OS LUSÍADAS, DE LUÍS DE CAMÕES: BREVE VIAGEM...

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Augustus – Rio de Janeiro – Vol. 08 – N. 16 – Jan./Jun. – 2003 – Semestral 39 –––––––––– OS LUSÍADAS, DE LUÍS DE CAMÕES: BREVE VIAGEM ESTRUTURAL Regina Michelli RESUMO: Esta obra narra uma história magnífica. O livro refere-se a uma viagem através de “mares nunca de antes navegados”: a descoberta do caminho marítimo para as Índias pelos portugueses. Estruturalmente, Os Lusíadas pode ser dividido em quatro pla- nos: ideológico (abarcando os pensamentos e comentários do Poeta), referencial (sobre a viagem portuguesa), mítico (focalizando os deuses da mitologia romana) e histórico (abor- dando a História de Portugal). Este artigo pretende apresentar um breve comentário sobre a obra e uma visão estrutural dos dez cantos que a compõem. ABSTRACT: This work tells a magnificent history. The book concerns about the trip through “seas never navigated before”: the maritime way to Indian’s discovery by Portu- guese men. Structurally. Os Lusíadas can be divided into four plans: ideological (showing the Poet’s thoughts and comments), referential (about the Portuguese trip), mythological (focusing the Gods of roman mythology) and historical (about Portuguese History). This paper intends to present a brief comment about the book and a structural view of the ten cantos which compose it. Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Luís de Camões, Os Lusíadas, análise estrutural. Keywords: Portuguese Literature, Luís de Camões. Os Lusíadas, structural analysis. A leitura d'Os Lusíadas é um convite a sin- grar, tal como os argonautas portugueses, mares sempre belos e doadores de revelações, enigma que se refaz a surpreender e a encantar os que ou- sam seguir o seu canto, percorrer os seus cantos, sempre com um novo olhar. Basta cerrar os olhos para acompanhar o Ga- ma e seus homens. Visualiza-se, pelas palavras do capitão ao rei de Melinde, a partida – dolorosa – de Belém, onde ecoa a voz emocionada e emo- cionante do Velho do Restelo, o choro de mães e esposas; todos compreendem o risco da aventura, pressentem o perigo que cerca a busca da ventura humana. Acompanha-se tanto o confronto com o Adamastor, marca e ultrapassagem do término do mundo, véus que se abrem à ousadia portuguesa, como a miséria humana exposta na degradação do escorbuto. Provoca risos a pretensão de Veloso descendo rapidamente a encosta de um outeiro, a fugir dos gentios, mas afirmando temer pela in- tegridade de seus companheiros sem a sua pre- sença na contenda. Aguarda-se com ansiedade o fim da tromba marinha. Chega-se ao presente da narrativa, em plena costa oriental da África, pre- cisamente no canal de Moçambique, onde se as- siste às diversas ciladas dos nativos contra os por- tugueses, insufladas por Baco. Torce-se pelo Ma- griço e pelos outros onze cavaleiros portugueses Doutora em Letras Vernáculas, Literatura Portuguesa. Professora da UNISUAM e da Faculdade de Formação de Professores da UERJ.

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  • Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 16 Jan./Jun. 2003 Semestral

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    OS LUSADAS, DE LUS DE CAMES: BREVE VIAGEM ESTRUTURAL

    Regina Michelli

    RESUMO: Esta obra narra uma histria magnfica. O livro refere-se a uma viagem atravs de mares nunca de antes navegados: a descoberta do caminho martimo para as ndias pelos portugueses. Estruturalmente, Os Lusadas pode ser dividido em quatro pla-nos: ideolgico (abarcando os pensamentos e comentrios do Poeta), referencial (sobre a viagem portuguesa), mtico (focalizando os deuses da mitologia romana) e histrico (abor-dando a Histria de Portugal). Este artigo pretende apresentar um breve comentrio sobre a obra e uma viso estrutural dos dez cantos que a compem.

    ABSTRACT: This work tells a magnificent history. The book concerns about the trip

    through seas never navigated before: the maritime way to Indians discovery by Portu-guese men. Structurally. Os Lusadas can be divided into four plans: ideological (showing the Poets thoughts and comments), referential (about the Portuguese trip), mythological (focusing the Gods of roman mythology) and historical (about Portuguese History). This paper intends to present a brief comment about the book and a structural view of the ten cantos which compose it.

    Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Lus de Cames, Os Lusadas, anlise estrutural. Keywords: Portuguese Literature, Lus de Cames. Os Lusadas, structural analysis.

    A leitura d'Os Lusadas um convite a sin-

    grar, tal como os argonautas portugueses, mares sempre belos e doadores de revelaes, enigma que se refaz a surpreender e a encantar os que ou-sam seguir o seu canto, percorrer os seus cantos, sempre com um novo olhar.

    Basta cerrar os olhos para acompanhar o Ga-ma e seus homens. Visualiza-se, pelas palavras do capito ao rei de Melinde, a partida dolorosa de Belm, onde ecoa a voz emocionada e emo-cionante do Velho do Restelo, o choro de mes e esposas; todos compreendem o risco da aventura, pressentem o perigo que cerca a busca da ventura humana. Acompanha-se tanto o confronto com o

    Adamastor, marca e ultrapassagem do trmino do mundo, vus que se abrem ousadia portuguesa, como a misria humana exposta na degradao do escorbuto. Provoca risos a pretenso de Veloso descendo rapidamente a encosta de um outeiro, a fugir dos gentios, mas afirmando temer pela in-tegridade de seus companheiros sem a sua pre-sena na contenda. Aguarda-se com ansiedade o fim da tromba marinha. Chega-se ao presente da narrativa, em plena costa oriental da frica, pre-cisamente no canal de Moambique, onde se as-siste s diversas ciladas dos nativos contra os por-tugueses, insufladas por Baco. Torce-se pelo Ma-grio e pelos outros onze cavaleiros portugueses

    Doutora em Letras Vernculas, Literatura Portuguesa. Professora da UNISUAM e da Faculdade de Formao de Professores da UERJ.

    Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 16 Jan./Jun. 2003 Semestral

    Augustus Rio de Janeiro Vol. 08 N. 16 Jan./Jun. 2003 Semestral

    OS LUSADAS, DE LUS DE CAMES:

    BREVE VIAGEM ESTRUTURAL

    Regina Michelli(

    Resumo: Esta obra narra uma histria magnfica. O livro refere-se a uma viagem atravs de mares nunca de antes navegados: a descoberta do caminho martimo para as ndias pelos portugueses. Estruturalmente, Os Lusadas pode ser dividido em quatro planos: ideolgico (abarcando os pensamentos e comentrios do Poeta), referencial (sobre a viagem portuguesa), mtico (focalizando os deuses da mitologia romana) e histrico (abordando a Histria de Portugal). Este artigo pretende apresentar um breve comentrio sobre a obra e uma viso estrutural dos dez cantos que a compem.

    ABSTRACT: This work tells a magnificent history. The book concerns about the trip through seas never navigated before: the maritime way to Indians discovery by Portuguese men. Structurally. Os Lusadas can be divided into four plans: ideological (showing the Poets thoughts and comments), referential (about the Portuguese trip), mythological (focusing the Gods of roman mythology) and historical (about Portuguese History). This paper intends to present a brief comment about the book and a structural view of the ten cantos which compose it.

