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N10 DEZEMBRO 2016|ISSN: 2304-0688

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CONSELHO DE REDACO

Director: Incio Valentim (ISPSN) Angola

Secretrios de Redao: Ftima Sousa Rodrigues (ISPSN) Angola

Eduardo Schmidt Passos (CUA) EUA

Secretrios Tcnicos: Dcia Vaz Pereira (ISPSN) Angola

Editor: ISPSN Instituto Superior Politcnico Sol Nascente

Arranjos Tcnicos: Ivan dos Reis Andrade (ISPSN) Angola

CONSELHO CIENTFICO

Agemir Bavaresco (PUCRS) Brasil

Aldo Danuci (UFS) Brasil

lvaro Nbrega (ISCSP) Portugal

Armando Cossa (SM) Guin-Bissau

Antnio Matos Ferreira (CHER-UCP) Portugal

Antnio Gmez Ramos (UC3M) Espanha

Antnio Eduardo Alicerces (UJES) Angola

Beatriz Cecilia Lpez Bossi (UCM) Espanha

Csar Candiotto (Pontifica Universidade Catolica de Paran) Brasil

Eduardo Vera Cruz (UL) Portugal

Dcia Vaz Pereira (ISPSN) Angola

David Boio (ISPSN-CISEA) Angola

Diane Lamoureux (LAVAL) Canada

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Fabrcio Pontini (PUCRS) Angola

Flix Duque (UAM) Espanha

Fernando Ramprez (UCM) Espanha

Hlder Chipindo (UJES) Angola

Hugo Bento de Sousa (Mdico) Portugal

Incio Valentim (ISPSN-CFCUL) Angola

Ivone Moreira (IEP - UCP) Portugal

Jos Saragoa (Universidade de vora) Portugal

Jos Pedro Serra (FLUL) Portugal

Jos Ramn Molina (Faculdade de Medicina da Universidade Jos Eduardo dos

Santos, Huambo) Angola

Lucas Nhamba (UJES) Angola

Marcelino Chipa (IFTS-ISPSN) Angola

Miguel Morgado (IEP - UCP) Portugal

Olga Maria Pombo Martins (UL - CFCUL) Portugal

Tadeu Weber (PUCRS), Brasil

CONSELHO DE ASSESSORES

Manuel Martins (ISPSNG) Angola

Antnio Miranda (Politlogo) Cabo Verde

Pablo Gmez Manzano (U.Valparaso-UC3M) Chile

Jorge Manuel Bentez (UNA-UAM) Paraguai

Lola Blasco Mena (UC3M) Espanha

Miguel ngel Corts Rodriguz (Salamanca) Espanha

Nuno Melin (UL. CFCUL) Portugal

Pamela Colombo (CSIC) Espanha

Raimundo Tavares (Advogado) Cabo Verde

Vicente Muoz-Reja (UAM) Espanha

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EDITORIAL

A Direco da Revista Sol Nascente tem a satisfao de apresentar comunidade

acadmica o segundo nmero da edio do ano 2016, o qual foi avaliado

positivamente olhando para o aproveitamento acadmico e cientfico. Vrias

aces de impacto foram realizadas, destacando conferncias sobre temas de

interesse social como: Desafios da Famlia Africana perante a Modernidade e a

Globalizao, Desenvolvimento Humano em Angola, A Universidade de hoje

Ameaas e Oportunidades; a Crise da Representatividade Democrtica e a

Democracia Post-Factual, Doao de Sangue e Feira da Sade, Ciclo de Conferncia

pelo dia Internacional do Corao Potencia a tua Vida, donde se destacou a

discusso sobre Sndrome Metablica, sua importncia e os desafios que impem

para o sistema de sade angolana e a Morbilidade Cardiopneumolgica, Tipologia

e Impacto no Huambo, estes, contaram com a presena de individualidades de

prestgio cientfico e governamental.

Abrimos um parntesis estreia do I Colquio Feminista do ISPSN (com carcter

anual), que contou com a participao de um considervel nmero de mulheres

intelectuais da provncia do Huambo, objectivando entender a real essncia do

poder feminino desde os anos antes de Cristo at aos dias de hoje; para tal os

presentes foram elucidados sobre temas relacionados ao papel da mulher com

realce a Ontologia do Poder Feminino no Mundo Antigo.

O nmero 10 da Revista Sol Nascente d sequncia a publicaes arroladas a

diversas reas do saber cientfico, de origem nacional e estrangeira com destaque

aos pases de Itlia, Brasil e Cuba, abarcando temas relacionados com as Cincias

de Sade, Cincias da Educao, Psicologia, Economia, Gesto de Recursos

Humanos, Direito, Gesto Ambiental, Sociologia Crtica e Literatura.

Apesar dos sucessos e alegrias vividos durante o ano, o ms de Novembro foi

marcado por um momento de grande tristeza pela morte do heri e Presidente

Fidel Alejandro Castro Ruz; momentos de reflexo para o povo cubano, para o

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mundo e at mesmo para aqueles que manifestam comportamento de insolncia

na nsia de criticar o seu trabalho, forando-se a no reconhecer o seu valor por

ignorncia. Para a grande maioria dos povos tero como o paradigma do homem

sbio, inteligente, criador e portador de ideias progressistas e inovadoras no

campo da sade, educao e cincia em geral. Esta figura foi capaz, a partir de seu

pensamento e aco, conformar uma nao digna, humanista e internacionalista,

alem de contribuir para que diferentes povos estivessem unidos por laos de

sangue, na luta de pele a pele contra o racismo e sua prpria liberdade. Foi

tambm um grande modelo de rebelio contra a injustia e a pobreza em frica.

O Comandante Fidel de Castro foi, , e sempre ser um homem fora destes

tempos, um lder imensamente inteligente, inteiramente dedicado a pensar em

Cuba e outros povos, abdicando das suas comodidades para o bem dos humildes

e pelos humildes, arriscou a sua vida para fazer uma revoluo e viveu 90 anos de

vida produtiva recheado de obras paradigmticas, universais e imperecveis. Por

esta razo, sua morte tocou as profundezas do corao de todos os homens e

mulheres cubanos e africanos pobres e incapacitados.

Hoje e sempre ser o Comandante invicto. E como disse o grande guerrilheiro

herico Ernesto Guevara de la Serna "Hasta la Victoria Siempre" Comandante Fidel.

Para terminar, queremos desejar a todos os Docentes, Discentes, Funcionrios e

Colaboradores directos e indirectos do ISPSN votos de Feliz Natal e Ano Novo

coroado de muita prosperidade, xitos pessoais e realizaes profissionais para

todos os que fazem do saber o degrau de desenvolvimento.

Dcia Vaz Pereira

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NDICE

EDITORIAL ...................................................................................................................................... 4

ARTIGOS......................................................................................................................................... 8

CINCIAS DA EDUCAO

POLTICAS E MODELOS DE GOVERNANA DO ENSINO SUPERIOR EM ANGOLA ........................ 9

MBANGULA KATMUA

APRENDIZAGEM EM ACO. PODEMOS DISCUTIR OS PARADIGMAS DE ENSINO E

APRENDIZAGEM NA REA DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS? .............................................. 22

ADELINO SANJOMBE

PSICOLOGIA

STRESSE PSICOSSOCIAL DESENCADEADO PELAS RAVINAS ...................................................... 38

TARCSIO MEMRIA EKULICA

CINCIAS DA SADE

CINCIAS MDICAS E CINCIAS DA SADE CONSIDERAES DESDE A BIOTICA. (PARTE I) ... 57

MARCIO ULISES ESTRADA PANEQUE E CARIDAD ROSA VINAJERA TORRES

ECONOMIA

MERCADO INFORMAL DO CHINGO: UMA EVIDNCIA EMPRICA NA PERSPECTIVA DOS

CONSUMIDORES ...................................................................................................................... 78

JOO ERNESTO EDUARDO DUM

GESTO DE RECURSOS HUMANOS

A TRIDIMENSIONALIDADE DA GESTO DE RECURSOS HUMANOS NO INSTITUTO SUPERIOR

POLITCNICO SOL NASCENTE: UMA ABORDAGEM DESCRITIVA E ANALTICA ......................... 91

ANSELMO N. MRIO CELESTINO

GESTO AMBIENTAL

LAS ARVENSES. SU MANEJO EFICIENTE DESDE UNA VISIN AGROECOLGICA .................... 111

DCIA VAZ PEREIRA

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SOCIOLOGIA

ABOUT SUICIDE IN RIO GRANDE DO SUL ............................................................................... 121

ROSANGELA WERLANG E JUSSARA MARIA ROSA MENDES

SOCIOLOGIA CRTICA

LETRAS SOCIAIS. SOBRE OS QUADROS SOCIAIS DA CRITIVIDADE ARTISTICO-LITERRIA COM

UM ESTUDO NO BRASIL ......................................................................................................... 145

PIERFRANCO MALIZIA

LITERATURA

EU NO NASCI NO SAMBA, MAS O SAMBA NASCEU EM MIM. O QUE DIZER DA CONSTRUO

DE UMA IDENTIDADE? ........................................................................................................... 166

GABRIELA TAVARES CANDIDO DA SILVA E GIOVANE DO NASCIMENTO

LITERATURA

O CO SEM PLUMAS: REALIDADE, REPRESENTAO E REORDENAMENTO .......................... 180

VERNICA FALCO DE OLIVEIRA VINAGRE

ESTUDOS .................................................................................................................................... 190

DIREITO

A JUSTIA SOCIAL E OS DIREITOS HUMANOS ........................................................................ 191

MARCIAL MIGUEL SAMALINHA

CONFERNCIAS .......................................................................................................................... 215

ANGOLA INDEPENDNCIA RECONCILIAO NACIONAL, PAZ E OS CAMINHOS PARA O

DESENVOLVIMENTO .............................................................................................................. 216

MRIO PINTO DE ANDRADE

NORMAS DE PUBLICAO ......................................................................................................... 246

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CINCIAS DA EDUCAO

POLTICAS E MODELOS DE GOVERNANA

DO ENSINO SUPERIOR EM ANGOLA

MBANGULA KATMUAa

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RESUMO

A gesto das Instituies de Ensino Superior (IES) em Angola, como em outras partes do

mundo, fortemente condicionada pela conjuntura macrossocial e, sobretudo, por

factores de ordem poltica e ideolgica. Considerando o conjunto das transformaes

sociais que tiveram lugar nas ltimas duas dcadas e a maior centralidade que o assunto

vem tomando no debate terico e acadmico nacional, o presente texto procurou dar conta

dos principais avanos e recuos registados no plano legal, poltico e burocrtico e suas

implicaes na gesto das IES em Angola, recorrendo, analiticamente, aos contributos de

Silva1 e Manuel2, sobre a matria. O estudo baseou-se na consulta bibliogrfica e

documental, tendo como objecto de estudo as universidades e institutos superiores

politcnicos em virtude de serem o rosto mais visvel das IES em Angola. Verificou-se

que a gesto das IES angolanas , ainda, feita de forma centralizada e alvo de mltiplas

interferncias externas prejudiciais ao seu funcionamento e desenvolvimento, porque

limita a autonomia e liberdade dos actores e pouco valoriza o mrito acadmico e

cientfico na disputa e distribuio dos lugares a nvel da gesto.

