OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA … · refletiram como a desigualdade social está...

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A PRODUÇÃO DE DOCUMENTÁRIOS COMO FORMA DE CONSCIENTIZAÇÃO E COMPREENSÃO DAS DISPARIDADES

SOCIAIS E ECONÔMICAS DECORRENTES DO SISTEMA CAPITALISTA

AUTORA: Profª. Alessandra Hideko Miyao1

ORIENTADOR: Prof. Ddo. Ricardo Aparecido Campos2

RESUMO: O presente artigo é o resultado de estudos e da produção do documentário, no qual ressalta as desigualdades sociais do município de Andirá. O trabalho foi realizado no Colégio Estadual Stella Maris envolvendo os alunos do Primeiro ano do Ensino Médio. Fundamentou-se em estudos e ações realizados durante o Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE), tendo por princípio a problematização das disparidades sociais, realizado através do delineamento de um Projeto Político Pedagógico. A proposta de elaboração deste artigo se justifica pelo interesse em promover entre os estudantes a reflexão de como a desigualdade social tem se perpetuado nos dias de hoje. Nesse sentido, é importante promover o debate entre os próprios alunos para que estes possam pensar historicamente nas dinâmicas que constituem as relações sociais, bem como as práticas que permeiam a promoção de tal projeto e da desigualdade experimentada socialmente. Os objetivos que nortearam a intervenção pedagógica foi justamente presenciar e relatar a maneira de como vivem as pessoas em condições de miséria e pobreza, no qual foram registradas na produção do documentário, onde os próprios alunos ao vivenciarem esta realidade, compreenderam as consequências negativas que o sistema capitalista tem nos proporcionado. O desafio deste trabalho foi despertar no aluno uma consciência crítica e ao mesmo tempo de altruísmo, compaixão e desejo de ajudar ao próximo.

Palavras-chave: Capitalismo. Desigualdade. Solidariedade.

1 INTRODUÇÃO

Os estudantes durante o projeto de implementação se posicionaram e

refletiram como a desigualdade social está presente no mundo e também ao nosso

próprio redor, pois através dos documentários e atividades da produção didático-

pedagógico percebemos o quanto estes ficaram surpresos ao relatarem as

atrocidades que o capitalismo está causando ao mundo. Porém, ao sairmos pelas

1 Professora PDE; atua no Colégio Estadual Stella Maris, como professora de Geografia. E-mail:

[email protected] 2 Docente do Curso de Geografia da Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP, Campus de

Cornélio Procópio, Doutorando em Geografia: Dinâmica Espaço Ambiental e Mestre em Geografia, Meio Ambiente e Desenvolvimento pela UEL. E-mail: [email protected]

periferias do município de Andirá, os estudantes se depararam com a realidade

vivida pelos menos favorecidos, ou seja, “sentindo na pele” o sofrimento do outro,

puderam constatar como é desumano e injusto o nosso sistema socioeconômico que

tem cada vez mais gerado um abismo maior entre a pobreza e a riqueza.

A produção do documentário pelos próprios alunos, despertou um maior

conhecimento, ao registrarmos de maneira mais verídica a realidade que parte da

população andiraense vivem e sobrevivem diante dos escassos recursos que lhe

são oferecidos e que lhe restam, entendendo o quanto as relações de poder

envolvem, constroem e destroem a materialidade, configurando o espaço geográfico

de Andirá, o que permitiu dessa maneira propor uma educação aos nossos

educandos que vise sobretudo recriar valores que estão atualmente ocultos em

nossa sociedade. Valores estes que vão além dos conhecimentos científicos

transmitidos em sala de aula, mas da democracia, igualdade, dignidade e

fraternidade.