    Palavras-chave: Literatura Portuguesa, Lus de Cames, Os Lusadas, anlise estrutural.

    Keywords: Portuguese Literature, Lus de Cames. Os Lusadas, structural analysis.

    A leitura d'Os Lusadas um convite a singrar, tal como os argonautas portugueses, mares sempre belos e doadores de revelaes, enigma que se refaz a surpreender e a encantar os que ousam seguir o seu canto, percorrer os seus cantos, sempre com um novo olhar.

    Basta cerrar os olhos para acompanhar o Gama e seus homens. Visualiza-se, pelas palavras do capito ao rei de Melinde, a partida dolorosa de Belm, onde ecoa a voz emocionada e emocionante do Velho do Restelo, o choro de mes e esposas; todos compreendem o risco da aventura, pressentem o perigo que cerca a busca da ventura humana. Acompanha-se tanto o confronto com o

    Adamastor, marca e ultrapassagem do trmino do mundo, vus que se abrem ousadia portuguesa, como a misria humana exposta na degradao do escorbuto. Provoca risos a pretenso de Veloso descendo rapidamente a encosta de um outeiro, a fugir dos gentios, mas afirmando temer pela integridade de seus companheiros sem a sua presena na contenda. Aguarda-se com ansiedade o fim da tromba marinha. Chega-se ao presente da narrativa, em plena costa oriental da frica, precisamente no canal de Moambique, onde se assiste s diversas ciladas dos nativos contra os por-tugueses, insufladas por Baco. Torce-se pelo Magrio e pelos outros onze cavaleiros portugueses

    na justa contra os doze de Inglaterra em defesa da honra das damas inglesas, narrativa de cavalaria contada no ao redor da fogueira, mas no tombadilho, em um momento de viglia noturna. Respira-se com alvio pela chegada a Calicute, quando outras peripcias aguardam os heris.

    Nem s da viagem martima se tece a narrativa d'Os Lusadas. H um convite a navegar pelos mares da Histria portuguesa. Esfumaando a realidade presente, a analepse se impe: o rela-to do Gama ao rei de Melinde traz cena a herica Histria da nao portuguesa e o comeo da viagem martima, parte dessa mesma Histria. Observam-se ferrenhas batalhas com seus reis e heris gloriosos, seus milagres. Descobrem-se intrigas palacianas envolvendo sedutoras mulheres, capazes de morrer ou de lutar por seus amores, contra tudo e contra todos: D. Teresa, D. Ins de Castro, D. Leonor Teles. Acompanha-se o sonho proftico de D. Manuel, estmulo grande conquista do Oriente.

    Como num filme, h cortes, mudanas de plano. Logo se est no Olimpo, ao lado de deuses e deusas, participando do Conslio que decidir sobre o sucesso ou no da viagem martima para as ndias. Emociona a defesa acalorada de Vnus, provocando dio mortal ao "invejoso" Baco. Acompanha-se, extasiados, a deusa da beleza a arrancar suspiros pelo caminho celeste ao encontro de Jpiter. O fundo dos mares deslumbra os sentidos com o palcio encantado de Netuno, onde acontece o segundo Conslio, agora com resultado desfavorvel aos portugueses. A tenso domina diante da tempestade, aplacando-se quando nereidas belssimas amansam furiosos ventos. Basta querer, para imaginar as delcias da Ilha dos Amores e invejar aquele clima, em tudo paradisaco.

    Os Lusadas so, sem dvida, um texto que abarca as nuances da vida humana. Em todo bom filme, em toda boa "viagem", h guerras e paixes, aventuras e desventuras, recordaes e profecias (analepses e prolepses). Neste h tambm amargas reflexes sobre as mazelas humanas: o Poeta (o locutor do poema e no o narrador, BERARDINELLI, 1973, p. 16) reflete sobre a condio humana; queixa-se do destino e dos seus contemporneos, insensveis arte; acusa os opressores do povo; avalia o poder do vil metal. Particular a sua opinio acerca da experincia, superior ao conhecimento, e do amor, desculpando sempre os erros cometidos em nome deste sentimento.

    Todas essas histrias distribuem-se ao longo de dez cantos, com aproximadamente cem estncias cada um, em versos decasslabos. A configurao estrutural da obra evidencia trs grandes discursos o ideolgico, o narrativo e o histrico , seguindo o trabalho traado pelo Prof. Jorge de Sena (1980, p. 111-119), que distingue quatro pla-nos em que o poema coexiste:

    o do prprio Poeta, quando pessoalmente intervm com comentrios que no esto postos na boca de qualquer personagem; o da narrativa da Viagem propriamente dita (desde as proximidades de Moambique ndia, e desta Ilha dos Amores, com o re-gresso rapidamente anotado depois); o da ao direta ou indireta dos Deuses; e o da Histria de Portugal, desde as origens at partida de Lisboa em 1497. (1980, p. 111).

    O discurso ideolgico caracteriza-se pelos excursos do Poeta reflexes, anlises, comentrios, exortaes, lamentos , algumas vezes im-pregnados da ideologia vigente poca, outras expressando a prpria opinio do escritor. Cleonice Berardinelli esclarece que a ideologia caracterstica do momento em que se cria o poema uma ideologia mista de feudalismo e humanismo, que se completam e contradizem (1973, p. 17), acrescentando a que condiciona a narrativa pica s regras do gnero.

    O incio do primeiro canto j um exemplo de excurso. A proposio, da estncia primeira terceira, define a matria potica: Cantando espalharei por toda parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte, os feitos militares e os homens responsveis pela expanso martima, aqueles que ultrapassaram os limites geogrficos (por mares nunca de antes navegados) e a prpria medida humana, representantes da heroicidade renascentista, perodo que celebra o antropocentrismo. Mais ainda se prope a cantar o nosso bardo: o passado ser reconstrudo atravs das histrias dos reis que difundiram a f crist e dilataram o imprio portugus, segundo o esprito cruzadstico; celebrar aqueles que se imortalizam pelos feitos gloriosos e, por permanecerem na memria dos povos, libertam-se do esquecimento causado pela morte. A terceira estncia mostra, nas entrelinhas, que no somente o heri vence a morte: tambm o escritor imortaliza-se atravs de sua obra. o momento de anunciar que outro valor mais alto se alevanta suplantando toda a literatura antiga. Cames entrecruza basicamente dois eixos temticos: de um lado, o mar e a literatura clssica, presentes na citao ao sbio Grego (Ulisses, heri da Odissia, obra atribuda a Homero, poeta grego) e ao Troiano (Enias, heri da Eneida, obra de Virglio, poeta latino); de outro, a guerra e a Histria, na referncia a Alexandre Magno (rei da Macednia) e a Trajano (im-perador romano). O peito ilustre lusitano e a obra que canta esse homem outro valor mais alto suplantam toda a glria passada, martima e histrica, atingindo o prprio nvel mtico: curvam-se aos portugueses os deuses do mar e da guerra Netuno e Marte , evidenciando a supre-macia do homem renascentista portugus; a Musa antiga cessa tambm o seu canto face ao novo canto que surge, evidenciando o valor do poeta e de sua obra: o poema pico vale muito mais do que os feitos militares que lhe servem de pretexto (SARAIVA, 1972, p. 159). O Prof. Anazildo Vasconcelos da Silva destaca que o poeta/narrador evidencia a conscincia de uma nova manifestao pica j Bna proposio:

    A vemos, no s a conscincia manifesta de estruturar uma nova proposio de realidade, inerente ma-tria pica que constitui o relato, como tambm a conscincia de uma nova concepo literria Cesse tudo outro valor. E na invocao, o poeta/nar-rador volta a explicitar a certeza de estar fazendo realmente uma epopia, porm com outra concepo literria, que no poder jamais ser confundida com a concepo clssica: E vs, Tgides minhas, pois criado/ Tendes em mim um novo engenho ardente (1984, p. 21).

