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17 CONCLUSÕES 1 - A evolução da Bacia do Parnaíba, situada em área de cráton, acompanhou os processos e as mu- danças do Supercontinente do Gondwana, onde es- tava localizada. O início dos processos geológicos foi no Siluriano, quando estava muito próxima do Pólo Sul. A deriva do supercontinente em direção ao Equador causou na bacia modificações das estru- turas tectônicas internas. No Paleozóico, estas são correlacionadas com fases orogenéticas clássicas, identificadas em outros continentes. Marcam dis- cordâncias que delimitam as seqüências deposi- cionais. No Mesozóico, com a ruptura dos blocos Sul-americano e africano, a estruturação foi relacio- nada com o desenvolvimento da Margem Conti- nental Brasileira com formação da Bacia do Grajaú. Fechando este ciclo de deposição relacionado com a evolução da margem, ocorre, no Cenomani- ano, a cobertura da Bacia marginal de São Luís. Na Bacia do Parnaíba, as camadas das fases transgressivas são preservadas, pois cada estrato foi coberto por superposições de sedimentos mais novos. O início das fases regressivas, que se situ- am no final de cada ciclo, a partir do Carbonífero Superior, não estão preservadas. Os topos dos se- dimentos foram expostos e erodidos. 2 - No Siluriano, os processos geológicos pre- ponderantes foram de sedimentações fluviais de alta energia, reflexo de mudanças climáticas e de- gelos conseqüentes às migrações e rotações de centros de glaciação. Havia um ecossistema marinho situado na faixa da Província Malvinocráfica, com microorganismos planctônicos, os acritarcas são considerados afilia- dos às algas e os quitinozóarios colocados entre os protozoários de hábito nerítico e raros graptólitos, sem registros de macrofaunas bentônicas. 3 - No Devoniano, ocorreram as mais extensas transgressões marinhas no continente sul-america- no. Após uma discordância de caráter continental, correspondente ao Eodevoniano, e correlacionada à Orogênese Caledoniana, está registrada uma se- qüência transgressiva no Eifeliano, que conectou as bacias do Amazonas, Parnaíba e Paraná com a margem oeste da América do Sul e o cráton oeste africano. No ciclo transgressivo/regressivo de idade eifelia- na/givetiana, os ecossistemas são marinhos rasos de plataforma epicontinental, diferenciados pela distância à linha de costa, em associações bentôni- cas de região litorânea, plataforma interna proximal e plataforma interna distal. As afinidades biogeo- gráficas são malvinocráficas, de climas frios, com mistura de gêneros das províncias Americana Ori- ental de clima temperado e do Velho Mundo, de cli- ma tropical. Paleontologia das Bacias do Parnaíba, Grajaú e São Luís – 146 –

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CONCLUSÕES

1 - A evolução da Bacia do Parnaíba, situada emárea de cráton, acompanhou os processos e as mu-danças do Supercontinente do Gondwana, onde es-tava localizada. O início dos processos geológicosfoi no Siluriano, quando estava muito próxima doPólo Sul.

A deriva do supercontinente em direção aoEquador causou na bacia modificações das estru-turas tectônicas internas. No Paleozóico, estas sãocorrelacionadas com fases orogenéticas clássicas,identificadas em outros continentes. Marcam dis-cordâncias que delimitam as seqüências deposi-cionais. No Mesozóico, com a ruptura dos blocosSul-americano e africano, a estruturação foi relacio-nada com o desenvolvimento da Margem Conti-nental Brasileira com formação da Bacia do Grajaú.Fechando este ciclo de deposição relacionadocom a evolução da margem, ocorre, no Cenomani-ano, a cobertura da Bacia marginal de São Luís.

Na Bacia do Parnaíba, as camadas das fasestransgressivas são preservadas, pois cada estratofoi coberto por superposições de sedimentos maisnovos. O início das fases regressivas, que se situ-am no final de cada ciclo, a partir do CarboníferoSuperior, não estão preservadas. Os topos dos se-dimentos foram expostos e erodidos.