Palavras-chave: Gesto, Universidade, Actores, Modelos, Polticas.

ABSTRACT

The management of higher education institutions (HEIs) in Angola, as in other parts of

the world, is strongly influenced by the macro-economic situation and especially by

political and ideological. Considering all the social changes that have taken place over

the past two decades and more central than it is taking in the theoretical debate and

a Professor no Instituto Superior Politcnico Sol Nascente do Huambo. 1 Cf. Da Silva, E. A. 2004. O burocrtico e o poltico na administrao universitria. Continuidades e

rupturas na gesto dos recursos humanos docentes na Universidade Agostinho Neto (Angola). Braga,

Centro de Investigao em Educao do Instituto de Educao e Psicologia da Universidade do Minho. 2 Cf. Manuel, T. 2013. Cultura (s) Organizacional (ais) da Universidade: A Tomada de Decises para o

Provimento da Carreira Docente na Universidade Pblica de Angola. Tese de Doutoramento em Cincias

Educao, Braga, Universidade do Minho.

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national academic, this text sought to account for the main advances and setbacks

recorded in the legal, political and bureaucratic and their implications in the management

of HIEs in Angola, using analytically, to the contributions of Silva1 and Manuel2 on the

matter. The study was based on bibliographical and documentary consultation with the

object of study "the universities and polytechnics institutes" because they are the most

visible face of IES in Angola. It was found that the management of the Angolan IES is

also done centrally and subject to multiple harmful external interference to its operation

and development, because it limits the autonomy and freedom of the actors and little

values the academic and scientific merit in dispute and distribution of the level of

management posts.

Keywords: Management, University, Actors, Models, Policies.

INTRODUO

A governana das IES ao nvel do continente africano tem, nos ltimos vinte anos, vindo

a merecer uma maior ateno dos seus governos, sobretudo de acadmicos e

investigadores que vm produzindo importantes contribuies atravs de redes nacionais,

regionais de pesquisa e advocacia na matria3. Tem sido notvel o envolvimento das

organizaes nacionais, sobretudo em pases como frica do Sul4, Botswana5, Gana6,

Qunia7, Ilhas Maurcias8, Moambique9 Tanznia10 e Uganda11, na definio de polticas

de desenvolvimento, nomeadamente: dos planos nacionais e da estratgia para o Ensino

Superior (ES) seja ao nvel das polticas mais gerais como das diretamente ligadas ao

governo das IES; no desenvolvimento de quadros regulamentares (normas e padres)

relativas s qualificaes do pessoal, das infra-estruturas tecnolgicas e instalaes

educativas; no estabelecimento dos diferentes objectivos (nmeros de matrcula e perfil

3 Entre as quais se destacam a Higher Education Research and Advocacy Network in Africa (HERANA);

Higher Education Councils and Commissions in Africa (HECC); Southern African Regional Universities

Association (SARUA) e Centre for Higher Education Transformation (CHET), International Network for

Quality Assurance Agencies in Higher Education (INQAAHE) e a Associao das Universidades de Lngua

Portuguesa (AULP),como entidades supra nacionais. 4 The South African Council on Higher Education (SA-CHE). 5 The Botswana Tertiary Education Council (B-TEC). 6 The Ghana National Council for Tertiary Education (G-NCTE). 7 The Kenya Commission for Higher Education (K-CHE). 8 The Mauritius Tertiary Education Commission (M-TEC). 9 The Mozambique National Council for Quality Assurance (M-CNAQ). 10 The Tanzania Commission for Universities (TCU). 11 The Uganda National Council for Higher Education (U-NCHE).

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de sada dos estudantes, qualificaes do pessoal docente, linhas de investigao e

internacionalizao)12.

Como estes progressos no tm sido alcanados em todos os pases africanos, no presente

artigo prope-se discutir, de forma articulada com a realidade angolana, esta diversidade

de modelos com o objetivo de, por um lado, fazer uma caraterizao das prticas de gesto

e traar o perfil burocrtico das instituies angolanas e estabelecer uma relao dialgica

entre a teoria, o quadro jurdico-legal e a cultura de gesto destas instituies, por outro

lado.

Polticas e modelos de governana do Ensino Superior em Angola

A nossa abordagem parte do pressuposto segundo o qual a gesto escolar, enquanto

formadora de sujeitos, desencadeia uma gama de influncias entre os actores da escola

pela interlocuo no transcurso da prpria prtica escolar13, tendo em conta as profundas

mutaes que ela tem vindo a sofrer, desde a viragem do sculo passado, esta temtica

torna-se hoje muito central nos debates sobre o desenvolvimento dos sistemas nacionais

de ensino.

H registo de que, em alguns pases africanos, como a Tanznia, o sistema de ensino

desde o primrio ao tercirio gerido por um nico rgo pblico, denominado Ministrio

da Educao e Formao Vocacional14. Neste modelo de organizao do sistema, as

polticas de ensino so gizadas e executadas por uma nica entidade desde o ensino

primrio ao ensino superior. Nesses casos, geralmente, so adoptados modelos mais

complexos e que exigem uma maior articulao. Esta entidade composta por uma srie

de unidades e subdivises que respondem por cada um dos ciclos de ensino, sendo que,

por este facto, a sua autonomia sempre condicionada por entidade superior que, para

alm de atribuies de natureza estratgicas, como a definio da poltica de ensino

tambm intervm nos processos de constituio dos corpos gestores das IES15.

A ideia que aqui defendemos de que a gesto das IES deve ser feita desde uma

perspectiva holstica e integradora. As prticas pedaggicas e as prticas de gesto devem

estar perfeitamente alinhadas por forma a maximizar os resultados. Pois entendemos que

12 Baile, T. 2014. Education Councils And Commissions In Africa a Case Study Of The Kenya Commission

For Higher Education, South Africa. Centre for Higher Education Transformation (CHET). 13 de Medeiros, A. M. S. ; Abrantes, Maria F. & Barbosa, J. G. 2009. School administration and the

formation of the individual: three perspectives. Revista Brasileira de Polticas e Administrao da

Educao, XII, (1), p. 109-123. 14 Ministry for Education and Vocational Training (MVT), do original. 15 Cf. Baley, Op. Cit.

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os outputs organizacionais, em muito, dependem do uso coordenado dos recursos

disponveis no sistema.

Face aos actuais desafios impostos IES, Bouchamma16 defende que os gestores devem

ser alvo de formao especfica para poderem exercer de forma mais eficaz as

responsabilidades a eles acometidas. Tem-se constatado que os programas de formao

especfica na rea da gesto dirigida aos professores que se encontram nas vestes de

gestores tm-se mostrado eficazes no aumento das suas competncias e alavancagem da

performance organizacional, alm de contriburem para a reduo do choque da passagem

do papel de docente para o de gestor de uma IES17.

De acordo com Silva18 durante a fase de transio a identidade de docente para a de gestor,

a identidade do novo gestor apresenta-se difusa. Ele j no apenas um professor mas,

ainda, no um gestor. Esta dupla actuao, resultante das suas novas atribuies,

constitui um grande desafio aos novos gestores universitrios. Trata-se de um desafio que

se complexifica medida que, cada vez mais, as prticas de gesto de origem empresarial

vo sendo introduzidas na gesto universitria.

Diversos autores tm dado conta que a gesto das IES em Angola fortemente marcada

por interferncias. So os casos de Silva19 e Manuel20 que estudaram aprofundadamente

a administrao e a cultura organizacional da Universidade Agostinho Neto21 (UAN).

Estes autores denunciam a existncia de um conjunto de interferncias na gesto da UAN

e de grupos que perseguem interesses estranhos aos objetivos desta instituio a coberto

de um determinismo normativo.

O determinismo normativo, as ideologias de Estado e a histria do pas vm sendo

invocados para suportar o discurso ideolgico e velar determinadas racionalidades

dos grupos estratgicos, quando a autoridade acadmico-cientfica escasseia22.

16 Bouchamma, Yamina, Marc B. & Marcotte, Caroline. 2014. School Management Competencies:

Perceptions and Self-Efficacy Beliefs of School Principals. Edio Eletrnica, consultada: fev 2014 em

http://dx.doi.org/10.4236/ce.2014.58069. 17 Cf. Ibid., p. 582. 18 Cf. Silva, Op.cit. 19 Cf. Ibid. 20 Cf. Manuel, Op.cit. 21 Cf. Portaria n.77-A/76 - Cria o primeiro estatuto orgnico da Universidade de Angola Agostinho Neto. 22 Cf. Manuel, Op. Cit., p. 5.

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Por seu turno23, entende que a burocracia se converteu no mecanismo atravs do qual as

decises polticas eram preparadas, encaminhadas, enquadradas e legitimadas. Os

grupos hegemnicos dentro da organizao procuram maximizar os seus benefcios pela

posio que ocupam. O governo das universidades angolanas assegurado por rgos

executivos e colegiais de gesto, sendo que no topo da sua estrutura encontram-se a

Assembleia e o Senado universitrio. Importa fazer um recuo at ao dia 28 de Setembro

do ano de 1976, data em que passou a vigorar o primeiro estatuto orgnico da

Universidade de Angola, atravs da Portaria n.77-A/76. Este documento constitui um

marco fundacional das estratgias e lgicas de composio dos rgos gestores nas IES

angolanas.

