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Paraná: Geopolítica imigrantista e a formação territorial Daniele Regina Ferreira da Costa " Yosruya N akagawara Ferreira RESUMO Estuda-se a formação territorial paranaense do século analisando-se a geopolítica imigrantista vigente no Brasil e no Paraná. O estudo enfoca principalmente a centro-sudeste no Paraná. PAlAVRAS-CHAVES: Geopolítica Imigrantista, Formação Territorial e Ocupação Paranaense 1. INTRODUÇÃO O processo que envolve o povoamento de uma área, obedece a diversos fatores ocasionais ou provocados. Quando uma população se desloca para determinada área diferente de sua terra natal, ocorrem mudanças estruturais no local escolhido ou oferecido para esta população. As migrações e/ou imigrações, raramente ocorrem espontaneamente. Elas costumam ser ocasionadas em função de vários problemas como econômicos, religiosos, políticos ou por guerras. O país ou a região que recebe os migrantes pode ou não estar preparado para receber estes novos habitantes. Podemos citar vários casos de populações que se deslocam para outras cidades ou Estados, em busca de melhores condições de vida. A população vinda de várias localidades do nordeste brasileiro, que décadas se desloca para o centro-sul do país, principalmente para a capital paulista, é um exemplo deste fenômeno. No início, tratava-se de mão-de-obra barata e facilmente absorvida. Nos últimos anos, tornou-se um problema social, causando inchaço populacional, aumentado o índice de desempregados e formando imensos bolsões de pobreza em cidades médias e grandes, pelas dificuldades de absorção desses migrantes, como também pela incapacidade estrutural e conjutural do Estado em enfrentar o problema. Outro exemplo é o que ocorre hoje no leste europeu. As diversas etnias disputando um mesmo espaço físico, tem provocado cada vez mais conflitos, desencadeando guerras e espalhando ódio entre as etnias, ódio este que perdura por diversas gerações e reforça-se a cada novo problema. Esses refugiados emigram aos milhares para outros países, habitam determinada área e em algumas gerações podem vir a formar nações dentro destes territórios desencadeando novos conflitos étnicos e territoriais. 2. CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DA IMIGRAÇÃO NO BRASIL Os fatos acima citados, guardadas as proporções, estão também ligados com a história da imigração estrangeira no Brasil. Esta comparação tem respaldo nas idéias difundidas em fins do século passado, que pregavam o "branqueamento da raça», 1 comprovando o quanto a questão étnica preocupava a elite pensante em fins do século passado. ,'c Mestranda em Geografia Universidade Estadual de Maringá UEM -PR. Professora do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. E-mai!: [email protected] Geografia, Londrina, v. 8, n. 2, p. 143-148, juL/dez. 1999 143

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In: Revista Geografia – v. 8 – n.2 – 1999 Universidade Estadual de Londrina –1999

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Paranaacute Geopoliacutetica imigrantista e a formaccedilatildeo territorial

Daniele Regina Ferreira da Costa Yosruya N akagawara Ferreira

RESUMO

Estuda-se a formaccedilatildeo territorial paranaense do seacuteculo analisando-se a geopoliacutetica imigrantista vigente no Brasil e no Paranaacute O estudo enfoca principalmente a centro-sudeste no Paranaacute

PAlAVRAS-CHAVES Geopoliacutetica Imigrantista Formaccedilatildeo Territorial e Ocupaccedilatildeo Paranaense

1 INTRODUCcedilAtildeO

O processo que envolve o povoamento de uma aacuterea obedece a diversos fatores ocasionais ou provocados Quando uma populaccedilatildeo se desloca para determinada aacuterea diferente de sua terra natal ocorrem mudanccedilas estruturais no local escolhido ou oferecido para esta populaccedilatildeo

As migraccedilotildees eou imigraccedilotildees raramente ocorrem espontaneamente Elas costumam ser ocasionadas em funccedilatildeo de vaacuterios problemas como econocircmicos religiosos poliacuteticos ou por guerras O paiacutes ou a regiatildeo que recebe os migrantes pode ou natildeo estar preparado para receber estes novos habitantes Podemos citar vaacuterios casos de populaccedilotildees que se deslocam para outras cidades ou Estados em busca de melhores condiccedilotildees de vida A populaccedilatildeo vinda de vaacuterias localidades do nordeste brasileiro que haacute deacutecadas se desloca para o centro-sul do paiacutes principalmente para a capital paulista eacute um exemplo deste fenocircmeno

No iniacutecio tratava-se de matildeo-de-obra barata e facilmente absorvida Nos uacuteltimos anos tornou-se um problema social causando inchaccedilo populacional aumentado o iacutendice de desempregados e formando imensos bolsotildees de pobreza em cidades meacutedias e grandes pelas

dificuldades de absorccedilatildeo desses migrantes como tambeacutem pela incapacidade estrutural e conjutural do Estado em enfrentar o problema

Outro exemplo eacute o que ocorre hoje no leste europeu As diversas etnias disputando um mesmo espaccedilo fiacutesico tem provocado cada vez mais conflitos desencadeando guerras e espalhando oacutedio entre as etnias oacutedio este que perdura por diversas geraccedilotildees e reforccedila-se a cada novo problema Esses refugiados emigram aos milhares para outros paiacuteses habitam determinada aacuterea e em algumas geraccedilotildees podem vir a formar naccedilotildees dentro destes territoacuterios desencadeando novos conflitos eacutetnicos e territoriais

2 CONSIDERACcedilOtildeES A RESPEITO DA IMIGRACcedilAtildeO NO BRASIL

Os fatos acima citados guardadas as proporccedilotildees estatildeo tambeacutem ligados com a histoacuteria da imigraccedilatildeo estrangeira no Brasil Esta comparaccedilatildeo tem respaldo nas ideacuteias difundidas em fins do seacuteculo passado que pregavam o branqueamento da raccedilaraquo 1 comprovando o quanto a questatildeo eacutetnica preocupava a elite pensante em fins do seacuteculo passado

c Mestranda em Geografia Universidade Estadual de Maringaacute UEM -PR Professora do Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina E-mai yoshiyaldnetcombr

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A miscigenaccedilatildeo esteve presente no Brasil desde o iniacutecio de seu povoamento pelos povos ditos descobridores As etnias que melhor representam este quadro satildeo o portuguecircs vindo da Europa o iacutendio nativo e o negro escravizado procedente de diversas regiotildees da Aacutefrica principalmente do litoral atlacircntico

Com o raacutepido processo de extermiacutenio dos indiacutegenas e o constante traacutefico de escravos natildeo eacute surpreendente o fato de a populaccedilatildeo negra atingir grande porcentagem da populaccedilatildeo geral O censo demograacutefico de 1872 revela que a populaccedilatildeo de brancos no Brasil era de 3787289 enquanto a de negros era de 1954452 e a de pardos de 4188737 Portanto a populaccedilatildeo negra e parda somava 6143189 habitantes quase o dobro da populaccedilatildeo branca

Neste momento o traacutefico de escravos jaacute estava proibido as campanhas abolicionistas ganhavam cada vez mais impulso e o comeacutercio de escravos deixava de ser atividade rendosa Em torno disto muitos planos foram traccedilados Alguns absurdos como o de mandaacute-los de volta para Aacutefrica e outros que apesar de natildeo menos absurdos ganharam forccedila junto agrave elite brasileira entre as quais o branqueamento da raccedila 2

Como resultado dos incentivos a favor do branqueamento aumenta o incentivo agrave imigraccedilatildeo Contudo desta vez natildeo foi o portuguecircs a receber incentivo para a colonizaccedilatildeo e sim outros povos brancos europeus principalmente italianos e alematildees entre outros

Eacute claro que devemos considerar outros fatores que contribuiacuteram para a imigraccedilatildeo no Brasil ligados geralmente agrave aboliccedilatildeo da escravatura pois o fim da escravidatildeo significava problemas com a matildeo-de-obra necessaacuteria em abundacircncia nas grandes lavouras que se erguiam principalmente no sudeste do paiacutes Outra questatildeo dizia respeito ao povoamento de grandes faixas de terras cobertas pela mata principalmente nas fronteiras de paiacuteses com populaccedilatildeo residente proacutexima agraves terras brasileiras

Em ambos os casos o imigrante foi colocado como resposta aos problemas pois dependendo da poliacutetica adotada e da sorte de cada grupo emigrado resolveriam natildeo soacute a questatildeo de matildeoshyde-obra como tambeacutem de escassez populacional

O que natildeo foi traccedilado no minucioso plano das elites brasileiras dizia respeito ao seu principal problema o negro 1ratava-se afinal de mais de 3 milhotildees de pessoas

O loacutegico contudo parecia ser muito simples Em vez de despender esforccedilos para o incentivo agrave imigraccedilatildeo europeacuteia poderia ter havido um direcionamento desta populaccedilatildeo negra natildeo mais escrava que deixava de ter seu papel junto agrave sociedade que se compunha na eacutepoca natildeo soacute absorvendo-a como matildeo-de-obra remunerada mas tambeacutem incentivando seu deslocamento para terras devolutas da naccedilatildeo para que laacute pudessem trabalhar na terra com a qual jaacute tinham intimidade e pudessem tambeacutem estruturar essas regiotildees

Apresentamos estas questotildees que parecem oacutebvias apenas para ilustrar a gravidade dos acontecimentos no Brasil nos fins do seacuteculo passado A questatildeo eacutetnica mostra sua importacircncia perante os povos No caso da substituiccedilatildeo do negro pelo branco de forma impliacutecita ou expliacutecita esteve sempre ligada a questatildeo econocircmica

Vindo de uma histoacuteria recente de escravidatildeo e espoliaccedilatildeo de direitos o negro representava perante os olhos do mundo ocidental tudo o que se referia a subdesenvolvimento e atraso econocircmico Do outro lado estava a figura do branco europeu com sua induacutestria emergente e a sonhada mecanizaccedilatildeo do campo sem falar de sua cultura catoacutelica considerada a uacutenica moralmente aceita

Portanto o negro era o problema e o branco a soluccedilatildeo Mas a questatildeo do preconceito eacutetnico natildeo se baseava apenas no dualismo branco e negro outros povos tambeacutem constituiacuteam presenccedila indesejaacutevel em solo nacional como nos lembra MARTINS4

