Os trabalhadores da terra em Mato Grosso têm muito para … · A Comissão Executiva das Ações...

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Os trabalhadores da terra em Mato Grosso têm muito para contar. Silene e Seu Ângelo, acampada e assentado, camponesa e migrante, são dois retratos dessa história no Nortão. Fundada há três anos, a Cooperativa de Agricultores Ecológicos do Portal da Amazônia vem se destacando como um projeto de desenvolvimento sustentável do território, com produção certificada, presença na merenda escolar e negócios engatilhados na Europa Através dos beija-flores, projeto incentiva a adoção de práticas sustentáveis por pequenos agricultores, extrativistas e comunidades indígenas na Amazônia Legal Pág.04

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Os trabalhadores da terra em Mato Grosso têm

muito para contar. Silene e Seu Ângelo, acampada e

assentado, camponesa e migrante, são dois retratos

dessa história no Nortão.

Fundada há três anos, a

Cooperativa de Agricultores

Ecológicos do Portal da

Amazônia vem se

destacando como um

projeto de desenvolvimento

sustentável do território,

com produção certificada,

presença na merenda

escolar e negócios

engatilhados na Europa

Através dos beija-flores, projeto incentiva a adoção de práticas

sustentáveis por pequenos agricultores, extrativistas e comunidades

indígenas na Amazônia LegalPág.04

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A Comissão Executiva das Ações da Agricultura Familiar

(CEAAF) - assim como o Projeto Gestar Portal da Amazônia -

representa um jeito diferente de pensar o desenvolvimento local: a

gestão territorial. Essa visão leva cada um de nós a enraizar um

sentimento de pertencimento a este território Portal da Amazônia

como se ele fosse a extensão de nossos municípios. E assim, de

forma coletiva, fortalecer a capacidade de perceber as nossas

prioridades, materializando o velho dito de que a união faz a força.A proposta da CEAAF é envolver diversos atores sociais do

território - sindicatos de trabalhadores rurais, movimentos sociais,

secretarias de Agricultura, cooperativas e entidades que têm

alguma relação com a agricultura familiar - em um espaço de

diálogo comum. Com isso, estamos fazendo o exercício de

elaborar democraticamente um caminho, em que as diferentes

idéias enriquecem a construção do consenso sobre que

desenvolvimento é melhor para todos.É assim que a CEAAF já realizou cinco oficinas para elaborar o

Plano de Desenvolvimento Rural Sustentável do Território Portal

da Amazônia, estruturando propostas como a o Centro de

Formação do Agricultor Familiar e a Central de Comercialização

para a produção da agricultura familiar dos 16 municípios do

território. Este é um processo de construção participativa que, se

não corre na velocidade desejada, traduz a máxima de que o

caminho se faz ao caminhar.

• Maria Maia, vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Peixoto de Azevedo, retratada na seção Histórias de Vida da edição n° 01, de junho, também é monitora do Proteger.

• O Projeto Buriti, de formação de lideranças no campo, Projeto em Destaque da edição n° 01, de junho, conta com a parceria da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), Campus de

Colíder, que sede o espaço de realização dos módulos e participa da coordeção das atividades, através da professora Norma Nobre.

Ingredientes:- 2 copos de pupunha cozida e amassada- 2 copos de leite de coco ou leite comum- 5 ovos- 1 colher (sopa) de manteiga ou margarina- 2 copos de açúcar- 2 colheres (sopa) de farinha de trigo- 1 pitada de sal

Modo de fazer:Coloque a pupunha e o leite no liquidificador e bata durante 5 minutos. Coloque numa tigela a manteiga, o açúcar e as gemas, batendo bem. Em seguida, misture todos os ingredientes, acrescentando o trigo e claras em neve. Coloque numa fôrma untada com manteiga e leve ao forno por 30 minutos.

É possível evitar o uso de venenos para insetos em várias culturas, como hortaliças, flores, frutíferas, grãos e cereais. Há um repelente natural, a base de pimenta e alho, barato, de fácil preparo e aplicação. A mistura afasta e repele os insetos, mas não os mata, por isso é preciso aplicar preventivamente, ou seja, a cada uma ou duas semanas, se a incidência de insetos for muito alta, ou se chover durante o período.

