Os efeitos da mídia jornalistica digital na construção da imagem do professor

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Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da imagem do professor AUDREY DANIELLE BESERRA DE BRITO CHARLES AUGUSTO MOREIRA FERNANDES HELENA MORITA MARINA DOS SANTOS NUNES ROBERTO GABRIEL LABRADA ROGÉRIO DA SILVA Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da imagem do professor São Paulo 2010

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AUDREY DANIELLE BESERRA DE BRITO CHARLES AUGUSTO MOREIRA FERNANDES

HELENA MORITA MARINA DOS SANTOS NUNES ROBERTO GABRIEL LABRADA

ROGÉRIO DA SILVA

Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da

imagem do professor

São Paulo

2010

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AUDREY DANIELLE BESERRA DE BRITO CHARLES AUGUSTO MOREIRA FERNANDES

HELENA MORITA MARINA DOS SANTOS NUNES ROBERTO GABRIEL LABRADA

ROGÉRIO DA SILVA

EACH – USP LESTE 2 – GRUPO F

Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da

imagem do professor

Pesquisa apresentada ao Curso de Especialização em Ética, Valores e Saúde na Escola da EACH – USP Leste como parte dos requisitos para obtenção de nota na disciplina Tutoria de Projetos em Ética e Saúde II. Área de Concentração: Saúde e Educação Orientador(a): Profª Dr.ª Juliana Rodrigues

São Paulo 2010

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RESUMO

BRITO, A. D. B. et al (Ed). Os efeitos da mídia jornalística digital na construção da

imagem do professor. 2010. 70 f. TCC - Escola de Artes, Ciências e Humanidades,

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.

O professor é um profissional que teve sua função/missão ampliada para além da sala de

aula. Por conta disso, além de ensinar, o professor passou também a participar da gestão e

do planejamento escolar, o que significou uma dedicação mais ampla, a qual se estende às

famílias e à comunidade. Enquanto suas funções e responsabilidades foram aumentando

gradativamente, a profissão de professor deixou de ser valorizada, tanto no aspecto

financeiro como no social. Esta sobrecarga e esta desvalorização levaram este profissional

a enfrentar, cotidianamente, vários agentes estressores que acabaram por desestruturar o

seu estado mental/psicológico, levá-lo a desenvolver síndromes, a tornar-se inassíduo e, até

mesmo, a afastar-se de suas funções. Diante desse fato, o objetivo geral desta pesquisa foi

verificar se mídia jornalística digital, através das webnotícias, relaciona a competência do

professor aos seus problemas de saúde mental/psicológica e, desse modo, busca

desenvolver uma imagem negativa deste profissional perante sociedade contemporânea.

Para realizar o estudo proposto, adotamos como metodologia de pesquisa o método indutivo

dentro de uma abordagem qualitativa e, como procedimentos metodológicos, optamos pela

pesquisa bibliográfica, pelo levantamento de webnotícias sobre a saúde mental/psicológica

dos professores durante o ano de 2010 publicadas pela revista Veja, pela Folha de São

Paulo e pelo Estadão e pela análise e comparação do discurso veiculado nestes veículos

midiáticos a respeito da saúde mental/psicológica do professor a partir dos estudos de Lang-

Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) sobre a teoria da Agenda-Setting. O resultado das

análises realizadas nesta pesquisa, demonstrou que os três veículos midiáticos

apresentaram o professor como o principal responsável pela baixa qualidade do ensino

público e como um profissional incapaz de lidar com os desafios da profissão. A conclusão a

que chegamos neste trabalho, foi a de que a mídia jornalística digital relaciona a

competência do professor aos seus problemas de saúde mental e, por conta disso, acaba

construindo, a partir do agendamento dos temas e do enfoque que é dado as webnotícias,

uma imagem negativa desse profissional.

Palavras-chave: Mídia jornalística digital. Agenda-setting. Webnotícias. Professores. Saúde

mental.

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Consequências do mal-estar docente....................................... 19

Tabela 2 - Metodologia de análise das webnotícias................................... 34

Tabela 3 - Noticialidade do tema “Estresse, Doenças Mentais e

Afastamento/Ausências de Professores”..................................

38

Tabela 4 - Análise da Webnotícia “Bônus melhora aula e reduz falta, diz

pesquisador”..............................................................................

45

Tabela 5 - Análise da Webnotícia “Uma greve contra os pobres”.............. 46

Tabela 6 - Análise da Webnotícia “O processo de readaptação foi um período

deprimente”..................................................................

47

Tabela 7 - Análise da Webnotícia “A cada dia, um professor se licencia por

dois anos”............................................................................

48

Tabela 8 - Análise da Webnotícia “Temporários chegam a 46% dos

professores em SP”...................................................................

50

Tabela 9 - Análise da Webnotícia “SP dá 92 licenças por dia para

docente com problema emocional”...........................................

51

Tabela 10 - Análise da Webnotícia “Estresse na Escola”............................ 53

Tabela 11 - Análise da Webnotícia “Cresce o número de professores afastados

por transtornos mentais”...........................................

55

Tabela 12 - Análise da Webnotícia “10% dos professores têm algum transtorno

mental”.....................................................................

56

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................... 05 2 QUADRO TEÓRICO ............................................................................ 08 2.1 A agenda-setting .................................................................................. 08 2.2 Os efeitos dos discursos midiáticos: a agenda-setting.......................... 08 2.2.1 O efeito cognitivo da agenda-setting na mídia jornalística.................... 10 2.3 A atuação do professor na contemporaneidade.................................... 13 2.4 A saúde do professor............................................................................. 18 2.4.1 O estresse e a síndrome de Burnout em professores........................... 20 2.5 Legislação e políticas públicas voltadas para a saúde do professor..... 23 3 METODOLOGIA .................................................................................. 30 3.1 Métodos ............................................................................................... 30 3.2 Procedimentos metodológicos ............................................................. 31 3.3 Metodologia de análise do corpus........................................................ 32 4 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS................... 36 4.1 Análise geral ........................................................................................ 37 4.1.1 Personificação ..................................................................................... 38 4.1.2 Técnica extralingüística ....................................................................... 41 4.1.3 Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos ............................. 43 4.1.4 Quantidade de pessoas que o acontecimento envolve ....................... 43 4.2 Análise específica ................................................................................ 44 4.2.1 Considerações sobre a análise específica .......................................... 58 4.3 Considerações sobre a análise geral e específicas ............................. 60 4.2 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................ 63 REFERÊNCIAS .................................................................................................. 66

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1. INTRODUÇÃO

A mídia, considerada um dos aparelhos ideológicos do Estado

(ALTHUSSER, 1998), consiste num “conjunto de regras e técnicas de conveniência,

as quais resultam na submissão a normas vigentes e na reprodução da submissão

dos leitores à ideologia prevalente” (MATOS, 2005, p. 227).

Confere-se, ao discurso midiático, uma posição de autoridade. Desse modo,

os leitores são interpelados pelo discurso com o pressuposto de verdade e, por

conta disso, assumem a posição ideológica da mídia.

Atualmente, a mídia divide-se em impressa, eletrônica e digital. A mídia

impressa é qualquer material impresso (em papel) que contenha informações

lúdicas, técnicas ou científicas a respeito dos mais diversos assuntos. A mídia

eletrônica refere-se ao conjunto de meios de comunicação que necessita de

recursos eletrônicos ou eletromecânicos para que o usuário final tenha acesso aos

conteúdos - de vídeo ou áudio, gravados ou transmitidos em tempo real, como a

televisão, o rádio, o cinema, entre outros (CARVALHO, 2010).

Já a mídia virtual ou digital é aquela que utiliza como meio um computador

ou equipamento digital para criar, explorar, finalizar ou dar continuidade a um projeto

que tem como suporte a internet. Ela é capaz de aglomerar diversas informações em

um único local, além de fornecer acesso dinâmico às informações de diferentes

categorias (CARVALHO, 2010).

Dentro deste universo midiático, o foco desta pesquisa está no discurso

jornalístico digital ou webjornalismo1. O discurso jornalístico, de um modo geral,

pode ser conceituado como uma atividade específica que tem por objetivo

transformar qualquer acontecimento em notícia (COSTA, 2008, p. 140).

O autor ainda explica que gênero notícia é “um relato ou narrativa de fatos,

acontecimentos, informações, recentes ou atuais, do cotidiano, os quais têm grande

importância para a comunidade e para o público leitor” (COSTA, 2008, p. 140-141).

As notícias refletem o discurso jornalístico, muitas vezes ideológico, que é

mediado por uma empresa e por seus interesses e valores que, ao tomar a notícia e

1 Também conhecido como Jornalismo Online ou Ciberjornalismo. Trata-se do jornalismo praticado no

meio comunicacional da Internet (Wikipédia. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Jornalismo_online. Acesso em 19/11/2010.)

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reorganizá-la, dá-lhe forma e voz. Nesse sentido, podemos dizer que as notícias são

recortes da realidade, criados para determinar o viés sócio-político-institucional de

uma empresa.

Contudo, é importante destacar que há diferenças entre a notícia e a

webnotícia que é foco desta pesquisa. Segundo Costa (2008) no gênero notícia, o

texto é linear e unitário. Já Salaverria (2005), explica que na webnotícia, o texto

desenvolve-se numa sucessão arquitetônica de blocos de informação ligados

através de links2.

É justamente em torno da mídia jornalística digital ou webjornalismo, que

formulamos o Objeto de Investigação desse estudo: pesquisar os efeitos das

webnotícias na construção da imagem do professor.

A Justificativa para este objeto de investigação se deve ao fato de que o

professor é um profissional que teve sua função/missão ampliada para além da sala

de aula. Por conta disso, além de ensinar, o professor passou também a participar

da gestão e do planejamento escolar, o que significou uma dedicação mais ampla, a

qual se estende às famílias e à comunidade.

Enquanto suas funções e responsabilidades foram aumentando

gradativamente, a profissão de professor deixou de ser valorizada, tanto no aspecto

financeiro como no social.

Esta sobrecarga e esta desvalorização levaram este profissional a enfrentar,

cotidianamente, vários agentes estressores que acabaram por desestrutuar o seu

estado mental/psicológico, levá-lo a desenvolver síndromes, a tornar-se inassíduo e,

até mesmo, a afastar-se de suas funções.

O estado mental/psicológico dos professores vem sendo objeto de estudo

de várias pesquisas contemporâneas e, além disso, tornou-se também tema de

muitas webnotícias que são divulgadas na Internet.

Diante desse fato, organizamos a nossa Problematização no seguinte

questionamento: A mídia jornalística digital, através das webnotícias, relaciona a

competência do professor aos seus problemas de saúde mental/psicológica,

buscando desenvolver uma imagem negativa deste profissional perante sociedade

contemporânea?

2 Esta informação será explicada no Quadro Teórico desta pesquisa.

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Partindo do Pressuposto de que, de maneira geral, a mídia jornalística

digital, através das webnotícias, relaciona sim a competência do professor aos seus

problemas de saúde mental/psicológica e, desse modo, busca desenvolver uma

imagem negativa deste profissional perante sociedade contemporânea, o Objetivo

Geral desta pesquisa é verificar se esta hipótese se confirma ou não.

Para realizar o estudo proposto, adotamos como Metodologia de

Pesquisa o Método Indutivo dentro de uma abordagem Qualitativa e, como

Procedimentos Metodológicos, optamos pela pesquisa bibliográfica, pelo

levantamento de webnotícias3 sobre a saúde mental/psicológica dos professores

durante o ano de 2010 publicadas pela revista Veja, pela Folha de São Paulo e pelo

Estadão e pela análise e comparação do discurso veiculado nestes veículos

midiáticos a respeito da saúde mental/psicológica do professor a partir dos estudos

de Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008).

A Fundamentação Teórica selecionada para esta pesquisa possui como

referencial a teoria da Agenda-Setting, o Movimento da Escola Nova, o Estresse e a

Síndrome de Burnout em Professores e a Legislação e as Políticas Públicas

voltadas para a saúde do professor.

Vale destacar que este trabalho foi dividido em mais três capítulos, além

desta introdução e das considerações finais. O primeiro capítulo é composto pela

introdução. No segundo capítulo, apresentamos o quadro teórico, composto pelos

seguintes temas: os efeitos cognitivos da mídia jornalística, a atuação do professor

na contemporaneidade, a saúde mental e a síndrome de burnout em professores e

legislação e políticas públicas voltadas para a saúde deste profissional do ensino.

No terceiro capítulo consta o detalhamento da metodologia de pesquisa e

dos procedimentos metodológicos e, no quarto capítulo, concentra-se o cerne desta

pesquisa. Nele apresentamos a análise dos dados coletados.

Em seguida, no quinto capítulo, seguem as considerações finais deste

trabalho seguidas, das referências da pesquisa realizada.

3 As webnotícias levantadas sobre a saúde mental/psicológica dos professores durante o ano de 2010

publicadas pela revista Veja, pela Folha de São Paulo e pelo Estadão constituem o nosso corpus de análise.

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2. QUADRO TEÓRICO

2.1 A agenda-setting4

A Teoria do Agendamento ou agenda-setting theory, no original, em inglês, é

uma teoria de Comunicação formulada por Maxwell McCombs e Donald Shaw na

década de 1970. De acordo com este pensamento, a mídia determina a pauta (em

inglês, agenda) para a opinião pública ao destacar determinados temas e preterir,

ofuscar ou ignorar outros tantos.

As idéias básicas da Teoria do Agendamento podem ser atribuídas ao

trabalho de Walter Lippmann, um proeminente jornalista estadunidense. Ainda em

1922, Lippmann propôs a tese de que as pessoas não respondiam diretamente aos

fatos do mundo real, mas que viviam em um pseudo-ambiente composto pelas

"imagens em nossas cabeças". A mídia teria, então, um papel importante no

fornecimento e geração destas imagens e na configuração deste pseudo-ambiente.

2.2 Os efeitos dos discursos midiáticos: a agenda-setting

Os efeitos dos discursos midiáticos sobre os destinatários não são mais os

mesmos. Eles não mais se relacionam com as atitudes, valores ou com o

comportamento. A mídia contemporânea busca um efeito cognitivo sobre os

sistemas de conhecimentos (WOLF, 2008).

Os indivíduos necessitam receber uma quantidade de informações para

reconhecer o sistema social de que fazem parte e poder adaptar-se a ele. Para

adaptar-se, precisam determinar as suas estratégias de decisão e, é neste aspecto,

que a mídia age: distribuindo uma seleção de conhecimentos públicos que

influenciam os conhecimentos individuais, transformando-se em opinião pública. São

estes, os efeitos cognitivos da mídia sobre os sistemas de conhecimentos

(SAPERAS, 1993).

4 As informações passadas nesta seção foram colhidas no site da Enciclopédia Livre disponível em:

http://pt.wikipedia.org/wiki/Agendamento. Acesso em 08/12/2010.

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Nessa perspectiva, Wolf (2008, p. 139) declara que é “o caráter processual

da comunicação que deve ser analisado, tanto na sua dinâmica interna, quanto nas

suas relações com outros processos de comunicação, precedentes ou

conteporêneos”.

Assim, percebemos que, em relação à pesquisa voltada para a mídia, torna-

se relevante a análise dos “efeitos cognitivos” sobre os sistemas de conhecimentos,

pois a mídia contemporânea desempenha a função de construção da realidade

social quando os efeitos nela implícitos refletem-se com grande intensidade no

patrimônio cognitivo de seus destinatários (WOLF, 2008, p. 142).

Para construir esta realidade social, a mídia contemporânea tematiza as

discussões, as reflexões, os pensamentos das pessoas a partir de uma seleção de

informações, ou seja, a mídia apresenta ao público uma lista de fatos a respeito dos

quais se pode ter uma opinião e discutir.

Shaw (1979) descreve bem esta questão:

Em consequência da ação dos jornais, da televisão e dos outros meios de informação, o público é ciente ou ignora, dá atenção ou descuida, enfatiza ou nigligencia elementos específicos dos cenários públicos. As pessoas tendem a incluir ou excluir dos próprios conhecimentos o que a mídia inclui ou exclui do próprio conteúdo. Além disso, o público tende a conferir ao que ele inclui uma importância que reflete de perto a ênfase atribuída pelos meios de comunicação de massa aos acontecimentos, aos problemas, às pessoas (SHAW, 1979, p. 96).

Desta forma, percebemos que além de tematizar as discussões e levar os

destinatários a reflexão, a mídia induz o público a dar a mesma ênfase que dá aos

temas que propõe.

Esta seleção de temas é chamada de agenda-setting que, segundo Wolf

(2008, p. 144-146) é “um conjunto integrado de assuntos e estratégias que gera uma

dependência cognitiva da mídia”.

A agenda-setting postula um impacto direto sobre os destinatários que é “a

ordem do dia” dos temas, argumentos, problemas, presentes na agenda da mídia e

hierarquizado por importância e prioridade (WOLF, 2008, p. 146).

Desse modo, podemos dizer que a agenda-setting proporciona a

fragmentação do indivíduo contemporâneo, já que divulga em veículos midiáticos,

fatias de realidade influenciadas pelo caráter imediato dos eventos e pelo

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sensacionalismo do espetáculo. Isso tudo acaba forjando a consciência dos

destinatários.

De acordo com Harvey (2007, p. 49), na contemporaneidade, os indivíduos

não são mais alienados e sim esquizofrênicos. Um indivíduo alienado, no sentido

marxista, é aquele que possui um eu coerente e não fragmentado, do qual se

alienar. Por outro lado, os indivíduos esquizofrênicos são aqueles que acreditam

numa realidade forjada.

Como um esquizofrênico, o indivíduo utiliza-se de informações

desconectadas, velozes e isoladas, e que não se articulam em seqüências

coerentes. Assim, o sujeito contemporâneo passa a ser composto por uma colagem

esquizofrênica de pequenos fragmentos que significa uma espécie de

desmembramento da realidade única em infinitas realidades simultâneas (HARVEY,

2007, p. 52).

