Parágrafos Dissertativo, Descritivo e Narrativo

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Estrutura dos parágrafos de acordo com a tipologia (narrar/descrever/dissertar).

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PARGRAFOS DISSERTATIVOS, DESCRITIVOS E NARRATIVOS

PARGRAFOS DISSERTATIVOS, DESCRITIVOS E NARRATIVOS

Os pargrafos costumam ser predominantemente narrativos, descritivos ou dissertativos. Os aspectos que caracterizam cada uma dessas classificaes podem ser estendidos ao texto como um todo.O primeiro texto desenvolvido em torno de uma ideia central a importncia da informao e ilustra um exemplo de pargrafo dissertativo. Nesse tipo de pargrafo, so apresentadas ideias e reflexes sobre um tema de maneira genrica, independente de marcao temporal, o que se traduz pelo emprego das formas verbais.

A nova riqueza das naes repousa atualmente sobre a informao, o conhecimento, a pesquisa, a capacidade de inovao, as inteligncias... Informao, informao, informao essa a necessidade imperativa no jogo dos ambientes de trabalho, de estudo e lazer, isto , em todas as dimenses da vida cotidiana. A informao muda a natureza da competio porque indivduos e grupos interesseiros no podem se beneficiar da ignorncia do outro. (COSTALONGA, Elida M. F. Alfabetizao e Cincias sociais, em Revista Linha dgua. So Paulo: FFLCH-USP, n. 16, jan. 2004, p. 75)

Podemos notar que as quatro formas verbais sublinhadas encontram-se no presente do indicativo, o que acentua a posio defendida pela autora sobre a importncia da informao nos dias de hoje. Trata-se de uma reflexo abstrata, e o presente do indicativo, nesse caso, indica a permanncia da verdade afirmada: tudo se apoia na informao, inclusive a riqueza das naes.

J o pargrafo descritivo aponta aspectos que apresentam pessoas, ambientes, objetos etc. Leia o trecho abaixo, examinando os termos grifados.

Tudo era harmonioso, slido, verdadeiro. No princpio. As mulheres, principalmente as mortas do lbum, eram maravilhosas; os homens, mais maravilhosos ainda, ah, difcil encontrar famlia mais perfeita. A nossa famlia, dizia a bela voz de contralto da minha av. [...] (TELLES, Lygia Fagundes. O espartilho, em Filhos prdigos. So Paulo: Livraria Cultura Editora, 1978, p. 35.)

As formas verbais assinaladas esto no pretrito imperfeito do indicativo, apoiando a descrio do retrato de uma famlia. Nesse caso, o valor do pretrito imperfeito do indicativo sugere continuidade no passado, informando como foi esse grupo de pessoas durante um determinado tempo.Em razo de seu papel de caracterizador, os adjetivos so frequentemente utilizados nas descries, como ilustram os exemplos presentes no trecho acima: harmonioso, slido, verdadeiro, mortas, maravilhosas, maravilhosos, difcil, perfeita, bela. Logo, o mesmo ocorre tambm com as locues adjetivas conjunto de palavras que exercem o mesmo papel do adjetivo, isto , caracterizar o substantivo como voz de contralto.

O pargrafo narrativo apresenta uma sequncia de aes, expressas por formas verbais geralmente no pretrito perfeito do indicativo e por vezes no pretrito mais-que-perfeito do indicativo simples ou composto -, como ilustra o trecho:

Fui jantar com Henrique, que tinha me convidado de manh, quando eu chegara de viagem. Ele morava no dcimo andar de um prdio de apartamentos. Apertei a campainha. Quem abriu a porta foi Helosa: me disse que Henrique tinha sado [...] (VILELA, Luiz. O inferno aqui mesmo. So Paulo: tica, 1979, p. 21.) O prximo exemplo ilustra um pargrafo descritivo que tambm apresenta aspectos narrativos. Note as formas verbais sublinhadas: pretrito imperfeito, descritivo, com sublinhado simples; pretrito perfeito e mais-que-perfeito, de carter narrativo, indicados com negrito:

Uma das mais antigas e completas manifestaes da cultura popular brasileira a literatura de cordel. O cordel j existia em Portugal desde o sculo XVII. Inicialmente era composto por folhas soltas, contando histrias do passado, como a de Carlos Magno, de guerras, de amor e de cavalaria. O nome cordel veio do fato de os folhetos serem presos por um cordo ou barbante nas lojas que os vendiam. Antes do jornal, o cordel era em Portugal um meio de informao. Facilmente transportveis, os folhetos foram trazidos ao Brasil pelos colonos, em suas bagagens. (GOLDSTEN, Ilana e GOLDSTEN, Norma. Arte e suas conexes. So Paulo: PDEA, 2003, p. 24.)

Nesse exemplo, a ideia-ncleo abre o pargrafo, mostrando uma manifestao tradicional da cultura popular: o cordel. Na sequncia, descreve-se o cordel predominantemente por meio de formas verbais no pretrito imperfeito do indicativo: existia, era composto [na voz passiva], vendiam, alm do gerndio contando indicando ao simultnea da orao anterior, ou seja, com valor similar forma do imperfeito, equivalente a que contavam. Ao relatar como o cordel chegou ao Brasil, o verbo assume carter narrativo e est empregado no pretrito perfeito do indicativo, tanto na voz ativa, veio, quanto na voz passiva, foram trazidos. Quando se contam fatos, costuma-se empregar com frequncia esse tempo verbal.Vejamos algumas diferenas entre descrio e narrao.Na descrio, no h uma ordem determinada previamente. Desde que se apresentem todas as partes do conjunto, cada autor pode escolher a ordem que preferir. Suponhamos a descrio de uma moradia: pode-se comear pela parte externa, passando depois parte interna, ou fazer o inverso. Ao retratar cada cmodo, cabe descrever a forma e o tamanho, as cores, o que se encontra dentro. Seja qual for a ordem desse detalhamento, o importante que o leitor elabore uma ideia do que foi descrito no texto.J o pargrafo narrativo relata um acontecimento ou uma sucesso de fatos em sequncia. Ao se referir a eventos passados, geralmente apresenta as formas verbais no pretrito perfeito do indicativo, sugerindo acontecimentos pontuais concludos no passado, como no prximo exemplo (repare nos negritos e nos sublinhados):

