Os Heterônimos do JOA

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Coletânea organizada por Alexandre Gonçalves Júnior

Carolina de Barros Giulia Gamba

Isadora Stelmach

À Ivy Ramadan

No último bimestre do nosso primeiro ano de faculdade, fomos desafiados a fazer uma intervenção poética em algum lugar da cidade de São Paulo. Divididos em grupos, cada qual teve sua própria maneira de experienciar a poesia e de observar como as pessoas reagiam a essa interrupção de suas rotinas, abordadas com rimas e assaltadas por versos. Numa cidade caótica, conversar com o desconhecido ao seu lado é intimidador e o contato, inusitado, é por alguns mal recebido e, por outros, sentido como um suspiro de alívio, em meio a solidão sufocante de se ver sozinho entre tanta gente.

Fernando Pessoa foi a escolha do nosso grupo, não por acaso. O poeta multifacetado

consegue ser tocante, sendo simples. É denso e é leve. Pode ser lúdico. Pode ser triste. Pode ser desesperador e pode ser romântico. Em suma, reflete nas letras encadeadas de suas estrofes o que pode ser uma pessoa - um caldeirão de emoções e sentimentos. Parecia o poeta ideal para apresentar a tipos variados. Capaz de, em poucas linhas, desencadear inúmeras reflexões. Ou não desencadear nada, pasmos com a simplicidade que confunde. Por todas essas razões, decidimos que seria ele o nosso tema e que sua obra seria por nós levada a um pedacinho dessa cidade.

Mas, atuando da maneira de toda boa arte, a poesia de Fernando Pessoa foi capaz de

transcender às nossas ideias iniciais e de estimular em nós a busca por algo a mais: sermos, nós mesmos, os poetas. Como qualquer jornalista (ou futuros jornalistas), o prazer da escrita é parte de quem somos e de tudo que desejamos ser. Uma folha em branco é só uma folha em branco, mas existe uma beleza misteriosa no que podemos transformá-la, com um pouco de grafite e mãos dançando suaves sobre o papel. Letras são rabiscos e quando organizadas em sílabas cadenciadas, formam poesia. A poesia vai além do que está ali. Poesia é pensamento sem pensar, é sinapse que só sente. É mágica, porque nada mais explica pontinhos pretos capazes de fazerem chorar.

E, por essa razão, vimo-nos obrigados a estimular o veio literário em cada um de

nossos colegas. A maioria de nós produz. Escreve para conseguir se entender ou para deixar de sentir. Escreve para desabafar e para por sentido no mundo em que habita. A maioria de

nós faz poesia sem saber. E, alguns, sabendo. Assim, decidimos juntar toda essa arte que escorre entre as carteiras do 1º ano A de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero, o 1JoA de 2014, em uma coletânea de poesias - com eventuais textos para aqueles que não quisessem se aventurar no universo lírico, só para ninguém ficar de fora.

Como o poeta português e seus heterônimos, cada um de nós é uma face do JoA, que

se expressa de uma maneira única, mas que representa o que é o todo: nossa sala. Um grupo heterogêneo, mas que se conflui. Num misto de manhãs divididas, sonhos confidenciados e estudos conjuntos. Pensamentos que se entrecruzaram, opiniões mudadas no “ouvi dizer que”. Tem amor no JoA, alguns que funcionaram outros que ficaram pela metade e os que viraram amor-amizade. Juntos, somos parte do processo de nos construirmos e nos conhecermos. Compartilhando essa jornada de se transformar naquilo que buscamos ser.

Somos todos aspirantes. Aspirantes a jornalistas, aspirantes a escritores,

aspirantes a gente. Queremos fazer da vida, palavra. E de nossas palavras, vida.

Carolina, uma contente integrante do JoA

Saudade Alana Claro

Existe essa palavra esquisita Que com apenas três sílabas Diz tudo e diz nada Começa com s e termina com e Não é sede Apesar de que talvez seja sede Sede de alguém Sede de um lugar Sede de um momento Uma sede com um apelido diferente Um nome único e irreverente Que nosso português abriga Essa palavra pequena Palavra dolorida Palavra sofrida Palavra querida

