Ôxe! - Julho de 2013

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Os protestos que marcaram o último mês e uma reflexão sobre os caminhos que essa mobilização está tomando e poderá tomar, é nossa capa este mês. E além de registrarmos a mobilização da galera, também trocamos uma ideia com O Mandruvá, diretamente do QG mandruvistico em Caieiras, sobre os dez anos que esta banda referência de nossa região está fazendo e sobre a comemoração do aniversário no dia 27 de julho, juntamente com nada menos que Dead Fish. E como se isso já não fosse o bastante, temos ainda poema de Messias Silva sobre os enamorados pelo poder, charge do Betto Souza sobre o gigante brasileiro, as belíssimas e poéticas estreias de Cleide Lima, Régis Andrade e Sidney Santos, além de quatro super dicas NaFaixa, Registro especial do Oxandolá [In]Festa 2013, guerreiras Pílulas de Sabedoria, Dia do Rock e da Avó. Vai perder?

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Realização:

Be Linux, Be Free!Na confecção destematerial

gráfico foramutilizados

apenas softwares que atendem

a licençaGNU/GPL.

ANO IV − Numero 505.000 ExemplaresFrancisco Morato - São Paulo

Brasil

ComportamentoSociedade

Culturae protagonismo!

Julho/ 201 3 VVeennddaa PPrrooiibbiiddaa Distribuição Gratuita graças ao apoio do comércio local

AELITE TREME!imagem

:Roger

Neves

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Julho / 201 31

ProgramasUbuntu 12.04 (ubuntu.com)LibreOffice 3.5.7.2 (pt-br.libreoffice.org)GIMP 2.6.12 (gimp.org)Scribus 1.4.1.svn (scribus.net)Inkscape 0.48.3.1 r9886 (inkscape.org)Mozilla Firefox 22.0 (br.mozdev.org)Audacious 3.4 (audacious-media-player.org)

::. O que a gente usou nessa edição

::. Colaboraram nesta edição:

Betto Souza(subjetividadeematividade.blogspot.com.br)

Cleide Lima([email protected])

Messias Silva([email protected])Régis Andrade([email protected])Sidnei Santos([email protected])

O informativo Ôxe! é uma iniciativa daÔxe! Produtora Comunitária que visapropiciar à população de Francisco Mo-rato e região, um veículo de jornalismocidadão e produção, difusão e divulga-ção de ideias e informações na área cul-tural. Todas as informações, ilustraçõese imagens são de responsabilidade deseus respectivos autores e obedecem alicença Creative Commons 3.0 BrasilAtribuição-Uso Não-Comercial-Com-partilhamento pela mesma Licença(acesse o blog para maiores detalhes),salvo indicações do(a) autor(a) em con-trário. Para ver uma cópia desta licença,visite http://creativecommons.org/li-censes/by-nc-sa/3.0/br/ ou envie umacarta para Creative Commons, 171 Se-cond Street, Suite 300, San Francisco,California 94105, USA.

A Equipe Ôxe! é: Fabia Pierangeli,Gilberto Araújo, Mari Moura eRoger Neves ([email protected])

::. Diga, Ôxe! O MANDRUVÁÔxe! Pra quem não conhece quem é oMandruvá?O Mandruvá: É uma banda de rock

and roll, a proposta inicial em 2003 erafazer uma banda de rock com som pró-prio, misturando vários ritmos, o que maispesou foi a formação musical de cada um,sempre curtimos rock, mas também ou-víamos MPB e Rap. Eu, Denis e Marcelonão éramos engessados num estilo só, iade Alceu a Slayer. Já tinhamos passadodaquela fase de moleque, “que eu soutrash, grounge” ou determinado estilo, jáescutávamos muitas coisas e a banda fi-cou com essa cara, com várias pegadas eum som eclético. Mas somos uma bandade rock, com som autoral. Temos essa pe-gada de fazer som próprio e releituras,sempre! Não tem uma definição, é antro-pofágico, é comer e vomitar tudo mistura-do, não estamos inventando nada, a gentereinventa.

