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CONTRIBUIÇÕES DA BIOMECÂNICA AO BALLET: UM NOVO OLHAR SOBRE UMA ANTIGA ARTE

Andreja Paley Picon (FMUSP)*

RESUMO: O ballet clássico estabeleceu-se como arte à parte da pesquisa em atividade física. Este fato tornou breve a carreira de promissores bailarinos. Nesse contexto, a investigação em Biomecânica contribui na preparação do bailarino por meio do entendimento das trajetórias do movimento, dos padrões musculares, das interações corpo-espaço, das forças e pressões atuantes no aparelho locomotor e das questões de controle motor. A proposta deste trabalho é reunir e discutir o uso prático das principais contribuições da biomecânica ao ballet clássico nas últimas duas décadas, dando aos profissionais do ballet clássico chances de promover melhorias na técnica aplicando na sala de aula e em sua prática os princípios abordados.

PALAVRAS-CHAVE: BIOMECÂNICA. BALLET. RENDIMENTO. APARELHO LOCOMOTOR

BIOMECHANICAL CONTRIBUTIONS IN BALLET: A NEW LOOK AT AN ANCIENT ART

ABSTRACT:The ballet was established like a art and neglected the research on physical activity field. This fact made brief the career of promising dancers. In this context, research in biomechanics helps in the preparation of the dancer through the understanding of the trajectories of movement, the muscle patterns, body-space interactions, the forces and pressures acting on the locomotor system and motor control issues. The purpose of this review is to gather and discuss the practical use of the main contributions of biomechanics to classical ballet in the past two decades, giving to classical ballet dancers and teachers chances to promote improvements in the technique applied in the classroom and in their practice

KEY-WORDS: BIOMECHANICS. BALLET. PERFORMANCE. LOCOMOTOR SYSTEM

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Ballet clássico e pesquisa em biomecânica

Durante muitas décadas, ao longo de seu desenvolvimento, o ballet

clássico evoluiu à parte da pesquisa em atividade física por ser considerado,

em sua essência artística, como uma arte atemporal, que não deve trazer para

si a tecnologia e as pesquisas destinadas ao esporte de rendimento. Porém,

quando se observa o extremo a que os corpos dos bailarinos clássicos são

submetidos na busca do alto desempenho, vemos que a falta de uma

abordagem cientificamente referenciada para o ensino e a prática do ballet

podem ter tornado breves e/ou improdutivas as carreiras de promissores

bailarinos.

Nesse contexto, a análise Biomecânica pode contribuir para a orientação

na formação do bailarino e na sua preparação, desvendando incertezas e mitos

desta tradição nas escolas de danças. Um índice alarmante de lesões típicas

de bailarinos já foi elencado envolvendo inúmeras articulações e o aprendizado

e o treinamento se baseiam em uma metodologia que desconhece os efeitos

do movimento sobre as estruturas do aparelho locomotor, colocando ênfase na

perfeição estética (Liederbach et al., 2008; Kadel, 2006; Wainwright & Turner,

2004; Brooner et al., 2003; Macyntire et al., 2000).

Não só entender e analisar minuciosamente a trajetória de um

movimento, mas também entender os padrões de funcionamento muscular, as

interações do corpo com o solo e com o espaço circundante, as forças e

pressões atuantes neste corpo dançante e ainda, as diversas questões

relacionadas ao controle e estratégias motoras, são objetivos que a

investigação biomecânica propõe para os movimentos do ballet que serão

discutidos a seguir.

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Como a Biomecânica pode contribuir?

Não basta dizer “gire mais”, é preciso dizer como girar mais, usando os

princípios mecânicos de torque, braço de alavanca, força centrípeta e impulso;

não basta dizer “amorteça seu salto”, mas é preciso dizer como distribuir

forças de forma eficiente pelo aparelho locomotor, ativando a musculatura de

forma adequada. Há tempos se fala que a sapatilha de pontas seria a grande

vilã das lesões de pés e tornozelos nas bailarinas clássicas, mas qual a real

interação do calçado com os pés e destes com o solo durante a execução dos

movimentos? Qual a melhor maneira de ensinar uma habilidade considerando

as exigências de amplitude de movimento e equilíbrio? O que a rotação lateral

dos membros inferiores (turnout) traz de benefício ao mover do bailarino e

quanto se usa desta habilidade dinamicamente nos movimentos específicos?

