parnasianismo

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Introdução A Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo . O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apólo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia. Características do Parnasianismo - Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção; - Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos; - Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético; - O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas; - Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto; - Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas; - Preferência pelos sonetos; - Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso; - Uso e valorização da descrição das cenas e objetos. Parnasianismo no Brasil No Brasil, o parnasianismo chegou na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento modernista (Semana de Arte Moderna de 1922 ).

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Introdução 

A Parnasianismo foi um movimento literário que surgiu na França, na metade do século XIX e se desenvolveu na literatura européia, chegando ao Brasil. Esta escola literária foi uma oposição ao romantismo, pois representou a valorização da ciência e do positivismo. 

O nome parnasianismo surgiu na França e deriva do termo "Parnaso", que na mitologia grega era o monte do deus Apólo e das musas da poesia. Na França, os poetas parnasianos que mais se destacaram foram: Théophile Gautier, Leconte de Lisle, Théodore de Banville e José Maria de Heredia.

Características do Parnasianismo

- Objetividade no tratamento dos temas abordados. O escritor  parnasiano trata os temas baseando na realidade, deixando de lado o subjetivismo e a emoção;

- Impessoalidade: a visão do escritor não interfere na abordagem dos fatos;

- Valorização da estética e busca da perfeição. A poesia é valorizada por sua beleza em sí e, portanto, deve ser perfeita do ponto de vista estético;

- O poeta evita a utilização de palavras da mesma classe gramatical em suas poesias, buscando tornar as rimas esteticamente ricas;

- Uso de linguagem rebuscada e vocabulário culto;

- Temas da mitologia grega e da cultura clássica são muito frequentes nas poesias parnasianas;

- Preferência pelos sonetos;

- Valorização da metrificação: o mesmo número de sílabas poéticas é usado em cada verso;

- Uso e valorização da descrição das cenas e objetos.

Parnasianismo no Brasil

No Brasil, o parnasianismo chegou na segunda metade do século XIX e teve força até o movimento modernista (Semana de Arte Moderna de 1922). 

Os principais representantes do parnasianismo brasileiro foram:

- Alberto de Oliveira. Obras principais: Meridionais (1884), Versos e Rimas (1895), Poesias (1900), Céu, Terra e Mar (1914), O Culto da Forma na Poesia Brasileira (1916).

- Raimundo Correia. Obras principais: Primeiros Sonhos (1879), Sinfonias(1883), Versos e Versões(1887), Aleluias(1891), Poesias(1898).

- Olavo Bilac. Obras principais: Poesias (1888), Crônicas e novelas (1894), Crítica e fantasia (1904), Conferências literárias (1906), Dicionário de rimas (1913), Tratado de versificação (1910), Ironia e piedade, crônicas (1916), Tarde (1919).

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- Francisca Júlia. Obras principais: Mármores (1895), Livro da Infância (1899), Esfínges (1903), Alma Infantil (1912).

- Vicente de Carvalho. Obras principais: Ardentias (1885), Relicário (1888), Rosa, rosa de amor (1902), Poemas e canções, (1908), Versos da mocidade (1909), Páginas soltas (1911), A voz dos sinos, (1916).

* Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia formaram a chamada "Tríade Parnasiana".

O Parnasianismo foi vítima da inteligência que construiu a prisão onde quis encarcerar o poeta."

 

  --Rubens B. Morais

Originariamente da França, é a poesia que segue os princípios da estética realista. Apesar disso, ideologicamente os romancistas realistas e naturalistas não tinham exatamente os mesmos propósitos da manifestação poética desta época.

O movimento recebe esse nome por causa de uma antologia, Parnasse Contemporain, publicada a partir de 1866, na França, essa incluía poema de T. Gautier, de Lecomte de Lisle e outros. Esses poemas revelavam gosto da descrição nítida, metrificação tradicional, preocupação formal e um ideal de impessoalidade.

