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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE
OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
CONSUMISMO ENTRE OS JOVENS
Professora PDE: Celina Tulio Dominico1 Orientadora: Adriana Massaê Kataoka2
Resumo: Este artigo focaliza o consumismo entre os jovens, uma tendência que está presente no espaço escola. A escolha desse tema implica acreditar na possibilidade de mudanças que a educação ambiental pode proporcionar nas escolhas e hábitos consumistas dos jovens. Sabe-se que o ato de consumir é um tipo de necessidade existencial, mas na atualidade atingiu proporções que pressionam os recursos naturais e geram muitos resíduos. Essas atitudes consumistas já são observadas no ambiente escolar, desta forma este trabalho teve o objetivo de contribuir para a formação do cidadão transmitindo conhecimentos, necessário ao entendimento e aquisição de atitudes, hábitos e valores compatíveis com a sustentabilidade ambiental. A metodologia utilizada
neste trabalho foi à pesquisa ação participativa. Através de um questionário respondido pelos alunos foi possível observar aspectos vulneráveis em relação ao tema com possibilidade de amadurecer o assunto durante as reflexões e discussões realizadas com a turma. Foi elaborado um material didático com várias atividades sobre o tema e percebeu-se que a mediação pedagógica dada pelo professor foi essencial, ele é um guia que sistematiza as idéias, aproxima os alunos do conteúdo e estimula o conhecimento. As leituras dos textos propostos no material didático trouxeram idéias para facilitar a compreensão do tema e as transformaram em ações. No fechamento da implementação foi promovido à reflexão dos conteúdos e das atividades desenvolvidas nas aulas. Palavras-chave: Consumismo; resíduos sólidos; sustentabilidade
Summary:
This article calls attention to the consumerism among young people, a trend that is present in the school. The choice of this theme involves believing in the possibility of change that environmental education can provide the choices and spending habits of young people. As it known, the act of consuming is a kind of existential necessity. These consumerist attitudes have been observed in the school environment so this study intend to contribute to the training of citizens passing on knowledge, it is needed to acquire attitudes, habits and right values. The methodology used is the participation on action research. Through a questionnaire answered by the students it was observed. Some vulnerable
1 Professora da rede pública estadual de ensino do Paraná aluna do PDE- Programa de Desenvolvimento educacional, [email protected], 2Orientadora do PDE da Universidade Estadual do centro-oeste, campus de Guarapuava, Estado do
Paraná [email protected]
aspects in relation to the topic with the possibility to mature it for reflections and discussions with the class. Didactic material with various activities on the subject was prepared and it was realized that the mediation was essentially given by the teacher, it is a guide that explores the ideas and approaches students the content and stimulating knowledge. The reading of the texts proposed in courseware brought ideas to facilitate understanding of the topic "consumerism among young" and turned into actions. At the ending of the implementation it promoted the reflection of the content and activities developed in the classroom. Keywords: Consumerism; solid waste; sustainability Introdução
É comum encontrar na sociedade moderna indivíduos com sentimento
de soberania em relação à natureza, senhores de si, sujeitos livres sem
nenhuma preocupação com as questões ambientais. Com tantas inversões de
valores e papéis sociais os indivíduos acabam perdendo a identidade para
poder situar-se dentro de um todo social.
Após o enfraquecimento de algumas instituições, que norteavam as
decisões de muitos indivíduos, a sociedade tem se mostrado um pouco
alienada. Os discursos dessas instituições deixaram de ser soberanos após o
advento da Reforma protestante, Humanismo Renascentista, Positivismo,
revolução cientifica e o Iluminismo (HABERMAS, 2002; VALFAS et al., 2010).
Com o passar dos tempos a humanidade evolui para o que se apresenta
atualmente: Uma sociedade essencialmente consumista.
A lógica de mercado estabelecida pelos economistas foi de que a
principal finalidade da produção é o consumo, pois este impulsiona a economia
que utiliza vários artifícios publicitários para estimular o desejo pela aquisição
de produtos de consumo aumentando ainda mais os problemas ambientais.
A cultura do consumo esta presente nas diversas classes econômicas e
já atingiu todas as faixas etárias. Isso acabou provocando sérias
conseqüências ambientais, sociais e psicológicas, as quais estão sendo
observadas com maior freqüência no âmbito escolar. Acredita-se que o trabalho
efetivo contra o consumismo, desregrado dos jovens, pode minimizar os danos
causados pela rede mercadológica, que impõe na sociedade, hábitos
insustentáveis e levam a destruição do Planeta.