O Decreto n.9/87, de 30 de Maio veio reforar e assinalar de forma clara a centralizao

e o controlo das IES pelo Estado, sendo que a UAN era definida como uma estrutura

dependente do Ministrio da Educao e dirigida por um reitor e dois vice-reitores,

nomeados pelo Presidente da Repblica. Este quadro vigorou at ao ano de 1995, com a

publicao do Decreto n.2/95, de 24 de Maro que introduz o sistema de eleio para a

composio dos corpos gestores da universidade.

No mbito deste quadro legal foram realizadas duas eleies, at 2001, altura em que, por

meio do Decreto n.35/01, de 8 de Junho24 se transfere para a Assembleia da Universidade

a prerrogativa para eleger e destituir o Reitor, facto encarado pelos crculos acadmicos

como um retrocesso, em termos de democratizao da instituio e, por isso, foi muito

contestado. Mais tarde, este quadro veio a ser alterado por fora do Decreto n. 90/09, de

15 de Dezembro, Assembleia da Universidade cabia apenas propor ao ministrio de

tutela, trs dos candidatos nomeao.

Na prtica o que se verificou foi uma tentativa bem-sucedida de controlo da mquina de

gesto das IES por parte do governo. O mecanismo de consulta Assembleia da

Universidade raras vezes accionado e, na grande parte dos casos, os reitores e demais

gestores de grandes responsabilidades so nomeados de forma directa, sem consulta dos

pares. Este tipo de actuao no s tem gerado um mal-estar no interior da classe, como

vem abrindo precedentes para um conjunto de problemas ligados ao funcionamento

destas IES, nomeadamente; no concernente sua autonomia e liberdade. Sendo que

dentro do aparelho burocrtico onde podem se estabelecer relaes de verticalidade,

23 Cf. Silva, Op.cit. p 24. 24 Cf. Decreto n.35/01, de 8 de Junho - Transfere para a Assembleia da Universidade a prerrogativa para

eleger e destituir o Reitor.

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horizontalidade, hierarquia e disperso espacial, sendo o ambiente burocrtico de uma

organizao conformado por estas relaes25.

A realidade das IES angolanas, sobretudo nas IES estatais, no que diz respeito ao

ambiente burocrtico mostra-se, ainda, muito deficitria por se caraterizar por uma

insuficiente burocracia26 organizacional e fortemente influenciada por racionalidades

subjetivas27. Trata-se de uma gesto, como de resto acontece em outras partes do mundo,

condicionada pela conjuntura macrossocial e, sobretudo, por factores de ordem poltica e

ideolgica. De acordo com Habib28 existem dois tipos de gestores: os conservadores para

quem a universidade uma unidade de negcio com estudantes no papel de clientes e

docentes no papel de operrios. E os progressistas que so hostis a primeira viso porque

entendem que transformar a universidade numa corporao produtora de lucros seria

retirar a nobreza da actividade acadmica e comprometer todo o projecto do ES.

No contexto angolano h, de certa forma, a convivncia destas duas vises embora com

territrios mais ou menos delimitados. Os liberais povoam o sector do ES privado e os

conservadores, geralmente, se acham nas universidades pblicas. A assuno destes

posicionamentos decorre, em parte das lgicas internas adoptadas pelos actores destas

organizaes. Podemos, nas IES pblicas, encontrar resqucios do iderio do ensino

25 Hall, R. 1984. Organizaes: Estruturas e Processos, Rio de Janeiro, Prentice-Hall do Brasil. 26 O conceito de insuficiente burocracia apresentado por Miguel Cunha e Pina (2014), num estudo que

conclui que as organizaes do Estado portugus apresentam a sua burocracia insuficientemente

burocratizada. Este entendimento decorre do facto de o ambiente burocrtico ser marcado por paradoxos

flagrantes. Dito de outra forma, os instrumentos que deviam favorecer o funcionamento da estrutura

administrativa e viabilizao dos processos fazem exactamente o oposto. Este autor refere, por exemplo,

que a liderana dos lderes neutralizada por factores estruturais, uma vez que a disposio das estruturas

administrativas no atingiu o nvel ideal de organizao. Este ambiente concorre para a ineficcia das

organizaes. A sada deste dilema, acrescenta, parece passar, paradoxalmente, por mais e no por menos

burocracia, por uma burocracia genuinamente burocrtica, mais capaz de cumprir seu ideal (Pina,

2014:2,42).

Chama-se a ateno dos leitores no sentido de evitarem-se confuses com o facto de, em determinados

momentos deste estudo, nos referirmos excessiva burocracia em Angola e, neste momento, em particular,

falarmos numa insuficiente burocratizao. As palavras excessiva burocracia so empregues neste

trabalho na sua acepo mais comum em Angola, isto a mais usada pelos utentes de servios pblicos que

significa: mau funcionamento das estruturas administrativas, portanto insuficiente organizao burocrtica. 27 Este conceito, geralmente usado em contraponto ao conceito de racionalidade objectiva que, grosso,

modo a que caracteriza o modelo de organizao burocrtica remete-nos para um quadro de ambivalncia

do actor. Trata-se de um conceito da psicologia cognitiva experimental desenvolvido de Simons (1982)

segundo o qual, em determinadas circunstncias os indivduos agem com base em razes pessoais, aos

olhos dos outros podem parecer sem sentido ou contraditrio. Este tipo de racionalidade nada tem que ver

com a racionalidade prtica de escolha ptima (Simons, citado por Boudon, 1992:47). Estes elementos

introduzem na gesto universitrias lgicas contrrias ao seu funcionamento o que dificulta a prossecuo

dos seus fins sociais. 28 Habib, A. 2010. Gesto de instituies de ensino superior na frica do Sul contempornea, Revista

Ensino Superior da Unicamp, pp. 44-54.

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gratuito e para todos mesmo quando a lei prev a gratuitidade apenas at ao ensino

primrio.

As prticas que envolvam cobranas so hostis aos rgos de governo destas instituies

que a todo custo as evitam. Isto ficou claro aquando da generalizao do regime ps-

laboral e as cobranas feitas aos estudantes nas universidades pblicas do pas. Algumas

provncias tardaram a abrir-se para este regime porque os responsveis receavam vir a ter

complicaes associadas gesto de valores e suspeio quanto ao descaminho destes

fundos, sempre muito presente nestes casos. Portanto, fica difcil afirmar se so os

resqucios do iderio do ensino gratuito ou falta de ambiente favorvel da gesto das

finanas que est na base da hostilidade s cobranas. Quanto ao sector privado parece

no haver grandes dvidas, pelo menos, quanto lgica de actuao. Os promotores que,

via de regra investem sem apoio financeiro estatal, so fortemente orientados para o lucro

e tem o foco voltado no retorno dos seus investimentos. Isso fica claro ao se analisar a

oferta de cursos29.

A autonomia das IES em Angola uma questo complexa e ainda muito difcil de se

abordar no quadro das prticas mundiais. H, por um lado, o reconhecimento legal desta

autonomia mas, por outro lado, no se verifica sua efectivao30 pois existem

interferncias de vria ordem. Note-se que, apesar de diversos instrumentos legais

conferirem universidade autonomia cientfica, pedaggica, administrativa e financeira,

na prtica, registam-se vrias insuficincias, sendo que a autonomia depende muito mais

das lgicas de distribuio do poder e do modo como concebem os regulamentos que

regem as IES. Para o caso de Angola:

No quadro desta regulao burocrtica, a gesto das universidades pblicas pelos

reitores resume-se ao exerccio de funes executivas e implementativas, isto , de

materializao das polticas superiormente determinadas31.

29 Os cursos que abrem obedecem unicamente lgica da procura, como era de esperar. Sendo agentes

econmicos privados esto sujeitos s leis do mercado. Da que os cursos nas reas das cincias sociais

esto em maior nmero por serem mais procurados e exigirem menos condies materiais ou tcnicas,

nomeadamente laboratrios e equipamentos. Porm, as autoridades tm uma viso completamente

diferente, por isso nutrem expetativas que dificilmente podero ser resolvidas pelos privados. 30 Para mais desenvolvimento a este respeito consultar Silva, Eugnio Adolfo Alves da (2004) e Manuel,

Tuca (2013). 31 Cf. Silva. Op.cit., p.1.

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Assim, o entendimento do que realmente a autonomia se torna difcil de alcanar.

possvel falar-se em autonomia num quadro como este em que os reitores so forados

a actuar como delegados da tutela32.

Os reitores33, enquanto gestores mximos das IES pblicas, exercem um papel

ambivalente no seio das organizaes que dirigem. Actuam como representantes do

ministrio de tutela e da comunidade acadmica, simultaneamente. Este papel, nem

sempre devidamente explicitado, tem sido motivo de diversas interpretaes pelos vrios

actores da escola. H os que entendem que na figura do reitor esto concentrados os

poderes mximos por este ter sido indicado pelo ministro do Ensino Superior (ES) e

outros que, embora reconheam esta legitimidade, vem no reitor a imagem de um

acadmico, indigitado para a gesto dos interesses da comunidade acadmica. O

problema que, no caso deste segundo grupo de indivduos, nem sempre o reitor um

representante da comunidade acadmica.

As funes do reitor de uma universidade pblica em Angola esto condicionadas pelo

poder poltico. Entre o ministro do ES e o reitor da universidade pblica existe uma

relao de subordinao hierrquica e controlo em todas as dimenses da actuao. Como

o poder e legitimidade do reitor tm origem no ministro, entidade que nomeia e exonera,

os reitores actuam mais como delegados do que como gestores autnomos,

propriamente dito. Os fortes laos de subordinao e dependncia do reitor tutela

reduzem-no a posio de mero executor das polticas do Estado, e condiciona,

sobremaneira, a sua autonomia. Fica claro que, a praxis angolana viola o estabelecido no

Art..11, da Declarao de Kampala34.

Trata-se de uma gesto universitria influenciada pelas lgicas centralizadoras reforadas

pelos princpios do Estado regulador e avaliador, que obriga os reitores a actuarem no

sentido de executar as determinaes ministeriais e seguirem as instrues superiores, o

que gera uma cultura de obedincia35. Da, como afirmamos atrs, ser difcil falar-se da

autonomia e da liberdade acadmica, enquanto forma de autogoverno que se pauta por

32 Cf. Ibid. 33 Silva (2012) sugere a anlise do papel do reitor nas IES pblicas tem de ser feita tendo em considerao

as articulaes e desarticulaes entre a dimenso burocrtica e a dimenso poltica que enformam a

dinmica das IES. 34 O Art..11, da Declarao de Kampala estabelece que as instituies de ensino superior deve ter

autonomia do Estado ou qualquer outra autoridade pblica na conduo de seus negcios, incluindo a

administrao e configurao de sua formao acadmica, a pesquisa ensino e outros programas

relacionados. 35 Cf. Silva. Op.cit., p.12.