Aquela noite sonhei com dinossauros. Ainda nossos contemporneos, continuavam habitando o planeta. Olhei pela janela e vi o pescoo de um sismossauro de 42 metros. O animal carregava um monumental ar de resignao e um cartaz com uma fotografia e os dizeres: PARA SENADOR VOTEM EM LICNIO RIBAS. Muito bem bolado: dinossauro transformado em outdoor ambulante. Desci para a rua e fui seguindo. O que vi me surpreendeu. Diversos iguanodontes de dez metros de altura, pesando cerca de quatro toneladas, andavam ordeiramente em fila e, com a capacidade de muitos caminhes, carregavam imensas cargas. Sem queimar leo ou gasolina. Num espaoso terreno baldio li: RENT A DINOS. Alugava-se dinossauro para propaganda, transporte de carga, guarda de grandes propriedades e passeios tursticos. (REY, Marcos. Marketing oportunista, em O corao roubado e outras crnicas. So Paulo: tica, 1996, p.57-8.)

Esse pargrafo conta um sonho, prevalecendo a narrao com verbos no pretrito perfeito do indicativo (marcado em negrito). Tambm h trechos descritivos, com as formas verbais no pretrito imperfeito do indicativo (marcados com sublinhados).H casos em que a narrao e a descrio apresentam as formas verbais no presente do indicativo, como no exemplo abaixo (indicadas com sublinhados), em que esse tempo verbal utilizado para sugerir ao leitor uma proximidade com os fatos apresentados. o que ocorre no final da crnica O homem da estao:

Passa na estrada um homem de bicicleta [...] pergunta se preciso de alguma coisa. Digo-lhe que no achei onde dormir, [...] posso andar por essa estrada at o sol me bater na cara.Ele monta na bicicleta, mas depois de alguns metros volta. Atrs daquele bosque que me aponta passa a estrada de ferro e ele trabalha na estaozinha; dentro de duas horas tenho um trem.L me recebe pouco depois, como um gr-senhor: [...] no tem caf, mas traz um copo de vinho.[...] vejo trabalhar esse pequeno funcionrio calvo e triste e bebo em silncio sade de um homem que no teme nem despreza outro homem. (BRAGA, Rubem. O homem da estao, em Os melhores contos, Seleo de Davi Arrigucci Jr. So Paulo: Global, 1985, p.54-5.)

Atividade 1

Identifique se os pargrafos a seguir so predominantemente narrativos, descritivos ou dissertativos. Justifique sua resposta.

A) A manso de Caryb, em Boa Vista de Brotas, mais parece um museu, tal a natureza e a categoria do que nela se encontra mostra. Basta lembrar o retbulo espanhol, seiscentista, que ocupa toda uma parede da sala de visitas. Conserva praticamente intactas as doze pinturas originais [...] (AMADO, Jorge. O sumio da santa. Rio de Janeiro: Record, 1992, p. 108.)

B) [A pea] Roda Viva [de Chico Buarque] foi um sucesso de pblico e, num primeiro momento, isso parecia provar que Jos Celso [diretor do espetculo] no s encontrara a forma de conscientizar pelo choque [...], como descobrira comercialmente o filo masoquista do pblico. [...] O espectador gostava de apanhar e estava disposto a pagar por isso. Jos Celso dava a frmula: preciso provocar o espectador, cham-lo de burro, recalcado e reacionrio. (VENTURA, Zuenir. 1968 O ano que no terminou. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1988, p. 93.)

C) Vale lembrar que a importncia maior da obra de Antonio Candido que entende a literatura como a arma com a qual defende a dignidade humana. (Olgria Matos). (Depoimento de Olgria Matos, em O Estado de S. Paulo. So Paulo: 20 jul. 2008, p. 08.)

D) H entre os passageiros um velhinho estranho seco, mope, bastante surdo, vestindo sempre de manh noite, quer chova quer faa sol, o mesmo terno de cor indefinvel. Pontual em todas as refeies, no saltou na Bahia nem em Las Palmas. (BANDEIRA, Manoel. Dirio de bordo, em Poesia completa e prosa. Rio de Janeiro: Aguilar, 1993, p. 526.)

E) [As cidades] abrem oportunidades para mais relacionamentos culturais, sociais e econmicos. As pessoas so atradas por causa dessas oportunidades. Ao longo da histria, as cidades sempre foram centros de inovao e criatividade, porque elas aproximam as pessoas e proporcionam essa interao. Isso muito bom. por isso que Nova York um lugar to interessante. Porque ela um centro cultural, um centro de inovao, uma cidade dinmica, ento as pessoas querem ir para l. Voc pode falar sobre um monte de coisas tcnicas, mas a questo crucial de uma cidade se as pessoas querem ou no morar ali. (Entrevista com Bill Mitchel, em O Estado de S. Paulo. So Paulo: 3 ago. 2008, p. 107.)

(GOLDSTEIN, Norma, LOUSADA, Maria Slvia, IVAMOTO, Regina. O texto sem mistrio: leitura e escrita na universidade. So Paulo: tica, 2009, p. 35 a 39)