Diante desta realidade, os alunos refletiram que é através das relações

humanas, que compreendemos o espaço onde vivemos e o quanto este espaço está

sendo transformado devido a busca desenfreada pelo dinheiro. Mas, que é possível

a construção de uma nova identidade humana que seja baseada na cooperação,

altruísmo e pelo desejo do bem comum, e como a sua participação como cidadão

ativo é imprescindível nos setores da vida política, econômica, social e cultural, e

que promovendo a solidariedade, compaixão e ajuda mútua aos menos favorecidos

poderemos amenizar parte das consequências negativas que o amor servil ao

dinheiro está provocando e adoecendo a nossa sociedade, e que apesar da

indiferença e da oposição de muitos que estão alheios a está ideia, a prática deste

projeto nos mostrou o quanto ainda vale a pena buscar uma educação

comprometida com os verdadeiros valores que ainda permeiam e sobrevivem em

nossa sociedade, mostrando aos nossos educandos o quanto é importante o papel

de tomadores de decisões, líderes e beneficiários, se realmente desejamos reverter

esta situação através da educação.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

De acordo com Arruda e Boff (2000), a concepção dominante de

desenvolvimento é a que o mundo experimenta hoje de forma cada vez mais

generalizada e globalizada, sendo baseada no desenvolvimento como mero

crescimento econômico, na democracia como um direito apenas individual,

principalmente aqueles que têm acesso e vivem do capital, e o da educação como

um processo seletivo, visando muitas vezes formar pessoas dispostas a perpetuar o

sistema dominante de divisão do trabalho.

[...] A educação conformada hoje para alimentar e perpetuar a globalização competitiva ou, no caso do Brasil, a inserção subordinada da nossa economia ao sistema do capital mundial, não tem servido para libertar, mas para moldar, ajustar crianças e jovens aos valores e aspirações vigentes, ou, ainda mais lamentável, à ausência de aspiração ou mesmo ao cinismo. Pois a promessa é a que se educando será possível obter automaticamente um lugar no mercado de empregos. O que se cala é que isto só se dará através de uma acirrada e mortal competição por postos e oportunidades de emprego cada vez mais escassas (ARRUDA e BOFF, 2000, p.136).

É esta realidade que nós educadores estamos tentando mudar. Queremos

uma educação que não apenas transmita os conhecimentos científicos, mas uma

educação transformadora e libertadora, baseada em fundamentos de ética e moral.

Fundamentos que se encontram em atitudes simples como de se solidarizar com o

outro, fazendo com que isto o responsabilize na formação de seu caráter e da sua

integridade.

É neste ponto que faz sentido retornar àquilo (sic) que seria a educação na perspectiva da práxis (Arruda, 1997b). Trata-se de um modo de conceber e fazer a educação que difere profundamente da educação formal vigente, sobretudo em dois aspectos: um, o de estar voltada para a promoção e empoderamento de cada educando como sujeito principal (enquanto pessoa e coletividade) do seu próprio trabalho, desenvolvimento e educação; o outro, o de fundar-se numa concepção integral do ser humano, buscando educar a pessoa e as coletividades para a autogestão de si próprias e de todos os seus espaços e relações (ARRUDA e BOFF, 2000, p. 137).

Observamos que o desenvolvimento do modo de produção capitalista

provocou mudanças profundas não somente no espaço geográfico, mas

principalmente na educação e no modo de vida das pessoas. Valores que há poucas

décadas eram enaltecidos, hoje parecem estar esquecidos, devido a primordial

necessidade do capitalismo: gerar lucro.

Lucro que gera o poder do esbanjamento, do excesso, da gula, da voracidade

e do dinheiro. Dinheiro que teria como objetivo suprir as necessidades do ser

humano, porém o seu acúmulo demasiado gera multidões de famintos, deixados à

margem da exclusão do bem comum, o que acaba aumentando ainda mais o

abismo da desigualdade social. Portanto, o professor acaba se tornando um

mediador que tenta mostrar ao seu aluno, que apesar de vivermos em um mundo

totalmente individualista, fruto do capitalismo, devemos fazer o caminho ao “inverso”.

Caminho do coletivismo, da cooperação, da solidariedade e da fraternidade.

É preciso fazer com que aqueles que ensinam a geografia hoje tomem consciência de que o saber-pensar o espaço pode ser uma ferramenta para cada cidadão, não somente um meio de compreender melhor o mundo e seus conflitos, mas também a situação local na qual se encontra cada um de nós (LACOSTE, 2008, p. 256).

Nessa perspectiva o estudo da desigualdade social a partir do local,

possibilitará aos educandos de se transformarem em protagonistas de sua própria

formação como um sujeito crítico, ativo e solidário, prontos a mudar e transformar

nossa sociedade.