As pesquisas em biomecânica da dança, nos últimos 20 anos, têm se

movido nestas e em outras direções e têm trazido à tona respostas que

fortalecem o ensino e o treinamento da dança de forma fundamentada,

consistente e com alto nível de consciência corporal. Este montante de

conhecimentos traz para o professor a possibilidade de extrair de seus alunos

maior rendimento e diminuir (este é o objetivo da biomecânica) o número de

lesões inerentes à prática da dança.

A Biomecânica congrega conceitos da Física, da Matemática, da

Fisiologia e da Anatomia a fim de descrever e analisar o movimento. Esta

análise pode ser classificada em função do tipo de grandeza mecânica

estudada: a Cinemática, a Cinética e a Eletromiografia. Para tanto, são

empregados métodos de medição que permitem a quantificação de grandezas

físicas no corpo humano e na sua interação com o ambiente.

Na análise Cinemática é feita uma completa descrição do movimento

estudado, levando-se em consideração deslocamentos, velocidades de

execução, acelerações e desacelerações do corpo todo e de segmentos

corporais, mudanças de direção, amplitudes de movimento articular, entre

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outros aspectos descritivos. Já a análise Cinética tem o foco no estudo das

forças (e grandezas derivadas da força) envolvidas e geradas no movimento e

responderá a questões sobre as interações do corpo com o ambiente, bem

como daquelas acerca de sobrecargas internas que atingem o aparelho

locomotor. A Eletromiografia (EMG) faz o registro das atividades elétricas

associadas às contrações musculares, realizando a captação da somatória dos

potenciais de ação do músculo. Diferentemente dos outros métodos, que

determinam propriedades mecânicas, a eletromiografia indica o estímulo neural

para o sistema muscular. O resultado básico é o padrão temporal dos

diferentes grupos musculares sinergéticos ativos no movimento observado. O

instrumento básico desta técnica de análise é o eletrodo (intramuscular ou

superficial) que mede a atividade elétrica do músculo.

Koutedakis et al. (2008) afirmam que a Biomecânica pode ser

considerada uma ferramenta no controle da saúde, treinamento e desempenho

para a dança. Atualmente, o profissional do ensino ou da prática da dança que

pretenda promover um melhor rendimento e prevenir lesões não pode mais

ignorar o crescente acúmulo de conhecimentos que a investigação

biomecânica tem trazido para a área.

Estudos Cinemáticos em Dança

A possibilidade de analisar movimentos de forma tridimensional através

do registro por câmeras de alta velocidade é uma forma sofisticada e eficiente

de analisar detalhes e conhecer a complexidade dos passos de dança. A

informação óptica será precisa em fornecer ângulos e posicionamentos das

articulações, acelerações e trajetórias que em geral o olho humano não é

capaz de quantificar ou mesmo qualificar com exatidão.

O complexo giro Fouette foi estudado através de análises cinemática e

cinética tridimencionais por Imura et al. (2008). Os autores investigaram as

estratégias biomecânicas responsáveis pela continuidade do giro por inúmeras

vezes e pela mudança na velocidade rotacional do tronco a cada evolução.

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Concluíram que a velocidade rotacional é controlada pelo movimento

lateral da perna livre, cujo momento angular é obtido na fase em que ocorre a

flexão da perna de apoio enquanto este pé mantém-se em apoio plantar total.

Assim, fica fácil para o professor indicar ao seu aluno especificamente onde

regular o movimento para obter êxito.

Um cuidadoso estudo foi conduzido por Lin, et al. (2005), que investigou

as possíveis diferenças entre o lado dominante e não dominante da bailarina

ao realizar o relevé em pontas. Feitos os cálculos de momentos articulares e

uma análise da amplitude de movimento articular de tornozelo, este estudo

mostrou que, apesar de não existir diferença no padrão de excursão ativa do

tornozelo ao adquirir a posição em pontas, o lado não dominante mostrou um

maior pico de momento externo resultante, o que para os autores pode ter sido

causado pela maior habilidade muscular do lado dominante em executar o

movimento. É importante que o professor e o bailarino reconheçam esses

desequilíbrios e trabalhe no sentido de minimiza-los em sua prática diária.

O critério qualitativo de alinhamento joelho-pé em membro inferior foi

investiga por Cantergi, et al. (2015), que investigou a manutenção deste

alinhamento no sauté realizado por bailarinas experientes. Foi detectado um

desvio medial da articulação do joelho em relação ao pé de cerca de 10

centímetros (no momento da aterrisagem do salto), revelando que este

alinhamento facilmente observável em situações estáveis (como num grand

plié) não se mantém numa situação dinâmica de salto.

