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49 apontam para números impressionantes, da ordem das 5x10 10 t/ano de várias substâncias geológicas, o que significa que a interferência do Homem no geossiste- ma global corresponde já a valores superiores aos da geração de novo material crustal nas cristas de expan- são oceânica ou aos da formação de montanhas e ero- são. Das consequências de tal facto ninguém pode ainda adiantar resposta credível, ignorância que é, no mínimo, motivo de séria apreensão. Graças ao progresso científico das últimas décadas, em particular nos ramos das Geociências, sabe-se que os recursos minerais, ou, de forma mais abrangente, recursos geológicos, mesmo aqueles que ocorrem em quantidades diminu- tas, devem ser entendidos como produtos normais de processos do ciclo geológico e não particularida- des ou “caprichos” da Natureza, de ocorrência aleatória. Sempre que determinados factores se conjugam, o fenómeno mineralizante aconte- ce. A intensidade do mesmo é que varia de caso para caso, podendo, em consequência, formar-se desde a simples ocorrência mineral até ao depósito de enormes dimensões. Assim, muito embora haja impor- tantes lacunas de conhecimento nos complexos sistemas metalogenéti- cos que ocorrem no interior da crusta terrestre, a verdade é que es- tão já relativamente bem definidos e caracterizados os ambientes físi- cos onde a generalidade dos dife- rentes tipos de jazigos minerais se encontram. om a escalada das mudanças que vêm revolucio- nando a civilização actual, decorrentes, em gran- de medida, das novas tecnologias da informação, da biotecnologia, dos novos materiais e da maior e me- lhor percepção da vulnerabilidade do ambiente natu- ral, muitos parecem esquecer-se de que praticamente todas as substâncias necessárias à saúde e prosperida- de provêm da Terra. Tais substâncias, genericamente apelidadas de recursos não renováveis, estão, sempre estiveram, directa ou indirectamen- te envolvidas nos processos produ- tivos, desde a mais rudimentar indústria do homem pré-histórico, até ao fabrico de vestuário, do pa- pel, dos modernos materiais com- pósitos e cerâmicas ou da ultra-so- fisticada optoelectrónica. Por para- doxal que pareça, até a mera pro- dução de bens alimentares, típicos recursos renováveis, é hoje, cada vez mais, dependente do consumo de recursos não renováveis, tradu- zido em equipamento, energia, fer- tilizantes e outros produtos químicos. A indispensabilidade dos recursos para a vida é bem patente nas mais diversas estatísticas. De 1900 a 1970 a população mundial cresceu cerca de 2,3 vezes, mas, em contrapartida, o consumo de mine- rais aumentou 12 vezes. Por outro lado, os números actuais indicam que estão a ser extraídas, por ano e por pessoa, cerca de 10 toneladas de material da crusta terrestre, do qual 30% é rejeitado e depositado algures como estéril. Tais valores quando computados à escala global, O conhecimento que tivermos da Base de Recursos que a Geologia e a História nos legaram e o modo como a soubermos explorar e aproveitar serão, como sempre foram, factores determinantes de progresso e bem estar social. PASSADO E FUTURO DOS RECURSOS MINERAIS EM PORTUGAL DELFIM DE CARVALHO C Licenciado em Ciências Geológicas (FCUL), Delfim de Carvalho obteve formação pós-graduada em Geologia Económica na Universidade do Arizona, participou em vários projectos de prospecção mi- neira e teve contribuição activa na descoberta de depósitos minerais. Formulou e desenvolveu mo- delos metalogénicos orientadores da prospecção e pesquisa de jazigos de sulfuretos polimetálicos. É autor ou co-autor de várias dezenas de trabalhos em livros e revistas, publicados no país e no es- trangeiro. Conferencista convidado em Portugal, Espanha, Bélgica, Japão e EUA, delegado nacional no Programa “Matérias-Primas” da CEE, é perito avaliador de programas internacionais de inves- tigação. Investigador-Coordenador (IGM) e Profes- sor Convidado de Geologia Económica na Universidade Nova de Lisboa, foi Director dos Ser- viços Geológicos de Portugal de 1978 a 1992. Os recursos são como o ar, sem grande importância até se sentir a sua falta (anónimo)

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apontam para números impressionantes, da ordem das5x1010 t/ano de várias substâncias geológicas, o quesignifica que a interferência do Homem no geossiste-ma global corresponde já a valores superiores aos dageração de novo material crustal nas cristas de expan-são oceânica ou aos da formação de montanhas e ero-são. Das consequências de tal facto ninguém podeainda adiantar resposta credível, ignorância que é, nomínimo, motivo de séria apreensão.

Graças ao progresso científicodas últimas décadas, em particularnos ramos das Geociências, sabe-seque os recursos minerais, ou, deforma mais abrangente, recursosgeológicos, mesmo aqueles queocorrem em quantidades diminu-tas, devem ser entendidos comoprodutos normais de processos dociclo geológico e não particularida-des ou “caprichos” da Natureza, deocorrência aleatória. Sempre quedeterminados factores se conjugam,o fenómeno mineralizante aconte-ce. A intensidade do mesmo é quevaria de caso para caso, podendo,em consequência, formar-se desdea simples ocorrência mineral até aodepósito de enormes dimensões.Assim, muito embora haja impor-tantes lacunas de conhecimento noscomplexos sistemas metalogenéti-cos que ocorrem no interior dacrusta terrestre, a verdade é que es-tão já relativamente bem definidose caracterizados os ambientes físi-cos onde a generalidade dos dife-rentes tipos de jazigos minerais seencontram.

om a escalada das mudanças que vêm revolucio-nando a civilização actual, decorrentes, em gran-de medida, das novas tecnologias da informação,

da biotecnologia, dos novos materiais e da maior e me-lhor percepção da vulnerabilidade do ambiente natu-ral, muitos parecem esquecer-se de que praticamentetodas as substâncias necessárias à saúde e prosperida-de provêm da Terra. Tais substâncias, genericamenteapelidadas de recursos não renováveis, estão, sempreestiveram, directa ou indirectamen-te envolvidas nos processos produ-tivos, desde a mais rudimentarindústria do homem pré-histórico,até ao fabrico de vestuário, do pa-pel, dos modernos materiais com-pósitos e cerâmicas ou da ultra-so-fisticada optoelectrónica. Por para-doxal que pareça, até a mera pro-dução de bens alimentares, típicosrecursos renováveis, é hoje, cadavez mais, dependente do consumode recursos não renováveis, tradu-zido em equipamento, energia, fer-til izantes e outros produtosquímicos. A indispensabilidade dosrecursos para a vida é bem patentenas mais diversas estatísticas. De1900 a 1970 a população mundialcresceu cerca de 2,3 vezes, mas, emcontrapartida, o consumo de mine-rais aumentou 12 vezes. Por outrolado, os números actuais indicamque estão a ser extraídas, por anoe por pessoa, cerca de 10 toneladasde material da crusta terrestre, doqual 30% é rejeitado e depositadoalgures como estéril. Tais valoresquando computados à escala global,

O conhecimento que tivermos da Base de Recursos que a Geologia e a História noslegaram e o modo como a soubermos explorar e aproveitar serão, como sempre foram,

factores determinantes de progresso e bem estar social.

