pag 9

1
Com um nome intranscritível, ela é da Malásia.monumentos, tudo a pé”, O que mais gostou do Porto foi da zona das praias. “É muito bonito. Estou a adorar Portugal,.a cultura do meu país é muito diferente. Este é um sítio especial para mim” afirma no fim desta viagem. O local de embarque da rota “Porto dos Castelos” é ao lado do Palácio da Bolsa. Na paragem está um casal de alemães típicos: cabelos muito loiros, olhos muito azuis, peles vermelhas do excesso de sol. Conversam alegremente. Têm mochilas às costas e um ar primaveril. Chega o autocarro e o casal é o primeiro a entrar: partem à aventura. A rota dos castelos conta com a passagem por três fortalezas historicamente importantes na história do Porto: o Castelo da Foz, o Castelo do Queijo e o Castelo de Leça. A maior parte do caminho é feito à beira-mar. O mar está cheio de surfistas. Alguns banhisbém para desapertar a camisa: barriga de fora, calções de praia, meias verdes puxadas para cima, dorme agora a sesta. Pedro e Rose vêm do Canadá. Ele é português mas não tinha contacto com Portugal há muitos anos. “Posso falar inglês?”, pergunta. “O meu português está muito mau”, acrescenta. “O Porto é uma cidade com muita história, o que é óptimo para nós, vimos do Canáda, poucos séculos de história lá. Então é fantástico visitar uma "O Porto é uma cidade com muita história, o que é óptimo para nós, vimos do Canáda, há poucos séculos de história lá." cidade com centenas de anos de história”, diz entusiasta. “Viemos fazer este roteiro porque vimos publicidade e gostamos”, acrescenta agora em português. O passeio prossegue. Em Leça entram no autocarro os primeiros portugueses desta viagem. São dez rapazes e vêm com uma mulher mais velha, professora pelos vistos. “Altamente!” diz o primeiro rapaz depois de subir as escadas que levam ao piso superior do veículo. São adolescentes. Empurram- se uns aos outros e mandam piadas ao acaso. Sentam-se perto do jovial casal alemão. A senhora que os acompanha senta-se na parte da coberta do autocarro onde há sombra e durante o resto da viagem vai lançando olhares ameaçadores sempre que os rapazes soltam um riso mais alto. A paisagem é agora apreciada em silêncio, calmamente. “O Fado não é da terra, o fado criou-o Deus. O fado é andar doidinha, perdida pelos olhos teus”. Entram mais dois passageiros. São um casal e usam chapéus de abas brancos com risquinhas azuis. Ela senta-se na parte coberta do autocarro, ele prefere apanhar sol. Pelas feições são asiáticos. A calçada junto à praia é aproveitada para caminhar, para trocar beijos apaixonados, para fazer exercício físico. Depois de uma passagem pela Quinta da Conceição e da Quinta de Santiago, avista-se o Porto de Leixões. O autocarro dá a volta e regressa pelo caminho percorrido: do clube naútico até ao Castelo do Queijo. Aí segue em direcção à zona da Boavista: o Estádio do Bessa merece a atenção dos turistas. Lorena é brasileira e está no Porto pela segunda vez. Passou a viagem a olhar com paixão para todos os monumentos. “Vim no passado ao Porto e estou voltando outra vez. Gostei muito, tem muitos locais bonitos para ver, o povo é muito agradável e simpático. Tem bons vinhos…”. Fala de uma assentada, com entusiasmo “Vim neste autocarro porque cheguei hoje, estava em Paris. Amanhã vou para Braga e depois vou para Santiago de Compostela. Vim para matar saudades do Porto, como o tempo é curto, esta é uma boa solução, aí vou aproveitar para rever as coisas que eu tinha visto a vez passada”. Na Praça da República velhos e jovens preferem a sombra ao sol tórrido. Tórrido como em dias de Agosto. A viagem acaba onde começou. Uma multidão de idosos espanhóis aguarda o esvaziamento do autocarro para que possam entrar. Risos multiplicados, conversas sem fim. É uma alegre convivência. Na busca pela eterna novidade do mundo nas águas do Douro, nos contornos da Torre dos Clérigos ou na Ponte D.Luís, europeus, americanos do norte e do sul e até asiáticos marcaram presença nesta viagem pela antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto. Título: Crime e Castigo Autor: Fiodor Dostoievski Pontuação: ***** A obra Crime e Castigo, escrita por Fiódor Dostoiévski e publicada em 1866 é considerada por muitos críticos uma das melhores obras da literatura mundial. O livro conta a história de Rodion Romanovitch Raskólnikov, um jovem oriundo de uma família pobre que se vê obrigado a deixar o seu curso de Direito por falta de recursos. Empurrado para uma vida de miséria, onde falta quase tudo e onde é impossível assegurar uma vida confortável à sua mãe e à sua irmã, Raskólnikov vai começar a pensar em soluções menos ortodoxas para os seus problemas Raskólnikov elabora uma teoria em que se estabelece uma diferença entre pessoas ordinárias, que primam pela obediência às leis, e extraordinárias: que enfrentam o relativismo da lei e as podem violar quando assim se justifica. Depois de um conjunto de reflexões, que nos fazem entrar no pensamento da personagem, Raskólnikov decide matar uma velha agiota a quem penhorava os seus bens. Entusiasmado com a filosofia de “uma má acção para gerar cem boas acções”, Rodion conclui que a velha é um “parasita” da sociedade e que com o dinheiro e os bens que lhe pode roubar depois de a matar pode fazer muitas boas acções. No decorrer do crime, Raskólnikov acaba por matar também Lisaveta, a irmã da velha que entrou durante o homicídio. O livro é de uma envolvência extraordinária. Segue-se tão de perto o pensamento do protagonista antes e depois do crime que o conflito ético começa também em nós: Pode uma má acção ser feita mesmo que acarrete muitas boas acções? Até onde vai o relativismo ético e moral? Qual a diferença entre o bem e o mal? Os fins justificam os meios? E até agora tudo ficou por dizer. Ficaram personagens por conhecer e ideias por pensar. A essência do livro está nele próprio. Ler é mesmo a única solução. PUBLICIDADE CRÍTICA LITERÁRIA: Crime e Castigo 9 InterNacional, 14 de Dezembro 2010