Ôxe! Qual o segredo de ter uma bandahá 10 anos?O Mandruvá: Primeiro, tem que gostar

muito do que a gente faz, porque tem vá-rios motivos pra chutarmos o balde e de-sistir! A nossa ideia nunca foi ser popular,até porque não fazemos música popular,então é vontade de tocar mesmo, por issonão conseguimos parar. A gente curte oque a gente faz. E aprender com o outro,a gente se junta por afinidade e com otempo conseguimos nos ouvir e entendero que o outro quer.

Ôxe! Agora em Julho vocês comemo-ram 10 anos de O Mandruvá e vocêsvão trazer o Dead Fish. Porque o DeadFish?O Mandruvá: Quando ouvimos o som

do Dead Fish, curtimos, quando vimos asletras então, achamos do caralho e pensa-mos que seria bacana conversar com eles.Então, quando houve essa possibilidadede fazer parceria com a prefeitura de cai-eiras, o primeiro nome que veio à cabeçaera o deles. Por ter um conteúdo políticomuito forte, dialogar com a gente e com aproposta do evento, caiu como uma luva.

Ôxe! A gente vive numa região muitopobre e que as atividades culturais sãorelegadas pra segundo ou terceiro planoe o rock é muito mal visto, como vocêsconseguiram mobilizar um evento dessetamanho?O Mandruvá: Tivemos uma sorte,

porque na região não tinha banda de sompróprio e misturado, então a galera come-çou a nos olhar com outros olhos, teve

uma gestãoem caieiras eo PT ficouna área dacultura e nosprocuraram,como umabanda quetocava sonsdiversifica-dos, entãocomeçamosa focar nes-ses eventos,

que era o Juventude Fazendo Arte, queestamos fazendo parceria hoje. Como Cai-eiras é perto de Franco, Morato, Perus,Taipas, nosso nome começou a escaparnessas regiões. Participamos do Fermuca,um festival, e ganhamos, conseguimosgravar o CD, e em toda essa conjuntura,nos firmamos como referência. Isso foiconstruído, e nos utilizando desse “knowrow”, quisemos fazer um outro projeto,porque em Caieiras houve uma mudançade gestão que limou os projetos culturais,e como tinha a Quilombaque, em Perus,fomentando cultura há uns anos, nos alia-mos a eles, que tem experiência em pro-dução de cultura e fomos caminhando.Em 2010, realizamos só um MAT – Mú-sica e Atitude em Transpiração, em 2011outro, e no ano passado, fizemos cincoeventos. E quer queira quer não, atravésdas mídias eletrônicas, mesmo que a gale-ra não vá, ela vai ver o cartaz, vai repas-sar, vai curtir, vai comentar, tudo isso édivulgação. Nos utilizando disso, resolve-mos encampar esse novo projeto, que ain-da está sendo gestado, em parceria com aprefeitura. A ideia de fazer esse intercâm-bio é justamente trazer o pessoal de fora,pra que eles divulguem o evento em ou-tros lugares e O Mandruvá vai estar lá,junto. A partir do MAT em Perus, surgi-ram convites pra tocar no CCJ, Paranapia-caba, Várzea Paulista e isso surte umefeito, fizemos em uma escala pequena,porque quando tem mais grana, mais es-trutura, mais divulgação, fica melhor.

Ôxe! Durante a apresentação de vocêsno Oxandolá, vocês falaram sobre asmanifestações que vem acontecendo nopaís, a respeito da repressão. Como vo-cês vêem essas manifestações e o rumoque estão tomando?O Mandruvá: Nós achamos super váli-

do, mas tem que se ter cuidado, esse mo-vimento tem uma tentativa deendireitar-se e aí, a mídia burguesa está seaproveitando disso, pra tranformá-lo nummovimento de direita fascista e naciona-lista, é complicado. Porque amamos oBrasil, mas quando tem uma cultura deideia nacionalista, onde há exclusão dasminorias, isso é fascismo, porque elesquerem um Brasil forte, e veem a fraquezano pobre, no negro, no homossexual, co-

mo se essas camadas atrapalhassem o de-senvolvimento do país. Isso que me dáreceio, mas em contrapartida é muito lou-co você ver 20 centavos se tornar umsímbolo.

