Para Escrever Melhor

11
PARA ESCREVER MELHOR Procure ser claro e conciso. Tenha sempre em mente que o melhor texto é aquele que apresenta os resultados no menos número possível de palavras. Busque a qualidade, não a quantidade de palavras. Na busca deste ideal, considere as seguintes recomendações. A FRASE – Não sobrecarregue uma frase com dados e ideias. Cada frase deve conter apenas uma ideia forte e a informação indispensável, tanto para o autor quanto para o leitor. Não se deve acumular numa mesma frase ideias que não se relacionam e que podem compor outra frase. Não torne desnecessariamente longas as frases, especialmente com apelos fáceis a recurso como gerúndios (“sendo que”, “fazendo com que”) e pronomes relativos (“o qual”, “cujo”), entre outros. Abstenha-se de superlativos, aumentativos, diminutivos e adjetivos em demasia. O PARÁGRAFO – De igual modo, os parágrafos também não devem ser longos. Diante deles, a tendência dos leitos é passar para o próximo. Embira um parágrafo deva conter uma ideia completa, por vezes será melhor quebra-lo em nome do interesse do leitor, que dificilmente tolera um parágrafo com mais de 15 linhas. As qualidades básicas de um bom parágrafo são a unidade (contendo uma única ideia), a coerência (com as frases conectando-se entre si) e a ênfase (com destaque para a ideia principal).

Transcript of Para Escrever Melhor

PARA ESCREVER MELHOR

Procure ser claro e conciso.Tenha sempre em mente que o melhor texto aquele que apresenta os resultados no menos nmero possvel de palavras. Busque a qualidade, no a quantidade de palavras.Na busca deste ideal, considere as seguintes recomendaes.

A FRASE No sobrecarregue uma frase com dados e ideias. Cada frase deve conter apenas uma ideia forte e a informao indispensvel, tanto para o autor quanto para o leitor. No se deve acumular numa mesma frase ideias que no se relacionam e que podem compor outra frase.No torne desnecessariamente longas as frases, especialmente com apelos fceis a recurso como gerndios (sendo que, fazendo com que) e pronomes relativos (o qual, cujo), entre outros. Abstenha-se de superlativos, aumentativos, diminutivos e adjetivos em demasia.O PARGRAFO De igual modo, os pargrafos tambm no devem ser longos. Diante deles, a tendncia dos leitos passar para o prximo. Embira um pargrafo deva conter uma ideia completa, por vezes ser melhor quebra-lo em nome do interesse do leitor, que dificilmente tolera um pargrafo com mais de 15 linhas. As qualidades bsicas de um bom pargrafo so a unidade (contendo uma nica ideia), a coerncia (com as frases conectando-se entre si) e a nfase (com destaque para a ideia principal).O CAPTULO Os mesmos cuidados devem ser considerados para a extenso dos captulos, que no devem ser excessivamente longos. recomendvel que contenham tpicos identificados por entrettulos. A numerao sequencial deles no indispensvel, mas imprescindvel que haja uma hierarquia entre eles, demonstradas pela numerao ou pelo uso de tipos de letra diferentes. bom tambm que os captulos guardem um certo equilbrio quantitativo entre eles.O ENCADEAMENTO Encadeie as frases, os pargrafos, os tpicos e os captulos entre si. Procure tornar cada frase um desenvolvimento do que veio antes, numa sequencia lgica, tanto para explicar, quanto para demonstrar, detalhar, restringir ou negar. Cada pargrafo deve estar em harmonia e em tranquila transio com o anterior e com o posterior. O mesmo vale para os tpicos e captulos. Faa o texto fluir naturalmente e no andar aos solavancos.As partes (frases, pargrafos, tpicos e captulos) devem ligar-se no com barbantes, mas com a lgica das ideias, pela fora do pensamento. Lembre-se que a construo de um texto se assemelha ao trabalho de um pedreiro: cada tijolo apoia o que lhe posto em cima e nenhum deve atrapalhar a harmonia do conjunto. Trata-se de observar a lgica, o equilbrio e a proporo.Para alcanar essas qualidades, por vezes ser necessrio rescrever o texto at que alcance a conciso indispensvel, que sempre concorre para a clareza, meta permanente de quem escreve.

A ARTE DE CITAR

Cite pouco e reescreva muito.Citar uma das tarefas mais complexas na comunicao cientfica, tanto no que se refere ao dilogo com os autores, ao aproveitamento do seu pensamento e correta documentao do material empregado.

ERROS MAIS COMUNS

Os problemas mais comuns quanto citao so os seguintes.

Excesso de citaes, o que faz do trabalho uma enorme colcha de retalhos. Escassez de citaes, atribuindo-se o autor pensamentos que so de outrem. Documentao inadequada (por inexistncia, insuficincia ou incorreo) das fontes empregadas. Presena no texto de informaes que poderiam ir para as notes, o que permitiria deixar a redao mais limpa. Falta de dilogo com as fontes, usadas, s vezes, apenas para abonar o pensamento do autor, sem discusso. Inadequada transio entre o texto do autor e o texto citado, o que, s vezes, dificulta a identificao de quem est falando.