Ingredientes: - 100 gramas malagueta- 1 litro de álcool- 100 gramas de alho- 50 gramas de sabão neutro

Preparo: Bata a pimenta malagueta no liquidificador com um pouco de álcool, o alho e o sabão e triture bem. Não coloque todo o álcool de uma vez porque o sabão faz muita espuma. Depois de triturado, misture o álcool restante e deixe em repouso por 3 a 4 dias. Depois desse período pode-se diluir o material em até 30 litros de água e pulverizar nas plantas. O álcool pode ser substituído por água, mas o potencial de ação é menor nesse caso.

Fonte: Diogo Feistauer e Júlio Santin, Cooperagrepa.

Projeto Gestar

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A Folha Portal da Amazônia está sendo distribuída para as comunidades rurais dos 16 municípios do território através de diversos parceiros. Para isso, a equipe do jornal fez contato com as paróquias da igreja católica de todos os municípios e visitou seis deles nos meses de junho e julho.

Em Nova Bandeirantes, a secretária da Paróquia São Pedro, Claudemira de Moraes, recebeu o primeiro pacote de jornais para distribuir nas 36 comunidades rurais atendidas pela paróquia, sob os cuidados do Padre Braz Emílio Modaelli.

Em Nova Monte Verde, o contato foi feito com Tatiane de Andrade, secretária da Paróquia Santo Antônio, onde o Frei Gilberto Hickmann trabalha com 26 comunidades.

A Paróquia Santa Cecília, de Apiacás, também recebeu a visita do Gestar. Lá, o Frei Pedro se comprometeu a distribuir os jornais nas 15 comunidades que visita pelo menos uma vez por mês. Em Carlinda, cerca de 30 km de Alta Floresta, o diácono Antônio Carlos Fernandes, da Paróquia São Paulo Apóstolo, recebeu em mãos o pacote de jornais destinado aos agricul-

tores e agricultoras do município. O quinto município visitado pela equipe do jornal foi Paranaíta, onde o Padre Antônio Miguel Mallmann atende 47 comuni-dades rurais e todas devem ter recebido alguns exemplares da Folha Portal da Amazônia. Para os outros 10 municípios, os jornais foram enviados pelo correio, depois de acertarmos a distribuição pelas paróquias por telefone.

A única exceção no esquema de distribuição feito com as paróquias é Colider. Lá, o Gestar deixou o pacote de jornais com a professora da Unemat, Norma

Nobre, que também participa da Comissão Pastoral da Terra e se dispôs a levar a Folha a todas as comunidades. A partir desta segunda edição, o STR de Apiacás vai receber os jornais pra serem distribuídos nas Glebas Arumã e Igarapé do Bruno. Marcelândia, o sexto município visitado, já havia recebido os jornais pelo correio e, segundo a secretária da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, Gracieli Mezzomo, foi amplamente distribuído pelo Pe Elias Feyh.

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A Folha Portal da Amazônia está sendo distribuída para as comunidades rurais dos 16 municípios do território através de diversos parceiros. Para isso, a equipe do jornal fez contato com as paróquias da igreja católica de todos os municípios e visitou seis deles nos meses de junho e julho.

Em Nova Bandeirantes, a secretária da Paróquia São Pedro, Claudemira de Moraes, recebeu o primeiro pacote de jornais para distribuir nas 36 comunidades rurais atendidas pela paróquia, sob os cuidados do Padre Braz Emílio Modaelli.

Em Nova Monte Verde, o contato foi feito com Tatiane de Andrade, secretária da Paróquia Santo Antônio, onde o Frei Gilberto Hickmann trabalha com 26 comunidades.

A Paróquia Santa Cecília, de Apiacás, também recebeu a visita do Gestar. Lá, o Frei Pedro se comprometeu a distribuir os jornais nas 15 comunidades que visita pelo menos uma vez por mês. Em Carlinda, cerca de 30 km de Alta Floresta, o diácono Antônio Carlos Fernandes, da Paróquia São Paulo Apóstolo, recebeu em mãos o pacote de jornais destinado aos agricul-

tores e agricultoras do município. O quinto município visitado pela equipe do jornal foi Paranaíta, onde o Padre Antônio Miguel Mallmann atende 47 comuni-dades rurais e todas devem ter recebido alguns exemplares da Folha Portal da Amazônia. Para os outros 10 municípios, os jornais foram enviados pelo correio, depois de acertarmos a distribuição pelas paróquias por telefone.