Entre os defeacutensores da ocupaccedilatildeo havia grande preconceito contra caboclos chineses turcos e outros com os quais entendiam niio seriapossfvel instituiacuternoPaiacutes uma agriacutecultura modema

Apesar do preconceito eacutetnico atingir outras etnias o negro tinha contra si uma importante inimiga a ciecircncia pois no seacuteculo XIX se difundiu intensamente o pensamento Darwinista das ideacuteias evolucionistas Ideacuteias estas que como sempre continham o seu lado econocircmico como se constata na observaccedilatildeo de IGLEacuteSIAS

o evoludonismo concreDza mais ainda o lado brutal do liberalismo de seu desinterecircsse pelo proletariado ou pelos povos que viacutevem em condiccedilotildees de dominados O uso dos conceitos

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de luta seleccedilatildeo natura~ sobrevivecircncia dos mais aptos - aplicaccedilatildeo de principios da Biologia agrave ciecircncia social vai criar uma ideologia de dominaccedilatildeo de imperialismo 5

Mais que um pensamento de eacutepoca esta era uma forma de justificar a dominaccedilatildeo brutal que os europeus impunham sobre certos povos Pautados natildeo apenas em especulaccedilotildees mas tambeacutem na ciecircncia que pregava a existecircncia de um povo superior a todos os outros moldada na seleccedilatildeo natural onde soacute os mais aptos sobreviviam e neste caso consideravam-se mais aptos os europeus mais precisamente o homem branco europeu Do lado oposto desprovido segundo todos os pensamentos da eacutepoca das qualidades do homem branco europeu estava o negro escravizado como se observa na expressatildeo de AZEVEDO

A implicaccedilatildeo disto eacute que a ideacuteia de inferioridade dos africanos vista ateacute entatildeo em termos do seu paganismo e barbarismo Jgt

cultura~ comeccedilou a ser revista porsofisticadas teorJas raciais) impressas com o selo prestigioso das ciecircncias 6

uma eacutepoca de mudanccedilas a aboliccedilatildeo da escravatura se aproximava juntamente com a mudanccedila do regime poliacutetico necessano garantir a matildeo-de-obra e povoar o paiacutes Mas como trabalhar esta questatildeo Qual o imigrante que viria para ser dono de um pedaccedilo de terra e substituir o escravo nas grandes plantaccedilotildees

Apesar de muitos poliacuteticos despenderem esforccedilos em favor dos futuros colonos para que eles natildeo viessem apenas para substituir o escravo o interesse no braccedilo do imigrante para trabalhar na lavoura por parte do fazendeiro de cafeacute era

o suficiente para influenciar nas diretrizes poliacuteticas que o governo Imperial seguia

Estudando a poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute PRESA observa que correm assim) paralelamente duas orientaccedilotildees e duas praacuteticas imigratoacuterias no Impeacuterio brasileiro Uma ofici~ quando o governo cria ainda nuacutecleos coloniais de estrangeiros e outra particular ou estIacutelmdada pelo proacuteprio governo) que visa agrave obtenccedilatildeo de braccedilos assalariados para o trabalho agriacutecola nas grandes fazendas de cafeacute7

Toda esta movimentaccedilatildeo em torno da imigraccedilatildeo insere-se em um audacioso plario de

povoamento do governo juntamente com as elites brasileiras Natildeo se tratava apenas de povoar terras mas de povoaacute-las com o tipo humano ideal aos olhos luso-brasileiros que haveria de trazer progresso e uma tez mais alva ao povo mesticcedilo e negro Apesar de parecer ridiacuteculo e ateacute um pouco ingecircnuo natildeo o eacute pois tratou-se de uma estrateacutegica geopoliacutetica de povoamento eacute o termo norteador deste estudo a geopoliacutetica

3 IMIGRACcedilAtildeO NO PARANAacute E GEOPOLIacuteTICA DE POVOAMENTO

Conforme o contexto da eacutepoca analisado no texto anterior o governo passava a olhar uma proviacutencia receacutem emancipada vizinha da Argentina e do receacutem combatente inimigo Paraguai Tratava-se do Paranaacute Local de clima ameno e povoamento insignificante com fazendas gado e sociedade nada influente junto agrave corte parecia ser o local ideal para a realizaccedilatildeo dos planos branqueadores da burguesia

A proviacutencia do Paranaacute passa a chamar para si a atenccedilatildeo dos imigrantistas As terras e ainda pouco povoadas cobertas pela mata virgem e contempladas pelo clima ameno do sul parecia o cenaacuterio perfeito para a instalaccedilatildeo do europeu SAlNTHlLAIRE tambeacutem enxergava a como ideal para a instalaccedilatildeo de imigrantes publicando em 1820 que

Dentre as regiotildees do Impeacuterio ateacute entatildeo por mim percorridas) natildeo existe outra em que poderia se estabelecer com melhor resultado uma colocircnia de agricultores europeus ali eles encontraIIacuteam clima temperada ar puro) fnztas de seu paiacutes e terras em quepoderiam rnl rPlmr_

se) sem grandes esforccedilos) a todos os gecircneros de cultura a que estatildeo acostumados 8

Natildeo havia no Paranaacute as grandes plantaccedilotildees necessitando de matildeo-de-obra abundante A Lei de Terras de 1850 tornava o acesso agrave terra penoso para imigrante A questatildeo geopoliacutetica em relaccedilatildeo ao povoamento do Paranaacute tornou-se expliacutecita a partir do momento em que o governo foi obrigado a tratar de forma especial o imigrante que vinha para a entatildeo proviacutencia tornando flexiacutevel a lei de 1850 e deixando claro o papel do imigrante no Paranaacute

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a necessidade de pequenos proprietaacuterios produtores da lavoura de subsistecircncia orientou a polidca imigratoacuteria paranaense9

Outra questatildeo considerada aleacutem da origem eacutetnica do imigrante dizia respeito agrave instalaccedilatildeo da colocircnia Em primeiro lugar estes imigrados natildeo foram deslocados para vaacuterias regiotildees da proviacutencia Sua localizaccedilatildeo limitou-se aos arredores de Curitiba e campos de Guarapuava as regiotildees central e sudeste do Paranaacute denominadas neste trabalho de regiatildeo centro-sudeste

Os motivos eram claros Apesar de seu povoamento insignificante Curitiba e Paranaguaacute eram as Vilas com maior concentraccedilatildeo populacional e com pouca influecircncia politica da proviacutencia Os campos de Guarapuava aproximavam-se dos paiacuteses vizinhos ao Brasil portanto foram estes os locais a receber as primeiras colocircnias de imigrantes

As colocircnias de imigrantes instaladas ateacute 1853 Thereza em Ivaiacute Rio Negro na atual cidade de Rio Negro e Superagui em Guaraqueccedilaba parecem formar um triacircngulo distribuiacutedo espacialmente de forma estrateacutegica tendo como centro Curitiba

Com o passar dos anos multiplicaram-se as colocircnias o que consequentemente tornou a regiatildeo dinacircmica economicamente com construccedilatildeo de estradas de rodagem e de ferro para transporte de mercadorias aleacutem do surgimento de um comeacutercio emergente e da pequena induacutestria de subsistecircncia trazida pelos imigrantes

O resultado destes acontecimentos foi uma configuraccedilatildeo que pode ser considerada no miacutenimo diferente em relaccedilatildeo ao restante do paiacutes Os imigrantes diferiam muito dos caboclos e lusoshybrasileiros que se encontravam na proviacutencia do Paranaacute Eram povos com liacutengua costumes e tradiccedilotildees diferentes da populaccedilatildeo ateacute entatildeo residente Este contraste que o passar dos anos provou ser menos perigoso do que se imaginava agradou a algtms e desagradou a outros

Os que se agradavam desta revoluccedilatildeo eacutetnica em solo nacional exageravam em suas colocaccedilotildees atribuindo ao Paranaacute a ideacuteia de modelo eacutetnico para o Brasil como expressa MARTINS

Assim eacute o Paranaacute Territoacuterio que) do ponto de vista socioloacutegico) acrescentou ao Brasil uma nova civilizaccedilatildeo origina~ construiacuteda com

pedaccedilos de todas as outras Sem escravidatildeo) sem negro) sem portugueses) sem iacutendio) dirshyse-ia que a sua definiccedilatildeo humana natildeo eacute brasileira 10

A resposta a estes devaneios vinha de uma parte da sociedade que tambeacutem tinha sua influecircncia na configuraccedilatildeo poliacutetica do paiacutes

A presenccedila de milhares de estrangeiros em solo nacionaL muitas vezes agrupados compactamente nas colocircnias agriacutecolas a eles destinadas) provocou entre a intellegeacutentia JJ

da assim chamada elite luso-brasileira) o surgimento de uma corrente negativista) se natildeo hos~ face ao movimento imigratoacuterio 11

Foi neste contexto que se criou o movimento chamado paranismo Tratava-se de uma corrente de pensamento onde luso-brasileiros cultuavam as tradiccedilotildees paranaenses Para estes homens os estrangeiros aos quais chamavam de aacutedvenas significavam uma ameaccedila ao poder poliacutetico e a unidade nacional do Brasil Criticavam eles o abandono do caboclo paranaense em detrimento dos privileacutegios concedidos aos colonos europeus criticando a imigraccedilatildeo ao dizerem que

( ) o problema de nossa subsistecircncia nacionalsubstituiacutemos pelo da imigraccedilatildeo subvencionada de campocircnios europeus mais ou menos bizonhos em troca ( ) de nuacutedeos impermistos que nos trouxeram alguma agricultura e manufaacutetura 12

N a verdade nenhuma das correntes alcanccedilou o objetivo desejado Nem se branqueou o Brasil nem se impediu a imigraccedilatildeo em massa exceto em alguns periacuteodos jaacute do nosso seacuteculo que natildeo satildeo objeto de nossa pesquisa Obviamente houve mudanccedilas na configuraccedilatildeo eacutetnica do centro-sudeste paranaense