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princpios reconhecidos em estatutos prprios e que se constituem como pilares crticos

da autonomia da educao superior36

O facto de a gesto das IES em Angola obedecer s lgicas da uniformidade e do controlo

restringe em muito a sua autonomia, deixando-a cada vez mais dependente do Estado. No

caso angolano as IES no so arenas polticas, no sentido cunhado por Baldridge e

Bush, citados por Silva37 so antes espao de reproduo normativa.

Mazrui, num artigo publicado na Harvard Educational Review, em Julho de 1975,

denuncia a dependncia do ocidente por parte de algumas universidades africanas que,

por serem suportadas por capital estrangeiro perseguem interesses alheios ao dos

africanos38. Esta dependncia resulta do facto de a universidade pblica em Angola

depender complemente de fundos pblicos para se financiar. Uma situao que, de resto,

est presente noutros pases africanos, como o Qunia. Porm, mesmo nos casos de existir

investimentos privados, sobretudo estrangeiros, que chegam atravs das multinacionais39

que operam no sector da educao superior o risco da dependncia no est totalmente

ausente.

Nas universidades pblicas existem, alm de traos fortes do pendor centralizador e

burocrtico, prticas institucionalizadas de controlo poltico e ideolgico destas

instituies, provavelmente por elas dependerem cem por cento de financiamento pblico

para a sua sustentao. Esta interferncia exercida, inclusive, a nvel da escolha dos

docentes. Houve pocas em que, nas universidades pblicas, leccionar disciplinas nas

reas das cincias sociais e humanas s era permitido a indivduos com fortes convices

polticas alinhadas ao marxismo e leninismo segundo Carvalho et al.40.

36 Pedrosa, Jlio, Hlia Costa Santo, Margarida Mano e Teresa Gaspar (2012). Novo Modelo de governana

e Gesto das Instituies de ensino Superior em Portugal. Aveiro, Universidade de Aveiro, p. 26. 37 Cf. Silva. Op.cit., p.13. A este respeito Silva fala em governamentalizao da universidade, entendida

como aco de captura da universidade por meio da sua instrumentalizao no cumprimento de fins

partidrios e fins prprios do estado. Esta aco desenvolve-se atravs do processo de regulao estatal que

impe o controlo administrativo e ideolgico das IES e dos actores da sua gesto. 38 Mazrui, Ali AlAmin. 1978. The African University As a Multinational Corporation: Problems of

Penetration and Dependency. in Philip G Altbach and Gail Paradise (eds.) Education and Colonialism

New York: Longmans: 331-352. 39 Em Angola esta realidade bem visvel, estando a operar vrias multinacionais, com destaque para a

Piaget Internacional com presena em quase todos os pases da Comunidade dos Pases de Lngua

Portuguesa (CPLP) e a Lusada. Apesar de em alguns casos, por fora de lei, existem nestas empresas

capitais nacionais, pode-se dizer que elas so controladas por estrangeiros. Trata-se de um controlo

legitimado, em parte, pela experincia que os seus actores trazem dos pases de origem mas que, aos poucos,

vai sendo questionada num cenrio que existem j outras instituies de capital e gesto cem porcento

angolanos que vo dando, igualmente provas de capacidade no ramo. 40 Cf. Carvalho et al., apud. Langa, Patrcio. 2014, p.12. The role and functions of higher education councils

and commissions in africa a case study of the mozambique national council on quality assurance in higher

education. South Africa, Centre for Higher Education Transformation (CHET).

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A insipiente autonomia existente no exerccio da actividade dos corpos gestores das IES

angolanas pode ser, eventualmente, contraposta mediante uma melhor articulao entre a

autonomia tcnica ou procedimental e autonomia substancial. Enquanto os actores de

universidade no participarem, directamente, na concepo dos objectivos que executam

a ideia de autonomia ser sempre muito frgil. A este respeito41 se aponta um conjunto

de quatro questes, relacionadas com a autonomia, consideradas como preocupantes

por diversos actores (docentes e gestores) das diferentes universidades pblicas de

Angola, nomeadamente: a captura da autonomia42; as lgicas de integrao dos

docentes nos rgos de governao43; a ambiguidade44; cultura do funcionalismo

pblico45.

Estas observaes so teis nossa reflexo, como apontou Silva46, corroboram a ideia

da existncia de interferncias de foras exgenas comunidade acadmica na

governao47 das IES.

A falta de condies financeiras para a edificao de estruturas fsicas separadas ou

independentes das IES tem sido apresentada como justificao de algumas entidades

promotoras que se sujeitam ao pagamento de avultadas multas ao Ministrio do Ensino

Superior (MES) quando so autuadas. Porm, so conhecidos casos de instituies que

mantm por anos na sua gesto indivduos que ocupam cargos na entidade promotora sob

o olhar impvido das autoridades que, em muitos casos tambm so scios destas

instituies ou possuem relaes privilegiadas. Verifica-se uma substancial concentrao

41 Cf. Manuel. Op.cit., p.30. 42 A captura da autonomia significa que a autonomia da universidade foi adoptada como um mecanismo de

os grupos hegemnicos desenvolverem a sua prpria autoridade e tutela sobre os processos internos,

criando alas de interesses e motivaes transformando a universidade num microestado, onde so juzes

em causa prpria e exercem o seu governo com leis prprias. 43 Trata-se da lgica do lobbie manico, os docentes so integrados como forma de ampliar o poder de

influenciar as suas gradaes categoriais na carreira docente e de expandir o leque de relaes interpessoais,

que podem ser teis a posteriori, sob a forma de recompensa. 44 A ambiguidade til manifesta na pretensa impreciso de tutela ou de independncia da universidade,

que reflecte um exerccio clandestino do poder por parte dos universitrios, que tendem com alguma

intencionalidade assumir essa dualidade dependentemente das convenincias e interesses que buscam. 45 A socializao da cultura do funcionalismo pblico. A concepo da universidade como um emprego

pblico comum recriada pela representao gerada pela sociedade, de ser mais uma escola como qualquer,

que exime-se de criar os conhecimentos e centra-se na reproduo dos conhecimentos preexistentes, que

distorce a perspectiva de extenso pela expanso e a competncia pela fidelidade funcional. 46 Cf. Silva. Op.cit. 47 Cf. Marques, Maria da Conceio da Costa. 2012, p.2 O conceito de governao do Ensino Superior

refere-se, principalmente, estrutura interna, organizao e gesto de instituies autnomas Nesta linha

de pensamento, talvez no faa tanto sentido falar de governao para o caso das IES angolanas, dado que

a sua situao em relao a autonomia continua indefinida em termos factuais. Mesmo nas IES privadas h

relatos de graves interferncias das entidades promotoras na gesto destas instituies. Alguns scios e

proprietrios exercem cargos executivos, numa clara violao da lei que estabelece no seu artigo 76 as

incompatibilidades.

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de poderes, no domnio da gesto, no ministrio de tutela48 que, em certo sentido

condiciona a actuao das IES enquanto entes autnomos. Pois, embora seja competncia

exclusiva do conselho de ministros a criao ou extino das IES privadas, a criao,

instalao, reestruturao e extino das unidades orgnicas de instituies de ensino

superior privadas carece de autorizao do MES que tem usado como arma de arremesso

s instituies que eventualmente no cumpram com algumas exigncias legais ou se

mostrem ideologicamente desalinhadas49.

A limitao do poder das IES no parte apenas do MES, enquanto rgo de tutela. Existe

um considervel nmero de entidades promotoras que a no observarem cabalmente com

o determinado pela lei, colocam srios entraves gesto corrente das instituies. Por

exemplo, a lei estabelece que a entidade promotora deve destinar uma conta bancria

instituio de ensino, a ser gerida pelo titular do rgo executivo50. Esta uma prtica

pouco seguida pelos promotores que, guiados pelo receio do descaminho de fundos,

preferem ser eles mesmos a conduzir a vida financeira da instituio meia-distncia

criando transtornos de vria ordem.

Os conselhos nacionais e comisses para o ensino superior tornaram-se comuns em

muitos pases como estruturas de governana das IES51. Esses conselhos ou comisses

tm diferentes formas e estatutos nos diferentes sistemas de ensino superior. Em alguns

casos, fazem parte das estruturas governamentais, enquanto em outros eles so

classificados como organizaes da sociedade civil. Isto demonstra a existncia de

distintos modelos nacionais de governana e coordenao do ensino superior52. Esta

48 Cf. Um olhar ao seu quadro jurdico permite-nos compreender como, quer a autonomia funcional e as

liberdades acadmicas esto a prior condicionadas por foras exgenas, representadas pelo ministrio de

tutela a quem competente propor ao Conselho de Ministros a nomeao dos titulares dos rgos de gesto

das universidades e academias pblicas, com base na apreciao da lista de candidatos eleitos pela

assembleia das respectivas instituies, propor ao Conselho de Ministros a suspenso e exonerao dos

titulares dos rgos de gesto das universidades e academias pblicas, bem como homologar a designao

dos titulares dos rgos de gesto das instituies de ensino superior privadas e das respectivas unidades

orgnicas. 49 Cf. Decreto n.90/09 De 15 de Dezembro Estabelece os princpios gerais do Sistema de Ensino Superior

em Angola. O quadro jurdico est desenhado de forma a permitir uma aco de controlo e uma relao

de subordinao e dependncia das IES, independente de serem pblicas ou privadas alis, nos termos do

Decreto n.90/09 De 15 de Dezembro, ambas merecerem tratamento similar no essencial da sua gesto

interna. 50 Alnea g, do artigo 75. (Competncias da Entidade Promotora Privada) do Decreto n.90/09, De 15 de

Dezembro. 51 Em Angola, por exemplo, no existe este tipo rgo fora da estrutura governamental. Embora haja a

Associao de Reitores das Universidades Privadas de Angola, uma agremiao que j demonstrou ter

algum poder negocial junto da tutela, no podemos afirmar com exactido que existe uma plataforma formal

de discusso e convergncia de ideias e interesses a esse nvel. 52 Cf. Apud. Langa. Op.cit., p.5.