Ôxe! O que é necessário pra mudar anossa região, principalmente ligado àmúsica e atividades culturais?O Mandruvá: Deixar a vaidade de la-

do, tem vários grupos tentando fazer mo-vimentos culturais legítimos, mas ainda hácerta vaidade de não querer se misturar,mas tem que se juntar. Formar coletivos,que não precisam pensar igual, mas pre-cisam saber dialogar, porque o foco éprodução cultural. Não estamos nos ven-dendo, estamos recuando pra poder fazerum gol bonito, não é rachando, não équebrando tudo, temos que ter diálogo,negociação política, por isso que pra to-carmos um projeto macro na região é ne-cessário ter essa postura.

Ôxe: Como vocês se mantém? O modoque o grupo se organiza?O Mandruvá: A gente se mantém com

a vontade, na raça. Desde o início, a gentedeixa claro que tudo que formos ganharcom o Mandruvá é para o Mandruvá, te-mos a ideia de investimento na banda, vi-samos poder tocar, que é o que gostamosde fazer. Por exemplo, nunca ganhamosnada com o MAT, só gasolina, cerveja ecamarim, nesse evento agora não tem ca-chê, vamos ganhar 200,00, assim como asoutras bandas, quem vai ganhar cachê é oDead Fish. Temos alguns gastos com luz,gasolina do carro, às vezes trocamosequipamentos, mas é pontual, isso é pramantermos a banda. Agora temos foco noCD, então estamos guardando grana paraa viabilização dele. Nos organizamos as-sim, talvez de uma forma não muito pro-fissional, mas é o que temos.

Ôxe! E qual o futuro do Mandruvá?O Mandruvá: A gente não pensa mui-

to nisso, vamos vivendo, nosso projeto élançar o CD, não fazemos muitos planos.O agora bem feito sobra pro depois, senão for bem feito, não sobra pro depois,porque desanima, sobretudo depois de dezanos. Depois desse AGORA do dia 27,pode ter um depois muito louco e melhorainda. .::

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A banda O Mandruvá, referência em nossa região, comemora 10 anos de caminhada e traz uma dasmaiores referências do rock brasileiro na atualidade, Deadfish, para tocar com eles e outros convidados.

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:MariM

oura

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::. Programação Cultural em Franco da RochaEsse mês a Secretaria Adjunta de Cultura de

Franco da Rocha inaugura mais um novo projeto de di-fusão artística, o Roda dos Sete Tons. O projeto pretendeser mesmo uma grande roda de músicos, em que todospodem tocar seus instrumentos, sem qualquer restriçãode estilo musical, aproximando também diretamente opúblico que passa pelas ruas do bairro. O evento inicia-seno dia 20 de julho e acontecerá na Avenida GiovaniRinaldi, próximo à pista de skate.

E dando continuidade ao projeto Vitrine do Som, osmoradores de Franco da Rocha poderão ver os trabalhosdos artistas da música Sertaneja da cidade no palco naPraça Caieiras, a partir das 15 horas do dia 13 de julho.Os shows mostrarão as vertentes caipira de raíz, o coun-try e o sertanejo universitário.

::. O Mandruvá e Dead Fish em CaierasA Prefeitura de Caeiras realizará a partir do mês de

julho o projeto Juventude Fazendo Arte. O evento serárealizado em parceria com o projeto Música e Atitudeem Transpiração, o M.A.T., da banda O Mandruvá,que começou em 2010, em parceria com a Comunida-de Cultural Quilombaque.

Esse será um espaço para os artistas e grupos da cida-de e região se apresentarem e divulgarem seus trabalhos.E para a abertura do projeto, no dia 27 de julho, alémdas bandas da região como a própria O Mandruvá(Caieiras-SP), Sonora Artificial (Caieiras-SP), Nego

D’água (Francisco Morato-SP), as mono bandas Extre-me Blues Dog (São Matheus-SP), X So Pretty (Centro-SP), o público também poderá ver artistas internacionaiscomo é o caso do Congo Shock (Buenos Aires-ARG), eintervenções de cortejo e grafitagem com Bonga (Caiei-ras-SP) e Danillo Guetus (Perus-SP), B.Boys com oProfessor Chuim (Caieiras-SP), e nada mais nada me-nos que DEAD FISH, como banda convidada mais queespecial. Tudo isso você confere a partir das 14h noPEC – Antigo MAC (Rod. Pres. Tancredo de Al. Ne-ves, KM 34), a entrada é 1 kg de alimento.