Embora acompanhe cronologicamente a prosa realista, a poesia parnasiana apresenta dificuldades na definição de seu marco inicial. Há quem sugira a data de 1880, quando da publicação de Sonetos e Rimas de Luís Guimarães Júnior (1845/1898). Outros, no entanto, preferem assinalar a de 1882, quando Teófilo Dias publicou Fanfarras. Mas o movimento só se definiu realmente a partir de Sinfonias (1883) de Raimundo Correia, seguida de Meridionais (1884), de Alberto de Oliveira e de Poesias (1888) de Olavo Bilac.

Quanto à data que marca o fim de seu domínio absoluto, parece não haver polêmicas: 1893, com a publicação de Missal e de Broquéis de Cruz e Souza é bastante aceita. Mas a morte do Parnasianismo não acontece, tanto que algumas obras surgem após 1922).

Características

postura anti-romântica objetividade temática arte pela arte culto da forma - representada pelos sonetos, versos alexandrinos (12 sílabas poéticas, rima rica,

rara e perfeita) tentativa de atingir a impassibilidade e a impessoalidade universalismo descrições objetivas da natureza e de objetos retomada da Antiguidade Clássica com seu racionalismo e formas perfeitas surge a poesia de meditação, filosófica - mas artificial

A preocupação exagerada com o poema, tratando-o como produto concreto, final, acabado em que se deposita toda a importância; o afã na construção do objeto, deixando de lado o conteúdo, o sentimento poético, tudo isso parece um reflexo do processo de produção mecânica acelerada em que a época vivia, transformando até o próprio homem em mais um objeto de consumo.

O poeta é um ourives, um escultor, um carpinteiro, e a sua obra, o seu poema é também um produto material, como qualquer outro, onde o que importa não é o sentimento, mas sim a técnica, a capacidade artesanal do criador devidamente associada a seu esforço.

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Autores

Olavo Bilac (1865/1918)

Formação em Medicina, o menino Bilac teve sua infância povoada de histórias de batalhas e hinos militares, pois seu pai participara da Guerra do Paraguai. Após 1888, com a publicação de Poesias, passa a dedicar-se ao jornalismo e à literatura.

Defendeu o serviço militar obrigatório, como fator de civismo, e alfabetização. Foi um patriota convicto; é dele a letra do Hino à Bandeira. Foi defensor do abolicionismo e da República e colocou-se contra a ditadura de Floriano Peixoto (exilado em Ouro Preto por suas críticas). Foi contra a neutralidade do Brasil na guerra de 1914. Sempre escreveu para a imprensa, tendo colaborado no jornal A Gazeta de Notícias e em revistas: A Semana, A Cigarra etc.

Único parnasiano que já se iniciou na estética do movimento, Bilac foi um dos fundadores da A.B.L.; foi eleito Príncipe dos Poetas Brasileiros.

Obras Principais:

A sua poesia pode ser dividida em temas: o volta a Antiguidade Clássica - Panóplias= armadura de um cavaleiro medieval, “A

Sesta de Nero”, “O Incêndio de Roma”, “Lendo a Ilíada” e outros. o lirismo - 35 sonetos de Via Lácteao lirismo mais sensualista - soneto “Nel Mezzo del Camin... (cheio de pleonasmos e

inversões)o filosófico, de meditação - Alma Inquieta e Viagenso épico - no poema “O Caçador de Esmeraldas”, de Viagens (bandeirantes em terras

mineiras)o descritivo e nacionalista - “Crepúsculo na Mata” (descritivo), “Anchieta” e “Vila Rica”

(volta ao passado histórico)o “Tarde” é o soneto da consciência do fim, proximidade da morte - crepúsculo do poeta

Prosa

Crônicas e Novelas (1894), Crítica e Fantasia (1904), Contos Pátrios (1905, em colaboração), Teatro Infantil (1905), Tratado de Versificação (1905, em colaboração com Guimarães Passos)

Conferências Literárias (1906), A Defesa Nacional (1917, discursos), Ironia e Piedade (1916), Bocage (1917), Últimas Conferências e Discursos (1927), Livro de Leitura (1899).