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configurao define o tipo de relao que estes rgos possuem com o estado ou

organismo governamental de tutela.

Importa dizer que a relao entre o ministrio de tutela e os gestores das IES privadas ,

particularmente, marcada por alguma suspeio. Se por um lado, a tutela reiterada vrias

vezes por meio dos rgos de difuso massiva, afirma existirem IES privadas a operarem

margem das normas por outro lado, vrias destas instituies esto conscientes de no

cumprirem, na ntegra, com todos os requisitos previstos na lei, o que coloca os seus

gestores numa condio de permanente insegurana, em face da aco directiva e

fiscalizadora exercida pela tutela.

A aco fiscalizadora da tutela vista, pelos gestores, como parcial, sendo que um maior

rigor reca para as IES privadas. Este gestor procura justificar a constatao de uma equipa

de inspeco sua instituio que concluiu existirem livros insuficientes na sua biblioteca

com o facto das IES pblicas, grosso modo, possurem menos condies neste domnio.

Na realidade angolana, o governo representa o grupo mais influente no Sistema de Ensino

Superior, seguido do mercado e aos acadmicos reservado um poder de influncia muito

residual53.

A terminar deixamos trs breves notas:

As IES pblicas, por entenderem que esto no cumprimento de um mandado

pblico e, sobretudo poltico, optam por um tipo de gesto do ensino onde se

valorizam os nmeros e os resultados. Isto , conta mais quantos alunos a

universidade pode admitir e quantos saem anualmente;

A qualidade dos cursos que ministram no prioritria, embora a pertinncia dos

cursos sempre o e sempre foi. Os gestores privados imbudos da viso de

mercado54 parecem ter as mesmas preocupaes estratgicas. Interessa-lhes o

nmero de alunos que entram e saem anualmente mas, ao pensarem assim, a

preocupao reca antes nas implicaes de tesouraria do que, por exemplo a

massificao como o caso dos gestores das IES pblicas;

53 Cf. Marques, Maria. Op.cit., p. 1-17. Modelos de Governo e Gesto Universitria: Uma viso sobre o

contexto actual Portugus. Revista De Contabilidade e Organizaes, RIGC, X, (19), Esta realidade

contraria o modelo tradicional de governao universitria que coloca os docentes no topo dos actores

elegveis para a governao da universidade. Esta forma de governo, tambm conhecida como governao

colegial, caracteriza-se, essencialmente, pela atribuio de poderes de governao alargados aos senados

universitrios ou pela representao em grande nmero do corpo docente em conselhos de governadores,

ou ambos. 54 Cullen, Rowena. Buie. 1992. Running Academic Institution as a Business: Is This Real Option?

Australian Journal of Public Administration, LI, (3), 295-307.

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A ateno dada qualidade dos cursos ministrados varia com o perfil do gestor.

A pertinncia do curso ditada pela procura do mercado, ao contrrio das IES

pblicas que cumprem uma agenda prpria, uma agenda governamental;

Como se pode observar o entendimento dos organismos governamentais est orientado,

em primeiro lugar, para uma lgica de alargamento da oferta e, s depois, para a melhoria

da qualidade. J os promotores privados, que operam no sector do ES, colocam o lucro

como primeiro objetivo e, s depois, a qualidade, ou seja, esto alinhados com o primeiro

objectivo das entidades governamentais uma vez que, neste sector, tendo em conta a

realidade angolana, a quantidade que gera lucro e no a qualidade55.

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

1. Neto, Teresa da Silva (2012). Por um Ensino Superior de Qualidade nos Pases e

regio de lngua Portuguesa. Comunicao apresentada em Novembro de 2012,

na Conferncia de Macau.

2. Pina, Miguela Cunha (2013). Uma burocracia insuficientemente

burocratizada? Uma estranha interpretao sobre a administrao da

administrao pblica. https://www.bportugal.pt/pt-

PT/OBancoeoEurosistema/Eventos/Documents/Uma_burocracia_insuficienteme

nte_burocratizada_outubro_2013.pdf (acessvel em 10.04.2015)

55 Este facto decorre da fraca percepo do factor qualidade na formao dos indivduos, sobretudo ao nvel

superior. Existe uma idia generalizada na sociedade angolana de que os estudantes esto mais interessados

em obter um diploma superior do que, necessariamente, os conhecimentos a ele associados. O caso mais

flagrante, agora freado por medidas administrativas do governo, o dos funcionrios pblicos que

esforavam-se por ter um diploma do ensino mdio (secundrio concludo) ou mesmo ensino superior para

poderem mudar de categoria salarial. Era to flagrante este interesse que houve uma onda de denncias e

prises relacionadas com a entrega de certificados de habilitaes literrias falsos em muitas direces de

escolas do pas.

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CINCIAS DA EDUCAO

APRENDIZAGEM EM ACO.

PODEMOS DISCUTIR OS PARADIGMAS DE ENSINO E APRENDIZAGEM

NA REA DE CINCIAS SOCIAIS E HUMANAS?

ADELINO SANJOMBE a

[email protected]

RESUMO

Este artigo tem como propsito colocar disposio da comunidade acadmica do

Departamento de Cincias Sociais e Humanas do Instituto Superior Politcnico Sol

Nascente (ISPSN) as nossas reflexes sobre as varias abordagens de ensino e

aprendizagem que podem ser empregues buscando oferecer um servio de qualidade que

possa promover mudanas positivas e duradouras na vida dos estudantes. O objectivo do

presente trabalho contribuir para o debate sobre uma abordagem baseada na realidade,

adaptvel e flexvel de Ensino - Aprendizagem de qualidade no Departamento de Cincias

Sociais e Humanas do ISPSN. A Pesquisa em Aco pareceu-nos a metodologia mais

ajustada. O emprego desta metodologia frequentemente feito em concomitncia com a

Aprendizagem em Aco e Observao Participante. Os resultados da pesquisa sugerem

que h necessidade de discutir a possibilidade de promover o Construtivismo e

Comportamentalismo como as abordagens subjacentes s prticas dos docentes durante a

gesto do processo de Ensino - Aprendizagem. A introduo do feedback como

elemento fundamental do processo de moldar e desenvolver aptido intelectual. Por outro

lado, os estudantes tm de considerar praticar a leitura intensiva, extensiva e escrita

criativa. Em concluso, a comunidade acadmica que se propem orientar o processo de

ensino e aprendizagem de Cincias Sociais e Humanas precisa adoptar um postura

eclctica, mente aberta para reforar as suas habilidades de ensinar de maneira efectiva,

produzir mudanas positivas e duradouras na vida dos estudantes de tal sorte que estes

possam adoptar a pesquisa como cultura e pensar de maneira independente.

Palavras-chaves: Ensino e Aprendizagem, Construtivismo e Comportamentalismo.

a Mestre em Psicopedagogia Clnica e Professor no Instituto Superior Politcnico Sol Nascente do Huambo.

mailto:[email protected]

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ABSTRACT

The purpose of this paper is to share our reflections about the different teaching and

learning approaches that can be adopted and adapted to effectively teach Social and

Human Sciences seeking to offer a quality service that brings about long lasting positive

changes in students lives. The objective of this work is to endorse an ongoing scholarly

debate concerning a flexible and a practice based approach to make the teaching and

learning process of Human and Social Sciences as effective as possible in ISPSN. Given

this a practice based study, the Action Research Methodology was the most suitable

approach for this work. In addition to that, Participation Observation has also played a

pivotal role as that the investigation was carried out by insider researcher. The results of

this study suggests that there is a need to consider enacting social constructivism as the

underlying approaches under which, the academic community should base their teaching

methodologies to promote an effective learning. In addition to that, there is a need to

promote action learning approach as one of the best practices to teach Social and Human

Sciences. There is a need to enact regular feedbacks a means to enhance and shape

students' skills and aptitudes on how think based upon the Social and Human Sciences

standpoint.

The Academic community teaching Social and Human Sciences, is expected to adopt an

open minded perspective aiming to enhance their ability to promote an effective a long

lasting learning that empower students and set them free in a sense that they take up the

academic culture by living life as an inquiry.

Key words: Behaviourism, Teaching and learning Constructivism.

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INTRODUO

As Cincias Sociais e Humanas so complexas1. A noo de complexidade tomada no

sentido de que neste campo de conhecimento no h frmulas rgidas nem posies

absolutas. Este o ramo de conhecimento cujo apangio a imprevisibilidade, a

emergncia e o conhecimento sistemtico da organizao da sociedade. Esta posio

decorre do facto de que um fenmeno social ou humano poder ter vrias interpretaes

aceitveis em funo do contexto em que este ocorrer2. Por outro lado, em Cincias

Sociais, a relao de causalidade deve ser vista com muito cuidado para evitar a iluso

perceptiva da realidade sobre a qual se pretende agir.

Nas Cincias Sociais e Humanas a capacidade de interpretao crucial para dar sentido

ao mundo que nos rodeia e perceber as situaes que o dia-a-dia vai apresentando. Neste

ramo, precisamos desenvolver habilidades e aptides que nos permitam continuar a

crescer intelectualmente e ganhar conscincia do que no sabemos bem como do que no

sabemos que no sabemos.

No decurso do semestre Janeiro a Julho de 2015 que agora termina aceitamos a

responsabilidade de gerir o Departamento de Cincias Sociais e Humanas. A partir deste

momento passamos a investigar que estratgias podem ser implementadas para poder

acrescentar valor ao actual processo de Ensino - Aprendizagem. Na medida em que

avanava a nossa pesquisa, vrias questes ocorreram-nos tais como: quais so os padres

de Ensino Aprendizagem predominantes no departamento em estudo? Como podemos

contribuir para garantir que a qualidade do Ensino e Aprendizagem dos cursos: Direito,

Cincia Politica e Relaes Internacionais, Histria e Didtica, Psicologia e Didtica e

Sociologia continue a responder s exigncias da sociedade, do mercado de trabalho e do

pas de modo geral? Qual o perfil intelectual de sada do quadro formado neste

departamento? Para se conseguir formar um engenheiro de ideias, que abordagem de

aprendizagem precisamos adoptar e adaptar?3 Qual o perfil acadmico e profissional do

professor para os cursos de Cincias Sociais e Humanas?