2 - No Siluriano, os processos geológicos pre-ponderantes foram de sedimentações fluviais de

alta energia, reflexo de mudanças climáticas e de-gelos conseqüentes às migrações e rotações decentros de glaciação.

Havia um ecossistema marinho situado na faixada Província Malvinocráfica, com microorganismosplanctônicos, os acritarcas são considerados afilia-dos às algas e os quitinozóarios colocados entre osprotozoários de hábito nerítico e raros graptólitos,sem registros de macrofaunas bentônicas.

3 - No Devoniano, ocorreram as mais extensastransgressões marinhas no continente sul-america-no. Após uma discordância de caráter continental,correspondente ao Eodevoniano, e correlacionadaà Orogênese Caledoniana, está registrada uma se-qüência transgressiva no Eifeliano, que conectouas bacias do Amazonas, Parnaíba e Paraná com amargem oeste da América do Sul e o cráton oesteafricano.

No ciclo transgressivo/regressivo de idade eifelia-na/givetiana, os ecossistemas são marinhos rasosde plataforma epicontinental, diferenciados peladistância à linha de costa, em associações bentôni-cas de região litorânea, plataforma interna proximale plataforma interna distal. As afinidades biogeo-gráficas são malvinocráficas, de climas frios, commistura de gêneros das províncias Americana Ori-ental de clima temperado e do Velho Mundo, de cli-ma tropical.

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4 - No Mississipiano, a ocorrência situada em po-sição estratigráfica mais antiga corresponde a umecossistema de plataforma marinha litorânea. Asafinidades são com a Província biogeográfica deTétis.

A segunda ocorrência é de um ecossistema ter-restre litorâneo, com uma flora de plantas higrófilas,com gêneros endêmicos. Apresentam característi-cas de clima temperado a frio, seco a árido, e as afi-nidades são com o Reino Paracas, do Peru.

Uma discordância regional, correlacionada coma Orogenia Eoherciniana é registrada entre o Mis-sissipiano e o Pensilvaniano.

5 - A seqüência do Pensilvaniano é iniciada comexposição subaérea e formação de dunas eólicas,indicações nitidamente regressivas. Nestes ambi-entes desérticos, os indícios de vida são perfura-ções de icnofósseis em dunas eólicas.

No topo do Pensilvaniano, ocorre um intervalotransgressivo, com um ecossistema marinho, emplataforma carbonática de laguna rasa. As assem-bléias de invertebrados indicam biodiversidade delatitude tropical, e as afinidades são com a provín-cia biogeográfica de Tétis.

6- No Permiano, as fases regressivas da seqüên-cia inferior são em ambientes continentais desérti-cos e climas áridos. Intercalados aos corpos areno-sos de dunas eólicas, ocorrem estromatólitos situa-dos em níveis carbonáticos, que são os registros deecossistemas peculiares.

Para o topo, ocorre um evento transgressivo comecossistema lacustre e áreas marginais úmidas. Osfósseis são troncos de madeiras silicificadas, e fau-na de anfíbios labirintontes e peixes, com afinidadescom a Província Biogeográfica Euro-americana.

Apresentam o maior índice de gêneros endêmi-cos do Paleozóico. No Permiano, estavam em pale-olatitudes de biodiversidade na faixa tropical. Éprovável que na inter-relação ecologia-evolução, oisolamento nestes ecossistemas terrestres e aquá-ticos sem conexão marinha foi favorável à maiorpressão macroevolutiva.

Estas condições propícias à vida foram encer-radas com novo rigor de aridez no clima, que ex-tinguiu as florestas e as preservou por silicifica-ção.

7 - No Triássico e Jurássico a bacia permaneceuemersa, e não são registrados vestígios de vida.

8 - No Mesozóico os principais elementos estru-turais estão associados à ruptura do blocoafro-brasileiro e à conseqüente evolução do rifteatlântico, atuando primeiro na Margem ContinentalLeste e progressivamente, na continuidade na for-

mação da Margem Atlântica Sul Equatorial. Deu ori-gem às bacias do Grajaú e São Luis.

