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Política: Reportagem MILITÂNCIA JUVENIL: Uma forma de intervir na Sociedade São todos jovens, estudantes e convictos. Têm diferentes cores políticas, percorrendo o espectro da esquerda à direita. Acreditam na política como factor de mudança e na militância em juventudes partidárias como uma forma de estar na sociedade, de reflectir o quotidiano e de intervenção no mundo. Para alguns a militância é o berço do que poderá vir a ser uma carreira política. Qual é a relação dos jovens com os partidos? Estará a militância juvenil fora de moda? Em época de descredibilização da política e de quem a faz o Internacional foi conversar com aqueles que ainda acreditam. 2 Ricardo Ferreira é actualmente estudante de Mestrado em Sociologia na FLUP, depois de se ter licenciado em Política e Relações Internacionais e ter tirado um primeiro mestrado em Economia Política Internacional. Decidiu entrar para o Bloco de Esquerda (BE) porque queria fazer algo para mudar a situação económica e social do país. “Queria fazer activismo político, queria debater alternativas para o país, para o ensino, para a economia, para o Estado Social entre tantas outras coisas. Queria entrar em ruptura com o comodismo que sufoca as nossas vidas e os nossos espaços de debate, queria deixar as opiniões abstractas e passar para a acção. Sobretudo queria aprender a pensar um novo mundo que seja mais solidário, mais fraterno e que se baseie na justiça social e económica.”, conta. A escolha do Bloco de Esquerda como o partido foi para Ricardo uma decisão fácil já que quando se tornou militante, aos 18 anos, o BE era um partido recente tido como “irreverente” e de “alternativa” que denunciavas as “injustiças económicas e sociais”. Para além disso, Ricardo sentiu no BE uma “abertura no debate de ideias” uma transparência na sua democracia interna que lhe agradou. “Senti, desde logo, que estava num espaço politico onde não existem temas intocáveis nem dogmas e onde tudo está por pensar” diz, acrescentando que se juntou a este partido por acreditar que nele teria uma voz. Daniela Cerqueira é estudante de Ciências da Comunicação e faz parte da Juventude Socialista (JS) da Feira. Hoje com 20 anos, decidiu juntar- se à JS com 17, “sempre me identifiquei com a Esquerda, mas decidi integrar a JS porque na altura me pareceu a Juventude mais aberta e receptiva a novas ideias e outras perspectivas”. Daniela considera os movimentos das juventudes partidárias muito importantes “como meio de passagem e aprendizagem para a filiação num partido”. Com funções no Gabinete de Comunicação e Imagem da JS Feira, Daniela diz que na JS teve a oportunidade de “aprender como funciona a estrutura de um partido, ouvir outras ideias e a participar em inúmeras actividades tanto do PS como da JS”.” As reuniões semanais obrigam a uma atenção redobrada sobre a actualidade e aquilo que acontece na política nacional o que, nesta idade, é dificil. As Juventudes partidárias obrigam a pensar sobre a política e incentivam que formemos as nossas próprias posições.”, acrescenta. Rui Moreira, estudante de Direito na Universidade de Coimbra diz que quando decidiu juntar-se ao PS, com 17 anos, aquilo que mais pesou na escolha do partido foi a corrente ideológica com a qual se identificava. Como principal motivo para se ter alistado numa juventude partidária menciona o “enriquecimento político, cultural e pessoal”. “A minha participação na JS esteve sempre limitada pela minha vida pessoal e académica”, continua. “Já liderei orgãos executivos, onde promovi debates, colóquios, actividades de esclarecimento eleitoral e de lazer. Actualmente, mantenho funções em orgãos consultivos e deliberativos” conta Rui. Manuel Oliveira (nome fictício) integrou a Juventude Popular (JP) com 17 anos. Hoje com 19 diz que escolheu o CDS-PP como partido essencialmente pela identificação ideológica, “há algum tempo que me interessava pela política nacional e olhando para a oferta partidária séria e democrática em Portugal percebi que a JP era o contexto em que mais me revia”, diz. Para Manuel o objectivo de pertencer à JP é o de “batalhar por um Portugal melhor” enquanto democrata-cristão. Na Juventude Popular da Maia, onde se insere, não tem nenhuma função específica, sendo militante de base, mas diz que na JP Maia “não há distinção entre militantes de base e militantes com funções hierárquicas: somos todos iguais, todos temos direito à opinião e trabalhamos para os mesmos objectivos”. As convicções pessoais e a ideologia partidária A ideia de que para pertencer a um partido se tem de “subscrever” as suas ideias na totalidade pode, ao dar uma ideia de “seguidismo” e de pouca abertura a outras perspectivas, afastar os jovens da militância. No que toca à submissão às ideias do partido, Daniela Cerqueira é categórica: A JS é um órgão à parte e tem novas ideias, não estando subordinada à ideologia do PS. “Temos muito espaço de debate e de exposição de ideias contrárias”, afirma. Ricardo Sá Ferreira fala de pluralismo de ideias no Bloco de Esquerda e diz que para pertencer ao BE ninguém tem de abdicar de qualquer convicção pessoal. “O Bloco tem várias ideologias porque todos temos formas de olhar para um certo objecto por diferentes prismas. O pluralismo de ideias dentro do Bloco é ampla, o que nos dá um espaço para debater e confrontar essas mesmas ideias. É essa a nossa força.”, diz entusiasmado. O que falta nos Jovens para se sentirem atraídos pela política e o que falta na política para atrair os jovens A militância partidária já não é o que era. Para isto contribuem muitos factores difíceis de deslindar: o afastamento de uma forma geral do discurso político da “vida real”, a pouca identificação do jovem com o discurso político, a descredibilização da política, algum comodismo, Por Daniela Teixeira Ricardo Sá Ferreira, militante do BE, considera o activismo uma forma essencial de particiapação política "Queria fazer activismo político, debater alternativas para o país, para o ensino, para a economia, para o Estado Social entre tantas outras coisas. Queria entrar em ruptura com o comodismo que sufoca as nossas vidas e os nossos espaços de debate, queria deixar as opiniões abstractas e passar para a acção." Ricardo Sá Ferreira