Edgar Morin (1999, p. 17) comenta que a fragmentação do saber tem como

conseqüência um vazio de subjetividade. Nesse sentido, o desaparecimento da

subjetividade, responsável pela construção de nossa identidade, resulta em

esquizofrenia, que seria a ausência de identidade.

Esta esquizofrenia, num sentido não clínico, leva o sujeito contemporâneo, a

substituir a sua subjetividade por presentes desconexos, ou seja, por uma cadeia de

significantes sem significado (HARVEY, 2007, p. 52).

Desse modo, percebemos que o indivíduo contemporâneo é fragmentado,

esquizofrênico, por não se conectar com o todo que compõe sua realidade e que a

agenda-setting colabora para que o indivíduo se fragmente e se torne cada vez mais

descentralizado; esquizofrênico já que não percebe a influência da mídia em sua

vida.

2.2.1 O efeito cognitivo da agenda-setting na mídia jornalística

Harvey (2007, p. 120) enfatiza que “o mundo surge diante do esquizofrênico

com uma intensidade aumentada, trazendo a carga misteriosa e opressiva do afeto,

borbulhando de energia alucinatória”. Desse modo, podemos perceber que a mídia

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jornalística, seja ela impressa, eletrônica ou digital, além de possuir um viés

ideológico, colabora para que o indivíduo contemporâneo se torne fragmentado,

descentralizado e esquizofrênico, não no sentido clínico, mas no sentido de alucinar-

se diante de uma realidade forjada. Esta realidade é forjada pela mídia jornalística

através do agendamento de temas.

Para Wolf, este processo de agendamento é muito eficaz na construção de

uma imagem forjada da realidade:

Essa imagem – que é simplesmente uma metáfora representativa da totalidade de toda a informação sobre o mundo, que cada indivíduo tratou, organizou e acumulou – pode ser pensada como um padrão em relação ao qual a informação nova é confrontada para dar-lhe o seu significado. (WOLF, 2008, p.153)

Desta maneira, a mídia fornece aos seus receptores sistemas estruturados

de conhecimento relativo aos temas, como as necessidades, valores e crenças.

Esses sistemas estruturados são os mecanismos de interpretação, compreensão e

de memorização de que ela se utiliza para causar efeito cognitivo.

O que é importante na agenda-setting é a tematização, pois “nem todo

acontecimento ou problema é perceptível de tematização, apenas os que denotam

alguma relevância político-social” (WOLF, 2008, p. 166). Neste aspecto, podemos

destacar o viés ideológico da mídia que busca agendar notícias e/ou webnotícias

que servem como meio para formar a opinião de cada indivíduo a respeito de algum

tema de caráter político-social.

Como já foi citado nesta pesquisa, a diferença entre a notícia e a webnotícia

se deve ao fato de que a primeira se trata de um texto único e na segunda, além do

noticiado, existem outras informações ligadas através de links. Desse modo,

podemos perceber que a diferença entre elas está no formato e no meio em que são

veiculadas, não no processo de agendamento.

A webnotícia proporciona ao leitor mais interatividade já que se trata de um

hipertexto. A diferença central entre o hipertexto e o texto linear tal como se encontra

nos jornais e nas revistas impressas, é a possibilidade de diferentes escolhas de

leituras e interferências on line (MARCUSHI, 1999).

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Na perspectiva dos estudos linguíticos, Marcushi (1999) define o hipertexto

da seguinte maneira:

O hipertexto não é um gênero textual nem um simples suporte de gêneros diversos, mas sim, um tipo de escritura. É uma forma de organização cognitiva e referencial cujos princípios constituem um conjunto de possibilidades estruturas que caracterizam ações e decisões cognitivas baseadas em (séries de) referenciações não contínuas e não progressivas. Considerando que a linearidade linguística sempre constituiu um princípio básico da teorização (formal ou funcional) da língua, o hipertexto rompe esse padrão em alguns níveis. Nele, não se observa ua ordem de construção, mas possibilidades de construção textual plurilinearizadas (MARCUSCHI, 1999, p. 21).

Fabiana Komesu relacionou os principais traços do hipertexto. São eles: a

intertextualidade, a não-linearidade, volatilidade, fragmentaridade, espacialidade

topográfica e a multissemiose:

a) Intertextualidade: o hipertexto permite, mediante os links nele indexados, o acesso a inúmeros outros hipertextos que circulam pela rede; b) Não-linearidade: é considerada como o traço principal do hipertexto.Trata-se, de uma flexibilidade desenvolvida na forma de ligações permitidas/sugeridas entre nós que constituem redes que possibilitam a elaboração de vias navegáveis; c) Volatilidade: o hipertexto não tem a mesma estabilidade, por exemplo, dos textos impressos [...] as práticas do hipertexto têm caráter de volatilidade, de uma produção em tempo real que resulta na qualidade de tornar-se vapor, espalhar-se pelo ambiente, até o ponto de não ser mais reconhecido, ou se ser para sempre esquecido; d) Fragmentaridade: a fragmentaridade no hipertexto é estendida à função autor, que é vista, neste paradigma, como incapaz de controlar o tópico ou o leitor. O leitor, por sua vez, é considerado um co-autor – outra fragmentaridade – por “organizar” fragmentos textuais a que tem acesso; e) Espacialidade topográfica: o hipertexto é um espaço “topográfico”, no qual a escrita eletrônica pode ser tanto uma representação verbal quanto visual, sem limites para seu desenvolvimento; f) Multissemiose: possibilidade e estabelecer conexão simultânea entre a linguagem verbal e a não verbal (imagens, animações, som) de maneira interativa, graças ao recurso da hipermídia (KOMESU, 2005, p. 98-101).

O que é válido para esta pesquisa, é que, mesmo com caracterísitcas

diferentes, a notícia impressa e a webnotícia são influenciadas pelo agendamento

através da tematização de assuntos5.

5 Pesquisas contemporâneas voltadas para a análise do webjornalismo e das webnotícias retratam

que, pelo fato da interatividade hipertextual, o processo de agendamento está se tornando, aos

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2.3 A atuação do professor na contemporaneidade

Durante muito tempo acreditou-se que o professor deveria ser o centro do

processo de apreendizagem e o aluno, apenas um receptor que somente aprendia

quando se sentia apto para repetir as lições que memorizava.

Celso Antunes comenta esta concepção de ensino:

Nessa visão de ensino aplaudia-se o silêncio, e a imobilidade do aluno e a sapiência do mestre, além de se pensar o conhecimento como informações pré-organizadas e concluídas que se passavam de uma pessoa para outra, portanto, de fora para dentro, do mestre para o estudante. Ensinar significava difundir o conhecimento, impondo normas e convenções para que os alunos assimilassem. Estes levavam para a escola a boca – porque da mesma não podia se separar – mas toda a aprendizagem dependia do ouvido, reforçado pela mão na tarefa de copiar (ANTUNES, 2008, p. 17).

Podemos perceber que na escola tradicionalista, o aluno era visto como um

depósito de informações e que não deveria questionar o que lhe era transmitido pelo

professor, personagem principal do processo de ensino e de aprendizagem.

A memória em curto prazo era a mais valorizada, já que o aluno apenas

estudava (decorava) os conteúdos para ser avaliado pelo professor. Logo em

seguida, tudo o que havia estudado, perdia-se. A aprendizagem era

responsabilidade do aluno e se este não a conquistasse, era reprovado.

A avaliação era somativa e classificatória, os alunos não podiam interagir

entre si, pois a disciplina era sinônimo de silêncio absoluto. Além de tudo isso, a

reflexão, discussões, o contexto e os conhecimentos prévios dos alunos não er

significativo para o processo de ensino e de aprendizagem.

Infelizmente, este tipo de escola sobreviveu até o final do século XX quando

os movimentos da Escola Nova começou a se fortalecer a partir das pesquisas de

Pestalozzi, John Dewey, Rudolf Steiner, Maria Montessori, Jean Piaget, Lev

Vigotsky, Antón Semiónovich Makarenko, Ovide Decroli, Paulo Freire e outros. Os

principais fundamentos desta Escola era:

poucos, ineficaz já que o leitor de hipertexto “responde de maneira “ativa”, uma vez que as interconexões ficam sob sua responsabilidade” (LANDOW, 1997, p. 04) e também porque este leitor tem o controle cognitivo e informacional do hipertexto, ou seja, é ele quem determina não só a ordem da leitura, mas o conteúdo a ser lido (MARCUSCHI, 1999).

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1. A certeza da autonomia do educando e o aplauso a suas iniciativas pessoais como o eixo central da educação de qualidade; 2. A certeza de que a curiosidade natural do aluno constitui o foco de seu interesse em torno dos quais as situações de aprendizagem se definem; 3. O direito ao protagonismo do aluno que propõe sua participação ativa na gestão do processo de aprendizagem e cooperação; 4. A certeza de que a passividade do aluno se opõe à sua aprendizagem e, dessa forma, a valorização de métodos centralizados nos interesses e nas necessidades físicas, cognitivas, emocionais e sociais dos alunos; 5. A valorização das atividades ao ar livre e a compreensão de que a aprendizagem de sala de aula se associa aos experimentos realizados em oficinas e laboratórios, ás aulas de campo e muitas outras atividades cotidianas no ambiente que as envolve; 6. A articulação entre a vida intelectual e o desenvolvimento de competências que não dispensam atividades materiais e sociais que valorizam a dignidade de toda forma de trabalho; 7. A certeza de que é a educação o meio essencial para capacitar as crianças a desenvolverem plenamente suas aptidões e competências pessoais; 8. A certeza de que o castigo e todo e qualquer ato que vise cercear a espontaneidade do aluno deve ser banido (ANTUNES, 2008, p. 20-21).

Graças ao movimento da Escola Nova, o ensino contemporâneo possui um

caráter socializador, favorecendo o bem-estar e o desenvolvimento geral dos alunos

em suas dimensões sociais, de equilíbrio pessoal e cognitivas.

E hoje, para uma escola ter qualidade, não pode mais seguir os traços da

escola tradicional. Isabel Solé e César Coll (1998) explicam bem as características

de uma escola de qualidade:

a) É proporcionada uma atmosfera favorável para a aprendizagem, em que há um compromisso com normas e finalidades claras e compartilhadas; b) Os professores trabalham em equipe, colaboram no planejamento, co-participam da tomada de decisões, estão comprometidos com a inovação e responsabilizam-se pela avaliação da própria prática. Isso só pode ser feito seriamente no contexto de um currículo flexível o bastante; c) Há uma direção eficiente, assumida, que não se contrapõe às necessárias participação e colegialidade; d) Há considerável estabilidade do corpo docente; e) Há oportunidades de formação permanente relacionadas com as necessidades da escola; f) O currículo é cuidadosamente planejado e inclui tanto as matérias que permitam que os alunos adquiram os conhecimentos e habilidades básicas quanto as indicações para uma avaliação contínua e, ao mesmo tempo, refletindo os valores adotados pela escola; g) Os pais apoiam a tarefa educacional da escola, e esta se encontra aberta a eles; h) Há certos valores próprios da escola, reflexo de sua identidade e propósitos, que são compartilhados por seus componentes; i) Racionaliza-se o emprego do tempo de aprendizagem, articulando as matérias e as sequências didáticas de modo a evitar duplicidades desnecessárias;

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j) Existe o apoio ativo das autoridades educativas responsáveis, cuja missão é facilitar as mudanças necessárias na direção das características assinaladas (SOLÉ, COLL, 1998, p. 15-16).

Vale destacar também que, por causa dos movimentos da Escola Nova,

Políticas Públicas e Leis foram criadas visando o sucesso do aluno, a aprendizagem

significativa e um ensino de qualidade. Dentre as inúmeras Políticas Públicas e Leis,

merecem destaque: A Constituição Federal de 1988, a Lei 9394/96 que estabelece

as diretrizes e bases da educação nacional e a Lei 8069/90 que dispõe sobre o

Estatuto da criança e do adolescente.

Tanto na Constituição Federal de 1988, como nas Leis 9394/96 e 8069/90, a

educação é vista como direito de todos e dever do Estado e da família, sendo

promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno

desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua

qualificação para o trabalho.

A educação básica é tida nestas Leis como obrigatória e gratuita dos 4

(quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade e assegurada inclusive sua oferta gratuita

para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria.

Ambas as Leis destacam a progressiva universalização do ensino médio

gratuito e o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,

preferencialmente na rede regular de ensino.

Outro ponto importante que unem todas estas Leis é que o Ensino é visto

como um direito público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de cidadãos,

associação comunitária, organização sindical, entidade de classe ou outra

legalmente constituída, e, ainda, o Ministério Público, acionar o Poder Público para

exigi-lo.

Porém, é no artigo 13º da Lei 9394/96 que se especifica as incumbências

dos professores:

I - participar da elaboração da proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; III - zelar pela aprendizagem dos alunos; IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos de menor rendimento;

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V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional; VI - colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e a comunidade (LEI 9394/96).

São louvávies todas as modificações que ocorreram na escola e no ensino,

nestas últimas décadas, porém, como já apontamos nesta pesquisa, o professor

teve sua função/missão ampliada para além da sala de aula. E, como não bastasse,

recebeu um grande aumento de responsabilidades, as cobranças sobre suas

competências, cresceram e a sua profissão deixou de ser valorizada pela sociedade.

Celso Antunes (2009), tomando como referência as obras de Perrenoud,

adaptando-as ao cotidiano das escolas e reformatando suas propostas, apresenta

oito competências que se espera do professor contemporâneo:

1. Organizar e dirigir situações de aprendizagem; 2. Administrar a progressão das aprendizagens; 3. Conceber e fazer evoluir os dispositivos de diferenciação; 4. Envolver os alunos na aprendizagem e, portanto, na sua reestruturação de compreensão de mundo; 5. Aprender a ensinar e trabalhar juntos e a se trabalhar em equipes; 6. Dominar e fazer uso de novas tecnologias; 7. Vivenciar e superar conflitos éticos da profissão e administrar sua formação contínua e permanente; 8. Administrar sua própria formação e enriquecimento contínuo (ANTUNES, 2009, p. 37-81).

Já Paulo Freire (1996) aponta que para o ensino contemporâneo, não há

docência sem discência, ou seja, ensinar exige rigorosidade metódica, pesquisa,

respeito aos saberes dos educandos, criticidade, estética e ética, corporeificação

das palavras pelo exemplo, risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de

discriminação, reflexão crítica sobre a prática e o reconhecimento e a assunção da

identidade cultural.

Além disso, o teórico ainda cita como exigências a consciência do

inacabamento, o respeito à autonomia do ser do educando, bom senso, humildade,

alegria e esperança, apreensão da realidade, curiosidade, segurança, competência

profissional, generosidade, comprometimento, autoridade, tomada consciente de

decisões, escutar, reconhecer que a educação é ideológica, disponibilidade para o

diálogo o querer bem aos estudantes (FREIRE, 1996).

Araújo (2010) ainda completa que os professores têm a função de construir

valores e desenvolver um ensino que seja moldado nos princípios da

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transversalidade, interdisciplinaridade e na estratégia de projeto, além, de destacar

que a construção de relações éticas e democráticas devem ocorrer a partir de

assembléias escolares.

Diante deste quadro de tantas obrigações e competências a serem

desenvolvidas pelos professores, Tania Zaguri (2006) se questiona:

Como transformar tantas teorias em “fazer pedagógico”? Como atuar para ser um professor moderno, não tradicional, não ultrapassado? Como cumprir o programa que continuam a lhe cobrar, e, ao mesmo tempo, atender ao que o aluno gosta e quer fazer, que pode não ter nenhuma relação com o que a sociedade exige? Como conciliar tantas mudanças e desafios novos, se as dificuldades mais simples não são sanadas, como turmas grandes e com poucas horas de aula, por exemplo? Como esclarecer suas próprias dívidas, sem parecer um profissional incompetente? E, como atender às complexas tarefas do currículo que, em cada ano, é acrescido de novos desafios, se a realidade brasileira mostra que parte dos professores nem escreve corretamente? (ZAGURI, 2006, p. 42-43).

Podemos perceber, nos questionamentos de Zaguri, toda a angústia por que

passam os professores que se vêem em meio a tantas responsabilidades; a tantas

cobranças, perdidos no excesso de funções e de obrigações.

Luiza Cortesão (2002) ainda classifica os professores em dois modelos: o

“monocultural”, aquele que é bem formado, seguro, claro, trabalhador, distribuidor de

saberes, eficiente, exigente, centralizado nos conteúdos curriculares e o professor

“intermulticultural”, que sabe da importância da heterogeneidade, que investiga, é

flexível, capaz de criar e recriar conteúdos e métodos, identifica e analisa problemas

de aprendizagem e elabora respostas às diferentes situações de aprendizagem.

Enquanto um cumpre ordens, currículos e programas, o outro se questiona sobre o

seu papel.

Tantas cobranças, sobrecarga de funções e a crescente desvalorização do

magistério, financeira e socialmente, levaram este profissional a enfrentar vários

agentes estressores que acabaram por desestrutuar o seu estado

mental/psicológico, levá-lo a desenvolver síndromes, a tornar-se inassíduo e, até

mesmo, a afastar-se de suas funções.

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2.4 A saúde do professor

As rápidas mudanças por que passa a sociedade têm criado novos desafios

para o magistério. Os profissionais da educação, em particular os professores, têm

sofrido tanto uma exigência de posturas requeridas pela sociedade, como problemas

relativos aos recursos materiais e humanos (ESTEVES, 1999).