    Este canto surpreendentemente encerra-se num tom de desalento: um excurso do poeta que reflete sobre a condio humana e sua pequenez aps as ciladas traioeiras preparadas pelos mouros para dizimar a esquadra portuguesa:

    Oh! Grandes e gravssimos perigos,

    Oh! Caminho da vida nunca certo,

    Que, aonde a gente pe sua esperana,

    Tenha a vida to pouca segurana!

    No mar, tanta tormenta e tanto dano,

    Tantas vezes a morte apercebida;

    Na terra, tanta guerra, tanto engano,

    Tanta necessidade avorrecida!

    Onde pode acolher-se um fraco humano,

    Onde ter segura a curta vida,

    Que no se arme e se indigne o Cu sereno

    Contra um bicho da terra to pequeno?

    (OL, I, p. 105-106).

    O discurso narrativo centra-se nas peripcias referentes viagem martima para as ndias: o nvel referencial reporta-se viagem propriamente dita, comandada por Vasco da Gama fio condutor da narrativa (BERARDINELLI, 1973, p. 18); o nvel mtico define-se pela interferncia das divindades no destino humano. Os dois planos entrelaam-se harmoniosamente de tal sorte que um no existe sem o outro. Antdio Jos Saraiva reala que o mundo mitolgico a mola real do poema, pois os deuses no so simples retrica, mas as figuras com que se ata e desata a prpria fbula do poema. Precisamos de subir ao Olimpo para encontrar os corpos vivos e reais banhados pela luz e capazes de movimento (1972, p. 195, 197).

    A viagem inicia-se em media res, com os navegantes j na costa oriental africana. No canto I, estncia 19, logo aps a concluso da dedicatria feita ao rei de Portugal poca, D. Sebastio, iluminam-se as embarcaes: J no largo Ocea-no navegavam,/ As inquietas ondas apartando;/ Os ventos brandamente respiravam,/ Das naus as velas cncavas inchando; na estncia seguinte, a ao se desloca para o Olimpo, entrando em cena as divindades, momento do primeiro conslio. A idia de simultaneidade entre os dois planos o referencial e o mtico acontece pela conjuno temporal: J no largo Oceano navegavam, Quando os Deuses no Olimpo luminoso,/ Onde o governo est da humana gente,/ Se ajuntam em conslio glorioso (OL, I, 20, v. 1-2); ao fim do conslio, estncia 41, retoma-se a narrativa da viagem, localizando geogrfica e temporalmente os navegantes:

    Enquanto isto se passa na fermosa

    Casa etrea do Olimpo omnipotente,

    Cortava o mar a gente belicosa

    J l da banda do Austro e do Oriente,

    Entre a costa Etipica e a famosa

    Ilha de So Loureno; e o Sol ardente

    queimava ento os Deuses que Tifeu

    co temor grande em pexes converteu.

    Tal estratgia tambm utilizada na articulao do segundo conslio, o do fundo do mar, viagem. Enquanto os navegantes tentam espantar o sono durante a troca de viglia noturna, contando a histria dos Doze de Inglaterra um relato cavaleiresco medievo em plena narrativa renascentista , Baco dirige-se ao palcio de Netuno a fim de insuflar as divindades martimas contra os portugueses:

    As ondas navegavam do Oriente,

    J nos mares da ndia, e enxergavam

    Os tlamos do Sol, que nace ardente:

    J quase seus desejos se acabavam.

    Mas o mau de Tioneu, que na alma sente

    As aventuras que ento se aparelhavam

    gente lusitana, delas dina,

    Arde, morre, blasfema e desatina.

    (OL, VI, p. 6)

    Enquanto este conselho se fazia

    No fundo aquoso, a leda frota

    Com vento sossegado prosseguia,

    pelo tranqilo mar, a longa rota.

    (OL, VI, p. 38)

    No nvel mtico, avulta a deusa da beleza e do amor, Vnus, sempre atenta aos perigos por que possam passar os seus protegidos. Contrrio navegao portuguesa, surge Baco, o deus do vinho e da agricultura, aquele que antes deveria defender os portugueses pela ascendncia ligada a Luso, considerado filho ou privado de Baco.

    O discurso histrico distende-se pelo passado portugus e tambm por acontecimentos futuros em relao ao tempo diegtico (a narrativa situa-se, cronologicamente, no ano de 1498), porm j conhecidos do escritor (a primeira edio da obra data de 1572). Quando Vasco da Gama chega a Melinde, primeiro porto efetivamente seguro na costa oriental africana, o rei pede-lhe que conte sobre trs coisas: Da terra tua o clima e regio/ Do mundo onde morais; a Histria de Portugal, vossa antiga gerao/ E o princpio do Reino to potente; a histria da navegao, os rodeios/ Longos que te traz o Mar irado (OL, II, 109-110). Tal pedido enseja o encaixe do passado portugus na obra, narrado por Vasco da Gama. Os cantos III e IV so dedicados s duas primeiras dinastias portuguesas: o terceiro, ao resgate da origem do reino e dinastia de Borgonha; o quarto, a dinastia de Avis. Mais tarde, incio do canto VIII, j em Calicute, na ndia, o Catual (governador de uma cidade) interroga Paulo da Gama sobre o significado das bandeiras na nau capitaina, focalizando-se novamente algumas passagens da Histria portuguesa, agora sendo Paulo da Gama o narrador. Outra referncia histrica o relato de Veloso sobre o episdio conhecido como os Doze de Inglaterra, no Canto VI. Para inserir em sua obra feitos e conquistas portuguesas realizadas aps o ano da navegao do Gama, Cames recorre s profecias: como so as divindades que anunciam o futuro da nao, no h qualquer inverossimilhana na obra. Jpiter, tentando tranqilizar a filha, Vnus, prediz as conquistas por-tuguesas na ndia. Adamastor ameaa o Gama e toda a tripulao com Naufrgios, perdies de toda sorte,/ Que o menor mal de todos seja a morte! (OL, V, 44, v. 7-8). Na Ilha dos Amores, uma ninfa relata os feitos futuros portugueses, referindo-se particularmente a heris e governadores da ndia e Tethys mostra, diante da Mquina do mundo, lugares onde os portugueses realizaro feitos relevantes (OL, X, 5-7,10-73, 91-141).