Esta caracteriacutestica peculiar nos traccedilos dos habitantes que ocupam grandes aacutereas do Paranaacute em especial a regiatildeo em estudo pode ser visto claramente por qualquer pessoa que se desloque para a regiatildeo mas a comprovaccedilatildeo mais eminente deste fato vem com os nuacutemeros

Infelizmente haacute falta de maiores informaccedilotildees sobre o crescimento demograacutefico do Paranaacute nas primeiras deacutecadas de sua emancipaccedilatildeo existindo

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apenas dados que informam a populaccedilatildeo de distritos e comarcas o que natildeo nos permite obter uma visatildeo de conjunto

Entre os anos de 1853 data em que o Paranaacute se tornou Proviacutencia a 1889 quando o Brasil se toma repuacuteblica o Paranaacute aumenta sua populaccedilatildeo de 62000 habitantes para 12000013 No periacuteodo de 36 anos entraram no Paranaacute 13 252 14

imigrantes Apesar deste estudo ter eleito como recorte

temporal o seacuteculo XIX utilizamos alguns dados deste seacuteculo para ilustrar a influecircncia do imigrante na populaccedilatildeo paranaense Em 1943 o RAMALHO escreve que 359 da populaccedilatildeo paranaense constituiacutea-se de C ) grupos eacutetnicos europeus Devido a formaccedilatildeo do Estado do Paranaacute podemos afirmar que a grande maioria desta populaccedilatildeo concentrava-se na regiatildeo centro-sudeste do Estado

Outro importante dado de influecircncia do imigrante foi detectado por IANNI referindo-se ao decreacutescimo da populaccedilatildeo negra em comparaccedilatildeo com a populaccedilatildeo branca O autor escreve que em 1872 data em que a proviacutenda comeccedila a maior quantidade de imigrantes os negros e mulatos significavam 45 da populaccedilatildeo 1890 a populaccedilatildeo negra e mulata representava 362 da populaccedilatildeo 16

Em meados deste seacuteculo esta situaccedilatildeo se acentua pois em 1940 o Paranaacute conta com uma populaccedilatildeo de 1228 de natildeo brancos e amarelos decaindo este nuacutemero para 1163 em 1950 sendo que em Curitiba esta situaccedilatildeo se torna mais acentuada contando a cidade em 1950 com 185 de negros e 388 de mulatos Esta queda da populaccedilatildeo negra e mulata segundo o autor vai se acentuando conforme aumenta o iacutendice de imigrantes no Estado 17

dados expostos por IANNI nos faz concluir que desde o iniacutecio da poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute ateacute meados do nosso seacuteculo o Estado na sua grande maioria grupos europeus brancos O decreacutescimo da taxa da populaccedilatildeo negra e mulata em relaccedilatildeo agrave branca poderia natildeo ou ser mais ameno caso a regiatildeo centro-sudeste tivesse recebido quantidade de migrantes de outras localidades do Brasil onde a escravidatildeo foi maior e mais duradoura que no Paranaacute

A centro-sudeste do Paranaacute poderia ter recebido maiores grupos de asiaacuteticos o que consequentemente mudaria a realidade

recogrlJIlB ~VULUL V 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

demograacutefica do local Estes dados mostram o interesse no europeu entre os imigrantistas e tambeacutem um aumento populacional causado pela imigraccedilatildeo o que fazia parte dos planos de poliacutetica imigratoacuteria do impeacuterio e da proviacutencia

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O povoamento do Paranaacute ocorreu recentemente se comparado a outras regiotildees do Brasil natildeo soacute pelos vaacuterios empreendimentos que incentivaram a sua ocupaccedilatildeo atraveacutes de projetos de colonizaccedilatildeo como tambeacutem pelos diferentes vetores do povoamento O paiacutes nessa eacutepoca jaacute contava com uma sociedade formada nas bases europeacuteias Os representantes do impeacuterio os poliacuteticos e os grandes fazendeiros estavam carregados das ideologias dominantes nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX que movidos tanto pela ciecircncia quanto por sua proacutepria formaccedilatildeo soacutecioshyeconocircmica utilizavam de sua influecircncia para o incentivo agrave imigraccedilatildeo no paiacutes

O povoamento da regiatildeo centro-sudeste do Paranaacute obedeceu ao direcionamento poliacutetico das elites dominantes criando-se dentro do plano de incentivo agrave imigraccedilatildeo uma estrateacutegia geopoliacutetica de ocupaccedilatildeo das aacutereas despovoadas que preocupavam o Impeacuterio

Foi atraveacutes deste direcionamento geopoliacutetico que o Paranaacute e principalmente as aacutereas estudadas possui hoje uma formaccedilatildeo peculiar em relaccedilatildeo a outras localidades do Brasil

NOTAS

1 Muitos foram os autores que usaram a expressatildeo branqueamento ao se referir a imigraccedilatildeo no Brasil durante este periacuteodo entre os quais podemos citar WACHOVICZ PILATTI WESTPHALEN C M AZEVEDO entre outros

2 As informaccedilotildees obtidas neste paraacutegrafo tambeacutem podem ser vistas nas obras dos autores citados na nota 1

3 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p 142 4 Michael M Hail Apud MARTINS Joseacute de

Souza A imigraccedilatildeo e a crise do Brasil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira p 175

147

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

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A miscigenaccedilatildeo esteve presente no Brasil desde o iniacutecio de seu povoamento pelos povos ditos descobridores As etnias que melhor representam este quadro satildeo o portuguecircs vindo da Europa o iacutendio nativo e o negro escravizado procedente de diversas regiotildees da Aacutefrica principalmente do litoral atlacircntico

Com o raacutepido processo de extermiacutenio dos indiacutegenas e o constante traacutefico de escravos natildeo eacute surpreendente o fato de a populaccedilatildeo negra atingir grande porcentagem da populaccedilatildeo geral O censo demograacutefico de 1872 revela que a populaccedilatildeo de brancos no Brasil era de 3787289 enquanto a de negros era de 1954452 e a de pardos de 4188737 Portanto a populaccedilatildeo negra e parda somava 6143189 habitantes quase o dobro da populaccedilatildeo branca

Neste momento o traacutefico de escravos jaacute estava proibido as campanhas abolicionistas ganhavam cada vez mais impulso e o comeacutercio de escravos deixava de ser atividade rendosa Em torno disto muitos planos foram traccedilados Alguns absurdos como o de mandaacute-los de volta para Aacutefrica e outros que apesar de natildeo menos absurdos ganharam forccedila junto agrave elite brasileira entre as quais o branqueamento da raccedila 2

Como resultado dos incentivos a favor do branqueamento aumenta o incentivo agrave imigraccedilatildeo Contudo desta vez natildeo foi o portuguecircs a receber incentivo para a colonizaccedilatildeo e sim outros povos brancos europeus principalmente italianos e alematildees entre outros

Eacute claro que devemos considerar outros fatores que contribuiacuteram para a imigraccedilatildeo no Brasil ligados geralmente agrave aboliccedilatildeo da escravatura pois o fim da escravidatildeo significava problemas com a matildeo-de-obra necessaacuteria em abundacircncia nas grandes lavouras que se erguiam principalmente no sudeste do paiacutes Outra questatildeo dizia respeito ao povoamento de grandes faixas de terras cobertas pela mata principalmente nas fronteiras de paiacuteses com populaccedilatildeo residente proacutexima agraves terras brasileiras

Em ambos os casos o imigrante foi colocado como resposta aos problemas pois dependendo da poliacutetica adotada e da sorte de cada grupo emigrado resolveriam natildeo soacute a questatildeo de matildeoshyde-obra como tambeacutem de escassez populacional

O que natildeo foi traccedilado no minucioso plano das elites brasileiras dizia respeito ao seu principal problema o negro 1ratava-se afinal de mais de 3 milhotildees de pessoas

O loacutegico contudo parecia ser muito simples Em vez de despender esforccedilos para o incentivo agrave imigraccedilatildeo europeacuteia poderia ter havido um direcionamento desta populaccedilatildeo negra natildeo mais escrava que deixava de ter seu papel junto agrave sociedade que se compunha na eacutepoca natildeo soacute absorvendo-a como matildeo-de-obra remunerada mas tambeacutem incentivando seu deslocamento para terras devolutas da naccedilatildeo para que laacute pudessem trabalhar na terra com a qual jaacute tinham intimidade e pudessem tambeacutem estruturar essas regiotildees

Apresentamos estas questotildees que parecem oacutebvias apenas para ilustrar a gravidade dos acontecimentos no Brasil nos fins do seacuteculo passado A questatildeo eacutetnica mostra sua importacircncia perante os povos No caso da substituiccedilatildeo do negro pelo branco de forma impliacutecita ou expliacutecita esteve sempre ligada a questatildeo econocircmica

Vindo de uma histoacuteria recente de escravidatildeo e espoliaccedilatildeo de direitos o negro representava perante os olhos do mundo ocidental tudo o que se referia a subdesenvolvimento e atraso econocircmico Do outro lado estava a figura do branco europeu com sua induacutestria emergente e a sonhada mecanizaccedilatildeo do campo sem falar de sua cultura catoacutelica considerada a uacutenica moralmente aceita

Portanto o negro era o problema e o branco a soluccedilatildeo Mas a questatildeo do preconceito eacutetnico natildeo se baseava apenas no dualismo branco e negro outros povos tambeacutem constituiacuteam presenccedila indesejaacutevel em solo nacional como nos lembra MARTINS4

Entre os defeacutensores da ocupaccedilatildeo havia grande preconceito contra caboclos chineses turcos e outros com os quais entendiam niio seriapossfvel instituiacuternoPaiacutes uma agriacutecultura modema

Apesar do preconceito eacutetnico atingir outras etnias o negro tinha contra si uma importante inimiga a ciecircncia pois no seacuteculo XIX se difundiu intensamente o pensamento Darwinista das ideacuteias evolucionistas Ideacuteias estas que como sempre continham o seu lado econocircmico como se constata na observaccedilatildeo de IGLEacuteSIAS

o evoludonismo concreDza mais ainda o lado brutal do liberalismo de seu desinterecircsse pelo proletariado ou pelos povos que viacutevem em condiccedilotildees de dominados O uso dos conceitos