(In)vejo Alexandre Gonçalves Junior

felizes são aqueles que já amaram

amar é zig e zag de carinho

aqueles que amei já se foram

tiveram que seguir seu caminho

tentei amar outros

em vão

pois meu amor é para poucos

deste, facilmente,não abro mão

talvez um dia

encontre novamente alguém

que me faça companhia

ao invés de estar com ninguém

sou cego

não vejo o amor

sou cheio de ego

invejo o amor

Outubro ou nada

seu olhar nunca pareceu me olhar

sempre havia algo viciado em seu gostar

você pedia cuidado, mas não no sentido que eu gostaria

parece até que sabia que eu me apaixonaria

eus lábios se encaixavam com os seus

porém, não seriam meus

o tempo foi concedido

o amor não atendido

reminiscências são trazidas à tona em uma noite

um presente de grego de Afrodite

mesmo assim, suas mãos acolheram as minhas

enquanto eu tentava ler as entrelinhas

sem entender, pedi verificação

percebei, então, que não havia concessão

agora, o futuro parece incerto

será que você estaria aberto?

ou tudo

ou nada

Para além do Bojador

Amélia Prado

Soam nove horas no carrilhão e o sorriso de vó recepciona e reconhece seus próprios olhos castanhos nos da neta. A mesa está posta e as bolinhas de queijo são essenciais para o desenrolar da conversa: jornalista nenhum faz entrevista de barriga vazia. Num banquinho ao lado, a caixa transbordando de fotos e papéis amarelados antecipa que Rosa gosta de guardar o passado e, se possível, conservá-lo da melhor maneira que o tempo permitir. Fotos do tio exilado em Angola e o atestado de entrada no Brasil, armazenados em pastas e enrolados em seda, são as preciosidades de uma senhora que, antes de tudo, tem orgulho de ser imigrante. São 58 anos no Brasil depois de 12 em Portugal. Foi chamada de “portuguesa burra” e “bigoduda” e era motivo de piada das colegas por conta do sotaque e dos pronomes corretamente empregados. Sonhou em voltar para sua terra até que, em uma viagem acompanhando o pai, descobriu que os valores mudam, as pessoas mudam, o que é lar muda.

“Até Pessoa mudou”. O poeta que chorou a saudade que só os portugueses têm foi milhares de si antes mesmo de Rosa nascer. E por isso a senhorinha folheia as páginas do caderno de poemas que recitou durante toda sua vida com sorriso discreto de quem sabe das coisas. Ela aprendeu que deveria se aquietar na nova terra. Português que é português entende de saudade. Ricardo, Álvaro, Alberto, Bernardo: porque mudar é preciso!    

Antônio Balbi NOME SOBRE NOME

Bárbara Muniz

É Sampa E é chuva – amém Garoa discreta Que escorre

devagar pelo vidro da janela

Tinta tímida que escorrega macia pelo espaço livre do papel Gota de café que desliza e decora a porcelana da xícara pousada no pires Ai, ainda é terça

PRO CRAS TI NA ÇÃO C R I A T I V A

Cativa Aumenta

Sedenta Lamenta

A RO T I N A Cadê você que vai mudar

minha vida?

Desenhei borboletas à lápis Para brincar de voar Sonhar Apaguei as borboletas E substituí-as por letras Assim à tinta Porque sonhos Não Se Apagam (nunca)

Memórias de guardanapo Guardo, assim, te sorriso Meu registro: tinta e letra Nossa mesa Nosso canto Eu te amo

C O que foi que aconteceu

Entre você e eu Vejo só escuridão

Não há mais nenhum traço de paixão Nossos rostos estão cada vez mais distantes

E as lágrimas caem em instantes Parece que foi apenas uma mentira Toda a nossa história de fantasia Agora restam só as lembranças Do nosso sentimento de criança

Domingo Flamingo

Capitu Bella O vovô estava chorando, sorrindo com as lágrimas na bochecha A vovó achando absurdo falar besteira O tio estava bêbado de amor, de uísque A tia era postiça e amava missa aos domingo A mãe era conservadora, tinha três tatuagens Bolo de aniversário, cachaça dos 50 anos Mais um dia em família aos berros, aos prantos Churrasqueira acesa, cheirinho de carne Cerveja gelada, caipirinha, piña colada, Um dois ou três caindo, sambando. Vovô estava nos doces, lambuzando-se na marmelada Vovó falando palavrão, mandando ir para aquele lugar a cunhada O tio estava amando o bêbado e o uísque A tia virou da família, era candomblé e axé A mãe tinhas dois filhos, um de cabelo cacheado e outro menino. Domingo flamingo, ninguém acaba de pé Uns caem de bêbado, outros do filé Mas alguns só o amor fraternal, maternal, atemporal Os faz cair onde quiser.

