da

comunidade escolar. Não ocorre pela forma como está organizado o sistema

educacional, pela falta de apoio da comunidade política em esfera municipal,

estadual e federal que são compostas de poucas pessoas sem conhecimento da

realidade e que fazem leis e tomam decisões que podam as ações inovadoras. As

ações possíveis, dentro do permissível, oficialmente, são mais as pessoais.

Mas, ao menos no discurso, existe uma grande preocupação por parte do

governo de melhorar a qualidade da educação no país, movido com base nos

exames internacionais que medem a qualidade de ensino e que o Brasil não tem

conseguido bons resultados. Vivemos uma época de competitividade, de

globalização da economia de políticas neoliberais e isso tudo explica o porquê esta

preocupação. Se a legislação é clara, muito bem elaborada, só precisamos colocar

em prática o que está instituído em leis, como a nossa Constituição e a LDB (os

artigos 12,13 e 14 da Lei 9.394/96 apontam com muita determinação a importância

que de fato ocorra uma gestão democrática, que é aquele que pretendemos).

O fator político é o que mais dificulta o alcance, por completo, para a

construção efetiva de uma escola democrática. O poder de decisão ainda está

concentrado no sistema não estendendo suas ações no campo político da

necessidade de tomada de decisão pela escola. A instituição escolar deve conhecer-

se e com isso conhecer os limites das suas potencialidades e a sua capacidade de

construir-se autônoma, mas deve fazer com vistas a construção da autonomia do

processo educativo.

Toda ação de organização e gestão da escola pública deve encontrar uma

razão educativa, isso quer dizer que a construção de uma gestão democrática e

autônoma não pode prescindir, antes de tudo, de uma racionalidade pedagógica, de

desenvolvimento de um projeto educativo.

A falta de conhecimento dos direitos e deveres de cada um, por não ter um

quadro de pessoal politizado capaz de quando criticar, apontar falhas, sugerir uma

proposta diferente.

Para que haja uma gestão democrática, faz-se necessário que todos os

segmentos que compõem o espaço escolar, participarem através de debates que

busquem soluções para minimizar os ajustes e que as decisões fossem construídas

a partir da decisão coletiva.

2.1.1.9. PARTICIPAÇÃO DOS ÓRGÃOS COLEGIADOS

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O grupo que debateu sobre a gestão democrática e participativa na

implementação deste projeto na escola, ressaltou que

Os órgãos colegiados representam a comunidade escolar, pois há nele

representantes de todos os segmentos. É claro que, em porcentagem, representam

um pequeno número de todos os envolvidos na comunidade escolar, porém é a

maneira existente no sistema.

Há uma grande dificuldade de participação assídua dos órgãos colegiados,

inclusive pelo engessamento quanto a organização financeira, de pessoal e de

logística no ambiente escolar, por causa das leis que nos regem. Os grupos

participam talvez não de maneira tão efetiva, ampla. Como são representantes das

instâncias colegiadas são muito ocupados com outros “fazeres” e nem sempre tem

tempo disponível para dedicar com assiduidade.

Precisamos encontrar formas que encurtem as distâncias comunicativas para

sabermos mais sobre seu funcionamento atual, seus componentes e sua relevância.

É necessário um mural posto na sala dos professores e/ou refeitório para todos

saberem quem, quando e como participar.

2.1.1.10. FATORES PARA UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA E PARTICIPATIVA

Para haver uma gestão de fato democrática e com a participação, tanto nas

decisões quanto nas ações, é necessário estar atentos para diversos fatores e, por

isso à pergunta sobre o que falta para termos de fato uma gestão democrática e

participativa, entendeu o grupo que

Para uma escola ser efetivamente democrática é fundamental haver o

comprometimento de toda a comunidade escolar e que o sistema fosse alterado de

forma a garantir essa autonomia. Faz parte de um ideário que a gestão seja

democrática, diante de entraves de ordem politica administrativa, fica um pouco

conturbado pensar em uma gestão participativa onde o Estado é o principal provedor

de recursos.

Faltam gestores mais engajados e preparados tecnicamente para abraçar um

projeto educativo que contemple de fato a construção de uma escola pública que

ofereça qualidade técnica e compromisso político. Como também, os professores,

funcionários e demais membros precisam conhecer, urgentemente, o Projeto

Pedagógico que contém as ações educativas da escola, analisá-lo, estudá-lo e

conhecer bem as propostas voltadas para contemplar o dia a dia escolar. Dessa

forma, talvez o trabalho proposto rume para uma unidade.

