Parte Paper Ape - Stalin Roosevelt

3
Em 1945, Estados Unidos e União Soviética eram aliados, ambos vencedores da Segunda Guerra Mundial, cujo desfecho culminou na vitória dos exércitos soviéticos e americanos frente às forças nazistas de Hitler. Mas poucos anos depois, os antigos aliados de guerra se tornariam inimigos ferozes, engajados em uma luta global pela supremacia militar, política, econômica e ideológica, a qual ficou conhecida como Guerra Fria. Divergências acerca de quem, de fato, teria “começado” a Guerra Fria existem até os dias atuais e deram origem a diversas correntes de pensamento. Teriam sido os soviéticos, ao não cumprir os acordos sobre a autodeterminação dos povos da Europa do Leste e ao impor o regime comunista nesses territórios? Ou os americanos, que ignoraram as preocupações de segurança legítimas dos soviéticos, ao intimidar o mundo com a bomba atômica, e ao buscar a expansão massiva da influência norte-americana e do capitalismo nos moldes estadunidenses? As tensões que iriam posteriormente resultar na Guerra Fria se tornaram evidentes em 1943, quando os três mais importantes líderes aliados, Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill e Josef Stalin se encontraram em Teerã com a intenção de coordenarem suas estratégias geopolíticas. Nesse encontro, a Polônia, situada geograficamente entre Alemanha e União Soviética, foi o ponto central de divergência entre os líderes mundiais. A principal divergência se deu a respeito de qual grupo político deveria controlar o país após a Segunda Guerra Mundial, na medida em que Stalin apoiava o Partido Comunista polonês enquanto que Churchill e Roosevelt sustentavam que o povo polonês tinha direito de escolher sua forma de governo. A posição de Stalin se justificava na medida em que a questão polonesa estava diretamente relacionada a interesses de segurança vitais para a União Soviética. Isso se deve ao fato de que a Alemanha tinha invadido a Rússia via território polonês duas vezes desde 1914, e mais de vinte milhões de soviéticos morreram na Segunda Guerra Mundial. Logo, Stalin estava decidido a garantir que invasões alemãs ao seu território não mais aconteceriam, e insistia que só uma Polônia comunista, preferencialmente sob o espectro da União Soviética, poderia funcionar como uma nação-tampão contra futuras agressões vindas do

description

stalin roosevelt

Transcript of Parte Paper Ape - Stalin Roosevelt

Page 1: Parte Paper Ape - Stalin Roosevelt

Em 1945, Estados Unidos e União Soviética eram aliados, ambos vencedores da Segunda Guerra Mundial, cujo desfecho culminou na vitória dos exércitos soviéticos e americanos frente às forças nazistas de Hitler. Mas poucos anos depois, os antigos aliados de guerra se tornariam inimigos ferozes, engajados em uma luta global pela supremacia militar, política, econômica e ideológica, a qual ficou conhecida como Guerra Fria.

Divergências acerca de quem, de fato, teria “começado” a Guerra Fria existem até os dias atuais e deram origem a diversas correntes de pensamento. Teriam sido os soviéticos, ao não cumprir os acordos sobre a autodeterminação dos povos da Europa do Leste e ao impor o regime comunista nesses territórios? Ou os americanos, que ignoraram as preocupações de segurança legítimas dos soviéticos, ao intimidar o mundo com a bomba atômica, e ao buscar a expansão massiva da influência norte-americana e do capitalismo nos moldes estadunidenses?

As tensões que iriam posteriormente resultar na Guerra Fria se tornaram evidentes em 1943, quando os três mais importantes líderes aliados, Franklin D. Roosevelt, Winston Churchill e Josef Stalin se encontraram em Teerã com a intenção de coordenarem suas estratégias geopolíticas. Nesse encontro, a Polônia, situada geograficamente entre Alemanha e União Soviética, foi o ponto central de divergência entre os líderes mundiais. A principal divergência se deu a respeito de qual grupo político deveria controlar o país após a Segunda Guerra Mundial, na medida em que Stalin apoiava o Partido Comunista polonês enquanto que Churchill e Roosevelt sustentavam que o povo polonês tinha direito de escolher sua forma de governo.