Rodes, et al. (2016, no prelo), também observa a capacidade de manter

a rotação lateral dos membros inferiores em saltos típicos do petit allegro no

ballet a partir de uma rotação de partida. Foi observado que as bailarinas não

mantêm o número de graus do turnout inicial durante uma série de saltos e

ainda mais, o turnout medido dinamicamente não é compatível ao medido

passivamente de forma tradicional na dança, através de goniômetros e

eletrogoniômetros.

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Estudos cinemáticos são de enorme importância porque quase sempre

revelam detalhes do movimento que não são passíveis de serem observados

pelo olho humano mais experiente, acostumado a observar dada trajetória de

movimento.

Estudos Cinéticos em Dança

Em uma rotina de dança, o bailarino está constantemente gerando

forças e torques articulares internos ao seu corpo, a fim de deslocar-se no

espaço com formas do andar, do correr e do saltar característicos das

diferentes técnicas de dança. Além disso, este deve também equilibrar seu

peso corporal em posturas estáticas que envolvem amplitudes articulares

extremas. A interação do corpo com o ambiente gera forças de reação do solo,

pressões nas plantas dos pés e compressões articulares.

Na interface com o solo podem ser mensuradas as forças de reação. O

estudo destas forças externas pode fornecer um indicativo de sobrecargas e

uma compreensão dos padrões de impulsos presentes numa dada técnica de

salto, por exemplo, em sua propulsão contra o solo ou na fase de aterrissagem.

Também permite o cálculo de forças internas que atuam nas articulações, que

são as reais sobrecargas fisiológicas, usando-se um modelo biomecânico

conhecido como Dinâmica Inversa.

Simpson & Kanter (1997) fizeram um estudo que revelou não somente

as forças verticais resultantes do grand jeté, mas deu grande destaque ao

aumento das componentes horizontais da força de reação do solo (FRS) em

relação ao aumento da distância saltada. É interessante poder dar ao bailarino

um panorama de como as forças feitas contra o solo podem ser decisivas para

o sucesso de um movimento aéreo.

Sousa, et al.(2001), estudou o saute, o sobressault e o salto en cou de

pied. A metodologia da dinâmica inversa revelou as cargas que atingem as

articulações dos membros inferiores durante a realização destes saltos e os

autores discutem seus achados também em termos de implicações

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pedagógicas importantes para o ensino da dança, destacando as questões de

dificuldade técnica de cada salto.

No estudo de Picon, et al. (2002), os valores de forças de reação do solo

para o Sauté (1ª posição) foram comparados nas condições com sapatilhas de

ponta e meia-ponta, além de dois andamentos musicais diferentes.

Surpreendentemente, a condição do andamento musical foi mais significativa

que o tipo de sapatilha utilizada. Quando as bailarinas do estudo saltaram em

um andamento musical mais lento, a duração do intervalo entre saltos permitiu

uma maior acomodação da força, o que não aconteceu da mesma forma no

andamento rápido. O crucial papel do acompanhamento musical foi percebido

em detrimento da pouca importância do calçado.

Os mesmos autores conduziram outro estudo (Picon et al.,2003), em

que foram observadas as pressões plantares através de uma palmilha flexível

colocada na interface pé-sapatilha, dotada de sensores resistivos. Quando oito

bailarinas experientes realizaram o Sauté (1ª posição), observou-se que as

maiores pressões foram registradas para a região do antepé,

independentemente do modelo de sapatilha.

A fim de descrever os efeitos do modelo da sapatilha e da posição de

membros inferiores nas pressões plantares em técnicas de equilíbrio do ballet

clássico, Lobo da Costa, et al. (2013) estudou a execução dos attitude (devant,

derriére e a la second) em bailarinas nas condições descalço e com sapatilha

de meia ponta. Os resultados dos picos de pressões plantares apenas foram

influenciados pelas condições: descalça e com sapatilha de meia ponta; não

havendo efeito do tipo de equilíbrio realizado ou da posição do membro inferior.

Os maiores picos de pressão plantar contra o solo ocorreram durante a

execução descalça, além de maiores áreas de contato. Assim, aparentemente,

a maior área de contato dos pés com o solo durante as tentativas na condição

descalça permitiu mais estabilidade às bailarinas que puderam gerar maiores

pressões contra o chão. Por outro lado, sapatilhas de meia ponta estiveram

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associadas nesse estudo a menores pressões plantares e menores áreas de

contato.

Weiss, et al. (2009), propôs um guia para direcionar professores a

escolher o melhor momento para iniciar o trabalho em pontas com suas alunas.