1 Cf. Stacey, R.D. 2011. Strategic Management and Organisational Dynamics. The Challenge of

Complexity. 6th Edition, p. 253-255. 2 Johnson, P. e Duberley, J. 2000 Understanding Management Research. p. 97. 3 Cury, A. J. 1998 Inteligncia Multifocal. Anlise da Construo dos Pensamentos e da Formao de

Pensadores. Edio Revista e Ampliada. 4 Edio. Editora Pensamento-Cultrix LTDA, p. 21.

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Assim, o objectivo deste estudo contribuir para o debate sobre a abordagem de

aprendizagem adoptar para que o ensino das Cincias Sociais seja eficaz e efectivo.

Reviso da Literatura Relevante para o Presente Estudo

A Cognio Humana

Tendo em conta os objectivos deste estudo decidimos comear por falar sobre a Cognio

Humana. Coghlan & Brannick4 defendem que o acto de conhecer um processo que

ocorre seguindo trs nveis tais como: experincia, entendimento, julgamento (exame

crtico sobre o que foi captado pela experincia). Na perspectiva destes autores, a

experincia ocorre quando o sujeito interessado em aprender algo toma contacto com o

material que lhe pode levar a ter informao sobre determinada realidade. Quer dizer, no

nvel da experincia, o sujeito cognoscente interage com o objecto cognoscvel fazendo

passar esta informao pelos seus rgos dos sentidos: viso, audio, tacto, olfacto e

paladar.

Neste sentido, ler um livro, escutar a explicao do professor durante uma sesso sobre

determinada rea de conhecimento, constituem apenas a primeira etapa da cognio,

porm, no suficiente para conhecer e aprender (nfase do autor). Se a experincia

constitui apenas o primeiro nvel, correcto pensar que os estudantes que prestam ateno

s explicaes do professor durante as sesses de ensino e aprendizagem, em seguida

lem o material (livro, fascculos) vo chegar a um conhecimento e a uma aprendizagem

eficaz e efectivos?5

O segundo nvel o entendimento. Este processo consiste em dar significado ao que

experimentado. No primeiro nvel do processo de conhecimento os rgos dos sentidos

do sujeito que pretende conhecer tomam contacto com o objecto. No segundo nvel, o

sujeito deve formular todas as questes possveis para formar um entendimento sobre o

que percebeu. Quer dizer, entender um determinado assunto ocorre quando o sujeito

cognoscente formula perguntas para atribuir significao sua experincia6. A percepo

de um assunto depende do acto de questionar a informao captada pelos rgos dos

4 Cf. Coghlan, D. & Brannick, T. 2010. Doing action research in your own organization. 3rd ed. London:

Sage, p.19-31. 5 Cf. Wilkinson, B. 1992. The Seven Laws of the Learner. How to Teach Almost Anything to Practically

Anyone! 4201 N. Peachtree Road, Atlanta, GA 30341, p. 16-19. 6 Cf. Santos, L. 2002. Auto-avaliao regulada: porqu, o qu e como., p. 1-3.

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sentidos. Neste sentido, quando se formula aos estudantes a seguinte pergunta:

entenderam? se a resposta for sim, podemos supor que houve aprendizagem ainda que

nenhum estudante tenha colocado alguma pergunta profunda para confirmar se a sua

percepo corresponde ao assunto em estudo? Por outro lado, uma sesso de ensino em

que no se d aos estudantes a oportunidade de formular questes pode produzir

aprendizagem?

Aqui, o sujeito entra na chamada metacognio que o processo de confrontao entre a

aplicao dos conhecimentos absorvidos e suas implicaes prticas na realidade social

em que este deve ser empregue. No decurso deste processo, o sujeito precisa de fazer um

exerccio rigoroso e paciente para que ocorra a descoberta do padro que caracteriza

determinado objecto e s assim que a aprendizagem pode ocorrer em Cincias Sociais

e Humanas. A palavra rigor aqui empregue para indicar que este processo de

confrontao deve ser feito seguindo os padres do pensamento crtico que so: anlise,

comparao, sntese, clareza, relevncia, exactido, profundidade, significncia, preciso,

amplitude e razoabilidade7. Isto implica que o estudante que se prope aprender Cincias

Sociais e Humanas, precisa adoptar a postura de um itinerante que trilha sobre os vrios

livros e realidades relacionadas aos conhecimentos que pretende absorver buscando

captar a essncia do ramo que o atraiu para essa rea do saber.

Depois deste percurso feito sobre os nveis de cognio humana e os processos envolvidos

na aprendizagem de Cincias Sociais e Humanas ocorrem-nos algumas perguntas que nos

parecem bvias.

Qual o perfil profissional e acadmico ideal do professor? Que paradigmas de

aprendizagem so mais adequados para ensinar de tal sorte que se possa oferecer um

ensino de qualidade que permita alcanar uma transformao slida e efectiva que tenha

efeitos: emancipadores, libertadores, moldadores, provocando mudanas duradouras na

vida dos estudantes que confiaram em ns a tarefa de os formar? Que condies devem

ser criadas para que os estudantes possam enveredar para a vida acadmica findo curso

de licenciatura? Como assegurar que o ensino desencadeie no estudante uma concepo

cientfica e filosfica do mundo? Qual a motivao certa para ensinar e aprender? Qual

o perfil do estudante? Que cultura devemos promover para assegurar que o exerccio

acadmico faa parte do estilo de vida dos professores e estudantes? Quando que se

7 Paul, W.P. e Elder, L. 2002. Critical Thinking. Tools for Taking Charge of Your Professional and Personal

Life. Pearson Education, Inc, p. 97-114.

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pode inferir que o ensino conseguiu alcanar os resultados e o impacto almejado na vida

dos estudantes, no mercado de trabalho, da sociedade que legitima e autentica a qualidade

do trabalho da formao que oferecemos? Essas questes vo orientar as prximas

seces deste trabalho8.

Qual o Perfil Acadmico e Profissional Ideal do Professor de Cincias Sociais e

Humanas?

Ao falar do perfil ideal do professor, no estamos a falar necessariamente de quem d

aulas. Ou seja, neste trabalho, defendemos que professor aquele que pode ensinar algo.

Quer dizer, professor no apenas aquele que obteve um grau acadmico (Bacharel,

Licenciado, Mestre ou Doutor) que o torna candidato natural a leccionar na universidade,

mas sim aquele que para alm da sua formao acadmica, desenvolveu habilidades e

aptides que o qualificam para orientar a aprendizagem dos estudantes que forem

colocados sob sua responsabilidade9.

O professor de Cincias Sociais aquele que tem uma experincia acadmica e

profissional no seu campo de formao. Quer dizer, espera-se que o professor tenha

trabalhos de investigao cientfica na sua rea de actuao. Convm esclarecer tambm

que ao falar da prtica profissional como elemento integrante do perfil ideal do professor,

estamos influenciados pelo lado aplicado deste importante ramo do saber. Em outras

palavras, estamos a defender que para as Cincias Sociais e Humanas aplicadas tal como

o caso do Direito, Gesto, Histria, Psicologia e Sociologia constitu valor acrescentado

que os docentes destas tenham uma certa prtica profissional sobre o que leccionam para

poderem ajudar os estudantes a desenvolverem as habilidades e aptides necessrias no

exerccio da profisso que resultam do curso. Quando o professor tem um passado

profissional no campo em que actua, ele consegue definir melhor os indicadores de

aprendizagem da disciplina que estiver sob sua responsabilidade, o que o permite

seleccionar as habilidades e aptides fundamentais a serem desenvolvidas dentro do

tempo que estiver sua disposio para formar os estudantes10.

8 Cf. Zakaria, Fareed. 2015. In Defense of a Liberal Education. First Edition, p.136-143. 9 Bain, Ken.2004. What the Best Teachers College Teachers Do. The President and Fellows of Harvard

College, p.15-20. 10 Schwarz, Roger. 2002. The Skilled Facilitator. A Comprehensive Resource for Consultants, Facilitators,

Managers, Trainers and Coaches. Second Edition. , p. 40.45.

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No decurso da nossa humilde e limitada experincia de 15 anos de trabalho como

formador temos acompanhado frequentemente muitos casos em que os estudantes fazem

as seguintes questes: "Porque que alguns docentes no seleccionam o essencial da

disciplina que se propuseram ministrar?" "Porque que alguns orientadores no

relacionam a sua actividade na sala de aula prtica?" "Porque que alguns professores

no apresentam exemplos baseados na sua experincia profissional vivenciada em

primeira pessoa?" "Porque que alguns professores no so capazes de relacionar a sua

disciplina s outras reas do saber do curso em que se encontram leccionando? Que

habilidades e aptides devo desenvolver neste curso?"

Bain11 argumenta que os docentes universitrios que integram a lista dos que podem fazer

a diferena positiva e duradoura na vida dos discentes, so aqueles que investigam e

publicam sobre o assunto que se propem ensinar. Para alm de publicarem artigos

cientficos e livros acadmicos sobre sua rea de actuao, os professores universitrios

que conseguem bons resultados no processo de desenvolver as habilidade e aptides dos

discentes orientados por si, so os tiverem interesse e tempo de continuar a investir na

sua superao intelectual e artstica para que as suas orientaes possam ter impacto nos

bastidores da mente dos seus formandos. Isto exige esforo para desenvolver a aptido de

pensar de modo original sobre os assuntos que ensina e pesquisar de forma extensiva para

perceber quais so os progressos que ocorrem na sua rea de trabalho bem como nos

ramos auxiliares aos da disciplina que o professor lecciona.

Qual o perfil ideal do estudante de Cincias Sociais e Humanas?

Apesar de cada curso possuir caractersticas prprias, h aspectos fundamentais para toda

a pessoa que decidir seguir uma formao acadmica tais como: gosto pela leitura,

pesquisa, escrita criativa, pensamento crtico, autonomia intelectual, dedicao diria e

sistemtica em todo o momento para garantir que o seu desenvolvimento mental ocorra

da maneira mais qualitativa possvel12,13, 14.