[...] Nos dias de hoje só tem havido lugar para duas grandes vertentes ideológicas no ensino da geografia. Ensinar uma geografia neutra, sem cor e sem odor. Uma geografia que cria desde o início trabalhadores ainda que crianças, ordeiros para o capital. Ou ensinar uma geografia crítica, que forme criticamente a criança, voltada, portanto, para seu desenvolvimento e sua formação como cidadão. Uma geografia preocupada desde cedo com o papel que estas crianças-trabalhadores terão no futuro deste país. Uma geografia que possibilite às crianças, no processo de amadurecimento físico e intelectual, irem formando-criando um universo crítico que lhes permita se posicionar em relação ao futuro, que lhes permita finalmente construir o futuro (OLIVEIRA, 2005, p.143-144).

Devido a dominação capitalista que se faz presente no processo educacional,

o ensino da Geografia hoje muitas vezes se resume em transmitir um conhecimento

voltado apenas para o mercado de trabalho. Porém, se queremos realmente uma

verdadeira transformação da nossa sociedade devemos buscar uma geografia

crítica que torne o nosso educando um cidadão pronto a nortear a veracidade com

que o capitalismo nos apresenta, e a possibilidade de ao mesmo tempo fazer desse

sistema um desafio de mudar e transformar essa competitividade em um processo

humanizador, tornando-nos mais solidários, altruístas e responsáveis pelos

problemas da realidade atual.

[...] Devemos considerar a existência de três mundos num só. O primeiro seria o mundo tal como nos fazem vê-lo: a globalização como fábula. O segundo seria o mundo tal como ele é: a globalização como perversidade. O terceiro: O mundo como ele pode ser uma outra globalização (SANTOS, 2006).

A globalização competitiva nos mostra um mundo em que o desenvolvimento

econômico se mostra cada vez mais acelerado, e consequentemente uma melhora

extraordinária nas condições de vida da população mundial. Porém, sabemos que

tudo isso não passa de uma falácia, pois a realidade que vivenciamos e enfrentamos

é totalmente diferente. Uma economia totalmente frágil, e um aumento considerável

de pessoas vivendo à margem da exclusão social.

Contudo, se a economia e política mundial fossem pautados na ética e moral,

teríamos hoje uma globalização fundamentada talvez ainda pelo capitalismo, mas

um capitalismo movido pela cooperação e não pela ambição, ou seja uma economia

política do suficiente e acessível que assegure o respeito e a convivência pacífica a

todos.

Muitos podem pensar que é humanamente impossível, meramente utópico.

Mas se houvesse uma reinvenção do capitalismo, onde se pensassem mais no

coletivismo e menos no lucro, com certeza teríamos uma humanidade mais solidária,

e problemas que hoje afligem o mundo todo como violência, tráfico de drogas e de

pessoas, discriminação, preconceito, disparidades sociais, enfim realidades que

surgiram com o avanço desse sistema, poderiam ser amenizadas e até extirpadas

de nossa sociedade.

Podemos supor que a sociedade capitalista é fruto da produção do espaço,

assim a acumulação do capital tem provocado a desigualdade social, criando uma

realidade presente que persiste em perpetuar em todo o mundo. Porém se o homem

é um ser ativo, este poderá atuar sobre o meio em que vive e consequentemente

modificar a produção deste espaço.

O próprio evangelista Mateus (2007), nos exorta em suas escrituras o que

disse Jesus: “Felizes os que têm fome de justiça, porque serão saciados. Felizes os

misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”.

Dessa maneira, devemos oferecer sempre nossa ajuda, pois misericordioso é

quem se condói com o sofrimento dos outros, com suas dores, pobrezas ou

tristezas. Estar sempre pronto a auxiliar as outras pessoas, participar de sua

caminhada, ajudá-las de diversas formas e maneiras. Manifestar a nossa bondade,

em um mundo tão egoísta e mesquinho, pode parecer até que estamos indo contra

a maré, pois o que observamos hoje é a indiferença em que as pessoas

demonstram em relação ao próximo. Não podemos ficar parados, esperando de

braços cruzados que somente o governo faça algo pelos menos favorecidos Por isso

devemos parar e rever nossos rumos, avaliar nossos objetivos, esquecer tanta coisa

sem importância, escutar o que as pessoas tem a nos dizer e sempre tentar fazer

mais por elas, enfim que possamos todos um dia, compreender que a verdade mais

importante é a do amor, que nos transforma e nos une, e da qual viveremos através

da comunhão uns pelos outros, e não da procura desenfreada pelo dinheiro e bens

materiais.

