Parceiro de Confiança no seu Negócio...um impacte bastante negativo no ambiente, levando ao...
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R e s í d u o s
A I M P O R T Â N C I A D A E C O N O M I A C I R C U L A R N O F I M D E V I D A D O M A T E R I A L C E R Â M I C O
O constante crescimento da população mundial e o desenvolvimento económico levam a que sejam necessários cada vez mais recursos para garantir a sobrevivência do ser humano, bem como os padrões de qualidade de vida por si es-tabelecidos. Assim, consomem-se cada vez mais matérias-pri-mas que se tornam resíduos, pois o atual modelo económico assenta numa visão linear de “extrair-transformar-consumir--descartar”. Continua a ser bastante elevada a dependência das indústrias europeias no que se refere a matérias-primas provenientes de mercados internacionais sendo que, seguin-do o atual ritmo de consumo e tendo em conta a volatilidade de preços, acrescem os riscos para as empresas. Assim, é im-portante que se vejam os resíduos como recursos, de forma a diminuir o risco e a contribuir para a sustentabilidade de forma global.
Em todo o mundo gera-se um volume anual de cerca de 11 mil milhões de toneladas de resíduos, do qual apenas 25% é recuperado e encaminhado para valorização. Na Europa, a taxa média de reciclagem é de 32%, sendo que a meta portu-guesa continua a encontrar-se aquém do esperado (ASWP, 2018).
As taxas de reciclagem baixas traduzem-se em resí-duos enviados para incineração ou aterro, o que para além de ter fortes implicações ambientais, tem também implicações económicas.
Atualmente a Europa perde cerca de 600 milhões de toneladas de resíduos que podiam ser reduzidos, reutilizados ou reciclados, trazendo ganhos de ordem económica para as indústrias (ASWP, 2018).
O consumo de materiais está intimamente relaciona-do com a geração de resíduos, sendo que quanto menor for a produção de resíduos mais eficiente será a economia e a ten-dência deverá passar por aqui, realçando-se aqui a transição para uma economia mais circular.
A prática da inadequada deposição e gestão dos resí-
duos de diferentes setores de atividade teve ao longo dos anos um impacte bastante negativo no ambiente, levando ao agra-vamento dos problemas ambientais e às externalidades nega-tivas associadas (Amin, H.A.Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir, 2016).
Caso a gestão de resíduos seja eficaz e se estes forem vistos como recursos, existirão várias vantagens, como a pou-pança na utilização de recursos, manutenção da biocapacida-de dos serviços de ecossistemas, redução de custos e impactes ambientais no tratamento dos resíduos e contribuição para o desenvolvimento sustentável.
Em Portugal geraram-se, em 2018, cerca de 15,8 mi-lhões de toneladas de resíduos, dos quais cerca de 5,2 milhões correspondem a resíduos urbanos e os restantes 10,6 milhões dizem respeito a resíduos setoriais. Quanto a estes últimos, cerca de 84,9% foi encaminhado para valorização face aos 80,2% dos dois anos anteriores (2014 e 2015) (INE, 2019).
No que toca ao setor da Construção, em 2018 foram gerados 14,3% de resíduos não perigosos (1,3 milhões de tone-ladas) e 2,6% de resíduos perigosos (28,9 mil toneladas) (INE, 2019).
Os materiais de construção tradicionais, nos quais os materiais cerâmicos se incluem, são obtidos a partir da extração de matérias-primas naturais que levam à depleção dos recursos naturais. Para além disso, durante o seu processo de transformação são emitidas substâncias tóxicas, tais como
por Luísa Magalhães , Cr ist iana Ribeiro e Inês Gomes, Associação Smart Waste Portugal
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R. José Afonso, 9 E – 2810-237 Almada – Portugal — Tel. 351.212 586 940 – Fax 351.212 586 959 – E-mail: [email protected] – www.certif.pt
Acreditada pelo IPAC como organismo de certificação de produtos (incluindo Regulamento dos Produtos de Construção), serviços e sistemas de gestão
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monóxido de carbono, óxidos de enxofre, óxidos de azoto e material particulado em elevadas concentrações (Amin, H.A.Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir, 2016).