Entende-se com esse trabalho que a escola tem importância
fundamental no combate ao consumismo e deve ser capaz de contribuir para a
formação do cidadão, transmitindo conhecimentos necessários para aquisição
de atitudes, hábitos e valores corretos. Sabe-se que o jovem é influenciado por
vários meios na prática do consumismo. Por esse motivo, o presente estudo
tentou responder se o trabalho com os jovens, sobre esse tema pode
sensibilizá-los em relação às implicações sociais e ambientais geradas pelo
consumismo.
Com a preocupação de contribuir com a reflexão crítica dos jovens a
respeito de seus hábitos de consumo, causas e conseqüências foi
desenvolvido no Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins, em Guarapuava-
PR., um projeto que foi implementado na escola sobre este assunto.
A opção pelo tema se deu por saber que a escola tem importância
fundamental no combate ao consumismo e deve ser capaz de contribuir para a
formação do cidadão transmitindo conhecimento necessário ao entendimento e
a aquisição de atitudes, hábitos e valores corretos.
A escolha desse tema implica acreditar na possibilidade de mudanças
que a educação ambiental pode proporcionar em relação às escolhas e hábitos
consumistas.
Esse trabalho foi viabilizado pela Secretaria do Estado de Educação do
Estado do Paraná, através do PDE – Programa de Desenvolvimento
Educacional, em parceria coma UNICENTRO, realizado nos períodos de 2012
a 2014, na área de Educação Ambiental.
Fundamentação Teórica
A História demonstra que o ser humano sempre buscou obter domínio
sobre a natureza. É sabido que na época do Renascentista houve grande
valorização aos indivíduos dando importância a sua capacidade criadora e
liberdade de consciência (VAINFAS, 2010, pag. 231). Segundo o mesmo autor,
a Reforma protestante admitia que, a sociedade da época os burgueses,
pudessem acumular bens materiais, contrariando a Igreja Católica que
condenava a acumulação de capitais.
Com o início da modernidade que para Habermas, (2002) ocorreu a
partir do século XVIII, os pensadores iluministas buscaram refletir sobre a
emancipação humana, o enriquecimento da vida diária e o domínio científico da
natureza. Esse movimento denominado Iluminismo, defendia a idéia de
liberdade para combater o poder centralizado, transformando a concepção de
homem e de mundo. Desse movimento surgiu o liberalismo que defendia que o
povo deveria ser livre para fazer o que quisesse.
Para Simon (2010) o lema do positivismo “manter a ordem visando o
progresso”, está em desencontro com o conceito de sustentabilidade que
preconiza atender as gerações presentes sem comprometer as gerações
futuras de suprirem suas necessidades (ARAÚJO et al., 2004). O lema
positivista, ainda tem inspirado as pessoas a buscarem pelo progresso que
associado ao consumo, provoca incontáveis impactos ambientais. Essa idéia
de progresso é reforçada com a promessa da libertação das “irracionalidades”
como o mito, a religião, a superstição, e a liberação do uso arbitrário do poder.
O enfraquecimento de algumas instituições que norteavam as decisões
de muitos indivíduos fez com que a sociedade se apresente um tanto quanto
alienada. As instituições religiosas sempre ensinaram seus princípios, de certa
maneira transmitiam valores corretos à sociedade. Hoje a sociedade tem outros
valores como o consumismo exacerbado agindo sem preocupação com as
questões ambientais (HABERMAS, 2002).
Temos presenciado problemas ambientais gravíssimos como chuva
ácida desertificações, aquecimento global, desequilíbrios decorrentes das
ações humanas e de como a sociedade tem se organizado (BOER e SCRIOT,
2011).
Para Boer e Scriot, (2011) a maior parte dos impactos ambientais,
aumentaram a partir do período industrial, devido a exploração dos recursos
naturais e cresceu em ritmo acelerado e o conceito de meio ambiente para os
economistas passou a ser entendido “como um novo potencial produtivo,
favorecendo a produtividade ecológica, a inovação tecnológica e a organização
cultural”.
Apesar da dependência natural em relação ao meio ambiente, o homem
tem sido uma ameaça para si mesmo. Essa situação se deve às condições da
vida moderna a qual o tem conduzido a um caminho inverso da preservação
ambiental. Para Morin, (2007) “enquanto a espécie humana continua sua
aventura sob ameaça de autodestruição, o imperativo tornou-se salvar a
humanidade, realizando-a”.