144 Geografia Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

I

de luta seleccedilatildeo natura~ sobrevivecircncia dos mais aptos - aplicaccedilatildeo de principios da Biologia agrave ciecircncia social vai criar uma ideologia de dominaccedilatildeo de imperialismo 5

Mais que um pensamento de eacutepoca esta era uma forma de justificar a dominaccedilatildeo brutal que os europeus impunham sobre certos povos Pautados natildeo apenas em especulaccedilotildees mas tambeacutem na ciecircncia que pregava a existecircncia de um povo superior a todos os outros moldada na seleccedilatildeo natural onde soacute os mais aptos sobreviviam e neste caso consideravam-se mais aptos os europeus mais precisamente o homem branco europeu Do lado oposto desprovido segundo todos os pensamentos da eacutepoca das qualidades do homem branco europeu estava o negro escravizado como se observa na expressatildeo de AZEVEDO

A implicaccedilatildeo disto eacute que a ideacuteia de inferioridade dos africanos vista ateacute entatildeo em termos do seu paganismo e barbarismo Jgt

cultura~ comeccedilou a ser revista porsofisticadas teorJas raciais) impressas com o selo prestigioso das ciecircncias 6

uma eacutepoca de mudanccedilas a aboliccedilatildeo da escravatura se aproximava juntamente com a mudanccedila do regime poliacutetico necessano garantir a matildeo-de-obra e povoar o paiacutes Mas como trabalhar esta questatildeo Qual o imigrante que viria para ser dono de um pedaccedilo de terra e substituir o escravo nas grandes plantaccedilotildees

Apesar de muitos poliacuteticos despenderem esforccedilos em favor dos futuros colonos para que eles natildeo viessem apenas para substituir o escravo o interesse no braccedilo do imigrante para trabalhar na lavoura por parte do fazendeiro de cafeacute era

o suficiente para influenciar nas diretrizes poliacuteticas que o governo Imperial seguia

Estudando a poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute PRESA observa que correm assim) paralelamente duas orientaccedilotildees e duas praacuteticas imigratoacuterias no Impeacuterio brasileiro Uma ofici~ quando o governo cria ainda nuacutecleos coloniais de estrangeiros e outra particular ou estIacutelmdada pelo proacuteprio governo) que visa agrave obtenccedilatildeo de braccedilos assalariados para o trabalho agriacutecola nas grandes fazendas de cafeacute7

Toda esta movimentaccedilatildeo em torno da imigraccedilatildeo insere-se em um audacioso plario de

povoamento do governo juntamente com as elites brasileiras Natildeo se tratava apenas de povoar terras mas de povoaacute-las com o tipo humano ideal aos olhos luso-brasileiros que haveria de trazer progresso e uma tez mais alva ao povo mesticcedilo e negro Apesar de parecer ridiacuteculo e ateacute um pouco ingecircnuo natildeo o eacute pois tratou-se de uma estrateacutegica geopoliacutetica de povoamento eacute o termo norteador deste estudo a geopoliacutetica

3 IMIGRACcedilAtildeO NO PARANAacute E GEOPOLIacuteTICA DE POVOAMENTO

Conforme o contexto da eacutepoca analisado no texto anterior o governo passava a olhar uma proviacutencia receacutem emancipada vizinha da Argentina e do receacutem combatente inimigo Paraguai Tratava-se do Paranaacute Local de clima ameno e povoamento insignificante com fazendas gado e sociedade nada influente junto agrave corte parecia ser o local ideal para a realizaccedilatildeo dos planos branqueadores da burguesia

A proviacutencia do Paranaacute passa a chamar para si a atenccedilatildeo dos imigrantistas As terras e ainda pouco povoadas cobertas pela mata virgem e contempladas pelo clima ameno do sul parecia o cenaacuterio perfeito para a instalaccedilatildeo do europeu SAlNTHlLAIRE tambeacutem enxergava a como ideal para a instalaccedilatildeo de imigrantes publicando em 1820 que

Dentre as regiotildees do Impeacuterio ateacute entatildeo por mim percorridas) natildeo existe outra em que poderia se estabelecer com melhor resultado uma colocircnia de agricultores europeus ali eles encontraIIacuteam clima temperada ar puro) fnztas de seu paiacutes e terras em quepoderiam rnl rPlmr_

se) sem grandes esforccedilos) a todos os gecircneros de cultura a que estatildeo acostumados 8

Natildeo havia no Paranaacute as grandes plantaccedilotildees necessitando de matildeo-de-obra abundante A Lei de Terras de 1850 tornava o acesso agrave terra penoso para imigrante A questatildeo geopoliacutetica em relaccedilatildeo ao povoamento do Paranaacute tornou-se expliacutecita a partir do momento em que o governo foi obrigado a tratar de forma especial o imigrante que vinha para a entatildeo proviacutencia tornando flexiacutevel a lei de 1850 e deixando claro o papel do imigrante no Paranaacute

Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999 145

a necessidade de pequenos proprietaacuterios produtores da lavoura de subsistecircncia orientou a polidca imigratoacuteria paranaense9

Outra questatildeo considerada aleacutem da origem eacutetnica do imigrante dizia respeito agrave instalaccedilatildeo da colocircnia Em primeiro lugar estes imigrados natildeo foram deslocados para vaacuterias regiotildees da proviacutencia Sua localizaccedilatildeo limitou-se aos arredores de Curitiba e campos de Guarapuava as regiotildees central e sudeste do Paranaacute denominadas neste trabalho de regiatildeo centro-sudeste

Os motivos eram claros Apesar de seu povoamento insignificante Curitiba e Paranaguaacute eram as Vilas com maior concentraccedilatildeo populacional e com pouca influecircncia politica da proviacutencia Os campos de Guarapuava aproximavam-se dos paiacuteses vizinhos ao Brasil portanto foram estes os locais a receber as primeiras colocircnias de imigrantes

As colocircnias de imigrantes instaladas ateacute 1853 Thereza em Ivaiacute Rio Negro na atual cidade de Rio Negro e Superagui em Guaraqueccedilaba parecem formar um triacircngulo distribuiacutedo espacialmente de forma estrateacutegica tendo como centro Curitiba

Com o passar dos anos multiplicaram-se as colocircnias o que consequentemente tornou a regiatildeo dinacircmica economicamente com construccedilatildeo de estradas de rodagem e de ferro para transporte de mercadorias aleacutem do surgimento de um comeacutercio emergente e da pequena induacutestria de subsistecircncia trazida pelos imigrantes

O resultado destes acontecimentos foi uma configuraccedilatildeo que pode ser considerada no miacutenimo diferente em relaccedilatildeo ao restante do paiacutes Os imigrantes diferiam muito dos caboclos e lusoshybrasileiros que se encontravam na proviacutencia do Paranaacute Eram povos com liacutengua costumes e tradiccedilotildees diferentes da populaccedilatildeo ateacute entatildeo residente Este contraste que o passar dos anos provou ser menos perigoso do que se imaginava agradou a algtms e desagradou a outros

Os que se agradavam desta revoluccedilatildeo eacutetnica em solo nacional exageravam em suas colocaccedilotildees atribuindo ao Paranaacute a ideacuteia de modelo eacutetnico para o Brasil como expressa MARTINS

Assim eacute o Paranaacute Territoacuterio que) do ponto de vista socioloacutegico) acrescentou ao Brasil uma nova civilizaccedilatildeo origina~ construiacuteda com

pedaccedilos de todas as outras Sem escravidatildeo) sem negro) sem portugueses) sem iacutendio) dirshyse-ia que a sua definiccedilatildeo humana natildeo eacute brasileira 10

A resposta a estes devaneios vinha de uma parte da sociedade que tambeacutem tinha sua influecircncia na configuraccedilatildeo poliacutetica do paiacutes

A presenccedila de milhares de estrangeiros em solo nacionaL muitas vezes agrupados compactamente nas colocircnias agriacutecolas a eles destinadas) provocou entre a intellegeacutentia JJ

da assim chamada elite luso-brasileira) o surgimento de uma corrente negativista) se natildeo hos~ face ao movimento imigratoacuterio 11

Foi neste contexto que se criou o movimento chamado paranismo Tratava-se de uma corrente de pensamento onde luso-brasileiros cultuavam as tradiccedilotildees paranaenses Para estes homens os estrangeiros aos quais chamavam de aacutedvenas significavam uma ameaccedila ao poder poliacutetico e a unidade nacional do Brasil Criticavam eles o abandono do caboclo paranaense em detrimento dos privileacutegios concedidos aos colonos europeus criticando a imigraccedilatildeo ao dizerem que

( ) o problema de nossa subsistecircncia nacionalsubstituiacutemos pelo da imigraccedilatildeo subvencionada de campocircnios europeus mais ou menos bizonhos em troca ( ) de nuacutedeos impermistos que nos trouxeram alguma agricultura e manufaacutetura 12

N a verdade nenhuma das correntes alcanccedilou o objetivo desejado Nem se branqueou o Brasil nem se impediu a imigraccedilatildeo em massa exceto em alguns periacuteodos jaacute do nosso seacuteculo que natildeo satildeo objeto de nossa pesquisa Obviamente houve mudanccedilas na configuraccedilatildeo eacutetnica do centro-sudeste paranaense

Esta caracteriacutestica peculiar nos traccedilos dos habitantes que ocupam grandes aacutereas do Paranaacute em especial a regiatildeo em estudo pode ser visto claramente por qualquer pessoa que se desloque para a regiatildeo mas a comprovaccedilatildeo mais eminente deste fato vem com os nuacutemeros

Infelizmente haacute falta de maiores informaccedilotildees sobre o crescimento demograacutefico do Paranaacute nas primeiras deacutecadas de sua emancipaccedilatildeo existindo

146 Geografia Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

I I

apenas dados que informam a populaccedilatildeo de distritos e comarcas o que natildeo nos permite obter uma visatildeo de conjunto

