Oxe! - Fevereiro de 2013

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Nesta edição, uma reflexão sobre o fazer cultural nas periferias do Brasil e sua relação com os diversos movimentos no mundo, provocada pelo recente intercâmbio realizado entre o nosso Teatro Girandolá e o espanhol Teatro de la Escucha. Além disso você confere o balanço final desse intercambio e um ótimo bate-papo que tivemos (via e-mail) com o fundador do Teatro de la Escucha, Moises Mato, direto lá da Espanha. Além disso, você também confere o Carnaval da folia e miséria no texto do Danilo Góes, a vitoriosa homenagem de Messias Silva, a profunda poesia de Remisson Aniceto, o super-aquecido texto de Eduardo Nunes e a sintomática charge de Betto Souza. Tem também lançamento do primeiro CD do Odisseia das Flores, quatro super dicas NaFaixa, Registro do Intercambio e pílulas de sabedoria carnavalesca.

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a licençaGNU/GPL.

ANO IV − Numero 455.000 ExemplaresFrancisco Morato - São Paulo

Brasil

CCoommppoorrttaammeennttooSSoocciieeddaaddee

CCuull ttuurraaee ssaammbbaa nnoo ppéé!!

FFeevveerreeii rroo // 201 3 VVEENNDDAA PPRROOIIBBIIDDAA DDiissttrriibbuuiiççããoo GGrraattuuii ttaa ggrraaççaass aaoo aappooiioo ddoo ccoomméérrcciioo llooccaall

A atual efervescência cultural nas periferias do Brasil e como nosso jeito de fazer cultura pode influenciar o mundo

ilustração:RogerNeves//imagens:divulgação

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1 Fevereiro / 201 3

ProgramasUbuntu 10.10 (ubuntu.com)BrOffice.org 3.2.1 (broffice.org)Gimp 2.6.10 (gimp.org)Scribus 1.3.3.13 (scribus.net)InkScape 0.48 (inkscape.org)Mozilla Firefox 3.6.13 (br.mozdev.org)Banshee 1.8.0 (banshee-project.org)

::. O que a gente usou nessa edição

::. Colaboraram nesta edição:

Betto Souza(subjetividadeematividade.blogspot.com.br)Danilo Góes([email protected])Eduardo Nunes([email protected])Messias Silva([email protected])Remisson Aniceto(www.nossomundo.bligoo.com.br)

O informativo Ôxe! é uma iniciativa daÔxe! Produtora Comunitária que visapropiciar à população de Francisco Mo-rato e região, um veículo de jornalismocidadão e produção, difusão e divulga-ção de ideias e informações na área cul-tural. Todas as informações, ilustraçõese imagens são de responsabilidade deseus respectivos autores e obedecem alicença Creative Commons 2.5 BrasilAtribuição-Uso Não-Comercial-Com-partilhamento pela mesma Licença(acesse o blog para maiores detalhes),salvo indicações do(a) autor(a) em con-trário. Para ver uma cópia desta licença,visite http://creativecommons.org/li-censes/by-nc-sa/2.5/br/ ou envie umacarta para Creative Commons, 171 Se-cond Street, Suite 300, San Francisco,California 94105, USA.

AEquipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli,Gilberto Araújo, Mari Moura e RogerNeves ([email protected])

Ôxe: Para quem não conhece, quem éMoi-sés Mato?Moisés: Minha vida profissional está vin-

culada ao compromisso com uma cultura on-de a pessoa seja o centro, um fim em simesmo, não uma mercadoria, nem um meioà serviço de um sistema selvagem como oque governa o mundo atual. Entre outras ini-ciativas, com alguns amigos, temos tocado oTeatro da Escuta que pretende ser uma res-posta a um teatro comercial e narcisista quedomina a cena teatral mundial e que em últi-ma análise, serve para legitimar o sistemaque o financia. Sou responsável por uma es-cola em Madrid, a Sala Metáforas, dedicadaa formar profissionais de diversas áreas noTeatro da Escuta. Milito em plataformas po-líticas e sociais que querem colocar a solida-riedade no centro da vida política. Sou pai detrês filhos. Escrevo livros à noite. Desejo se-guir lutando por ummundo mais justo.