    Analisando o modelo pico renascentista, Anazildo Vasconcelos da Silva reala o inter-relacionamento dos planos estruturais que caracterizam a obra: a Histria de Portugal serve de contexto para a Viagem, que nela se insere, convertendo-se tambm em Histria por ser j fato passado. Desse modo, o relato insere estruturalmente a Viagem na Histria, como feito portugus que . (1984, p. 22-23). Acrescenta ainda:

    Mas a Histria de Portugal mais do que simples contexto para a Viagem, uma vez que realiza epicamente o heri e o relato. Narrar a Largada, incio da Viagem, como um feito histrico portugus, coloca o fato no mesmo nvel dos demais acontecimentos narrados, e faz Vasco da Gama, na qualidade de agenciador da Histria, ingressar na galeria dos heris, e tomar assento ao lado dos que fizeram, antes dele, a Histria. ()

    De igual modo, os excursos do poeta/narrador integram a narrativa dos deuses que, de outra forma, seria arbitrria (1984, p. 23).

    Os quadros a seguir apresentam a distribuio da matria potica pelos discursos apresentados, singularizando cada canto.

    ESTRUTURA dOS LUSADAS

    DISCURSO

    IDEOLGICO

    DISCURSO NARRATIVO

    DISCURSO

    HISTRICO

    NVEL REFERENCIAL

    NVEL MTICO

    I

    1-3:Proposio

    4-5: Invocao

    6-18:Dedicatria

    105-106: A condio humana

    19:navegao no Oceano ndico, costa oriental da frica

    42-72: Moambique

    82-94: ataque dos mouros, acordo (piloto)

    95-99: Quloa

    101-105:o piloto orienta-os para Mombaa; chegada

    20-41:Conslio dos Deuses no Olimpo

    20-23:convocao (Mercrio), viagem, chegada dos deuses

    24-29:fala de Jpiter

    30-34:Baco e Vnus

    35:reao dos deuses 36-40: Marte

    41:deciso de Jpiter

    73-81:ciladas de Baco: combate e piloto falso

    100:Vnus afasta a armada com ventos contrrios

    102: interveno de Vnus

    104: ao de Baco

    II

    1-9:convite maldoso do rei para entrarem barra; desembarque de dois condenados

    14-18: a bordo da nau capitaina

    25-28: fuga dos mouros e do piloto

    29-32: orao do Gama

    64-71: partida; no mar

    72-91: chegada a Melinde; festejos

    92-113: encontro solene do Gama com Rei.

    10-13: Baco disfara-se de sacerdote cristo

    18-24: Vnus e as Nereidas impedem a entrada no porto

    33-41: seduo de Jpiter por Vnus

    42-55: previses de Jpiter

    56-63: ao de Mercrio: preparar a recepo em Melinde, afastar o Gama de Mombaa.

    (

    DISCURSO

    IDEOLGICO

    DISCURSO NARRATIVO

    DISCURSO HISTRICO

    NVEL

    REFERENCIAL

    NVEL MTICO

    III

    1-2: invocao a Calope

    142-143: a submisso amorosa

    (

    3-5: exrdio do Gama

    6-20: descrio da Europa; Portugal

    21-22: Hist. Primitiva: Luso e Viriato

    23-24: Afonso VI, rei de Castela e Leo

    25-28: Conde D. Henrique

    28-84: D.Afonso Henriques(1128-1185)

    1 rei, dinastia de Borgonha:

    29-33: contra D. Teresa; S. Mamede

    34-41: contra Afonso VII; Egas Moniz

    42-54: Batalha de Ourique (milagre)

    55-67: contra os mouros (conquistas)

    57-60: tomada de Lisboa

    68-73: conquista de Badajoz , domnio de Leo, aos mouros; vencido pelo rei D.Fernando, de Leo (punio divina)

    83-84: morte de D. Afonso

    85-89: D. Sancho I (1185-1211)

    90: D. Afonso II (1211-1223)

    91-93: D. Sancho II (1223-1248)

    94-95: D. Afonso III (1248-1279)

    96-98: D. Dinis (1279-1325)

    99-135: D. Afonso IV (1325-1357):

    99-117: D. Maria; Batalha do Salado

    118-135: Ins de Castro

    136-137: D. Pedro I (1357-1367)

    138-143: D. Fernando (1367-1383)

    IV

    1-7: crise de sucesso aps a morte de D. Fernando; escolha de D. Joo, mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I

    8-13: organizao das tropas (port.-esp.)

    14-21: Nun lvares Pereira

    22-27: preparativos para a batalha

    28-45: Batalha de Aljubarrota

    43-45: vitria: D. Joo I (1385-1433)

    dinastia de Avis (2)

    46: outras conquistas

    47: casamento de D. Joo I com D. Filipa

    de Lencastre: paz na pennsula

    48-50: invaso de Ceuta

    51-53: D. Duarte (1433-1438) e o Infante Santo (D. Fernando)

    54-59: Afonso V (1438-1481)

    60-65: D. Joo II 1481-1495); viagens

    66-67: D. Manuel I (1495-1521)

    68-75: sonho proftico de D. Manuel

    76-83: convite ao Gama; preparativos para a viagem

    84-93: despedidas

    94-104: Velho do Restelo

    DISCURSO

    IDEOLGICO

    DISCURSO NARRATIVO

    DISCURSO HISTRICO

    NVEL REFERENCIAL

    NVEL MTICO

    V

    24: o valor da experincia (

    86-89: elogio do Gama tenacidade portuguesa

    92-100: lamento do Poeta sobre o desprezo epopia

    (

    90-91: o Poeta retoma a narrativa; em Melinde

    (

    1-3: a largada de Lisboa

    4-17: viagem; Cruzeiro do Sul

    18: fogo-de-santelmo

    18-24: tromba marinha

    25-36: desembarque na frica: baa de Santa Helena

    30-36: aventura de Ferno Veloso

    37-60: o gigante Adamastor:

    38: discurso do Gama

    39-40: descrio do Adamastor

    41-48: fala do gigante (previses)

    49: interpelao do Gama

    50-59: resposta do Adamastor

    60: desaparecimento do gigante

    61-83: prosseguimento da viagem

    81-83: o escorbuto

    84-85: viagem at Melinde (fim da narrativa do Gama)

    86-89: fim da fala do Gama (iniciada no Canto III)

    VI

    95-99: o esforo herico e o valor a glria

    1-5: partida de Melinde

    38-69: conversa dos marinheiros: episdio dos Doze de Inglaterra (

    70-79: surge a tempestade martima

    80-83: prece do Gama

    84: continua a tempestade

    92-93: terra vista, Calicut

    93-94: Gama agradece a Deus

    6-37: Conslio do Mar

    6-7: Baco vai ao palcio de Netuno

    8-13: descrio do palcio

    14-19: explicao de Baco, convocao (Trito), chegada dos deuses.

    27-34: discurso de Baco

    35: deciso do conslio

    36: Proteu e Tethys

    37: Elo solta os ventos

    85-91: intercesso de Vnus: convoca as Ninfas amorosas para abrandar, por amores, os ventos irados.

    43-69: Os Doze de Inglaterra

    DISCURSO

    IDEOLGICO

    DISCURSO NARRATIVO

    DISCURSO HISTRICO

    NVELREFERENCIAL

    NVEL MTICO

    VII

    2-15: elogio ao esprito cruzadstico luso e exortao aos povos da Europa crist

    78-87: lamentos; invocao s Ninfas (Tejo e Mondego).

    1: chegada (24 de maio de 1498)

    16: entrada em Calicut

    17-22: descrio da ndia

    23-27: desembarque de Joo Martins; encontro com o mouro Monaide (intrprete).

    28-42: Monaide visita a frota e fala sobre o Malabar (os costums, as castas, a religio).