::. Espaço Eco`sO Espaço Eco`s tem se tornado um grande ponto de

fruição cultural na cidade de Francisco Morato, promo-vendo atividades artísticas em quase todos os dias dasemana, e em que o público da região encontra ativida-des para todos os gostos.

Confira a agenda de julho:

12/07 –DJ Django eDJ Vivi – Flash Back anos 70, 80 e 9013/ 07 – Katrash com exposição de Ana Bedoya14/ 07 – Arnaldo e as novas mídias (MPB)17/07 – Balaio Autoral18/07 – Stand up com Felipe Tristão19/07 – Esttaca Zero – rock`n roll20 /07 – Casulo de Rudá – reggae21/07 – Tequila – rock acústico24/07 – Balaio Autoral25/07 – Arnaldo e Fabiano – chorinho26/07 – Noite Árabe – com apresentações de dança doventre

27/07 – banda O Acaso – classic rock28/07 – Rafael Carodoso – MPB31/07 – Balaio Autoral

O Espaço Eco`s fica na Rua João Mendes Junior, 542– no centro de Francisco Morato.

Mais informações: 4881-6957

::. Teatro nos ParquesNos dois próximos meses,

a população de São Paulopoderá ter acesso a mais de30 opções de apresentaçõesGRATUITAS de espetácu-los teatrais em parques daCapital, Grande São Paulo einterior do estado.

O Teatro Girandolá estána programação com o es-petáculo Conto de Todas asCores, e se apresentará nosdias 27 de julho (sábado),no Parque da Água Branca (Av. Francisco Matarazzo,455 – Barra Funda – 3865-4130), às 16h, e 25 de agos-to (domingo), no Parque da Cidade (Av. Olivo Gomes,100 - Santana – São José dos Campos – (12)3921-9382), às 15h.

As atividades vão de 13 de Julho a 25 de Agosto de2013, confira a programação completa pelo site:www.teatronosparques.com.br . : :

"Maior que atristeza de nãohaver vencido éa vergonha denão ter lutado."

Rui Barbosa

::. Na Faixa Por: Meire Ramos

Chance de ver o Teatro Girandoláno parque da Água Branca

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:Divulgação

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"Aprendi quemais vale lutar do

que recolherdinheiro fácil.Antes acreditardo que duvidar."

Cora Coralina

Há cerca de um mês mais ou menos, vimos ir às ruas apopulação brasileira com as mais variadas demandas. Ain-da que puxados pelo MPL e as reivindicações de menorestarifas no transporte público, conforme foram crescendo osprotestos, também cresceram as reivindicações. PEC 37,“cura gay”, marco regulatório da internet, gastos da Copa,o “padrão FIFA”, dentre outras demandas da populaçãoque cansou de ficar só olhando. E nossa região não ficoufora disso: Morato, Franco, Caieiras, dentre outras tiveramtambém suas manifestações que causaram alguns transtor-nos, mas deram uma bonita demonstração de exercício dacidadania e protagonismo popular. Talvez o maior méritodessas manifestações tenha sido mostrar e provar, para ogrosso da população, o óbvio: que juntos podemos conse-guir muito mais, vinte centavos não é nada comparado atudo o que poderíamos conseguir; e, por outro lado, queum povo não deve temer seu governo, o governo sim, devetemer seu povo. Ainda que tenha sido lindo ver aquele po-vo todo na rua, sorrindo e protestando, por outro lado esseainda não é o fim da luta. O caminho é longo e está cheiode perigos; é preciso tomar cuidado para que a sociedadebrasileira não cometa outra vez os mesmos erros que co-meteu em outros momentos e jogue fora, a troco de nada,esse belíssimo momento histórico.

E é realmente um belíssimo momento. Essas manifesta-ções, dentre outras coisas positivas, pôde trazer de volta a es-perança de um futuro melhor a uma população entorpecidapelo consumo sem sentido e pelo descaso com que histori-camente foi tratada. Essas manifestações nos mostraram oque político nenhum quer que a gente lembre, que a uniãodas pessoas, a pressão popular e suas manifestações pacífi-cas são a maior força política de qualquer país. Mais queisso, com elas, as pessoas voltaram a descobrir al-go que a ditadura militar tentou sufocar nos brasi-leiros, a certeza de que lutando juntosconseguimos transformar qualquer coisa. Quandoa gente para de olhar

para o próprio umbigo e começa a ver e agir como um todo,pensando não apenas na gente, mas no coletivo; podemostransformar nossa rua, nosso bairro, nossa cidade, nosso esta-do e nosso país em algo melhor PARA TODOS!