A mulher e a pátria são temas constantes na obra de Bilac.

Coerente com sua postura estética, sua forma é perfeita, demonstrando habilidade de versificação e pureza da língua. Sua poesia é superficial como visão do homem, pois se detém na camada superficial das cores, dos sons, das combinações plásticas sem mergulhar nas angústias e prazeres do ser humano.

  Via Láctea - Soneto XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! CertoPerdeste o senso!" Eu vos direi, no entanto,Que, para ouvi-las, muita vez despertoE abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquantoA via láctea, como um pálio aberto,Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,Inda as procuro pelo céu deserto.

 

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Direis agora: "Tresloucado amigo!Que conversas com elas? Que sentidoTem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!Pois só quem ama pode ter ouvidoCapaz de ouvir e de entender estrelas."

  --Bilac

Alberto de Oliveira (1857/1937)

Formação em medicina, mantém profunda amizade com Olavo Bilac e Raimundo Correia. É um dos sócios fundadores da ABL, sendo também eleito Príncipe dos Poetas após a morte de Bilac.

Sempre permaneceu fiel ao Parnasianismo e à margem dos acontecimentos históricos. É considerado mestre nessa estética, com sua temática presa à descrição, desde a natureza até meros objetos, exaltando-lhes a forma. Perfeição formal, métrica rígida e linguagem extremamente trabalhada, chegando, por vezes, ao rebuscamento.

Obras Principais:

Estreou em 1878 com as Canções Românticas de inspiração romântica, como bem demonstra o título, mas em 1884 publica o seu segundo livro, Meridionais, em que se confessa adepto do Parnasianismo.

Suas obras principais são: Sonetos e Poemas (1885), Versos e Rimas (1895), Poesias Completas (1900), Poesias (quatro séries até 1927), Poesias Escolhidas (1913).

Sua obra revela uma gradativa evolução, passando de uma linguagem difícil, vinculada aos temas exóticos de mitologia greco-latina para uma linguagem mais clara e ligada aos temas brasileiros. Revela um gosto especial pela descrição, como nos poemas “O Muro”, “A Estátua”, “O Vaso Grego” etc. Em sua obra, a mulher e a natureza são vistas a partir de uma concepção estética muito rígida.

  Vaso Grego

Esta, de áureos relevos, trabalhadaDe divas mãos, brilhante copa, um dia,Já de aos deuses servir como cansada,Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendiaEntão e, ora repleta ora esvazada,A taça amiga aos dedos seus tiniaToda de roxas pétalas colmada.Depois. Mas o lavor da taça admira,Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordasFinas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga liraFosse a encantada música das cordas,Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

 

  --Alberto Oliveira

Raimundo Correia (1860/1911)

Formação em Advocacia, lecionou em quase toda a vida. Tem seu livro Sinfonias (1883), completamente parnasiano, publicado com prefácio de Machado de Assis. Também é sócio fundador da ABL.

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Era tímido e triste, sua saúde era debilitada, tendo viajado para a França, à procura de tratamento, quando lá encontrou a morte. Poema-epíteto: “As Pombas”.

Forma a Trindade Parnasiana com Bilac e Alberto de Oliveira. Mantém assim a temática do movimento, destacando-se a poesia filosófica, de meditação, marcada pela desilusão, o fim do sonho e um forte pessimismo. Tem fortes influências impressionistas.

Obras Principais:

Estreou com um livro de inspiração romântica, Primeiros Sonhos (1879) Firmando-se como parnasiano a partir de Sinfonias(1883). Outras obras: Versos e Versões (1887), Aleluias (1891), Poesias (1898), Luciano Filho (1898 -

ensaio).