PASSADO E FUTURO DOS RECURSOSMINERAIS EM PORTUGAL

DELFIM DE CARVALHO

C

Licenciado em Ciências Geológicas (FCUL), Delfimde Carvalho obteve formação pós-graduada em Geologia Económica na Universidade do Arizona, participou em vários projectos de prospecção mi- neira e teve contribuição activa na descoberta de depósitos minerais. Formulou e desenvolveu mo- delos metalogénicos orientadores da prospecção e pesquisa de jazigos de sulfuretos polimetálicos. É autor ou co-autor de várias dezenas de trabalhos em livros e revistas, publicados no país e no es- trangeiro. Conferencista convidado em Portugal, Espanha, Bélgica, Japão e EUA, delegado nacionalno Programa “Matérias-Primas” da CEE, é perito avaliador de programas internacionais de inves- tigação. Investigador-Coordenador (IGM) e Profes- sor Convidado de Geologia Económica na Universidade Nova de Lisboa, foi Director dos Ser- viços Geológicos de Portugal de 1978 a 1992.

Os recursos são como o ar, sem grande importânciaaté se sentir a sua falta

(anónimo)

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O progresso na compreensão da tectónica global,essencialmente derivado da teoria da tectónica de pla-cas a partir da década de 60, conjugado com os inú-meros dados sobre a tipologia e distribuiçãoespaço-temporal dos diferentes jazigos minerais, emparticular nas cadeias orogénicas de formação recen-te, e com os resultados do estudo de sistemas minera-lizantes activos nos limites de placas oceânicas, levouà conclusão de que a cada ambiente geotectónico es-tão associados determinados tipos de recursos geoló-gicos. Por outro lado, tudo leva a crer que osmecanismos da tectónica global, consequência da li-bertação da energia do interior da Terra, terão, no es-sencial, sempre actuado de forma semelhante, vindotais ambientes a ser, pelo menos desde o Proterozói-co (2500 Ma), ciclicamente gerados ao longo dos tem-pos geológicos.

A definição tipológica e a sistematização dos jazi-gos à escala global, bem como o conhecimento dos res-pectivos enquadramentos geológicos, fazem com que,uma vez conhecida a geologia de determinada região,caracterizados os materiais que nela ocorrem, defini-dos que sejam o respectivo ambiente geotectónico eo nível de erosão actual, ou seja, em síntese, a históriageológica dessa região, fácil se torna aplicar as técni-cas de análise predictiva e estimar a sua potencialida-de em recursos. É, assim, possível obter, com elevadasegurança, dados fundamentais quanto à previsibilida-de sobre quais as substâncias possíveis, tipo de jazidas,e, até mesmo, as gamas de teores mais prováveis e ograu de dificuldade na descoberta de eventuais jazigosminerais que em tal região possam existir.

Assim, se, por exemplo, se pretender saber porquerazão um granito formado numa cadeia de montanhascomo a dos Andes tem um cortejo de mineralizaçõesassociadas bem distinto dum outro granito gerado nu-ma cadeia do tipo Himalaias, muita teoria e grande so-ma de dados de petrogeoquímica, de geologiaisotópica, ou de metalogenia poderiam ser adiantadospara tentar explicar tal facto. Mas, se a resposta plena-mente convincente ainda não é, para alguns autores,possível de obter, o mesmo não aconteceria, porém,se a questão fosse a de prever o potencial duma áreagranítica, representada num mapa geológico da qualse conhece com adequado rigor a história geológicae, eventualmente, a história mineira. É a aplicação dateoria e da análise global dos dados a funcionar comoeficaz instrumento prático de inestimável valor. Comefeito, o conhecimento da evolução geotectónica du-ma região resulta da integração de múltipla informa-ção de diferentes domínios das geociências, podendoalguma dela ser, só por si, determinante e secundari-zar a relevância de outra, conhecida ou desconheci-da. É o que vem já, por sistema, a ser praticado nosgabinetes de planeamento de prospecção e pesquisa derecursos geológicos das empresas e organismos moder-nos, com recursos às tecnologias da informação, à mo-delação matemática e simulação. Porém, se tais dados

de base não existirem tudo ficará bloqueado à partida.Todavia, a história geológica da maioria dos terre-

nos antigos pode ser complexa e difícil de desvendarpor terem sido submetidos a profundas transformaçõesem diferentes ciclos orogénicos. Curiosamente, casoshá em que são, inclusive, as próprias mineralizaçõesque ajudam a inferir os ambientes geotectónicos, talé a especificidade da sua formação e modo de ocor-rência.

Processos geradores de recursos minerais

No âmbito destas genéricas considerações introdu-tórias, parece ajustado lembrar, em traços muito ge-rais, os principais processos de formação de recursosminerais. Resumidamente, pode dizer-se que os depó-sitos minerais resultam da concentração de um ou maisminerais por uma das seguintes vias:

1. Concentração devida à diferenciação por cristaliza-ção fraccionada de um magma. Tal diferenciação, apartir de magma basáltico de baixa viscosidade, podeacontecer quando os primeiros minerais formadosconstituem fases mais densas, as quais se afundam ra-pidamente no líquido e acumulam na parte inferior dacâmara magmática. São os casos da cromite, platina eplatinóides, por exemplo. Em contrapartida, a crista-lização fraccionada de um magma granítico pode ge-rar uma fracção residual, fundida, progressivamenteenriquecida em elementos químicos não integrados nosminerais que se foram formando. A separação e pos-terior cristalização dessa fracção vai originar rochas ri-cas nesses elementos. Estão neste caso, os pegmatitosque podem conter berilo, nióbio, césio, tântalo, urâ-nio, lítio e outros elementos menores muito raros. Es-tes grupos de mineralizações associam-se,respectivamente, às fases “proto” e “tardi” da evolu-ção magmática propriamente dita e tomam a designa-ção de depósitos minerais magmáticos.

2. Concentração por precipitação a partir de fluidosaquosos quentes que percorrem fracturas ou espaçosintergranulares das rochas, dando enorme variedadede elementos metálicos, designadamente: cobre, zin-co, chumbo, prata, ouro, estanho, volfrâmio, molib-dénio, etc. A água dos fluidos pode ter, conforme oscasos, uma ou mais proveniências (magmática, meta-mórfica, fóssil, meteórica ou água do mar) e atingir sa-linidades relativamente elevadas. Tais fluidosconstituem soluções hidrotermais, as quais se compor-tam como que salmouras quentes e ricas em metais.A precipitação pode ocorrer devida à queda da tem-peratura ou da pressão, à ocorrência de ebulição dofluido ou a reacções de equilíbrio entre este e a rochaencaixante por onde passa. Ocorrem predominante-mente em filões, filonetes ou em massas lenticularese tomam a designação genérica de depósitos hidro-termais.