Entre os anos de 1853 data em que o Paranaacute se tornou Proviacutencia a 1889 quando o Brasil se toma repuacuteblica o Paranaacute aumenta sua populaccedilatildeo de 62000 habitantes para 12000013 No periacuteodo de 36 anos entraram no Paranaacute 13 252 14

imigrantes Apesar deste estudo ter eleito como recorte

temporal o seacuteculo XIX utilizamos alguns dados deste seacuteculo para ilustrar a influecircncia do imigrante na populaccedilatildeo paranaense Em 1943 o RAMALHO escreve que 359 da populaccedilatildeo paranaense constituiacutea-se de C ) grupos eacutetnicos europeus Devido a formaccedilatildeo do Estado do Paranaacute podemos afirmar que a grande maioria desta populaccedilatildeo concentrava-se na regiatildeo centro-sudeste do Estado

Outro importante dado de influecircncia do imigrante foi detectado por IANNI referindo-se ao decreacutescimo da populaccedilatildeo negra em comparaccedilatildeo com a populaccedilatildeo branca O autor escreve que em 1872 data em que a proviacutenda comeccedila a maior quantidade de imigrantes os negros e mulatos significavam 45 da populaccedilatildeo 1890 a populaccedilatildeo negra e mulata representava 362 da populaccedilatildeo 16

Em meados deste seacuteculo esta situaccedilatildeo se acentua pois em 1940 o Paranaacute conta com uma populaccedilatildeo de 1228 de natildeo brancos e amarelos decaindo este nuacutemero para 1163 em 1950 sendo que em Curitiba esta situaccedilatildeo se torna mais acentuada contando a cidade em 1950 com 185 de negros e 388 de mulatos Esta queda da populaccedilatildeo negra e mulata segundo o autor vai se acentuando conforme aumenta o iacutendice de imigrantes no Estado 17

dados expostos por IANNI nos faz concluir que desde o iniacutecio da poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute ateacute meados do nosso seacuteculo o Estado na sua grande maioria grupos europeus brancos O decreacutescimo da taxa da populaccedilatildeo negra e mulata em relaccedilatildeo agrave branca poderia natildeo ou ser mais ameno caso a regiatildeo centro-sudeste tivesse recebido quantidade de migrantes de outras localidades do Brasil onde a escravidatildeo foi maior e mais duradoura que no Paranaacute

A centro-sudeste do Paranaacute poderia ter recebido maiores grupos de asiaacuteticos o que consequentemente mudaria a realidade

recogrlJIlB ~VULUL V 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

demograacutefica do local Estes dados mostram o interesse no europeu entre os imigrantistas e tambeacutem um aumento populacional causado pela imigraccedilatildeo o que fazia parte dos planos de poliacutetica imigratoacuteria do impeacuterio e da proviacutencia

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O povoamento do Paranaacute ocorreu recentemente se comparado a outras regiotildees do Brasil natildeo soacute pelos vaacuterios empreendimentos que incentivaram a sua ocupaccedilatildeo atraveacutes de projetos de colonizaccedilatildeo como tambeacutem pelos diferentes vetores do povoamento O paiacutes nessa eacutepoca jaacute contava com uma sociedade formada nas bases europeacuteias Os representantes do impeacuterio os poliacuteticos e os grandes fazendeiros estavam carregados das ideologias dominantes nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX que movidos tanto pela ciecircncia quanto por sua proacutepria formaccedilatildeo soacutecioshyeconocircmica utilizavam de sua influecircncia para o incentivo agrave imigraccedilatildeo no paiacutes

O povoamento da regiatildeo centro-sudeste do Paranaacute obedeceu ao direcionamento poliacutetico das elites dominantes criando-se dentro do plano de incentivo agrave imigraccedilatildeo uma estrateacutegia geopoliacutetica de ocupaccedilatildeo das aacutereas despovoadas que preocupavam o Impeacuterio

Foi atraveacutes deste direcionamento geopoliacutetico que o Paranaacute e principalmente as aacutereas estudadas possui hoje uma formaccedilatildeo peculiar em relaccedilatildeo a outras localidades do Brasil

NOTAS

1 Muitos foram os autores que usaram a expressatildeo branqueamento ao se referir a imigraccedilatildeo no Brasil durante este periacuteodo entre os quais podemos citar WACHOVICZ PILATTI WESTPHALEN C M AZEVEDO entre outros

2 As informaccedilotildees obtidas neste paraacutegrafo tambeacutem podem ser vistas nas obras dos autores citados na nota 1

3 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p 142 4 Michael M Hail Apud MARTINS Joseacute de

Souza A imigraccedilatildeo e a crise do Brasil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira p 175

147

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra shyMedo Branco O Negro no Imaginaacuterio das elites

SeacuteculoXIX Rio de Janeiro Paz e lerra 1987

COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute atraveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo CentroshySudeste Londrina 1998 Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia

DIEGUES JUacuteNIOR Manuel - Imigraccedilatildeo) urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vol 5 1964

IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasil 2a ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972

IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4degSimpoacutesio Nacional de Professores Umversitaacuterios de Histoacuteria 1967

MARTINS Joseacute de Souza A imigraccedilatildeo e a crise do BraSil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira 1973

PILATTI Altiva Bj MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHALEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 2a ed Curitiba Grafipar 1969 v1

PRESA Iraci Girardi Poliacutetica de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o II reinado e sua aplicaccedilatildeo no Paranaacute Satildeo Paulo USP 1975

SAINT HILAIRE Auguste de Wagem a Comarca de Curitiba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964

SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Aligalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

148 LTC([5HtH Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

Page 3: Paraná Geopolítica imigrantista e a formação territorial.pdf

de luta seleccedilatildeo natura~ sobrevivecircncia dos mais aptos - aplicaccedilatildeo de principios da Biologia agrave ciecircncia social vai criar uma ideologia de dominaccedilatildeo de imperialismo 5

Mais que um pensamento de eacutepoca esta era uma forma de justificar a dominaccedilatildeo brutal que os europeus impunham sobre certos povos Pautados natildeo apenas em especulaccedilotildees mas tambeacutem na ciecircncia que pregava a existecircncia de um povo superior a todos os outros moldada na seleccedilatildeo natural onde soacute os mais aptos sobreviviam e neste caso consideravam-se mais aptos os europeus mais precisamente o homem branco europeu Do lado oposto desprovido segundo todos os pensamentos da eacutepoca das qualidades do homem branco europeu estava o negro escravizado como se observa na expressatildeo de AZEVEDO

A implicaccedilatildeo disto eacute que a ideacuteia de inferioridade dos africanos vista ateacute entatildeo em termos do seu paganismo e barbarismo Jgt

cultura~ comeccedilou a ser revista porsofisticadas teorJas raciais) impressas com o selo prestigioso das ciecircncias 6

uma eacutepoca de mudanccedilas a aboliccedilatildeo da escravatura se aproximava juntamente com a mudanccedila do regime poliacutetico necessano garantir a matildeo-de-obra e povoar o paiacutes Mas como trabalhar esta questatildeo Qual o imigrante que viria para ser dono de um pedaccedilo de terra e substituir o escravo nas grandes plantaccedilotildees

Apesar de muitos poliacuteticos despenderem esforccedilos em favor dos futuros colonos para que eles natildeo viessem apenas para substituir o escravo o interesse no braccedilo do imigrante para trabalhar na lavoura por parte do fazendeiro de cafeacute era

o suficiente para influenciar nas diretrizes poliacuteticas que o governo Imperial seguia

Estudando a poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute PRESA observa que correm assim) paralelamente duas orientaccedilotildees e duas praacuteticas imigratoacuterias no Impeacuterio brasileiro Uma ofici~ quando o governo cria ainda nuacutecleos coloniais de estrangeiros e outra particular ou estIacutelmdada pelo proacuteprio governo) que visa agrave obtenccedilatildeo de braccedilos assalariados para o trabalho agriacutecola nas grandes fazendas de cafeacute7

Toda esta movimentaccedilatildeo em torno da imigraccedilatildeo insere-se em um audacioso plario de

povoamento do governo juntamente com as elites brasileiras Natildeo se tratava apenas de povoar terras mas de povoaacute-las com o tipo humano ideal aos olhos luso-brasileiros que haveria de trazer progresso e uma tez mais alva ao povo mesticcedilo e negro Apesar de parecer ridiacuteculo e ateacute um pouco ingecircnuo natildeo o eacute pois tratou-se de uma estrateacutegica geopoliacutetica de povoamento eacute o termo norteador deste estudo a geopoliacutetica

3 IMIGRACcedilAtildeO NO PARANAacute E GEOPOLIacuteTICA DE POVOAMENTO

Conforme o contexto da eacutepoca analisado no texto anterior o governo passava a olhar uma proviacutencia receacutem emancipada vizinha da Argentina e do receacutem combatente inimigo Paraguai Tratava-se do Paranaacute Local de clima ameno e povoamento insignificante com fazendas gado e sociedade nada influente junto agrave corte parecia ser o local ideal para a realizaccedilatildeo dos planos branqueadores da burguesia

A proviacutencia do Paranaacute passa a chamar para si a atenccedilatildeo dos imigrantistas As terras e ainda pouco povoadas cobertas pela mata virgem e contempladas pelo clima ameno do sul parecia o cenaacuterio perfeito para a instalaccedilatildeo do europeu SAlNTHlLAIRE tambeacutem enxergava a como ideal para a instalaccedilatildeo de imigrantes publicando em 1820 que

Dentre as regiotildees do Impeacuterio ateacute entatildeo por mim percorridas) natildeo existe outra em que poderia se estabelecer com melhor resultado uma colocircnia de agricultores europeus ali eles encontraIIacuteam clima temperada ar puro) fnztas de seu paiacutes e terras em quepoderiam rnl rPlmr_

se) sem grandes esforccedilos) a todos os gecircneros de cultura a que estatildeo acostumados 8

Natildeo havia no Paranaacute as grandes plantaccedilotildees necessitando de matildeo-de-obra abundante A Lei de Terras de 1850 tornava o acesso agrave terra penoso para imigrante A questatildeo geopoliacutetica em relaccedilatildeo ao povoamento do Paranaacute tornou-se expliacutecita a partir do momento em que o governo foi obrigado a tratar de forma especial o imigrante que vinha para a entatildeo proviacutencia tornando flexiacutevel a lei de 1850 e deixando claro o papel do imigrante no Paranaacute

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a necessidade de pequenos proprietaacuterios produtores da lavoura de subsistecircncia orientou a polidca imigratoacuteria paranaense9