Ôxe: Pode nos falar um pouco sobre o Tea-tro da Escuta?Moisés: O Teatro da Escuta é um método,

um caminho, que hoje é formado por 14 siste-mas de trabalho diferentes. São diferentes téc-nicas que dividimos em três formas de teatro:

O Teatro Pesquisa, que aglutina sistemasque nos ajudam a olhar para a realidade, algocada vez mais difícil. Hoje todos podemoster acesso a muitos dados da realidade masisso não quer dizer que necessariamentecompreendemos essa realidade. Acessar in-formação não implica necessariamente emconhecimento. As técnicas do Teatro Pesqui-sa pretendem descobrir as dinâmicas de fun-do da violência estrutural a que todosestamos submetidos. Ver implica compro-meter o olhar, tomar uma posição. Ninguémpode pretender ser neutro em pleno séculoXXI, vemos a partir de um determinadoponto de vista e devemos ser conscientes dis-so. O melhor ponto de vista no momentoatual, dizemos no Teatro da Escuta, é a dosúltimos da terra, dos que nada tem, dos quemais sofrem com as consequências da injus-tiça. Partindo de seu ponto de vista é maisdifícil enganar-se. O Teatro Pesquisa temtécnicas como Itinerários Descalços, ondetanto as pessoas que atuam como os que as-sistem seguem descalços os itinerários quepercorrem instituições que representam a vi-olência ante um determinado tema, durante ocaminho se evidenciam as cumplicidadesdessas instituições. Normalmente os que atu-am tem suas vias comprometidas com essestemas e uma parte do público também assu-me esse compromisso.

Outra técnica deste primeiro capítu-lo é Metáforas do Corpo, que é um trabalhode energia que explora o ritual e que apro-funda as experiências positivas da humanida-de. Cada vez nos parece mais necessário queo teatro social ou político vá além da denún-cia, também deve iluminar e gerar esperança.Com esta técnica, um dos nossos grupos in-vestiga as histórias de perdão da humanida-de, que em meio a tudo o que vivemos são asrespostas mais lógicas, sensatas e humanaspara a roda da violência. Existem processosde perdão em muitos lugares, mas são muitodesconhecidos para o grande público. O sur-preendente é que o espetáculo faz com quemuitos espectadores descubram que também

precisam perdoar. O perdão é uma experiên-cia da humanidade da qual não se fala apenascom sentido político e portanto é de sensocomum. Um teatro comprometido com a re-alidade deve entrar também nesses temas. Deque serve denunciar uma injustiça se isso ge-rar mais ressentimento e impotência?

Existem outras técnicas que também pre-tendem ajudar-nos a apurar o olhar como sãoO Motor do Ambiente ou Palavras Abraçoque também pertencem a esse aparato.

Um segundo capítulo forma um conjuntode técnicas que recebem o nome de TeatroDiálogo, que pretender avançar numa culturade diálogo que nos permita compreender araiz dos problemas que queremos enfrentar etodas as implicações que tem em nossas vi-das. Aqui utilizamos técnicas como o TeatroFórum que herdamos do Teatro do Oprimidode Augusto Boal e que temos atualizado filo-soficamente e tecnicamente a medida que arealidade assim exige. Existe também nestegrupo de propostas uma experiência que estásendo desenvolvida, o Teatrozero, que se rea-liza nas casas das pessoas e inverte a lógicado teatro comercial, já que uma casa particu-lar se transforma em teatro onde as pessoasque assistem o espetáculo em sua maioria seconhecem e estão dispostas a incorporar emsuas vidas e suas relações os temas propostospelo Teatrozero e que frequentemente geramações para além das representações. Existemexperiências de Microteatro, com objetos, deContradiscurso e outras técnicas.

Um terceiro capítulo engloba uma série detécnicas que denominamos Teatro Grito esão técnicas que já confluem diretamentepara ações de não violência como são oContra Golias ou as Poéticas para a desobe-diência que nos permitem exercitar um com-promisso com a ação.

Ôxe: Quais são as principais influências(pensadores, experiências, pessoas...) do seutrabalho?Moisés: São múltiplas e muito variadas:

Desde pessoas vinculadas ao teatro comoAugusto Boal, Brecht, Piscator ouMeyerhold, até referências educacionais co-mo Lorenzo Milani e Paulo Freire, passandopor grandes lutadores como Gandhi, LutherKing e César Chávez ou místicos comoGuillermo Rovirosa. Constantemente inte-gramos novas influências com essas citadas.Nos interessam todas as influências que te-nham avançado no compromisso da promo-ção integral das pessoas e grupos. São muitase muito valiosas embora as universidadesdispensem essas referências. Certamente issonão é por acaso.

Ôxe: Quando surgiu a questão da não vio-lência como eixo do seu trabalho?Moisés: Desde o início nos demos conta

de que se queríamos fazer um teatro radical-mente novo não bastava fazer adaptaçõesmais ou menos bem intencionadas do que jásabíamos fazer. Era necessário reconstruir atécnica, porque toda técnica carrega em siuma filosofia. Nesse sentido descobrimosque a cultura da não violência era muito di-nâmica e unia perfeitamente a ação e a refle-xão, nos permitindo fazer descobertas muitoelementares, que os mais pobres já haviamdescoberto muitas vezes, mas que estavam

fora do teatro. Incorporá-las ao nosso traba-lho desatou muitos dos nossos nós.

Ôxe: Como acredita que oTeatro da Escutapode, efetivamente, contribuir para a cons-trução de ummundomais justo?Moisés: Creio que tem algumas contri-

buições que podem ser bem significativas...