Quando nos referimos ao Meio Ambiente, devemos nos incluir no
discurso, assim: “a humanidade deixou de constituir uma noção apenas
biológica e deve considerar-se incluída na biosfera; a humanidade possui uma
nova “Pátria” a qual está enraizada, a Terra, e a Terra é uma Pátria em perigo,
(MORIN, 2007).
Quando se analisa a sociedade primitiva, através de estudos
antropológicos, percebe-se que eles tinham critérios em relação à exploração
da natureza. Ao explorar os recursos naturais eles não ultrapassavam os
limites de capacidade de suporte para que a natureza pudesse se regenerar.
Nossos antepassados, não se percebiam dissociados da natureza, numa
relação de exterioridade, como ocorre com a sociedade moderna, (SHIVA apud
FERREIRA, 2005).
Observando as atitudes das pessoas sem o devido respeito em relação
ao meio ambiente fica claro que elas entendem que a natureza é algo distinto
dos seres humanos.
Esses desejos, citados no texto acima, fazem que a humanidade busque
a satisfação em bens materiais tornando-se consumidores em potencial. Para
Cortez (2009), a definição de consumismo é o “ato de consumir produtos e
serviços, muitas vezes sem consciência”. No entanto o simples consumo é
entendido por ela “como aquisições racionais, controladas e seletivas baseadas
em fatores sociais e ambientais e no respeito pelas gerações futuras.
(CORTEZ, 2009).
Essa sociedade de consumo como se apresenta nos dias de hoje é
recente e crescente e está “apoiada no sistema capitalista produtor de
mercadorias” (CORTEZ, 2009).
Ainda segundo Cortez (2009), o consumismo surgiu na Europa Ocidental
“ Esse entendimento de meio ambiente como sinônimo de
natureza alimenta a idéia de que há um mundo natural constituído em oposição ao mundo antrópico, onde o ser humano se considera superior e detentor do direito de usufruir, conforme seus desejos, de todos os elementos que se encontram ao seu redor”. (REIGOTA, apud MORAES e SANTOS, 2009).
no século XVIII e esta se espalhando rapidamente para distintas regiões do
planeta assumindo formas diversas.
Alguns autores acreditam que foram os antropólogos que se
preocuparam inicialmente em estudar o consumidor e a sociedade de
consumo, “eles tentam mostrar como em todas as sociedades os atores sociais
utilizam bens para diferenciar-se ou afirmar posições sociais” (SORJ, 2006).
Na sociedade atual os hábitos de consumo tem se intensificado devido
às estratégias de marketing, tendo habilidades ao tentar vincular o prazer a
aquisição da melhoria de qualidade de vida, ou mesmo promovendo a idéia
que a felicidade deve estar associada com alguma forma de consumismo.
Costa (1994) concorda com a idéia de que a felicidade ideal é almejada na
sociedade de consumo. Para Cortez (2009), “a qualidade de vida e a felicidade
têm sido cada vez mais associadas às conquistas materiais”.
Para Sorj, (2006) “Zygmunt Bauman é um sociólogo que analisa a
sociedade moderna a partir do consumo, como mecanismo principal de
legitimação”. Esse consumismo visa promover controle social e proporciona
formação de identidades nas sociedades modernas.
Bauman (2004) nomeia o consumidor: Homo consumens e o descreve
como sendo um típico comprador solitário que esta sempre em “busca de uma
mercadoria para afastar a solidão”. O consumidor age em tempo integral como
uma criança impulsiva e “vai sendo transformado pelo executivo do marketing”
de maneira ideal longe de parecer um adulto (BARBER, 2009).
Para Slater (2002) o ato de consumir apresenta-se como uma
“necessidade existencial, sendo necessário que a pessoa tenha várias
identidades a fim de ser aceita e ter uma melhor posição social ou uma melhor
carreira”.
Gonçalves (2007) acredita que a modernidade inaugurou uma crise de
identidade, que se conecta a cultura consumista assim: “se as escolhas
individuais satisfazem as necessidades pessoais e se o consumo é o principal
meio de acesso às ações e experiências necessárias à construção da própria
identidade, esta também se converte em mercadoria”.
Economistas como Keynes apud Feldmann, (2003) tentam explicar
sobre “as necessidades dos seres humanos que podem parecer insaciáveis.