A escola está organizada por setores e pessoas que atuam nessas funções. É

preciso ter clareza do papel de cada um, construirmos o PPP juntos, assumirmos o

papel de trabalhadores e colocar em prática os objetivos que almejamos para a

escola e a sociedade.

As pessoas que fazem a educação devem chamar para si a responsabilidade.

Servidores mais politizados, comprometidos e com disposição de fazer as coisas

certas, de forma justa, igualitária e sem abuso de poder. Que haja maior

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engajamento ou, mais escolas que participem conosco, se é bom: por que não

dividirmos? Falta contemplar mais um ensino que privilegie o contexto e esteja

devidamente comprometido com o processo de formação dos alunos, buscando

torná-los cidadãos atuantes e críticos no convívio social.

2.1.1.11. O QUE O GRUPO ENTENDE SOBRE DEMOCRACIA

Para que se possa definir como deve ser uma gestão escolar democrática e

participativa, é preciso saber como ela se desenvolve, é preciso entender o que é

democracia, tê-la como princípio norteador das ações enquanto gestor, por isso fez-

se a pergunta ao grupo para definirem o que seria democracia, ao que fora

respondido que é

Uma maneira de governar onde o poder de tomar importantes decisões

políticas está com os cidadãos (povo) de forma direta ou indiretamente por meio de

representantes eleitos. Democracia é um conceito de variadas interpretações que

depende da visão que cada um tem de mundo, sociedade;

É ter acesso às informações, conhecer o processo de onde está participando,

ser ouvido, tomar decisões em grupo, expor as decisões ao número máximo de

pessoas, cumprir com os compromissos assumidos em assembleia e,

principalmente, ver o outro como ser humano e não como objeto de trabalho para

cumprir uma meta. E, uma das principais funções da democracia é a proteção dos

direitos humanos fundamentais, como as liberdades de expressão, de religião, a

proteção legal, as oportunidades de participação na vida política, econômica e

cultural da sociedade.

A democracia visa respeitar os princípios de liberdade humana como direito

de ir e vir, direito de expressão e a oportunidade de participação da vida política.

Neste regime todas as importantes decisões deveriam emanar do povo para o povo.

Os cidadãos têm os direitos expressos, e os deveres de participar no sistema

político que vai proteger seus direitos e sua liberdade. Nas sociedades modernas a

democracia é assegurada pelos governos que assumem a posição de regulador dos

direitos e deveres dos cidadãos. A igualdade, a liberdade e a fraternidade são os

lemas nos quais a democracia foi erigida.

Desta forma, definimos que

Como processo de atualização histórico-cultural, a educação envolve dimensões individuais e sociais, devendo visar tanto ao viver bem pessoal quanto à convivência social, no desfrute dos bens culturais enquanto herança histórica que se renova continuamente. A democracia, como meio para a construção da liberdade em sua dimensão histórica, faz parte dessa herança cultural. Entendida como processo vivo que perpassa toda a vida dos indivíduos, laborando na confluência entre o ser humano singular e sua necessária pluralidade social, ela se mostra imprescindível tanto para o desenvolvimento pessoal e formação da personalidade individual, quanto para a convivência entre grupos e pessoas e a solução dos problemas sociais, colocando-se, portanto,

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como componente incontestável de uma educação de qualidade (PARO. 2000, p.13).

Mais uma vez reforça-se a necessidade da escola trabalhar com conceitos e

prática democrática no sentido de contribuir com a formação de todos os sujeitos

que nela convivem para, assim, também atuarem na sociedade. A escola reflete de

certa forma as relações sociais em que ela está inserida, daí o esforço para que a

educação desenvolva nos seus espaços e contradizendo o sistema posto, uma

formação teórica e prática a fim de que os sujeitos possam, por sua vez, interferir na

realidade maior, pois ao transformar-se o e no interior escolar, também terá

condições de interferência social.

Também houve trabalhos pelo GTR (Grupo de Trabalhos) online no qual a

participação também foi intensa e que aproveitamos algumas contribuições dos

participantes6.