11 Cf. Bain, Ken. Op. cit., p.26. 12 Carter, P. 2005. The Complete Book of Intelligence Tests. 500 Exercises to Improve, Upgrade and

Enhance Your Mind Strength. Published by John Wiley & Sons Ltd., p. 5. 13 Cf. Paul e Elder. Op. cit., p. 19. 14 Berbel, N. A. N. (2004). Metodologia da problematizao: uma alternativa metodolgica apropriada

para o ensino superior. Semina: Cincias Sociais e Humanas, 16 (3), 09-19.

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O gosto pela leitura e pela pesquisa so fundamentais para ampliar a habilidade de ver o

mundo de forma holstica. A formao acadmica exige ter uma viso global do mundo

e isso s possvel quando os alunos expandem a sua aptido de ler de forma crtica os

livros e artigos relacionados sua rea de formao independentemente da bibliografia

recomendada dentro do seu curso. Isto significa que o estudante no deve limitar-se a ler

o que foi orientado. A leitura a que nos referimos aqui no para diverso. Porm,

estamos a falar de um exerccio de pesquisa que permita ter uma imagem global sobre a

posio de vrias escolas de pensamento que abordam um determinado assunto. Isto

envolve, leitura de informao, inspeco, sistemtica, crtica e de aprendizagem15.

A seguir leitura e pesquisa, segue-se a escrita. As Cincias Sociais e Humanas

requerem o aperfeioamento da competncia de comunicar verbalmente e por escrito. Por

esta razo, o estudante deve investir no hbito de escrever com a maior frequncia

possvel. No comeo, o exerccio de documentar as reflexes que decorrerem das

pesquisas, pode-se dedicar apenas 15 minutos ao dia e mais tarde ir adicionando o tempo

em funo do progresso que se registar16.

Qual a abordagem de aprendizagem mais adequada para ensinar Cincias Sociais

e Humanas?

Jnior e Sauaia17 ofereceram contribuies bastante desafiadoras ao constatarem que

apesar dos progressos recentes na qualificao dos docentes, deve-se prestar ateno aos

aspectos curriculares e didcticos das disciplinas que esto sob sua responsabilidade.

Jnior e Sauaia18 constataram em seu trabalho, que os docentes ainda tendem a repetir os

padres tradicionais de ensino e aprendizagem, nos quais eles so o centro da

aprendizagem. Neste modelo, a relao entre professor e aluno tende a ser vertical. O

exemplo deste modelo ocorre em aulas que ele toma a palavra por mais de 90% do tempo

Wilkinson19 argumenta que no devemos confundir o acto de falar em sala de aula com o

de ensinar. Isto , quando o prelector aparece na sala de aula e expe algum contedo

15 Adler, M.J. e Van, Doren. 2014. How to Read a Book. The Classic Guide to Intelligent Reading. 3rd

Edition. New York, NY 10020. p. 31-44. 16 Goodson, P. 2013. Becoming An: Academic Writer. 50 Exercises for Paced, Productive and Powerful

Writing. Sage Publications, Inc., p.21. 17 Jnior, W. H., e Sauaia, A. C. A. 2008. Aprendizagem Centrada no Participante ou no Professor? Um

Estudo Comparativo em Administrao de Materiais. p.634. 18 Cf. Ibid., p.634. 19 Cf. Wilkinson. Op. cit., p.16.

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baseado nas suas anotaes e depois abre uma sesso para perguntas de clarificao da

matria exposta, esse processo pode levar os alunos a captar informaes mas pode-se

concluir que houve ensino? Ensinar falar? indiscutvel que falar no sentido de expor

a matria, joga um papel fundamental no ensino e aprendizagem da Cincias Sociais e

Humanas, porm, no suficiente para desenvolver as aptides que os estudantes

precisam para poderem aplicar os conhecimentos adquiridos.

Se a estratgia segundo a qual, o professor o centro das atenes na sala de aula no

responde s necessidades de formao dos estudantes, ento qual deve ser a metodologia

a adoptar e adaptar para se conseguir um ensino de qualidade?20 defende que no se

consegue aprender sem aco. Nesta perspectiva, a aprendizagem tem lugar quando o

orientador do processo de ensino conceber tarefas especficas atravs das quais vai

inspirar os seus estudantes dentro e fora da sala. Aprender ocorre com mais facilidade e

significncia quando o estudante sujeito activo durante todo processo de ensino.

Se os orientadores do processo de ensino e aprendizagem planificarem aces prticas no

decurso das suas aulas, vamos conseguir ajudar os estudantes a ampliarem as

competncias e aptides necessrias em cada rea de formao? A resposta a esta questo

exige formular outra pergunta: que padres de pensamentos os professores precisam

seguir para promover um ensino transformador? Sanches21 sugere que o segredo para se

conseguir um ensino de qualidade consiste na capacidade do professor dedicar-se

reflexo frequente das suas prticas de ensino e testar regularmente a eficcia do seu estilo

de liderar o processo ensino. luz dessa reflexo que nos parece fundamental para se

conseguir um ensino de qualidade, tendo em conta a nossa experincia de trabalho e a

literatura especializada, defendemos que para se conseguir aplicar a abordagem de

Aprendizagem em Aco, em primeiro lugar os professores precisam de investir num

padro de pensamento que os convide a adoptar a reflexo - aco - reflexo para

descobrir as necessidades dos estudantes orientados por si e reflectir constantemente

sobre a relevncia e eficcia das suas prticas durante as aulas22. Aplicando este princpio

no nosso contexto, espera-se que os professores possam parar e rever o seu estilo de

ensino e identificar que mudanas precisam ser feitas. Por exemplo, se durante a aula o

20 Peddler. 2008. Action Learning for Managers. Second Edition. p. 10. 21 Sanches, I. 2005. Compreender, Agir, Mudar, Incluir. Da investigao-aco educao inclusiva.

Revista lusfona de educao, 5 (5), p. 130. 22 Bolton, G. 2005. Reflective Practice. Second Edition. Sage Publications, Ltd., p.1-15.

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docente passar 90 % do tempo falando, ser que esta abordagem vai contribuir para o

progresso intelectual esperado? Se no, sugere-se que tal estratgia seja revista.

Por um lado, a abordagem de Pesquisa em Aco, requer que os prelectores (docentes)

desenvolvam a cultura de obter ''feedback'' dos seus alunos (avaliao das suas prticas

durante as aulas). Quer dizer, os professores precisam promover a cultura do dilogo para

perceber em tempo til se os discentes esto a perceber e a desenvolver as habilidades e

aptides necessrias para o curso que frequentam.

Por outro lado, parece-nos importante sublinhar que a abordagem de Investigao em

Aco uma metodologia de Pesquisa Social concebida para buscar o maior nmero de

informaes que permitam compreender e identificar novas maneiras de actuao e pode

ser empregue para melhorar as condies de ensino e aprendizagem dos estudantes23. Esta

abordagem muito democrtica, por esta razo, o envolvimento significativo dos

participantes (estudantes) durante as sesses de ensino-aprendizagem crucial para

assegurar que eles assumam a sua responsabilidade de desenvolver as habilidades e

aptides necessrias.

Se a abordagem de pesquisa em aco for empregue, vamos conseguir os resultados

esperados em cada curso? A resposta a esta questo levanta outras perguntas tais como:

Quem responsvel pelo desempenho do estudante? O professor, a qualidade do material,

o lugar em que ocorrem as aulas? Vygotsky24 advogou que a interaco social com os

colegas de curso pode ser efectiva para promover novas aprendizagens. Neste sentido

defendemos que os professores precisam incentivar a criao de grupos de estudo que

constituam redes de estudantes do mesmo curso para trocarem impresses e experincias

sobre as disciplinas do seu25.

Apesar da interaco entre os estudantes desempenhar um papel importante na

aprendizagem, a questo que faz o aluno aprender bem persiste. Durante as aces que o

discente vai implementar em busca do conhecimento, ele vai cometer erros a serem

assinalados pelo professor atravs do processo de feedback sobre o seu desempenho26.

23 Greenwood, D.J. & Levin, M. 2007. Introduction to Action Research. Social Research for Social Change.

2nd Edition. Sage Publications, Inc. ,p.3. 24 Cf. Vygotsky 1962, apud Sanches, Op. cit., p.134. 25 Dias, P. 2001. Comunidades de conhecimento e aprendizagem colaborativa. Seminrio Redes de

Aprendizagem, Redes de Conhecimento. Lisboa, Conselho Nacional de Educao, 85-94. 26 Kirkland, K. e Manoogian, S. 1998. Ongoing Feedback. How to Get It, How to Use It. Center for Creative

Leadership. p. 7-17.

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Por acharmos que o ''feedback'' chave no processo de Ensino - Aprendizagem de

Cincias Sociais e Humanas vamos dedicar a seco a seguir para apresentar em detalhe

qual o nosso entendimento do papel crucial deste elemento para o desenvolvimento

mental, acadmico e profissional dos estudantes.

Valor do Feedback no processo de ensino aprendizagem

Feedback o processo atravs do qual o professor providncia ao estudante informaes

sobre o seu desempenho acadmico numa determinada disciplina. Este exerccio deve ser

feito numa base regular durante o ano lectivo. Quer dizer, no decurso das aulas, o

professor deve planificar bem as actividades com as quais vai colocar os estudantes em

aco para que eles possam aplicar as informaes adquiridas e enquanto isto ocorre,

aplicam os conhecimentos e desenvolvem habilidades e aptides. Por exemplo, o escrever

acadmico exige: clareza, preciso, fidelidade, lgica e integridade intelectual. Para que

o quadro a ser formado desenvolva a habilidade de escrever bem academicamente, espera-

se que o professor crie situaes em que os formandos vo ter de demonstrar que

conseguiram adicionar esta competncia no seu universo conceptual. Feito o exerccio, o

estudante vai certamente cometer erros. O professor deve assinalar os erros e apresentar

recomendaes especficas para melhorar nas prximas sesses. Sublinha-se que essas

actividades devem preceder os perodos formais de avaliao previstas pela escola

(provas de frequncia e exames).

Se a tarefa dada for escrita, espera-se que o ''feedback'' seja dado por escrito. O orientador

(docente) deve identificar bem os pontos fortes do trabalho e os aspectos que devem de

ser melhorados. Se a tarefa exigir fazer uma apresentao verbal, espera-se que a

apreciao seja dada verbalmente respeitando os limites da tica. Quer dizer, o professor

deve garantir o anonimato protegendo a identidade dos alunos que precisam de melhorar

e deve manifestar respeito pelo esforo feito por eles.

