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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

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LETRAMENTO LITERÁRIO HUMANIZAÇÃO E SENSO CRÍTICO

Sônia Bratifich Savaris ¹

Stela de Castro Bichuette ²

Resumo O presente artigo tem como objetivo apresentar o resultado de uma proposta de trabalho sobre letramento literário desenvolvida no Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE). No cotidiano escolar é comum perceber a falta da leitura do texto literário por parte do educando, o que compromete a sua construção enquanto cidadão autônomo. O referencial teórico desta pesquisa está pautado nas ações sugeridas pelo autor Rildo Cosson (2011), em sua Sequência Básica, que tem como objetivo a aquisição do letramento literário, transformar o conteúdo lido em conhecimento, em assimilação das práticas sociais relacionadas ao objeto lido. O aluno irá se construir enquanto leitor ao longo de suas práticas de leitura, ele participa do processo de construção de sentido das obras lidas e a literatura desempenha um importante papel dentro deste processo. Para o desenvolvimento das atividades foram utilizados dois contos e uma crônica. Palavras-chave: Letramento Literário. Sequência Básica. Ensino de Literatura. Conto e Crônica.

ABSTRACT

This article aims to present the result of a proposal for work on literary literacy developed in the Educational Development Program (EDP). In school life is common to perceive a lack of reading the literary text by the learner, which compromises its construction as autonomous citizen. The theoretical framework of this research follows the actions suggested by the author Rildo Cosson (2011) in its Basic Program, which aims at the acquisition of literary literacy transform the content knowledge in reading, assimilation into the social practices related to the object read. The student will build as a reader throughout their reading practices, he participates in the construction of meaning of the read process works and literature plays an important role in this process. For the development of activities and a chronic two tales were used.

Keywords: Literary literacy. Basic sequence. Teaching Literature. Tale and Chronicle.

__________________________

¹ Professora PDE Turma de 2013, Núcleo Regional de Educação de Laranjeiras do Sul – Colégio Estadual Olavo Bilac – Ensino Fundamental, Médio e Normal – Cantagalo – PR - [email protected]

² Professora Orientadora, Doutora em Letras/Estudos Literários – Universidade Estadual do Centro-Oeste (UNICENTRO) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Campus Santa Cruz, Guarapuava – PR.

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1 INTRODUÇÃO

No cotidiano escolar é comum perceber a falta da leitura de mundo e da

leitura da palavra propriamente dita por parte do educando. Na maioria das vezes

ele apenas decodifica o texto, não assimila suas ideias, não se apropria das práticas

sociais relacionadas à leitura, comprometendo o seu papel enquanto cidadão. O

aluno irá se construir enquanto leitor ao longo de suas práticas de leitura e a

literatura desempenha um grande papel dentro desse processo. Através do texto

literário ele terá condições de interferir no meio em que vive.

A crise da leitura na escola tem sido tema de vários cursos de capacitação

direcionados aos educadores, uma vez que este problema se faz presente no

cotidiano das escolas. Muitas pesquisas foram desenvolvidas na tentativa de

encontrar uma solução para a falta de letramento apresentado pelo aluno. Há

necessidade de instrumentalizar o professor por meio de cursos de qualidade para

que ele tenha condições de trabalhar com o letramento literário, pois um trabalho

com qualidade se faz com muito estudo e preparo. O educando necessita do

letramento para a sua vida, pois a leitura é um meio para a aquisição do

conhecimento.

Outras falhas podem ser verificadas nas escolas como a carência de

bibliotecas com material suficiente e adequado, formação deficiente do professor,

falta de políticas educacionais voltadas para o letramento, carência de

acompanhamento familiar, dentre outros. Alguns estudos tentam subsidiar o

professor nas suas tentativas de diminuir os efeitos da falta de letramento do aluno.

Rildo Cosson (2011) cita que “para que a literatura cumpra seu papel humanizador,

precisamos mudar os rumos da sua escolarização”. (2011, p.17) e diz ainda que “o

letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola.”