Gomes (2002) nos mostra que as transformações apontadas supõem um

profundo e exigente desafio pessoal para os professores que se propõem a

responder às novas expectativas projetadas sobre eles:

É exigido destes profissionais que ofereçam qualidade de ensino, dentro de um sistema de massa, ainda baseado na competitividade, entretanto os recursos materiais e humanos são cada vez mais precarizados, tem baixos salários, há um aumento das funções das/os professoras/es contribuindo para um esgotamento e uma contradição quanto a formação que é oferecida. Diante do quadro mundial em que a escolaridade já não representa mais uma garantia de emprego, surgem dúvidas a cerca da formação, a sociedade e as/os professoras/es precisam redefinir que tipo de homem quer formar (GOMES, 2002)

Como já citado neste trabalho, além das funções habituais que são prescritas

aos professores, outras funções passaram a ser incorporadas, contribuindo para um

excesso das funções fixadas, o que gerou problemas relacionados a fala e uma

sintomatologia de ansiedade, depressão, apatia e estresse:

O trabalho docente cada vez mais mergulhado em burocracias, técnicas desassociadas do seu contexto sócio-político, exigências de titulação academicista que não interrogam os processos de formação engendrados, acabam por dificultar a análise dos processos que são atualizados no cotidiano escolar (ESTEVES, 1999, p. 126).

Como aponta Esteves (1999), frente a esta realidade os professores se vêem

pedidos, como um ator de teatro que enquanto está representando é trocado o

cenário e ele não sabe como fazer para desempenhar, com excelência, o seu papel

e conquistar a atenção e o respeito do público.

O estado em que se encontra o trabalho na escola e em particular, o trabalho

dos professores, tem chamado a atenção devido ao aumento de adoecimento e

afastamento desses profissionais. Contudo, isto não é uma peculiaridade do sistema

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educacional brasileiro, trata-se de um fenômeno internacional que alcança o

conjunto de países de nosso contexto cultural. Segundo ele, os primeiros

indicadores desse mal-estar começaram a se tornar evidentes no início da década

de 80 nos países mais desenvolvidos (ESTEVES, 1999).

Pelas razões expostas, podemos notar que a inibição e o absentismo

aparecem como a reação mais freqüente para acabar com a tensão derivada do

exercício docente. Logo, os professores sofrem as conseqüências de estarem

expostos a um aumento da tensão no exercício do seu trabalho, cuja dificuldade

aumentou, fundamentalmente, pela fragmentação da atividade do professor e o

aumento de responsabilidades que lhes são exigidas, sem que lhes tenha dotado

dos meios e condições necessários para responder adequadamente (LIPP, 2006).

É importante destacarmos que as repercussões psicológicas da tensão a que

estão submetidos os professores são qualitativamente variáveis e operam de forma

distinta conforme diversos fatores, entre os quais a experiência do professor, seu

status socioeconômico, seu sexo e o tipo de instituição em que ele ensina

(ESTEVES, 1999).

Portanto, é preciso rejeitar as abordagens muito genéricas que estabelecem

uma relação linear e simplista entre esse complexo fenômeno sociológico que

Esteves (1999), descreveu como mal-estar docente e a saúde mental do professor.

Em ordem crescente do ponto de vista qualitativo, mas decrescente com

respeito ao número de professores afetados, as principais conseqüências do mal-

estar docente poderiam ser graduadas assim:

Tabela 1 – Consequências do mal-estar docente

1 Sentimentos de desconcerto e insatisfação ante os problemas reais da prática do magistério, em franca contradição com a imagem ideal do mesmo que os professores gostariam de realizar.

2 Desenvolvimento de esquemas de inibição, como forma de cortar a implicação pessoal no trabalho realizado.

3 Pedidos de transferência como forma de fugir de situações conflitivas. 4 Desejo manifesto de abandonar a docência (realizado ou não).

5 Absentismo trabalhista como mecanismo para cortar a tensão acumulada. 6 Esgotamento. Cansaço físico permanente.

7 Ansiedade como traço ou ansiedade de expectativa.

8 Estresse 9 Depreciação do ego. Autoculpabilização ante a incapacidade para

melhorar o ensino. 10 Ansiedade como estado permanente, associada como causa-efeito a

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diversos diagnósticos de doença mental.

11 Neuroses reativas. 12 Depressões

Fonte: Tabela elaborada a partir das ideias de Esteves (1999)

Podemos perceber, na tabela acima, que a principal conseqüência do mal-

estar docente é a insatisfação profissional e que, ao agravar-se, o professor pode

desenvolver sintomas de estresse, ansiedade, neuroses e até depressão. Esta

insatisfação pessoal é ocasionada, como já apontado, por excesso de

responsabilidades e de cobranças, além da sobrecarga de funções.

2.4.1 O estresse e a síndrome de Burnout em professores

Não há como negar que o estresse é um problema dos tempos modernos.

Vivemos constantemente no corre-corre, nossos horários são desrespeitados,

perdemos horas de sono, alimentamo-nos mal e não reservamos tempo para o

lazer. O resultado não pode ser outro: fadiga crônica ou o tão popularizado estresse

(MELEIRO, 2002).

A palavra estresse vem do inglês stress. Este termo foi usado inicialmente na

física para traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido

a um esforço ou tensão. Hans Selye, médico endocrinologista, em 1936, transpôs

este termo para a medicina e biologia, significando esforço de adaptação do

organismo para enfrentar situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu

equilíbrio interno (MACANHÃO et al, 2003) .

Estresse, em princípio, não é uma doença. É apenas a preparação do

organismo para lidar com as situações que se apresentam, sendo então uma

resposta do mesmo a um determinado estímulo, a qual varia de pessoa para

pessoa.

É uma reação perfeitamente normal do organismo e indispensável para a

sobrevivência humana. Sem ele não há preparo para enfrentar situações de grande

perigo ou uma emoção muito forte.

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Em 1914, Cannon constatou que a finalidade da reação de emergência era mobilizar energia para restaurar a homeostase, isto é, o equilíbrio biológico. Ele salientou a inespecificidade da reação de emergência, tanto para estímulos internos como externos, mas observou a influência das características pessoais como idade, condição física e a susceptibilidade individual nas perturbações da homeostase (MELEIRO, 2002).

Entretanto, na sociedade contemporânea, o trabalho ocupa a maior parte do

tempo das pessoas. Os professores, por exemplo, possuem jornadas de trabalhos

longas, iniciando-se muito cedo e podendo estender até a noite. Há raras pausas de

descanso e/ou refeições breves e em lugares desconfortáveis. Assim, o ritmo de

trabalho costuma ser intenso ao passo que são exigidos altos níveis de atenção e

concentração para a realização das tarefas docentes.

Observamos também que, há uma pressão exercida pelas novas tecnologias,

necessitando uma adaptação sem um preparo prévio. Isso favorece a tensão, a

insatisfação e a ansiedade, o que esgota o professor e que causa estresse.

Para Lipp (2006), o estresse é um processo que ocorre em quatro fases: a

primeira é a fase de Alerta, onde acontece o confronto com o agente estressor,

ocasionando a quebra da homeostase, é considerada a fase positiva do estresse. A

segunda fase é a Resistência, nesse período o organismo procura se adaptar para

restabelecer a homeostase, com a ação prolongada do estressor. A Terceira fase é

chamada de Quase exaustão, é o início do processo de adoecimento nos órgãos

mais vulneráveis a cada pessoa, se não ocorrer o “alívio”, o estresse atinge sua fase

final, que é chamada de Exaustão, onde o organismo é atingido no plano biológico,

físico ou psicológico (LIPP, 2006, p. 23).

Para Lipp (2006), o trabalho realizado dentro das salas de aula e nos

intervalos sobrecarrega os professores, sendo que a raiva e a frustração são

sentimentos que interferem desfavoravelmente na saúde física e mental dos

mesmos. Outros fatores estressantes nas escolas são: violência e drogadição,

ocasionando a sensação de ameaça e perda de controle por parte dos professores,

funcionando como agente estressor.

Dessa forma, a insatisfação e a falta de perspectiva de crescimento

desestimulam os professores, que passam a ver a escola e suas atividades como

um fardo pesado sem gratificações pessoais, ocasionando queda de desempenho,

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frustração, alteração de humor e outras conseqüências físicas e mentais (LIPP,

2006, p. 31).

A consequência mental/psicológica mais grave no que se refere ao estresse

em professores é a Síndrome de Burnout, considerada por Carlotto e Palazzo (2006)

como um tipo de estresse de caráter persistente vinculado a situações de trabalho,

resultante da constante e repetitiva pressão emocional associada com intenso

envolvimento com pessoas por longos períodos de tempo.

Carlotto e Palazzo (2006) fundamentam-se na perspectiva social-psicológica

proposta por Maslach & Jackson para esclarecerem as características desta

síndrome:

Essa considera burnout como uma reação à tensão emocional crônica por lidar excessivamente com pessoas. É um construto formado por três dimensões relacionadas, mas independentes: (a) exaustão emocional: caracterizada por falta de energia e entusiasmo, por sensação de esgotamento de recursos ao qual pode somar-se o sentimento de frustração e tensão nos trabalhadores, por perceberem que já não têm condições de despender mais energia para o atendimento de seu cliente ou demais pessoas, como faziam antes; (b) despersonalização: caracterizada pelo desenvolvimento de uma insensibilidade emocional, que faz com que o profissional trate os clientes, colegas e a organização de maneira desumanizada; (c) diminuição da realização pessoal no trabalho: caracterizada por uma tendência do trabalhador a auto-avaliar-se de forma negativa, tornando-se infeliz e insatisfeito com seu desenvolvimento profissional, com conseqüente declínio no seu sentimento de competência e êxito, bem como de sua capacidade de interagir com os demais (CARLOTTO; PALAZZO, 2006, p. 02).

A síndrome de Burnout em professores afeta o ambiente educacional e

interfere na obtenção dos objetivos pedagógicos, levando esses profissionais a um

processo de alienação, desumanização e apatia, ocasionando problemas de saúde,

absenteísmo e intenção de abandonar a profissão (CARLOZZO; PALAZZO; 2006).

Considerando as demandas e pressões do meio, é necessário trabalhar a

prevenção adequando a realidade dos professores, visando à melhoria das relações

pessoais e profissionais.

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2.5 Legislação e políticas públicas voltadas para a saúde do professor

O ato de educar as populações tem relevância inquestionável em nossa

sociedade, sobretudo se analisarmos os atuais entendimentos sobre o papel da

educação os quais convergem para a ideia de universalização e formação para a

cidadania, princípios democráticos, republicanos e de respeito aos direitos humanos.

Nesse contexto, a figura do educador emerge como a de um articulador que

irá empreender, de acordo com inúmeras estratégias, preceitos pedagógicos e

legislativos, a hercúlea tarefa de intrincar os nós do conhecimento formando a rede

por meio da qual cada ser atingirá o máximo de suas potencialidades humanas e

intelectuais.

Entretanto, não obstante à importância de seu papel na sociedade, o

professor encontra-se abandonado à própria sorte em meio aos meandros da

burocracia estatal da qual, inclusive, é parte integrante.

Os casos de violência, as péssimas condições de trabalho, a sobrecarga, a

desvalorização social e financeira de seu fazer, o sentimento de impotência, e tantos

outros fatores pertinentes a difícil tarefa de educar, têm condicionado levas e levas

de professores a uma profunda deterioração de sua saúde física e psicológica,

conforme se demonstra a partir das reflexões tecidas anteriormente nesta pesquisa.

Diante dessa exposição, coloca-se o seguinte questionamento: Se os

professores são tão essenciais ao sucesso do modelo de educação defendido pelo

estado e aceita pela sociedade e se é fato que esse profissional está absolutamente

exaurido de suas forças físicas e psicológicas, por que não existem políticas

públicas voltadas à preservação da saúde mental/psicológica desse profissional?

Certamente não é pelo desconhecimento do problema. A Organização

Internacional do Trabalho (OIT) classificou a profissão docente como de alto risco, e

a considera como a segunda categoria profissional, em nível mundial, a portar

doenças de caráter ocupacional (BATISTA et al, 2010).

Segundo dados levantados pelo estudo realizado por Jaqueline Brito Vidal

Batista et al, a legislação brasileira apresentou uma nova lista6 de Doenças

6 Diário Oficial da União de 12/05/1999, nº89.

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Profissionais e Relacionadas ao Trabalho, a qual contém um conjunto de doze

categorias diagnósticas de transtornos mentais.

Essas categorias se incluem no que foi chamado de Transtornos Mentais e

do Comportamento Relacionados ao Trabalho. A Síndrome de Esgotamento

Profissional – Burnout – é a décima segunda categoria contemplada. Nesse mesmo

estudo identificou-se que 8,3% dos profissionais pesquisados apresentavam alto

nível de despersonalização, 33,6% alto nível de exaustão emocional e 56,6% alto

nível de baixa realização profissional no trabalho, todos esses dados são dimensões

do Burnout (BATISTA et al, 2010)

O decreto Nº. 6.042 publicado no Diário Oficial da União de 12 de fevereiro

de 2007 estabelece que o professor que tiver como diagnóstico a síndrome de

Burnout terá direito ao afastamento médico, se procurar o posto da previdência

social.

Considerando as características da Síndrome, já mencionadas nesse

trabalho, e considerando a grande prevalência desse distúrbio entre os profissionais

da educação, fica fácil perceber que o decreto supramencionado terá baixíssima

efetividade se sua aplicação não estiver incluída em uma política pública que se

estruture com o objetivo de prevenir as causas do Burnout, de identificar

precocemente os casos e dar um encaminhamento de qualidade ao profissional que

necessitar.

Aparentemente, apesar da existência do decreto, os educadores continuam

sofrendo silenciosamente, muitos por não terem a consciência de que são vítimas da

síndrome. Enquanto isso, eles permanecem realizando suas funções precariamente,

muitas vezes com um alto grau de absenteísmo o que poderá – e na maioria das

vezes será – entendido pelos gestores e pela comunidade como falta de

comprometimento com a educação.

O mesmo descaso se verifica em relação ao alto número de professores que

sofrem com distúrbios associados à voz. De acordo com estudo de Léslie Piccolotto

Ferreira et al (2009), o adoecimento vocal do professor é fruto de interferência de

dois gêneros de fatores: os ambientais como o ruído, a poeira, a fumaça e os

organizacionais evidenciados no excesso de trabalho, cobrança excessiva e falta de

material, entre outros. Ambos se associam ao despreparo vocal desse profissional,

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que se vê imerso em contexto desfavorável, sem ter conhecimento de como reverter a

situação (FERREIRA et al, 2009).

Em estudo realizado pelo CEPES – APEOESP (Centro de Estudos e

Pesquisas Educacionais e Sindicais) em parceria com o DIEESE (Departamento

Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), os problemas com a voz

foram mencionados como causa de sofrimento por 57,1% dos professores

entrevistados. O incômodo causado por problemas no trato vocal foi superado

somente pelas queixas de cansaço (79,7%) e nervosismo (61,1%)

(APEOESP/DIEESE, 2007).

Apesar da relevância desses problemas há poucas proposições em relação

a isso na Assembléia Legislativa de São Paulo. De acordo com o levantamento de

FERREIRA (2009), em São Paulo houve apenas uma proposição de lei a esse

respeito no período compreendido entre 1998 a 2006: a Lei 10893/01, a qual dispõe

sobre a criação do Programa Estadual de Saúde Vocal do Professor da Rede

Estadual de Ensino.

Artigo 2º - O Programa Estadual de Saúde Vocal deverá abranger assistência preventiva, através de convênio entre a Secretaria da Educação e a Secretaria da Saúde, com a realização de, no mínimo, um curso teórico anual, objetivando orientar os profissionais sobre o uso adequado da voz profissionalmente.” Artigo 4º - O Programa Estadual de Saúde Vocal terá caráter fundamentalmente preventivo, mas, uma vez detectada alguma disfonia, será garantido ao professor o pleno acesso ao tratamento fonoaudiológico e médico. Artigo 5º - As despesas decorrentes da execução desta lei correrão à conta de dotações orçamentárias consignadas no item seguridade social (LEI 10893/01).

Podemos notar que o texto da Lei não prevê a criação de uma política pública

especial, apenas chama a atenção para a necessidade de destinação de uma parte

dos recursos da seguridade social para a atenção aos problemas da voz do

professor.

Far-se-á necessário acompanhar cada elaboração orçamentária para

disputar um quinhão do orçamento a esse programa. Será que há, efetivamente,

forças políticas engajadas que dêem conta disso? No geral, os recursos financeiros

necessários à implementação desses projetos não são garantidos o que inviabiliza a

sua aplicação.

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Um outro aspecto de grande importância, porém pouco observado no âmbito

das legislações e políticas públicas que visam à salubridade do trabalho docente, se

refere ao nível de ruído no ambiente escolar.

A pesquisa de Aline Libardi et al (2006), revela que o máximo aceitável de

ruído em uma sala de aula seria de setenta decibéis, acima disso, há o risco

eminente de estresse, perdas auditivas, infarto e disfonias (LIBARDI et al, 2006).

Nesse mesmo estudo, os autores demonstraram que em uma escola situada

em local com pouca ou nenhuma interferência de ruídos externos, tais como

movimentação de automóveis, aviões ou intensa movimentação de pedestres, os

níveis de ruído do interior das salas de aula alcançaram valores 90 decibéis. Na

quadra e no pátio, os valores superaram os 100 decibéis (LIBARDI et al, 2006)

De acordo com a Norma Reguladora 15 (NR15, 2010) da legislação

trabalhista, considera-se insalubre o trabalho no qual o trabalhador fique exposto a

um nível de ruído superior a 85 decibéis durante mais de oito horas. O nível de ruído

superior a 100 decibéis somente poderá ser suportado pelo trabalhador durante uma

hora. Em todos os casos, a caracterização de insalubridade implica em uma

bonificação em dinheiro que será acrescentada ao salário do trabalhador.