Existindo necessidades absolutas, da condição humana e as relativas, que
sentimos caso as satisfações nos impulsionem e nos façam superiores a
nossos amigos.
O grande problema é que esse consumismo desenfreado torna-se hábito
transformando o consumidor em escravo. Ainda segundo Cortez, (2009) esse
comportamento “torna-se um ciclo vicioso, em que o indivíduo trabalha para
ostentar um nível de consumo, reduzindo o tempo dedicado ao lazer e a outras
atividades” (FEATHERSTONE, 1995).
Porém é preciso entender como surge essa necessidade de consumir de
forma desregrada. Sabe-se que na maioria das vezes, ela foi provocada por
uma propaganda publicitária, tendo geralmente modelos belíssimos ou até
mesmo pelo incentivo de um colega da escola, que adquiriu um determinado
objeto. Geralmente se tem influência de um meio de comunicação. Kataoka et.
al. (2009), concorda que “a mídia também tem o papel de estimular e criar
expectativas de consumo”.
De acordo com Cortez (2009) depois da expansão da sociedade de
consumo, amplamente influenciada pelo estilo de vida norte-americano, o
consumo transformou-se em uma compulsão e um vício, estimulados pelas
forças do mercado da moda e da propaganda.
Sem querer fazer uma apologia às mídias, Trigueiro, (2003) lembra que
a grande maioria “da indústria da informação e do entretenimento possui o
controle sobre a maior parte dos conteúdos veiculados ao redor do mundo
pelas televisões, rádios, jornais, internet, etc”.
A mídia tem o poder der influenciar os jovens pela facilidade de
apresentar para eles coisas novas e também porque muitos deles aceitam esse
apelo sem questionar. Para Trigueiro, (2003) não é mais possível explicar o
mundo em que vivemos sem considerar os impactos cada vez mais crescentes
de uma mídia cada vez mais onipresente, sofisticada e instantânea.
A televisão e as redes sociais modificaram muito as pessoas nas últimas
décadas. Segundo Feldmann, (2003) as informações aumentaram a partir do
uso de televisores, a aquisição de aparelhos de televisão no mundo é o
consumo predominante, as estatísticas apontam que “em alguns países, como
o Brasil, 80% dos domicílios possuem televisão. É essa avalanche que
perturba nossa capacidade de entender a complexidade do mundo e ter o olhar
sobre aquilo que é essencial (SONDRÉ apud TRIGUEIRO, 2003).
Percebe-se que a produção atual tem gerado mercadorias descartáveis,
a revolução do consumo condicionou a sociedade a este ritmo. Objetos que
passavam por gerações entre os indivíduos foram substituídos, pois todos
estão entrando no ritmo da obsolescência planejada (BAUMAN, 2001).
É importante lembrar que o presente trabalho critica o consumismo e
não o consumo. O consumismo é o consumo em demasia, desnecessário,
geralmente sem consciência, aquele hábito de comprar para tentar sanar
outros problemas existenciais e não a necessidade do objeto adquirido, objetos
estes que se tornarão problemas sociais e ambientais, após serem
descartados. “O problema não é o consumo em si mesmo, mas os seus
padrões e efeitos que são provocados na sociedade e no meio ambiente”,
(FELDMANN, 2003).
É sabido que muitos bens de consumo acabaram tornando-se
importantes para o bem estar e para a qualidade de vida. Para Sorj, (2006) o
“consumo está profundamente associado à qualidade de vida e às
possibilidades abertas pela tecnologia, que faz do acesso a bens de consumo
uma condição de sociabilidade e bem-estar básico, como exemplo, o uso de
uma geladeira”.
Segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano, o consumo tem o
seu papel no desenvolvimento do ser humano quando melhora suas
capacidades individuais sem afetar adversamente o bem-estar coletivo,
“quando é tão favorável para as gerações futuras como para as gerações
presentes, quando respeita a capacidade de suporte do planeta e quando
encoraja a emergência de comunidades dinâmicas e criativas (FELDMANN,
2003).
O problema do consumismo esta em ocorrer num ritmo acelerado e
produzir muitas desigualdades sociais por isso é preciso haver mudança nos
padrões de comportamento da sociedade (FELDMANN, 2003).