3 METODOLOGIA E RESULTADOS DA IMPLEMENTAÇÃO

Este trabalho foi realizado com os alunos do Primeiro ano do Ensino Médio,

do Colégio Estadual Stella Maris, e teve como objetivo propor uma educação

fundamentada em princípios de moral e ética, inspirada pelo altruísmo, compaixão e

desejo do bem comum em ajudar o próximo, principalmente os menos favorecidos

de nossa sociedade, fazendo-os presenciar o grande abismo existente entre a elite e

os mais pobres, conscientizando-os que a nossa escolha e o modo de vivermos aqui

no presente serão decisivos para eliminarmos esse abismo no futuro, pois em

tempos em que a educação muitas vezes se resume à capacitar o indivíduo ao

“sucesso” no mundo do mercado, ousamos em propor uma educação que vise a

resgatar a sua formação integral como pessoa consciente, capaz de compreender,

gerar e transformar a sociedade em que vivemos.

Diante da realidade brasileira, marcada pela grande desigualdade social e

pelo baixo poder aquisitivo da maioria da população, os meios de comunicação se

tornaram uma ferramenta indispensável na transmissão de conhecimentos. Portanto,

o uso de um documentário despertou e desenvolveu o entendimento da realidade

que nos cerca, já que sua linguagem é de fácil compreensão. Nesse contexto, o

documentário é um recurso audiovisual, e sua produção pelos alunos despertou

ainda um maior conhecimento, que foi expressado e registrado de forma mais

contundente ao vivenciarmos a realidade que parte da população andiraense tem

presenciado em consequência deste sistema capitalista que nos aprisiona e nos

torna reféns em nosso próprio mundo.

Na primeira atividade assistimos o documentário: Encontro com Milton Santos

– O mundo global visto do lado de cá. Neste documentário refletimos sobre a última

entrevista do geógrafo Milton Santos, na qual ele traça um painel das desigualdades

entre o norte rico e o mundo do sul saqueado, apresentando alternativas e um

prognóstico otimista sobre o futuro da humanidade. Trabalhamos com várias ‘falas’

deste documentário, principalmente o pensamento de Milton Santos, na qual ele

analisa a existência de três mundos: o primeiro seria a globalização como fábula; o

segundo a globalização como perversidade; e o terceiro a globalização por uma

outra globalização.

Os alunos analisaram e refletiram o que este processo do capitalismo está

fazendo e ao mesmo tempo mascarando e alienando uma sociedade inteira.

Debatemos ao máximo cada mundo explícito por ele e procuramos abordar várias

questões que enriqueceram e aprimoraram os seus conhecimentos.

Foram enfatizados também vários pontos do filme como as revoltas, as

insurreições, consumismo, exclusão social. Outro ponto que trabalhamos bastante

também foi sobre os jovens de Japeri no RJ, que produzem filmes para retratarem a

sua cultura popular, onde mostram que através dos recursos audiovisuais é possível

discutir e interagir as suas próprias vidas. Além de trabalharmos com as diversas

falas do documentário, vimos, e analisamos as questões das revoltas de

Cochabamba na Bolívia e do panelaço da Argentina, na qual ressaltamos a

importância de lutarmos por aquilo que é correto e justo. Que não podemos ficar de

braços cruzados e de nos conformar com as injustiças do mundo. Temos que sair da

nossa "zona de conforto", se realmente quisermos valer aquilo que idealizamos.

Enfim, este documentário deveria ser assistido e trabalhado por todos os

professores de Geografia, pois ele é mais que um recurso audiovisual, ele é um

exemplo verídico de uma aula de cidadania.

Ainda nesta atividade trabalhamos com um texto que exemplifica o terceiro

mundo, no qual nos diz que para que possamos reconstruir o mundo, é preciso

primeiramente reconstruir o Homem.