    42-43: desembarque do Gama

    44-45: recepo do Catual (regedor) e Naires (nobres)

    46-49: na cidade, no templo.

    50-54: palcio do Samorim

    55-56: vaticnio do Catual

    57-66: visita ao Samorim

    67-72: Catual informa-se sobre os portugueses com Monaide

    73-77: visita do Catual a Paulo da Gama (significado das bandeiras da nau capitaina)

    VIII

    54-55: advertncia sobre os cuidados na seleo de conselheiros

    96-99: reflexes sobre o poder do ouro

    1-43: explicao das figuras nas bandeiras por Paulo da Gama ao Catual (

    44: retorno do Catual a terra

    45-46: previses dos arspices, que vaticinam eterno cativeiro.

    51-53: revolta contra o Gama, intensificada pelos muulmanos.

    56-78: entendimentos do Gama com o Samorim. Este cr no Gama, comeando a julgar mal os Catuais (subornados pelo ouro muulmano), alm de mostrar interesse nas trocas comerciais com os portugueses; ordena o regresso frota.

    79-95: Gama torna-se refm do Catual, libertado por fazendas europias.

    47-50: Baco aparece em sonhos a um sacerdote maometano

    10-12: Afonso Henriques

    28-32: Nun lvares Pereira

    DISCURSO

    IDEOLGICO

    DISCURSO NARRATIVO

    DISCURSO HISTRICO

    NVELREFERENCIAL

    NVEL MTICO

    IX

    25-29: viso de erros grandes que h no mundo acerca do amor

    92-95: exortao sobre o prmio aos heris

    1-12: preparativos

    16-17: partida (regresso)

    51-52: a armada avista a Ilha

    18-50: Vnus prepara a Ilha dos Amores: ajuda de Cupido

    18-24: delineia-se o plano

    30-35: ao dos Cupidos: tiros desordenados, amores desconcertados

    36: encontro de Vnus e Cupido

    37-42: fala de Vnus

    43-50: ao de Cupido (Fama) e Vnus (Ninfas)

    53-63: descrio da Ilha

    64-69: desembarque dos portugueses, viso das Ninfas.

    70-74: a perseguio

    75-82: aventura de Lionardo

    83-84: casamentos entre portugueses e Ninfas

    85-87: Tethys e Gama

    88-92: os prmios, o sentido simblico da Ilha.

    X

    8-9: invocao a Calope

    119: crtica aos maus religiosos

    145-156: lamentos, vaticnio de futuras glrias.

    143-144: viagem de regresso; chegada a Portugal.

    1-7: banquete na Ilha

    10-74: profecias da Ninfa (

    75-81: Tethys mostra ao Gama a Mquina do Mundo (viso geocntrica)

    82-85: explicao sobre divindades pags e Deus

    85-90: volta a explicar a Mquina do Mundo

    91-107: Tethys mostra a Terra e os feitos portugueses (

    108-118: Tethys narra o martrio de So Tom

    120-143: profecias (cont.). (

    142-143: fim da fala de Tethys, despedida.

    53-54: Gama

    128: naufrgio de Cames

    140: Brasil

    BIBLIOGRAFIA

    AGUIAR E SILVA, Vitor Manuel de. Cames: labirintos e fascnios. Lisboa: Cotovia, 1994.

    BECHARA, Evanildo e SPINA, Segismundo. Os Lusadas Antologia. Rio de Janeiro: Grifo-MEC, Col. Littera 5, 1973.

    BERARDINELLI, Cleonice. Estudos camonianos. Rio de Janeiro: MEC Programa Especial UFF-FCRB, 1973.

    CAMES, Luis de. Os Lusadas. Comentados por Augusto Epifnio da Silva Dias. Rio de Janeiro: MEC, 1972.

    _________. Os Lusadas. Ed. organizada por Emanuel Paulo Ramos. Porto: Porto, 1974.

    _________. Os Lusadas. Ed. comentada. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exrcito, 1980.

    MARQUES, A. H. de Oliveira. Histria de Portugal. Lisboa: Palas, 1980, 3 v.

    SARAIVA, Antnio Jos. Lus de Cames. Lisboa: Europa-Amrica, 1972.

    SENA, Jorge de. A estrutura de Os Lusadas e outros estudos camonianos e de poesia peninsular do sculo XVI. Lisboa: Ed. 70, l980.

    SILVA, Anazildo Vasconcelos. Semiotizao literria do discurso. Rio de Janeiro: Elo, 1984.

    (Doutora em Letras Vernculas, Literatura Portuguesa. Professora da UNISUAM e da Faculdade de Formao de Professores da UERJ.

    A referncia obra Os Lusadas, de Lus de Cames, indicar o canto em algarismos romanos, seguindo-se, em arbicos, o nmero da estncia e o verso, quando necessrio.

    As caravelas esto do lado sudeste (Austro, sul) do litoral de Moambique; a ilha de So Loureno hoje a de Madagascar. A estncia indica que o sol entrava no signo de Peixes (entre 10 de fevereiro e 12 de maro, poca, ano de 1498), atravs da referncia mitolgica: Tifeu era um gigante que, ao aparecer repentinamente no Eufrates, onde Vnus e Cupido se banhavam, to grande pavor nestes despertou, que os transformou em peixes (Anotaes de Emanuel Paulo Ramos obra).

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    Regina Silva MicheliRegina Michelli.D.doc

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    na justa contra os doze de Inglaterra em defesa da honra das damas inglesas, narrativa de cavalaria contada no ao redor da fogueira, mas no tomba-dilho, em um momento de viglia noturna. Respi-ra-se com alvio pela chegada a Calicute, quando outras peripcias aguardam os heris.

    Nem s da viagem martima se tece a narrativa d'Os Lusadas. H um convite a navegar pelos mares da Histria portuguesa. Esfumaando a realidade presente, a analepse se impe: o rela- to do Gama ao rei de Melinde traz cena a heri-ca Histria da nao portuguesa e o comeo da viagem martima, parte dessa mesma Histria. Observam-se ferrenhas batalhas com seus reis e heris gloriosos, seus milagres. Descobrem-se in-trigas palacianas envolvendo sedutoras mulheres, capazes de morrer ou de lutar por seus amores, contra tudo e contra todos: D. Teresa, D. Ins de Castro, D. Leonor Teles. Acompanha-se o sonho proftico de D. Manuel, estmulo grande con-quista do Oriente.

    Como num filme, h cortes, mudanas de pla-no. Logo se est no Olimpo, ao lado de deuses e deusas, participando do Conslio que decidir sobre o sucesso ou no da viagem martima pa-ra as ndias. Emociona a defesa acalorada de Vnus, provocando dio mortal ao "invejoso" Baco. Acompanha-se, extasiados, a deusa da be-leza a arrancar suspiros pelo caminho celeste ao encontro de Jpiter. O fundo dos mares deslum-bra os sentidos com o palcio encantado de Ne-tuno, onde acontece o segundo Conslio, agora com resultado desfavorvel aos portugueses. A tenso domina diante da tempestade, aplacando-se quando nereidas belssimas amansam furiosos ventos. Basta querer, para imaginar as delcias da Ilha dos Amores e invejar aquele clima, em tudo paradisaco.