Para evitar essas falhas, seguem-se algumas observaes que podem ser teis.

TIPOS DE CITAO

H trs tipos bsicos de citao: a direta, a indireta e a dependente.

CITAO DIRETA (OU FORMAL) Neste caso, o contedo do original utilizado transcrito fielmente e entre aspas. (Exemplo: Rubem Alves afirma que de educadores para professores, realizamos o salto de pessoa para funes.).Abusos No abuse das citaes formais. Elas, no entanto, so inevitveis quando as palavras forem to importantes quanto o contedo que expressam. Nos demais casos, o melhor reescrever o texto utilizado. Portanto, faa poucas citaes diretas; opte por reescrev-las, creditando-as aos seus autores. De qualquer modo, no devem ser muito longas; embora no haja um limite, um bom parmetro ficar sempre abaixo das 15 linhas por citao.Cite s o que for chave e aquilo que voc no conseguir escrever de forma melhor (numa frase mais curta e mais precisa, por exemplo). O princpio bsico reescrever o mximo, citar o mnimo e creditar a fonte sempre onde colocar o nmero da nota: aps referncia ao nome do autor ou aps a concluso do seu pensamento (pensamento para evidenciar at onde vai o pensamento referenciado).Transies Em todos os casos, a passagem do teto para a citao, e vice-versa, deve ser a mais natural possvel. A menos que meno do nome ser citados seja relevante ou voc v travar o dilogo com ele, entre direto na citao. Se seu nome j aparece na nota-de-rodap, no indispensvel no texto. A menos que seja para discutir a citao. Se for parte da argumentao, a nota suficiente para o crdito.Em todas, o crdito fontes indispensvel conforme o sistema adotado.Evite, por tornar desagradvel a leitura, a seguinte transio:[Ex.: Sobre o acordo entre metodistas e militares e as represses internas, dele decorrentes, escreve Boaventura:O processo de assimilao no se fez sem dificuldades por parte dos metodistas. Em 1966 tiveram que assimila a tentativa de interveno no Instituto Benett, ocasio em que se fez dispensa de alguns professores.].Melhor dizer:[Ex.: H um acordo entre metodistas e militares. Como resultado, surgem as represses internas.O processo de assimilao no se fez sem dificuldades por parte dos metodistas. Em 1966 tiveram que assimila a tentativa de interveno no Instituto Benett, ocasio em que se fez dispensa de alguns professores.].

Alteraes Podem ocorrer algumas recriaes (com elipses, interpolaes e destaques) na apropriao do texto, as quais devem ser registradas, conforme normas estabelecidas:

Elipses supresso de palavras ou frases.No h necessidade de se citar a frase ou o pargrafo completo. Basta transcrever a unidade de pensamento que interessa ao desenvolvimento da argumentao ou apresentao da informao. A supresso deve ser indispensavelmente indicada por um sinal [(...)] toda vez que isto ocorrer.[Ex.: A dimenso completa da vida e do trabalho de um supervisor-educador, intelectual e criativo (...) desdobra a sua prtica pedaggica em todos os nveis em que necessrio vive-las.].Embora seja muito comum, um rigorismo desnecessrio abrir reticncias e parnteses [(...)] para elipses no incio e no final do texto citado, como no seguinte exemplo: [Sobre o conceito de tica, til recordar a distino de Nietzsche: ... H moral de senhores e moral de escravos.]. um pressuposto que, antes e depois da frase, o texto continua.

Interpolaes acrscimo de palavras ou frases.Pode ocorrer a necessidade de se acrescentar uma palavra ao texto citado, para uma melhor coordenao ou melhor compreenso. Nesse sentido, as interpolaes devem ser indicadas por um sinal ([]) toda vez que isto ocorrer.[Ex.: A dimenso completa da vida e do trabalho de um supervisor-educador [realmente] intelectual e criativo]

Citaes internas citao dentro de uma citao.Pode ocorrer que o texto citado cite um segundo texto, com aspas.Neste caso, a expresso ou frase entre aspas duplas devem se convertidas em aspas simples: [...].[Ex.: Na sociedade feudal, segundo Duby, o juramento de auxlio de amizade tinha figurado como umas das peas mestras do sistema.].

Destaques sublinhamentos, negritos ou itlicos que no constam do original.Quando for importante fazer algum destaque tipogrfico numa palavra ou numa expresso para salientar uma ideia ou informao do texto, indique-o com a expresso grifo nosso ou grifo meu, preferentemente na nota-de-rodap. Se for do texto original, fica pressuposto pertencer ao autor citado.