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O que falta nos Jovens para se sentirem atraídos pela política e o que falta na política para atrair os jovens As convicções pessoais e a ideologia partidária Por Daniela Teixeira A ideia de que para pertencer a um partido se tem de “subscrever” as suas ideias na totalidade pode, ao dar uma ideia de “seguidismo” e de pouca abertura a outras perspectivas, afastar os jovens da militância. No que toca à submissão às ideias do partido, Daniela

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Política: Reportagem

mILITÂNCIA JUVENIL: Uma forma de intervir na Sociedade

São todos jovens, estudantes e convictos. Têm diferentes cores políticas, percorrendo o espectro da esquerda à direita. Acreditam na política como factor de mudança e na militância em juventudes partidárias como uma forma de estar na sociedade, de reflectir o quotidiano e de intervenção no mundo. Para alguns a militância é o berço do que poderá vir a ser uma carreira política.

Qual é a relação dos jovens com os partidos? Estará a militância juvenil fora de moda? Em época de descredibilização da política e de quem a faz o Internacional foi conversar com aqueles que ainda acreditam.

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Ricardo Sá Ferreira é actualmente estudante de Mestrado em Sociologia na FLUP, depois de se ter licenciado em Política e Relações Internacionais e ter tirado um primeiro mestrado em Economia Política Internacional. Decidiu entrar para o Bloco de Esquerda (BE) porque queria fazer algo para mudar a situação económica e social do país. “Queria fazer activismo político, queria debater alternativas para o país, para o ensino, para a economia, para o Estado Social entre tantas outras coisas. Queria entrar em ruptura com o comodismo que sufoca as nossas vidas e os nossos espaços de debate, queria deixar as opiniões abstractas e passar para a acção. Sobretudo queria aprender a pensar um novo mundo que seja mais solidário, mais fraterno e que se baseie na justiça social e económica.”, conta.