Os materiais cerâmicos são inorgânicos e encontram--se geralmente divididos em dois grandes grupos: os cerâmi-cos tradicionais e os cerâmicos técnicos ou de engenharia. Os cerâmicos tradicionais podem ser obtidos a partir de três componentes, como sendo a argila, a sílica e o feldspato, dan-do origem a objetos do dia-a-dia como as telhas, porcelana e louça sanitária. Por sua vez, os cerâmicos técnicos são forma-dos por compostos puros ou praticamente puros e podem ser encontrados em facas, ferramentas, painéis de fornos ou para-fusos (Lino, 2006).
Assim, a indústria da cerâmica utiliza uma gama alar-gada de matérias-primas, aditivos, aglutinantes e materiais decorativos, sendo necessário promover a racionalização des-tes materiais, devido ao seu consumo excessivo e ao grau de perigosidade de alguns deles.
Em cada etapa do processo de fabrico dos materiais cerâmicos podem ser apontados os aspetos ambientais a ter em conta.
Durante a extração, receção e armazenamento da ma-téria-prima são emitidos para a atmosfera gases e poeiras, ge-rados resíduos e efluentes líquidos resultantes dos sistemas de pulverização e águas residuais de lavagem. Das etapas da moa-gem, mistura, atomização, conformação, secagem, cozedura e esmaltagem resultam também emissões atmosféricas, efluen-tes líquidos e resíduos da limpeza e manutenção dos moinhos, misturadores, fornos e restantes equipamentos. No processo produtivo são utilizados diversos equipamentos de apoio (cal-deiras, aquecedores de fluidos térmicos, compressores de ar) que têm igualmente a si associados impactes ambientais.
Os resíduos resultantes podem ser divididos em duas categorias: resíduos gerados em indústrias de cerâmica estru-tural que utilizam pasta vermelha nos processos (tijolos, blo-cos e telhas) e resíduos gerados em indústrias de grés cerâmico (azulejos e louça sanitária).
Alguns estudos apontam que durante a produção dos materiais cerâmicos, cerca de 30% do material utilizado dá ori-gem a resíduos que não são valorizados (Awoyera, Ndambuki, & Omole, 2018).
Para a indústria da cerâmica é importante que se en-contrem alternativas ao seu processo de fabrico, já que uma das ameaças ao setor é a contínua exigência das medidas am-bientais. Apesar disso, a emergência do ecodesign e da análi-se do ciclo de vida, das técnicas de produção sustentáveis e das tecnologias limpas, leva a que esta ameaça se transforme numa oportunidade de desenvolvimento e inovação para o
setor, através da promoção de simbioses industriais, trazendo benefícios económicos e ambientais.
A resposta a estas ameaças passa, por exemplo, pela automatização dos processos de adição de matérias-primas, reagentes e outros aditivos que conduz a uma deteção rápida de erros na produção e à minimização dos mesmos, tradu-zindo-se na redução dos custos operacionais e, sobretudo, na prevenção da geração de resíduos, numa perspetiva de econo-mia circular.
A utilização de resíduos cerâmicos em obra pode levar à resolução de problemas de escassez de agregados e à consequente redução dos problemas ambientais associados à deposição final deste tipo de resíduos (Awoyera, Ndambuki, & Omole, 2018).
Por outro lado, as matérias-primas utilizadas no fa-brico dos materiais cerâmicos apresentam uma composição bastante variável, dando origem a produtos heterogéneos. As-sim, estas flutuações permitem a incorporação de diferentes tipos de resíduos, incluindo os próprios resíduos cerâmicos, na estrutura interna de certos materiais, tendo em conside-ração o resíduo como recurso (Andreola, Barbieri, Lancelotti, & Manfredini, 2016).
Ao longo dos anos, vários estudos têm vindo a ser rea-lizados no sentido de desviar os materiais cerâmicos de aterro e promover a sua reutilização e reciclagem.
Amin et al., 2016 citam a utilização do pó de cimen-to dos fornos de cozedura (subproduto do processo) como substituto de uma percentagem do feldspato necessário para o fabrico de azulejos, que os tornam mais porosos e com me-lhores propriedades dielétricas. Citam igualmente a utilização de 20% de resíduos de tijolo para o fabrico de azulejos, tendo os parâmetros de aceitação correspondido aos standards ne-cessários e referem a possibilidade de utilização de resíduos de granito e caulino como alternativas de matérias-primas para a produção de tijolos e azulejos.