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3. Concentração por precipitação dos elementos trans-portados em solução nas águas de lagos ou na água ma-rinha em bacias circunscritas, dando origem aosdepósitos sedimentares, tais como: gesso, evapori-tos (ClNa, ClK, Co3Na2) e vários jazigos de ferro. Es-tas concentrações formam-se concomitantemente comos processos de sedimentação em camadas concordan-tes com os estratos.

4. Concentração hidrogravítica de minerais densos oude metais a partir de águas em movimento de rios eriachos formando “placers”; são bem conhecidos oscasos do ouro, diamantes, cassiterite, zircão, terras--raras, etc.

5. Concentração por alteração meteórica provocadapelas águas das chuvas, dando origem aos depósitosresiduais. Caso das bauxites donde se extrai o alumí-nio, as laterites niquelíferas, etc. A alteração meteóri-ca pode também destruir jazigos, como foi o caso deChança, a norte de S. Domingos, ou transformar mine-ralizações sub-económicas em jazigos rentáveis devi-do à formação de minerais supergénicos, muito maisricos em metal do que os minerais primários de quederivaram. Tal aconteceu em vários depósitos de co-bre noutros países, e em Portugal no pequeno jazigode zinco calaminar de Vila Ruiva (Moura) já explorado.

6. Formação de combustíveis fósseis por:– Concentração de matéria orgânica (fito e zooplanc-ton) em sedimentos e em rochas sedimentares mari-nhas que, por decomposição química, pode gerarhidrocarbonetos (óleo e gás) em “rochas-mãe”, osquais podem migrar e ser retidos em armadilhas natu-rais “rochas-reservatório”.– Acumulação de restos de plantas em pântanos e ba-cias sedimentares continentais que por incarbonização,devida à evolução diagenética ou a metamorfismo, dãocarvão, ou seja, uma rocha composta por mais de 50%,em peso, de matéria orgânica.

Os depósitos ou jazidas minerais assim formadospodem, quando economicamente exploráveis, cons-tituir jazigos e dar lugar a minas de lavra subterrâneaou a céu aberto para exploração do minério, normal-mente constituído por minerais úteis e ganga. O mi-nério é geralmente concentrado nas instalações damina (operações mineralúrgicas) e ganha valor comer-cial, mas do concentrado ao metal praticamente puropode haver um longo caminho a percorrer, passandopor processos metalúrgicos, mais ou menos comple-xos, casos do cobre, do tungsténio e de tantos outros.

Para os minerais não metálicos as etapas do pro-cesso produtivo desde a mina à utilização final são,quase sempre, mais simples e em menor número, e ca-sos há em que o produto tal qual extraído pode ser di-rectamente aplicado na indústria transformadora, porexemplo o sal-gema, enxofre, carvão, etc.

A exploração dos hidrocarbonetos faz-se por po-ços de produção, com ou sem bombagem, e a extrac-

ção de sal-gema pode, para além dos tradicionais mé-todos de lavra, ser obtida por dissolução com água eformação de salmoura que é “bombeada” para a su-perfície. Processos envolvendo lixiviação são tambémutilizados na exploração de alguns metais (p.e. Cu, Au,U, Ni), normalmente a partir de minérios de baixo teor.Por outro lado, o enxofre pode ser explorado após fu-são “in situ” provocada pela injecção de água quente(método Frash).

Classificação de Recursos

Toda a substância de natureza geológica (sólida, lí-quida, gasosa) ou o calor geotérmico, podem dar lu-gar a um recurso sempre que, em função da sua formae concentração na crusta terrestre, é, ou poderá vir aser, economicamente viável a extracção de um bemútil e comercializável.

O conjunto dos depósitos, ou seja, das concentra-ções de recursos conhecidas e desconhecidas existen-tes na parte acessível da crusta terrestre constitui aBase de Recursos Geológicos.

A necessidade de conhecer as disponibilidades derecursos à escala global, em boa medida na sequênciado sinal de alarme dado nos anos 60 pelo Club de Ro-ma, despertou a atenção para a conveniência de se vira utilizar uma linguagem comum nesta matéria. Por talfacto, surgiram diferentes modelos de classificação derecursos, designadamente o proposto conjuntamentepelo USGS (United States Geological Survey) e USBM(United States Bureau of Mines) em 1976 com os rea-justamentos posteriores, e o da ONU em 1979, pare-cendo ser aquele o preferencialmente seguido nasempresas e serviços (Fig. l). Tais classificações podemser aplicadas a várias escalas, desde a global até à dodistrito mineiro ou à do simples depósito mineral. Sen-do a figura suficientemente explícita, e estando forade causa entrar aqui na definição de todos os termos,interessará apenas destacar o significado de Reservas,ou seja, a parte dos recursos conhecidos que podem,no momento, ser legal e economicamente explorados.

Fig. 1 – Classificação de Recursos Minerais (USGS-USBM, 1976,1986).

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Trata-se, pois, de um conceito dinâmico. Quer isto di-zer que, para além das propriedades intrínsecas da mi-neralização e das características da jazida, há quecontar com vários outros factores de natureza tecno-lógica, económica e política para que um depósito, oujazida, possa ser considerado um jazigo com reservassuficientes para dar lugar a uma exploração mineira.De salientar que, mesmo um depósito mineral muitogrande à escala mundial, pode, num dado momento,não conter reservas mas apenas recursos. Este é o ca-so do depósito de ferro de Moncorvo, por exemplo.A conjugação daqueles factores faz, assim, variar os li-mites inferiores das Reservas e da Base de Reservas.A Base de Reservas (conjunto sombreado na figura) in-clui não só as reservas propriamente ditas, mas tam-bém os recursos que oferecem um potencial razoávelde poderem vir a ser economicamente explorados emhorizonte temporal para além do que entrou em con-ta apenas com a tecnologia dominante e a envolventeeconómica corrente.