    Os Lusadas so, sem dvida, um texto que abarca as nuances da vida humana. Em todo bom filme, em toda boa "viagem", h guerras e pai-xes, aventuras e desventuras, recordaes e pro-fecias (analepses e prolepses). Neste h tambm amargas reflexes sobre as mazelas humanas: o Poeta (o locutor do poema e no o narrador, BE-RARDINELLI, 1973, p. 16) reflete sobre a con-dio humana; queixa-se do destino e dos seus contemporneos, insensveis arte; acusa os o-pressores do povo; avalia o poder do vil metal.

    Particular a sua opinio acerca da experincia, superior ao conhecimento, e do amor, desculpan-do sempre os erros cometidos em nome deste sen-timento.

    Todas essas histrias distribuem-se ao longo de dez cantos, com aproximadamente cem estn-cias cada um, em versos decasslabos. A configu-rao estrutural da obra evidencia trs grandes discursos o ideolgico, o narrativo e o histrico , seguindo o trabalho traado pelo Prof. Jorge de Sena (1980, p. 111-119), que distingue quatro pla- nos em que o poema coexiste:

    o do prprio Poeta, quando pessoalmente intervm com comentrios que no esto postos na boca de qualquer personagem; o da narrativa da Viagem pro-priamente dita (desde as proximidades de Moambi-que ndia, e desta Ilha dos Amores, com o re- gresso rapidamente anotado depois); o da ao direta ou indireta dos Deuses; e o da Histria de Portugal, desde as origens at partida de Lisboa em 1497. (1980, p. 111).

    O discurso ideolgico caracteriza-se pelos ex-cursos do Poeta reflexes, anlises, coment-rios, exortaes, lamentos , algumas vezes im- pregnados da ideologia vigente poca, outras expressando a prpria opinio do escritor. Cleo-nice Berardinelli esclarece que a ideologia carac-terstica do momento em que se cria o poema uma ideologia mista de feudalismo e humanismo, que se completam e contradizem (1973, p. 17), acrescentando a que condiciona a narrativa pica s regras do gnero.

    O incio do primeiro canto j um exemplo de excurso. A proposio, da estncia primeira ter-ceira, define a matria potica: Cantando espa-lharei por toda parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e arte, os feitos militares e os homens responsveis pela expanso martima, aqueles que ultrapassaram os limites geogrficos (por mares nunca de antes navegados) e a prpria medida humana, representantes da heroicidade renascen-tista, perodo que celebra o antropocentrismo. Mais ainda se prope a cantar o nosso bardo: o passado ser reconstrudo atravs das histrias dos reis que difundiram a f crist e dilataram o imprio portugus, segundo o esprito cruzadsti-co; celebrar aqueles que se imortalizam pelos feitos gloriosos e, por permanecerem na memria

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    dos povos, libertam-se do esquecimento causado pela morte. A terceira estncia mostra, nas entre-linhas, que no somente o heri vence a morte: tambm o escritor imortaliza-se atravs de sua obra. o momento de anunciar que outro valor mais alto se alevanta suplantando toda a literatu-ra antiga. Cames entrecruza basicamente dois eixos temticos: de um lado, o mar e a literatura clssica, presentes na citao ao sbio Grego (Ulisses, heri da Odissia, obra atribuda a Ho-mero, poeta grego) e ao Troiano (Enias, heri da Eneida, obra de Virglio, poeta latino); de ou-tro, a guerra e a Histria, na referncia a Alexan-dre Magno (rei da Macednia) e a Trajano (im- perador romano). O peito ilustre lusitano e a obra que canta esse homem outro valor mais alto suplantam toda a glria passada, martima e histrica, atingindo o prprio nvel mtico: cur-vam-se aos portugueses os deuses do mar e da guerra Netuno e Marte , evidenciando a supre- macia do homem renascentista portugus; a Mu-sa antiga cessa tambm o seu canto face ao novo canto que surge, evidenciando o valor do poeta e de sua obra: o poema pico vale muito mais do que os feitos militares que lhe servem de pre-texto (SARAIVA, 1972, p. 159). O Prof. Anazil-do Vasconcelos da Silva destaca que o poeta/ narrador evidencia a conscincia de uma nova manifestao pica j Bna proposio:

    A vemos, no s a conscincia manifesta de estrutu-rar uma nova proposio de realidade, inerente ma-tria pica que constitui o relato, como tambm a conscincia de uma nova concepo literria Cesse tudo outro valor. E na invocao, o poeta/nar- rador volta a explicitar a certeza de estar fazendo re-almente uma epopia, porm com outra concepo literria, que no poder jamais ser confundida com a concepo clssica: E vs, Tgides minhas, pois criado/ Tendes em mim um novo engenho ardente (1984, p. 21).

    Este canto surpreendentemente encerra-se num tom de desalento: um excurso do poeta que re-flete sobre a condio humana e sua pequenez aps as ciladas traioeiras preparadas pelos mou-ros para dizimar a esquadra portuguesa:

    Oh! Grandes e gravssimos perigos, Oh! Caminho da vida nunca certo, Que, aonde a gente pe sua esperana, Tenha a vida to pouca segurana!

    No mar, tanta tormenta e tanto dano, Tantas vezes a morte apercebida; Na terra, tanta guerra, tanto engano, Tanta necessidade avorrecida! Onde pode acolher-se um fraco humano, Onde ter segura a curta vida, Que no se arme e se indigne o Cu sereno Contra um bicho da terra to pequeno?

    (OL, I, p. 105-1061). O discurso narrativo centra-se nas peripcias

    referentes viagem martima para as ndias: o nvel referencial reporta-se viagem propria-mente dita, comandada por Vasco da Gama fio condutor da narrativa (BERARDINELLI, 1973, p. 18); o nvel mtico define-se pela interferncia das divindades no destino humano. Os dois pla-nos entrelaam-se harmoniosamente de tal sorte que um no existe sem o outro. Antdio Jos Sa-raiva reala que o mundo mitolgico a mola real do poema, pois os deuses no so simples retrica, mas as figuras com que se ata e desata a prpria fbula do poema. Precisamos de subir ao Olimpo para encontrar os corpos vivos e reais ba-nhados pela luz e capazes de movimento (1972, p. 195, 197).

    A viagem inicia-se em media res, com os na-vegantes j na costa oriental africana. No canto I, estncia 19, logo aps a concluso da dedicatria feita ao rei de Portugal poca, D. Sebastio, i-luminam-se as embarcaes: J no largo Ocea- no navegavam,/ As inquietas ondas apartando;/ Os ventos brandamente respiravam,/ Das naus as velas cncavas inchando; na estncia seguin-te, a ao se desloca para o Olimpo, entrando em cena as divindades, momento do primeiro cons-lio. A idia de simultaneidade entre os dois planos o referencial e o mtico acontece pela conjun-o temporal: J no largo Oceano navegavam, Quando os Deuses no Olimpo luminoso,/ Onde o governo est da humana gente,/ Se ajuntam em conslio glorioso (OL, I, 20, v. 1-2); ao fim do conslio, estncia 41, retoma-se a narrativa da viagem, localizando geogrfica e temporalmente os navegantes:

    1A referncia obra Os Lusadas, de Lus de Cames, indicar o canto em algarismos romanos, seguindo-se, em arbicos, o nme-ro da estncia e o verso, quando necessrio.