Entretanto, para que se aplique essa norma é necessário que se comprove a

insalubridade por meio de laudos técnicos. Quem os promoverá?

Os estudos que apontam os problemas de saúde dos professores são

vastos, entretanto, apesar da vastidão das provas científicas de que os professores

estejam doentes e exaustos, não há políticas públicas efetivamente destinadas à

mitigação desses problemas.

Dois fatores poderiam ser aventados para explicar esse fato: a falta de

engajamento docente devido à diversificação e fragmentação da categoria, e ao fato

de os governos estarem orientando suas ações políticas sob a égide da doutrina

nomeada de novo gerencialismo público.

Segundo Celina Souza (2006):

As últimas décadas registraram o ressurgimento da importância do campo de conhecimento denominado políticas públicas, assim como das instituições, regras e modelos que regem sua decisão, elaboração, implementação e avaliação. Vários fatores contribuíram para a maior visibilidade desta área. O primeiro foi a adoção de políticas restritivas de gasto, que passaram a dominar a agenda da maioria dos países, em especial os em desenvolvimento. A partir dessas políticas, o desenho e a execução de políticas públicas, tanto as econômicas como as sociais, ganharam maior visibilidade. O segundo fator é que novas visões sobre o

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papel dos governos substituíram as políticas keynesianas do pós-guerra por políticas restritivas de gasto. Assim, do ponto de vista da política pública, o ajuste fiscal implicou a adoção de orçamentos equilibrados entre receita e despesa e restrições à intervenção do Estado na economia e nas políticas sociais (SOUZA, 2006, grifo nosso).

Credita-se ao período de Governo de Fernando Henrique Cardoso, o qual

coincide com o Governo Mário Covas no estado de São Paulo, a maior

implementação desse modelo de gerenciamento de políticas públicas, muito embora

ele tenha sido introduzido no Brasil logo após a redemocratização e esteja em curso

até os dias atuais em todas as esferas de governo.

O novo gerencialismo se baseia na eficiência, aliada ao fator de credibilidade

dos gestores dessas políticas. A eficiência poderá ou não estar vinculada a políticas

que visam distribuir ou redistribuir renda, ela é fruto de uma análise racional –

científica – e tem um forte compromisso com a saúde fiscal do estado.

No Brasil, essa lógica de administração pública foi divulgada e defendida

com base na ideia de que o Estado é um mau gestor e de que a fórmula da

eficiência está na contenção de gastos públicos e privatizações.

Embora não seja possível provar a correlação, podemos tirar o indicativo de

que essa forma de pensar as políticas públicas e gerir o Estado tem influenciado a

promoção de políticas de cunho social, entre elas, a de promoção da saúde do

professor.

Ora, analisando quantitativamente, é possível encontrar um saldo positivo na

atual situação do professorado: os índices que avaliam a educação têm melhorado e os

professores doentes geram menos custos trabalhando precariamente do que se

estivessem inseridos em uma política mais abrangente de melhoria de suas

condições de trabalho. No novo gerencialismo isso significa eficiência, contenção de

gastos e alcance de metas.

Pouco eficiente seria aumentar os custos com programas de proteção da

saúde do professor, melhorar os ambientes em que trabalham, aumentar os salários

e criar políticas decentes de qualificação profissional. Os custos aumentariam

demasiadamente, a qualidade da educação certamente teria um grande salto

qualitativo, mas e a tal eficiência? E o ajuste fiscal nas contas do governo?

Sobre os impactos dessa visão de gerenciamento estatal, TOZONI-REIS

(2010) assim se pronunciou:

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É visível o progressivo "desinvestimento" na Educação, nem tanto diretamente pela aplicação de percentuais orçamentários obrigatórios, mas por uma série de outros mecanismos que Romanelli (2009) chamou de "mecanismos internos de controle". O processo de privatização do ensino, que afirma a sua dualidade, é tão sutil quanto eficiente e se expressa pelos mais diferentes indicadores: baixa qualidade; baixa valorização social da escola; baixos salários dos professores; políticas ineficientes de formação inicial e permanente dos professores; burocratização do processo de planejamento pedagógico com tendências a transformar os professores em meros reprodutores de conteúdos estabelecidos pelos técnicos burocratas do ensino etc (TOZONI-REIS, 2010).

Para que esse texto não seja acusado de estar impregnado de

‘ideologismos’, segue um pequeno exemplo, como o da Lei Complementar 1041/2008

dispõe sobre o vencimento, a remuneração ou o salário do servidor que deixar de

comparecer ao expediente em virtude de consulta ou sessão de tratamento de

saúde e dá providências correlatas.

Ela define um limite de seis ausências anuais por motivo de saúde e um teto

de três horas para que se ausente para consultas médicas. Devendo comprovar, em

todos os casos, a visita ao médico por meio de comprovantes. Se o servidor público

exceder esse limite haverá prejuízo em seu plano de carreira, aposentadoria e

bônus por desempenho.

Essa Lei, proposta em caráter de urgência pelo Governador em exercício na

época, José Serra, foi incluída na pauta em 18/12/2007 e em 14/04/08 ela já estava

aprovada e promulgada. Ou seja, o processo todo levou quatro meses, contando

que nesse período houve recesso de fim de ano, carnaval e etc.

O Projeto de Lei 828, proposto em 21 de novembro de 2005 pelo então

deputado Valdomiro Lopes (PSB), cria o programa de acompanhamento da saúde

do professor e fixa outras providências. No corpo do PL o autor propõe:

Artigo 1º- Fica criado o Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor, a ser aplicado, anualmente, à todos os professores da rede pública de ensino. Artigo 2º- O Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor disponibilizará consultas e exames médicos para todos os professores da rede pública de ensino, a serem realizados em horários previamente agendados dentro das disponibilidades dos docentes. Artigo 3º- O Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor oferecerá também acompanhamento psicológico para os docentes, com consultas em horários previamente agendados dentro das disponibilidades dos docentes.

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Artigo 4º- Observando a necessidade de afastamento das suas atividades docentes, os médicos e/ou psicólogos do Programa de Acompanhamento da Saúde do Professor encaminharão, de ofício, a solicitação para os órgãos competentes. Artigo 5º- Durante a licença para tratamento de saúde, os professores da rede pública de ensino, com contratos de trabalho de quaisquer natureza, não sofrerão nenhuma redução em seus vencimentos e benefícios. Artigo 6º- Ao retornarem de suas atividades, os docentes terão garantidas as mesmas condições de trabalho durante todo o restante do ano letivo, ou, caso o retorno ocorra no período de férias ou recesso escolar de final e início de ano, durante todo o ano letivo seguinte. Artigo 7º- As eventuais despesas decorrentes da aplicação desta lei correrão a conta de dotações orçamentárias próprias, consignadas no orçamento vigente, e suplementadas se necessário (LEI 828/05).

Este projeto aguarda sua inclusão na pauta do dia da câmara desde 2007.

Ou seja, se passaram cinco anos desde a sua proposição e não houve interesse na

votação dessa matéria. Certamente, uma questão eleger prioridades, saúde do

professor ou punições e contenções de gastos. A resposta é evidente e não carece

maior explicitação.

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3. METODOLOGIA

3.1. Métodos

Para realizar o estudo proposto, adotamos como Metodologia de Pesquisa o

Método Indutivo dentro de uma abordagem Qualitativa. O método indutivo baseia-se

na crença de que é possível confirmar um enunciado (lei) através de um certo

número de observações singulares (CHALMERS, 1993, p. 28).

O ponto de partida para a indução não são os princípios, como na dedução,

mas a observação dos fatos e dos fenômenos, da realidade objetiva. Seu ponto de

chegada é o estabelecimento de leis ou regularidades que regem os fatos ou

fenômenos (OLIVEIRA, 2002).

Oliveira (2002, p. 61) ainda completa, dizendo que “na realidade, a indução

não é um raciocínio único: ela compreende um conjunto de procedimentos

empíricos, outros lógicos e outros intuitivos”.

A indução ou raciocínio indutivo é, portanto, uma forma de raciocínio em que

o antecedente são dados e fatos particulares e o antecedente, é uma afirmação

universal (SEVERINO, 2002).

Como os objetivos específicos desta pesquisa são levantar as

notícias/webnotícias relacionadas à saúde mental/psicológica dos professores

publicadas na revista Veja, na Folha de São Paulo e no Estadão no ano de 2010 e

analisar e comparar o discurso veiculado na revista Veja, na Folha de São Paulo e

no Estadão a respeito da saúde mental do professor, o método de pesquisa adotado

é o indutivo, já que partimos do particular para o geral, ou seja, da observação do

micro (Veja, Estadão e Folha) para verificar se a mídia jornalística relaciona a

competência do professor aos seus problemas de saúde mental/psicológico e,

desse modo, acaba construindo uma imagem negativa deste profissional perante a

sociedade contemporânea.

Já a abordagem qualitativa dada nesta pesquisa, justifica-se porque ela tem

se afirmado como um método promissor em relação à investigação em pesquisas

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realizadas na área da educação. Uma pesquisa com essa abordagem caracteriza-

se pelo enfoque interpretativo (ERICKSON, 1989).

Seguindo o método de pesquisa indutiva sob uma abordagem qualitativa, é

necessário que façamos uma pesquisa bibliográfica sobre os temas abordados

neste trabalho, pois, este tipo de pesquisa é importante para reunir, revisar e

comparar informações e conhecimentos produzidos em períodos e locais próximos

e/ou distantes.

Além disso, a pesquisa bibliográfica possibilita o desenvolvimento de estudos

qualitativos nas áreas de pesquisas das Ciências Humanas, devido ao fato de

permitirem a análise de contextos históricos e socioculturais, proporcionando a

compreensão de valores morais e éticos, que orientam os comportamentos sociais

durante o exercício da cidadania (GOLDENBERG, 1997).

Os objetivos da pesquisa bibliográfica é descrever, explicar e prever a

frequência de ocorrência de um problema a partir de referências teóricas registradas

e publicadas em documentos teóricos (CERVO; BERVIAN, 2003). Como

descreveremos e verificaremos a freqüência de ocorrência do agendamento do tema

“saúde mental/psicológica do professor” na mídia digital, através de webnotícias, a

revisão bibliográfica torna-se de suma importância para que esta pesquisa se

concretize.

3.2. Procedimentos metodológicos

Com o intuito de avaliar a hipótese sobre a relação entre a competência e os

problemas de saúde mental/psicológico do professor, veiculada pelo webjornalismo,

foi realizado um levantamento de webnotícias na revista Veja e nos jornais Folha de

São Paulo e Estadão, durante o ano de 2010.

Os critérios considerados para a escolha destes veículos midiáticos foram:

divulgação, acessibilidade, circulação, consumo cultural e comercial. Já, os critérios

para seleção prévia das webnotícias baseou-se nas seguintes palavras-chave:

professor; licença médica ou afastamento; estresse (stress); faltas ou ausências e

transtorno mental.

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Depois de realizada a seleção das webnotícias, elas passaram a constituir-se o

corpus de análise desta pesquisa. Foram encontradas 10 webnotícias que

abordavam a relação entre a saúde mental/psicológica do professor e sua

competência profissional, durante o ano de 2010. Dessas 10 webnotícias, 07 delas

foram veiculadas no jornal Folha de São Paulo, 01 na revista Veja e 02 no jornal

Estadão.

As 10 webnotícias que passaram a constituir o nosso corpus de análise foram

organizadas em tabelas, analisadas e confrontadas de acordo com as opiniões e

posição ideológica de cada veículo midiático.

As análises foram realizadas mediante o estudo de Lang e Lang (1981), Violi

(1982) e Wolf (2008) sobre as técnicas utilizadas pela mídia no processo de

agendamento de temas e na construção de efeitos cognitivos nos destinatários.

Além disso, foram utilizadas também nas análises, conceitos e informações colhidas

a partir da pesquisa bibliográfica realizada sobre Agenda-Setting, sobre a atuação

do professor na contemporaneidade, sobre a saúde mental do professor e sobre a

legislação e as políticas públicas voltadas para a saúde mental/psicológica deste

profissional.

3.3 Metodologia de análise do corpus

A mídia fornece aos seus receptores uma relação de sistemas estruturados

de conhecimento relativo aos temas que agenda. Esses sistemas estruturados são

os mecanismos de interpretação, compreensão e de memorização de que ela se

utiliza para causar efeito cognitivo.

Valendo-se de várias hipóteses, Lang e Lang (1981, p. 465) constata que a

mídia segue algumas técnicas para construir efeitos cognitivos nos destinatários

através do processo de agendamento:

1. A mídia enfatiza um acontecimento, uma ação, um grupo, uma personalidade etc., de modo que passa para primeiro plano. Tipos diversos de temas requerem quantidade, qualidade diferentes de cobertura para atrair a atenção. Essa é a fase da focalização, mas é apenas a primeira, necessária, porém, insuficiente para determinar a influência cognitiva por si mesma;

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2. O objeto focalizado pela atenção da mídia deve ser enquadrado e interpretado à luz de algum tipo de problema que ele representa: é a fase do framing, ou seja, do “delineamento” de um quadro interpretativo para o que foi coberto intensivamente; 3. Na terceira fase, cria-se um vínculo entre o objeto ou o evento e um sistema simbólico, de modo que o objeto torna-se parte de um panorama social e político reconhecido; é a fase em que os meios de comunicação de massa são decisivos na ligação de acontecimentos discretos, descontínuos em relação a um fato constante, que se desenvolve sem solução de continuidade; 4. Por fim, o tema ganha peso se puder personificar-se em indivíduos que se tornem seus “porta-vozes”. A possibilidade de dar forma à agenda está, em grande parte, na sua habilidade de dirigir a atenção da mídia num processo de ênfase que se propõe todo o ciclo de fases.

Já, os estudos de Patrizia Violi (1982) acrescentam às técnicas descritas por

Lang e Lang, outras técnicas de construção de efeitos cognitivos: os elementos

linguisticos e os extralinguísticos.

As idéias de Violi promulgam que, para que se chegue a esses efeitos, não

basta olhar apenas para os elementos estruturais internos (elementos lingüísticos)

ao texto, deve-se, antes, observar a sua funcionalidade como um todo:

[...] a primeira parte de um texto ativa uma cena esquemática, em que

muitos elementos ainda são deixados, por assim dizer; em branco; as

partes seguintes do texto passam a preencher esses espaços brancos (ou

pelo menos, alguns deles), introduzindo novas cenas, mudando e

sobrepondo outros de modo variado, conforme vínculos causais, temporais,

etc [...] Um texto coerente é um texto em que as várias partes contribuem

para a criação de uma única cena, em geral muito complexa. É importante

salientar que a natureza final desse “mundo textual” muitas vezes depende

de aspectos de cenas que nunca são explicitamente mencionados no texto.

Isso nos reduz à função e à importância desempenhadas pelos

conhecimentos extralinguísticos na interpretação textual (VIOLI, 1982, p.

93).

Wolf (2008), por outro lado, enfatiza que a seleção de eventos a serem

transformados em notícias é determinada por valores que seguem alguns critérios,

como por exemplo:

1. Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos no acontecimento noticiável: quanto mais o acontecimento interessar a elite, maior será sua probabilidade de se tornar notícia e deve referir-se a algo que o público deve conhecer;

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2. Impacto sobre a nação e sobre o interesse nacional: para isso, o acontecimento deve ser interpretável dentro de um contexto cultural do ouvinte ou do leitor e se referir a valores ideológicos

7;

3. Quantidade de pessoas que o acontecimento envolve: quanto mais elevado for o número de pessoas envolvidas, mais importante é a notícia; 4. Relevância e significatividade do acontecimento em relação aos desenvolvimentos futuros de uma determinada situação: interessantes são as notícias que buscam dar ao evento uma interpretação baseada no lado do interesse humano, como histórias de pessoas comuns que passam a agir em situações insólitas, histórias de homens públicos observados em sua vida cotidiana, história em que há uma inversão de papéis, histórias de interesse humano ou histórias de feitos excepcionais e heróicos (WOLF, 2008, p. 208-214).

Com base nos estudos destes três pesquisadores – Lang e Lang (1981),

Violi (1982) e Wolf (2008) – formulamos a metodologia de análise das webnotícias.

Esta metodologia de análise tem como objetivo verificar as técnicas utilizadas pelos

veículos midiáticos – Folha de São Paulo, Estadão e revista Veja – para agendar o

tema “a relação entre a competência e os problemas de saúde mental/psicológico do

professor” e construir um efeito cognitivo nos destinatários. A estrutura selecionada

para a análise metodológica das webnotícias está esclarecida na tabela abaixo:

Tabela 2 – Metodologia de análise das webnotícias

Veículo Midiático Apontar se a webnotícia foi veiculada pelo Estadão, pela Revista Veja ou se pela Folha de São Paulo.

Manchete Título da webnotícia. Data Dia, mês e ano em que a webnotícia foi veiculada.

Texto na Íntegra

Visa garantir a possibilidade de verificação das impressões registradas na análise, todas as matérias que subsidiaram a pesquisa encontram-se na íntegra no corpo da análise.

Técnica Linguística Analisar as estratégias lingüísticas utilizadas na manchete.

Técnica Extralinguística Verificar o contexto, ou seja, o panorama social e político reconhecido nas webnotícias.

Focalização

Verificar qual é o quadro interpretativo, ou seja, qual é o objeto focalizado e qual é o enquadramento que lhe é dado (interpretação do objeto a luz de algum tipo de problema).

Delineamento

Verificar qual é o vínculo entre o objeto focalizado e seu quadro interpretativo e o panorama social e político.

Comentário Representa a análise da notícia com base nos pressupostos teóricos aqui apresentados.