(2011, p.23). A literatura deve ser trabalhada de maneira adequada segundo o autor.

Repensar o ensino e a aprendizagem da literatura nas escolas é algo de

grande importância. Muitas vezes, ela é vista como uma disciplina desnecessária,

havendo conteúdos mais relevantes a serem estudados pelos alunos. Como fazer

com que o educando se aproprie das práticas sociais que a leitura do texto literário

proporciona? Como ser capaz de realizar leituras de maneira reflexiva para poder

transformar o conteúdo lido em conhecimento para o exercício do senso crítico?

Este é um desafio para os educadores do Paraná.

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O projeto Letramento Literário: humanização e senso crítico foi tema debatido

entre professores das várias regiões do Paraná no Grupo de Trabalho em Rede

(GTR), curso ofertado pela SEED aos professores da Rede Estadual e que possui

como objetivo a socialização da pesquisa e a troca de ideias para aperfeiçoamento

da prática docente.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB nº 9394/96) prevê a

formação de um educando preparado para o exercício da cidadania. Esta

preocupação se faz presente no cotidiano das nossas ações enquanto docentes. Os

Parâmetros Curriculares Nacionais citam que “Formar um leitor competente supõe

formar alguém que compreenda o objeto lido; que possa aprender a ler também o

que não está escrito, identificando elementos implícitos.” (BRASIL, 1997, p. 41).

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008), documento que orienta

os educadores no Estado do Paraná, sugerem o trabalho com a literatura na sua

dimensão estética, que ela seja pensada partindo dos pressupostos teóricos da

Estética da Recepção e da Teoria do Efeito, pois essas teorias “buscam formar um

leitor capaz de sentir e de expressar o que sentiu, com condições de reconhecer,

nas aulas de literatura, um envolvimento de subjetividades que se expressam pela

tríade obra/autor/leitor”. (PARANÁ, 2008, p.58). Como encaminhamento

metodológico no ensino de literatura, as Diretrizes sugerem o Método Recepcional,

onde o leitor é visto como sujeito ativo no processo da leitura. Esta proposta tem

como objetivo “efetuar leituras compreensivas e críticas; ser receptivo a novos textos

e a leitura de outrem; questionar as leituras efetuadas em relação ao seu próprio

horizonte cultural” (PARANÁ, p.74).

A turma escolhida para o desenvolvimento do projeto foi o 9º ano do Ensino

Fundamental, período da manhã, do Colégio Estadual Olavo Bilac. Supõe-se que os

alunos que cursam o 9º ano, série que antecede a entrada para o Ensino Médio,

apresentem um nível de letramento satisfatório, porém não é isso que se verifica na

realidade desta escola, motivo pelo qual esta turma foi escolhida.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná (2008)

estão de acordo com o pensamento de Wolfgang Iser (1999) quando cita que a obra

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literária possui uma organização própria e traz como característica uma carência de

sentido que se completa pela presença ativa do leitor. O efeito que a obra exerce no

leitor é uma das preocupações de Iser (1999), a interação texto-leitor. Para ele, o

texto literário não é completo, necessita da experiência do leitor que, ao fazer a sua

interpretação, fornece novos sentidos ao texto.

Autor e leitor participam, portanto, de um jogo de fantasia; jogo que sequer se iniciaria se o texto pretendesse ser algo mais do que uma regra de jogo. É que a leitura só se torna um prazer no momento em que nossa produtividade entra em jogo, ou seja, quando os textos nos oferecem a possibilidade de exercer as nossas capacidades. (ISER, 1999, p.10).

Antonio Candido (1972) cita que a literatura possui função humanizadora,

psicológica, formativa e de conhecimento. Humanizadora porque exprime o homem

e depois atua na sua formação; psicológica porque existe no ser humano uma

necessidade universal de ficção e fantasia; formativa, pois ela pode formar segundo

a pedagogia tradicional, possui força humanizadora; função de conhecimento do

mundo e do ser. Para Candido (1995), não há povo e não há homem que possa

viver sem a literatura, ela está presente no cotidiano das pessoas e é capaz de

desenvolver em nós a humanidade na medida em que nos torna compreensivos

para a sociedade, para a natureza e para o nosso semelhante.