A única exceção no esquema de distribuição feito com as paróquias é Colider. Lá, o Gestar deixou o pacote de jornais com a professora da Unemat, Norma

Nobre, que também participa da Comissão Pastoral da Terra e se dispôs a levar a Folha a todas as comunidades. A partir desta segunda edição, o STR de Apiacás vai receber os jornais pra serem distribuídos nas Glebas Arumã e Igarapé do Bruno. Marcelândia, o sexto município visitado, já havia recebido os jornais pelo correio e, segundo a secretária da Paróquia Nossa Senhora Imaculada Conceição, Gracieli Mezzomo, foi amplamente distribuído pelo Pe Elias Feyh.

sadores do MMA e da FAO, (órgão da ONU para agricul-tura e alimentação) no senti-do de identificar os proble-mas em determinados terri-tórios, articular políticas públicas e sensibilizar as comunidades, particular-mente as rurais, traçando uma estratégia comum para enfrentá-los.

Folha: Como estão os projetos em andamento na Amazônia?

Viana: Aqui no eixo da BR-163 temos este do Portal da Amazônia e mais três no Pará. O objetivo é, numa

área que é prioritária para nós, sensibilizarmos a popu-lação, valorizar iniciativas positivas que estão aconte-cendo. Nós temos muitos projetos, estamos tentando ver se eles ganham uma visão territorial, e o Gestar ajuda nisso. Este é um programa de longa matura-ção, cujos resultados imedia-tos são a articulação e sensibilização da sociedade.

Folha: O Gestar é um projeto de longa duração, como garantir que se mante-nha, independente das eleições?

V i a n a : T i v e m o s o cuidado de colocar o Gestar no Plano Plurianual até 2007 (o PPA, que define o orça-mento para cada ação do governo, ano a ano). A experiência nos mostrou que se um programa é bom, tem uma estratégia de implan-tação e apoio da sociedade, ele provavelmente vai conti-nuar, independendo do governo que assumir.

Folha: Quais são os resultados esperados do Gestar no Portal da Ama-zônia?

Viana: Se o Gestar conseguir se articular bem com outros programas, ele

pode contribuir para a mudança para a susten-tabilidade, no sentido de melhorar os métodos de produção, para serem mais eficientes, mais adequados, mais amigáveis ao meio ambiente. Mas isso depende de mudança não só nas políticas públicas, mas nas pessoas, o que precisa de um cer to tempo para acontecer.

Folha: Como estão os outros projetos Gestar no Brasil?

Viana: Nesses três anos que o Gestar existe, nós aprendemos uma coisa: se conseguirmos articular as políticas públicas que atuam em determinado território, já é um grande elemento positivo. Se sensibilizarmos a população para participar desse processo, já é um segundo passo importante; e se nós conseguirmos traçar estratégias em uma ativi-dade importante no território, isso pode ter um efeito muito bom na transição desse modo de ocupação territorial e produção pra uma relação mais respeitável ao meio ambiente e socialmente mais justa. Sabemos que estamos no caminho certo, mas os resultados vêm aos poucos.

O secretário de Desen-volvimento Sustentável do Ministério do Meio Ambiente esteve em Alta Floresta no Festival das Águas, em junho. Em entrevista exclu-siva Folha Portal da Amazônia, Gilney Viana falou sobre o Gestar e as ações do governo para a Amazônia.

F o l h a P o r t a l d a Amazônia: Como surgiu o projeto Gestar, que está sendo desenvolvido em várias regiões do país?

Gilney Viana: O Gestar surgiu como uma experiência inovadora entre alguns pen-

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Em 1998, o estado de Roraima viveu o pior incêndio florestal da história do Brasil. Estima-se que 11.730 km2 de floresta foram devorados pelo fogo. As causas deste incêndio são muitas e incluem até mesmo um fenômeno climático conhe-cido como El Niño, que provocou uma estiagem mais prolongada que o normal na região. Mas o uso do fogo, indiscutivelmente, estava no centro da questão. Foi assim que surgiu o projeto Proteger, para mobilizar as lideranças sindicais e comunitárias para o bom manejo do fogo em oito dos nove es tados da Amazônia Legal. Apenas o Amazonas não es tava

incluído.O Proteger está centrado

em três eixos temáticos: educação ambiental, produ-ção sustentável e mobiliza-ção social. O objetivo é minimizar o uso do fogo e promover a adoção de práticas sustentáveis no sistema de produção dos pequenos agricultores, dos extrativistas e das comuni-dades indígenas na Amazô-nia Legal. Com financia-mento da Agência Norte Americana para Desenvol-v i m e n t o I n t e r n a c i o n a l (Usaid), o projeto atualmente abrange os estados do Acre, Pará, Rondônia e o norte de Mato Grosso, onde há monitores em oito municí-