Chamadas de ateno indicao de erros, exageros ou absurdos no original.Quando o texto citado contiver um erro informativo, uma expresso politicamente incorreta ou um equvoco gramatical, entre outros problemas, chame a ateno para o problema, pelo uso da sic! (assim, em latim) em itlico, negrito ou sublinhado.[Ex.; A ata registra a seguinte declarao do diretor: isto pra mim (sic!) fazer.].

Tradues No caso de originais estrangeiros, a citao pode ser apresentada no idioma em que foi escrita ou em traduo. mais til traduzir. S cite no original quando tambm as palavras, pelo seu aspecto conceitual e lexicogrfico, forem indispensveis para a compreenso da argumentao do autor. No faz sentido citar no original textos j traduzidos para outros idiomas, especialmente o espanhol, como frequente, neste caso, a retraduo para o portugus uma decorrncia natural. Seno, fica ridculo, por exemplo, fazer Hegel ou Marx escrever em outra lngua que no o alemo.Em todos os casos, a nota bibliogrfica deve ser no original. No h necessidade de informar que traduo foi feita pelo pesquisador; isto fica subentendido.Transcries - Se se tratar de transcrio de depoimentos, discursos e entrevistas, edite o material, para que fique legvel. As falas so, geralmente, muito entrecortadas. preciso coloc-las numa ordem lgica, com a adequao da concordncia e dos tempos verbais. S mantenha a coloquialidade, se for essencial compreenso do depoimento. A pontuao deve seguir as regras da gramtica e no as da respirao. Conquanto o assunto seja passvel de discusso, no caso de depoimentos colhidos junto s classes populares, pode ser preconceituoso manter a fontica. Ningum faz isto quando se transcreve falas de pessoas eruditas, embora a fontica tambm seja distinta da grafia.Lugar da aspa e do nmero elevado A aspas deve aparecer antes ou depois da pontuao? A mesma pergunta se faz quanto ao nmero elevado que indica a nota-de-rodap respectiva.O normativo colocar as aspas antes da pontuao, se o texto citado no a contm, e depois, se ocorre o contrrio. Este preciosismo, no entanto, cria dificuldades desnecessrias. Um padro colocar as aspas sempre antes da pontuao, exceto nos casos dos pontos de interrogao e exclamao que faam parte do texto citado. [Ex.: No h dvida que dizer de um objeto que ele heterogneo , via de regra, desvaloriz-lo.].Quanto ao nmero elevado, embora seja o mais normativo coloc-lo antes da pontuao, trata-se de outro preciosismo. melhor posp-lo, seja no meio de uma frase [Ex.: Em seu genial A palavra e as coisas, 38 Foucault demonstra] ou no seu final [Ex.: No h dvida de dizer de um objeto que ele heterogneo , via de regra, desvaloriz-lo. 39].

Ortografia arcaica Ocorre, na citao de documentos histricos, a necessidade de se decidir o que fazer com os termos grafados segundo regras gramaticais antigas (como poca, paiz, etc.) . A menos que a manuteno da forma antiga seja indispensvel ao entendimento do texto utilizado, deve-se atualizar a ortografia. Seja qual for, no entanto, a sua deciso, o importante manter-se coerente.

CITAO INDIRETA

Na citao indireta, o contedo do original utilizado reescrito.[Ex.: Rubem Alves entende que a passagem da pessoa para a funo se d quando o educador se torna apenas professor].O cuidado no crdito fonte deve ser o mesmo em relao citao direta.

CITAO DEPENDENTE

Na citao dependente (citao de citao), o autor citado no foi lido diretamente, mas tomado (transcrevendo-se ou reescrevendo-se) por prstimo de outro autor. No abuse deste recurso. Se a obra citada merece ser citada, v a ela diretamente, sem intermediao.O crdito deve ser dado s duas fontes.

O uso das notas

Use notas para as informaes adicionais.H dois tipos de notas (chamadas de notas-de-rodap, notas bibliogrficas ou notas explicativas) ao texto principal.Quando o sistema de documentao numrico, aparecem nas notas tantos os elementos (autor, ttulo, local, editora, ano e pgina utilizada) para a identificao das fontes quanto aquelas que visam acrescentar algo ao texto, mas sem trunc-lo e along-lo em demasia.Quando o sistema de documentao alfabtico, aparecem nas notas apenas as informaes adicionais, que podem ser comentrios secundrios ao autor citado, notcias sobre autores e livros, sugestes bibliogrficas adicionais, definies conceituais, explicaes diversas e destaques especiais.Em qualquer dos casos, use as notas-de-rodap para definies e informaes que, por sucessivas, acabaram truncando por demais o texto. O recurso deixa o texto de leitura mais corrente, facultando ao leitor o complemento. A nota deve figurar no rodap da pgina. Se no for possvel, por alguma razo tcnica plausvel (se que exista alguma, ela pode aparecer no final). Evite coloc-las no final de cada captulo ou parte, pela dificuldade de localizao. Portanto, no faa longas digresses, seja para definir um conceito, seja para oferecer uma informao no essencial.