A posição de Stalin se justificava na medida em que a questão polonesa estava diretamente relacionada a interesses de segurança vitais para a União Soviética. Isso se deve ao fato de que a Alemanha tinha invadido a Rússia via território polonês duas vezes desde 1914, e mais de vinte milhões de soviéticos morreram na Segunda Guerra Mundial. Logo, Stalin estava decidido a garantir que invasões alemãs ao seu território não mais aconteceriam, e insistia que só uma Polônia comunista, preferencialmente sob o espectro da União Soviética, poderia funcionar como uma nação-tampão contra futuras agressões vindas do Ocidente. A posição adotada pelo líder soviético, portando, ia de encontro àquelas defendidas por Roosevelt e Churchill, os quais, possivelmente influenciados por valores de autodeterminação, sustentavam que os poloneses deveriam ter permissão para escolher se queriam ou não se tornar um país satélite da URSS.

Em Teerã e também na conferencia de Yalta, realizada na Criméia em 1945, os líderes das potências vencedoras dos Estados Unidos, da União Soviética e do Reino Unido puderam realizar acordos importantes, abrangendo a resolução de litígios fronteiriços, a criação das Nações Unidas e a organização de ocupações na Alemanha e no Japão, por exemplo. Mas a Polônia permaneceu um incômodo e grave problema. Na conferência de Yalta, Stalin, argumentando que a Polônia era uma questão vital para a URSS, conseguiu convencer Churchill e Roosevelt a aceitar um governo comunista provisório no território polonês. Em troca desse apoio, Stalin deveria assinar a vaga “Declaração sobre a Europa Libertada”, comprometendo-se a apoiar decisões democráticas no continente.  

Por fim, os acordos de Yalta representaram muito mais as desavenças ideológicas existentes entre os líderes mundiais supracitados, do que um compromisso efetivo entre os mesmos. Stalin deixou a Criméia satisfeito de que tinha conseguido a aceitação dos líderes anglo-americanos acerca do controle soviético da Europa Oriental, Roosevelt e Churchill deixaram o encontro acreditando que tinham convencido Stalin sobre a validade do princípio da autodeterminação. Porém as duas partes do acordo se

Page 2: Parte Paper Ape - Stalin Roosevelt

revelariam mutuamente excludentes e futuras disputas sobre a problemática dos acordos de Yalta seriam não apenas prováveis, mas virtualmente inevitáveis.

A possibilidade de um futuro conflito seria agravada em 12 de abril de 1945 quando o presidente Roosevelt falece inesperadamente devido a uma hemorragia cerebral, tornando o seu vice presidente, Harry Truman, o  novo presidente dos Estados Unidos. Truman via as intervenções soviéticas na Europa Oriental como violações claras dos acordos de Yalta, e como subsequente prova da desonestidade de Stalin. Dessa forma, Truman passaria a adotar uma posição muito mais linha-dura no que tange às medidas expansionistas soviéticas, colocando a contenção do comunismo que marcaria a Guerra Fria do ponto de vista americano no centro da política externa da potência ocidental.  

O debate acerca de quem foi o responsável pelo início da Guerra Fria é extenso. Nos anos 1960 uma nova geração de historiadores revisionistas ofereceu uma interpretação substancialmente diferente da anterior, que culpava em grande parte Stalin e seu expansionismo pelo início da Guerra Fria. De modo bastante resumido, segundo a visão revisionista Stalin estaria mais interessado em proteger a União Soviética do que em expandir a dominação comunista pelo mundo. E os americanos teriam erroneamente interpretado a insistência legítima de Stalin por um Estado tampão polonês como um indicador de um desejo soviético pela conquista global. Nesse sentido, os subsequentes esforços agressivos dos EUA para conter a influência da URSS e para intimidar os soviéticos com a bomba atômica, somados com a busca pela expansão do capitalismo pelo mundo, teriam sido os verdadeiros responsáveis pelo início da Guerra Fria.

Referencias:

texto de nye sobre a guerra fria que vc mandou