Encerrada esta atividade, demos início a outro documentário- Capitalismo:

uma história de amor, do cineasta Michael Moore, onde vimos famílias destruídas

pela ganância do capitalismo. Empresas multinacionais sem o conhecimento e

consentimento da família e muito menos do próprio empregado e servidor, fazem

seguros de vida dos empregados, sem que estes saibam. E quando estes morrem, o

seguro de vida vai para a empresa, e não para a família. Observamos neste

documentário a audácia dessas empresas que não estão se importando nem um

pouco com a vida dos seus empregados, pois para estas empresas, seu empregado

vale muito mais morto do que vivo. Diante deste documentário, analisamos esta

grande crueldade que nos angustia e com certeza nos desespera, ao vermos mais

uma vez as atrocidades que o capitalismo está fazendo com as pessoas, deixando-

as egoístas e ambiciosas a ponto de não enxergar a necessidade do outro. Os

próprios educandos observaram que as nossas atitudes valem muito mais que as

palavras, portanto temos que fazer algo, e isso tem que partir de cada um, só assim

poderemos ter um mundo mais fraterno e solidário.

Também assistimos a um terceiro documentário: Tiros em Columbine. Neste

documentário é retratado o fascínio de grande parte da sociedade norte-americana

por armas de fogo, que são amplamente difundidas entre a população. Isso tem

levado a crimes bárbaros, como o ocorrido em 1999, na escola pública em

Columbine, no Colorado: dois jovens mataram doze alunos e um professor e em

seguida se suicidaram. Os alunos discutiram as razões do crescimento da violência

nos Estados Unidos e traçaram um ligamento com as grandes empresas bélicas, e o

quanto estas têm faturado com esta cultura armamentista estadunidense.

Os alunos chegaram a conclusão que este documentário é mais um exemplo

de que como esse capitalismo selvagem é totalmente desumano, pois empresas

preocupadas somente com seu lucro, tem difundido a venda constante de armas, o

que leva a qualquer pessoa a adquirir uma arma naquele país, e esta quando cai

em mãos de indivíduos não preparados e estruturados física e psicologicamente

acabam provocando verdadeiras tragédias como esta na escola Columbine.

Analisaram de que maneira poderiam reverter este mundo de armas de fogo

propagadas pelas grandes empresas armamentistas dos Estados Unidos.

Logo após, já demos início a mais uma atividade onde analisamos o

desenvolvimento do município de Andirá, que hoje possui mais de 1330 empresas

registradas; é também detentora de um parque industrial financeiramente importante

para a independência do município. Ajudam com força nessa independência o

comércio, a agricultura e a pecuária. A cidade ainda conta com empresas

multinacionais que são fundamentais para o seu desenvolvimento.

O faturamento de Andirá em 2011 foi de pouco mais de R$ 30,9 milhões

provenientes do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Já o Produto Interno

Bruto foi de US$ 87.568.456,59; e o PIB per capita foi de US$ 4.357,29, sendo que

sua população economicamente ativa é de 10.483 habitantes.

Segundo dados do IPARDES (Instituto Paranaense de Desenvolvimento

Econômico e Social), ainda temos 4.896 pessoas neste município vivendo em

situação de pobreza, e a taxa de pobreza gira em torno de 20,77%

Diante destes fatos, estudamos as possíveis causas desta desigualdade

social do município de Andirá, enfocando as disparidades sociais, possivelmente

causadas pelo sistema do capitalismo, onde analisamos e refletimos vários dados

socioeconômicos do município, como o Indicador de Desenvolvimento Humano, o

Índice de Gini, PIB per capita, Taxa de Pobreza, Taxa de Analfabetismo, Razão de

Dependência, entre outros.

Todas estas atividades foram realizadas dentro da sala de aula. Com o

término destas, iniciamos a produção de nosso documentário, que contou com a

participação dos alunos do Primeiro Ano do Ensino Médio. Foram realizadas várias

entrevistas nos bairros mais pobres do município de Andirá. E antes disso fizemos

um conhecimento prévio dos bairros e das famílias que vivem em situações

precárias. Para a entrevista, foram escolhidos os alunos entrevistadores e aqueles

que auxiliaram a entrevista. Também foi realizado um roteiro geral da entrevista.