Acordei cantando Capitu Bella

Tomei café assoviando. Te beijei sorrindo. Levei o Pedro na aula de pintura A menina azul levei pra montanha do barba ruiva Te beijei e tomei chá de carambola Subi no nosso pé de amor Enquanto a vovó desenhava, com aquarela, o vovô Fui buscar mamãe no dentista Que ela tirou água do céu É, eu acordei cantando. Cai da cama. E te beijei sorrindo.

Desejo Capitu Bella

Quero a tua branca pele grudada na minha pele, feito café com leite: a perfeita combinação. Sentir os teus dedos de menino-homem, se embaraçarem nos meus; como se nunca quiséssemos dizer um dia “adeus” Aspiro a tua mão tocando o meu corpo nu, passeando virginalmente entre meus cabelos. Subindo descendo subindo… esquecendo de tudo, relembrando velhos tempos. Nossa vergonha desvairada tua boca aberta, pronta pra ser fechada. ardo para grudar em você e te fazer palpitar meu corpo em chamas, com o teu se deitar Quero teu corpo em Terra, só pra mim não lhe peço coração, nem tua alma, só apenas o carnal, o banal da minha fala Te fazer homem de um jeito que ela não conseguiria, adultera sim, desejo latejante, nada sério,

quero te tirar do tédio, da monotonia. Quero te jogar na parede e matar minha sede de você

Do brilho dela

Capitu Bella Amar de todas as maneiras, na beira de um rio de abraços, te enroscar na cachos da minha cachoeira. Beija-la como se eu não tivesse visto outros lábios, te fixar no olhar como se não fosse te ver nunca mais e que certeza eu tenho de tudo isso? Eu diria muda, pra te ouvir calada pra te amar na estrada tirar a pedra do caminho Ah, o calor que me desasossega não é apenas do verão É de algo que queima aqui dentro olha só que clichê do meu coração.

Carolina de Barros Se eu me desfizer em pó de areia você me revolve, qual brisa que sopra no ritmo da alma? Traz perfume de sândalo, cheiro de aurora, traz a cor da orquídea que chora lá fora. Se eu me despedaçar em pétalas de espinho, se eu virar borboleta sem asa e sem flor, será que ainda há esperança pra quem já morreu mil vezes, mas nunca viveu um só amor? Eu respiro o som da sua dor, eu sangro estrelas, renasço no suspense da manhã que não nasceu. Marco com fogo os punhos alvos, cacos estilhaçados contra a pureza febril de pés que pisam descalços a vida, que caminham errantes pelas pontes de concreto e lágrimas. Me vejo perdida num mundo que é meu, na minha posse que não me pertence. Sempre rodeada de risos, de palmas e gritos, de palavras que se isolam e não chegam até mim. De matéria pulsante, mas incapaz de romper o casulo que me prende, o muro que me separa do resto. E esse casulo sou eu

Quando eu era pequena, sonhava em um dia ter alguém para contar meu sonho de mudar o mundo. Pra dizer tudo o que eu penso, sem pensar e brincar de esconde esconde pela madrugada te acho e finjo que não vi, só pra ver você me procurar. Eu mal alcançava o topo da cadeira e com a boca vermelha de amora, dançava pelo pomar no ritmo das batidas aceleradas depois de ouvir você sussurrar que me adora. Já contei que teu rosto combina com todo esse meu sonho de menina? Queria te dizer dos meus olhos de jabuticaba e que amo o barulho do vento fazendo folha balançar, quando sorrio fico com covinhas do lado da boca e tenho tantas pintas que nem consigo contar Mas não sei se quer ouvir... O que eu queria mesmo era você querendo me descobrir. Que você me desse a mão pra atravessar a rua, desejasse me ter de coração e não nua Que a gente risse ouvindo música velha, brigasse desgrudando o brigadeiro da panela, que você amasse ler com chuva e me ver falando besteira Sentisse o gosto de me olhar com o sol batendo devagar com carinho de verdade na brincadeira de gostar. Vem conhecer do que se faz a minha pele pelas linhas que eu tracei Essa tinta que escorre das minhas veias pra cantar todo o amor que eu não amei O suplício de mil anos, eu sinto no meu coração Teu braço em volta da minha cintura me devolvendo o chão. Pros seus dedos dançarem entre os meus cabelos seu sorriso se confundir dentro do meu

