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1 OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO E A PRESERVAÇÃO DO SABER LOCAL EM PORTO DA MANGA Luis Augusto da Cruz Akasaki (Universidade Católica Dom Bosco) [email protected] Thaiany Regina da Silva (Universidade Católica Dom Bosco) [email protected] A comunicação é o principal pilar da sociedade contemporânea, ou seja, é a base de todo e qualquer indivíduo que vive coletivamente. Além disso, é uma das principais ferramentas organizacionais e administrativas do modelo social aplicado atualmente, tornando-se essencial para o desenvolvimento intelectual, econômico e social em diversas perspectivas. No entanto, se não é conduzida de forma sustentável proporcionando aos habitantes o conhecimento e também a capacidade de utilização das ferramentas comunicacionais pode extinguir características locais que vem sendo mantidas há anos em comunidades tradicionais, por exemplo, nas regiões pantaneiras, acostumadas a viver isoladamente. É o caso de Porto da Manga, localizada a 60 km do município de Corumbá, Mato Grosso do Sul (MS), situada à margem direita do rio Paraguai, que segundo Alho (2005), possui uma extensão de 2.621km de extensão (sendo 1.683km em território brasileiro) e suas nascentes localiza-se na Serra do Tapirapuã, na Chapada dos Parecis, no Estado de Mato Grosso (MT). Porto da Manga surgiu com a migração dos moradores de duas cidades próximas: Corumbá e Ladário, segundo Rodrigues (2008, p. 22), “que enfrentavam o problema da falta de oportunidade de trabalho nessas cidades”. Hoje a comunidade cont inua com a antiga travessia de balsa a rebocador que conduz veículos e passageiros ao cruzar o Rio Paraguai. Além de ser um importante ponto turístico, devido à pesca e à exuberância das belezas naturais da região, onde o principal acesso até a localidade é feito através da Estrada Parque Pantanal (EPP), possui grande relevância devido à história, a sua beleza e as características naturais, destacando-se por sua vegetação, mas principalmente pela quantidade e variedade de animais que vivem em plena harmonia ao longo de seu trecho. Contudo, apesar do conhecimento tradicional e das riquezas da fauna e flora, a comunidade sofre com os impactos e a desvalorização de seu território e de todo o

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OS DESAFIOS DO DESENVOLVIMENTO E A PRESERVAÇÃO DO SABER

LOCAL EM PORTO DA MANGA

Luis Augusto da Cruz Akasaki (Universidade Católica Dom Bosco)

[email protected]

Thaiany Regina da Silva (Universidade Católica Dom Bosco)

[email protected]

A comunicação é o principal pilar da sociedade contemporânea, ou seja, é a base de

todo e qualquer indivíduo que vive coletivamente. Além disso, é uma das principais

ferramentas organizacionais e administrativas do modelo social aplicado atualmente,

tornando-se essencial para o desenvolvimento intelectual, econômico e social em diversas

perspectivas. No entanto, se não é conduzida de forma sustentável – proporcionando aos

habitantes o conhecimento e também a capacidade de utilização das ferramentas

comunicacionais – pode extinguir características locais que vem sendo mantidas há anos em

comunidades tradicionais, por exemplo, nas regiões pantaneiras, acostumadas a viver

isoladamente. É o caso de Porto da Manga, localizada a 60 km do município de Corumbá,

Mato Grosso do Sul (MS), situada à margem direita do rio Paraguai, que segundo Alho

(2005), possui uma extensão de 2.621km de extensão (sendo 1.683km em território brasileiro)

e suas nascentes localiza-se na Serra do Tapirapuã, na Chapada dos Parecis, no Estado de

Mato Grosso (MT).

Porto da Manga surgiu com a migração dos moradores de duas cidades próximas:

Corumbá e Ladário, segundo Rodrigues (2008, p. 22), “que enfrentavam o problema da falta

de oportunidade de trabalho nessas cidades”. Hoje a comunidade continua com a antiga

travessia de balsa a rebocador que conduz veículos e passageiros ao cruzar o Rio Paraguai.

Além de ser um importante ponto turístico, devido à pesca e à exuberância das belezas

naturais da região, onde o principal acesso até a localidade é feito através da Estrada Parque

Pantanal (EPP), possui grande relevância devido à história, a sua beleza e as características

naturais, destacando-se por sua vegetação, mas principalmente pela quantidade e variedade de

animais que vivem em plena harmonia ao longo de seu trecho.

Contudo, apesar do conhecimento tradicional e das riquezas da fauna e flora, a

comunidade sofre com os impactos e a desvalorização de seu território e de todo o

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conhecimento de seus antepassados, características que costumavam gerar grandes

expectativas a cada viajante – conhecidos como desbravadores – que passavam por ali e

compartilhavam de suas histórias e experiências com os povos da região, agregando cada vez

mais ao conhecimento local.