Recursos minerais e matriz geológica

É na área correspondente à parte portuguesa do de-signado Maciço Hespérico que se localizam a quasetotalidade das ocorrências metálicas e os principais de-pósitos minerais do País (Fig. 2). Aquele maciço cons-titui a fracção mais contínua do soco hercínico docontinente europeu e as formações geológicas que oconstituem compreendem variada gama de rochas se-dimentares metamorfizadas e rochas ígneas (vulcâni-cas e plutónicas) com idades que vão do Precâmbricosuperior até ao Paleozóico superior (aprox. de 700 a250 Ma). Foi neste período de tempo que decorreramos processos geológicos do ciclo hercínico, envolven-do erosão, transporte e sedimentação, magmatismo,metamorfismo e deformação tectónica, culminando naorogenia a que se associou intensa actividade ígnea gra-nítica e consolidação dos terrenos, gerando-se a cadeiade montanhas hercínica ou varisca. Mais tarde, a ero-são começou a actuar aplanando-a, reiniciando-se

Fig. 2 – Grandes unidades geológicas e distribuição dos principaisdepósitos minerais.

Fig. 3 – Mineralizações na coluna estratigráfica em Portugal.

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assim um novo ciclo geológico (ciclo alpino) com a de-posição de sedimentos em bacias de plataforma está-vel, dando origem às Orlas Meso-Cenozóicas Ocidental eAlgarvia (Fig. 2).

As diversas mineralizações do Maciço Hespéricoforam condicionadas pelos ambientes geotectónicos dociclo hercínico (Fig. 3) e podem enquadrar-se em doisgrandes grupos:– jazigos singenéticos, ou seja, os que se formaram du-rante a fase deposicional concomitantemente com asrochas que os acompanham, como resultado da inte-racção de factores de natureza vulcânica, sedimento-lógica e paleogeográfica. Ocorrem geralmente emcamadas, leitos ou lentículas interestratificadas.Destaca-se nesta fase a formação do depósito de Mon-corvo e a dos importantes jazigos de sulfuretos poli-metálicos da Faixa Piritosa, em especial Neves-Corvo(Cu, Sn, Zn, Pb, Ag, S) e Aljustrel (Cu, Zn, Pb, Ag, S).O primeiro da classe 2 (grande) e os dois últimos daclasse 3 (muito grande), segundo a classificação, combase na tonelagem de metal ou de substância útil, adop-tada no Atlas Mineiro Mundial, a qual prevê ainda umaclasse 4 (excepcional) para englobar jazigos de gigan-tesca dimensão. Na Península, só Rio Tinto, em Espa-nha, (que também se inclui neste grupo de jazigos), seconsiderado na sua forma original, poderia, porven-tura, ser incluído nessa classe. Para dar ideia da rari-dade bastará dizer que se contam pelos dedos osdepósitos minerais do globo que ultrapassam a barrei-ra da classe 3 para a 4. Ligados ao vulcanismo há ain-da a referir pequenos depósitos e ocorrências de Mnna Faixa Piritosa (Lagoas do Paço, Ferragudo, Balan-ça), os de Zn-Pb (Ag) -Cu (Algares, Balsa-Portel ePreguiça-Ficalho), e os de Fe (Orada-Serpa e Vale dePães-Vidigueira);– jazigos epigenéticos - ocorrem geralmente em fi-lões ou em massas irregulares; resultaram essencial-mente da actividade magmática, predominantementegranítica, que teve lugar durante e depois das fases oro-génicas principais (Carbónico, 300-270 Ma). É vastís-sima a gama de mineralizações que então se formaramconforme se pode depreender da figura 3, sendo maisimportantes as de W, Sn, Au. É neste grupo que se in-clui o jazigo de volframite da Panasqueira (Fundão),mundialmente famoso por ser o primeiro produtor detungsténio da Europa desde 1934 e também pela rarabeleza e espectacularidade dos cristais. Juntamentecom o W a Panasqueira produz também Sn e Cu comosub-produtos. Além deste há a referir, entre outras: asjazidas de ouro e prata de Jales (Vila Pouca de Aguiar),de tungsténio (volframite e scheelite) da Borralha(Montalegre) - durante muito tempo o segundo pro-dutor em Portugal - e ainda as de Argozelo (Sn-W),Montesinho (Sn), Vale das Gatas (W-Sn), todos em Trás--os-Montes, e a do Cercal (Fe-Mn-Ba), no Alentejo.

Muito embora as concentrações que deram lugaraos depósitos minerais de urânio tenham ocorrido pos-teriormente (Jurássico, Cretácico e, inclusive, no Qua-ternário), a origem primária do urânio prende-se comos granitos que resultaram da actividade magmática atrásreferida. Igualmente dependente dos granitos

hercínicos há que salientar os jazigos de caulino quese formaram por alteração de minerais primários des-tas rochas, devida a actividade hidrotermal, bem co-mo a processos supergénicos de meteorizaçãoassociados à evolução paleogeográfica.

Dos depósitos minerais não formados no ciclo her-cínico há, como está indicado na figura 3, que referir:os pequenos depósitos de antracite da bacia carboní-fera do Douro (Pejão, S. Pedro da Cova), os conside- ráveis jazigos de evaporitos (sal-gema e gesso) queocorrem na base do Jurássico em estruturas diapíricas(os quais, para além do sal, podem proporcionar va-liosas cavernas para armazenamento de variados pro-dutos), pequenos depósitos sedimentares de manganês(Anadia) e ocorrências de ferro na base do Mesozóico,pequenos depósitos de lignitos do Cabo Mondego (Ju-rássico) e Rio Maior (Pliocénico), de diatomite, e ain-da pequenos depósitos aluvionares de Sn, Ti, Nb - Tae de Au (Gaia-Maçainhas, Nave de Haver). Na base doMesozóico são conhecidas algumas ocorrências de Cu(Fateota - Santiago do Cacém) sem interesse econó-mico, e, no Quartenário, pequenos depósitos de turfa.

São igualmente conhecidas, desde o fim do segun-do quartel do século passado, diversas manifestaçõespetrolíferas nas orlas meso-cenozóicas. Incluem-se fun-damentalmente no Jurássico (Lias e Oxfordiano) as“rochas-mãe” do petróleo, o qual migrou para“rochas-armazém” de diferentes idades (Jurássico, Cre-tácico e outras) donde se obteve já a inequívoca pro-va da existência de petróleo, no “onshore” e no“offshore”, mas, até à data, sem dimensão económica.

Para além destes recursos importa destacar a rele-vante importância económica das rochas ornamentaisque advém das enormes reservas e boa qualidade de már-mores (2.o exportador europeu), granitos e calcá-rios (Fig. 4), bem como a riqueza e variedade de águasminerais (38 termas) e de águas de nascente (24 ofici-nas de engarrafamento).

Fig. 4 – Localização dos centros produtores dos principais tiposde rochas ornamentais. Adaptado do Catálogo de Rochas Ornamen-tais, DGGM, 1983.