Verificar quem é o porta-voz da webnotícia a fim de

7 A ideologia da notícia está ligada à natureza globalmente fragmentada da cobertura informativa

(WOLF, 2008, p. 16).

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Personificação verificar a ideologia, o público-alvo, os valores, crenças e necessidades expressas na webnotícia.

Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos

Verificar se a webnotícia se diz respeito às instituições governamentais ou a outros organismos e hierarquia sociais.

Quantidade de pessoas que o

acontecimento envolve

Perceber se a webnotícia diz respeito a muitas pessoas ou não, e se o tema abordado desperta o interesse da elite, pois a notícia tem valor se diz respeito a muitas pessoas ou se o acontecimento interessar a elite.

Humanização8

Verificar se há na webnotícia a história de pessoas comuns, ou de homens públicos em vida cotidiana, ou ainda inversão de papéis, pois esta técnica busca dar ao evento noticiado uma interpretação baseada no lado do interesse humano. O texto jornalístico utiliza as falas dos envolvidos, exemplos de casos reais e depoimentos como forma de aproximação entre fato e leitor. Apontamos o aparecimento ou não desse elemento em todas as notícias analisadas.

Fonte: A tabela foi organizada a partir das pesquisas de Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) sobre a teoria do agendamento.

Vale destacar que, no presente trabalho de pesquisa, as técnicas

“extralingüística”, “personificação”, “grau e nível hierárquico dos indivíduos

envolvidos” e “quantidade de pessoas que o acontecimento envolve” foram

aplicadas na análise geral de todas as webnotícias, pelo fato de que há

semelhanças entre elas. As demais técnicas foram utilizadas nas análises

específicas.

Outro fator importante nesta metodologia de análise é que as técnicas de

“focalização” e de “delineamento” foram unificadas em virtude da proximidade de

seus objetivos.

8 Humanização – termo criado por este grupo de pesquisa, baseado no conceito de Relevância e

significatividade de Wolf (2008, p. 208-214) que declara que “interessantes são as notícias que buscam dar ao evento uma interpretação baseada no lado do interesse humano”.

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4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Cabe a Cora Coralina, contista e poetiza brasileira, um dos versos mais

utilizados por aqueles que desejam fazer positiva referência ao trabalho do

professor: “Feliz aquele que transmite o que sabe, e aprende o que ensina”.

Décadas antes de Cora Coralina descobrir seu talento literário, Albert

Camus, o filósofo do absurdo, fez uma interessante e sombria analogia a respeito do

trabalho na modernidade na obra intitulada “Mito de Sísifo”9. Nela, o autor analisa o

sentido da vida (ou a falta dele), para tanto, retoma a mitologia grega e assim se

expressa:

Os deuses tinham condenado Sísifo a rolar um rochedo incessantemente até o cimo de uma montanha, de onde a pedra caía de novo por seu próprio peso. Eles tinham pensado, com as suas razões, que não existe punição mais terrível do que o trabalho inútil e sem esperança (CAMUS, 1989)

10.

É certo que a tarefa de educar não é inútil e, diz a sabedoria popular, a

esperança é a última a sucumbir, todavia, os professores estão doentes,

estressados, esgotados e deprimidos. Em que momento a felicidade de transmitir o

que sabe se torna o inútil ato de administrar um fazer esvaziado de sentido tal qual

fazer subir a pedra no morro de cujo cume ela despencará infinitamente?

Em nossa conturbada sociedade, a educação se tornou verdadeira panacéia

social. Em certos momentos incorporam-se a ela os etéreos ares do milagre de

banimento de todas as distorções, entretanto, à frente da missão, encontra-se o

professor, sozinho, empunhando o frágil giz frente a tão grandes e variados

desafios.

Diante disso, não causa surpresa o fato de que o mestre se frustre e se

entristeça diante da colossal pressão de sua missão e de ter consigo tão poucos

meios e apoios. A opressão lhe conduz ao papel de Sísifo.

De que forma a sociedade se volta a esses mestres combalidos pela

violência nas escolas, pela desvalorização social e financeira de seu trabalho, pela

9Mito de Sísifo. Disponível em: http://www.expressoes.com.br/contos/conto10.htm. Acesso em

24/11/2010. 10

Citação retirada do site de Albert Camus. Disponível em http://filosofocamus.sites.uol.com.br/camus_sisifo_completol.htm. Acesso em 25/11/2010.

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sobrecarga, pelas sucessivas mudanças de cenários? Como a sociedade os acolhe?

E mais, como a portadora das opiniões públicas, a grande imprensa, a ele se refere?

Iniciamos essa pesquisa com a hipótese de que, de maneira geral, a mídia

jornalística relaciona a competência do professor aos seus problemas de saúde

mental e, desse modo, acaba construindo uma imagem negativa deste profissional

perante a sociedade contemporânea.

Para verificarmos a validade desse enunciado, recorremos à pesquisa de

webnotícias publicadas nos sites da Revista Veja, do Estadão e da Folha de São

Paulo. A escolha da revista Veja e dos jornais Folha e Estado se justifica pelo fato

de serem meios de grande circulação e influência na formação da opinião geral.

Embora não sejam lidos por todas as camadas da população, os temas por eles

levantados atingem indiretamente os não-leitores por meio dos “formadores de

opinião”.

A análise das dez webnotícias que fazem parte do corpus deste trabalho

será organizada da seguinte maneira: análise geral e análise específica. Na análise

geral, será dado enfoque a técnica extralingüística, a personificação, ao grau e nível

hierárquico dos indivíduos envolvidos e a quantidade de pessoas que o

acontecimento envolve, visto que, todas as webnotícias analisadas são semelhantes

nestes aspectos.

Quanto à análise específica, destacaremos o veículo midiático, a manchete,

a data da veiculação da webnotícia, as técnicas lingüísticas empregadas, o texto na

íntegra, a focalização/delineamento, a humanização e os comentários finais sobre

cada uma delas.

4.1 Análise Geral

De acordo a teoria do agendamento, a mídia determina a pauta para a opinião

pública ao destacar determinados temas e preterir, ofuscar ou ignorar, outros tantos.

Verificamos que o tema “Estresse, Doenças Mentais e Afastamento/Ausências de

Professores” foram notícias de março a outubro deste ano.

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Para visualizar com mais objetividade este agendamento, organizamos os

dados que colhemos na tabela abaixo:

Tabela 3: Noticialidade do tema “Estresse, Doenças Mentais e

Afastamento/Ausências de Professores”

Mês Quantidade de Notícias

Estadão Folha Veja

março 02 X

maio 02 X

julho 03 X X

setembro 01 X

outubro 02 X Fonte: webnotícas que fazem parte do corpus desta pesquisa.

Ao observarmos a tabela, podemos notar que o tema foi agendado duas

vezes em março – mês de início da greve dos professores no Estado de São Paulo11

e que o mesmo ocorreu no mês de maio – finalização da greve e início da reposição

de aulas12.

Percebemos também que o agendamento ocorreu com mais frequencia no

segundo semestre de 2010 e que o pico da tematização foi no mês de julho – mês

de recesso escolar.

Em relação ao segundo semestre, notamos um maior agendamento no mês

de outubro (mês em que se comemora o dia dos professores). Além disso,

verificamos que a Folha de São Paulo foi a que mais agendou este tema, seguido

pelo Estadão e pela Revista Veja.

4.1.1 Personificação

Vale destacarmos que, cada uma das webnotícias analisadas tem história e

direcionamentos políticos próprios os quais compõem sua linha editorial. De alguma

maneira, o respeito a essa linha editorial cria um posicionamento padrão, uma

11

Segundo Fax Urgente nº 29 da Apeoesp, a greve iniciou-se em 05/03/2010. Disponível em: http://www.apeoespsub.org.br/teste/Fax/Fax_2910.pdf. Acesso em 04/12/2010. 12

Segundo Fax Urgente nº 50. Disponível em: http://apeoespsub.org.br/teste/Fax/Fax_5010.pdf. Acesso em 04/12/2010.

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vereda interpretativa dos fatos que se constitui como uma verdadeira visão de

mundo.

Esta, muitas vezes, se relaciona de forma simbiôntica à visão de mundo dos

leitores habituais. Isto quer dizer que elas se retroalimentam: a visão de mundo dos

leitores cativos influencia variações da linha editorial ao mesmo tempo em que os

recortes da realidade produzidos pelo meio de comunicação induzem o leitor a

formatar sua visão de mundo.

Sendo assim, para discutirmos de forma qualificada o posicionamento

desses três meios de comunicação frente ao adoecimento dos professores, faz-se

necessária uma pequena apresentação dos porta-vozes das webnotícias que fazem

parte do nosso corpus de análise: Folha de São Paulo, Estadão e revista Veja.

De acordo com informação obtida no sítio do jornal Folha de São Paulo, o

periódico é o jornal mais vendido no Brasil com uma circulação média diária de mais

de trezentos mil exemplares. Foi fundado em 1921 e defende o pluralismo,

apartidarismo, jornalismo crítico e independência como pilares de sua linha

editorial13.

O Jornal Estado de São Paulo é o mais antigo jornal da cidade de São Paulo

ainda em circulação. Sua primeira edição foi publicada em 1875 sob o nome de

Jornal da Província de São Paulo. Este importante meio de comunicação está em

posse da família Mesquita desde 1902, quando Júlio Mesquita, assumiu o controle

total do jornal que desde o início demonstrou ter engajamento político.

De acordo com informações do Portal Estadão:

A modernização do jornal acompanhava o espantoso crescimento da cidade que havia decuplicado sua população nos 35 anos posteriores à chegada da ferrovia]. Neste mesmo ano [1901] Júlio Mesquita e Cerqueira César lideram a 1ª dissidência republicana, iniciando a partir de então uma linha de oposição sistemática aos governos estadual e federal. Durante todo o transcorrer posterior da chamada República Velha (até 1930) o jornal se colocou ao lado dos contestadores do viciado sistema eleitoral conhecido pejorativamente como “bico-de-pena”, caracterizado pelo voto em aberto e manipulação fraudulenta. Em 1909 apoia a candidatura de Ruy Barbosa à presidência da República, a chamada “Campanha Civilista”, em oposição

14.

13

Informação disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/conheca/>. Acesso em 01/12/2010. 14

Disponível em: http://www.estadao.com.br/historico/resumo/conti2.htm Acesso em 02/12/2010.

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O portal Estadão15 aponta várias outras menções aos posicionamentos

políticos assumidos pelo jornal ao longo de sua história. De acordo com o Grupo

Estado, essa postura concedeu ao periódico grande aceitação social, sendo

apontado como o jornal de maior credibilidade entre todas as empresas jornalísticas

brasileiras.

A revista Veja circula desde 1968 e foi fundada por Victor Civita e Mino

Carta. A revista se inspirou no formato da americana Times e lançou no Brasil o

sistema de entrega a domicílio (assinatura). De acordo com informação obtida em

“Veja.com” a editora conta com um milhão de assinantes atualmente.

Sobre sua linha editorial, o portal da revista traz a seguinte análise:

Conteúdo de Veja, que registra os principais acontecimentos do Brasil e do mundo, acompanha as oscilações do interesse do leitor. O debate ideológico e a luta pela democracia deram lugar, nos últimos anos, a assuntos ligados a comportamento e qualidade de vida. Seus leitores, 80% das classes A e B, têm um nível alto de educação e de consumo. Querem opinar e ser ouvidos

16.

De acordo com o artigo de Washington Araújo (2010), a linha editorial de

Veja:

[...] é de matriz conservadora, defende vigorosamente o neoliberalismo, a livre iniciativa de mercado, a defesa do mais amplo direito à propriedade e tudo aquilo que possa ser abarcado pelo conceito do que se convencionou chamar de estado mínimo

17.

Araújo (2010) também caracteriza a revista como um meio de comunicação

que raramente deixa de assumir posição frente às questões postas sobre todo e

qualquer assunto que esteja em voga no Brasil.

É relevante destacar a diferença de posicionamento entre Veja e Estado que

definem e divulgam suas posições políticas e a postura da Folha que não as emite

em nome de uma suposta neutralidade.

15

Disponível em: http://www.estadao.com.br/historico/resumo/conti7.htm. Acesso em 02/12/2010. 16

Disponível em: http://www.abril.com.br/institucional/50anos/veja.html. Acesso em 02/12/2010. 17 Disponível em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=615IMQ001. Acesso em 02/12/2010.

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Em relação aos jornais Folha e Estado, o estudo de Vivian Maciel Vico

(2003) traz a seguinte constatação:

[A] Folha primava pela totalidade das notícias, empenhando-se em ouvir todos os envolvidos na questão, a fim de permitir que o leitor pudesse acompanhar o debate e posicionar-se perante ele. Apesar disto, tinha a clareza da impossibilidade de se alcançar uma verdade plena, quer por interesse em ocultar algum fato, falha humana, impossibilidades físicas ou, até mesmo, preconceito. [...] No caso do jornal O Estado de S. Paulo, algo que diferencia sua cobertura é a valorização da ideologia liberal. Tal conceito, mais que orientá-lo, era o principal parâmetro para analisar o contexto da abertura política. Mesmo consciente das mudanças sócio-econômicas advindas desde o século XIX, o jornal considerava válidos princípios como a participação individual, que abrangeria desde o campo tecnológico até as lutas por direitos sociais, cabendo ao Estado oferecer leis que garantissem tais conquistas, com ênfase no direito à liberdade e à propriedade

18.

Evidencie-se que esses três importantes meios de comunicação, que

praticamente monopolizam o mercado jornalístico em nosso país, pertencem a três

famílias tradicionais: os Mesquita, no caso do Jornal O Estado de São Paulo, os

Civita com a Veja e a família Frias que controla a Folha de São Paulo desde 1962.

Essas famílias e as empresas por elas capitaneadas têm seus interesses e

posições políticas, as quais, comprovadamente, influenciam a linha editorial desses

veículos e, por conseqüência, a opinião de seus milhões de leitores.

Sendo assim, se resgatarmos a discussão sobre os efeitos cognitivos da

mídia sobre a formação da opinião entre os cidadãos e a relacionarmos à ideia de

agenda-setting, veremos que a forma como esses meios de comunicação irão se

referir aos problemas de saúde dos professores farão imensa diferença na imagem

que a sociedade irá construir desse profissional, e até mesmo na construção da

auto-imagem docente.

4.1.2 Técnica Extralinguística

Para compreendermos, ainda mais, os efeitos cognitivos construídos pelos

veículos midiáticos aqui representados pela revista Veja e pelos jornais Estadão e

18

Disponível em: http://www.ifch.unicamp.br/graduacao/anais/vivian_vico.pdf. Acesso em 03/12/2010.

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Folha de São Paulo, torna-se importante apresentarmos o contexto social e político

que caracterizam as webnotícias analisadas nesta pesquisa.

Percebemos, portanto, nas webnotícias analisadas, que todas elas estavam

relacionadas ao seguinte contexto social e político: a lógica do novo gerencialismo

público.

De acordo com Souza (2006), no novo gerencialismo público, a eficiência

passou a ser vista como o principal objetivo de qualquer política pública, aliada à

importância do fator credibilidade e à delegação das políticas públicas para

instituições com "independência" política.

Considerando que as políticas públicas voltadas ao cuidado com a saúde do

professor, conforme demonstrado anteriormente, têm se pautado pela lógica do

novo gerencialismo público, os três meios de comunicação analisados nesta

pesquisa apresentaram tais tendências políticas.

Isso pode ser observado no fato de que todas as webnotícias tenderam para

uma provável diminuição do prestígio dos profissionais da educação doentes

perante a sociedade e a um aumento da complacência social diante da falta de

políticas públicas que se voltem a uma melhoria efetiva das condições de trabalho e

que promovam a preservação da saúde do professor.

Vale enfatizar também que, os meses de maior agendamento do tema, como

já apontado nesta pesquisa, foram os que os professores decretaram greve, o fim da

greve e o início da reposição de aulas, o mês de recesso escolar (utilizado para a

reposição das aulas do período da greve) e o mês em que se comemora o dia do

professor – outubro.

Diante deste fato, podemos perceber que o agendamento foi feito

necessariamente neste período para construir, perante a sociedade, uma imagem

negativa deste profissional que, além de ser inassíduo e/ou de afastar-se de suas

funções, ainda faz greve e reivindica pelo fim das normas que reduzem suas faltas.

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4.1.3 Grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos

Outra técnica utilizada pela mídia jornalística para construir efeitos

cognitivos, trata-se do grau e nível hierárquico dos indivíduos envolvidos. Segundo

Wolf (2008, p. 208) “quanto mais um acontecimento interessar às nações de elite,

maior será sua probabilidade de se tornar notícia”.

Seguindo este princípio, podemos dizer que todas as webnotícias analisadas

neste trabalho voltaram-se ao tema educação através da abordagem dada a saúde

mental/psicológica dos professores e a inassiduidade e/ou afastamento destes

profissionais de suas funções.

Como a Educação é vista como uma instituição social, podemos dizer que

esta técnica foi utilizada pelos veículos midiáticos Folha de São Paulo, Estadão e

Veja porque o Estado e a elite denotam grande valor hierárquico às instituições

sociais.

Berger e Berger (1978, p. 193) definem a instituição social como “um padrão

de controle ou uma programação de conduta individual imposta pela sociedade”.

Citam ainda que o termo instituição está ligado às grandes entidades sociais que o

povo enxerga quase como um ente metafísico a pairar sobre a vida do indivíduo

(BERGER; BERGER, 1978, p. 194).

Desse modo, fica evidente que a instituição social educação, por se tratar de

um meio de controlar a conduta dos indivíduos, passa a ser um tema que interessa

as nações de elite e, por isso, diz respeito às instituições governamentais ou a

outros organismos e hierarquia sociais.