description

"O Porto é uma cidade com muita história, o que é óptimo para nós, vimos do Canáda, há poucos séculos de história lá." InterNacional, 14 de Dezembro 2010 PUBLICIDADE

Transcript of pag 9

Com um nome intranscritível, ela é da Malásia.monumentos, tudo a pé”, O que mais gostou do Porto foi da zona das praias. “É muito bonito. Estou a adorar Portugal,.a cultura do meu país é muito diferente. Este é um sítio especial para mim” afirma no fim desta viagem.O local de embarque da rota “Porto dos Castelos” é ao lado do Palácio da Bolsa. Na paragem está um casal de alemães típicos: cabelos muito loiros, olhos muito azuis, peles vermelhas do excesso de sol. Conversam alegremente. Têm mochilas às costas e um ar primaveril. Chega o autocarro e o casal é o primeiro a entrar: partem à aventura. A rota dos castelos conta com a passagem por três fortalezas historicamente importantes na história do Porto: o Castelo da Foz, o Castelo do Queijo e o Castelo de Leça. A maior parte do caminho é feito à beira-mar. O mar está cheio de surfistas. Alguns banhisbém para desapertar a camisa: barriga de fora, calções de praia, meias verdes puxadas para cima, dorme agora a sesta.Pedro e Rose vêm do Canadá. Ele é português mas não tinha contacto com Portugal há muitos anos. “Posso falar inglês?”, pergunta. “O meu português está muito mau”, acrescenta. “O Porto é uma cidade com muita história, o que é óptimo para nós, vimos do Canáda, só há poucos séculos de história lá. Então é fantástico visitar uma

"O Porto é uma cidade com

muita história, o que é óptimo

para nós, vimos do Canáda, há

poucos séculos de história lá."