desenha o contorno do meu pescoço e os gritos do sentimento que morreu. Pra eu não morrer mais de saudade, toda essa distância entre a gente vira lembrança e invenção contra a verdade que é a vontade de te ter ao alcance da mão. Nem sei se eu devia dizer tudo o que eu disse, porque se eu for embora você vai ficar triste ou nem vai ligar? Ás vezes eu fico perdida nessas idas e vindas da gente não sei dizer o que você sente ou o que é que quer de mim Deixa essa palavra escorregar da tua boca e vir brincar na minha fazer cócegas na língua ficar presa entre os meus dentes e depois sumir em um suspiro adolescente

Eu ganhei uma rosa (aprendi que a vida é efêmera)

Dala Carvalho

nunca fui chegada à flores. até receber de alguém de quem eu realmente gostava. foi um gesto carinhoso, amável: um tipo de mimo.

eu sorri, agradeci. era apenas uma rosa. mas o importante mesmo era seu significado. como quem dissesse: penso em você.

deixei em cima da escrivaninha. não cuidei, segui dois dias com minhas obrigações.

no domingo a rosa murchou. em dois meses não recebi mais rosa alguma. ele não sorriu mais para mim. meu olhar não o cativava mais, seus gestos deixaram de ser gentis. ele não pensava mais em mim.

concluí: murchamos.

você, nós: fomos. deixamos de ser, em pouco tempo. o café de hoje cedo esfriou, um grande número de pessoas falece em apenas uma hora no mundo. o ponteiro do relógio não permanece o mesmo em apenas um segundo.

milhões de árvores (formas de vida, representação de nossos pulmões) foram demolidas. o pulmão do mundo morre, vários pulmões morrem.

os corações param de bater.

mesmo assim: as formas superficiais de se viver permanecem. o ódio se mantém e a degradação do mundo estão no meu olhar.

quando a rosa murchou, não dei importância. quando fui falar com você e não consegui, percebi a efemeridade do tempo que antes ignorava. percebi quantas almas passaram por mim e não fui capaz de apreciar.

somos pequenos com almas gigantescas. ficamos cegos em meio a prédios e grandes construções. passamos pela avenida e ignoramos as tantas formas de vida que ali também passam. somos desumanos com nós mesmos.

por dia perdemos tantas coisas que deixamos passar sem indagações. deixamos que as relações se percam, deixamos a rosa murchar, o tempo passar.

a vida é efêmera. hoje existe, amanhã, ninguém sabe.

a rosa murchou e nós não existimos mais: aprendi que a vida é efêmera

Ray of Pepper Sunlight

Elle Gomes

Meu amor laranja é. Titubeando em seu alaranjado medo de amar. Meu amor é o doce amargado na boca. Pertencendo a sua própria cólera, a sua própria fúria que me devora os dias. Meu amor tropeça em seus arroubos desajeitados. A contemplar o outro em tristeza. Como se tivesse em si uma inquietação pela melancolia, um suspirar pelo que corrói. Meu amor nasce nos primeiros tons rosáceos do amanhecer, se consumando pelas chamas do poente. Ele me canta os sons da vida, ele me entoa as doces canções do crepúsculo. Meu amor é o verão febril de Janeiro. É a promessa do reencontro. O pulsar enérgico do coração dentro do peito. Meu amor é a chama que me queima o espírito. A marcar os começos e os fins dos tempos. Meu amor laranja é. De um apimentado que me aquece a boca. Levando em si a fronte celestialmente tingida pelos acalorados raios do despertar e do adormecer do sol. Flutuando sob um céu em constante mudança. Desenhando as horas no firmamento. Desenhando os meus desejos. Me conduzindo mais uma vez até ondas de novos sonhos. Até onde o dia e a noite colidem em labaredas incendiadas de cor. My sweet ray of pepper sunlight.

Gosto de capas duras e cabeças líquidas

Elisa de Campos

Espelhos turvos ninguém olha Por quê? Nunca vi gente ajeitando o cabelo Vendo uma poça d’água suja Ou de chuva Nem depois que a novela acaba E sobra aquela tela negra da televisão. Computador, então, muito menos. A imagem seca? As pessoas secam? Elas se desligam? Ontem passei por uma vitrine quase límpida Olhei-me no video e dizia “Promoção! 50%off!” A vitrine me imagina Ela é reflexo da imaginação A gente é reflexo sem reflexão.