4.1.4 Quantidade de pessoas que o acontecimento envolve

Wolf (2008, p. 211) declara que “os jornalistas atribuem importância às

notícias que dizem respeito a muitas pesoas, e, quanto mais elevado for o número

de pessoas, mais importante é a notícia”.

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Como já apontado nesta pesquisa, a Constituição Federal de 1988, a Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 e o Estatuto da Criança e do

Adolescente consagram a educação como um direito social e como um direito

público subjetivo.

Sabemos que o direito público subjetivo confere ao indivíduo a possibilidade

de constranger judicialmente o Estado a executar o que deve. Duarte (2004) explica

esta questão:

Em primeiro lugar, vale lembrar que o direito à educação não se reduz ao direito do indivíduo de cursar o ensino fundamental para alcançar melhores oportunidades de emprego e contribuir para o desenvolvimento econômico da nação. Deve ter como escopo o oferecimento de condições para o desenvolvimento pleno de inúmeras capacidades individuais, jamais se limitando às exigências do mercado de trabalho, pois o ser humano é fonte inesgotável de crescimento e expansão no plano intelectual, físico, espiritual, moral, criativo e social. O sistema educacional deve proporcionar oportunidades de desenvolvimento nestas diferentes dimensões, preocupando-se em fomentar valores como o respeito aos direitos humanos e a tolerância, além da participação social na vida pública, sempre em condições de liberdade e dignidade (DUARTE, 2004, p. 2).

Se a educação é um direito social e se pode ser contestada perantea Lei, as

webnotícias analisadas neste trabalho, possuem também valor/notícia pelo fato de

que dizem respeito a sociedade, de um modo geral, logo, diz respeito a um número

expressivo de pessoas interessadas no tema.

4.2 Análises específicas

As análises específicas serão apresentadas no formato de tabela para

facilitar a compreensão das técnicas que procuram criar um efeito cognitivo nos

destinatários, assim, serão evidenciados nas tabelas abaixo: o veículo midiático, a

manchete, a data de veiculação, a técnica lingüística, o texto na íntegra, a

focalização/delineamento, a humanização, os comentários gerais e a fonte

(endereço eletrônico) em que foi veiculada a webnotícia.

Seguem, abaixo, a análise específica de cada webnotícia:

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Tabela 4: Análise da Webnotícia “Bônus melhora aula e reduz falta, diz pesquisador”

Folha de São Paulo

Bônus melhora aula e reduz falta, diz pesquisador

Data: 30/03/2010

Técnica Linguística

Conotação negativa em “melhora aula” e “reduz falta” Enfatização “diz pesquisador”. A Folha enfatizou na manchete que a informação passada é fruto de pesquisa, logo foi comprovado cientificamente. Desse modo, a informação merece todo o crédito.

Texto na íntegra

Uma política que prevê salário melhor aos que sejam mais bem avaliados leva a uma melhoria das aulas e a menos faltas de professores, diz Naercio Aquino Menezes Filho, pesquisador da USP e do Insper. (FT) FOLHA - O sr. prefere reajuste para todos ou aumento com base em desempenho? NAERCIO AQUINO MENEZES FILHO - Pagar com base no mérito é uma boa ideia. Custaria muito dar aumento para todos. À medida que você implementa a ideia de mérito, o professor procura dar aulas melhores, faltar menos. FOLHA - Mas não é injusto? MENEZES FILHO - Não há evidência de que aumento linear de salário aos professores leve à melhoria aos alunos. Os professores estão acomodados. É preciso quebrar isso. Claro que os problemas das escolas não são exclusivamente dos professores. Há, por exemplo, falta de envolvimento das famílias. Mas mudar as coisas fora da escola é mais difícil. FOLHA - O que o Sr. acha da greve? MENEZES FILHO - Ela [a paralisação] foge um pouco do assunto educação, tem muita política envolvida

Focalização / Delineamento

Professor trabalhará melhor se for premiado com bônus.

Humanização Não há

Comentário

O pesquisador da USP justifica a política de bônus afirmando que, se classificados e pagos de acordo com o mérito, os professores dão melhores aulas e faltam menos: “À medida que você implementa a ideia de mérito, o professor procura dar aulas melhores, faltar menos.” O verbo

‘procura’, no trecho citado anteriormente nos leva a entender que o professor poderá melhorar a qualidade das aulas e faltar menos apenas mediante compensação financeira. Nessa fala está embutida a ideia de que o professor falta apenas porque assim o deseja, e que poderá facilmente diminuir suas ausências, caso seja recompensado. A questão da qualidade do ensino é analisada no âmbito das finanças, isso fica claro quando o pesquisador diz “Custaria muito dar aumento para todos”, nesse

trecho evidencia-se o foco da política de bônus – uso eficiente de recursos financeiros para obtenção de metas, no caso a redução das faltas entre professores. Não se analisam as reais dificuldades enfrentadas pelos professores, não se discute a conjuntura social que engendra o sucateamento da educação e, sobretudo, não se cogita que o professor possa estar faltando por estar doente, cansado e desmotivado. Retomando a teoria do novo gerencialismo público, abordada no segundo capítulo, fica claro que, de acordo com esse posicionamento, mais vale

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um professor doente em sala de aula, do que um professor fora da sala de aula se recuperando. O critério de escolha é o custo, não há nenhum elemento da fala do pesquisador que nos dê o indicativo de que haja preocupação com a qualidade do ensino. As falas “os professores estão acomodados” e “não há evidência de que aumento linear de salário aos professores leve à melhoria aos alunos” revela depreciação da imagem

profissional do professor. O pesquisador tenta criar um contraponto em sua crítica quando diz que “Claro que os problemas das escolas não são exclusivamente dos professores”, mas em seguida afirma que sobre

esses problemas o Estado não pode atuar e desse modo, posiciona a figura do professor como o centro do problema da educação.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff3003201027.htm. Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 5: Análise da Webnotícia “Uma greve contra os pobres”

Folha de São Paulo

Uma greve contra os pobres

Data: 09/03/2010

Técnica Linguística

Conotação negativa em “contra” – Verifica-se que os professores estão contra a população que utiliza seus serviços – os pobres, a grande massa.

Texto na íntegra

A greve decretada pelo sindicato dos professores de São Paulo é uma greve contra os pobres -- a sorte do sindicato é que os pobres não sabem disso. Não vou discutir aqui o pedido de aumento salarial (30%). O problema gritante é que, entre as reivindicações que levaram à decretação da greve, estão o fim das normas que reduziram a falta dos professores (podia-se faltar até 130 dias por ano), o exame para professores temporários, a nota mínima para os concursos, a escola de formação de professores (o novo professor tem de passar num curso de quatro meses antes de dar aulas) e, enfim, o programa que oferece aumento salarial para quem for bem em provas. Suponhamos que se decidisse mesmo facilitar o absenteísmo (que já é grande) e reduzir medidas que valorizem o mérito. Quem vai sofrer não é o filho da classe média. Mas o pobre. Tenho dito aqui que a profissão mais importante de uma sociedade é o professor. Sei que ele vive em permanente tensão, o rendimento é baixo, é vítima de violência. Nada pode ser mais importante do que valorizá-lo. Sei também como a classe é vítima de várias mudanças de secretários --o que ocorre dentro do PSDB em São Paulo. Mas esse tipo de reivindicação contra o mérito não melhora a imagem do professor - é um desserviço que o sindicato faz à categoria. Gilberto Dimenstein, 54 anos, é membro do Conselho Editorial da Folha e criador da ONG Cidade Escola Aprendiz. Coordena o site de jornalismo comunitário da Folha. Escreve para a Folha Online às segundas-feiras.

Focalização / Delineamento

A greve denigre a imagem do professor

Humanização Não há

Comentário Em primeiro lugar, percebe-se, claramente, que o autor inferioriza as pessoas que utilizam o serviço público educacional paulista (preconceito

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social): “Quem vai sofrer não é o filho da classe média. Mas o pobre”. No desenvolvimento do texto, Dimenstein, desqualifica os professores e ainda enfatiza que são profissionais inassíduos: “Suponhamos que se decidisse mesmo facilitar o absenteísmo (que já é grande)”. Ao finalizar seu comentário, tenta amenizar seu discurso, utilizando, por exemplo, a palavra vítima, duas vezes, no penúltimo parágrafo: “é vítima de violência” e “é vítima de várias mudanças de secretários”. Percebe-se que, o tom irônico, de seu discurso, transforma-se num tom de defesa e de elogios: “a profissão mais importante de uma sociedade é o professor” e “Nada pode ser mais importante do que valorizá-lo”.Por fim, Dimenstein culpa o governo do PSDB “Sei também como a classe é vítima de várias mudanças de secretários -- o que ocorre dentro do PSDB em São Paulo” e o sindicato da categoria “é um desserviço que o sindicato faz à categoria” por denegrirem a imagem do professor.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/pensata/gilbertodimenstein/ult508u704224.shtml. Acesso em 02

dez. 2010

Tabela 6: Análise da Webnotícia “O processo de readaptação foi um período

deprimente”

Folha de São Paulo

O processo de readaptação foi um período deprimente

Data: 23/05/2010

Técnica Linguística

Relaciona a readaptação, que é parte do tratamento do professor, a degradação profissional. Clara conotação negativa em “período deprimente”

Texto na íntegra

O magistério para mim sempre esteve relacionado a se doar à formação de outras pessoas. Em 2002, infelizmente, precisei me ausentar por problemas nas cordas vocais. Ficava muito rouca, no final da semana mal conseguia falar. À época, tinha jornada de 36 horas semanais. Fiquei um ano em licença médica. Em 2003, voltei para a escola estadual Vereador Narciso Yague Guimarães como professora readaptada. A sensação foi de perda total da identidade profissional. Muitas vezes, quando chegava ao estacionamento da escola, me via chorando. Meus ex- alunos me perguntavam: "Professora, quando a senhora volta a dar aulas?". O processo de readaptação sugerido inicialmente foi de dois anos. Foi um período deprimente. Realizava preenchimento de fichas, atendia telefone, guichê etc. Resolvi agir. Observei que a sala de informática da escola não funcionava. Em 2004, criei com alunos um projeto para ela. No final daquele ano, fui coordenar a biblioteca, e o projeto parou. Mas voltamos em 2005, com a chegada da nova gestora. Em 2006, na procura de saber quem é o professor readaptado, pleiteei a bolsa de mestrado da Secretaria da Educação, com a proposta de pesquisa "Identidade docente: A situação do professor readaptado em escolas públicas do Estado de SP". Verifiquei que o não reaproveitamento do profissional como educador gera acomodação ou insatisfação, com prejuízos pessoais e profissionais para professores. Atualmente, tento voltar. Estou readaptada há sete anos. Fiz novos exames. O laudo médico foi

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favorável ao retorno. Minha escola protocolou o pedido para cessação da readaptação em setembro de 2009, mas até agora não pude voltar. MARIA DE LOURDES DE MORAES PEZZUOL é professora da rede estadual há 19 anos

Focalização / Delineamento

Impacto psicológico negativo da readaptação.

Humanização

Sim. A notícia é transmitida na forma de relato cujo objetivo, neste caso, é apresentar a história de pessoas comuns para sensibilizar e mostrar que a readaptação causa um impacto psicológico negativo.

Comentário

Sugere-se que a readaptação traz efeitos nocivos a saúde psíquica do professor. A ideia se ilustra com o depoimento da professora cujo afastamento resultou em uma grande tristeza para ela: “A sensação foi de perda total da identidade profissional. Muitas vezes, quando chegava ao estacionamento da escola, me via chorando”. Subliminarmente, o texto

traz a ideia de que cabe ao professor ter iniciativas que lhe dêem maior satisfação profissional, no caso acima, a reativação da sala de informática da escola, o trabalho dela na biblioteca e o ingresso no mestrado “Resolvi agir. Observei que a sala de informática da escola não funcionava. Em 2004, criei com alunos um projeto para ela.” O verbo resolver conjugado na primeira pessoa transmite a ideia de pioneirismo, desejo e iniciativa e pode levar o leitor a ponderar que ao outros professores doentes talvez falte essa mesma força de vontade. Apesar de não estar explicitada nessa matéria, a ideia de que o professor é ‘acomodado’ apareceu no discurso do pesquisador analisado anteriormente. O poder público aparece de forma positiva já que é o provedor das oportunidades: readaptação, bolsa de mestrado, trabalho com projetos “pleiteei a bolsa de mestrado da Secretaria da Educação”. Em nenhum momento o Estado é implicado em sua omissão frente aos problemas de saúde dos professores, aos baixos salários e diante das péssimas condições de trabalho oferecidas.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2305201005.htm. Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 7: Análise da Webnotícia “A cada dia, um professor se licencia por dois

anos”

Folha de São Paulo

A cada dia, um professor se licencia por dois anos

Data: 23/05/2010 Técnica

Linguística Ênfase dada à freqüência dos afastamentos e não às causas.

Texto na íntegra

O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente. "Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso." Não era assim. "Eu era bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a 2004, quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista. Aprovado um ano depois em concurso, foi considerado apto a dar aulas, na zona sul da capital. Passados três anos, obteve uma licença médica, que se renova até hoje, sob o diagnóstico de disforia - ansiedade,

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depressão e inquietude. Carlos espera nova perícia. Quer se tornar readaptado -situação de servidores com graves problemas de saúde, que ficam ao menos dois anos afastados da sala de aula. Fazem atividades administrativas na secretaria e na biblioteca, por exemplo. De janeiro até a última sexta-feira, 194 docentes (mais de um por dia) da rede paulista foram readaptados, aponta levantamento da Folha no "Diário Oficial". Pelos cálculos da professora Maria de Lourdes de Moraes Pezzuol, que fez uma pesquisa financiada pela Secretaria da Educação, 8% de todos os professores da rede estão readaptados. Os casos mais recorrentes são problemas nas cordas vocais, na coluna e psicológicos. A autora do estudo é ela própria uma professora readaptada. Entre os servidores da Educação, o índice desse tipo de afastamento é maior que dos demais: 79% dos readaptados trabalham nas escolas, categoria que soma 53% do funcionalismo. POR QUE ADOECEM Pesquisadores apontam duas razões para tantas licenças. A primeira é a concepção da escola, que requer para as aulas estudantes quietos e enfileirados. "Isso não existe mais. Esta geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por não conseguir a atenção deles", diz o sociólogo Rudá Ricci, que faz pesquisas com educadores de redes públicas do país, inclusive no município de São Paulo. A outra razão são as condições de trabalho. Em geral, os professores dão aulas em classes com mais de 35 alunos, possuem muitas turmas e poucos recursos (não há, por exemplo, microfone). Estudo divulgado na semana passada pelo Instituto Braudel e pelo programa Fulbright mostra que os docentes paulistas têm condições piores que os de Nova York. Têm carga maior (33 horas semanais em sala, ante 25) e possuem mais alunos por sala (35 e 26, respectivamente)

Focalização / Delineamento

Os professores estão desequilibrados emocionalmente e podem se tornar agressivos com os alunos.

Humanização

Sim. O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente. "Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam. Foi me dando uma angústia. Fiquei nervoso." Não era assim. "Eu era bem calmo", afirma, referindo-se ao período anterior a 2004, quando entrou como docente temporário na rede de ensino paulista. O objetivo da Humanização é sensibilizar o leitor para mostrar que os professores que se licenciam sofrem de problemas mentais.

Comentário

A reportagem aborda o problema do adoecimento em três espectros diferentes: as causas, o fato em si e a conseqüência, entretanto, o peso dado a cada um desses aspectos é bastante diferente. A causa se expressa no seguinte fragmento “Esta geração é muito ativa. O professor se vê frustrado dia a dia por não conseguir a atenção deles”, em resumo o professor se frustra porque os alunos não estão atentos às aulas, o pesquisador não menciona a violência e tantos outros fatores causadores da degradação da saúde dos professores. Em relação ao fato a notícia diz “O professor de história Carlos, 42, fala sozinho às vezes. Seu coração, conta, dispara sem motivo aparente”. Veja que o professor é descrito

como alguém com sérios problemas emocionais “fala sozinho”. Em relação às consequências “Não conseguia controlar os alunos. Queria passar o conteúdo, poucos me ouviam”, ou seja, o professor frustrado passou a

falar sozinho, não conseguia dar aulas e se readaptou (está ausente da

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sala de aula e gerando custos ao estado), em suma, a última afirmação parece muito simplista, mas ela representa o extrato da matéria, essa é a mensagem que fica para o leitor. O Estado não é implicado na questão dá-se um acento à suposta fragilidade emocional dos docentes. Vale destacar que no mesmo dia e jornal em que essa matéria foi publicada, publicou-se o depoimento analisado acima “O processo de readaptação foi um período deprimente”, fica fácil para o leitor atribuir mais peso à “força de vontade” de cada um dos professores doentes do que despertá-lo para a análise crítica das políticas públicas voltadas à educação.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff2305201001.htm. Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 8: Análise da Webnotícia “Temporários chegam a 46% dos professores em

SP”

Folha de São Paulo

Temporários chegam a 46% dos professores em SP

Data: 14/09/10

Técnica Linguística

A utilização da porcentagem chama atenção para o alto número de temporários.