- Une sensibilidade e política.- Evidencia que técnica e filosofia de-

vem andar juntas.- Possibilita iniciar processos de trans-

formação que começam pelos própriosatores e atrizes.- Coloca ferramentas de comunicação

teatral emmãos de profissionais muito di-versos.- São metodologias dinâmicas que estão

em constante diálogo com a realidade.- Nos permite lutar contra nós mesmos.

Já que nos mostra que a medida da justiçanão pode ser baseada em nossas necessi-dades individuais e sim nas necessidadesde todos os demais.

Ôxe: Como é a relação doTeatro da Escutacom os demais movimentos que estão sur-gindo na Europa?Moisés: Eu diria que é uma relação tensa

e de diálogo. Na Europa existem muitos mo-vimentos que evidenciam que não queremmais as coisas do jeito que estão. Em algu-mas questões se tem produzido um grandedespertar, mas é preciso dar um passo difícil:é preciso romper com a cultura em que fo-mos educados. Agora se trata não só de ircontra as coisas do sistema das quais nãogostamos e sim de ir contra a cultura que ogerou. Não adianta correr ou improvisar.Precisamos nos organizar a longo prazo. Docontrário pode-se produzir o efeito de dissi-dência tolerada, que não muda nada, porquenão chega a raiz do problema. Temos umgrande desafio coletivo.

Ôxe: Quais são as suas expectativas refe-rentes aoTeatro da Escuta na América La-tina?Moisés: Cada vez mais esperançoso com

a receptividade que está tendo em lugarescomo o Brasil. Acredito que as experiênciasde luta de muitos desses países não será per-dida, mas sempre existe o risco de seremdistorcidas nesses tempos de globalização.Gostaríamos de contribuir nessa direção deconhecê-las, difundi-las e comprometermo-nos com elas.

Ôxe: Na sua opinião, qual é o maior proble-ma que deve ser superado nomundo atual?Moisés: Há um problema político que po-

de e deve ser superado se uns 10% da popu-lação mundial se empenhar seriamentenisso: A fome que afeta a maioria da huma-nidade num mundo com capacidade paraalimentar mais que o dobro da populaçãoatual. E um segundo problema que é moral:A falta de esperança, a impotência que estesistema nos impõe sem nos darmos conta.Uma grande tarefa é gerar esperança. Sógente com esperança é capaz de lutar. Elespodem ser esses 10% que podem dizer sobreo tema da fome: Isso é uma injustiça e deveterminar!!!

Para sabermais acesse: www.teatroycom-promiso.com

::. Diga, Ôxe! Moisés Mato, fundador do "Teatro de la Escucha" (Teatro da Escuta) - via e-mail

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Saiba: blogduoxe.blogspot.comSiga: @informativo_oxeCurta: Produtora Ôxe!

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2Fevereiro / 201 3

::. Núcleo de vivências cênicas em Francis-co MoratoO ator e arte educador Eduardo Bartolomeu está coor-

denando a criação de um núcleo de estudos do fazer teatralem Francisco Morato, que valorizará o processo de desen-volvimento do ator e suas potencialidades físicas, vocais eseu imaginário. Quem quiser fazer parte desse núcleo, preci-sa ter idade mínima de 15 anos e pode se inscrever GRA-TUITAMENTE até o final de fevereiro na Casa deCultura Vinícius de Moraes (Rua Virgílio Martins de Oli-veira, 519, Centro, Francisco Morato, SP) de segunda a sex-ta-feira, das 9 às 17h. Os encontros terão início no mês demarço e acontecerão aos sábados das 9 às 12h. Interessou?Então corre pra fazer sua inscrição que são só 28 vagas.

Essa iniciativa conta com o apoio da Superintendênciade Cultura de Francisco Morato.

Mais informações: (11) 4488-2145

::. Sarau CONPOEMANo próximo sábado, dia 16 de fevereiro, a partir das

19h, acontece mais uma edição do Sarau CONPOEMA.Um espaço aberto, onde todos podem se expressar, seja can-tando, dançando, declamando uma poesia, contando umahistória, tocando um instrumento musical, apresentando umacena teatral, ou fazendo o que quer que seja pra trocar ideiase ideais com aqueles que estão presentes.

O Sarau CONPOEMA acontece desde outubro do anopassado na Casa de Cultura de Franco da Rocha (antiga

biblioteca, bem emfrente a estação) e éuma iniciativa da As-sociação ConfrariaPoética Marginal,com apoio da Dire-toria de Cultura deFranco da Rocha.Pra entrar éGRÁTIS e pra participar também. Aparece lá!!!

Mais informações: conpoema.blogspot.com.br ou(11) 4488-8524

::. Lançamento do primeiro CD do grupoOdisseia das FloresDepois de muita ralação em 5 anos de trabalho, as meni-

nas do Odisseia das Flores lançam seu primeiro album,entitulado “AS PALAVRAS VOAM”, e como voam!