pios. O projeto é uma iniciativa do GTA (Grupo de Trabalho Ama-zônico), e possui uma coordenação em cada estado. No MT, o Proteger é coordenado por Epifânia Rita Vua-den, do Sindicato dos Traba lha-dores Rurais de Lucas do Rio Verde. No Ter-ritório Portal da Amazônia, seis monitores, partici-pam do Proteger, dissemi-nando boas práticas de manejo do fogo nos municí-pios de Matupá, Colider e Peixoto de Azevedo.

Beija-flores já vêem resultados no Território

O símbolo do Proteger é o beija-flor, uma das menores aves do mundo, cujo coração ocupa dois terços do seu corpo. Mas a escolha se deu inspirada numa velha história popular, em que um beija-flor vendo um incêndio na floresta, resolve colaborar para apagá-lo carregando água em seu minúsculo bico. É esse o espírito que motiva os monitores e monitoras - ou beija-flores - do Proteger,

que estão fazendo sua parte para proteger a floresta.

Ambrósio Pereira Carva-lho, do assentamento União do Norte, em Peixoto de Aze-vedo, é um dos seis beija-flores do Proteger no Portal da Amazônia. Seu Ambrósio, um maranhense que chegou no Mato Grosso em 1988 trazido pela corrida do ouro, afirma que os conhecimen-tos compartilhados nas capacitações do Proteger foram de grande valia para sua comunidade. “Lá todo ano a gente tinha fogo, todo ano a gente perdia cerca, muitos perderam até casa. Depois que eu passei a ser monitor e trabalhar levando a sério a gente não teve mais fogo”, conta Seu Ambrósio.

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A terceira edição do Festival Cultural Ecológico das Águas de Mato Grosso a c o n t e c e u e m A l t a Floresta, entre os dias 9 e 11 de junho. Mais de 1,5 mil pessoas passaram pela praça do Cent ro de Eventos para participar das 60 oficinas e acompanhar as palestras. Com o tema Águas da Amazônia, vários

palestrantes de diferentes lugares do estado e do país discutiram polít icas de gestão das águas, cultura e meio ambiente. Entre os mini-cursos, o coordenador do Projeto Gestar Portal da Amazônia, José Alesando Rodrigues, apresentou os objetivos do projeto e as ações realizadas até o momento.

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Está em andamento em Nova Bande i ran tes o primeiro projeto de Zonea-mento Ecológico Econômico Participativo (ZEEP) muni-cipal no estado de Mato Grosso, com financiamento do Fundo Nacional do Meio Ambiente. O objetivo é envolver a comunidade no processo de ordenamento territorial, buscando conhe-cer os problemas do muni-cípio e identificar as poten-cialidades voltadas para as questões ambientais, so-ciais, econômicas e cultu-rais. Estão em curso ofici-nas, reuniões e articulações para que a sociedade conhe-ça, compreenda e se envol-va com o ZEEP. Além disso,

serão realizados diversos estudos técnicos para embasar as decisões sobre o ordenamento territorial, que vai definir áreas próprias para as atividades produ-tivas, atividades a serem incentivadas, áreas naturais para serem protegidas etc. Todas essas informações serão utilizadas para que Nova Bandeirantes possa fazer seu Plano de Desen-volvimento Sustentável. O projeto tem como parceiros o Instituto Centro de Vida, Incra, Unemat, Ibama, Uniflor, Sociedade Formigas, STR de Nova Bandeirantes, além da prefeitura e dos veículos de comunicação locais.

Os membros da Comissão Executiva das Ações da Agricultura Famil iar do Território Portal da Amazônia (CEAAF) estiveram reunidos em Alta Floresta para discutir as demandas específicas do território e articular projetos de desenvolvimento na região, entre 13 e 15 de julho. O encontro também serviu para que os participantes discutissem a articulação de propostas no território para editais do Padeq (Projeto Alternativas ao Desma-tamento e às Queimadas, do Ministério do Meio Ambiente) e Proinf (Apoio a Projetos de Infra-estrutura e Serviços em Te r r i t ó r i os Ru ra i s , do Ministério do Desenvol-vimento Agrário).