Marechal Cândido Rondon é o mais conhecido aventureiro e desbravador da região,

ele percorreu as terras de Corumbá e o caminho natural constituído pelo rio Paraguai no início

de 1900. Segundo Banducci Jr. (2003), Marechal Rondon e sua comissão empenharam-se em

expandir a rede telegráfica nacional com o objetivo de permitir o avanço da República aos

sertões inóspitos, habitados por “populações arredias” e servir como elemento alavancador do

progresso no interior do país. Tornando evidente que comissões como essa, além de levarem o

desenvolvimento cultural, a ferrovia e o telégrafo eram também criadoras de terras, pois

produziam valor para o espaço, tornando as áreas mais rentáveis e comercializáveis, sendo

anteriormente apenas espaços vazios e improdutivos.

Esses fatores que representam os esforços destes homens para promoverem o

desbravamento e a ocupação dos limites extremos, juntamente com a disseminação do

conhecimento e do desenvolvimento para o interior do país, através da linha telegráfica.

Ainda hoje é possível ver na comunidade do Porto da Manga o antigo posto telegráfico

instalado pela Comissão Rondon, que atualmente encontra-se desativado, mas que mantém

sua arquitetura típica – feita sobre uma estrutura de estacas de madeira, popularmente

conhecida como palafita – para evitar que durante os períodos de cheias a água não atinja o

interior da casa.

Partindo do princípio que a informação é a mais poderosa ferramenta de

transformação, com uma capacidade ilimitada de atuar no universo cultural da sociedade,

consideram-se excluídos os grupos sociais que não vivem na realidade tecnológica da

sociedade pós-moderna e esta condição de exclusão acarreta uma série de ajustes

socioculturais. Porto da Manga está situada em uma faixa transitória e com importantes

aspectos ambientais, tradicionais e de grande relevância histórica. De acordo com o Estudo de

Desenvolvimento Integrado da Bacia do Alto Paraguai, em 1974, o Governo Federal, com

base nos estudos referidos, instituiu o Programa Especial de Desenvolvimento do Pantanal

(PRODEPAN), destinando recursos para investimentos em projetos de transporte,

saneamento, energia, desenvolvimento da pecuária e industrialização e pouco depois – na

década de 80 – houve uma ascensão no turismo de pesca no Pantanal.

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Segundo Banducci Jr. (2006), essa ação desencadeou uma demanda maior de iscas

vivas para a pesca, o que contribuiu para o surgimento de uma nova frente de trabalho, até

então pouco explorada comercialmente na região, e com isso muitos moradores optaram por

permanecerem na comunidade concretizando um novo espaço diante da economia local e

tornando-se tradicional centenária. Todavia, o fortalecimento econômico só passa a ganhar

destaque a partir da década de 80, mas que acabou sofreu um retrocesso em seu

desenvolvimento social, organizacional, assistencial e, consequentemente, tornando-se uma

comunidade esquecida pelos poderes públicos, que deixaram de assistir as pessoas que

habitam a região.

Durante as últimas décadas Porto da Manga se viu obrigada a adaptar-se ao

isolamento, após cair no esquecimento social, porém, ao longo de sua criação comunitária,

houve uma valorização do conhecimento tradicional e respeito hierárquico. Estas

características são fundamentais para a permanência e continuidade de um povo, pois é

através dos princípios de respeito, não só ao ambiente em que estão inseridos, mas também

aos conhecimentos e inovações práticas transmitidas oralmente, que ressaltam e constroem o

saber tradicional e suas inúmeras peculiaridades.

É um saber alicerçado na vivência dos indivíduos, nas relações pessoais, sociais e

também com o ambiente. Pode-se afirmar que o conhecimento tradicional é fruto do trabalho

e das descobertas de um grupo, o que justifica sua riqueza e diversidade. Amorozo (1996)

acredita que toda sociedade humana acumula um acervo de informações sobre o ambiente que

a cerca, que vai lhe possibilitar interagir com ele para prover suas necessidades de

sobrevivência. Neste acervo, inscreve-se o conhecimento relativo ao mundo vegetal com

quais estas sociedades estão em contato.

Na sociologia o termo comunidade pode ser compreendido como um conjunto de

pessoas que possuem interesses mútuos e que vivem no mesmo local, organizando-se em um

conjunto de normas e que compartilham experiências culturais. É um organismo social e

cultural que ultrapassa as características dos próprios indivíduos que a constituem em prol da

coletividade. Para Hall (2004) a questão da identidade é extensamente discutida na teoria

social da contemporaneidade, pois nunca a essência humana, já que as velhas identidades que

estabilizaram o mundo social por tanto tempo, estão em declínio. Isso fez com que surgissem

novas identidades e acabaram fragmentando o indivíduo moderno, que até então era visto

como um sujeito unificado.