As vozes Odisseianas estão cada vez mais conhecidas,elas estão ganhandoseu espaço, estão vi-vendo um momentomuito importante efrutuoso de suas car-reiras. Além do lan-çamento do CD,recentemente elasganharam o prêmioMundo da Rua de

Hip Hop, como grupo revelação!

Que as palavras e as meninas voem cada vez mais longe!

Quer conferir o lançamento do CD?

No dia 23 de fevereiro o grupo estará na ComunidadeCultural Quilombaque, a partir das 22h, a entrada éR$10,00, e as 100 primeiras pessoas que chegarem ao lo-cal ainda levam o CD de graça!

E não é só, a noite vai contar com discotecagem, grafite,beaks, roda de capoeira e também com a participação dasbandas OMandruvá e Audiozumb!

Vale muito à pena, assim fica quase na faixa!

A Quilombaque fica na Travessa Cambaratiba, 05, emfrente a estação de trem de Perus.

Mais informações: (11)3917-3012

::. Oficina de Produção Musical e ProduçãoCultural em CaieirasDurante os dias 25 e 28 de fevereiro, das 14 às 18h,

acontece em Caieiras as oficinas de Produção Musical e deProdução Cultural. Para participar basta fazer a inscriçãopor e-mail [email protected] ou pelo telefone 95309-3655.

As oficinas são GRATUITAS e são uma realização daAssociação Cultural de Caieiras e Associação de MídiaComunitária de Caieiras, com apoio do Ponto de Cul-tura, da Secretaria de Estado da Cultura e doMinisté-rio da Cultura. .::

Confira as imagens do intercâmbio BRASIL AR-GENTINA ESPANHA Y MÉXICO, com SarauCONPOEMA, o Sarau da Cooperifa, monólogode Geraldine Guerrero, apresentação do AraPyau e a oficina sobre o Teatro de La Escucha.

“O Carnavalmudou,

os desfiles privilegi-

am o espetáculo vi-

sual em detrimento

do samba, do ritmo

e do povo cantando”

Paulinho da Viola

::. Na Faixa Por: Fabia Pierangeli e Meire Ramos

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Meninas do Odisséia das Flores emapresentação na Associação Cultural do Véio

imagem:MariMoura

Sarau ConPoeMa se consolida como opçãode livre expressão e experimentação artística

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Desde que aportaram em terras brasileiras (até antes), nos-sas amigas Chusa Pérez e Geraldine Guerrero já começaram,sem saber, a mexer em nosso cotidiano e proporcionar refle-xões que provavelmente de outro modo não teria sido possí-vel. De questões triviais como "será que elas vão gostar defeijoada?" até as mais complexas como entender o que apro-xima o trabalho do Teatro de la Escucha e do Teatro Giran-dolá; o repertório de reflexões, questionamentos, novas evariadas experiências é vasto. Certa-mente levaremos um bom tempo paraconseguir processar isso tudo em nossacabeça. Por outro lado, levar nossasamigas de além-mar para um tour pelasdiferentes iniciativas culturais nas que-bradas da Sul, Leste, Norte e Oeste deSão Paulo foi uma experiência igual-mente rica e importante. De vez emquando, é preciso algo assim para nóspercebermos o quanto de coisas baca-nas e importantes temos aqui mesmo em nosso quintal e co-mo isso tudo que acontece atualmente no Brasil é único einovador. Você não tinha se atinado para isso? Pois é, pra sersincero, a gente também não.

Em um desses sábados de Janeiro (quase domingo), “des-montávamos”mais um delicioso e intenso sarau ConPoeMa,repleto de participações emocionantes e significativas paratodos nós. E, como de costume, tivemos de tudo um pouco:poesias, reflexões, música, gente que se emocionou, diversão,idosos, jovens, crianças e adultos. Entre uma caixa e outra,enquanto arrumava a mochila, perguntei a uma delas se haviagostado do sarau. Qual não foi a minha surpresa com a res-posta: estava maravilhada e, segundo ela, algo assim é impen-sável na Espanha. Primeiro que lá, um sarau aconteceriaapenas em um local muito reservado e quase escondido; se-gundo que somente as pessoas que se “prepararam intensa-mente” se arriscariam a recitar ou tocar alguma coisa; e, porúltimo, somente as pessoas com mais instrução, que domi-nassem essa ou aquela área (poesia, literatura, música, etc.)participariam. Fazer algo no improviso? Ler algum poemapego de algum livro na hora? Trazer um poema de casa, feitono mesmo dia? Ler algo escrito no momento mesmo em queacontece o sarau? Juntar três músicos de momento e se apre-sentar? Nem pensar! Quem dirá pintar um quadro durante oevento na frente de todos... Ao que entendi, um certo indivi-dualismo também atrapalharia: nunca que alguém da Espa-nha se arriscaria ou permitiria que entrasse no meio daapresentação e acompanhasse na percussão sua performance,muito menos as pessoas cantariam e bateriam palmas na mú-sica que você está cantando. A participação do público se li-mita a bater palmas, no final, se gostarem.