Na avaliação de Andrezza Alves Spexoto, articuladora territorial da CEAAF, o encontro foi muito positivo. “As pessoas estavam mais motivadas por estarem trans-formando linhas abstratas de atuação em propostas palpáveis e coerentes com o desenvolvimento do ter-ritório”.

Para o edital do Proinf, os participantes da reunião construíram uma proposta que será analisada pela câmara técnica da CEAAF,

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O Projeto Gestar está coletando informações junto às secretarias de agricultura e outras instituições para organizar um banco de dados do território Portal da Amazônia. O objetivo é mapear as demandas da região para a agricultura familiar, a realidade em que se encontram os assenta-mentos e comunidades rurais e quais instituições auxiliam no seu desenvol-vimento. Treze dos 16 municípios do território já têm seus dados sistemati-zados no banco. Assim que os dados dos demais forem acrescentados, as informa-ções e análises serão

disponibiliza-das para todos os muni-cípios.

Segundo o coordenador do Gestar Portal da Amazô-nia, as informações vão permitir uma melhor articula-ção com as instâncias dos governos federal e estadual responsáveis pelas políticas de agricultura familiar, bem como subsidiar a Comissão Executiva das Ações da A g r i c u l t u r a F a m i l i a r (CEAAF) na construção do Plano de Desenvolvimento Rural e Sustentável do território. O banco de dados também vai subsidiar a confecção de mapas do território, com informações de cada um dos municípios.

A Secretaria de Agricultura de Paranaíta promoveu um seminário para discutir a qualidade da produção leiteira no município e organização dos produtores, no dia 28 de junho. O encontro teve a participação de dezenas de produtores que assistiram palestras

sobre manejo ecológico de pastagens, alternativas de nutrição animal e sanidade animal. O ponto alto do seminário foi a palestra sobre a história da Coopernova e os caminhos para a organização dos produtores em associa-ções e cooperativas. Segun-do o secretário de agricultura

de Paranaíta, Willians Anto-nio Gonçalves, o objetivo do seminário é estimular os produtores que trabalham com gado de leite a se organizarem em forma de associação ou cooperativa, dispondo de informações qualificadas e experiências positivas.

com várias ações para os três eixos de atuação escolhidos pela comissão (comercialização, produção leiteira e agricultura orgâni-ca). A construção de uma usina de compostagem para produção de adubo utilizan-do pó-de-serra e de um entreposto comercial para os produtos da agricultura familiar são alguns aspectos que serão apresentados nesse projeto, para o MDA.

A CEAAF é formada por representantes das prefeitu-ras municipais, sindicatos de trabalhadores rurais, órgãos de assistência técnica, governos e entidades da sociedade civil organizada, e tem a missão de elencar as prioridades para investi-mento na região, para que o MDA possa escolher as melhores formas de incenti-var o desenvolvimento dos municípios do território. Os três eixos prioritários já definidos pela comissão para investimento no Portal da Amazônia são a comercia-lização da produção da agricultura familiar, a bacia leiteira e a agricultura orgânica.

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Mais que uma cooperativa de produção, a Cooperativa de Agricultores Ecológicos do Portal da Amazônia é um projeto de desenvolvimento sustentável do território. Fundada em agosto de 2003, a Cooperagrepa surgiu a partir do projeto Vida Rural Sustentável, do Sebrae, ligando produtores em sete municípios: Terra Nova do Norte, Peixoto de Azevedo, Matupá, Guarantã do Norte, Novo Mundo, Nova Guarita e Marcelân-dia. Em 2004, a área de atuação foi ampliada para mais três: Santa Helena, Carlinda e Alta Floresta.

“A idéia é ampliar a abrangência para os 16 municípios e ser uma alter-nativa aos produtores”, diz Domingos Jari Vargas, presi-dente da cooperativa, que reúne atualmente cerca de 300 famílias produzindo mel, castanha-do-Brasil, guaraná, açúcar mascavo, melado, café, frango caipira, suínos, ovinos, leite, man-dioca e hortaliças, tudo de forma ecológica ou em processo de conversão

A produção da Coopera-grepa tem certificação da Ecocert Brasil, uma das empresas mais conceitua-

das no ramo, válida para o mercado interno, Estados Unidos e Europa. “No pro-cesso de certificação, os técnicos visitam todos os produtores e coletam amos-tra de solo, folhas, etc., para análise de resíduos quími-cos e pesticidas, no primeiro ano. Nos anos seguintes, sorteiam 30% deles para fazer a renovação anual”, explica Diogo Feistauer, engenheiro agrônomo que assessora a cooperativa.