A sociedade justa demonstra respeito aos direitos humanos, a arte e a

literatura são vistas pelo autor como direito inalienável. “Ela corresponde a uma

necessidade universal que deve ser satisfeita sob pena de mutilar a personalidade”.

(1995, p.256). Segundo ele, a literatura dá forma aos sentimentos e à visão do

mundo, ela nos liberta do caos e, portanto, nos humaniza. A palavra organizada

possui força e isso possibilita ao leitor a capacidade de ordenar sua mente, seus

sentimentos e sua visão de mundo.

Portanto, assim como não é possível haver equilíbrio psíquico sem o sonho durante o sono, talvez não haja equilíbrio social sem a literatura. Deste modo, ela é fator indispensável e, sendo assim, confirma o homem na sua humanidade (...). A literatura confirma e nega, propõe e denuncia, apoia e combate fornecendo a possibilidade de vivermos dialeticamente os problemas. (CANDIDO, 1995, p.243).

A literatura hoje, de acordo com Zilberman (2008), não pode ter o mesmo

papel desempenhado na Antiguidade, onde existia para divertir a nobreza nos

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intervalos das guerras. Não pode ser a literatura consagrada pela burguesia, que

possuía eficácia pedagógica e mostrava uma língua homogênea e desprezava

fatores regionais e populares. “Compete hoje ao ensino da literatura não mais a

transmissão de um patrimônio já construído e consagrado, mas a responsabilidade

pela formação do leitor.” (ZILBERMAN, 2008, p. 22). A execução dessa tarefa

depende de se entender a leitura como uma ação capaz de proporcionar uma

experiência única com o texto literário. A autora diz ser o ato da leitura uma atividade

completa, que raramente pode ser substituída por outra, o leitor tende a socializar as

experiências adquiridas e comparar as suas conclusões com as de outros leitores.

Segundo Ezequiel Theodoro da Silva (2008), hoje há problemas com o ensino

da literatura, com as pedagogias que tentam formar leitores nas escolas, mas não

conseguem. De acordo com sua visão, o sujeito se educa ao realizar experiências

com textos literários diversos e a escola dificulta este processo ao didatizar as

produções literárias e suas leituras. Diante do contexto da sociedade atual, onde o

aluno tem acesso também ao hipertexto, faz-se necessário buscar métodos e

técnicas para motivar o educando a ler, pois ele precisa de orientações para ser

capaz de transformar o conteúdo lido em conhecimento para o seu cotidiano.

Para se entender o que é letramento literário, é preciso entender o significado

da palavra letramento. No livro Letramento: um tema em três gêneros, Soares (2003,

p.47) define letramento como “estado ou condição de quem não apenas sabe ler e

escrever, mas cultiva e exerce as práticas sociais que usam a escrita.” O termo

surgiu de uma necessidade, pois as pessoas aprendem a ler e escrever, mas podem

não incorporar a prática da leitura. Logo, letramento refere-se ao uso das

habilidades de leitura e escrita para atender a determinadas exigências sociais.

Letramento é o que as pessoas fazem com as habilidades de leitura e de escrita, em um contexto específico, e como essas habilidades se relacionam com as necessidades, valores e práticas sociais. Em outras palavras, letramento não é pura e simplesmente um conjunto de habilidades individuais; é o conjunto de práticas sociais ligadas à leitura e à escrita em que os indivíduos se envolvem em seu contexto social. (SOARES, 2003, p.72).