cidade com centenas de anos de história”, diz entusiasta. “Viemos fazer este roteiro porque vimos publicidade e gostamos”, acrescenta agora em português.O passeio prossegue. Em Leça entram no autocarro os primeiros portugueses desta viagem. São dez rapazes e vêm com uma mulher mais velha, professora pelos vistos. “Altamente!” diz o primeiro rapaz depois de subir as escadas que levam ao piso superior do veículo. São adolescentes. Empurram-se uns aos outros e mandam piadas ao acaso. Sentam-se perto do jovial casal alemão. A senhora que os acompanha

senta-se na parte da coberta do autocarro onde há sombra e durante o resto da viagem vai lançando olhares ameaçadores sempre que os rapazes soltam um riso mais alto. A paisagem é agora apreciada em silêncio, calmamente. “O Fado não é da terra, o fado criou-o Deus. O fado é andar doidinha, perdida pelos olhos teus”. Entram mais dois passageiros. São um casal e usam chapéus de abas brancos com risquinhas azuis. Ela senta-se na parte coberta do autocarro, ele prefere apanhar sol. Pelas feições são asiáticos.A calçada junto à praia é aproveitada para caminhar, para trocar beijos apaixonados, para fazer exercício físico. Depois de uma passagem pela Quinta da Conceição e da Quinta de Santiago, avista-se o Porto de Leixões.O autocarro dá a volta e regressa pelo caminho já percorrido: do clube naútico até ao Castelo do Queijo. Aí segue em direcção à zona da Boavista: o Estádio do Bessa merece a atenção dos turistas. Lorena é brasileira e está no Porto pela segunda vez. Passou a viagem a olhar com paixão para todos os monumentos. “Vim no passado ao Porto e estou voltando outra vez. Gostei muito, tem muitos locais bonitos para ver, o povo é muito agradável e simpático. Tem bons vinhos…”. Fala de uma assentada, com entusiasmo “Vim neste autocarro porque cheguei hoje, estava em Paris. Amanhã vou para Braga e depois vou para Santiago de Compostela. Vim para matar saudades do Porto, como o tempo é curto, esta é uma boa solução, aí vou aproveitar para rever as coisas que eu tinha visto a vez passada”. Na Praça da República velhos e jovens preferem a sombra ao sol tórrido. Tórrido como em dias de Agosto.A viagem acaba onde começou. Uma multidão de idosos espanhóis aguarda o esvaziamento do autocarro para que possam entrar. Risos multiplicados, conversas sem fim. É uma alegre convivência.Na busca pela eterna novidade do mundo nas águas do Douro, nos contornos da Torre dos Clérigos ou na Ponte D.Luís, europeus, americanos do norte e do sul e até asiáticos marcaram presença nesta viagem pela antiga, mui nobre, sempre leal e invicta cidade do Porto.

Título: Crime e CastigoAutor: Fiodor DostoievskiPontuação: *****

A obra Crime e Castigo, escrita por Fiódor Dostoiévski

e publicada em 1866 é considerada por muitos críticos uma das melhores obras da literatura mundial.O livro conta a história de Rodion Romanovitch Raskólnikov, um jovem oriundo de uma família pobre que se vê obrigado a deixar o seu curso de Direito por falta de recursos. Empurrado para uma vida de miséria, onde falta quase tudo e onde é impossível assegurar uma vida confortável à sua mãe e à sua irmã, Raskólnikov vai começar a pensar em soluções menos ortodoxas para os seus problemas Raskólnikov elabora uma

teoria em que se estabelece uma diferença entre pessoas ordinárias, que primam pela obediência às leis, e extraordinárias: que enfrentam o relativismo da lei e as podem violar quando assim se justifica. Depois de um conjunto de reflexões, que nos fazem entrar no pensamento da personagem, Raskólnikov decide matar uma velha agiota a quem penhorava os seus bens. Entusiasmado com a filosofia de “uma má acção para gerar cem boas acções”, Rodion conclui que a velha é um “parasita” da sociedade e que com o dinheiro e os bens que lhe pode roubar depois de a matar pode fazer muitas boas acções. No decorrer do

crime, Raskólnikov acaba por matar também Lisaveta, a irmã da velha que entrou durante o homicídio.O livro é de uma envolvência extraordinária. Segue-se tão de perto o pensamento do protagonista antes e depois do crime que o conflito ético começa também em nós: Pode uma má acção ser feita mesmo que acarrete muitas boas acções? Até onde vai o relativismo ético e moral? Qual a diferença entre o bem e o mal? Os fins justificam os meios?E até agora tudo ficou por dizer. Ficaram personagens por conhecer e ideias por pensar. A essência do livro está nele próprio. Ler é mesmo a única solução.

PUBLICIDADE

CrítiCa Literária: Crime e Castigo

9InterNacional, 14 de Dezembro 2010