Ainda que alguém possa pensar que lá a coisa é mais “sé-ria”, que assim é que tá “certo”, que lá é “mais desenvolvi-do”; prefiro pensar (ainda que me chamem de relativista) queé apenas diferente e, nas sábias palavras da nossa queridamentora Dra. Andréa Amorim: “ (…) acredito que esses mo-vimentos culturais no Brasil tem algo a ensinar à Europa nes-se momento que eles estão passando”. Aqui a cultura é algovivo e do qual todas as pessoas merecidamente podem se

apropriar. Mesmo sem perceberem, fazparte do dia a dia e não tem centro, acon-tece aqui tanto quanto em outros estados.É sempre bom estudar e conhecer maissobre algo que você gosta, mas hoje há oentendimento de que o conhecimentoacadêmico e o fazer artístico-cultural sãocoisas bem diferentes; de modo que ovendedor de tapioca faz tão boa poesiaquanto o ilustrado professor e o marce-neiro toca viola e rabeca como ninguém.

Nossos mestres não estão apenas nas universidades e, às ve-zes, trombamos com eles na esquina. Graças a nossa história,chegamos no ponto, hoje em dia, em que entendemos a cul-tura de uma maneira mais orgânica, humana até. E por nosnegarem os meios para conhecermos mais sobre isso, decidi-mos fazer do nosso jeito mesmo, sem nos preocupar com oque os outros acham certo ou errado. Aqui, Arte e Cultura éde todo mundo que quiser tomar parte dela, cada qual do seujeito, com o melhor que cada um possa dar.

E foi assim, com nossa história e com muito do que nosempurraram, que criamos esse nosso jeito próprio de fazerarte e cultura, um jeito coletivo que só se realiza com a parti-cipação de todos e para todos. Onde importa mais o todo doque os nomes individuais, de modo que, em cada sarau reali-zado na periferia é possível ouvir o eco vindo das senzalas,há centenas de anos; e mesmo em nosso gosto pelo chuchu equiabo carregamos também gerações e gerações de nossosancestrais anônimos na história oficial, mas que deram formaao que chamamos hoje cultura brasileira. Nosso jeito de fazer,coloca as pessoas e suas histórias no centro do palco. E lem-brando do mestre Darcy Ribeiro, acredito que é justamentecom isso que o Brasil pode “ensinar” o mundo hoje em dia:esse jeito peculiar de se manifestar culturalmente, que na ver-dade é uma grande mistura, um caldo vindo da mistura devárias culturas, ao mesmo tempo ferramenta de mobilização,identidade, ação política, estética e que cresceu e se desenvol-veu longe das elites (culturais ou não) do país. O Brasil, den-tre outras coisas, pode mostrar ao mundo como aspopulações pobres também tem uma identidade cultural ecomo são capazes de produzir seus próprios modos e meiosde expressão.

Agora que manifestações pipocam mundo afora e as pes-soas vão descobrindo que a parte mais importante de qual-quer sistema ou estado são elas mesmas, agora que vãoresolvendo tomar em suas próprias mãos e fazer do seu jeito,agora que ficou claro que é necessário um jeito diferente dese fazer as coisas; eles voltam seus olhos para nós aqui abaixodo equador. Afinal, o terceiro mundo todo é perito em sereinventar e inventar soluções para seus problemas e, gene-rosos que somos, certamente contribuímos e contribuiremospara a construção de um mundo melhor. Mas a diferençaagora é que não estamos exportando a morte, por conta daopressão econômica da qual somos vítima, nem ninguém es-tá vindo nos tomar estas coisas; as enviamos de bom grado,afim de assim contribuirmos com nossa parte na construçãode ummundo melhor e assim influenciá-la.

Mas sem prepotência também. Como é nossa cara, comhumildade, pois do mesmo modo temos muito a aprender.Porem, é muito bom saber que pessoas como Sérgio Vaz sãoconvidadas para irem lá fora e contarem sua experiência, queo Grito Rock do Fora do Eixo agora é mundial e que as pes-soas olham com interesse para o que se produz no Brasil.Nos enche de orgulho (e acredito que você também) saberque somos tidos como exemplo positivo de algo, nem melhornem pior, diferente e que por isso mesmo tem a contribuircom outras experiências. Temos certeza que iniciativas comoa Quilombaque, CICAS, a maravilhosa história dos Queixa-das, o Sarau da Cooperifa, o Clariô, Pandora, Buraco D'Orá-culo, MST, Teatro União e Olho Vivo, Escola Livre deTeatro, assim como a Comunidade Guarani M'Bya da TekoaPyau, dentre ou-tras, tem impor-tantes e positivaslições para con-tribuir com omundo, por issomesmo nos orgu-lhamos muito de,ainda que mini-mamente, podercontribuir comeste processo.