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A análise genérica da dotação de recursos geológi-cos conhecidos na Base de Recursos do território na-cional permite, desde logo, apurar os seguintes factosprincipais:

– Apesar da exiguidade da expressão geográfica, acomplexa evolução geológica do território criou gran-de variedade de ocorrências e de jazidas minerais,destacando-se a formação de três depósitos da classe3 mundial (“muito grande”): Neves-Corvo, Aljustrel(mais de 10 000 000 de ton. de Cu + Pb + Zn) e Panas-queira (mais de 50 000 ton. de W) e cinco depó-sitos da classe 2 (“grande”): Moncorvo (mais de100 000 000 ton. de Fe), Borralha (mais de 10 000t de W), Loulé, Matacães e Carriço (mais de 100 000000 ton. de ClNa, jazigos estes apenas parcialmente co-nhecidos).

– Nos recursos energéticos sobressaem os depósitosde minerais radioactivos que, embora de pequena di-mensão, detêm no conjunto importantes quantidadesde urânio (Nisa e outros) no quadro europeu e, atémesmo, mundial. Em relação aos combustíveis fósseisdestacam-se a exiguidade dos depósitos e a fraca qua-lidade dos carvões, não podendo tal cenário vir amodificar-se. No referente ao petróleo e gás, o que sepode com segurança dizer, é que constitui bom sinalhaver a certeza de que as condições geológicas propi-ciaram a sua formação. O que é conhecido até agorapouco mais representa que meros, embora bons, in-dícios.

Existe um considerável potencial geotérmico debaixa-média entalpia (bacias sedimentares, áreas de vul-canismo recente e zonas termais), bem como de altaentalpia, para produção de electricidade, que começaa ser realidade nos Açores e se poderá, no futuro, de-senvolver noutras regiões de gradiente geotérmicoanómalo, do continente e ilhas, logo que a tecnologiae a competitividade económica do processo conheci-do por HDR (“Hot Dry Rock”) o permitam.

– O País é particularmente rico em alguns recursosdo sector “não metálico”, em particular, de mármo-res, granitos e calcários, e em recursos hidromi-nerais.

Recursos minerais em Portugal- uma síntese retrospectiva

Do passado longínquo

Da simples leitura da distribuição geográfica das es-tações arqueológicas conhecidas e do contexto geo-lógico em que se situam, fácil se torna concluir queterão sido factores geológicos, em particular os recur-sos, que mais determinaram a escolha de locais parapovoamentos primitivos. A existência de água, de ca-vernas ou grutas, de rochas siliciosas, e, mais tarde,já no Neolítico e nas épocas seguintes da Antiguidade,os bons solos, argilas e metais, foram condimentos

decisivos para a fixação e objectivos de conquista emsucessivas fases de colonização do território (Fig. 5).Muito embora haja a tendência, compreensível, aliás,para ao se tratar destes períodos valorizar sobretudoos metais, será interessante lembrar que a obtenção deuma ponta de seta de silex em determinada região po-dia ser tão ou mais difícil do que uma pepita de ouro;e o agora desprezado silex era, porventura, bem maisútil ao possuidor.

Fig. 5 – Exemplos de aproveitamento de recursos minerais em in-dústrias pré-históricas em Portugal. Da esquerda para a direita, res-pectivamente: biface – Juncal, Alpiarça; ponta de lança – Montiraz,Santarém; punhal de bronze – Montelavar (pedreira Pêra Gorda).Museu dos Serviços Geológicos de Portugal.

A riqueza da Península Ibérica em recursos mine-rais e as condições naturais muito favoráveis à sua des-coberta permitiram que fossem explorados desdetempos remotos, como se conclui dos vestígios encon-trados em diversas minas e estações metalúrgicas atri-buídas a povos pré-Romanos. Fenícios, Tartessos eCartagineses terão sido os mais activos nesse períododa exploração, seguidos depois pela impressionante ac-tividade mineira romana. Os metais extraídos foramo ouro, cobre, estanho, prata e chumbo. As aluviõesauríferas e os metais nativos (cobre, ouro, prata) quelocalmente ocorrem nas zonas de oxidação dos jazi-gos de sulfuretos, terão sido os primeiros a serem des-cobertos. Tais zonas de oxidação, que formam os“gossans” ou chapéus de ferro, constituem quase sem-pre pontos conspícuos na paisagem, não só pela mor-fologia do terreno mas, também, pela variedade decores observáveis, predominantemente vermelhas, cas-tanhas e amarelas dos óxidos e hidróxidos de ferro oudos verdes e azuis dos carbonatos de cobre, dando ní-tido contraste com as rochas comuns. A figura 6 mos-tra um belo exemplar proveniente de um “gossan”,tirado do livro de Blanchard (Interpretation of Lea-ched Outcrops, 1968), autor que dedicou a sua vidaao estudo dos minerais oxidados. Amostras semelhan-

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tes eram utilizadas para ensinar os primeiros prospec-tores e serviam de referência para as pesquisas. Os Ro-manos foram tão eficazes que se pode afirmar teremdescoberto praticamente todos os chapéus de ferroexistentes na Península Ibérica. Os frutos da experiên-cia milenária de várias civilizações foram sendo com-pilados em textos da época helenístico-romana,contendo princípios de pesquisa geológico-mineira, dotipo acabado de referir.

Apesar de muita incógnita persistir, podeconsiderar-se que a actividade mineira e metalúrgicana antiguidade em Portugal está relativamente bem co-nhecida, conforme se pode concluir dos trabalhos maiscompletos sobre o assunto, Allen, J.C. (A mineraçãoem Portugal na Antiguidade, Bol. Minas, 1965) e Do-mergue, C. (Les mines de la péninsule ibérique dansl’antiquité romaine, Coll. École Française de Rome,n.o 127, 1990), dos quais se extraíram, no essencial,muitos dos dados e ideias aqui apresentadas.

Não restam dúvidas de que a exploração dos me-tais ocorrera já nas épocas pré-romanas desde o Eneo-lítico (3 300-2 300 a.C.). Da época pré-Campaniforme(Zambujal - 3 145 a 2 405 a.C.), são conhecidos frag-mentos de cobre fundido e diversos objectos em co-bre, atestando a actividade metalúrgica para este metaladmitindo-se, até, que tanto o cobre como a prata te-riam sido explorados, muito provavelmente nos jazi-gos da Faixa Piritosa, e exportados da Península porvolta dos 3 000 anos a.C. É consensual a ideia de queo cobre terá sido introduzido na Península pelos pros-pectores do Mediterrâneo Oriental desembarcados nacosta sul de Espanha, dando origem à conhecida cul-tura de Almeria. Alguns autores salientam mesmo a es-treita ligação da colonização megalítica das zonascosteiras atlânticas com o comércio e a prospecção eexploração metalífera. Da célebre cultura do vaso

campaniforme (2 100 - 1 900 a.C.), com os notáveistestemunhos de Vila Nova de S. Pedro e do Zambujal,típicos vasos de cerâmica são acompanhados de pu-nhais e cabeças de setas.