A certificação já foi con-cluída para o guaraná, o café, a castanha-do-Brasil e a cana-de-açúcar. Ainda estão passando pelo pro-cesso o frango, a mandioca e o leite. Além disso, a cooperativa está elaboran-do uma proposta de certifi-cação ética e solidária onde os próprios produtores e consumidores locais certifi-cam a origem de alimentos como mel e hortaliças.

A produção atualmente é vendida para merenda escolar no Portal, além de supermercados locais e da região, mas o projeto inclui comercialização em diver-sas escalas, com negocia-ções em andamento para venda da castanha e açúcar mascavo para a Europa. A

Cooperagrepa também está investindo em industriali-zação da cana em Nova Guarita, da castanha em Novo Mundo e do guaraná em Nova Santa Helena, além da torrefação de café em Alta Floresta.

Segundo Domingos, a organização dos produto-res se dá em núcleos condominiais - grupos de agricultores reunidos em torno de áreas coletivas de produção - além de mutirões e produção individual. A renda mensal atual das famílias associadas é, em média, de três salários

mínimos, mas o plano de desenvolvimento da coope-rativa é de aumentar essa renda em 25% até dezem-bro de 2007, além de aumentar o volume físico dos produtos em transição para orgânicos e certifica-dos e d i ve rs i f i ca r a produção. Para isso, a Cooperagrepa conta com parceiros como o Se-b rae /MT, p re fe i tu ras , Fiesun, Unemat, Instituto Centro de Vida - ICV, E m p a e r , U n e m a t , s indicatos, Secretar ia Estadual de Ciência e Tecnologia e Fapemat.

Mais de cem produtores de leite do norte do Mato Grosso estiveram no I Seminário sobre Susten-tabilidade da Produção de Leite do Território Portal da Amazônia discutindo como aumentar a produção com baixo impacto ambiental, no dia 27 de maio. "Aqui a gente tem uma chance e f e t i v a d e f a z e r u m desenvolvimento diferente, cometendo os mesmos acertos que estes estados

fizeram e desviando dos erros", diz Alexandre Olival, do Instituto Ouro Verde, organização não-governa-mental que promoveu o evento.

Baseado num amplo diagnóstico da produção leiteira no Portal da Amazô-nia, Olival sugere que o caminho para melhorar a produtividade e a renda na região não passa neces-sariamente pelo aumento da área ocupada pelo gado de

leite. Segundo ele, é preciso pensar em tornar a extensão rural mais efi-ciente e melhorar a gestão das propriedades, mas também investir no capital social. Uma melhora imediata nas condições de produção e na vida dos agricultores é urgente e pode ser, segundo o veterinário, uma porta em direção a uma produção sustentável a longo prazo.

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Lá no horizonte por cima da matao vento assanha a mais alta palmeira

que, embelezando a vista com balanços,é conhecida como a pupunheira. (Rosa Clement)

Todo mundo sabe que a Amazônia é conhecida por ser rica em espécies de plantas e animais, mas não são todas as pessoas que sabem que se pode viver da biodiversidade que a floresta tem. A pupunha, por exemplo, é uma palmeira tipicamente amazônica da qual se aproveita tudo: da fruta às folhas.

Além do palmito, que é o uso comercial mais tradicional, a fruta da pupunha pode ser cozida com sal, para fazer farinha de pão ou mesmo usada como ração para animais domésticos. O óleo pode ser usado na cozinha, e também para produção de cosméticos naturais, para alisar o cabelo, por exemplo. No Pará, o óleo é utilizado como remédio para dor de ouvido e dor de garganta. As folhas possuem 8% de proteína e servem para alimentar o gado. E para completar, o tronco pode servir para fabricação de arcos e assoalho de casas.

Características:A pupunheira floresce entre agosto e outubro e frutifica, geralmente, entre dezembro e junho. Ela produz de 5 a 15 cachos por ano, encontrando-se palmeiras que chegam a produzir 25 cachos em um só ano. Cada cacho de pupunha pesa entre 5 a 12 kg e contém, aproximadamente, 100 frutas, podendo chegar até 400 por cacho. Uma pupunheira pode produzir 250 kg de fruta, e a colheita de um hectare pode atingir de 30 a 50 toneladas por ano.