Afirmam que Raimundo Correia versejava com tanta facilidade que chegava a escrever em verso as cartas aos familiares. Seus poemas revelam influência do pessimismo de Schopenhauer. A sua percepção negativa do mundo pode ser vista principalmente em “Nirvana”, “Imagem da Dor”, “Desiludido”.

  As Pombas

Vai-se a primeira pomba despertada...Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas,De pombas vão-se dos pombais, apenasRaia sangüínea e fresca a madrugada...

E à tarde, quando a rígida nortadaSopra, aos pombais de novo elas, serenas,Ruflando as asas, sacudindo as penas,Voltam todas em bando e em revoada...Também dos corações onde abotoam,Os sonhos, um por um, céleres voam,Como voam as pombas dos pombais;

No Azul da adolescência as asas soltam,Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,E eles aos corações não voltam mais. ..

 

  --Raimundo Correia

Vicente de Carvalho (1860/1911)

Formação em Direito, era republicano e abolicionista. Foi político, advogado e magistrado. Além disso, dedicou-se à agricultura e ao comércio. Ficou sendo conhecido como "O poeta do mar".

Obras Principais:

Com muitos outros, estreou com a obra romântica Ardentias, em 1885. A partir de Relicário (1888), revela-se um parnasiano não muito escravo das limitações da escola. Essa postura independente livra-o das tendências para a arqueologia e curiosidades históricas, e lhe confere um sentimento vivo da natureza e um senso amoroso que faz lembrar o exemplo tradicional português.

Rosa, Rosa de Amor (1902), Poemas e Canções (1908), em prosa, escreveu ainda Páginas Soltas (1911) e Luizinha, comédia (seguida de contos), 1924.

Textos

  Profissão de Fé  

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Le poète est ciseleur.Le ciseleur est poète.

  --Victor Hugo

Não quero o Zeus Capitolino,Hercúleo e belo,Talhar no mármore divinoCom o camartelo.

Que outro — não eu! a pedra cortePara, brutal,Erguer de Atene o altivo porteDescomunal.

Mais que esse vulto extraordinário,Que assombra a vista,Seduz-me um leve relicárioDe fino artista.

Invejo ourives quando escrevo:Imito o amorCom que ele, em ouro, o alto relevoFaz de uma flor.

Imito-o. E, pois, nem de CarraraA pedra firo:O alvo cristal, a pedra rara,O oníx prefiro.

Por isso, corre, por servir-me,Sobre o papelA pena, como em prata firmeCorre o cinzel.

Corre; desenha, enfeita a imagem,A idéia veste:Cinge-!he ao corpo a ampla roupageAzul-celeste.

Torce, aprimora, alteia, limaA frase; e, enfim,No verso de ouro engasta a rima,Como um rubim.

Quero que a estrofe cristalinaDobrada ao jeitoDo ourives, saia da oficina.Sem um defeito:

E que o lavor do verso, acaso,Por tão subtil,Possa o lavor lembrar de um vasoDe Becerril.

E horas sem conto passo, mudo,O olhar atento,A trabalhar, longe de tudoO pensamento.

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Porque o escrever — tanta perícia,Tanta requer,Que ofício tal... nem há notíciaDe outro qualquer.

Assim procedo. Minha penaSegue esta norma,Por te servir. Deusa serena.Serena Forma!(...)

Ver esta língua, que cultivo,Sem ouropéis,Mirrada ao hálito nocivoDos infiéis!...

Não! Morra tudo que me é caro,Fique eu sozinho!Que não encontre um só amparoEm meu caminho!

Que minha dor nem a um amigoInspire dó...Mas, ah! que eu tique só contigoContigo só!

Vive! que eu viverei, servindoTeu culto, e, obscuro,Tuas custódias esculpindoNo ouro mais puro.

Celebrarei o teu ofícioNo altar: porém,Se ainda é pequeno o sacritício,Morra eu também!

Caia eu também, sem esperança,Porém tranqüilo,Inda, ao cair, vibrando a lança,Em pro! do Estilo!Rio de Janeiro, junho de 1886