O autor Rildo Cosson (2011) em sua obra Letramento Literário: teoria e

prática aborda sobre o ensino de literatura na atualidade e sua importância. Ele

explica e exemplifica a sua proposta para se trabalhar com a literatura de uma

maneira que possibilita ao aluno a aquisição do letramento via texto literário. O

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objetivo central da obra é tratar da apropriação da leitura e da escrita e das práticas

sociais que a elas estão relacionadas. Este trabalho é fruto de anos de pesquisa e

prática em sala de aula. Segundo ele, o processo de letramento que se faz com o

texto literário não é um trabalho diferenciado do uso social da escrita, mas uma

forma de garantir seu domínio efetivo.

Cosson (2011) inicia sua obra com a fábula do imperador chinês que ilustra a

dificuldade de se trabalhar com três grandes inimigas de qualquer educador: a

arrogância, a indiferença e a ignorância. É a realidade presenciada pelo professor de

literatura, pois muitos acreditam ser a leitura algo totalmente desnecessário,

acreditam já saber o que lhes interessa, então, apresentam uma postura arrogante

com relação ao texto literário.

Para o autor, a literatura nos diz o que somos e também nos incentiva a

expressar o mundo através da nossa visão, porém, para que o papel humanizador

do texto literário seja cumprido é preciso mudar os rumos da sua escolarização. No

ensino fundamental, o ensino da literatura tem se resumido à simples leitura, no

ensino médio tem-se ensinado história da literatura, a quantidade de aulas semanais

não é o suficiente, as bibliotecas tem sido meros depósitos de livros. Situações

como estas agravam o ensino e a aprendizagem da literatura na escola. Sobre o seu

estudo o autor diz:

A proposta que subscrevemos aqui se destina a reformar, fortalecer e ampliar a educação literária que se oferece no ensino básico. Em outras palavras, ela busca formar uma comunidade de leitores que, como toda comunidade, saiba reconhecer os laços que unem seus membros no espaço e no tempo. Uma comunidade que se constrói na sala de aula, mas que vai além da escola, pois fornece a cada aluno e ao conjunto deles uma maneira própria de ver e viver o mundo. (COSSON, 2011, p.12).

Ao abordar sobre a literatura e o mundo, Cosson cita: “é no exercício da

leitura e da escrita dos textos literários que se desvela a arbitrariedade das regras

impostas pelos discursos padronizados da sociedade letrada”. (2011, p.16).

Podemos perceber nesta frase a presença da função social da obra literária.

Segundo ele, além de nos incentivar a expressar o mundo por nós mesmos, a

literatura nos diz o que somos, o leitor interioriza com mais intensidade as verdades

apresentadas pela poesia e pela ficção.

Ao falar sobre a literatura escolarizada, o autor cita que hoje ela não vem

sendo ensinada para garantir sua função essencial de construir e reconstruir a

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palavra capaz de humanizar. Falta levar ao aluno a experiência de leitura a ser

compartilhada, a leitura efetiva dos textos. Para Cosson:

Devemos compreender que o letramento literário é uma prática social e, como tal, responsabilidade da escola. A questão a ser enfrentada não é se a escola deve ou não escolarizar a literatura, (...) mas sim como fazer essa escolarização sem descaracterizá-la, sem transformá-la em um simulacro de si mesma que mais nega do que confirma seu poder de humanização. (2011, p.23).

Ler implica uma troca de sentidos também com a sociedade, não somente

entre escritor e leitor. “Ao ler, estou abrindo uma porta entre meu mundo e o mundo

do outro. O sentido do texto só se completa quando esse trânsito se efetiva, quando

se faz a passagem de sentidos entre um e outro.” (2011, p.27). Através de todas as

reflexões do autor, percebe-se a importância do ensino de literatura na escola e a

necessidade da reestruturação das práticas utilizadas hoje. É preciso estratégias e

sistematização quando o assunto é o ensino da literatura, pois “o leitor não nasce

feito ou que o simples fato de saber ler não transforma o indivíduo em leitor maduro

(...), crescemos como leitores quando somos desafiados por leituras

progressivamente mais complexas.” (2011, p.35).