Outra questatildeo considerada aleacutem da origem eacutetnica do imigrante dizia respeito agrave instalaccedilatildeo da colocircnia Em primeiro lugar estes imigrados natildeo foram deslocados para vaacuterias regiotildees da proviacutencia Sua localizaccedilatildeo limitou-se aos arredores de Curitiba e campos de Guarapuava as regiotildees central e sudeste do Paranaacute denominadas neste trabalho de regiatildeo centro-sudeste

Os motivos eram claros Apesar de seu povoamento insignificante Curitiba e Paranaguaacute eram as Vilas com maior concentraccedilatildeo populacional e com pouca influecircncia politica da proviacutencia Os campos de Guarapuava aproximavam-se dos paiacuteses vizinhos ao Brasil portanto foram estes os locais a receber as primeiras colocircnias de imigrantes

As colocircnias de imigrantes instaladas ateacute 1853 Thereza em Ivaiacute Rio Negro na atual cidade de Rio Negro e Superagui em Guaraqueccedilaba parecem formar um triacircngulo distribuiacutedo espacialmente de forma estrateacutegica tendo como centro Curitiba

Com o passar dos anos multiplicaram-se as colocircnias o que consequentemente tornou a regiatildeo dinacircmica economicamente com construccedilatildeo de estradas de rodagem e de ferro para transporte de mercadorias aleacutem do surgimento de um comeacutercio emergente e da pequena induacutestria de subsistecircncia trazida pelos imigrantes

O resultado destes acontecimentos foi uma configuraccedilatildeo que pode ser considerada no miacutenimo diferente em relaccedilatildeo ao restante do paiacutes Os imigrantes diferiam muito dos caboclos e lusoshybrasileiros que se encontravam na proviacutencia do Paranaacute Eram povos com liacutengua costumes e tradiccedilotildees diferentes da populaccedilatildeo ateacute entatildeo residente Este contraste que o passar dos anos provou ser menos perigoso do que se imaginava agradou a algtms e desagradou a outros

Os que se agradavam desta revoluccedilatildeo eacutetnica em solo nacional exageravam em suas colocaccedilotildees atribuindo ao Paranaacute a ideacuteia de modelo eacutetnico para o Brasil como expressa MARTINS

Assim eacute o Paranaacute Territoacuterio que) do ponto de vista socioloacutegico) acrescentou ao Brasil uma nova civilizaccedilatildeo origina~ construiacuteda com

pedaccedilos de todas as outras Sem escravidatildeo) sem negro) sem portugueses) sem iacutendio) dirshyse-ia que a sua definiccedilatildeo humana natildeo eacute brasileira 10

A resposta a estes devaneios vinha de uma parte da sociedade que tambeacutem tinha sua influecircncia na configuraccedilatildeo poliacutetica do paiacutes

A presenccedila de milhares de estrangeiros em solo nacionaL muitas vezes agrupados compactamente nas colocircnias agriacutecolas a eles destinadas) provocou entre a intellegeacutentia JJ

da assim chamada elite luso-brasileira) o surgimento de uma corrente negativista) se natildeo hos~ face ao movimento imigratoacuterio 11

Foi neste contexto que se criou o movimento chamado paranismo Tratava-se de uma corrente de pensamento onde luso-brasileiros cultuavam as tradiccedilotildees paranaenses Para estes homens os estrangeiros aos quais chamavam de aacutedvenas significavam uma ameaccedila ao poder poliacutetico e a unidade nacional do Brasil Criticavam eles o abandono do caboclo paranaense em detrimento dos privileacutegios concedidos aos colonos europeus criticando a imigraccedilatildeo ao dizerem que

( ) o problema de nossa subsistecircncia nacionalsubstituiacutemos pelo da imigraccedilatildeo subvencionada de campocircnios europeus mais ou menos bizonhos em troca ( ) de nuacutedeos impermistos que nos trouxeram alguma agricultura e manufaacutetura 12

N a verdade nenhuma das correntes alcanccedilou o objetivo desejado Nem se branqueou o Brasil nem se impediu a imigraccedilatildeo em massa exceto em alguns periacuteodos jaacute do nosso seacuteculo que natildeo satildeo objeto de nossa pesquisa Obviamente houve mudanccedilas na configuraccedilatildeo eacutetnica do centro-sudeste paranaense

Esta caracteriacutestica peculiar nos traccedilos dos habitantes que ocupam grandes aacutereas do Paranaacute em especial a regiatildeo em estudo pode ser visto claramente por qualquer pessoa que se desloque para a regiatildeo mas a comprovaccedilatildeo mais eminente deste fato vem com os nuacutemeros

Infelizmente haacute falta de maiores informaccedilotildees sobre o crescimento demograacutefico do Paranaacute nas primeiras deacutecadas de sua emancipaccedilatildeo existindo

146 Geografia Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

I I

apenas dados que informam a populaccedilatildeo de distritos e comarcas o que natildeo nos permite obter uma visatildeo de conjunto

Entre os anos de 1853 data em que o Paranaacute se tornou Proviacutencia a 1889 quando o Brasil se toma repuacuteblica o Paranaacute aumenta sua populaccedilatildeo de 62000 habitantes para 12000013 No periacuteodo de 36 anos entraram no Paranaacute 13 252 14

imigrantes Apesar deste estudo ter eleito como recorte

temporal o seacuteculo XIX utilizamos alguns dados deste seacuteculo para ilustrar a influecircncia do imigrante na populaccedilatildeo paranaense Em 1943 o RAMALHO escreve que 359 da populaccedilatildeo paranaense constituiacutea-se de C ) grupos eacutetnicos europeus Devido a formaccedilatildeo do Estado do Paranaacute podemos afirmar que a grande maioria desta populaccedilatildeo concentrava-se na regiatildeo centro-sudeste do Estado

Outro importante dado de influecircncia do imigrante foi detectado por IANNI referindo-se ao decreacutescimo da populaccedilatildeo negra em comparaccedilatildeo com a populaccedilatildeo branca O autor escreve que em 1872 data em que a proviacutenda comeccedila a maior quantidade de imigrantes os negros e mulatos significavam 45 da populaccedilatildeo 1890 a populaccedilatildeo negra e mulata representava 362 da populaccedilatildeo 16

Em meados deste seacuteculo esta situaccedilatildeo se acentua pois em 1940 o Paranaacute conta com uma populaccedilatildeo de 1228 de natildeo brancos e amarelos decaindo este nuacutemero para 1163 em 1950 sendo que em Curitiba esta situaccedilatildeo se torna mais acentuada contando a cidade em 1950 com 185 de negros e 388 de mulatos Esta queda da populaccedilatildeo negra e mulata segundo o autor vai se acentuando conforme aumenta o iacutendice de imigrantes no Estado 17

dados expostos por IANNI nos faz concluir que desde o iniacutecio da poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute ateacute meados do nosso seacuteculo o Estado na sua grande maioria grupos europeus brancos O decreacutescimo da taxa da populaccedilatildeo negra e mulata em relaccedilatildeo agrave branca poderia natildeo ou ser mais ameno caso a regiatildeo centro-sudeste tivesse recebido quantidade de migrantes de outras localidades do Brasil onde a escravidatildeo foi maior e mais duradoura que no Paranaacute

A centro-sudeste do Paranaacute poderia ter recebido maiores grupos de asiaacuteticos o que consequentemente mudaria a realidade

recogrlJIlB ~VULUL V 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

demograacutefica do local Estes dados mostram o interesse no europeu entre os imigrantistas e tambeacutem um aumento populacional causado pela imigraccedilatildeo o que fazia parte dos planos de poliacutetica imigratoacuteria do impeacuterio e da proviacutencia

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O povoamento do Paranaacute ocorreu recentemente se comparado a outras regiotildees do Brasil natildeo soacute pelos vaacuterios empreendimentos que incentivaram a sua ocupaccedilatildeo atraveacutes de projetos de colonizaccedilatildeo como tambeacutem pelos diferentes vetores do povoamento O paiacutes nessa eacutepoca jaacute contava com uma sociedade formada nas bases europeacuteias Os representantes do impeacuterio os poliacuteticos e os grandes fazendeiros estavam carregados das ideologias dominantes nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX que movidos tanto pela ciecircncia quanto por sua proacutepria formaccedilatildeo soacutecioshyeconocircmica utilizavam de sua influecircncia para o incentivo agrave imigraccedilatildeo no paiacutes

O povoamento da regiatildeo centro-sudeste do Paranaacute obedeceu ao direcionamento poliacutetico das elites dominantes criando-se dentro do plano de incentivo agrave imigraccedilatildeo uma estrateacutegia geopoliacutetica de ocupaccedilatildeo das aacutereas despovoadas que preocupavam o Impeacuterio

Foi atraveacutes deste direcionamento geopoliacutetico que o Paranaacute e principalmente as aacutereas estudadas possui hoje uma formaccedilatildeo peculiar em relaccedilatildeo a outras localidades do Brasil

NOTAS

1 Muitos foram os autores que usaram a expressatildeo branqueamento ao se referir a imigraccedilatildeo no Brasil durante este periacuteodo entre os quais podemos citar WACHOVICZ PILATTI WESTPHALEN C M AZEVEDO entre outros

2 As informaccedilotildees obtidas neste paraacutegrafo tambeacutem podem ser vistas nas obras dos autores citados na nota 1

3 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p 142 4 Michael M Hail Apud MARTINS Joseacute de

Souza A imigraccedilatildeo e a crise do Brasil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira p 175

147

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra shyMedo Branco O Negro no Imaginaacuterio das elites

SeacuteculoXIX Rio de Janeiro Paz e lerra 1987

COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute atraveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo CentroshySudeste Londrina 1998 Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia

DIEGUES JUacuteNIOR Manuel - Imigraccedilatildeo) urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vol 5 1964

IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasil 2a ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972

IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4degSimpoacutesio Nacional de Professores Umversitaacuterios de Histoacuteria 1967

MARTINS Joseacute de Souza A imigraccedilatildeo e a crise do BraSil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira 1973

PILATTI Altiva Bj MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHALEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 2a ed Curitiba Grafipar 1969 v1