É curioso como acaba sendo necessário que passemos poralgumas situações ou que nos privem de algo para perceber-mos sua importância. Talvez por sermos nascidos e criadosno meio disso, ou ainda que este processo se deu enquanto agente crescia e tomava consciência, a gente acha tudo muitonormal. Acabamos não percebendo como isso é raro e im-portante. No final das contas, ainda bem! Afinal não preci-samos do outro jeito para nos tocarmos, né. .::

"Se o amor é

fantasia, eu me

encontro ultima-

mente em pleno

carnaval."

Vinícius deMoraes

Oficina com Chusa Pérez: intercambio possibili-tou diversas trocas entre os grupos daqui e de lá.

imagem: Luciene Costa

PPoorr:: RRooggeerr NNeevveess

Bar do ZéBatidão lotado em dia de sarau.Iniciativa da Cooperifa é exemplo, até lá fora.

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DDAASS QQUUEEBBRRAADDAASSPPAARRAA OO MMUUNNDDOO

No fundo, coletânea de imagens da visita de nosso intercambio que buscouestabelecer trocas com algumas iniciativas culturais das periferias paulistanas

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É Folia! É Alegria! É Carnaval.Lucro Privado com investimento Estatal.É Samba! É batuque! É Fantasia.Os gringos desfilando pela avenida.É comunidade! É povo! É festa popular.Trabalham o ano todo pra top model brilhar.É pacote CVC ! É rio! É Bahia! É turismoA maioria do povo pela tela assistindo.É curtição! É sexo! É bebedeira.Acidente de trânsito e violência de várias maneiras.É lentidão! É burocracia! É corrupção.Felicidade que não passa de ilusão.É marchinha! É hits! É o som do verão.Baboseira vira hino aclamado pela multidão.O povo sofre, mas se diverte.A burguesia não precisa temer nossa plebe.Temos fome e jamais teremos guerra,Pois nosso país mistura folia e miséria.

É Folia! É Alegria! É Carnaval.Lucro Privado com investimento Estatal.É Samba! É batuque! É Fantasia.Os gringos desfilando pela avenida.É comunidade! É povo! É festa popular.Trabalham o ano todo pra top model brilhar.É pacote CVC ! É Rio! É Bahia! É turismoA maioria do povo pela tela assistindo.É curtição! É sexo! É bebedeira.Acidente de trânsito e violência de várias maneiras.É lentidão! É burocracia! É corrupção.Felicidade que não passa de ilusão.É marchinha! É hits! É o som do verão.Baboseira vira hino aclamado pela multidão.O povo sofre, mas se diverte.A burguesia não precisa temer nossa plebe.Temos fome e jamais teremos guerra,Pois nosso país mistura folia e miséria. .: :

FFooll iiaa ee mmiisséérriiaa PPoorr:: DDaanniilloo GGóóeess

O ano já começou agitado para o Teatro Giran-dolá, que no final de janeiro e começo desse mês, re-cebeu duas ativistas culturais, Chusa Pérez, espanholaque vive na Argentina e Geraldine Guerrero, mexi-cana que mora da Espanha. Elas vieram para o Brasilrealizar um intercâmbio com o grupo e explicar atra-vés de vivências e oficinas um pouco sobre o Teatrode La Escucha, ferramenta criada porMoisés Mato, eque hoje é disseminada no centro de formação SalaMetáforas, com sede em Madri, na Espanha. Conhe-cemos o Teatro de La Escucha através da nossa par-ceira Andréa Amorim, que é brasileira, mas queatualmente está estudando e vivendo na Espanha.

Nós, do Informativo Ôxe, estávamos juntos com oGirandolá para receber as estrangeiras e foi precisomuito fôlego para aproveitar tantos dias de atividades,mas antes de começar com tudo, é sempre bom estarde barriga cheia, né?! Já no primeiro dia fizemos a fa-mosa feijoada para as gringas experimentarem, depoisdo rango com direito a todos os tradicionais acompa-nhamentos, era hora de trabalhar, apresentamos praelas nossos trabalhos, mostrando alguns eventos querealizamos e a importância derealizar atividades culturaisnessas terras, Chusa ministrouuma oficina sobre Teatro de LaEscucha, com muitos jogos ereflexões, e aos poucos fomosdescobrindo afinidades entreBrasil, Argentina, Espanha eMéxico.

Vieram outros grupos par-ticipar desses momentos com a gente, integrantesdo Teatro em Carne & Osso e aMá Cia de Tea-tro, de Franco da Rocha, o Núcleo Água Fria, deCajamar, o Grupo Salada de Frutas, de Perus, eda Cia Teatro da Investigação, de São Paulo, pu-deram conhecer um pouco sobre a filosofia e práti-ca utilizadas no Teatro de La Escucha. Nos outrosdias, visitamos outros parceiros, fomos pra Perus vi-sitar o Sr. Sidnei Fernandes, que nos contou a his-tória da “greve-guerra” de 1962, organizada portrabalhadores da Companhia Brasileira de CimentoPortland Perus, demos um pulinho na ComunidadeQuilombaque para elas conhecerem e ainda emPerus, fomos assistir o ensaio aberto do novo espe-táculo do Grupo Pandora; Fomos no CICAS -Centro Independente de Cultura Alternativa eSocial, um projeto cultural realizado em um espaçoabandonado que a partir de março de 2007 foi ocu-pado para a realização de atividades culturais na zo-na norte de São Paulo.