Inicia-se aqui descrição de como foi esse trabalho, apresentando o relato da

professora “A”, que destaca a importância da participação e a dificuldade de se

implementar uma gestão democrática, dizendo que primeiro o gestor deve estar

disposto a implantar a gestão democrática com participação de todos os segmentos

que compõem a escola e que isso pode ser mais difícil onde tenha a modalidade de

Educação para Jovens e Adultos “devido a diversidade de alunos” e portanto existe

uma grande “divergência de opiniões e posicionamentos críticos” o que por outro

lado mantem “uma escola viva, atuante, transformadora de sujeitos ativos e

compromissados com o bem comum”

Do mesmo GTR, a professora “B”, também contribui com a preocupação de

que para termos uma sociedade melhor, “mais justa e mais igualitária” é preciso

construir uma sociedade democrática, o que implica numa educação capaz de

contribuir para os sujeitos se perceberem “como partes importantes dessa

sociedade, como cidadãos conscientes dos seus direitos e deveres...” e, portanto,

capazes de participar das decisões e ações necessárias para as “mudanças na

sociedade”. Desta forma a escola precisa formar um “ser humano em sua plenitude,

com valores e práticas necessárias para atuar democraticamente na realidade”.

6 Através do endereço (www.diaadiaeducacao.pr.gov.br) da Secretaria Estadual de Educação

o professor/funcionário inscreve-se e na data de início do “curso” faz-se o acesso pelo endereço http://www.gestaoescolar.diaadia.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=503 , com seu login e senha.

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A professora “B” destaca a importância da escola quanto à formação dos

sujeitos que devem atuar na sociedade, pois uma das formas de praticarmos a

democracia nas escolas de maneira ampla passa pela organização de um projeto

“que contemple momentos de estudos e discussões com todos os segmentos da

escola” com momentos de estímulos e oportunidades para que todos possam

participar das decisões e práticas, seja na escola e consequentemente na sociedade

como um todo.

As formas de se oportunizar as participações podem ser como “debates entre

os diferentes segmentos, de maneira a ampliar os conhecimentos para se chegar a

possíveis sugestões de novas ações e mudanças de atitudes...” sempre de forma

coletiva enfrentando os diversos problemas escolares, para que se veja a escola

sempre como um todo, embora cada um com uma função/trabalho, mudando o foco

do individualismo para o coletivismo, “conscientizando-se que faz parte do processo,

por isso pode e deve contribuir com sua participação e colaboração...”.

Diz ainda a professora “B“ que é importante e necessário propiciar condições

para que todos se “envolvam efetivamente nas tomadas de decisões, superando os

obstáculos que possam surgir nessa construção”.

A professora “C”, que também reforçou sobre a importância de se vivenciar a

prática democrática na escola, compreende que “a Gestão Democrática é um

processo complexo”, mas “Utópico como alguns participantes colocaram?” questiona

ela que ainda afirma pensar que “todos queremos uma escola de qualidade, que

forme alunos pensantes e participativos na sociedade”. Mas pensamos e a

professora também que esse “exercício da cidadania inicie na escola, em uma

escola que os alunos, pais, funcionários, possam opinar, decidir pelo bem comum”,

exercício esse que julgamos difícil, porém necessário, se quisermos ter uma

sociedade democrática e, como consequência, que as escolas o sejam.

A maioria dos participantes afirmaram que para se implantar uma Gestão

democrática na escola ”tem que haver o desejo e interesse que a escola se torne

democrática. E isso tem que ser compartilhado principalmente pelos gestores

(diretores)”, iniciando, como exemplo, pelo acesso às informações e formação

adequada de todos e para todos os segmentos escolares.

A professora “A”, também afirmou que entende como primeiro ponto

importante o interesse do gestor em querer a prática democrática na escola e que

daí decorre o compromisso de todos, mas que não há esse exercício de democracia

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em praticamente “maioria das escolas infelizmente porque ainda não

estamos acostumados a exercer a democracia, tanto da parte dos gestores como

da parte dos demais, pais, alunos, professores e demais funcionários porque as

pessoas preferem evitar conflitos de ideias...”.

Se esta é a verdade ocorrida na maioria das escolas, faz-se urgente

iniciarmos esta prática, exercendo cada qual o direito/dever de participar das

decisões-ações se quisermos de fato uma escola transformada-transformadora tanto

de si quanto da sociedade que queremos.

A professora “D” destaca a importância de projetos preocupados com uma

maior participação de todos nas decisões da escola, pois é assim que a comunidade

escolar aprende ou aprimora sua participação nos atos de “refletir, discutir e

entender cada vez com mais clareza o que é, como proceder e como implantar a

Gestão Democrática na realidade escolar...” e desta forma estará a escola também

ensinando/preparando/formando os sujeitos que atuarão na sociedade como um

todo de maneira a construí-la de acordo com os “ideais” a que se compreende ser

melhor para todos.