Rildo Cosson (2011) sugere em sua obra a metodologia de trabalho com a

Sequência Básica e com a Sequência Expandida. A presente pesquisa fez uso

apenas da Sequência Básica no desenvolvimento das atividades. Esta metodologia

apresenta como fator de fundamental importância a interpretação, momento em que

o aluno socializa, compartilha o seu entendimento sobre o que foi lido.

Síntese da Sequência Básica proposta por Rildo Cosson

MOTIVAÇÃO Consiste em preparar o aluno para entrar no texto. A leitura demanda uma preparação, uma antecipação. Faz-se necessário nesta fase, saber conduzir o trabalho de maneira que favoreça o processo da leitura como um todo.

INTRODUÇÃO Trata-se da apresentação do autor e da obra lida. Fornecer informações básicas sobre o autor, se possível ligadas ao texto.

LEITURA É a leitura da obra em si, o acompanhamento é um elemento importante nesta fase. Trata-se de auxiliar o educando nas suas dificuldades em assimilar o conteúdo da obra. Nesta fase, deve-se convidar os alunos a apresentar resultados da leitura realizada, são os chamados intervalos, que podem ser feitos por meio de uma conversa com a turma sobre o andamento da história.

INTERPRETAÇÃO É a construção de sentido do texto, processo que envolve quem escreve, quem lê e a comunidade. Neste momento, o aluno irá socializar, compartilhar, externalizar a sua reflexão sobre a obra.

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3 LETRAMENTO LITERÁRIO – HUMANIZAÇÃO E SENSO CRÍTICO

“A proposta que subscrevemos aqui se destina a reformar, fortalecer e ampliar a educação literária que se oferece no ensino básico. Em outras palavras, ela busca formar uma comunidade de leitores que, como toda comunidade, saiba reconhecer os laços que unem seus membros no espaço e no tempo. Uma comunidade que se constrói na sala de aula, mas que vai além da escola, pois fornece a cada aluno e ao conjunto deles uma maneira própria de ver e viver o mundo.” Rildo Cosson (2011).

Este trabalho teve como foco central desenvolver atividades visando o

letramento literário como um primeiro passo para formar a comunidade de leitores

citada por Cosson (2011). O educando necessita entrar em contato com o poder

humanizador do texto literário, para isso é preciso metodologias que venham de

encontro com as necessidades do educando que hoje traz uma série de defasagens

por razões diversas.

A escola de implementação do projeto foi o Colégio Estadual Olavo Bilac –

Ensino Fundamental, Médio e Normal. O colégio possui mil e quinhentos alunos e

possui atendimento nos períodos da manhã, tarde e noite. A maior parte dos alunos

mora nas áreas urbanas, alguns vêm de comunidades mais afastadas, pouco mais

de 30% são filhos de agricultores. De maneira geral, são filhos de pais cujo nível de

escolaridade é baixo, pois não tiveram a oportunidade de estudar.

O desenvolvimento das atividades em sala de aula seguiu o cronograma

abaixo:

17/02/14 – 21/02/14 Divulgação do projeto para pais e responsáveis.

10/03/14 – 14/03/14 Unidade 1 – Motivação e leitura (Conto)

17/03/14 – 21/03/14 Unidade 1 – Introdução e interpretação.

24/03/14 – 28/03/14 Unidade 2 – Motivação e leitura. (Crônica)

31/03/14 – 04/04/14 Unidade 2 – Introdução e Interpretação.

07/04/14 – 11/04/14 Unidade 3 – Motivação e leitura. (Conto)

14/04/14 – 17/04/14 Unidade 3 – Introdução e Interpretação.

10 e 11 de junho Socialização das leituras e demais produções.