Para alm do ''feedback'' ser apresentado por escrito e verbalmente, deve haver

disponibilidade da parte do docente para prestar todo o apoio possvel para que os

discentes entendam como vo aplicar as recomendaes que podem leva-los a melhorar

o seu desempenho. Para tal, o orientador precisa adoptar a postura de um lder:

compassivo, colaborativo e que promova a colectividade entre os alunos para que possam

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interagir em busca da excelncia na sua aprendizagem27 .Uma vez identificados os erros,

quem os deve corrigir? O estudante o principal responsvel pela sua aprendizagem, por

isso, deve ser ele a corrigir as suas falhas com o apoio do professor 28.

Qual deve ser a atitude do estudante perante o feedback dado pelo professor?

Na primeira seco deste artigo, falamos da cognio Humana e defendemos que ela

passa por trs etapas: experincia, entendimento e julgamento (tomada de posio).

Assim, o estudante deve prestar bem ateno ao ''feedback'' que recebe lendo bem e

procurando dar sentido ao que for recomendado. Depois de ler, deve perguntar ao

professor se o seu entendimento corresponde orientao dada. importante que o

estudante no suponha que entendeu sem aferir o que se pretendeu dizer com cada

recomendao dada. O professor precisa desenvolver a habilidade de escutar bem o

estudante sem o julgar, nem o rotular por achar, por exemplo, que este se esfora pouco29.

Por outro lado, os estudantes precisam de ler mais do que for recomendado. Se for

recomendada a leitura de um autor principal, importante que o estudante leia mais do

que um livro sobre uma determinada disciplina para melhorar o seu entendimento sobre

um assunto.

METODOLOGIA

Posio Epistemolgica

Este estudo foi sustentado sobre o construtivismo como base epistemolgica, porquanto,

ele ajusta-se melhor natureza da pesquisa em aco que procura compreender o mundo

atravs da maneira como os indivduos envolvidos numa determinada realidade social

do sentido e atribuem significados aos fenmenos que os afectam no contexto em que

se encontram inseridos30. A Pesquisa em Aco foi o mtodo seleccionado e foi

considerada adequada por se tratar de uma abordagem que permite fazer um estudo mais

27 Raelin, J. 2010. The Leaderful Field Book. Strategies for Developing Leadership in Everyone. First

Edition. p. XIV-XIX. 28 Miller, W. R. e Rollnick, S. 2013. Motivational Interviewing. Helping People Change. Second Edition.p.

9-13. 29 Hoppe, M.H. 2006. Active Listening. Improve Your Ability to Listen and Lead. Center for Creative

Leadership., p.12-18. 30 Creswell, W.J. 2014. Research Design. Qualitative, Quantitative and Mixed Methods Approaches. 4th ed.

Sage Publications, inc., p.8.

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aberto dentro do contexto de trabalho. Esta abordagem facilita estudar problemas

baseados num contexto especfico de trabalho visando melhorar a situao dos

participantes contando com o seu envolvimento significativo para produzir aprendizagem

mtua31.

Recolha de Dados

Os dados foram recolhidos atravs de observao natural e participante. Para alm destas

tcnicas, houve debates realizados com grupos focais de docentes e estudantes de cursos

e anos diferentes. Por outro lado, foram registadas todas as queixas que chegaram ao

departamento escritas e orais.

ANLISE DE DADOS

A anlise de dados foi feita procurando identificar os constructos que revelam os padres

de pensamento predominantes. Este exerccio exigiu revisitar constantemente os dados

empricos recolhidos no decurso do I semestre de 2015.

Consideraes ticas

Durante o estudo, no processo de recolha de dados, a identidade dos participantes foi

mantida annima e as informaes partilhadas foram tratadas de maneira confidencial

para evitar que algum fosse identificvel durante a apresentao dos resultados do

estudo. No decurso da pesquisa no houve critrio de excluso.

Limitaes do Estudo

Apesar de ser a abordagem mais adequada para pesquisas em contexto de trabalho, a

cientificidade da metodologia utilizada, ainda muito discutvel. Esta constatao decorre

do facto de no se poder generalizar com facilidade as constataes das pesquisas que se

apoiam nesta metodologia. Por esta razo, achamos que os frutos deste trabalho so

aplicveis ao contexto em que ele foi realizado. Por outro lado, o facto de termos feito o

estudo na condio de pesquisadores internos e envolvidos no contexto de trabalho, pode

ter afectado a nossa capacidade de captar a realidade com a maior objectividade e

neutralidade possvel.

31 Cf. Greenwood e Levin. Op.cit., p.135.

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RESULTADOS

Precisamos discutir a possibilidade de promover o construtivismo e comportamentalismo

como abordagens subjacentes s prticas dos docentes durante a gesto do processo de

Ensino - Aprendizagem. Com base nestes constructos tericos, deve-se explorar a

necessidade de se promover a Aprendizagem em Aco como uma das abordagens mais

efectivas no Ensino de Cincias Sociais e Humanas. A introduo do ''feedback'' como

elemento fundamental no processo de moldar o desenvolvimento de habilidades e

aptides. Os estudantes precisam considerar a necessidade de se superarem todos os dias

desenvolvendo autonomia intelectual atravs do exerccio de leitura intensiva e extensiva,

escrita criativa e pesquisa independente.

A comunidade acadmica que se propem orientar o processo de ensino e aprendizagem

precisa adoptar um postura eclctica, mente aberta para reforar as suas habilidades de

ensinar de maneira efectiva, produzir mudanas positivas e duradouras na vida dos

estudantes de tal sorte que estes possam adoptar a pesquisa como cultura para pensar de

maneira independente.

DISCUSO

A literatura revista neste trabalho, confirma que os padres de Ensino e Aprendizagem

no campo das Cincias Sociais e Humanas so susceptveis de reflexes regulares e

contextualizao tendo como base a realidade que envolve os principais actores do

processo. Os docentes desta rea de conhecimento devem adoptar uma postura eclctica

tendo os estudantes no centro do seu trabalho. Quer dizer, as pesquisas defendem que o

modelo de ensino ajustado ao ramo das Cincias Sociais e Humanas exige que o estudante

seja o centro de todo processo. Isso exige que o professor adopte o papel de facilitador

que coloca o aluno em situaes problemticas cuja resoluo atravs de aces prticas

permite o desenvolvimento de habilidades e aptides que lhes vo permitir dar sentido

aos conhecimentos tericos disponveis nas referncias bibliogrficas indicadas bem

como nas pesquisas independentes feitas em cada disciplina ou mdulo conforme a

situao32.

32 Berbel, N. A. N. 2012. As metodologias activas e a promoo da autonomia de estudantes. Semina:

Cincias Sociais e Humanas, 32 (1), 25-40.

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Por outro lado, a comunidade acadmica que investiga o processo de ensino e

aprendizagem nos cursos de nveis superiores, advoga que os docentes devem pesquisar

e produzir conhecimentos sobre as aulas que ministram para assegurar a actualizao das

disciplinas sob sua responsabilidade33.

Quanto aos estudantes, supe-se que possam saber profundamente os motivos pelos quais

escolheram o curso que frequentam, porquanto, s assim podero ter impulso suficiente

para se dedicar no limite das suas capacidades, buscar conhecimentos independentemente

da bibliografia orientada pelos professores. Alm destes aspectos, os formandos, devem

ser participantes activos, responsveis e disciplinados para cumprir com as tarefas

recomendadas que visam consolidar as habilidades desenvolvidas34.

Ao contrastar o presente trabalho, as contribuies das pesquisas dedicadas ao estudo do

processo de ensino e aprendizagem das Cincias Sociais e Humanas, constatou-se que em

alguns aspectos, os padres predominantes precisam ser discutidos para encontrar um

entendimento comum sobre as metodologias a empregar para oferecer um ensino de

qualidade aos formandos. Isto , os dados empricos deste trabalho, indicam que a cultura

de discorrer, pesquisar e escrever sobre as matrias ministradas em cada curso, existe em

grau muito encorajador, porm, precisa ser amplamente discutida e promovida dentro da

classe acadmica do ISPSN com particular ateno ao Departamento de Cincias Sociais

e Humanas que objecto deste trabalho.

Os dados empricos sugerem que o modelo de ensino predominante nas aulas ministradas

tem tido o professor como o centro das atenes. Quer dizer, em algumas aulas o professor

fala mais de 90 % do tempo alocado para cada sesso e esta postura, discutvel pelo

facto de pouco contribuir para o desenvolvimento das habilidades exigidas em cada curso.

O acto de ensinar parece ser constantemente confundido com o de falar. Por esta razo,

espera-se que os docentes evitem ministrar aulas adoptando o estilo de pregador em que

tomam a palavra a maior parte do tempo35. As aulas devem ser concebidas tendo em conta

as aces prticas que devero decorrer na sala para permitir que o estudante consiga aliar

a teoria prtica. Em ltima nota para os docentes, espera-se que cada um possa reforar

a sua relao tica e profissional com os estudantes promovendo o respeito mtuo, para

evitar barreiras na comunicao.

33 Cf. Bain. Op. cit., p. 15-24. 34 Cf. Berbel. Op. cit., p.9. 35 Friedman, D.B. 2013. How to Teach Effectively. Second Edition. p. 48.

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O estudo constatou que os estudantes precisam reforar a sua participao nas aulas

tericas e prticas, devem dedicar-se em pesquisar outros livros, artigos cientficos das

disciplinas dos seus cursos, independentemente das orientaes dos professores, para

facilitar a aprendizagem e expandir a sua viso cientfica sobre o assunto. Isso requer

disciplina pessoal, uma boa gesto do tempo para equilibrar a vida acadmica e os outros

compromissos pessoais e profissionais.

CONCLUSO

O processo de ensino e aprendizagem complexo. Por isso, exige simplicidade para

continuar a aprender e conseguir orientar a aprendizagem dos outros.

Os Estudantes precisam desenvolver a aptido de leitura intensiva e extensiva, escrita

criativa e acadmica bem como a cultura de pesquisar de forma independente.

A comunidade acadmica que se prope orientar o processo de Ensino e Aprendizagem

de Cincias Sociais e Humanas precisa adoptar um postura verstil, mente aberta para

reforar as suas habilidades de ensinar de maneira efectiva, produzir mudanas pos