Foram também estudadas alternativas aos materiais para os tubos e acessórios de grés cerâmico, tendo-se concluí-do que a adição de vidro à mistura de argila levava a que fosse possível diminuir as temperaturas de cozedura dos materiais e assim reduzir as emissões de gases com efeito de estufa.
A utilização de mistura de resíduos de cerâmica bran-ca e vermelha foi também já estudada em substituição dos materiais utilizados para os tijolos convencionais, tendo-se tornado prática em vários países.
A utilização de resíduos de materiais cerâmicos para a produção de cimento também se encontra amplamente es-tudada. Arenas et al., 2016 estudaram a possibilidade de incor-poração de resíduos cerâmicos de diferentes granulometrias
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para a produção de barreiras acústicas, chegando à conclusão de que o betão reciclado obtido apresentava melhores pro-priedades que o betão convencionalmente utilizado para o mesmo fim.
A economia circular assenta em três princípios que passam pela preservação e aumento do capital natural (isto é, controlar as reservas finitas e equilibrar a utilização de re-cursos renováveis através de conceitos como a recusa e/ou redução, pela utilização de recursos de forma inteligente e promovendo a regeneração dos materiais), pela otimização da produção de recursos (ou seja, recorrendo aos ciclos técnico e biológico, elevar a utilização dos produtos ao máximo, quer seja através de redesign, utilização de ciclos mais curtos e pro-moção de partilha dos mesmos) e pelo fomento da eficácia dos processos (com negócios mais resilientes e inovadores).
Uma vez que o setor da construção (incluindo aqui a cerâmica) resulta no consumo intensivo de matérias-pri-mas e na produção de elevados quantitativos de Resíduos de Construção e Demolição, cuja valorização se encontra sujei-ta a diversos constrangimentos e barreiras à inexistência de uma gestão adequada para este fluxo de resíduos, a Associação Smart Waste Portugal (ASWP) tem vindo a desenvolver pro-jetos junto dos municípios por forma a promover um estudo de caracterização do setor, que contemple a identificação das principais barreiras e consolide um conjunto de recomen-dações ao governo para que haja uma maior valorização dos RCD, através de casos de boas práticas já identificados e ela-boração de catálogos de reciclados, por forma a aumentar a confiança na incorporação destes materiais.
Estas estratégias vão de encontro com a missão da ASWP, que visa a envolvência de todos os agentes do setor através de um trabalho colaborativo, potenciando a economia circular e criando condições para uma maior capacidade de
reação a fatores nacionais e internacionais, de forma compe-titiva, sendo estas temáticas fulcrais para os seus Associados.
Referências Bibliográficas:Amin, S. K., H.A.Sibak, S.A.El-Sherbiny, & Abadir,
M. (2016). An overview of ceramic wastes management in costruction. International Journal of Applied Enginee-ring Research, 2680-2685.
Andreola, F., Barbieri, L., Lancelotti, I., & Man-fredini, C. L. (2016). Recycling of industrial wastes in ce-ramic manufacturing: State of art and glass case studies. Ceramics International, 13333–13338.
Arenas, C., Vilches, L., Leiva, C., Alonso-Fariñas, B., & Rodríguez-Galán, M. (2016). Recycling ceramic in-dustry wastes in sound absorbing materials. Materiales de Construcción.
ASWP, EY-AM&A, 3drivers. (2018). Estudo sobre a Relevância e o Impacto do Setor dos Resíduos em Por-tugal na Perspetiva de uma Economia Circular.
Aveiro, N. d. (26 de novembro de 2018). Grestel desenvolve pasta inovadora a partir de resíduos. Obtido de Notícias de Aveiro: https://www.noticiasdeaveiro.pt/grestel-desenvolve-pasta-inovadora-a-partir-de-resi-duos/
Awoyera, P. O., Ndambuki, J. M., & Omole, J. O. (2018). Characterization of ceramic waste aggregate con-crete. HBRC Journal, 282-287.
INE. (2019). Estatísticas do Ambiente 2018. Lis-boa: Instituto Nacional de Estatística, I.P.
Lino, F. J. (fevereiro de 2006). https://paginas.fe.up.pt/~falves/matceramicos.pdf. Obtido de paginas.fe.up.pt.
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