Casulo Érica Azzellini

Ele me chamava de Lua. Ele era meu Sol, é verdade Mas o que seria da Lua sem a Terra? Gravidade me fez despencar em ti Tu és onde habito, onde me escondo e onde me encontro És agora estrela guia de meus pensamentos És meu alimento, a cura para meu tormento Imersa em atmosfera de nostalgia, Tornaste-me completamente hedonista Coberta em intensa sinestesia, Um prazer de viver extremista, Arrebatedora e sutil conquista Porém, mesmo oferecendo liberdade, Tornei-me prisioneira de tua bondade, Refém desta abundante serenidade E mesmo assim, afirmo que não me importo, Pois pulsa juventude no sangue no sangue outrora morto Corro contra o ponteiro, Inimiga é a grande ampulheta E mesmo que seja puro devaneio, Observo a passagem deste mais belo cometa Assim agradeço e aproveito Como aspirante a poeta, um tanto discreta E peço apenas uma gentileza: prometas Que este forte arrepio não é só o vento

12/11/201

O Artista Ele não é feiticeiro, Mas tem um segredo E uma magia Que nunca o sacia Mesmo assim, a todos encanta E a moça até canta! Foi coroado com um dom Segura o sonho em suas mãos E com elas dá a forma De uma figura ou um som, Como raio ou trovão Segue esta adorável jornada Repleta de cores estreladas Percorre estradas de imaginação Guiado pela intuição Voa em promessas de papel virgem Navega por tempestuosas pautas e notas Nada de vertigem ou rotas Usa as cores do céu Empunha um pincel Contorna misteriosas silhuetas Bordadas a caneta Um surto de inspiração e entra em sintonia Com apenas uma palheta cria sinfonia E em uma noite andando na rua, Ouviu um conselho da Lua: “Explore tua imaginação! Expire bela criação!

Suspire arte, Exale felicidade! E poronde quer que tua mente ouse viajar, Lembra que no noração da moça tens um lar!”

30/12/2012 – Para Henrique Tiezzi

Quero ser seu Sol. Iluminarei seu caminho e espantarei seus medos taciturnos. Permitirei que seu coração se aqueça e que a beleza seja vista. Quero ser a Terra. Farei florescer em ti carinho, compaixão e alegria. Quero ser o Ar. Preencherei seus pulmões e o impulsionarei, farei-o voar, te libertarei. Quero ser o Oceano. Afundarei-o em conforto, cumplicidade e nostalgia. Quero ser seu tudo, mas nada sou sem você.

5/7/2012 (Primeira tentativa lírica)

George Dukor O que é poesia? São palavras rimadas? São coisas bonitas? Pra mim, poesia é você. Você que se esconde atrás dos montes. Você que tem o mais alegre sorriso. Você que é meu norte no sul. Você que deixava o céu mais azul. Deixava. Você que me deixou, me deixou saudade.

SUPRA(ESSENCIA)L

Giulia Gamba

Você tem que ser assim Você tem que ser assado No ponto, bem ou mal passado Você tem que ser notado Você tem que ser fulano Você tem que ser ciclano Porque nada se cria, tudo se copia Você tem que ser humano

_______________________________________________________________ A Noite em que a Lua visitou a Terra

Hares Datti Pascoal

Quando era criança eu não batia muito bem da cabeça não – agora sei disfarçar

melhor. Tinha muitas ideias, e em uma noite decidi contar todas as estrelas que habitavam

o céu. Mas havia um pequeno problema: eu só sabia contar até 10, um número pra cada

dedo. Como eu ia fazer o universo inteiro caber nas palmas de minhas mãos?

Olhei para cima e apertei bem apertadinhos meus olhos, mas sem fechá-los. Estiquei

bem esticadinho o meu braço, tentando alcançar as estrelas. Queria saber com quantos

pontinhos brilhantes era possível iluminar aquela vasta escuridão. Infinitos, ou algo bem

próximo. De qualquer maneira eram muitos mais do que 10 dedos.