PRESA Iraci Girardi Poliacutetica de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o II reinado e sua aplicaccedilatildeo no Paranaacute Satildeo Paulo USP 1975

SAINT HILAIRE Auguste de Wagem a Comarca de Curitiba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964

SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Aligalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

148 LTC([5HtH Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

Page 4: Paraná Geopolítica imigrantista e a formação territorial.pdf

a necessidade de pequenos proprietaacuterios produtores da lavoura de subsistecircncia orientou a polidca imigratoacuteria paranaense9

Outra questatildeo considerada aleacutem da origem eacutetnica do imigrante dizia respeito agrave instalaccedilatildeo da colocircnia Em primeiro lugar estes imigrados natildeo foram deslocados para vaacuterias regiotildees da proviacutencia Sua localizaccedilatildeo limitou-se aos arredores de Curitiba e campos de Guarapuava as regiotildees central e sudeste do Paranaacute denominadas neste trabalho de regiatildeo centro-sudeste

Os motivos eram claros Apesar de seu povoamento insignificante Curitiba e Paranaguaacute eram as Vilas com maior concentraccedilatildeo populacional e com pouca influecircncia politica da proviacutencia Os campos de Guarapuava aproximavam-se dos paiacuteses vizinhos ao Brasil portanto foram estes os locais a receber as primeiras colocircnias de imigrantes

As colocircnias de imigrantes instaladas ateacute 1853 Thereza em Ivaiacute Rio Negro na atual cidade de Rio Negro e Superagui em Guaraqueccedilaba parecem formar um triacircngulo distribuiacutedo espacialmente de forma estrateacutegica tendo como centro Curitiba

Com o passar dos anos multiplicaram-se as colocircnias o que consequentemente tornou a regiatildeo dinacircmica economicamente com construccedilatildeo de estradas de rodagem e de ferro para transporte de mercadorias aleacutem do surgimento de um comeacutercio emergente e da pequena induacutestria de subsistecircncia trazida pelos imigrantes

O resultado destes acontecimentos foi uma configuraccedilatildeo que pode ser considerada no miacutenimo diferente em relaccedilatildeo ao restante do paiacutes Os imigrantes diferiam muito dos caboclos e lusoshybrasileiros que se encontravam na proviacutencia do Paranaacute Eram povos com liacutengua costumes e tradiccedilotildees diferentes da populaccedilatildeo ateacute entatildeo residente Este contraste que o passar dos anos provou ser menos perigoso do que se imaginava agradou a algtms e desagradou a outros

Os que se agradavam desta revoluccedilatildeo eacutetnica em solo nacional exageravam em suas colocaccedilotildees atribuindo ao Paranaacute a ideacuteia de modelo eacutetnico para o Brasil como expressa MARTINS

Assim eacute o Paranaacute Territoacuterio que) do ponto de vista socioloacutegico) acrescentou ao Brasil uma nova civilizaccedilatildeo origina~ construiacuteda com

pedaccedilos de todas as outras Sem escravidatildeo) sem negro) sem portugueses) sem iacutendio) dirshyse-ia que a sua definiccedilatildeo humana natildeo eacute brasileira 10

A resposta a estes devaneios vinha de uma parte da sociedade que tambeacutem tinha sua influecircncia na configuraccedilatildeo poliacutetica do paiacutes

A presenccedila de milhares de estrangeiros em solo nacionaL muitas vezes agrupados compactamente nas colocircnias agriacutecolas a eles destinadas) provocou entre a intellegeacutentia JJ

da assim chamada elite luso-brasileira) o surgimento de uma corrente negativista) se natildeo hos~ face ao movimento imigratoacuterio 11

Foi neste contexto que se criou o movimento chamado paranismo Tratava-se de uma corrente de pensamento onde luso-brasileiros cultuavam as tradiccedilotildees paranaenses Para estes homens os estrangeiros aos quais chamavam de aacutedvenas significavam uma ameaccedila ao poder poliacutetico e a unidade nacional do Brasil Criticavam eles o abandono do caboclo paranaense em detrimento dos privileacutegios concedidos aos colonos europeus criticando a imigraccedilatildeo ao dizerem que

( ) o problema de nossa subsistecircncia nacionalsubstituiacutemos pelo da imigraccedilatildeo subvencionada de campocircnios europeus mais ou menos bizonhos em troca ( ) de nuacutedeos impermistos que nos trouxeram alguma agricultura e manufaacutetura 12

N a verdade nenhuma das correntes alcanccedilou o objetivo desejado Nem se branqueou o Brasil nem se impediu a imigraccedilatildeo em massa exceto em alguns periacuteodos jaacute do nosso seacuteculo que natildeo satildeo objeto de nossa pesquisa Obviamente houve mudanccedilas na configuraccedilatildeo eacutetnica do centro-sudeste paranaense

Esta caracteriacutestica peculiar nos traccedilos dos habitantes que ocupam grandes aacutereas do Paranaacute em especial a regiatildeo em estudo pode ser visto claramente por qualquer pessoa que se desloque para a regiatildeo mas a comprovaccedilatildeo mais eminente deste fato vem com os nuacutemeros

Infelizmente haacute falta de maiores informaccedilotildees sobre o crescimento demograacutefico do Paranaacute nas primeiras deacutecadas de sua emancipaccedilatildeo existindo

146 Geografia Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

I I

apenas dados que informam a populaccedilatildeo de distritos e comarcas o que natildeo nos permite obter uma visatildeo de conjunto

Entre os anos de 1853 data em que o Paranaacute se tornou Proviacutencia a 1889 quando o Brasil se toma repuacuteblica o Paranaacute aumenta sua populaccedilatildeo de 62000 habitantes para 12000013 No periacuteodo de 36 anos entraram no Paranaacute 13 252 14

imigrantes Apesar deste estudo ter eleito como recorte

temporal o seacuteculo XIX utilizamos alguns dados deste seacuteculo para ilustrar a influecircncia do imigrante na populaccedilatildeo paranaense Em 1943 o RAMALHO escreve que 359 da populaccedilatildeo paranaense constituiacutea-se de C ) grupos eacutetnicos europeus Devido a formaccedilatildeo do Estado do Paranaacute podemos afirmar que a grande maioria desta populaccedilatildeo concentrava-se na regiatildeo centro-sudeste do Estado

Outro importante dado de influecircncia do imigrante foi detectado por IANNI referindo-se ao decreacutescimo da populaccedilatildeo negra em comparaccedilatildeo com a populaccedilatildeo branca O autor escreve que em 1872 data em que a proviacutenda comeccedila a maior quantidade de imigrantes os negros e mulatos significavam 45 da populaccedilatildeo 1890 a populaccedilatildeo negra e mulata representava 362 da populaccedilatildeo 16

Em meados deste seacuteculo esta situaccedilatildeo se acentua pois em 1940 o Paranaacute conta com uma populaccedilatildeo de 1228 de natildeo brancos e amarelos decaindo este nuacutemero para 1163 em 1950 sendo que em Curitiba esta situaccedilatildeo se torna mais acentuada contando a cidade em 1950 com 185 de negros e 388 de mulatos Esta queda da populaccedilatildeo negra e mulata segundo o autor vai se acentuando conforme aumenta o iacutendice de imigrantes no Estado 17

dados expostos por IANNI nos faz concluir que desde o iniacutecio da poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute ateacute meados do nosso seacuteculo o Estado na sua grande maioria grupos europeus brancos O decreacutescimo da taxa da populaccedilatildeo negra e mulata em relaccedilatildeo agrave branca poderia natildeo ou ser mais ameno caso a regiatildeo centro-sudeste tivesse recebido quantidade de migrantes de outras localidades do Brasil onde a escravidatildeo foi maior e mais duradoura que no Paranaacute

A centro-sudeste do Paranaacute poderia ter recebido maiores grupos de asiaacuteticos o que consequentemente mudaria a realidade

recogrlJIlB ~VULUL V 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

demograacutefica do local Estes dados mostram o interesse no europeu entre os imigrantistas e tambeacutem um aumento populacional causado pela imigraccedilatildeo o que fazia parte dos planos de poliacutetica imigratoacuteria do impeacuterio e da proviacutencia

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O povoamento do Paranaacute ocorreu recentemente se comparado a outras regiotildees do Brasil natildeo soacute pelos vaacuterios empreendimentos que incentivaram a sua ocupaccedilatildeo atraveacutes de projetos de colonizaccedilatildeo como tambeacutem pelos diferentes vetores do povoamento O paiacutes nessa eacutepoca jaacute contava com uma sociedade formada nas bases europeacuteias Os representantes do impeacuterio os poliacuteticos e os grandes fazendeiros estavam carregados das ideologias dominantes nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX que movidos tanto pela ciecircncia quanto por sua proacutepria formaccedilatildeo soacutecioshyeconocircmica utilizavam de sua influecircncia para o incentivo agrave imigraccedilatildeo no paiacutes

O povoamento da regiatildeo centro-sudeste do Paranaacute obedeceu ao direcionamento poliacutetico das elites dominantes criando-se dentro do plano de incentivo agrave imigraccedilatildeo uma estrateacutegia geopoliacutetica de ocupaccedilatildeo das aacutereas despovoadas que preocupavam o Impeacuterio

Foi atraveacutes deste direcionamento geopoliacutetico que o Paranaacute e principalmente as aacutereas estudadas possui hoje uma formaccedilatildeo peculiar em relaccedilatildeo a outras localidades do Brasil

NOTAS

1 Muitos foram os autores que usaram a expressatildeo branqueamento ao se referir a imigraccedilatildeo no Brasil durante este periacuteodo entre os quais podemos citar WACHOVICZ PILATTI WESTPHALEN C M AZEVEDO entre outros

2 As informaccedilotildees obtidas neste paraacutegrafo tambeacutem podem ser vistas nas obras dos autores citados na nota 1

3 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p 142 4 Michael M Hail Apud MARTINS Joseacute de

Souza A imigraccedilatildeo e a crise do Brasil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira p 175

147

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra shyMedo Branco O Negro no Imaginaacuterio das elites

SeacuteculoXIX Rio de Janeiro Paz e lerra 1987

COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute atraveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo CentroshySudeste Londrina 1998 Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia