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A assim chamada “crise de identidade” é vista como parte de um

processo mais amplo de mudança, que está deslocando as estruturas e

processos centrais das sociedades modernas e abalando os quadros de

referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social

(HALL, 2004, p. 7.).

Tendo em vista essa situação da era pós-moderna que reflete na perca da identidade

cultural e instabilidade social, citada por Hall (2004), é possível perceber que a comunidade

do Porto da Manga estagnou no processo evolutivo global, tornando-se cada vez mais

esquecida e excluída no contexto globalizado. Apesar do conceito de comunidade ser

considerado por muito teóricos uma rotulação, ou melhor, uma construção mental, os

indivíduos que permanecem nela ou já se ausentaram – por motivos de morte ou até mesmo

deslocamento – adquiriram e deveriam transmitir suas referências culturais aos demais, a fim

de estabelecer um legado que seguirá pelas gerações através da oralidade.

Entretanto, essa continuidade cultural no Porto da Manga está ameaçada. Os

moradores que vivem nessa comunidade tradicional tendem a explorarem os recursos que lhes

são oferecidos espontaneamente dentro dos padrões de recuperação natural, evidenciando o

respeito aos ciclos de produção e a existência do manejo adequado dos recursos naturais.

Essas formas de exploração se revelam não somente economicamente viáveis, mas

principalmente são detentoras de conhecimentos herdados de seus antepassados, agregando

valores sustentáveis e também de conservação do meio ambiente e que devem ser mantidos às

novas gerações.

Por meio do decreto 6.040/2007, a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável

dos Povos e Comunidades Tradicionais traz a definição dessas comunidades como “grupos

culturalmente diferenciados que se reconhecem como tais, com suas formas próprias de

organização social, que ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua

reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando-se de conhecimentos,

inovações e práticas geradas e transmitidas pela tradição.

Uma grande dependência dos recursos naturais, acabando por se obter um

profundo conhecimento dos ciclos biológicos e dos recursos naturais,

tecnologias patrimoniais, simbologias, mitos e uma linguagem específica,

com sotaques e inúmeras palavras de origem ameríndia, constituindo-se

como populações de determinados conhecimentos específicos, e por assim

dizer, tradicionais (FERREIRA, et. al. 2007, p. 15).

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Segundo Ferreira (2007), com base no exposto acima, que o processo de sociabilidade

das relações sociais no desenvolvimento e constituição das comunidades tradicionais se

constrói. Além de reportar também sobre a importância da garantia, do reconhecimento,

valorização e permanência desses grupos em seus territórios. Um local onde realizam suas

expressões socioambientais, econômicas e culturais, sendo uma maneira de fazer com que a

cultura e o conhecimento local permaneçam vivos e sejam compartilhados por gerações.

Levando em consideração o conhecimento necessário sobre a relevância

comunicacional no século XXI, a velocidade e a abrangência, juntamente com a interatividade

inseridas no meio tradicional e principalmente no digital, os avanços tecnológicos interferem

diretamente na sociedade pós-moderna na qual pertencemos. E as comunidades isoladas

devem utilizar a comunicação como uma ferramenta para conquistarem melhorias sociais e

agregarem valor ao conhecimento que vem se formando no decorrer das gerações, juntamente

com a disseminação de sua cultura e do saber local.

Através da aproximação social, através da coleta de dados e conversas informais,

percebemos que a comunidade pantaneira sofreu transformações na sua condição social e na

transmissão de suas histórias. Conforme dito anteriormente, vivemos em uma sociedade

globalizada e pós-moderna - digitalizada - sendo as principais características o imediatismo,

em velocidade cada vez mais elevada, a produção de conteúdos em massa e a utilização de

plataformas bastante diversificadas para propagação das informações.

A principal tendência neste domínio é a digitalização, que atinge todas as

técnicas de comunicação e de processamento de informações. Ao progredir,

a digitalização conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a

radiotelevisão, o jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a

informática. [...] Eis por que a noção de interface pode ser estendida ao

domínio da comunicação como um todo e deve ser pensada hoje em toda sua

generalidade (LEVY, 2004, p.102).

Uma breve análise do trecho citado anteriormente demonstra que o formato digital

possibilita a integração entre as mídias e possibilita aos usuários comuns, e também aos

profissionais, novas experiências de comunicação. Entende-se que a Internet é o resultado do

capitalismo tardio e resultam novos modos de consumo (JAMESON, 2000) – incluindo a

informação e cultura – no entanto, ela não deve ser vista como uma inimiga e sim uma

consequência do desenvolvimento.

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A sociedade contemporânea vive a Terceira Idade da Máquina, na qual o seu maior

símbolo são os computadores. Consequentemente, o desenvolvimento tecnológico, as formas

de consumo e produção – comercial, cultural e a informação –, juntamente com o

desenvolvimento do capitalismo aderiu a um padrão globalizado e imediatista (JAMESON,

2000).