Mas passado esse momento de manifestações, as pesso-as começam a se perguntar: e agora? Obviamente não dápra ficar protestando para sempre e em algum momentoisso não vai ter mais o mesmo efeito, então o que fazer?Além disso a própria sociedade (de dentro e fora do Bra-sil) já espera algo mais disso tudo e, principalmente, re-sultados concretos desse momento. Além de levar aspessoas para a rua e abalar e acuar todos os políticos, semexceção, do país; o que mais conseguimos? Além de ge-rar o momento de maior instabilidade política dos últimosvinte anos, o que mais conseguimos? Além de fazer aDilma tremer, o que mais? Vinte centavos?

Longe de ser uma solução, ir às ruas e manifestar-se sobresua insatisfação é apenas uma parte de um processo longo demudança de paradigma. Uma parte importante, mas aindaassim uma parte. Mostrar que você é contra algo, não resolvea situação; é preciso construir uma outra opção e se você nãofizer isso, alguém vai fazer no seu lugar (o que nunca é umaboa ideia). Por outro lado, é preciso ter uma visão clara a res-peito do que se quer, para obviamente não ser ludibriado. Terderrubado a passagem para o patamar anterior é uma baitaconquista, mas não resolve o problema do transporte público,que é muito maior, e nem garante que em algum momento(ou de um modo colateral) eles aumentem a passagem. Mui-to menos resolve o enorme problema de mobilidade nasgrande capitais e periferias; no nosso caso aqui em Mo-rato, continua-

mos reféns da Moratense e da CPTM (carro nem é umaopção válida).

Numa democracia representativa como a que temos noBrasil, depois de protestar ainda é preciso ficar de olho noque nossos representantes estão fazendo, se estão fazendorealmente o que a gente quer, construir mecanismos paraque possamos participar e interferir na tomada de decisãodos rumos do país, participar desses mecanismos e fazer va-ler nossa vontade. Em outro sentido, ainda é preciso fazernossa parte, ficar esperando que o governo resolva tudo não éuma boa ideia. Mas também reclamar da sujeira da cidade eda agressão ao meio ambiente, mas jogar o papel de bala nochão é o fim da picada. Nas palavras do mestre Gandhi:“Seja a mudança que você quer ver no mundo”. E é justa-mente nestes dois pontos que mora todo o perigo.

Sem que você perceba, a cortina de fumaça já foi lançada.É muita ingenuidade achar que os políticos profissionais e osgrandes empresários de nosso país entregariam o jogo assimtão fácil. A maioria deles ganha a vida nos sacaneando, entãoé claro que iriam dar um jeito de reverter o jogo em seu fa-vor, principalmente se ninguém estiver olhando. Veja o queaconteceu com a PEC 37, uma das principais reivindicaçõesdas manifestações: diversos deputados que tinham se posici-onado a favor dela inicialmente, mudaram de lado assim queestouraram as manifestações, o que fez com que fosse der-rubada no congresso. Mas isso não quer dizer que ela tenhasido enterrada e o deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA),já vem estudando uma forma de reapresentá-la no próximoano. A lei da “ficha limpa”, o fim do voto secreto dos depu-tados e senadores, a reforma política, dentre outras já vãosendo torcidas e retorcidas, mascaradas, manobradas e ate-nuadas, enquanto o tal plebiscito e outros “cafés pequenos”da política são tratados com pompa e estardalhaço pelo Pla-nalto Federal e os grandes meios de comunicação.

A manobra é velha e conhecida: vai seempurrando com a barriga em meio a dis-cussões e burocracias intermináveis a fim deesperar os ânimos esfriarem e as pessoas es-quecerem das demandas ou se descaracteri-

AELITE TREME! Por:

RogerNeves

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:stock.xchng

Concentração pré-manifestação na Praça Belém daSerra: juventude vai se organizando em coletivos.

