Os Dois Ingredientes Indispensáveis de Histórias Envolventes

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Os dois ingredientes indispensáveis de histórias envolventes. Por Diego Schutt em 15/05/2013 em destaque , inspiração 13 90 Quando alguém abre um livro, vai ao cinema , ou assiste a uma série de tv, está ciente que os acontecimentos da história foram inventados, que os personagens não existem, e que seusdiálogos e comportamentos são pura fantasia. Se você é escritor ou roteirista, não precisa se preocupar em convencer ninguém do contrário. As pessoas estão dispostas a acreditar nas ideias mais malucas que sua mente puder imaginar, contanto que sua história seja coerente e verdadeira. 1. Sua história precisa de coerência Não importa se sua ideia é baseada em fatos reais, ou se é uma fantasia épica com criaturas de outros planetas. Para que as pessoas acreditem na ilusão de realidade que você está tentando criar, você precisa considerar as perguntas que sua história vai provocar na audiência. Se seu personagem pode voar, por exemplo, considere a origem dessa habilidade. Ele vem de outro planeta? Ou é um experimento científico? Ou é uma cruza entre humanos e pássaros? Se seu protagonista é um ladrão de bancos de 70 anos, você precisa considerar as motivações por trás de suas ações. Ele não consegue sobreviver com o que ganha de aposentadoria? Ou ele gosta da adrenalina do perigo? Ou ele precisa de dinheiro para pagar o tratamento médico do neto? Isso não significa que você precisa explicar para o leitor de forma didática as respostas para essas perguntas. Entretanto, é importante que você considere como vai desenvolver a narrativa de forma a ajudar as pessoas a

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Os Dois Ingredientes Indispensáveis de Histórias Envolventes

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Os dois ingredientes indispensáveis de histórias envolventes.Por Diego Schutt em 15/05/2013 em destaque, inspiração13  90

Quando alguém abre um livro, vai ao cinema, ou assiste a uma série de tv, está ciente que os acontecimentos da história foram inventados, que os personagens não existem, e que seusdiálogos e comportamentos são pura fantasia.Se você é escritor ou roteirista, não precisa se preocupar em convencer ninguém do contrário. As pessoas estão dispostas a acreditar nas ideias mais malucas que sua mente puder imaginar, contanto que sua história seja coerente e verdadeira.

1. Sua história precisa de coerênciaNão importa se sua ideia é baseada em fatos reais, ou se é uma fantasia épica com criaturas de outros planetas. Para que as pessoas acreditem na ilusão de realidade que você está tentando criar, você precisa considerar as perguntas que sua história vai provocar na audiência.

Se seu personagem pode voar, por exemplo, considere a origem dessa habilidade. Ele vem de outro planeta? Ou é um experimento científico? Ou é uma cruza entre humanos e pássaros? Se seu protagonista é um ladrão de bancos de 70 anos, você precisa considerar as motivações por trás de suas ações. Ele não consegue sobreviver com o que ganha de aposentadoria? Ou ele gosta da adrenalina do perigo? Ou ele precisa de dinheiro para pagar o tratamento médico do neto?Isso não significa que você precisa explicar para o leitor de forma didática as respostas para essas perguntas. Entretanto, é importante que você considere como vai desenvolver a narrativa de forma a ajudar as pessoas a entender a lógica de funcionamento da realidade ficcional que você está criando.

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Para transformar a ilusão da sua história em uma realidade ficcional acreditável na mente das pessoas, você precisa construir um universo de ficção consistente e coerente. Como? Considere o seguinte:

Nos interessamos por aquilo que acreditamos ser importante. Acreditamos na importância daquilo que tem um sentido para nós. Damos sentido ao que podemos compreender. Compreendemos o que nos parece coerente. Consideramos coerente o que tem uma lógica. Enxergamos lógica onde vemos relações de causa e consequência.

Isso significa que nos interessamos por histórias em que a motivação do protagonista para agir nos parece convincente, e quando acreditamos que suas ações e reações fazem sentido dentro da lógica de causa e consequência em que o universo de ficção foi contextualizado. Essa compreensão é o que nos permite encontrar uma interseção com nossos interesses pessoais e dar sentido para os acontecimentos da história.

Ou seja, ainda que um personagem seja fruto da imaginação de um escritor ou roteirista, acreditamos em sua existência durante uma história quando reconhecemos nele as características fundamentais de uma pessoa de verdade: alguém com motivações e desejos que obedecem à lógica da sua personalidade.

 

2. Sua história precisa de verdadeAs pessoas dedicarão infinitas horas de atenção as suas histórias contanto que, em troca, você lhes mostre uma verdade. Não uma verdade jornalística, fatual, que tenha acontecido a uma pessoa, em um determinado dia, lugar e horário. O que as pessoas buscam em histórias de ficção é uma verdade humana.

Embarcar em uma história de ficção é como assistir a um show de mágica. As pessoas estão dispostas a serem enganadas, contanto que as ilusões lhe pareçam reais. Como fazer ilusões parecerem reais? Construindo um universo ficcional que espelhe a forma como todos nós inventamos as histórias que dão sentido para nossas vidas:

Nossas experiências moldam nossa identidade. Nossa identidade define nossas motivações e desejos. Nossas motivações e desejos guiam nossas decisões. Nossas decisões se concretizam em nossas ações.

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Nossas ações resultam em consequências. Nossa interpretação dessas consequências constituem novas

experiências. O sentido que damos a essas experiências moldam nossa percepção

sobre a vida.Em histórias de ficção, isso significa: 1. Considerar o papel das experiências passadas do protagonista na construção de sua identidade. 2. Ajudar o leitor a entender as motivações desse personagem para pensar e agir de certa forma diante dos acontecimentos da história. 3. Criar situações onde ele seja forçado a tomar decisões e ações para enfrentar os conflitos que o impedem de alcançar o que ele deseja. 4. Mostrar o impacto desses acontecimentos e suas consequências na percepção do personagem sobre a vida.

A verdade humana que buscamos em histórias de ficção é o sentido que o personagem deu a uma experiência, e como sua interpretação sobre essa experiência moldou a forma como ele vê o mundo, outras pessoas e a si mesmo. É assim que estabelecemos as verdades que guiam nossas vidas: interpretando tudo o que nos acontece.

Por esse motivo, quando entendemos o sentido que um personagem deu para uma experiência de vida, reconhecemos nele nossa humanidade, nossa capacidade de interpretar o que sentimos. E não há nada que nos pareça mais verdadeiro do que uma conclusão racional que é confirmada por nossas emoções.

Quando um escritor consegue nos ajudar a enxergar a verdade de um personagem, conseguimos entender o que história dele nos diz sobre nossa própria história.