DIEGUES JUacuteNIOR Manuel - Imigraccedilatildeo) urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vol 5 1964

IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasil 2a ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972

IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4degSimpoacutesio Nacional de Professores Umversitaacuterios de Histoacuteria 1967

MARTINS Joseacute de Souza A imigraccedilatildeo e a crise do BraSil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira 1973

PILATTI Altiva Bj MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHALEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 2a ed Curitiba Grafipar 1969 v1

PRESA Iraci Girardi Poliacutetica de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o II reinado e sua aplicaccedilatildeo no Paranaacute Satildeo Paulo USP 1975

SAINT HILAIRE Auguste de Wagem a Comarca de Curitiba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964

SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Aligalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

148 LTC([5HtH Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

Page 5: Paraná Geopolítica imigrantista e a formação territorial.pdf

apenas dados que informam a populaccedilatildeo de distritos e comarcas o que natildeo nos permite obter uma visatildeo de conjunto

Entre os anos de 1853 data em que o Paranaacute se tornou Proviacutencia a 1889 quando o Brasil se toma repuacuteblica o Paranaacute aumenta sua populaccedilatildeo de 62000 habitantes para 12000013 No periacuteodo de 36 anos entraram no Paranaacute 13 252 14

imigrantes Apesar deste estudo ter eleito como recorte

temporal o seacuteculo XIX utilizamos alguns dados deste seacuteculo para ilustrar a influecircncia do imigrante na populaccedilatildeo paranaense Em 1943 o RAMALHO escreve que 359 da populaccedilatildeo paranaense constituiacutea-se de C ) grupos eacutetnicos europeus Devido a formaccedilatildeo do Estado do Paranaacute podemos afirmar que a grande maioria desta populaccedilatildeo concentrava-se na regiatildeo centro-sudeste do Estado

Outro importante dado de influecircncia do imigrante foi detectado por IANNI referindo-se ao decreacutescimo da populaccedilatildeo negra em comparaccedilatildeo com a populaccedilatildeo branca O autor escreve que em 1872 data em que a proviacutenda comeccedila a maior quantidade de imigrantes os negros e mulatos significavam 45 da populaccedilatildeo 1890 a populaccedilatildeo negra e mulata representava 362 da populaccedilatildeo 16

Em meados deste seacuteculo esta situaccedilatildeo se acentua pois em 1940 o Paranaacute conta com uma populaccedilatildeo de 1228 de natildeo brancos e amarelos decaindo este nuacutemero para 1163 em 1950 sendo que em Curitiba esta situaccedilatildeo se torna mais acentuada contando a cidade em 1950 com 185 de negros e 388 de mulatos Esta queda da populaccedilatildeo negra e mulata segundo o autor vai se acentuando conforme aumenta o iacutendice de imigrantes no Estado 17

dados expostos por IANNI nos faz concluir que desde o iniacutecio da poliacutetica de imigraccedilatildeo no Paranaacute ateacute meados do nosso seacuteculo o Estado na sua grande maioria grupos europeus brancos O decreacutescimo da taxa da populaccedilatildeo negra e mulata em relaccedilatildeo agrave branca poderia natildeo ou ser mais ameno caso a regiatildeo centro-sudeste tivesse recebido quantidade de migrantes de outras localidades do Brasil onde a escravidatildeo foi maior e mais duradoura que no Paranaacute

A centro-sudeste do Paranaacute poderia ter recebido maiores grupos de asiaacuteticos o que consequentemente mudaria a realidade

recogrlJIlB ~VULUL V 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

demograacutefica do local Estes dados mostram o interesse no europeu entre os imigrantistas e tambeacutem um aumento populacional causado pela imigraccedilatildeo o que fazia parte dos planos de poliacutetica imigratoacuteria do impeacuterio e da proviacutencia

4 CONSIDERACcedilOtildeES FINAIS

O povoamento do Paranaacute ocorreu recentemente se comparado a outras regiotildees do Brasil natildeo soacute pelos vaacuterios empreendimentos que incentivaram a sua ocupaccedilatildeo atraveacutes de projetos de colonizaccedilatildeo como tambeacutem pelos diferentes vetores do povoamento O paiacutes nessa eacutepoca jaacute contava com uma sociedade formada nas bases europeacuteias Os representantes do impeacuterio os poliacuteticos e os grandes fazendeiros estavam carregados das ideologias dominantes nas uacuteltimas deacutecadas do seacuteculo XIX que movidos tanto pela ciecircncia quanto por sua proacutepria formaccedilatildeo soacutecioshyeconocircmica utilizavam de sua influecircncia para o incentivo agrave imigraccedilatildeo no paiacutes

O povoamento da regiatildeo centro-sudeste do Paranaacute obedeceu ao direcionamento poliacutetico das elites dominantes criando-se dentro do plano de incentivo agrave imigraccedilatildeo uma estrateacutegia geopoliacutetica de ocupaccedilatildeo das aacutereas despovoadas que preocupavam o Impeacuterio

Foi atraveacutes deste direcionamento geopoliacutetico que o Paranaacute e principalmente as aacutereas estudadas possui hoje uma formaccedilatildeo peculiar em relaccedilatildeo a outras localidades do Brasil

NOTAS

1 Muitos foram os autores que usaram a expressatildeo branqueamento ao se referir a imigraccedilatildeo no Brasil durante este periacuteodo entre os quais podemos citar WACHOVICZ PILATTI WESTPHALEN C M AZEVEDO entre outros

2 As informaccedilotildees obtidas neste paraacutegrafo tambeacutem podem ser vistas nas obras dos autores citados na nota 1

3 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p 142 4 Michael M Hail Apud MARTINS Joseacute de

Souza A imigraccedilatildeo e a crise do Brasil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira p 175

147

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra shyMedo Branco O Negro no Imaginaacuterio das elites

SeacuteculoXIX Rio de Janeiro Paz e lerra 1987

COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute atraveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo CentroshySudeste Londrina 1998 Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia

DIEGUES JUacuteNIOR Manuel - Imigraccedilatildeo) urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vol 5 1964

IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasil 2a ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972

IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4degSimpoacutesio Nacional de Professores Umversitaacuterios de Histoacuteria 1967

MARTINS Joseacute de Souza A imigraccedilatildeo e a crise do BraSil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira 1973

PILATTI Altiva Bj MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHALEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 2a ed Curitiba Grafipar 1969 v1

PRESA Iraci Girardi Poliacutetica de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o II reinado e sua aplicaccedilatildeo no Paranaacute Satildeo Paulo USP 1975

SAINT HILAIRE Auguste de Wagem a Comarca de Curitiba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964

SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Aligalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

148 LTC([5HtH Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999

Page 6: Paraná Geopolítica imigrantista e a formação territorial.pdf

5 IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4deg Simpoacutesio Nacional de Professores Universitaacuterios de Histoacuteria 1967 p293

6 AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra Medo Branco O Negro no Imaginaacuterio das

elites - Seacuteculo XIX Rio de Janeiro Ed Paz e Terra 1987 p61-62

7 PRESA Iraci Girardi Poliacutedca de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o Il reinado e sua aplicaccedilatildeono Paranaacute Satildeo Paulo USP1975 p357)

8 SAINT ~ HILAIRE Auguste de Viacuteagem a Comarca de Curidba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964 p 31-32

9 PILATTI Altiva B MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHAIJEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 1 voI 2a ediccedilatildeo Grafipar Curitiba 1969 p 160

lOMARTINS Wilson Brasil Diferente p 46 Apud SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Migalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990 p 153

11 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boletim do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974 p 119

12Jdem ref 11 p 121 13 WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a

ed Curitiba Graacutefica Vicentina1988 p122 14 COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute

aLTaveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo Centlosudeste Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia 1998 p 72-76

15 DIEGUES JUacuteNIOR Manuel Imigraccedilatildeogt urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vai 51964 385 p

16 IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasi12a

ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972 p91

17 Idem 15 p91

BIBLIOGRAFIA

AZEVEDO Celia Maria Marinho Onda Negra shyMedo Branco O Negro no Imaginaacuterio das elites

SeacuteculoXIX Rio de Janeiro Paz e lerra 1987

COSTA Daniele R F da Ocupaccedilatildeo do Paranaacute atraveacutes das poliacuteticas imigrantistas - Regiatildeo CentroshySudeste Londrina 1998 Monografia apresentada ao Departamento de Geociecircncias da Universidade Estadual de Londrina para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Geografia

DIEGUES JUacuteNIOR Manuel - Imigraccedilatildeo) urbanizaccedilatildeo e industrializaccedilatildeo Centro Brasiliense de Pesquisas Seacuterie VI Vol 5 1964

IANNI O Raccedilas e classes sociais no Brasil 2a ed Rio de Janeiro Civilizaccedilatildeo Brasileira 1972

IGLEacuteSIAS Francisco Natureza e ideologia do colonialismo no seacuteculo XIX 4degSimpoacutesio Nacional de Professores Umversitaacuterios de Histoacuteria 1967

MARTINS Joseacute de Souza A imigraccedilatildeo e a crise do BraSil agraacuterio Satildeo Paulo Pioneira 1973

PILATTI Altiva Bj MACHADO Brasil Pinheiro WESTPHALEN Ceciacutelia Maria Histoacuteria do Paranaacute 2a ed Curitiba Grafipar 1969 v1

PRESA Iraci Girardi Poliacutetica de imigraccedilatildeo e colonizaccedilatildeo no Brasil durante o II reinado e sua aplicaccedilatildeo no Paranaacute Satildeo Paulo USP 1975

SAINT HILAIRE Auguste de Wagem a Comarca de Curitiba Satildeo Paulo Companhia Editora Nacional 1964

SILVA Marcos A da Repuacuteblica em Aligalhas Histoacuteria Regional e local Ed Marco Zero 1990

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANAacute Anais do coloacutequio de Estudos Regionais comemorativo do I Centenaacuterio da obra de Romaacuterio Martins Boledm do Departamento De Histoacuteria Ndeg 21 Curitiba 1974

WACHOVICZ R C Histoacuteria do Paranaacute 6a ed Curitiba Vicentina 1988

148 LTC([5HtH Londrina v 8 n 2 p 143-148 juldez 1999