Texto na íntegra

O número de professores temporários na rede estadual de São Paulo chegou neste ano a 46% do total, a maior proporção desde 2005. No ano passado, o então governo de José Serra (PSDB), hoje candidato à Presidência, anunciou como meta diminuir a taxa para 10% em quatro anos. Àquela época, o número era 42,4%. Os dados são da própria Secretaria da Educação. Em números absolutos, são hoje 101 mil não efetivos. Um concurso público com 10 mil vagas foi feito em março, mas os aprovados só começarão a trabalhar no ano que vem. Pesquisadores afirmam que o contingente de temporários tem impacto direto na qualidade de ensino, uma vez que eles tendem a ter uma rotatividade maior nos colégios - os temporários só podem escolher suas escolas depois que todos os concursados já fizeram suas opções. Os 46% de não efetivos em SP são mais que o dobro da média nacional e superior à Prefeitura de SP (7%). "A dificuldade quando se troca de escola é que os alunos não conhecem meu jeito e ritmo e eu também não conheço o deles. Essa fase leva tempo", diz o professor temporário de ciências Vinicius Vasconsellos, 24, que, em seis anos de rede estadual, já lecionou em nove escolas. A Secretaria da Educação diz que trabalha para diminuir o número de não efetivos -fez dois concursos desde 2007-, mas que, "apesar dos esforços, ainda ocorrem saídas de efetivos [licenças e afastamentos], que são repostas com os temporários". Educadores ouvidos pela Folha afirmam que o Estado já poderia ter diminuído o contingente de temporários. "Com um mínimo de planejamento, você sabe quantos professores vão se aposentar ou sair da rede e pode planejar concursos", diz Ocimar Alavarse, pesquisador da Faculdade de Educação da USP e ex-membro

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da Secretaria da Educação na gestão Gilberto Kassab (DEM) na prefeitura da capital. Para Alavarse, há a possibilidade de o Estado não acelerar os concursos porque conta com a continuidade da transferência de parte da rede a municípios. "Mas o processo é lento e não há garantias de que vá se efetivar." Para o presidente da Udemo (entidade que representa os diretores de escolas), Luiz Gonzaga Pinto, "o Estado só quer saber de economizar". Segundo ele, o temporário custa 15% a menos, por não ter alguns benefícios.

Focalização / Delineamento

Alto número de professores temporários impede avanço na qualidade do ensino. Má qualidade dos temporários que substituem os professores que faltam ao trabalho ou se afastam por motivos de doença.

Humanização

Sim. "A dificuldade quando se troca de escola é que os alunos não conhecem meu jeito e ritmo e eu também não conheço o deles. Essa fase leva tempo", diz o professor temporário de ciências Vinicius Vasconsellos, 24, que, em seis anos de rede estadual, já lecionou em nove escolas. O objetivo também é sensibilizar o leitor para que perceba que a função de temporário não é interessante, nem para o professor e muito menos para o aluno que demora se adaptar.

Comentário

A reportagem aponta o alto número de professores temporários como uma das causas da má qualidade da educação. Após reforçar a ideia de que os temporários realizam um trabalho menos eficaz, o texto diz que o governo está promovendo concursos, mas que há uma grande dificuldade para suprir tantas licenças médicas o que pode levar ao entendimento de que o estado está fazendo sua parte ao contratar novos mestres, mas nada poderia fazer diante dos afastamentos. A pequena ênfase dada à argumentação da categoria dos educadores, representadas por um membro da Udemo, o qual diz que o ‘governo só pensa em economizar’, revela a imparcialidade da matéria. Há a fala de um pesquisador da USP o qual diz que seria possível prever as aposentadoria e fazer a reposição do pessoal, entretanto, não se observam as más condições de trabalho dos professores, os baixos salários, a sobrecarga e toda uma complexa dinâmica que culmina no absenteísmo de alguns professores.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1409201001.htm Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 9: Análise da Webnotícia “SP dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional”

Folha de São Paulo

SP dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional

Data: 11/10/2010 Técnica

Linguística Enfoque no número de afastamentos.

Texto na íntegra

De janeiro a julho, Estado teve 19.500 afastamentos de professores com depressão e estresse. Esse Número corresponde a 70% do que foi dado em todo o ano passado; problema leva docentes a "explodirem" em sala.

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Leonor, 58, professora do 3º ano do fundamental, passou a ter crises nervosas durante as aulas. Várias vezes gritou com os alunos e chorou em plena sala. Ficava tão nervosa que arrancava os cílios com as próprias mãos e mordia a boca até sangrar. Ela procurou ajuda médica e hoje está de licença. Casos como o dela são comuns entre professores. Recentemente, dois docentes viraram notícia por ataques de fúria na sala de aula: um, de Caraguatatuba (litoral de SP), gritou e xingou alunos e danificou cadeiras da escola. Outro, do Espírito Santo, jogou um notebook durante um debate com estudantes de jornalismo. Relatos de professores à Folha mostram que a bagunça da sala, somada às vezes a problemas pessoais, leva a reações como batidas de apagadores, gritos, xingamentos e até violência física. Atos que acabam afastando muitos docentes das aulas. Só na rede estadual de SP, com 220 mil professores, foram dadas, de janeiro a julho, em média 92 licenças por dia a docentes com problemas emocionais. No período, foram 19.500 -o equivalente a 70% do concedido em todo o ano de 2009 por esses motivos, diz a Secretaria de Gestão Pública de SP. O dado não corresponde ao número exato de professores, pois um mesmo docente pode ter renovado a licença durante este período. "Batia com força o apagador nos armários. Tive muitas crises de choro durante as aulas, gritei com alunos", diz a professora Eliane, 64. Ela está afastada por causa do estresse. "Eu não quero mais voltar para a sala de aula. Parecia que eu estava carregando uma bola daquelas de presidiário nos pés." Daniela, 40, também não quer mais voltar. Ela tirou uma licença de 90 dias depois de "explodir" na sala de aula e gritar com os alunos. Foi socorrida por colegas. Docente do 3º ano do fundamental (alunos com oito anos), diz ter sido ameaçada e agredida pelos estudantes. As entrevistadas tiveram os nomes trocados. Casos de "explosão" como esses podem ser sintomas de um distúrbio chamado histeria, segundo Wanderley Codo, do laboratório de psicologia do trabalho da Unb (Universidade de Brasília). Desde 2000, o professor desenvolve pesquisas com professores e funcionários da área de educação e constatou que 20% dos professores sofrem de histeria. "O trabalho do professor é um trabalho de cuidado, que exige a necessidade de um vínculo afetivo. Mas um professor que tem 400 alunos não tem como estabelecer esse tipo de vínculo."

Focalização / Delineamento

Os professores não conseguem lidar com a bagunça em sala de aula e por isso adoecem.

Humanização

Sim, Há a presença do discurso direto: "Batia com força o apagador nos armários. Tive muitas crises de choro durante as aulas, gritei com alunos" e "Eu não quero mais voltar para a sala de aula. Parecia que eu estava carregando uma bola daquelas de presidiário nos pés". A humanização é sempre utilizada para sensibilizar e tornar o noticiado mais real. No caso desta notícia, o uso do discurso direto mostrar autenticidade, ou seja, indica que as palavras são aquelas realmente proferidas; distancia-se do que é dito, demonstra objetividade e seriedade e dá caráter oral ao trecho. Fiorin e Savioli (2006, p.181) dizem que tudo ocorre como se o leitor ouvisse literalmente a fala dos personagens em contato direto com eles para transmitir um efeito de verdade. Neste caso,

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a Folha que transmitir um efeito de verdade no discurso jornalístico que quer transmitir (fazer-saber para fazer-crer) que é o de que o professor está “louco”.

Comentário

Nessa notícia há minimização da causa “relatos de professores à Folha mostram que a bagunça da sala, somada às vezes a problemas pessoais, leva a reações”. Certamente há leitores que são pais ou lidam com

crianças e adolescentes que devem ter se perguntado se ter problemas pessoas, algo comum a todos, e lidar com “bagunça” de crianças, não seriam motivos muito superficiais para causar a seguinte conseqüência “Leonor, 58, professora do 3º ano do fundamental, passou a ter crises nervosas durante as aulas. Várias vezes gritou com os alunos e chorou em plena sala. Ficava tão nervosa que arrancava os cílios com as próprias mãos e mordia a boca até sangrar”. Há uma evidente assimetria entre a

importância dada à causa e a relevância social da conseqüência. Subliminarmente denuncia-se uma suposta falta de competência profissional aliada à disseminação de uma imagem negativa da classe docente – o professor é louco. As causas dos problemas enfrentados pelos professores são superficialmente discutidas e não há menção ao papel do estado frente a essa situação.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidian/ff1110201015.htm. Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 10: Análise da Webnotícia “Estresse na Escola”

Folha de São Paulo

Estresse na Escola

Data: 17/10/2010 Técnica

Linguística Foco no problema e não na causa.Conotação negativa.

Texto na íntegra

Excesso de licenças médicas para docentes é sinal de que se deterioram as relações em sala de aula; governo e pais não podem se omitir A última sexta-feira, Dia do Professor, não foi data para muita comemoração. A educação no Brasil vai mal, já se aprendeu. Mas nem todos sabem, ou querem saber, que os docentes também participam dessa tragédia nacional como vítimas. Não são apenas os baixos salários. Há indícios de que esteja adquirindo proporções epidêmicas o fenômeno da indisciplina e da violência em salas de aula, com maior gravidade em escolas da rede pública. É patente a necessidade de providências, mas ninguém -poder público, sindicatos, pais ou educadores- sabe ao certo como reagir. A deterioração dos relacionamentos em classe tem como sintoma mais visível o estresse dos professores - alguns deles submetidos a situações extremas, como ameaças de morte. Por mais que se imagine a ocorrência de abusos na concessão de licenças médicas por problemas emocionais, os números chamam a atenção. De janeiro a julho deste ano elas chegaram a 19.500 na rede estadual de São Paulo. A cifra corresponde a 92 afastamentos por dia. Mesmo ponderado como percentual do conjunto de mestres da rede estadual (220 mil), o índice é alto: 8,9% do corpo docente afastado ao longo de sete meses. Pior: a cifra

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desse período de 2010 representa 70% do total de casos do ano anterior, o que sugere uma aceleração do problema. O governo estadual precisa fazer algo a respeito, mas o alcance de sua ação é limitado. Seria um bom começo melhorar as condições gerais de trabalho, aprofundando as políticas de reduzir a um mínimo as vagas de professor temporário e de valorizar a função, por meio de aumentos na remuneração básica ou de prêmios por desempenho e requalificação. No que toca ao problema específico da violência, aberta ou velada, o Estado pode pouco. Já se assinalou, neste espaço, a necessidade de rever gradação, condições e limites das punições aplicáveis a estudantes, além de serviços especializados de assistência ao professor. Cabe reconhecer, no entanto, que o alcance de tais medidas será sempre restrito. O fenômeno não é só da rede pública, nem exclusivamente paulista, muito menos brasileiro. Por toda parte emergem conflitos entre os muros da escola, mesmo em países ricos, quase sempre em áreas onde algum tipo de iniqüidade ou exclusão se torna a regra -como nos subúrbios europeus com predomínio de minorias oriundas de antigas colônias. Não contribui para melhorar esse quadro a transformação em clichês de conceitos pedagógicos avessos a reprimir ou cobrar desempenho de jovens estudantes. É preocupante também que as famílias tenham se tornado tão disfuncionais. Muitos pais parecem encarar a escola e o professor como responsáveis pela boa educação dos filhos, no sentido tradicional da expressão, que compreende o aprendizado de regras básicas de convívio social. Já se tornou lugar comum dizer que, sem o envolvimento dos pais, nenhuma escola tem futuro. Antes de participar da vida escolar, contudo, cabe a eles assumir uma responsabilidade mais primária, que é garantir que os próprios filhos reúnam condições de fazê-lo.

Focalização / Delineamento

Alto índice de faltas prejudica a qualidade do ensino

Humanização Não há.

Comentário

Vale destacar que este se trata de um editorial. Editorial, segundo Melo (1985, p. 79) é um “gênero jornalístico que expressa a opinião oficial da empresa diante dos fatos de maior repercussão no momento”. Com essa definição, pode-se entender que o editorial é um texto que emite uma opinião, mas não uma qualquer, a do jornal, ou seja, todos os comentários feitos são de responsabilidade da instituição, no caso da Folha de São Paulo. O texto do editorial se inicia com a palavra excesso, a qual revela a

opinião de que o número de licenças é abusivo. O professor é caracterizado como alguém que não sabe o que fazer diante dos problemas de sua carreira tornando-se uma vítima “A educação no Brasil vai mal, já se aprendeu. Mas nem todos sabem, ou querem saber, que os docentes também participam dessa tragédia nacional como vítimas”. O

texto cria uma sutil dualidade: ao mesmo tempo em que procura impingir ao professor o papel de vítima, transmite a ideia de que as licenças ou afastamentos médicos são abusivos, exagerados, excessivos “os números chamam a atenção. De janeiro a julho deste ano elas chegaram a 19.500 na rede estadual de São Paulo. A cifra corresponde a 92 afastamentos por dia. Mesmo ponderado como percentual do conjunto de mestres da rede estadual (220 mil), o índice é alto: 8,9% do corpo docente afastado ao longo de sete meses”.

Contudo, fica evidente que o professor é um profissional massacrado pela sociedade, que lhe são exigidas muitas funções e responsabilidades e que ele está sozinho em meio a violência, ao desrespeito e a indisciplina; não

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possuindo sequer o apoio das famílias. E, que por conta disso adoece: “Não são apenas os baixos salários. Há indícios de que esteja adquirindo proporções epidêmicas o fenômeno da indisciplina e da violência em salas de aula, com maior gravidade em escolas da rede pública”, “A deterioração dos relacionamentos em classe tem como sintoma mais visível o estresse dos professores - alguns deles submetidos a situações extremas, como ameaças de morte” e “É preocupante também que as famílias tenham se tornado tão disfuncionais. Muitos pais parecem encarar a escola e o professor como responsáveis pela boa educação dos filhos, no sentido tradicional da expressão, que compreende o aprendizado de regras básicas de convívio social”. Entretanto, o editorial retira a responsabilidade de tudo o que ocorre com os professores – funcionários públicos – do Governo: “O governo estadual precisa fazer algo a respeito, mas o alcance de sua ação é limitado”; “No que toca ao problema específico da violência, aberta ou velada, o Estado pode pouco”, “O fenômeno não é só da rede pública, nem exclusivamente paulista, muito menos brasileiro” e “É patente a necessidade de providências, mas ninguém -poder público, sindicatos, pais ou educadores- sabe ao certo como reagir”.

Fonte: Folha de São Paulo. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz1710201001.htm. Acesso em 18 nov. 2010

Tabela 11: Análise da Webnotícia “Cresce o número de professores afastados por

transtornos mentais”

Veja

Cresce o número de professores afastados por transtornos mentais

Data: 12/07/2010

Técnica Linguística

O verbo crescer chama atenção para a precarização do serviço. Conotação negativa.

Texto na íntegra

Transtornos mentais e comportamentais foram as principais causas de afastamento por doença dos professores da rede municipal de São Paulo no ano passado. Foram 4.900 afastamentos para uma categoria com 55.000 profissionais, o que equivale a quase 10% dos trabalhadores. Os dados são de um levantamento que está sendo feito pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS) da Secretaria Municipal de Gestão e Desburocratização. O estudo aponta o crescimento de problemas psiquiátricos entre os professores. Em 1999, esses transtornos eram responsáveis por cerca de 16% dos afastamentos. Dez anos depois, a porcentagem subiu para 30% - de um universo aproximado de 16.000 afastados. Outra estimativa, a do Fórum dos Profissionais de Educação Municipal em Readaptação Funcional, aponta que os transtornos psiquiátricos ficam também em torno de 30% do motivo das readaptações. Os professores readaptados são aqueles que não conseguem voltar para as salas de aula e se dedicam a outras atividades na escola. Eles são em torno de 7 mil. As demais causas de afastamento são doenças osteomusculares, como lesão por esforço repetitivo, e do aparelho respiratório. As secretarias municipais de Educação e Gestão informaram, em nota conjunta, que "é fato que transtornos de origem mental e comportamental vêm aumentando entre os trabalhadores. A tendência na rede municipal

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de ensino, de acordo com o DSS, acompanha as características gerais de afastamento de todos os servidores municipais, sendo um fenômeno mundial que também ocorre entre os trabalhadores do setor privado". Sobre as ações que a secretaria de Educação faz para melhorar as condições de trabalho, a nota afirma que os salários foram reajustados em 40,9% e haverá mais 33,79% nos próximos três anos. "As condições físicas das escolas melhoraram nos últimos anos. Além disso, vem crescendo o suporte pedagógico dado ao professor".

Focalização / Delineamento

A ênfase é dada ao número de afastamentos (verbo crescer) e não ao problema do professor.

Humanização Não há. Comentário Há uma análise numérica do problema, a matéria afirma que dez porcento

dos professores que estão em sala de aula são mentalmente transtornados. Dá ênfase ao aumento da ocorrência de problemas psiquiátricos, não aborda as causas do adoecimento e cita o Estado apenas para mencionar, de forma pouco crítica, as ações promovidas para mitigação das consequências do problema, inclusive menciona as melhorias promovidas pela prefeitura “Sobre as ações que a secretaria de Educação faz para melhorar as condições de trabalho, a nota afirma que os salários foram reajustados em 40,9% e haverá mais 33,79% nos próximos três anos. "As condições físicas das escolas melhoraram nos últimos anos. Além disso, vem crescendo o suporte pedagógico dado ao professor”. Não se explicita a omissão do Estado frente as más condições

de trabalho dos professores e das questões sociais envolvidas nesse processo. Vale destacar que, diferentemente das matérias publicadas pela Folha, não são consideradas as falas dos professores, ou de especialistas da área, apenas citam-se dados estatísticos da Prefeitura de São Paulo.

Fonte: Veja. Disponível em: http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/cresce-o-numero-de-professores-afastados-por-transtornos-mentais. Acesso em 20/11/2010

Tabela 12: Análise da Webnotícia “10% dos professores têm algum transtorno

mental”

Estadão

10% dos professores têm algum transtorno mental

Data: 12/07/2010 Técnica

Linguística Foco na quantidade de professores doentes.