Porém é importante destacar que essa problemática do consumismo, se
faz presente na escola através do qual eles utilizam seus bens materiais como
símbolo de “status”. Alguns autores afirmam que “quando consumimos, de
certa forma manifestamos nossa visão de mundo, fazendo uma conexão entre
valores éticos, escolhas políticas, visão sobre a natureza e comportamentos
relacionados às atividades de consumo (BRASIL apud BERVING, 2010). Os
jovens apresentam todas as implicações desse tema em suas atitudes, nas
relações entre os colegas nas suas angústias e na potencial necessidade de
consumir.
Os educadores podem promover mudanças grandiosas na escola, para
Brasil apud Berving, (2011) somos capazes de oportunizar para as pessoas
“uma reflexão sobre qualidade de vida e a cadeia complexa dos
relacionamentos culturais, socioambientais e econômicos envolvidos na
perspectiva do consumo”.
Essa temática, por estar relacionada com a problemática sócio-
ambiental, é um dos temas abordados pela Educação Ambiental. Isso porque o
crescente ritmo e a velocidade humana de consumir estão provocando a
escassez dos recursos naturais e a produção excessiva de resíduos.
Questões urgentes como estas devem ser esclarecidas para que os
jovens adquiram hábitos sustentáveis deixando de por em risco a saúde do
Planeta. Segundo Dias apud Moraes e Santos, (2009), “à promoção do
desenvolvimento sustentável assume um papel estratégico na sobrevivência da
espécie humana e a educação ambiental passa a representar um importante
componente dessa estratégia em busca de um novo estilo de vida”.
A escola configura-se em um dos espaços mais importantes para o
desenvolvimento de atitudes, capacidades cognitivas e práticas que
possibilitem intervenções na realidade de modo a transformá-la, contribuindo
para a construção de uma sociedade mais atuante, (DIAS, apud
MORAES;SANTOS, 2009).
Ao trabalhar a questão da problemática ambiental, é possível observar
grandes obstáculos no que se refere a colocá-las em prática. O caminho é
começar a trabalhar nas escolas, pois os jovens estão mais receptivos ao
ensino. Para Ricklefs, (2001) “quando o jovem é estimulado desde cedo
possivelmente ele se tornará um grande defensor do meio ambiente”.
A escola tem sido palco de excelentes trabalhos sobre Educação
Ambiental (E.A.) e por esse motivo existe a necessidade de estar sempre
motivando os alunos com temas dessa área. A Lei nacional nº 9795, de 27 de
abril de 1999 e a Lei estadual 17505/13, garantem “a educação ambiental em
todos os níveis de ensino”.
Carvalho apud Berving, (2011) esclarece a importância da Educação
Ambiental nas escolas: “a E.A. provoca mudanças sociais e culturais que visam
obter mudanças de padrões de uso dos bens materiais em busca de um
equilíbrio entre as necessidades sociais e ambientais”.
Essa temática é muito complexa por envolver aspectos
multidimensionais, ecológicos, econômicos e socioambientais. Para Leff,
(2009), a crise ambiental é resultado do crescimento econômico, refletindo a
degradação ambiental. A crise de civilização questiona a racionalidade do
sistema social, além dos valores, modos de produção e os conhecimentos que
o sustentam”.
Freire (1983) enfatiza que na educação de nossos alunos deve haver
reciprocidade através de suas vivências e mediados pelos acontecimentos do
mundo. Há bastante tempo a Teoria Crítica já tinha como finalidade adotar um
posicionamento de “permanente questionamento com vistas a construir
conhecimentos que sirvam para a emancipação e para a transformação da
sociedade”. É com essa conotação mais aberta que encontramos a utilização
da crítica na Educação Ambiental (LOUREIRO, 2005).
Adotou-se a corrente da Educação Ambiental Crítica para abordagem do
tema consumismo. Essa corrente visa à transformação social a partir da
reflexão crítica e contextualizada dos envolvidos. Tornar uma sociedade
sustentável é um desafio e uma necessidade para a solução dos problemas
ambientais. Segundo Leff (2009), a sustentabilidade ambiental responde à
necessidade de preservação e busca manter “o equilíbrio do planeta,
valorizando a diversidade étnica e cultural da espécie humana, fomentando
diferentes formas de manejo produtivo, em harmonia com a natureza”.
Procedimentos Metodológicos
No primeiro semestre do ano de 2014, foi realizado com alguns alunos
do Colégio Estadual Francisco Carneiro Martins, na cidade de Guarapuava-Pr,
uma intervenção pedagógica. Esse projeto foi elaborado no ano de 2013 junto
ao programa de desenvolvimento educacional – PDE. Durante este trabalho foi
construído um material didático sob orientação da professora da UNICENTRO.