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    Enquanto isto se passa na fermosa Casa etrea do Olimpo omnipotente, Cortava o mar a gente belicosa J l da banda do Austro e do Oriente, Entre a costa Etipica e a famosa Ilha de So Loureno; e o Sol ardente queimava ento os Deuses que Tifeu co temor grande em pexes converteu.2

    Tal estratgia tambm utilizada na articula-

    o do segundo conslio, o do fundo do mar, viagem. Enquanto os navegantes tentam espantar o sono durante a troca de viglia noturna, contan-do a histria dos Doze de Inglaterra um relato cavaleiresco medievo em plena narrativa renas-centista , Baco dirige-se ao palcio de Netuno a fim de insuflar as divindades martimas contra os portugueses:

    As ondas navegavam do Oriente, J nos mares da ndia, e enxergavam Os tlamos do Sol, que nace ardente: J quase seus desejos se acabavam. Mas o mau de Tioneu, que na alma sente As aventuras que ento se aparelhavam gente lusitana, delas dina, Arde, morre, blasfema e desatina.

    (OL, VI, p. 6) Enquanto este conselho se fazia No fundo aquoso, a leda frota Com vento sossegado prosseguia, pelo tranqilo mar, a longa rota.

    (OL, VI, p. 38)

    No nvel mtico, avulta a deusa da beleza e do amor, Vnus, sempre atenta aos perigos por que possam passar os seus protegidos. Contrrio na-vegao portuguesa, surge Baco, o deus do vinho e da agricultura, aquele que antes deveria defen-der os portugueses pela ascendncia ligada a Lu-so, considerado filho ou privado de Baco.

    2As caravelas esto do lado sudeste (Austro, sul) do litoral de Mo-ambique; a ilha de So Loureno hoje a de Madagascar. A es-tncia indica que o sol entrava no signo de Peixes (entre 10 de fevereiro e 12 de maro, poca, ano de 1498), atravs da refe-rncia mitolgica: Tifeu era um gigante que, ao aparecer repen-tinamente no Eufrates, onde Vnus e Cupido se banhavam, to grande pavor nestes despertou, que os transformou em peixes (Anotaes de Emanuel Paulo Ramos obra).

    O discurso histrico distende-se pelo passado portugus e tambm por acontecimentos futuros em relao ao tempo diegtico (a narrativa situa-se, cronologicamente, no ano de 1498), porm j conhecidos do escritor (a primeira edio da obra data de 1572). Quando Vasco da Gama chega a Melinde, primeiro porto efetivamente seguro na costa oriental africana, o rei pede-lhe que conte sobre trs coisas: Da terra tua o clima e regio/ Do mundo onde morais; a Histria de Portugal, vossa antiga gerao/ E o princpio do Reino to potente; a histria da navegao, os rodeios/ Longos que te traz o Mar irado (OL, II, 109-110). Tal pedido enseja o encaixe do passado por-tugus na obra, narrado por Vasco da Gama. Os cantos III e IV so dedicados s duas primeiras dinastias portuguesas: o terceiro, ao resgate da origem do reino e dinastia de Borgonha; o quar-to, a dinastia de Avis. Mais tarde, incio do canto VIII, j em Calicute, na ndia, o Catual (governa-dor de uma cidade) interroga Paulo da Gama so-bre o significado das bandeiras na nau capitaina, focalizando-se novamente algumas passagens da Histria portuguesa, agora sendo Paulo da Gama o narrador. Outra referncia histrica o relato de Veloso sobre o episdio conhecido como os Do-ze de Inglaterra, no Canto VI. Para inserir em sua obra feitos e conquistas portuguesas realiza-das aps o ano da navegao do Gama, Cames recorre s profecias: como so as divindades que anunciam o futuro da nao, no h qualquer in-verossimilhana na obra. Jpiter, tentando tran-qilizar a filha, Vnus, prediz as conquistas por- tuguesas na ndia. Adamastor ameaa o Gama e toda a tripulao com Naufrgios, perdies de toda sorte,/ Que o menor mal de todos seja a mor-te! (OL, V, 44, v. 7-8). Na Ilha dos Amores, uma ninfa relata os feitos futuros portugueses, referin-do-se particularmente a heris e governadores da ndia e Tethys mostra, diante da Mquina do mundo, lugares onde os portugueses realizaro feitos relevantes (OL, X, 5-7,10-73, 91-141).

    Analisando o modelo pico renascentista, Anazildo Vasconcelos da Silva reala o inter-relacionamento dos planos estruturais que carac-terizam a obra: a Histria de Portugal serve de contexto para a Viagem, que nela se insere, convertendo-se tambm em Histria por ser j fato passado. Desse modo, o relato insere

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    estruturalmente a Viagem na Histria, como fei-to portugus que . (1984, p. 22-23). Acres-centa ainda:

    Mas a Histria de Portugal mais do que simples contexto para a Viagem, uma vez que realiza epica-mente o heri e o relato. Narrar a Largada, incio da Viagem, como um feito histrico portugus, coloca o fato no mesmo nvel dos demais acontecimentos narrados, e faz Vasco da Gama, na qualidade de

    agenciador da Histria, ingressar na galeria dos he-ris, e tomar assento ao lado dos que fizeram, antes dele, a Histria. ()

    De igual modo, os excursos do poeta/narrador in-tegram a narrativa dos deuses que, de outra forma, seria arbitrria (1984, p. 23).

    Os quadros a seguir apresentam a distribuio

    da matria potica pelos discursos apresentados, singularizando cada canto.

    ESTRUTURA dOS LUSADAS

    DISCURSO NARRATIVO DISCURSO IDEOLGICO NVEL REFERENCIAL NVEL MTICO

    DISCURSO HISTRICO

    I

    1-3: Proposio 4-5: Invocao 6-18: Dedicatria 105-106: A con-dio humana

    19: navegao no Oceano ndico, costa oriental da frica 42-72: Moambique 82-94: ataque dos mouros, acordo (piloto) 95-99: Quloa 101-105: o piloto orienta-os para Mombaa; chegada

    20-41: Conslio dos Deuses no Olimpo 20-23: convocao (Mercrio), viagem, chegada dos deuses 24-29: fala de Jpiter 30-34: Baco e Vnus 35: reao dos deuses 36-40: Marte 41: deciso de Jpiter 73-81: ciladas de Baco: combate e piloto falso 100: Vnus afasta a armada com ventos contrrios 102: interveno de Vnus 104: ao de Baco

    II

    1-9: convite maldoso do rei para entrarem barra; desembarque de dois condenados 14-18: a bordo da nau capitaina 25-28: fuga dos mouros e do piloto 29-32: orao do Gama 64-71: partida; no mar 72-91: chegada a Melinde; festejos 92-113: encontro solene do Gama com Rei.

    10-13: Baco disfara-se de sacerdote cristo 18-24: Vnus e as Nereidas impedem a entrada no porto 33-41: seduo de Jpiter por Vnus 42-55: previses de Jpiter 56-63: ao de Mercrio: preparar a recepo em Melinde, afastar o Gama de Mombaa.