Texto na íntegra

Transtornos mentais e comportamentais foram as principais causas de afastamento por doença dos professores da rede municipal de São Paulo no ano passado. Foram 4,9 mil afastamentos para uma categoria com 55 mil profissionais, o que equivale a quase 10% dos trabalhadores. Os dados são de um levantamento que está sendo feito pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS) da Secretaria Municipal de Gestão e Desburocratização. O estudo aponta o crescimento de problemas psiquiátricos entre os professores. Em 1999, esses transtornos

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eram responsáveis por cerca de 16% dos afastamentos. Dez anos depois, a porcentagem subiu para 30% - de um universo aproximado de 16 mil afastados.

Focalização / Delineamento

Não prestação do serviço educacional devido aos afastamentos.

Humanização Não há. Comentário O texto apresenta a constatação de que o número de afastamentos por

problemas psicológicos tem aumentado, mas não se evidenciam as causas desses problemas e a omissão do estado frente às más condições de trabalho dos professores. Não se convidam profissionais que possam analisar o tema com maior profundidade.

Fonte: Estadão. Disponível em: http://blogs.estadao.com.br/sinapses/10-dos-professores-tem-alguns-transtorno-mental. Acesso em 20/11/2010

Tabela 12: Análise da Webnotícia “Transtorno mental afeta, mais professores”

Estadão Transtorno mental afeta mais professores

Data: 12/07/2010

Técnica Linguística

Ênfase no transtorno (verbo afetar) = problema/causa. Conotação negativa.

Texto na íntegra

Transtornos mentais e comportamentais foram as principais causas de afastamento por doença dos professores da rede municipal de São Paulo no ano passado. Foram 4,9 mil afastamentos para uma categoria com 55 mil profissionais, o que equivale a quase 10% dos trabalhadores. Os dados são de um levantamento que está sendo feito pelo Departamento de Saúde do Servidor (DSS) da Secretaria Municipal de Gestão e Desburocratização. O estudo aponta o crescimento de problemas psiquiátricos entre os professores. Em 1999, esses transtornos eram responsáveis por cerca de 16% dos afastamentos. Dez anos depois, a porcentagem subiu para 30% - de um universo aproximado de 16 mil afastados. Outra estimativa, a do Fórum dos Profissionais de Educação Municipal em Readaptação Funcional, aponta que os transtornos psiquiátricos ficam também em torno de 30% do motivo das readaptações. Os professores readaptados são aqueles que não conseguem voltar para as salas de aula e se dedicam a outras atividades na escola. Eles são em torno de 7 mil. As demais causas de afastamento são doenças osteomusculares, como lesão por esforço repetitivo, e do aparelho respiratório. Para especialistas em saúde do trabalho, a porcentagem de docentes com doenças mentais e comportamentais é elevada. "É um número alto levando-se em consideração que é uma categoria que lida com crianças e adolescentes. Com todos esses afastamentos, quem substituiu esses profissionais? O ensino fica comprometido", diz o psicólogo Roberto Heloani, professor titular da Unicamp e da Fundação Getúlio Vargas, especialista em saúde nas relações de trabalho. Segundo ele, os professores têm de lidar com uma complexa rede de pressão no trabalho, o que culmina em doenças. Ele cita que as famílias, que deveriam fazer o papel de educar suas crianças, cobram isso do professor. Por outro lado, os alunos querem um professor que também seja um animador em sala de

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aula e, quando se sentem frustrados, passam a agredi-lo. Influência. Outros fatores influenciam negativamente a saúde mental, como a atuação do crime organizado e do tráfico, que muitas vezes estão presentes dentro da escola. Heloani cita estudos que apontam que um professor de ensino fundamental fica, em média, seis anos na profissão até encontrar outra ocupação. "Uma carreira que era inicialmente um objetivo de vida se torna um bico." O psiquiatra e médico do trabalho Duílio Camargo, presidente da comissão técnica de saúde mental da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, explica que os transtornos mentais são a terceira causa de afastamento no País, de acordo com levantamento do Instituto Nacional de Previdência Social. A primeira são traumatismos seguidos por lesões por esforços repetitivos e doenças osteoarticulares relacionadas ao trabalho (Ler/Dort). O psiquiatra afirma que são vários os fatores que levam aos transtornos mentais: desde a própria constituição individual até a natureza do trabalho realizado. Claudio Fonseca, presidente do Sindicato dos Profissionais da Educação, garante que a estatística acende "um alerta vermelho, porque é assustadora". Para ele, os professores estão submetidos a uma tensão permanente do próprio trabalho somada também às condições ruins para exercer a atividade. Outro agravante, em sua opinião, é a carga excessiva de trabalho.

Focalização / Delineamento

Ênfase na doença e no aumento do número de afastamentos.

Humanização Não há. Comentário O primeiro parágrafo da matéria é idêntico ao início da matéria da Veja,

porém, tenta-se fazer uma análise mais científica, isso se evidencia pela consulta feita a profissionais da área de psiquiatria e psicologia. Há maior neutralidade: além dos profissionais já citados, o presidente do Sindicato dos Profissionais da Educação é convidado para representar a visão dos professores, entretanto, os professores afetados pelo problema não são ouvidos. Determinadas falas podem conduzir ao amedrontamento da população que ao ler “a porcentagem de docentes com doenças mentais e comportamentais é elevada. É um número alto levando-se em consideração que é uma categoria que lida com crianças e adolescentes”, poderá se questionar não somente sobre a qualidade da educação, mas também a respeito da segurança dos alunos assistidos por esses professores ‘doentes mentais’.

Fonte: Estadão. Disponível em:

http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100712/not_imp579869,0.php Acesso em 20/11/2010

4.2.1 Considerações sobre as análises específicas

Em relação às Técnicas Linguísticas, vale destacar que analisamos apenas

a Manchete de cada webnotícia, por se tratar de um enunciado breve, mas de

grande força enunciativa, que chama a atenção do leitor para o fato de maior

destaque (COSTA, 2008, p. 129).

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Ademais, a manchete revela muito a respeito do efeito cognitivo que se

espera produzir no leitor. Além de chamar atenção para o tema, ele objetiva criar

uma impressão inicial, a qual será confirmada ou refutada por meio da leitura do

texto.

Caso o leitor não tome conhecimento do texto em sua totalidade, há a

possibilidade de transmissão de uma parte considerável da mensagem do texto por

meio da manchete. Vale destacar também que a escolha de determinadas

expressões, verbos e numerais fazem parte da estratégia de transmissão subliminar

de conteúdos.

Em relação às manchetes analisadas, podemos destacar que a manchete

“Bônus melhora aula e reduz falta, diz pesquisador”, “Uma greve contra os pobres”,

“O processo de readaptação foi um período deprimente”, “Estresse na Escola” e

“Cresce o número de professores afastados por transtornos mentais” apresentaram

grande conotação negativa. Isso significa que os problemas de saúde

mental/psicológica dos professores foram associados a sua competência

profissional. Desse modo, podemos dizer que o uso dessa técnica teve como

objetivo a construção de uma imagem negativa do professor.

Nas demais manchetes – “A cada dia, um professor se licencia por dois

anos”, “Temporários chegam a 46% dos professores em SP”, “SP dá 92 licenças por

dia para docente com problema emocional” e “10% dos professores têm algum

transtorno mental” – percebemos que o enfoque foi dado a inassiduidade e ao

número de afastamentos, o que também evidencia o interesse em denegrir a

imagem dos professores perante a sociedade.

Quanto à técnica da Focalização/Delineamento, verificamos que entre as

dez webnotícias analisadas, em três delas (tabelas 3, 7 e 8), o foco e o

delineamento foram dados a incompetência do professor.

Em quatro webnotícias (tabelas 5, 6, 8 e 12), o foco e delineamento

restringiram-se a saúde do professor e, no restante delas (tabelas 4, 7, 9, 10, 11 e

12), na inassiduidade/afastamento deste profissional.

Isso significa que os três veículos midiáticos analisados – Folha, Estadão e

Veja – buscaram construir uma imagem negativa deste profissional do ensino

evidenciando a incompetência, a inassiduidade/afastamento e os problemas de

saúde.

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Em relação à Humanização, verificamos que, dentre as dez webnotícias que

constituíram o corpus de análise desta pesquisa, em apenas quatro delas houve

evidências desta técnica.

As webnotícias que demonstraram a presença desta técnica foram: “O

processo de readaptação foi um período deprimente”, “A cada dia, um professor se

licencia por dois anos”, “Temporários chegam a 46% dos professores em SP” e “SP

dá 92 licenças por dia para docente com problema emocional”.

É importante enfatizar que todas elas pertencem ao mesmo veículo midiático

“Folha de São Paulo”. Como já destacamos nesta pesquisa, a Folha possui uma

suposta neutralidade que é alcançada pelo seu empenho em ouvir todos os

envolvidos na questão, a fim de permitir que o leitor possa acompanhar o debate e

posicionar-se perante ele.

Ribeiro et al (2004, p. 57) declara que a Folha “procura utilizar-se de algum

fato polêmico no cenário nacional como tema de suas peças para posicionar-se

perante o público e expressar a sua opinião”.

Diante disso, compreendemos o uso desta técnica por este veículo midiático,

já que o objetivo da Humanização é dar relevância, significatividade e credibilidade

ao acontecimento a partir de uma interpretação baseada no lado do interesse

humano e a Folha buscou, através deste recurso, sensibilizar e tornar o noticiado

nas webnotícias mais real, a partir de depoimentos e relatos de pessoas comuns,

sendo que seu grande objetivo, mesmo que disfarçado, é polemizar a

inassiduidade/afastamento dos professores por conta de seus problemas de saúde

mental e apresentá-lo como profissionais incompetentes, principalmente diante do

contexto da greve dos professores do Estado de São Paulo.

4.3 Considerações sobre a análise geral e específicas

Por fim, a partir da análise geral e específica realizadas no corpus de análise

desta pesquisa, podemos dizer que, em relação ao discurso midiático sobre os

problemas de saúde dos professores, prevalece a visão de Estado, cuja síntese expressa à

mensagem de que os problemas da educação são variados e fruto da abstrata categoria

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“problemas da nossa sociedade”. O Estado estaria empenhado, porém não teria,

supostamente, os meios necessários para mitigar as reais causas dos adoecimentos.

De acordo com essa lógica, ao professor caberia superar os ‘problemas da

sociedade’ utilizando as estratégias pedagógicas adequadas, buscando melhorar sua

formação, criando parcerias com a comunidade, sendo sereno diante das ameaças,

suportando os baixos salários, trabalhando de forma exaustiva e quando doente, buscando

por si próprio a superação. Bem ao estilo Self-Made Men (o homem faz a si próprio) tão caro

ao liberalismo político defendido pelo governo com subsídio da Folha, Estado e Veja.

A comparação entre os textos nos permite afirmar que:

A imprensa enfatiza sempre a doença e o afastamento do professor;

Ao descrever a situação de adoecimento se preocupa mais em abordar as

consequências sobre o ensino e as finanças públicas;

Minimiza, ou simplesmente suprime, a análise das causas dos adoecimentos;

Não implica o Estado de forma a evidenciar a omissão do mesmo frente ao

problema;

Subliminarmente conduz a interpretação de que a solução está situada

exclusivamente no âmbito de ação do docente sem considerar a comunidade

e o governo;

Ressalta o aumento no número de casos de problemas de saúde sempre

vinculando essa informação à denúncia da precarização das aulas;

Há o indicativo de que os periódicos analisados entendem que há abusos

praticados pelos professores em relação às faltas e concessão de licenças

médicas;

Identifica o professor como acomodado.

Diante dessas constatações, analisadas à luz de nossos pressupostos

teóricos e da metodologia selecionada, podemos confirmar a hipótese aventada: de

maneira geral, a mídia jornalística relaciona a competência do professor aos seus

problemas de saúde mental e, desse modo, acaba construindo uma imagem

negativa deste profissional perante a sociedade.

Alem da confirmação da hipótese, pode-se dizer que há indícios, que

poderão ser objetos de próximos trabalhos, de que a visão dos atuais governos tem

conduzido as políticas públicas de forma a aumentar a eficiência das finanças

públicas reduzindo gastos sociais, entre eles saúde e educação e que há

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alinhamento entre essa visão de Estado e a visão dos meios de comunicação aqui

analisados.

Desta maneira, Estado e Grande Imprensa, teriam condições e motivos para

estabelecerem reciprocidade de cooperação: a imprensa criando no inconsciente

coletivo o ambiente cognitivo adequado para que floresçam belas e vistosas as

ideias defendidas pelo Estado através dos governos atuais e o Estado garantindo os

privilégios desfrutados pela Grande Imprensa e pelos grupos a ela unidos.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Partimos do pressuposto de que a mídia jornalística relaciona a competência

do professor aos seus problemas de saúde mental e, desse modo, acaba

construindo uma imagem negativa deste profissional perante a sociedade.

Assim, o nosso objetivo geral foi investigar e verificar se a mídia jornalística

brasileira vem construindo uma imagem negativa do professor no patrimônio

cognitivo da sociedade brasileira, associando seus problemas de saúde mental à

sua falta de competência profissional para lidar com os desafios da profissão

docente.

Para isso, analisamos – a partir da teoria do agendamento formulada por

Maxwell McCombs e Donald Shaw na década de 1970 e através do pensamento de

Lang e Lang (1981), Violi (1982) e Wolf (2008) - dez notícias divulgadas pelos

jornais Estadão e Folha de São Paulo e pela Revista Veja no ano de 2010, por se

tratarem de mídias jornalísticas respeitadas e conceituadas.

A Folha de São Paulo procura utilizar-se de algum fato polêmico no cenário

nacional como tema de suas peças, para posicionar-se perante o público e

expressar sua opinião, fazendo deste recurso uma de suas marcas registradas

(RIBEIRO et al, 2004, p. 57).

Por conta disso, verificamos que a Folha foi o veiculo que mais se

preocupou em passar credibilidade a partir da ténica da Humanização. Focou no

prejuizo pedagógico e financeiro dos afastamentos dos professores, na sua

incapacidade profissional e na sua falta de ética, construidos com porcentagens e

outras visões quantitativas e entrevistas.

Este veículo midiático fez uma análise crítica muito fragmentada e atenuada

das políticas públicas e dos efeitos da saúde do professor. Outra preocupação da

Folha foi a de preservar a sua imagem de aparente neutralidade (“Mas não é

injusto?”, perguntou o reporter, “[...] a profissão mais importante de uma sociedade é

o professor” escreveu o editor).

Criou, portanto, o efeito cognitivo de um profissional de baixa qualidade que

usa a legislação para se manter longe do trabalho concedendo-lhe um papel de

protagonista nos problemas da educação pública. Além disso, mitigou a

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responsabilidade do Estado de criar políticas educacionais inadequadas, já que esse

assunto quase não foi contemplado e, quando o foi contemplado, percebemos que

foi apresentado como um problema secundário.

O Estadão, por sua vez, possui uma imagem de seriedade, aprofundamento,

consistência e credibilidade. É um jornal que traz informações sérias,

proporcionando aos seus leitores uma visão completa, detalhada, do que está

acontecendo no Brasil e no mundo com credibilidade e imparcialidade (RIBEIRO et

al, 2004).

O Estadão também focou no prejuizo pedagógico e financeiro do

afastamento dos professores. O efeito cognitivo construído pelo Estadão é o de que

o professor é incompetente para lidar com os desafios da profissão. Sendo assim, é

caracterizado por este veículo midiático como o principal responsável pelos seus

problemas se saúde. Além disso, por omissão de uma análise crítica, o Estadão

exime o Estado e as suas políticas de educação de responsabilidades diante do

problema apresentado.

A Revista Veja é a maior e mais respeitada revista do Brasil e traz

semanalmente os principais fatos e notícias do Brasil e do mundo. Lida

principalmente por executivos altamente graduados e pessoas com expressiva

renda individual. A grande maioria dos leitores é do sexo feminino e de classe social

B (RIBEIRO et al, 2004, p. 112).

A linha adotada pela revista Veja é direitista de análise. Diz ainda que ela

ataca a tudo que sirva aos seus interesses de persuasão. As mínimas brechas para

que sua verdadeira face venha à tona são exploradas avidamente (RIBEIRO et al,

2004).

A revista Veja tal qual os outros veículos, também focou no prejuizo

pedagógico e financeiro dos afastamentos dos professores. Mostrou que, enquanto

os professores ficam mais doentes, o poder público melhora as suas condições de

trabalho e salário.

Os efeitos cognitivos construídos pela revista Veja mostraram um professor

incompetente para lidar com os desafios da profissão sendo assim o único

responsável pelos seus problemas saúde. Além disso, ficou evidente que a Veja não

procurou realizar uma análise crítica do estado e das suas políticas educacionais,

como este assunto foi totalmente isentado de qualquer vínculo com o problema.

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Diante das análises aqui apresentadas, podemos concluir que a mídia

jornalística digital relaciona a competência do professor aos seus problemas de

saúde mental e que pretende construir, a partir do agendamento dos temas e do

enfoque que é dado as notícias, uma imagem negativa desse profissional, pois em

relação às políticas públicas, esses três veículos midiáticos omitiram, de forma

contumaz, uma análise dos problemas de saúde mental/psicológica dos professores

e não apresentaram a ineficácia governamental em relação a não criação de

políticas públicas voltadas para este problema.

De maneira geral, esses três veículos apresentam o professor como um

profissional incapaz de lidar com os desafios da profissão, indolente (rotulando-o de

acomodado e colocando exemplos de professores que “deram a volta por cima”) e

que é o professor, o principal responsável pela baixa qualidade do ensino público.

Portanto, ao promover o professor a protagonista das mazelas da educação

pública brasileira, a mídia jornalística digital defende o estado e a suas políticas

públicas que, sendo de cunho neoliberal, estão perfeitamente alinhadas com as suas

convicções doutrinárias.

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