9 - No Eocretáceo (Barremiano), um ecossistematerrestre desértico tem registro de pegadas de di-nossauros saurópodos em dunas eólicas. Em eco-sistema lacustre, houve a preservação dos peixesLepidotes e de conchostráceos. Esta fauna correla-ciona no Eocretáceo, as bacias do Grajaú, Recôn-cavo, Tucano, Jatobá e as pequenas bacias do in-terior.

10 - Em seqüência carbonática foi reconhecido,na seção inferior de idade Aptiano, um ecossistemalacustre contendo a planta Nymphaeites de climatropical a subtropical. Da fauna são citados o peixeDastilbe e os insetos hemípteros, terrestres e ala-dos que viviam próximo às margens.

Do topo da seção carbonática, do Eoalbiano, ocor-rem vertebrados representados por uma ictiofaunacom elevado número de gêneros endêmicos. Estaconstitui um evento biológico de expressão regio-nal, pois ocorre na mesma linha de tempo, nas ba-cias do Grajaú, do Araripe e Sergipe/Alagoas. Suaexpansão alcançou as faunas marinhas da Venezu-ela.

O conjunto seria tolerante a variações periódicasde salinidade e habitaria um ecossistema com cir-culação de estuário. Os peixes têm dominância deanimais carnívoros e estavam na mesma cadeia ali-mentar, em coevolução.

As afinidades da ictiofauna são com as famíliasque habitaram no Jurássico os mares epicontinen-tais da Província biogeográfica do Tétis.

11 - No Eoalbiano, os ambientes preponderan-tes são continentais. Em um ecossistema lacustrea fauna é composta por répteis de beira d’águacomo crocodilos e habitantes do meio aquático,peixes e biválvios. Representantes da fauna terres-tre são os dinossauros. Eventuais entradas de bra-ço de mar deram ecossistemas marinhos litorâne-os, com faunas bentônicas de invertebrados.

13 - No Cenomaniano, a sedimentação foi na atualregião do litoral, sobre a cobertura da Bacia de SãoLuís. De ecossistemas marinhos litorâneos são asfaunas de invertebrados bentônicos com gêneroscosmopolitas, de conexão com as bacias da mar-gem leste do Brasil e da costa ocidental da África.Peixes de água doce da mesma associação indi-cam correlação com a África.

Os habitantes de ecossistemas terrestres foramos répteis, com indícios representados por dentese ossos principalmente de dinossauros herbívorose carnívoros. Suas afinidades eram com gênerosda região do norte da África. Troncos de madeiras

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fósseis indicam uma cobertura florestal. Neste am-biente, houve trânsito intenso de manadas de di-nossauros herbívoros e carnívoros, que ali deixa-ram suas pistas. O clima tropical seria quente e ári-do, com fases úmidas para a formação da cobertu-ra vegetal.

14 - No Plioceno, nesta região geográfica, predo-minava na área um ecossistema equivalente ao daFloresta Atlântica. Era uma floresta tropical úmida,pouco fechada, composta por dois estratos, um ar-bóreo e outro arbustivo. Em ecossistemas lacustresocorreram pequenos peixes Characiformes, Perci-formes e Clupeiformes.

15 - No Pleistoceno, a paisagem neotropical erade um ecossistema de savanas com tufos de ar-bustos, recortada por zonas florestais, e o clima eramais úmido do que o atual. Na fauna de grandesmamíferos, os carnívoros dominavam, havia abun-dância de onívoros e poucos herbívoros.

16 - O último registro é o do homem pré-histórico,que ocupou a região, entre quarenta e seis mil asete mil anos. Nos paredões naturais das rochas si-lurianas usadas como abrigo, gravou, em belas ealegres pinturas rupestres, o seu cotidiano, duranteum tempo onde o clima era mais ameno e a vegeta-ção mais abundante.

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