Fonte: Frutíferas da Mata na Vida Amazônica, Patrícia Shanley, Margaret Cymerys e Jurandir Galvão, 1998 e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa)

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assentamento”, diz Silene, contando que, apesar do preconceito ainda abun-dante, as mulheres já ganha-ram respeito no acampa-mento. “A gente que é camponesa sofre aquele preconceito de que tem que ficar na roça, na lavoura, no fogão. Eles são machistas, acham que independência é viver sozinha sem marido e não é isso que queremos. Mas eles também estão vendo que o artesanato partiu das mulheres, e está dando certo”.

Olhando adiante, Silene diz que deseja conseguir a terra rapidamente, mas mesmo depois de assenta-da, não quer largar o artesa-nato. “A gente tem filhos, as crianças estudam muito longe, a gente não tem uma vida normal, é privada de muita coisa”, desabafa, mas logo sorri, garantindo que a causa vale a pena e não vai perder a esperança “a gente acredita que em assen-tamento, com recursos, a vida mudaria bastante”.

Seu Ângelo chegou na Gleba Cafezal, atual Colíder, e m 1 9 7 4 . N a t u r a l d e Pernambuco, foi imigrante em São Paulo antes de vir para o Mato Grosso atrás da possibilidade de ganhar a vida na lavoura. Seus mais de 30 anos no Portal da Amazônia representam um pedaço da própria história do território.

“Chegando aqui, a indústria ficava muito longe do milho e da soja, então mudamos para o café. O café também não teve bom sucesso aqui, por causa do clima, estiagem muito prolongada, preço baixo do governo, então passamos para pastagem. Hoje t rabalhamos com pecuária” resume.

Seu Ângelo conta que quando chegou tudo estava por fazer, quase não havia infra-estrutura e as distâncias se dilatavam no pó. “Era tudo estrada de chão até Cuiabá”. Ele conta que os pequenos produtores queriam investi-mento na educação como prioridade, e já em 1976 a comunidade cr iou uma comissão de educação que

foi a Cuiabá pedir ao go-verno a criação de escolas na g l e b a . N ã o foram atendidos e d e c i d i r a m colocar a mão na massa.

“Nós voltamos e criamos um sistema comu-nitário. Quem tinha a 4ª série já assumia a sala de aula. Todos que tra-

balhavam eram volun-tários, os pais pe-gavam o facão, t r a n ç a d o r , f a z i a m a s escolas de pau-a-pique e tábua trin-c a d a , o s bancos de m a d e i r a b r u t a ” conta.

O s p r i n -c i pa i s p ro -blemas hoje en-frentados pela sua comunidade, segun-do seu Ângelo, são a dificul-dade de acesso a i n f o r m a - ç õ e s s o b r e financiamentos e recursos para a agricultura familiar e a falta de título das terras. “Nós desejamos que haja uma mudança no s i s te -ma político, que os governos tenham uma fiscalização ativa em cima dos recursos públicos, que os colonos te-nham acesso a esses recur-sos”, aponta. “E não vamos pensar o futuro só na parte da produção, mas também em como comercializar nossos

Silene é filha de pequenos produtores de Colíder, acampada há quatro anos na BR-163, no acampamento Nova Aliança, em Cláudia, a 50 km de Sinop. Para sobreviver, enquanto espe-ram a terra para seu trabalho, ela conta que os acampados trabalham como peões nas propriedades da região e dependem de uma cesta básica do governo. “Básica mesmo. Vem só arroz, feijão, óleo, fubá, açúcar e macar-rão”.

Há um ano, as mulheres aprenderam a fazer

a r tesanato com palha de buriti.

Desde então, o trabalho com c e s ta r i a e bolsas feitas à mão vem se consoli-dando como uma alter-nativa boa p a r a m e -

lhorar a renda n o a c a m -

pamento. “Não é aquela vida farta,

mas é bem melhor, tem algumas famílias

que se sustentam com artesanato e não precisam sair pra fora trabalhar nas fazendas”, diz Silene, que é líder do Movimento das Mulheres Camponesas (MMC) no acampamento.

O grupo de cerca de 20 mulheres é mais uma forma de resistência na difícil vida entre a cerca e a rodovia. “O objetivo do movimento é lutar pelos direitos das mulheres, m e s m o d e p o i s d a c o n s t r u ç ã o d o