Ao fundo: Rua Alcantara Machado, no centro deMorato, tomada pela manifestação organizada

por estudantes da rede pública estadual.

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:Roger

Neves

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:Roger

Neves

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"Não há nadacomo o sonhopara criar ofuturo. Utopiahoje, carne eosso amanhã."

Victor Hugo

za parcial ou completamente a proposta original. É o que jávem acontecendo com a Lei da Ficha Limpa, projeto de ini-ciativa popular e referendado pelo Supremo Tribunal Fede-ral (STF), mas para a qual “já circulam sugestões como a dealiviar a punição para políticos que forem considerados ine-legíveis pela Justiça Eleitoral”, como apurou o portal IG.Outro caso é o do Voto Aberto que no calor da batalha foiempurrado para frente, mas que muito provavelmente vai serestringir apenas aos casos de cassação de mandato, enquan-to propostas bem mais amplas como a PEC 196 e 348(2001) que acabavam mesmo com o voto secreto vão sendocozinhadas no fogo brando da burocracia e não tem sequerprevisão de quando poderão ser votadas.

Mas há casos mais graves ainda. É o caso, por exemplo dalei que tipifica o crime de terrorismo no Brasil, relatado pelosenador Romero Jucá (PMDB-RR), que vai “ficar pra de-pois” e, dependendo de como se encaminhe, pode enquadrarno futuro movimentos sociais e manifestações como as quevimos pelo Brasil nos últimos dias. Um outro exemplo depossível retrocesso envolve o chamado marco regulatório dainternet, outra demanda presente nos protestos. Esse marcoregulatório definiria as regras para usuários e empresas deinternet e comunicação no Brasil, o que em tempos de olha-res bisbilhoteiros dos americanos é de absoluta importância.

Um dos principais pontos é a chamada“neutralidade da rede” que, na prática,

iria impedir que as empresas

continuem controlando a velocidade de conexão e definindopacotes de dados com base no perfil dos consumidores, jáque o anonimato dos usuários deveria ser protegido. Com is-so as empresas iriam lucrar menos, pois não poderiam limitaro acesso dos usuários, o que iria indiretamente baratear oacesso; e por outro lado, ficaria mais barato “ligar” pela in-ternet para alguém em outro estado do que pelo telefone. Ad-vinhe o que as empresas de telefonia fizeram. Desde que foiproposto, o projeto de lei tem sido adiado sucessivamente emais uma vez foi empurrado pra frente.

Infelizmente no Brasil (e acredito que no resto do mundotambém) somente protestar não é o bastante para sermos ou-vidos. É preciso ainda ficar em cima, acompanhar de perto asprovidências que o governo toma, ficar a par do que acontecee se envolver na vida pública. A elite tremeu e ainda treme aose lembrar das recentes manifestações, isso porque eles sabemde todo o poder que a massa tem e de tudo o que pode serfeito se as pessoas se mobilizarem; mais que isso sabem queduzentas pessoas na rua podem muito mais do que vinte tran-cadas em gabinetes confabulando e tramando contra o bempúblico. Sabem que numa democracia, a vontade da popula-ção é soberana e é obrigação de nossos representantes acatare fazer valer essa vontade. Sabem que se a população quiser, achapa esquenta de verdade. Mas cabe a nós fazermos issoacontecer. Isso não vai vir de bandeja. Do mesmo modo, épreciso que façamos nossa parte, é preciso tomarmos parte doprocesso de decisão, assim como criarmos nossas próprias so-luções. Ficar eternamente esperando que o governo faça é tãoruim quanto deixar que ele faça o que quiser.

O que acontece se apenas 20% de toda a população mora-

tense decide boicotar o sistema de transporte? E se eles cria-rem outros meios para irem ao trabalho e voltar? E se elesderem carona uns aos outros? E se eles fizerem uma grandecompra coletiva, ao invés de um monte de pequenas com-pras, quanto de economia isso irá gerar para eles? E se cria-rem uma horta comunitária e não precisarem mais ir até ocentro fazer a feira? E se fizerem um grande mutirão, refor-mando as casas uns dos outros? E se eles se mobilizarempara acompanhar, fiscalizar e exigir que certa obra seja con-cluída? E se esses 20% puderem decidir diretamente o futuroda cidade? O que isso tudo vai gerar? Eu arrisco uma res-posta: um futuro melhor.