Também festejamos com elas, realizando o 4º Sa-rau CONPOEMA, evento que resultou em mais dequatro horas de música, poesia, performances, desa-bafos e até um leilão improvisado para a diversão detodos; Conferimos a apresentação de Chusa Pérez,com o provocativo “Escribo sobre ti para vencerte”,que trouxe um longo bate papo no Espaço Girandolá,com muitas inquietações e questionamentos; O Gi-randolá ministrou duas oficinas no seu espaço, uma deBrinquedos Cantados, brincadeiras e danças tradicio-nais do nosso Brasil, como ciranda e cacuriá, e outrade socialização do processo de criação do espetáculo“Ara Pyau – Liturgia para o povo invisível”, numatarde de intensas trocas e lembranças, contando umpouco como foi a pesquisa nas aldeias Tekoa Pyau eTekoa Ytu, que ficam no Jaraguá, local que os giran-dolescos visitaram semanalmente por oito meses; Vi-sitamos a galera do Grupo Clariô de Teatro, nazona sul, e já demos um pulo no Sarau da Cooperi-fa, que tem mais de 10 anos de existência e resistên-cia na periferia de São Paulo; O Girandolá apresentou“Ara Pyau – Liturgia para o povo invisível” emFranco da Rocha; E pra fechar a programação, Geral-

dine Guerrero apresentou, com muitadelicadeza, seu monólogo “Outrotrabajo cliché sobre la violência enMéxico”, falando da violência queacontece em seu país e trazendo umlongo debate sobre todos os tipos deviolência, no final da conversa, todosos presentes foram para o centro deFrancisco Morato, com papéis, giz decera, flores e velas para um ato con-

tra a violência, que acontece de várias maneiras na re-gião que vivemos e em outros países, muitos curiososque passavam também deixaram suas palavras nafrente da estação de trem da cidade.

Pra todos nós, esses dias de intercâmbio foi umagrande aprendizagem, pudemos conhecer duas mu-lheres que vivem em países diferentes, com realidadesdiferentes, mas com alguns desejos parecidos com osnossos, foram momentos de compartilhamento queficarão rondando as nossas mentes por um bom tem-po. A cada passo que damos nessa caminhada, vamospercebendo a importância dessas vivências, momentosque não irão acontecer mais, mas que desejamossempre tê-los, com diferentes pessoas de diferenteslugares do mundo, já que agora podemos dizer quesomos internacionais, certo?! Brincadeiras a parte, es-peramos mais crescimento, conhecimento e que maisnovidades como essa apareçam nas páginas desse in-formativo, tão importante pra gente. Afinal de contas,tem até espanhol falando Ôxe! .::

PPoorr:: MMaarrii MMoouurraa

DDEE RROOLLÊÊ CCOOMMAASS GGRRIINNGGAASSNNAA QQUUEEBBRRAADDAA

"DoapartamentodeDora

Ouve-seo ruído lá fora

Docarnavalque jávem.

Osambadomorrodesce

Eagentedomorro esquece

Dogostoquea vida tem."

Cruz e Sousa

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em:FabiaPierangeli

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em:stock.xchng-www.sxc.hu-ilustra

ção:RogerNeves

Ato em frente a estação de trens lembrou asmortes injustas e violentas no mundo todo.

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Visita à antiga fábrica de cimento em Perus. Intercâmbio podemostrar um pouco das lutas e atuação de coletivos paulistas.

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5 Fevereiro / 201 3

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Leandro contou a históriaque foi à Vênus conceber Joyce Vitória,Com Caroline foi às estrelasconvencer Afrodite para tê-la,Que no Universo constelaçõespor Joyce entram em ação,O caminho de volta estrelarama rota dos cometas desviaram,Joyce com anjinhos brincavacom Caroline seu pai falava,Às vezes, à Joyce, fazia acenosao falar na deusa Vênus,Prometeu cultuar seu glamourpelo presente da deusa do amor,Sobre Vênus Joyce também ouviaos anjinhos com Joyce ouviam,Passavam longe cometas e asteróidesaos deuses do amor cumpriam ordens,Lá de Olimpo decolou Apoloà iluminar a Terra e seu solo,À mãe obedecia cegamenteo Cupido, à ela, era temente,À todos Afrodite ao Cupido deixavapor sua ordem ele ia e flechava,Aos enamorados emanava emoçõescerteiro em seus corações,Para Afrodite não há meandrosa seta do Cupido acertou Leandro,Carol à carregar sua sementeJoyce se alojou em sua mente,Vênus a deusa da fertilidadedeu aos pais a responsabilidade,À deusa prometeram tambémcuidar de Joyce como ninguém,A chegada de Joyce com o sol surgindona sua espera vem a todos sorrindo,Sua nova família a conhecervovó Edna provedora do seu ser,Gabriel o tio meninocurte a sobrinha com mimos,