Destaca ainda a dificuldade de participação dentro de um “ideal” de

democracia, devido às condições de cada sujeito dos diversos segmentos que

compõem a escola, pois pela experiência que se tem, “ainda precisa de muito tempo

e condições educacionais para serem desenvolvidos a contento” (“tempo escolar,

condições físicas, humanas e profissionais”) tanto dos projetos que envolva a

participação quanto das decisões para que sejam implementadas por todos.

Para conclusão deste trabalho, utilizamos o que disse a professora “E” que

colaborando com os demais participantes do GTR expos suas ideias, debatendo a

respeito deste tema que não se encerra neste projeto, pois a democracia é um

exercício contínuo. A professora praticamente “sintetiza” o que o grupo entendeu

sobre a democracia, sua importância e, principalmente, que o exercício dela na

escola é a “preparação” para ações na/da sociedade como um todo ou reflexo desta

na escola.

É compreensível que gestão democrática e participativa significa o

envolvimento de todos os sujeitos participantes de todos os segmentos “na

elaboração e execução do planejamento da escola, levando a educação para fora

dos muros da escola e ao mesmo tempo trazendo a comunidade para o contexto

escolar”.

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É através da gestão democrática que se poderá “garantir a qualidade social

da educação, na medida em que aproxima e concilia a dimensão ética com a

dimensão dos conhecimentos racional e emocional e com a própria vida”. Portanto,

a escola como parte da sociedade deve contribuir com esta no sentido de

proporcionar uma formação que busque “debater questões importantes da

comunidade, trazendo-os para serem discutidos”.

O desafio é conciliar as realidades/condições/disposições de todos os sujeitos

dos segmentos que compõem a escola, pois como afirma ainda a professora “E”, se

“na democracia não há espaço para o individualismo, é preciso que se unam em

torno do bem da escola e de seus participantes”. E, mais importante talvez seja a

compreensão de que a educação não é algo exclusivo do interior das escolas,

devendo todos ser envolvidos, compreendendo-se, por exemplo e inclusive, que os

“hábitos, costumes e visão de mundo influenciam na aprendizagem do aluno e em

sua forma de ver a realidade ao seu redor”.

CONCLUSÃO

O projeto “Gestão Escolar, Democrática e Participativa”, objeto de estudos

durante estes dois anos de PDE, contribuiu para compreensão tanto da importância

quanto da dificuldade de implementar esta prática nas escolas e, mais ainda, na

sociedade.

Como pudemos observar pelos relatos dos participantes nos grupos de

estudos, muito se fala, se quer, se defende uma escola/sociedade que tenha as

decisões/ações de acordo com a vontade da maioria, porém muitos são os entraves,

como se observou no próprio desenvolvimento deste estudo. Oportunizou-se dois

dias distintos, para dois grupos a fim de que maior número pudesse participar.

Entretanto, muitos, seja por falta de interesse, por trabalhos em outros locais, seja

por falta de maior informação ou por incompatibilidade de tempo, não

puderam/quiseram participar.

Houve tanto do GTR, quanto do grupo com o qual se implementou o projeto

na escola, quase que um apelo para que haja trabalhos/debates/estudos constantes

sobre formação “político-democrático-administrativo”, pois somente a prática pode

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permitir o aprendizado e consequente ação-transformação de nossas escolas e

sociedade.

A discussão e formação contínuas, ampliando nossas compreensões,

especificamente a respeito da gestão escolar e, mais especificamente ainda, sobre

sua forma democrática e participativa, é um processo que deve envolver cada vez

mais pessoas dos segmentos das nossas escolas. Porém, fica-nos uma questão

importante: o como fazer para que um maior e crescente numero dos sujeitos dos

vários segmentos que compõem nossas escolas POSSAM participar? Precisamos

apenas de paciência histórica para que ao longo do tempo vão adquirindo esta

“cultura” do participar nas decisões/execuções?

E por fim, voltamos a algumas questões que JULGAMOS importantes para a

convivência e a educação dentro e fora da escola. Entendemos o que é

democracia? Sabemos como exercê-la? Que condições se tem para exercitá-la?

Nossa ideia de democracia está equivocada ou, ainda, não encontramos as formas

de fazê-la na prática, em nossa sociedade, de maneira direta e isto se repercute na

escola com suas contradições que muitas vezes, pela falta de compreensão maior,

nos resta reclamar das “imposições”?

Ousamos afirmar que Gestão Escolar, Democrática e participativa é um

contínuo exercício, é a prática que leva a seu desenvolvimento e é ela que permite

decisões coletivas e consequentes ações para lutar pelo que se quer.

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