Conforme tabela acima, as atividades tiveram início no dia 17 de fevereiro

com a divulgação do projeto para os pais e no dia 10 de março foi iniciada a unidade

1 em sala de aula. Os alunos receberam uma apostila com os conteúdos a serem

trabalhados nas três unidades. Como maneira de motivar o educando, foi criada

uma página na rede social Facebook com o nome: Letramento Literário – Professora

Sônia. Nesta página, eram postados fragmentos de textos, imagens, frases e

poemas antes de iniciar cada unidade com o objetivo da motivação, ou seja,

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preparar o educando para “entrar” no texto. Alguns conteúdos foram postados na

rede social com o objetivo de dialogar com a obra e assim contribuir no processo de

formação de sentido do texto lido. Os alunos registraram seus comentários, trocaram

idéias com os colegas e a professora. Na sala de aula, eram feitos comentários

sobre as postagens.

Os textos utilizados foram: Os contos Mal entendido de Orígenes Lessa e

Uma vela para Dario de Dalton Trevisan e a crônica Racismo de Luis Fernando

Veríssimo. Seguem figuras que mostram a página na Rede Social Facebook, onde

os alunos postavam seus comentários e trocavam ideias sobre as leituras feitas.

Figura 1- Página na Rede Social Facebook

Fonte: Facebook Letramento Literário Professora Sônia – Org.: Sônia Bratifich Savaris

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Figura 2 – Fragmento da Página na Rede Social – Letramento Literário Professora Sônia

Fonte: Facebook Letramento Literário Professora Sônia – Org.: Sônia Bratifich Savaris

Atividades realizadas:

Conto: Mal entendido – Orígenes Lessa.

a) Motivação: foi postado na Rede Social Facebook o questionamento: O

que significa mal entendido? Você se lembra de algum acontecimento envolvendo

um mal entendido que deu o que falar? Os alunos postaram seus comentários e

opiniões. Na apostila, fizeram análise da imagem de garotos jogando futebol na

praia através de comentários.

b) Leitura: em seguida, o conto foi lido pela professora e os demais

acompanharam na apostila.

c) Introdução: algumas informações sobre o autor do conto e outras de

suas obras.

d) Interpretação: antes de iniciar as atividades da produção didática, a

professora solicitou aos alunos que falassem de suas impressões sobre o conto. Em

seguida, foram iniciadas as atividades de interpretação contidas no material. Diálogo

com a música - foi estabelecido diálogo entre o conto e a música Hino da Cidadania

(Camargo de Maio e Tijolo). O Estatuto da Criança e do Adolescente foi lembrado,

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em seu Artigo 60, que fala do trabalho infantil. Como Oficinas, os alunos puderam

escolher entre fazer O visitante ou Mural de leitura. Outra sugestão de atividade foi a

elaboração de frases sobre a exclusão social de crianças. Seguem algumas

imagens das Unidades Didáticas.

Figura 3 – Atividade da Unidade 1 - Interpretação

Figura 4 – Atividade da Unidade 1 - Interpretação

Figura 5 – Atividade da Unidade 1 – Interpretação

Figuras 3, 4 e 5 - Fonte: Facebook Letramento Literário Professora Sônia – Org.: Sônia B. Savaris

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Crônica: Racismo – Luis Fernando Veríssimo

a) Motivação: foi postada na rede social uma imagem de incentivo ao não

preconceito de raça e a frase de Nelson Mandela: “Ninguém nasce odiando outra

pessoa pela cor da pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as

pessoas precisam aprender, e se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a

amar.” Os alunos registraram seus comentários. Fizeram questionamentos em sala

de aula sobre a imagem de motivação sugerida na apostila.

b) Leitura: leitura do conto por dois alunos, cada um fez a leitura da fala

de um personagem.

c) Introdução: informações sobre o autor e suas principais obras.

d) Interpretação: atividades da apostila, algumas realizadas por escrito e

outras oralmente com os comentários dos alunos. Diálogo com a Lei nº 7.716/89 que

prevê punição para os crimes de racismo. Diálogo com a música Racismo é Burrice

de Gabriel O Pensador. Oficinas: O novo personagem e Em busca da solução.

Produção e cartazes sobre o não preconceito racial.