Com o filho e a nora vovó Janetedá carinhos e nina sua neta,Aos primos o pai a apresentarLarah Gabriele a encantar,Neste lar mais anjos à elaLuan, Pâm, Évelin,O grau de parentesco não terminaamados por Leandrinho e Carolina,Meu sobrinho, mais pela vida, estudaráum filósofo se tornará,Um professor de contação de históriasprometeu aos deuses e à Joyce Vitória. . . .::

OFERECIMENTOS:DÉCIO, MÔNICA, ELI,TATI, LETICIA, DONAFRANCISCA, MARIA,LUIZE JOSÉ

E eu morro a cada diaquando cada coisa morre.Outrora Deus me socorria;agora já não socorre. . .

Vai um pássaro, coitadinho,de hirtas e opacas asas.Vai com ele um bocadinhoda minha alegria tão rasa.

Vão-se o amigo, o cão, o gato, o boi,tudo vai nesta infalível jornada.Só fica a angústia do que foina minha memória cansada.

Até um jovem filho se vaisem mesmo saber pra onde,na vã liberdade que atraie mil armadilhas esconde.

Nenhuma alegria perdurae todo gozo é passageiro.Só de tristeza há farturatodo dia, o ano inteiro. . .

Quando eu me for [e será breve!]levarei comigo esta carga.Não quero que alguém herdetanta lembrança amarga. .::

Por: Remisson Aniceto

Herança

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ens:William-AdolpheBouguereau

ilustraçã

o:RogerNeves

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:Wikimedia

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::. BETTO SOUZA

Todos os dias somos bombardeados com umvolume enorme de informações sobre oaquecimento global. Derretimento de geleiras e oconsequente aumento dos níveis dos oceanos.Efeito estufa com secas de proporções bíblicas,mudanças climáticas nunca vistas onde malsabemos em que estação estamos. Calor infernalno inverno e chuvas intensas quando não seespera. Enfim, vivemos tempos de mudança.

Muito se atribui a ação do homem.Aparecemos como principal vilão de toda essahistória. Com nossas fábricas, carros, aviões enavios. Com nossa agricultura, pecuária e enfim,com nosso modo de vida. Não pretendo iniciaruma discussão técnica sobre a causa doaquecimento do planeta, mas vale lembraralgumas opiniões divergentes.

Com maior penetração na mídia temos odiscurso catastrófico e apocalíptico daqueles queapontam o homem como o algoz do nossoplaneta. Não há a possibilidade de citar nomes,esse artigo não comporta tanto, fica para registro oGreenpeace, histórico grupo de defesa do meioambiente.

Do outro lado, céticos como o professor declimatologia Ricardo Augusto Felício, da USP,que vem ganhando espaço na mídia dando como“mito” muitas das afirmações e previsões feitaspor ecologistas. Aqui quero fazer uma observação:acompanhei por um período o emérito professorAziz Ab'Saber, reconhecido mundialmente comoum brilhante geógrafo e crítico voraz dos estudosdivulgados pelo IPCC - Painel Intergovernamentalde Mudanças Climáticas. O professor Aziz

afirmava que tais estudos não observaram oOptimum Climático – período ocorrido há 5 ou 6mil anos em que houve grande aquecimento doglobo.

Mas, como disse no início, não vou levantaruma discussão técnica sobre o tema. O objetivo élevantar um debate sobre o modo de vida queadotamos. Esse sim responsável pela agressão aomeio ambiente. Somos responsáveis sim, pelaenorme quantidade de lixo acumulado nas ruas ecidades. Somos responsáveis sim, pelo consumodesmedido apenas pelo consumo. Somosresponsáveis sim, pela cultura da quantidade emdetrimento da qualidade.

Observem que essas questões estão ligadas acultura que fomos criados. As relações de podersão calcadas no consumo. No quanto você podecomprar. Não usamos mais a força física paracaçar ou subjulgar. Usamos a força econômicapara isso, com grandes índices de consumo defutilidades que nos projetam “poder”.

Enfim, mito ou verdade as questões que nosafligem em relação ao meio ambiente estãorelacionadas à educação. Discutir, entender, opinare levar o tema a todos os meios é uma forma dechegarmos a um conceito comum.

E não há dúvida que precisamos discutir sobreo tema. Sobre nosso futuro. .::

Eduardo Nunes (professor, músico, ambientalistaatento às alterações e interações humanas).

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AQUECIMENTOGLOBAL

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