Fiquei triste. Era impossível saciar minha curiosidade. Queria poder beber o céu

inteiro, engolir todo aquele azul que era mais azul que qualquer mar ou flor. Aquele universo

que brilhava mais que qualquer tesouro. Um mundo de fantasias bem acima de minha

cabeça. Ao alcance dos meus olhos, mas distante de mim. Era uma constante agonia, mas

que no fim virou poesia.

Foi em uma noite muito, muito escura. Em que as estrelas adormecerem e

esqueceram de brilhar. Abandonada no infinito celestial, se fez mais bela do que nunca. E

foi chegando de mansinho, como quem não queria nada.

Olhei pra cima e me assustei! Perguntei: “Lua! O que fazes tu aqui tão perto de nós?”.

Ao que ela logo respondeu: ”Ah doce menino, estava muito só hoje...”, e continuou com uma

voz de sonhos: “A resposta que você procura, doce menino, jamais será encontrada aqui.

Venha comigo e te mostrarei todos os cantos do infinito. Cada estrela amiga, cada planeta

ranzinza e cada cometa sereno. Tudo que brilha e ilumina ao alcance do toque!”.

Meus olhos brilhavam tal qual a dama que me falava - a fantasia se realizaria.

Verdade ou sonho, pouco me importava. A Lua fria se abaixou, subi e sentei. E então

alçamos voo. Um voo eterno entre constelações e mistérios. Amanheceu e acordei. Do

sonho mais louco que já tive.

Agora eu sabia quantas estrelas habitavam o céu... Desci e encontrei meu pai, que

me perguntou se eu tinha visto a lua no dia anterior. Respondi que sim. Ele falou que ela

estava especialmente linda, e que tinha sido o mais perto que ela chegaria da Terra nos

próximos 20 anos. Mal sabia ele que eu carregava o universo inteiro em minhas mãos!

Tropeços

Helô Barrense No meio do caminho tinha um mundo Tinha um mundo no meio do caminho Eu cabia nele, mas ele não cabia em mim Tentei penetrar na sua essência Mas cai no ralo fundo do afluente De um rio sem sequer uma nascente Por isso me falta vocabulário Para expressar a agonia De viver toda essa euforia Muitos procuram felicidade Eu procuro a mim mesma

Isadora Stelmach

Quando respirava, meu ar era rosas. Me afogava nas flores que me presenteou, meu pulmão se definia pétala, vivia em meio à essência macia que exalava de suas palavras. Deitei em sua cama e me cobri de seus caprichos enquanto você regava flores em meus pés. E elas cresceram. Sob seus olhos e seus cuidados, cresceram se enrolando em minhas pernas. Fiquei vestida de caules e entorpecida pelas cores que encharcavam meus olhos. Nem mesmo percebi quando a água parou de pingar e os caules foram enrijecendo. De repente, ficaram secos como areia, e me prenderam. Imobilizada, não pude nem mesmo gritar por seu nome quando você se foi. Se foi. Se foi junto com as cores, levadas pelo vento desbotado. E eu fiquei. Me juntei aos restos, virei semente em meio à terra abandonada que espera o regador. Que espera a água que me faria flor novamente.

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O papel é vermelho, meu corte é cardíaco, e a faca é sua. A alma sangra, me esvaziando o sentimento. Toda dor se vai, escorre rubra e lentamente de minha feridas e dança em minha pele em forma de tinta. O vermelho passa por meu pulso, molha meus dedos, tinge a caneta e encharca o papel. Escreve meus poemas. Minha dor, meu sangue, minha arte.

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Whatever

Juliana Lavorenti

Poderia escrever os adjetivos mais usados para me descrever, mas a hipocrisia rolaria solta aqui, afinal, cada um me vê de um jeito. Mais do que ninguém, posso afirmar que qualquer descrição feita por mim não faria sentido algum agora que estou em pleno processo de autoconhecimento.

Baseada na minha vida até então, nada melhor a dizer que: Eu penso demais. O que fará do meu processo de conhecimento algo interminável, já que todas as minhas opiniões, ideias, sentimentos, desejos e crenças estão em constante mudança, acompanhando minha linha de pensamento. Surpreendo-me por conseguir escrever, ler, ouvir e falar sobre determinado assunto enquanto minha mente fica rodando de tanto pensar.

E como qualquer pessoa que pensa demais, eu falo demais. (Oh, really?!)

Em suma, pensar demais resultou em mim a falar demais, tornando-me sincera (demais) e inconstante. Sendo inconstante, nada mais poderei afirmar sobre mim mesma além dessas três características, exceto: Eu sou feliz, porque isso é crônico.