A Idade do Bronze na Península Ibérica ficou assi-nalada por vasta actividade extractiva em minas de co-bre. Nem na época romana foram trabalhadas tantasjazidas de cobre, daí resultando a utilização, na Penín-sula, de cobres arsenicais, ou bronzes primitivos, atéà introdução do verdadeiro bronze com estanho. Denotar, porém, que se sabe hoje haver também estanhoem quantidades apreciáveis nalguns chapéus de ferroda Faixa Piritosa, o que terá facilitado, sem o saberem,a obtenção de bronzes impuros. Por outro lado, os es-tudos arqueológicos das minas de chumbo do SE daPenínsula veio a revelar que a extracção da prata a par-tir do sulfureto de chumbo (galena) era já praticada pe-los povos argáricos na Idade do Bronze. Técnicas essasque, um pouco mais tarde, vieram a ser aplicadas nosjazigos da Faixa Piritosa.

Com a chegada dos Fenícios à Península (fundado-res de Gades em 1 100 a.C., hoje Cádis) a pesquisa ea indústria minero-metalúrgica sofreram grande impul-so, em particular o estanho e a prata, mais pela acçãoindirecta decorrente do comércio por eles incremen-tado do que pelo seu labor como exploradores acti-vos. Mais tarde também os Tartessos (900/800-500a.C.) exploraram os jazigos da Faixa Piritosa, essencial-mente para a prata. Seguiram-se-lhe os Cartagineses queigualmente procuraram e exploraram a prata, para fi-nanciar as duas primeiras guerras púnicas com Roma,mas actuaram principalmente na região de Cartago No-va (hoje Cartagena), de que foram fundadores. Graçasa Estrabão (58 a.C. - 25 d.C.), ao transcrever parte dosescritos de Políbio (200 a.C.) que visitara a Penínsulae acompanhara os Romanos aquando da queda de Nu-mância em 133 a.C., foi possível colher conhecimen-tos sobre a actividade mineira e metalúrgica naPenínsula, região que, de acordo com as descrições,mais ou menos fantasiosas dos historiadores gregos eromanos, seria imensamente fértil em riquezas mine-rais. Riquezas essas que iriam ser objecto de intensaprocura e exploração no período de mais de seis sécu-los de ocupação romana, desde o fim da Segunda Guer-ra Púnica até meados do séc. V. Muito do que se sabeda sua actividade ficou a dever-se ao historiador Plí-neo o Velho (23 a.C. - 79 d.C.), que durante noveanos foi procurador-geral para toda a Península, e aoestudo das várias peças arqueológicas encontradas jun-to das explorações. É curiosa a preocupação de rigorpor Plíneo ao distinguir nos seus escritos o minério (ue-na) da ganga ou estéril (lápis, terra ou arena). Porexemplo, ao referir-se à pirite não utilizava o termouena, como fazia para os minerais de cobre.

A actividade mineira desenvolvida pelos Romanosna Península, extraindo ouro, prata, cobre, ferro, es-tanho, chumbo e zinco foi, a todos os títulos, verda-deiramente impressionante. Os alvos mais importantes

Fig. 6 – Amostra de minerais oxidados de um chapéu de ferro. Ti-rado de Interpretation of Leached Outcrops, Blanchard. Nevada Bu-reau of Mines Bull. 66 , 1968.

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foram os metais das jazidas de sulfuretos da Faixa Pi-ritosa no Alentejo, a exploração do ouro aluvionar (ar-rugia) e do ouro em filões (canalicium). Contam-sepor dezenas as minas que em Portugal foram trabalha-das pelos romanos, destacando-se pela importância daquantidade dos materiais removidos, as lavras em TrêsMinas e Jales (Vila Pouca de Aguiar) para ouro e prata,e Aljustrel, Caveira-Lousal e S. Domingos no Alente-jo, para cobre, ouro, prata e, talvez, ferro. Os exten-sos escoriais encontrados, os poços e galerias,ferramentas, cerâmica, vestuário e moedas, dão teste-munho de tão importante actividade. Em Três Minasonde restam duas importantes cortas (480 x 60 x 80 me 350 x 100 x 100 m) da exploração a céu aberto, e al-gumas galerias e poços, os escoriais encontrados fo-ram estimados entre 16 a 20 milhões de toneladas ecerca de 3 milhões de toneladas em Aljustrel. A explo-ração foi feita em regime de concessão em Aljustrel en-quanto que em Três Minas era pertença do estadoromano e a magnitude dos desmontes da lavra ali rea-lizados implica 2 000 homens x 200 anos de traba-lho. A exploração de Aljustrel, bem como deS. Domingos, Jales e várias outras, envolveu lavra sub-terrânea. Em Aljustrel, jazigo de Algares, os trabalhossubterrâneos atingiam 118 metros de profundidade eem Jales localizaram-se ao longo de mais de 4 Km , che-gando a tingir mais de l 200 m de extensão e 120 mde profundidade.

Os Romanos levaram as explorações das jazidas deouro até ao limite das suas possibilidades. Jales foi umcaso singular por ter permitido, nos tempos moder-nos, retomar a exploração com sucesso. O minério ex-plorado não se cingia apenas às zonas de oxidação, elesexploravam também a zona dos sulfuretos auríferosdos filões que submetiam a tratamento metalúrgico,muito favorecido no caso de Jales e Três Minas dadoque a paragénese do minério incluía minerais de chum-

bo e arsénio. A recuperação do ouro dos sulfuretos poramalgamação era já conhecida, mas em Jales não fo-ram encontrados indícios de aplicação desta técnica.

Os estudos das escórias encontradas nas minas daFaixa Piritosa, tanto em Espanha como Portugal, de-monstram bem a evolução dos conhecimentos meta-lúrgicos conseguida pelos romanos. As escórias antigas, decor castanha, pré-romanas, continham teores de co-bre da ordem dos 3,5 % , enquanto que as que se lhesobrepunham, atribuídas aos romanos (nelas foram en-contrados diversos achados dessa época) tinham cornegra e deram teores à volta dos 0,5 % Cu.

Dos inúmeros achados romanos nas minas portu-guesas há a referir dois lingotes, um de cobre, com99,5% Cu, e outro de chumbo, com 99,47% Pb, quesão testemunho da sua técnica e eficácia para obten-ção do máximo valor acrescentado (Fig. 7 ). É de crer,porém, que o lingote de chumbo não corresponda ametal extraído do minério de Aljustrel, mas sim a pro-duto trazido de outra proveniência, destinado à extrac-ção da prata. Todavia, os mais importantes achadosarqueológicos correspondem às duas célebres tábulasde bronze, também encontradas nos escoriais de Al-justrel. A primeira (fig.8) que está datada do século Ia.C., está gravada nas duas faces, encontra-se actual-mente no Museu dos Serviços Geológicos de Portugal,foi encontrada em 1876 e logo dada a conhecer nomesmo ano por Augusto Soromenho em relatóriodirigido ao Ministro do Interior (La Table de Bronzed’Aljustrel, Imprensa Nacional, Lisboa, 1877). Este do-cumento romano foi estudado por Estácio da Veiga,dele vindo a publicar a sua interpretação em 1880.