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Figura 6 – Unidade 2 – Diálogo com a Música

Fonte: Facebook Letramento Literário Professora Sônia – Org.: Sônia Bratifich Savaris

Conto: Uma vela para Dario – Dalton Trevisan

a) Motivação: Leitura do poema Como se Morre de Velhice de Cecília

Meireles e comentários dos alunos sobre seu conteúdo e temática. Atividade com o

objetivo de preparar o aluno para “entrar” no conto.

b) Leitura: Leitura do conto por um aluno e uma aluna.

c) Introdução: informações sobre o autor e suas principais obras.

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d) Interpretação: atividades da apostila respondidas por escrito e

algumas oralmente. Diálogo com a música De frente pro crime de João Bosco.

Imagem no Facebook para interpretação (Menino de cor que acende a vela) e

questionamentos sobre a impressão pessoal de cada um sobre os fatos da história.

Oficinas: Mudando a história e ilustrações representando o texto. Dramatização do

conto pelos alunos.

Figura 7 – Atividade da Unidade 3 – Leitura

Fonte: Facebook Letramento Literário Professora Sônia – Org.: Sônia Bratifich Savaris

.

Foi realizada a primeira Feira do Livro no Colégio Olavo Bilac como maneira

de socializar as produções dos alunos e incentivar a leitura do texto literário. A turma

apresentou contribuições importantes no processo de organização da Feira como

um todo, houve ainda uma sala para contação de histórias. O evento aconteceu em

dois dias e, além das exposições dos trabalhos, alguns alunos fizeram propaganda

literária para os visitantes.

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Avaliação

Os alunos foram avaliados tomando como referência as atividades

desenvolvidas por eles, tanto na modalidade individual como em duplas ou em

grupos maiores. Os trabalhos passaram por uma revisão, aconteceram momentos

de troca de idéias, construção do conhecimento entre a turma e a professora e,

como atividade final de cada unidade, a socialização das leituras e materiais

produzidos. Os questionamentos levantados na rede social não tiveram caráter

avaliativo, uma vez que alguns alunos não tinham acesso ao Facebook.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Participar do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) foi uma

experiência enriquecedora e configura-se como o início de um redirecionamento do

ensino da literatura, das metodologias utilizadas até então. Rever a prática docente

deve fazer parte do nosso cotidiano. Este curso proporcionou a oportunidade do

contato com profissionais capacitados, com práticas diferenciadas, troca de

experiências com demais colegas, acesso ao embasamento teórico necessário para

melhorar a prática, enfim, estudos sobre letramento literário. A formação do

professor de literatura não pode ser precária, é preciso muito estudo para subsidiar a

prática docente.

Nos estudos realizados durante o processo de escrita do Projeto de

Intervenção Pedagógica, da Unidade Didática, em todas as etapas do curso esteve

presente o desejo de contribuir cada vez mais para formar uma comunidade de

leitores. Formar indivíduos capazes de interferir no meio em que vivem, formar para

o exercício da autonomia. O Grupo de Trabalho em Rede (GTR) permitiu uma

discussão sobre as teorias e a troca de experiências com profissionais de várias

regiões do Paraná, permitiu a socialização do trabalho como um todo.

O projeto desenvolvido na sala de aula mostrou que o educando é capaz de

participar de maneira ativa do processo de construção de sentido das obras que são

lidas por eles. Mostraram a importância de socializar as leituras, seja em casa para

um familiar, seja para o professor ou para um colega, que a aquisição do letramento

através do texto literário é algo possível e de urgente necessidade para eles.

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Os alunos não gostam de ler, não entendem o que lêem. São palavras

ouvidas com frequência no nosso meio. Muitas vezes falta perceber o quanto é

importante levar a obra para a sala de aula, não apenas falar sobre ela, mas ler para

o aluno e com o aluno. Este é o caminho para tentar formar uma comunidade de

leitores. É preciso entender que para ensinar a gostar de ler é preciso, antes de

tudo, simplesmente ler.

REFERÊNCIAS

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