Entre outros fatores, os autores indicam que o estágio de desenvolvimento

físico, o alinhamento de tronco e pernas, a força e flexibilidade de tornozelos e

pés e a duração e freqüência do tempo de treinamento devem ser

considerados. Embora sejam fatores de extrema importância a serem levados

em consideração neste importante momento da vida de uma bailarina, tratamos

mais uma vez de fatores subjetivos e dependentes do olhar de cada professor.

Não há um critério universal para definir um bom alinhamento de tronco e pé

fortes. É preciso quantificar estas variáveis, de modo que os professores

tenham parâmetros objetivos para tomar suas decisões.

Sendo assim, os estudos ora discutidos nos apontam como é importante

quantificar e transformar em valores reais o produto da execução de um

movimento e sua interação com o solo, o calçado e o espaço circundante.

Estudos Eletromiográficos em Dança

A análise eletromiográfica através da colocação de eletrodos de

superfície em músculos de interesse é uma importante ferramenta para o

conhecimento dos padrões de ativação muscular dos movimentos da dança.

Massó, et al. (2006), conduziu um estudo com a intenção de classificar a

importância de músculos ativos na realização do releve em primeira posição e

pés paralelos executados por meia ponta. Importantes diferenças foram

encontradas, revelando que trabalhar em primeira posição, do ponto de vista

muscular, é completamente diferente do trabalho em pés paralelos. Entre

outros resultados, os autores mostraram que em primeira posição a ativação do

músculo gastrocnêmio medial é mais significativa do que em pés paralelos. Em

contrapartida, o músculo abdutor do hálux é muito mais ativo no releve

realizado em pés paralelos.

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O estudo de Trepman, et al. (1998), investigou a hipótese de que o

grand-plié não é simplesmente um demi-plié profundo, mas sim um movimento

fundamentalmente diferente do ponto de vista do trabalho muscular realizado.

Através de eletrodos de superfície colocados em bailarinas de técnica clássica

e moderna os autores avaliaram o movimento realizado em primeira posição e

concluíram que o trabalho muscular realizado pelas bailarinas clássicas foi

diferente do trabalho muscular realizado por bailarinas da técnica moderna,

embora tenham apresentado similar padrão de amplitude de movimento para

realização do grand-plié. A atividade dos músculos, vasto medial e vasto

lateral, foram significativamente menor em bailarinas clássicas do que em

bailarinas da técnica moderna.

A diferença de ativação muscular do developpé devant quando feito na

barra comparado ao executado no centro foi avaliada por Wilmerding et

al.(2001). O estudo revelou que, quando na barra, os bailarinos podem focar

mais o trabalho na perna que executa o developpé (perna de movimento),

enquanto que no centro, uma maior atividade muscular foi encontrada para a

perna de suporte (perna de base). Os autores alertam para a diferença de

trabalho técnico que um mesmo movimento, executado de forma diferente,

resulta em termos de treinamento.

Estes foram alguns exemplos de como a análise do movimento através

de eletrodos colocados em músculos de interesse pode ser reveladora a

respeito da técnica e dos músculos que de fato executam um dado movimento.

Considerações Finais

Diante do quadro de pesquisas apresentado, fica clara a contribuição da

Biomecânica para o avanço do conhecimento sobre os movimentos específicos

do ballet clássico. Este conhecimento não somente proporciona ganhos

técnicos, mas também proteção ao aparelho locomotor, quando se consideram

questões quantitativas relacionadas às cargas e às repetições inerentes à

prática dos movimentos da dança.

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É preciso que professores e profissionais da dança tenham um olhar

atento a este corpo crescente de conhecimento e usem-no para subsidiar sua

prática docente e seu desempenho como bailarinos.

Somente observando aspectos quantitativos do movimento como é que

se pode criar parâmetros viáveis e exeqüíveis de como utilizar melhor o

calçado na prática, balizar o nível e intensidade de treinamento, fazer um

planejamento de acordo com a modalidade e suas peculiaridades, conhecer o

real estágio de aprendizado e habilidade do bailarino, melhorar técnica do

gesto, focar os músculos mais necessários, entre outros fatores.

Por fim, analisar a complexa movimentação da dança pelos rigorosos

princípios e critérios da avaliação biomecânica pode fazer a diferença técnica

que muitos bailarinos e professores buscam ao longo da história desta

maravilhosa arte.

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*PhD, pesquisadora LaBiMPH-FM-USP; docente no programa de pós graduação em Ciências da Reabilitação da FM- USP, professora de Ballet Clássico.