Tea & Biscuits

Juliana Lavorenti

Peguei-me olhando fotos de bolos de cenoura com caldas de chocolate maravilhosamente derretidas minutos atrás. E não foi a primeira vez hoje. Nem nessa semana.

Apesar de ser loucamente apaixonada por músicas, filmes e minha gata, – amigos e amigas, eu também gosto muito de vocês – não há dúvida sobre minha paixão por comida. Eu sinto que, às vezes, nada me atrai mais que comida. É como se o paraíso começasse com C e o inferno com F. (F-O-M-E. Suposta palavra que eu mais fale e atormente meus amigos próximos, meu colega da frente nas aulas e minha mãe. Sim, Marina, eu peço desculpas pelos constantes momentos de insanidade em busca de alimento e Nath, por te acordar cedo para o café-da-manhã.)

Mesmo considerando a saudade, a tristeza e a felicidade súbitas sentimentos incontroláveis, a fome vai além. Só ela tira minha lucidez e mostra a verdadeira Juliana.

Mostra que sou mão de vaca, mas abro exceções pra consumir alguns prazeres indescritíveis (sim, cappuccino gelado de 9, 50 $, eu ainda me lembro de você); que sou disciplinada para tudo, exceto evitar aquele chocolate que estava me paquerando; que sou uma chata quando estou tentando alcançar meu objetivo de achar comida e apesar da frescura para algumas coisas, aprendi bem a lição com minha irmã de: Coma ou Morra. E, o que é realmente (ir)relevante, não me importo pra julgamento algum e irei comer o quanto for o bastante para me sustentar, na frente de quantos (des)conhecidos forem, em

qualquer tipo de situação, fazendo patchoco e me melecando toda como de costume, sem contar a cara mais feia possível de boba alegre.

“- O que você quer de aniversário? - Um livro, um cd ou uma barra de chocolate com menta.”

Nunca levaram a terceira opção a sério. Veem agora a importância desse texto? Eu gostei das blusas, das cartinhas e de, praticamente, a loja inteira do Boticário. Mas, sinceramente, inesquecível mesmo foi o prato de bolinhos de queijo que meu amigo tirou da mão de quem servia pra me dar como um xaveco.

Em cena Laís Franklin Vieira

Por um minuto ficamos todas em silêncio Pés juntos, mãos dadas e três respirações contínuas E que comece o ritual, Mais uma vez e pela última vez Entre as cochias, olhares e abraços sinceros Naquele momento não eram 18 corpos, Mas um único corpo pulsante E ... 5 , 6 , 7, 8

Um Zé Verão cai junto do nosso amor Se esvai sem nem deixar sabor Do beijo avermelhado Dos teus lábios, relicários Dos pedaços sequelados De um coração alado Bem fechado no meu peito Onde floreceu um dia Bela flor, cacheado cor de sol É, com certeza, rouxinol Que canta o canto, traz encanto Meu pequeno girassol.

É porta-luz sem entender Que a verdade é você E, mesmo irracionalmente, Torna-se estrela cadente E cruza o céu de meus desejos Deixa rastros, lamparejos Onde agora apenas vejo Uma estrela, em meio a esse vilarejo estelar Onde quisera eu ficar E ver a noite, deixar brilhar O sorriso em nosso olhar Amar-te sem titubear.

Perdendo-me em passos meus N'outros espaços desbravarei

Sem fé, destino, casa ou lei Um dia volto à Lua, eu sei, É você.

Pseudopoeta

Encontro me perdido, sem saber o que falar Em meio a tantas palavras, não sei quais escolher, e tudo que eu tinha pra dizer, desaparece assim que eu vejo você A pressão aumenta... Faria qualquer coisa para esse tormento passar Falo o que penso e volto a vagar

O que sobrou (virou poesia clichê)

-X.

Um fio de cabelo no meu sabonete, Uma toalha a mais pendurada na parede, E uma outra escova de dente. Um pé de meia perdido no meu cobertor, Uma mensagem de saudade no meu computador E, em seu bloquinho de notas, um recado de amor. Uma promessa de "vou voltar", O desejo de que seja eterno em quanto durar. E uma ligação atendida no meu celular. Um obrigado Mais um beijo demorado E um choro afogado Tchau. Boa viagem. Amo você E até a próxima…