O título escolhido para projeto de intervenção pedagógica foi
“Consumismo entre os Jovens”. A turma participante do projeto foi o 3º A do
curso Técnico em Meio Ambiente – ensino médio integrado. Participaram deste
trabalho um total de 17 alunos. A intervenção teve por objetivo promover uma
reflexão crítica dos jovens a respeito de seus hábitos de consumo, causas e
conseqüências.
O projeto foi primeiramente divulgado e aceito pela comunidade escolar
durante a semana pedagógica que antecede a volta das aulas no início do ano
letivo.
O método adotado foi à pesquisa-ação-participativa, por ser um método
que se identifica com a Teoria Crítica muito aceita entre os educadores
ambientais. Essa teoria apresenta uma possibilidade de pesquisa, ao mesmo
tempo, pretende ser um instrumento pedagógico e dialógico de aprendizado e,
portanto possui organicamente vocação educativa (BRANDÃO, 2005).
Foram realizadas oito atividades com os alunos ao longo da
implementação pedagógica. As atividades desenvolvidas foram a aplicação de
um questionário sobre os desejos e necessidades consumistas dos alunos,
durante as aulas houveram pesquisas e leituras de textos sobre o
tema,apresentação de vídeos, discussão e debate.
Para a elaboração das atividades preocupou-se com a necessidade do
aluno em desenvolver o conhecimento cientifico, tendo o espírito crítico quando
oportunizado a pesquisa e a investigação de assuntos inseridos em cada
disciplina.
Resultados e discussões
As atividades foram elaboradas tendo por objetivo contribuir com a
reflexão crítica dos alunos diante das atitudes em relação ao meio ambiente.
Essas reflexões sobre as relações de produção capitalista, serviram para que
os alunos pudessem refletir sobre as questões socioambientais, políticas,
econômicas e culturais” (PARANÁ, 2008).
A primeira atividade consistiu na entrega de um questionário para cada
aluno, com o objetivo de identificar e problematizar através desse instrumento,
os hábitos, necessidades e desejos de consumo dos alunos, relacionando
com a temática ambiental. O questionário era composto de oito perguntas
sobre seus hábitos e desejos de consumo. Ao ser perguntado para eles sobre
seus desejos de consumo, os objetos de escolha que prevaleceram foram
celulares, computador portátil e vídeo-games. Ao ser perguntando aos alunos
se o objeto de consumo foi escolhido por desejo ou necessidade, eles
responderam que era mais desejos que necessidades.
O que impressionou, foi quando ao ser perguntado aos alunos se eles
acreditavam que suas escolhas tinham relação com os resíduos presentes no
meio ambiente e a metade da turma responderam que existia pouca relação.
Na segunda atividade os alunos realizaram a leitura dos textos
“Consumo e Desperdício: as duas faces das desigualdades.” Da autora Ana
Tereza Carceres Cortez e “A nova sociedade brasileira” do autor Bernardo Sorj.
Posteriormente foi aberto um diálogo com a turma para que todos pudessem
debater o que aprenderam. Essa atividade sensibilizou os alunos sobre os
impactos gerados pelo consumismo na sociedade.
Na terceira atividade os alunos assistiram um filme denominado
“História das coisas”. Este filme relatou sobre a cadeia produtiva do consumo e
sua forma linear e insustentável. Foi explicado no decorrer do filme de onde
vêm as coisas que compramos e para onde vão quando jogamos fora. Durante
a apresentação do filme foi explicado também os processos de extração,
produção, distribuição, consumo e descarte dos materiais fazendo relações
com as questões socioambientais. Em seguida, foi proposto uma análise e
discussão do filme com a turma. Essa atividade permitiu aos alunos refletirem
de forma crítica sobre a cadeia do consumismo e as relações irresponsáveis da
sociedade com a natureza.
A quarta atividade consistiu da realização de uma exposição de objetos
pessoais que foram rejeitados após pouco tempo de uso, mesmo que os
objetos estivessem em ótima condição. Essa atividade ocorreu no auditório do
colégio e permitiu que os alunos percebessem a partir desse exemplo concreto
do cotidiano que a obsolescência é um instrumento utilizado pela cultura do
consumo. Eles compreenderam que muitas coisas adquiridas são
necessidades passageiras as quais contribuem para aumentar o volume de
entulhos nas residências e no meio ambiente.
