PAINEL_CA CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO CRIMINOSO: OS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO JORNALÍSTICO

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A CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO CRIMINOSO: OS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO JORNALÍSTICO Carlos Alberto Garcia BIERNATH (Unesp) [email protected] Kelly De Conti RODRIGUES (Unesp) [email protected] Na “produção de notícia”, torna-se importante entender o contexto que envolve a construção da informação. É preciso considerar as condições e restrições ligadas à organização do trabalho, pois são elas “que determinam a definição de notícia, legitimam o processo de produção e contribuem para prevenir as críticas do público” (GARBARINO, 1982, p. 12 apud WOLF, 2012, p. 195). Essas condições é que determinaram a noticiabilidade de cada informação, julgando assim se estas são aptas ou não a serem publicadas. Essas mesmas condições são denominadas por alguns autores como ‘valores-notícia’. Se é no discurso que buscaremos aprofundar nosso estudo, é preciso compreender como a notícia se constitui. De acordo com Rodrigues (1990), a notícia em si é “uma espécie de acontecimento segundo, provocado pela própria existência do discurso jornalístico”. Assim, é possível afirmar que o ‘acontecimento jornalístico’ será conformado por parte do sujeito-jornalista que o produziu e pelo veículo midiático que o divulgou. Portanto, após constituída, a notícia trará consigo um outro em sua própria narrativa. É justamente nesse caminho que a mecânica de construção do sentido da notícia se compõe por um duplo processo, segundo Charaudeau (2012): transformação e transação. No primeiro, há o movimento de “transformar o ‘mundo a significar’ em ‘mundo significado’, estruturando-o segundo um certo número de categorias que são, elas próprias, expressas por formas”. Aqui, informar deve “descrever (identificar-qualificar fatos), contar (reportar São Carlos, Setembro de 2015

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Na “produção de notícia”, torna-se importante entender o contexto que envolve a construção da informação. É preciso considerar as condições e restrições ligadas à organização do trabalho, pois são elas “que determinam a definição de notícia, legitimam o processo de produção e contribuem para prevenir as críticas do público” (GARBARINO, 1982, p. 12 apud WOLF, 2012, p. 195).

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A CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO CRIMINOSO: OS EFEITOS DE SENTIDO NO DISCURSO JORNALÍSTICO

Carlos Alberto Garcia BIERNATH (Unesp)[email protected]

Kelly De Conti RODRIGUES (Unesp)[email protected]

Na “produção de notícia”, torna-se importante entender o contexto que envolve a construção da informação. É preciso considerar as condições e restrições ligadas à organização do trabalho, pois são elas “que determinam a definição de notícia, legitimam o processo de produção e contribuem para prevenir as críticas do público” (GARBARINO, 1982, p. 12 apud WOLF, 2012, p. 195). Essas condições é que determinaram a noticiabilidade de cada informação, julgando assim se estas são aptas ou não a serem publicadas. Essas mesmas condições são denominadas por alguns autores como ‘valores-notícia’. Se é no discurso que buscaremos aprofundar nosso estudo, é preciso compreender como a notícia se constitui. De acordo com Rodrigues (1990), a notícia em si é “uma espécie de acontecimento segundo, provocado pela própria existência do discurso jornalístico”. Assim, é possível afirmar que o ‘acontecimento jornalístico’ será conformado por parte do sujeito-jornalista que o produziu e pelo veículo midiático que o divulgou. Portanto, após constituída, a notícia trará consigo um outro em sua própria narrativa. É justamente nesse caminho que a mecânica de construção do sentido da notícia se compõe por um duplo processo, segundo Charaudeau (2012): transformação e transação. No primeiro, há o movimento de “transformar o ‘mundo a significar’ em ‘mundo significado’, estruturando-o segundo um certo número de categorias que são, elas próprias, expressas por formas”. Aqui, informar deve “descrever (identificar-qualificar fatos), contar (reportar acontecimentos), explicar (fornecer as causas desses fatos e acontecimentos)” (CHARAUDEAU, 2012, p. 41). No processo de transação, o sujeito produtor do ato linguístico dará uma significação psicossocial a seu discurso, conferindo um determinado objetivo. Em outras palavras, o acontecimento observado passa pela questão da subjetividade do sujeito – em se tratando de sujeito jornalista –, e a notícia é o relato da observação deste acontecimento. Nesta pesquisa, portanto, analisamos o processo de produção da narrativa. Selecionamos entrevistas do programa Aqui Agora – realizada em 1995 com o João Acácio Pereira da Costa, o “Bandido da Luz Vermelha”, quando este se encontrava ainda preso – e do programa Tá na Tela – com o publicitário Eduardo Martins, em 2014, no presídio em que cumpria a pena. É este repórter que seleciona determinados discursos em detrimento a outros e organiza a narrativa de forma a transmitir ao público determinadas imagens a respeito desses personagens, representando-os, por exemplo, como criminosos. O valor-notícia dos programas no formato popularesco seleciona situações que podem criar narrativas grandiosas e, nesse processo, qualificam os personagens.

Palavras-chave: Discurso jornalístico; Efeitos de sentido; Jornalismo Popularesco.

São Carlos, Setembro de 2015