A escolha do Bloco de Esquerda como o partido foi para Ricardo uma decisão fácil já que quando se tornou militante, aos 18 anos, o BE era um partido recente tido como “irreverente” e de “alternativa” que denunciavas as “injustiças económicas

e sociais”. Para além disso, Ricardo sentiu no BE uma “abertura no debate de ideias” uma transparência na sua democracia interna que lhe agradou. “Senti, desde logo, que estava num espaço politico onde não existem temas intocáveis nem dogmas e onde tudo está por pensar” diz, acrescentando que se juntou a este partido por acreditar que nele teria uma voz.Daniela Cerqueira é estudante de Ciências da Comunicação e faz parte da Juventude Socialista (JS) da Feira. Hoje com 20 anos, decidiu juntar-se à JS com 17, “sempre me identifiquei com a Esquerda, mas decidi integrar a JS porque na altura me pareceu a Juventude mais aberta e receptiva a novas ideias e outras perspectivas”. Daniela considera os movimentos das juventudes partidárias muito importantes “como meio de passagem e aprendizagem para a filiação num partido”. Com funções no Gabinete de Comunicação e Imagem da JS Feira, Daniela diz que na JS teve a oportunidade de “aprender como funciona a estrutura de um partido, ouvir outras ideias e a participar em inúmeras actividades tanto do PS como da JS”.” As reuniões semanais obrigam a uma atenção redobrada sobre a actualidade e aquilo que acontece na política nacional o que, nesta idade, é dificil. As Juventudes partidárias obrigam a pensar sobre a política e incentivam que formemos as nossas próprias posições.”, acrescenta.

Rui Moreira, estudante de Direito na Universidade de Coimbra diz que quando decidiu juntar-se ao PS, com 17 anos, aquilo que mais pesou na escolha do partido foi a corrente ideológica com a qual se identificava. Como principal

motivo para se ter alistado numa juventude partidária menciona o “enriquecimento político, cultural e pessoal”. “A minha participação na JS esteve sempre limitada pela minha vida pessoal e académica”, continua. “Já liderei orgãos executivos, onde promovi debates, colóquios, actividades de esclarecimento eleitoral e de lazer. Actualmente, mantenho funções em orgãos consultivos e deliberativos” conta Rui.

Manuel Oliveira (nome fictício) integrou a Juventude Popular (JP) com 17 anos. Hoje com 19 diz que escolheu o CDS-PP como partido essencialmente pela identificação ideológica, “há algum tempo que me interessava pela política nacional e olhando para a oferta partidária séria e democrática em Portugal percebi que a JP era o contexto em que mais me revia”, diz. Para Manuel o objectivo de pertencer à JP é o de “batalhar por um Portugal melhor” enquanto democrata-cristão. Na Juventude Popular da Maia, onde se insere, não tem nenhuma função específica, sendo militante de base, mas diz que na JP Maia “não há distinção entre militantes de base e militantes com funções hierárquicas: somos todos

iguais, todos temos direito à opinião e trabalhamos para os mesmos objectivos”.

As convicções pessoais e a ideologia partidária

A ideia de que para pertencer a um partido se tem de “subscrever” as suas ideias na totalidade pode, ao dar uma ideia de “seguidismo” e de pouca abertura a outras perspectivas, afastar os jovens da militância. No que toca à submissão às ideias do partido, Daniela

Cerqueira é categórica: A JS é um órgão à parte e tem novas ideias, não estando subordinada à ideologia do PS. “Temos muito espaço de debate e de exposição de ideias contrárias”, afirma.

Ricardo Sá Ferreira fala de pluralismo de ideias no Bloco de Esquerda e diz que para pertencer ao BE ninguém tem de abdicar de qualquer convicção pessoal. “O Bloco tem várias ideologias porque todos temos formas de olhar para um certo objecto por diferentes prismas. O pluralismo de ideias dentro do Bloco é ampla, o que nos dá um espaço para debater e confrontar essas mesmas ideias. É essa a nossa força.”, diz entusiasmado.

O que falta nos Jovens para se sentirem atraídos pela política e o que falta na política para atrair os jovens

A militância partidária já não é o que era. Para isto contribuem muitos factores difíceis de deslindar: o afastamento de uma forma geral do discurso político da “vida real”, a pouca identificação do jovem com o discurso político, a descredibilização da política, algum comodismo,

Por Daniela Teixeira

Ricardo Sá Ferreira, militante do BE, considera o activismo uma forma essencial de particiapação política

"Queria fazer activismo político, debater alternativas para o país, para o ensino, para a economia, para o Estado Social entre tantas outras coisas. Queria entrar em ruptura com o comodismo que sufoca as nossas vidas e os nossos espaços de debate, queria deixar as opiniões abstractas e passar para a

acção."Ricardo Sá Ferreira