Quanto a produção do documentário, foi sendo realizado no período da tarde,

já que os alunos estudam no período matutino. Infelizmente não pude envolver todos

os alunos na produção do documentário, pois a cada tarde, saia com quatro alunos,

além disso, outros trabalhavam neste período. Mas os que participaram,

demonstraram grande interesse, principalmente em procurarmos famílias carentes,

onde poderíamos realizar as entrevistas. O desenvolvimento deste documentário foi

uma experiência única, trabalhosa, mas bastante gratificante, pois mostrar aos

alunos a realidade em que as pessoas menos favorecidas de nosso município

sobrevivem, com certeza é uma maneira de vivenciarmos e denunciarmos as

desigualdades sociais decorrentes deste sistema perverso do capitalismo.

Partimos, então, do fato de que a desigualdade tem sua especialidade e que esta especialidade é a própria dinâmica da sociedade. Por trás da lógica do espaço está a lógica da própria sociedade, e, se a sociedade é desigual, consequentemente o espaço será o espaço da desigualdade (OLIVEIRA, 2005, p.51).

Percebemos a desigualdade do espaço, justamente através da complexidade

dos lugares, pois o confronto entre a organização dos lugares da periferia, onde a

pobreza existe e é percebida nitidamente em relação aos locais onde a riqueza

domina. É realmente contrastante o choque de realidades diferentes entre o espaço

moderno da população mais rica, em contraposição ao espaço dos menos

favorecidos.

(...) a mobilidade das fronteiras está relacionada ao arranjo espacial do poder, isto é, à maneira pela qual as classes sociais, principalmente as diretamente ligadas ao modo de produção hegemônico, delimitam seu poder, definem e concretizam a correlação de forças entre dominantes e dominados (OLIVEIRA, 2005, p.68).

Sempre que delimitamos a ação dos dominantes e dominados em relação aos

locais, territorializamos não somente o lugar, mas também sua vida social, o que se

concretiza em suas ações no seu cotidiano.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após realizar esse trabalho proposto no projeto PDE-2013 “A produção de

documentários como forma de conscientização e compreensão das disparidades

sociais e econômicas decorrentes do sistema capitalista”, percebemos que promover

a solidariedade, o altruísmo e ajuda mútua em relação aos menos favorecidos nas

escolas não é uma tarefa fácil, muitas vezes alunos que vivenciam suas dificuldades

não possuem noção de sua própria condição social e muito menos do local que o

rodeia, mas é importante que a escola esteja disposta a organizar atividades que

estimulem ações de solidariedade, altruísmo e ajuda mútua, como campanhas,

projetos e dinâmicas, sempre associando as atividades e os resultados à

importância de estabelecermos relações de cooperação para a construção de uma

sociedade mais justa e igualitária. Pois, todos nós professores queremos a

transformação da sociedade através de uma educação que seja pautada na

igualdade, na ética, na crítica, queremos que os nossos educandos pensem e

repensem diferentes formas e maneiras para a construção de um mundo mais

igualitário e democrático, e para que isto ocorra sabemos que o papel do professor é

de suma importância no processo educacional.

Os alunos ao produzirem o documentário, alteraram a visão de mundo que

eles possuíam, e perceberam o quanto é preciso que haja mudanças em todos os

âmbitos da sociedade, na qual foram feitas várias críticas tanto ao governo, a mídia,

certas relações na cidade e principalmente a nós mesmos. Eles notaram que a

omissão de cada um, se torna uma resposta em relação a tudo que está

acontecendo não somente em nosso município de Andirá, como também no mundo

todo.

Sabemos que este projeto não irá resolver os problemas sociais que

vivenciamos em nossa sociedade capitalista contemporânea, mas permitiu que os

próprios estudantes debatessem, refletissem e criassem ações que poderão num

futuro próximo alterar maneiras de se enfrentar a realidade da desigualdade social

vivida e sentida por todos nós. Mas, apesar de sabermos muito bem da realidade

que nos cerca, é inegável constatar que durante todo este projeto, nenhum de nós,

professores e alunos perdemos a esperança de acreditar que a educação é uma

forma de intervir e transformar o mundo. Portanto, sempre acreditaremos que

podemos através da educação, ter um mundo mais solidário e justo.

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