No entanto, observa-se que a comunidade do Porto da Manga não acompanhou esse

processo de desenvolvimento globalizado e, portanto, enfrenta sérios problemas para absorver

e propagar informações de uma maneira que não prejudique a sua própria cultura. Os

mecanismos que ainda garantem alguma obtenção de conteúdos são o rádio e a televisão -

consideradas mídias tradicionais -, os turistas que chegam na região e os habitantes que se

deslocam para cidades próximas - buscando por produtos, educação e atendimento médico - e

retornam para comunidade em curto ou longo prazo. Partindo da fundamentação do

jornalismo, que inclui o compromisso social, a ética, a veracidade e a credibilidade,

observamos que esse êxodo dos moradores, as interferências do turismo na região e a

utilização inadequada dos meios de comunicação estão prejudicando a cultura local e não

agregando o valor necessário.

Os padrões de consumo e imediatismo estabelecidos na Terceira Idade da Máquina,

que para os moradores são apresentados através das mídias tradicionais, continuam não se

adequando as condições reais nas quais eles vivem e acabam ocasionando um verdadeiro

“choque cultural”. Deste modo, ao invés de possibilitarem novas experiências de

comunicação - que consistem no intercâmbio de conhecimento e produção de conteúdos -,

acabam ocasionando uma espécie de sufocamento da cultura local e absorção da cultura

globalizada. Aspecto observado principalmente na oralidade - na qual os anciões ou líderes

mais antigos repassam lendas, histórias e saberes locais aos mais jovens para que esse

conhecimento siga entre as gerações - que aos poucos é sufocada pelas músicas de sucesso e

pelas novelas que repassam o estilo de vida dos grandes centros urbanos.

OBJETIVO

Este trabalho visa analisar as mudanças na vida cotidiana dos moradores de Porto da

Manga, a partir das influências externas vivenciadas, considerando que a comunidade já foi

um grande potencial econômico, adaptou-se ao isolamento após cair no esquecimento social e

atualmente, corre o risco de extinção cultural. Ou seja, o saber local adquirido ao longo de

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décadas está com sua preservação ameaçada. Um dos fatores desta problemática, enfrentada

pelos habitantes da região, está diretamente relacionada com a comunicação, uma vez que no

passado este mesmo recurso foi considerado um importante mecanismo para o progresso no

local. É importante destacar que o processo de desenvolvimento tornou-se obsoleto no mesmo

período em que os investimentos comunicacionais deixaram de serem realizados na região.

METODOLOGIA

O principal recurso utilizado na caracterização da pesquisa e no desenvolvimento do

trabalho, além dos referenciais teóricos, foi a entrevista. Foram entrevistados oito moradores

que residem na região a mais de trinta anos e para elaboração do roteiro de perguntas foram

estabelecidos diálogos com pesquisadores que já atuaram na comunidade, com a finalidade de

aproximação da realidade local e interpretá-la com base nas técnicas jornalísticas de apuração

e reportagem.

A entrevista, nas suas diferentes aplicações, é uma técnica de interação

social, de interpenetração informativa, quebrando assim isolamentos grupais,

individuais, sociais; pode também servir à pluralização de vozes e à

distribuição democrática da informação. Em todos estes ou outros usos das

Ciências Humanas, constitui sempre um meio cujo fim é o inter-

relacionamento humano (MEDINA, 2001, p.8).

Utilizando a entrevista de forma qualitativa houve a possibilidade de coletar

informações básicas como: nomes, datas de nascimento, profissões, estado civil, há quanto

tempo os moradores habitam a região, se possuem filhos e ao longo de um questionário

impresso – que também contou com o auxílio de um gravador digital– obtivemos registros

informais. Logo, a condição de informalidade nos permitiu conhecer o aspecto turístico da

comunidade pantaneira, juntamente com os principais aspectos da realidade local e

humanizar, através de um livro-reportagem, as histórias de vida de seus habitantes e a

oralidade presente na cultura.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como resultado o trabalho geriu um resgate histórico da região, ressaltando a

importância do saber local para manutenção da cultura ribeirinha pantaneira e a ligação do

homem com o meio ambiente, onde a participação ativa dos moradores em seu

desenvolvimento é essencial para a sustentabilidade da comunidade. Destacando que a

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comunicação na pós-modernidade é um processo extremamente globalizado e que ao mesmo

tempo, é capaz de excluir duramente aqueles que não se enquadram em seus requisitos.

No entanto, é necessário que haja medidas públicas de infraestrutura juntamente com

investimentos em educação para que essas comunidades possam preservar a sua cultura local

e propagá-las de forma mais eficaz ao restante da sociedade, sofrendo menos impactos dos

agentes externos que podem sufocar o conhecimento tradicional através da cultura de massa.

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