Fig. 7 – Lingotes de cobre e de chumbo da época romana. Minasde Algares, Aljustrel, Museu dos Serviços Geológicos de Portugal

Fig. 8 – Tábula de Bronze, Lei Mineira Romana, sec. I. Minas deAljustrel, Museu dos Serviços Geológicos de Portugal.

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A segunda tábula de bronze foi descoberta em1906, está gravada numa face, menciona o imperadorAdriano (117 - 136 a.C.) e encontra-se no Museu Na-cional de Arqueologia Doutor Leite Vasconcelos. Es-tes notáveis documentos, ímpares no mundo, contêmdecretos e regulamentos para aplicação à exploraçãomineira, fundição de cobre e prata, bem como a todaa actividade civil do Vicus Vipascencis, que era o no-me dado, na época, à região mineira de Aljustrel.

A clara percepção dos romanos sobre a vital im-portância da actividade mineira, a sua especificidadee as dificuldades que impunha, é bem patente na sualegislação que chegava ao ponto de prever incentivosà iniciativa individual, como demonstra a introdução,em período de declínio da actividade, da lei damna-tio ad metalla, promulgada em 1 de Outubro de 326d.C., visando estimular o interesse na exploração. Es-ta legislação destinava-se a desenvolver qualquer jazi-da susceptível de ser explorada por pequenos gruposautónomos e não para os trabalhos de grande dimen-são. Verifica-se assim a preocupação de introduzir re-gulamentos flexíveis adaptáveis à realidade. Afiscalidade variava em função da dimensão da explo-ração. Preocupações que, nos traços gerais, têm plenaactualidade.

A intensa actividade mineira dos romanos levou aoesgotamento dos recursos que na época podiam ser ex-plorados com benefício em muitos dos jazigos, impli-cando declínio acentuado na produção de ouro desdeo séc. III d.C. até ao abandono da lavra a partir do fimdo séc. IV d.C. Não há registos de actividade mineiradurante a ocupação pelos “povos bárbaros” desde ocomeço do séc. V d.C. até à ocupação árabe. Os ára-bes não tinham grande tradição mineira e durante asua permanência, até ao séc. XIII, muito poucos recur-sos minerais terão sido explorados, porventura, ape-nas o ouro aluvionar na Adiça (Almada) e algumminério das minas de Aljustrel.

Do passado recente aos nossos dias

O ressurgimento do verdadeiro interesse pelos re-cursos minerais só vem a ter eco por meados do séc.XIX como consequência da revolução industrial. Noentanto, em meados do séc.XVI nascia na Saxónia--Boémia (Erzebirge) a ciência da Geologia Mineira e em1556 Georgius AGRICOLA, físico de Chemnitz (Sa-xónia), publica o magnífico volume De Re Mettali-ca , primeiro tratado sobre jazigos minerais, ondevaloriza sobretudo a observação de campo, cita a va-rinha mágica dos vedores mas descrê dela, trata comgrande imaginação criativa os problemas da génese eda pesquisa, e revela técnicas para a exploração mi-neira e tratamento metalúrgico (Fig. 9). Trata-se de umdos primeiros livros a ser publicado, surgindo apenas40 anos após o primeiro livro impresso de Gutenberg.É curioso verificar que já naquela época Agricola fo-cava problemas do impacte ambiental da exploração

mineira, alguns deles com acuidade não muito diferen-te da actual. Os seus trabalhos científicos induziramenorme estímulo ao desenvolvimento de ideias e seurefinamento em Universidades e Academias. Com oséc. XVIII surge a corrente defensora do pragmatismopara testar as Ciências Naturais, até então mais filosó-ficas do que aplicadas, passando-se à acção de “verifi-car na prática”. O progresso é enorme e em 1756 épublicado em Paris o Mapa Geológico do Este do Ca-nadá, o qual já incluía simbologia dos depósitos mine-rais. Na Rússia, é grande o interesse pelos depósitosminerais e organizam-se expedições à Sibéria para des-cobrir jazigos e colher dados para “confirmação de cer-tas teorias científicas”. Em Portugal, porém, havia queesperar pela Revolução Industrial para desencadear oestudo com base científica da Geologia e dos recursosminerais do País. A Academia Real das Ciências de Lis-boa, ao reconhecer, em 1848, o adiantamento da Geo-logia e dos conhecimentos geológicos no estrangeiro,quando comparados com os de Portugal, e da sua“transcendência incalculável para muitos assuntos ad-ministrativos” decidira recomendar ao Governo a cria-ção de uma Comissão Geológica, presidida porCharles Bonnet, especialista francês que estava emPortugal a expensas do Conde de Farrobo para dirigiras suas explorações mineiras. Tal proposta foi aceite,ficando reunidas as condições para a criação do Servi-ço Geológico Nacional com a missão de proceder ao“exame e exploração geológica e mineralógica das pro-víncias do continente do reino”. Carlos Ribeiro(Fig. l0), primeiro Director dos Serviços Geológicos(1857-1882), foi um grande dinamizador da Geologiaem geral e pioneiro da Geologia Económica, desenvol-vendo obra notável e determinante na recuperação degrande parte do atraso em que o País se encontravaneste domínio. A prospecção e estudo dos recursos mi-nerais passaram a ser progressivamente mais facilita-

Fig. 9 – Prospecção e pesquisa no séc. XVI. De Re Metallica, Geor-gius Agricola.

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dos, à medida que avançavam a cartografia geológicasistemática do País e a investigação na Geologia, Mi-neralogia e Ciências da Engenharia, tendo como pro-tagonistas os organismos públicos, universidades eempresas.

A segunda metade do século passado ficou marca-da por notável actividade de pesquisa e exploração derecursos minerais, em particular do carvão, ferro, man-ganês e metais básicos. Datam deste período as atri-buições dos primeiros alvarás de concessão paraexploração de vários jazigos, com destaque para Al-justrel, S. Domingos e Panasqueira. A preocupação emincrementar a produção e maximizar o valor acrescen-tado, através do tratamento metalúrgico, era já notadominante como consta das recomendações do notá-vel relatório da Comissão presidida por Carlos Ribei-ro para analisar a situação das Minas de Aljustrel,datado de 1873. Surgiram também várias exploraçõesde pequenos depósitos de cobre, chumbo-zinco, anti-mónio, estanho, tungsténio, ouro e prata. Data igual-mente deste período a primeira concessão (1848) paraexploração de produtos betuminosos, em Canto doAzeche (Pataias), que terá laborado irregularmente atécerca de 1861, produzindo o betume com que, entreoutras obras, foram asfaltadas todas as estações de ca-minho de ferro de Lisboa até Elvas e desde o Entron-camento até ao Porto. É ainda nesta época que severificam as principais produções de antimónio dopaís, proveniente das jazidas de antimónio e ouro daregião Valongo-Gondomar. Os minérios eram de boaqualidade e o auge da produção ocorreu entre 1880

e 1890, data em que, por excesso de oferta no merca-do devido à produção chinesa, as minas tiveram de fe-char. Pelo que consta, a produção portuguesa chegounaquele período a afectar a cotação do metal no mer-cado londrino.