Na quinta atividade os alunos foram orientados a pesquisar a influência
da mídia sobre as pessoas na sua decisão de compra. Foram distribuídos
como sugestão de leituras os seguintes textos: Consumismo: A parte que nos
cabe: consumo sustentável? FELDMANN (2003) e também Mídia: Meio
Ambiente na Idade Mídia de TRIGUEIRO (2003). Também foi apresentado o
filme “Children Consumer”, disponível em:
http://docverdade.blogspot.com.br/2009/06/consuming-kids-
criancas-do-consumo-2008.html. O filme demonstrou a forma pela qual a
indústria do “Markting” consegue obter informações do comportamento de
crianças para que possam utilizar em suas propagandas publicitárias.
Após as atividades sugeridas acima, formou-se uma mesa redonda
para que todos os alunos pudessem debater sobre as informações trabalhadas.
Os alunos verificaram com essa atividade que as mídias exercem forte
influências sobre as pessoas. E também foi verificado que as mídias mais
utilizadas por eles em suas casas ainda é a televisão.
A sexta atividade promoveu a reflexão sobre os impulsos que levam ao
consumo. E os alunos entenderam que consumismo é o impulso que leva a
sociedade a tentar satisfazer o desejo do prazer momentâneo. E que esse
impulso é alimentado pelas mídias e apesar de necessário muitas vezes chega
a ser insaciável.
Para a realização da sétima atividade foi convidado o Padre João
Rocha (Giovane Rochia) membro da academia de Letras da UNICENTRO que
pode através de sua palestra demonstrar aos alunos a realidade sobre o
consumismo ao longo das décadas vivenciadas por ele.
A conclusão do trabalho aconteceu com a produção de textos e
filmagem dos alunos com o objetivo de avaliar os conhecimentos apropriados
por eles. Todos puderam assistir a gravação, que revelou o quanto eles
amadureceram na temática sobre as questões ambientais, relacionadas ao
consumismo.
Percebeu-se com este trabalho que a cultura do consumo já atingiu o
ambiente escolar e por isso o tema estudado serviu para dar orientação aos
alunos sobre suas escolhas e hábitos de consumo e sua relação com a
problemática ambiental.
Considerações Finais
Apesar de ter escolhido uma turma dos anos finais do curso Técnico
em Meio Ambiente, observou-se que eles não tinham idéias claras sobre o
tema “consumismo entre jovens” e a noção do conteúdo apresentadas por eles
não eram sistematizadas. Por isso a implementação deste projeto foi uma
experiência que valeu a pena por ter oportunizado aos alunos a organizarem o
conhecimento durante a utilização do material didático.
Esse material de autoria própria, valorizou a capacidade do professor
em produzir suas aulas e não somente de reproduzir o que esta no livro
didático.
O início das atividades foi marcado por um pouco de ansiedade e
insegurança em função de ter sido a primeira vez que se trabalhou com
material próprio. Até mesmo os alunos estranharam um pouco por não serem
atividades que estavam no livro didático surgindo alguns conflitos por conta
disto. Porém no decorrer das aulas foi sendo explicado o objetivo do projeto e
tudo foi ocorrendo tranquilamente.
O material didático elaborado durante o programa PDE contribuiu para
o bom andamento das aulas, pois foi muito bem planejado pela professora e
pela orientadora da universidade. A cada aula era um desafio por estar
utilizando esse formato exigido pelo PDE e percebeu-se que apesar de bem
planejado sempre era possível melhorar.
Ao trabalhar com o material didático, foi possível verificar que a
mediação pedagógica dada pelo professor foi essencial, apesar do aluno
possuir várias informações sobre o consumismo elas estavam desorganizadas,
então o professor tem grande responsabilidade, ele é um guia que sistematiza
as idéias utilizando-se de atividades construtivistas aproximando os alunos do
conteúdo e estimulando o conhecimento.
A leitura dos textos proposto no material didático trouxeram idéias para
facilitar a compreensão do tema e as transformaram em ações. Os conteúdos
do material didático permitiram que os alunos pudessem articular as idéias. As
atividade elaboradas, complementaram essa articulação.
No fechamento da implementação foi promovido à reflexão dos
conteúdos e das atividades desenvolvidas nas aulas de forma que fosse
possível obter uma avaliação do trabalho realizado.
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