Mas é preciso escolher ativamente esse futuro melhor. Épreciso escolher entre a novela e um futuro melhor, entreacompanhar um campeonato que não leva a lugar algum eum futuro melhor, entre a cervejinha e um futuro melhor,entre não fazer nada no sofá e um futuro melhor, entre postarinutilidades ou um futuro melhor no Facebook. É precisotambém perder o medo. Perder o medo de tentar, de se ar-riscar, de se organizar e, especialmente, das outras pessoas.Durante as manifestações em Morato, vimos um medo exa-gerado das pessoas quanto às manifestações, o que fez fe-charem quase tudo no centro. É gente como a gente e comotantos outros querem felicidade e um futuro melhor. E podeapostar, TODOS NÓS merecemos e temos direito a isso emais. E aí, pronto pra agir? .::

Saiba: blogduoxe.blogspot.comSiga: @informativo_oxeCurta: Produtora Ôxe!

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Manifestantes fecham rua em frente à antigaestação para decidir coletivamente o trajeto.

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:Roger

Neves

Assim como em outros municípios, tônica domovimento em Morato foi a alegria e o pacifismo.

Ao fundo, manifestação toma todo ocentro da cidade. População foi ade-rindo ao movimento durante percurso.

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:Roger

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Julho / 201 35

""OOss AAmmaanntteess ddoo......RReessiiggnnaaddaa nnaa iimmppoossiiççããoo ddoo vvoottoo--ppaaddrrããooee ttrriissttoonnhhaa àà oouuvviirr uumm ccoonnssttaannttee cclliicchhêê::qquuee aa mmaammaattaa eessccooaa ddiinnhheeiirroo ppeelloo llaaddrrããoo,,aa mmaassssaa,, ddiissppôôss--ssee aa ssee mmeexxeerr!!

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Viva o dia em queO mundo parou!viva o diaEm que a Terra pirou!

As pessoas se uniramse deram as mãosSe abraçaramCom calor tão grande!

Como se o SolEstivesse no meio de nósComo se realmenteHouvesse vida em nós!

Vida que não para,Vida que não dói.Vida que nosembriaga de amor! .::

VIVA

Por:

CleideLim

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Por: Messias Silva

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Page 7: Ôxe! - Julho de 2013

6Julho / 201 3

::.BettoSouza

Por: Régis Andrade

Sociedade àIgnorânciaNão fala!. . . se cala, tá dizendo o quê?Você não é esperto, anda pelo certo?Cadê você, se oprimiu?A palavra te feriu?

É! agora sei, cadê o homem?Que diz estar com fome?E na verdade é sede,Sede de ignorância, podre na arrogância. . .

Sim, é fato, não tente esconder;Se faz de vítima, mas é o réu,Quantos, que em suas mãos penaram?Muitos aclamaram e você não atendeu!. . .

Crianças, adolescentes, homensArmados são uns monstrosMas sem armas, se fazem de coitados!E ainda dizem que a culpa é das armasGrande mentira, é da ignorância.

Tá dizendo o quê?Você está errado, fala de seus direitos!Cadê os meus, agora você quer advogado!?Mas na hora que aquele coitado queNo chão você deixou, não teve direitos. . .Você foi: o juri, juiz e o condenou,É! você é a arma e a peça é a desculpa. . .E pra sociedade só resta a ignorância. . . .::

Francisco Morato terra de gente vários rios,Francisco Morato terra de gente vários rios;

Na quebrada do 120 os moleques estão a mil.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Respeitando as quebradas do Alegria ao Beira Rio.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Já tem tantos problemas e a passagem já subiu.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Desde a bolinha de gude e a pipa que sumiu.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Da chamada rua de terra que o asfalto já cobriu.

Francisco Morato terra de gente vários rios;De um lado para o outro tem a ponte que partiu.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Cidade dormitório que muitos não partiu.

Francisco Morato terra de gente vários rios;Francisco Morato terra de gente vários rios;Meu berço e meu lar, mas o sistema já faliu.

Cêtámaluco .::

PPoorr:: SSiiddnneeyy SSaannttooss

TToorraammoo

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DEZANOSDEOMANDRUVÁ