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    DISCURSO NARRATIVO DISCURSO IDEOLGICO NVEL

    REFERENCIAL NVEL MTICODISCURSO HISTRICO

    III 1-2: invocao a Calope 142-143: a submis-so amorosa

    3-5: exrdio do Gama 6-20: descrio da Europa; Portugal 21-22: Hist. Primitiva: Luso e Viriato 23-24: Afonso VI, rei de Castela e Leo 25-28: Conde D. Henrique 28-84: D.Afonso Henriques(1128-1185) 1 rei, dinastia de Borgonha: 29-33: contra D. Teresa; S. Mamede 34-41: contra Afonso VII; Egas Moniz 42-54: Batalha de Ourique (milagre) 55-67: contra os mouros (conquistas) 57-60: tomada de Lisboa 68-73: conquista de Badajoz , domnio de Leo, aos mouros; vencido pelo rei D.Fernando, de Leo (punio divina) 83-84: morte de D. Afonso 85-89: D. Sancho I (1185-1211) 90: D. Afonso II (1211-1223) 91-93: D. Sancho II (1223-1248) 94-95: D. Afonso III (1248-1279) 96-98: D. Dinis (1279-1325) 99-135: D. Afonso IV (1325-1357): 99-117: D. Maria; Batalha do Salado 118-135: Ins de Castro 136-137: D. Pedro I (1357-1367) 138-143: D. Fernando (1367-1383)

    IV 1-7: crise de sucesso aps a morte de D. Fernando; escolha de D. Joo, mestre de Avis, filho bastardo de D. Pedro I 8-13: organizao das tropas (port.-esp.) 14-21: Nun lvares Pereira 22-27: preparativos para a batalha 28-45: Batalha de Aljubarrota 43-45: vitria: D. Joo I (1385-1433) dinastia de Avis (2) 46: outras conquistas 47: casamento de D. Joo I com D. Filipa de Lencastre: paz na pennsula 48-50: invaso de Ceuta 51-53: D. Duarte (1433-1438) e o Infante Santo (D. Fernando) 54-59: Afonso V (1438-1481) 60-65: D. Joo II 1481-1495); viagens 66-67: D. Manuel I (1495-1521) 68-75: sonho proftico de D. Manuel 76-83: convite ao Gama; preparativos para a viagem 84-93: despedidas 94-104: Velho do Restelo

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    DISCURSO NARRATIVO DISCURSO

    IDEOLGICO NVEL REFERENCIAL NVEL MTICO

    DISCURSO HISTRICO

    V 24: o valor da experincia 86-89: elogio do Gama tenacidade portuguesa 92-100: lamento do Poeta sobre o desprezo epopia

    90-91: o Poeta retoma a narrativa; em Melinde

    1-3: a largada de Lisboa 4-17: viagem; Cruzeiro do Sul 18: fogo-de-santelmo 18-24: tromba marinha 25-36: desembarque na frica: baa de Santa Helena 30-36: aventura de Ferno Veloso 37-60: o gigante Adamastor: 38: discurso do Gama 39-40: descrio do Adamastor 41-48: fala do gigante (previses) 49: interpelao do Gama 50-59: resposta do Adamastor 60: desaparecimento do gigante 61-83: prosseguimento da viagem 81-83: o escorbuto 84-85: viagem at Melinde (fim da narrativa do Gama) 86-89: fim da fala do Gama (iniciada no Canto III)

    VI 95-99: o esforo herico e o valor a glria

    1-5: partida de Melinde 38-69: conversa dos marinheiros: episdio dos Doze de Inglaterra 70-79: surge a tempestade martima 80-83: prece do Gama 84: continua a tempestade 92-93: terra vista, Calicut 93-94: Gama agradece a Deus

    6-37: Conslio do Mar 6-7: Baco vai ao palcio de Netuno 8-13: descrio do palcio 14-19: explicao de Baco, convocao (Trito), chegada dos deuses. 27-34: discurso de Baco 35: deciso do conslio 36: Proteu e Tethys 37: Elo solta os ventos

    85-91: intercesso de Vnus: convoca as Ninfas amorosas para abrandar, por amores, os ventos irados.

    43-69: Os Doze de Inglaterra

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    DISCURSO NARRATIVO DISCURSO IDEOLGICO NVEL

    REFERENCIAL NVEL MTICO

    DISCURSO HISTRICO

    VII 2-15: elogio ao esprito cruzadstico luso e exortao aos povos da Europa crist 78-87: lamentos; invocao s Ninfas (Tejo e Mondego).

    1: chegada (24 de maio de 1498) 16: entrada em Calicut 17-22: descrio da ndia 23-27: desembarque de Joo Martins; encontro com o mouro Monaide (intrprete). 28-42: Monaide visita a frota e fala sobre o Malabar (os costums, as castas, a religio). 42-43: desembarque do Gama 44-45: recepo do Catual (regedor) e Naires (nobres) 46-49: na cidade, no templo. 50-54: palcio do Samorim 55-56: vaticnio do Catual 57-66: visita ao Samorim 67-72: Catual informa-se sobre os portugueses com Monaide 73-77: visita do Catual a Paulo da Gama (significado das bandeiras da nau capitaina)

    VIII

    54-55: advertncia sobre os cuidados na seleo de conselheiros 96-99: reflexes sobre o poder do ouro

    1-43: explicao das figuras nas bandeiras por Paulo da Gama ao Catual 44: retorno do Catual a terra 45-46: previses dos arspices, que vaticinam eterno cativeiro. 51-53: revolta contra o Gama, intensificada pelos muulmanos. 56-78: entendimentos do Gama com o Samorim. Este cr no Gama, comeando a julgar mal os Catuais (subornados pelo ouro muulmano), alm de mostrar interesse nas trocas comerciais com os portugueses; ordena o regresso frota.

    79-95: Gama torna-se refm do Catual, libertado por fazendas europias.

    47-50: Baco aparece em sonhos a um sacerdote maometano

    10-12: Afonso Henriques 28-32: Nun lvares Pereira

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    DISCURSO NARRATIVO DISCURSO IDEOLGICO NVEL

    REFERENCIAL NVEL MTICO

    DISCURSO HISTRICO

    IX 25-29: viso de erros grandes que h no mundo acerca do amor 92-95: exortao sobre o prmio aos heris

    1-12: preparativos 16-17: partida (regresso) 51-52: a armada avista a Ilha

    18-50: Vnus prepara a Ilha dos Amores: ajuda de Cupido 18-24: delineia-se o plano 30-35: ao dos Cupidos: tiros desordenados, amores desconcertados

    36: encontro de Vnus e Cupido

    37-42: fala de Vnus

    43-50: ao de Cupido (Fama) e Vnus (Ninfas) 53-63: descrio da Ilha 64-69: desembarque dos portugueses, viso das Ninfas. 70-74: a perseguio 75-82: aventura de Lionardo 83-84: casamentos entre portugueses e Ninfas 85-87: Tethys e Gama 88-92: os prmios, o sentido simblico da Ilha.

    X 8-9: invocao a Calope 119: crtica aos maus religiosos 145-156: lamentos, vaticnio de futuras glrias.

    143-144: viagem de regresso; chegada a Portugal.

    1-7: banquete na Ilha 10-74: profecias da Ninfa 75-81: Tethys mostra ao Gama a Mquina do Mundo (viso geocntrica) 82-85: explicao sobre divindades pags e Deus 85-90: volta a explicar a Mquina do Mundo 91-107: Tethys mostra a Terra e os feitos portugueses 108-118: Tethys narra o martrio de So Tom 120-143: profecias (cont.). 142-143: fim da fala de Tethys, despedida.

    53-54: Gama 128: naufrgio de Cames 140: Brasil

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