Ao entrar no século actual Portugal debatia-se comuma preocupante dependência de carvão importado,dado que a produção nacional raramente ultrapassa-va as 20 000 toneladas anuais. Com a deflagração da1.a Guerra Mundial esta situação agravou-se, devidoà suspensão de fornecimentos do estrangeiro e dificul-dades de transportes marítimos, obrigando toda a in-dústria a aproveitar ao máximo os carvões nacionais,muito deles de fraca qualidade. Meios consideráveis fo-ram então mobilizados para aumentar as reservas e in-crementar a produção, proveniente das minas deantracite da Bacia Carbonífera do Douro (S. Pedroda Cova, Passal de Baixo e Pejão) e de lignitos do ca-bo Mondego. Assim, de uma produção de pouco maisde 29 000 toneladas em 1914 passou-se para 151 000em l916 e mais de 200 000 em 1917. A importânciados carvões levou a que em 1921 fosse nomeada umaComissão para o estudo sobre as possibilidades de exis-tência de carvões no país e seu aproveitamento, de quefoi relator o engenheiro António Viana, estudo esseque foi complementado com um trabalho do mesmoautor sobre a situação geral da indústria mineira do car-vão em Portugal. Tais trabalhos foram apresentadosem 1924 e constituíram referência orientadora das ac-ções de política sectorial durante muitos anos. Paraalém do carvão, também o ferro, manganês, tungsté-nio e outros metais foram alvo de vários trabalhos deprospecção e pesquisa os quais atingiram particular in-tensidade durante e após a Segunda Guerra Mundial,com destaque para os jazigos de volframite do Centroe Norte do País. Surgiram então muitas minas para ex-plorar os jazigos revelados, quase todos de pequenadimensão. No que ao tungsténio se refere, pode dizer--se que, por ser facilmente identificável, praticamen-te todas as jazidas aflorantes de volframite(WO4 Fe Mn) terão sido descobertas, restando apenaspara o futuro investigar as não aflorantes e aquelas on-de este metal ocorre sob a forma de scheelite(WO4 Ca), mineral que, embora bastante denso, tem,ao contrário daquele, cores e brilho que o tornam fa-cilmente confundível com outros minerais comuns.Portugal passou a ser um dos mais importantes pro-dutores de tungsténio e de estanho do Mundo, sendoa Panasqueira e a Borralha as principais minas. Os“records” de produção do país estão ligados aos pe-ríodos da 2.a Grande Guerra e ao da Guerra da Coreia(5 700 ton. de concentrados em 1942 e 4 900 ton. em1952; com o valor médio de 2 912 ton. entre 1939-70).A mesma evolução se poderia apontar para a produ-ção de estanho, companheiro íntimo do tungsténio emvárias jazidas (4 400 ton. de concentrados em 1942 e2 300 ton. em 1952; valor médio de 1 615 ton. entre1939-70 e de 974 ton. entre 1959-70). Os jazigos

Fig. 10 – Carlos Ribeiro (1813-1882). Pioneiro da Geologia Eco-nómica e primeiro Director dos Serviços Geológicos de Portugal.

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filonianos da Ribeira, Argozelo, Montesinho (Bra-gança), Panasqueira e as aluviões de Gaia (Belmon-te) incluem-se entre os que mais estanho produziram.

Quanto aos recursos uraníferos, a primeira desco-berta data de 1907 (Rosmaneira) e em 1913 arrancoua exploração de rádio na Urgeiriça. Até 1940, devemter sido produzidos apenas 50g de rádio e desperdiça-das mais de 500 toneladas de urânio, o qual só a partirde 1944 começou a ser objecto de interesse. De 1951a 1991 foram produzidas 4 174 toneladas de U3 O8,das quais cerca de 83% foram vendidas. A actividadeprivada neste domínio cessou em 1962.

Ciente da relevância dos recursos geológicos co-mo suporte de importantes sectores da indústria trans-formadora o Estado passou a ter um papel mais activono estudo e avaliação das potencialidades mineiras doPaís, assumindo o ónus da responsabilidade nas eta-pas de maior risco e, ao mesmo tempo, prestar o apoiotécnico e lançar incentivos às empresas de modo a di-namizar o sector, desde a prospecção até à explora-ção e valorização. Dentro desta linha foram, então,criados o Serviço de Fomento Mineiro (SFM) na Direc-ção Geral de Minas e Serviços Geológicos em 1939 e,para a prospecção e exploração de recursos de urânio,em regime de exclusividade, a Junta de Energia Nuclear(JEN), em 1954. Surgem assim projectos de prospec-ção sistemática de áreas potenciais, de pesquisa, reco-nhecimento e preparação para lavra de jazigos deantigas minas, algumas das quais deram novas explo-rações. Nesta fase verifica-se também o desenvolvimen-to nas universidades de equipas dedicadas ao estudode depósitos minerais, das tecnologias de exploraçãoe do tratamento de minérios, e assiste-se à grande evo-lução das teorias metalogenéticas, um pouco por to-do o mundo, permitindo o refinamento dos modelosconceptuais orientadores da prospecção. Tais factos,juntamente com o enorme progresso concomitante-mente ocorrido na geologia estrutural, geoquímica egeofísica, conduziram a que da aplicação prática re-sultassem importantes descobertas de vários depósi-tos minerais, em especial no referente aos jazigos desulfuretos polimetálicos da Faixa Piritosa, cujas des-cobertas, juntamente com as de Espanha, transforma-ram esta província metalogenética no maior “stock”de metais básicos da Europa Ocidental. Outros êxitossurgiram igualmente no domínio dos recursos uraní-feros, com a descoberta de várias jazidas nas Beiras,Alto Alentejo e Trás-os-Montes, colocando Portugal emlugar de destaque, quer em recursos conhecidos quercomo produtor de concentrados de urânio.

A prospecção de petróleo no “onshore” teve sig-nificativo desenvolvimento nas três décadas posterio-res a 1938, seguindo-se, na década de 70, actividaderelativamente intensa na prospecção do “offshore”(plataforma continental), por algumas das mais impor-tantes empresas petrolíferas mundiais. Foram realiza-das várias sondagens, tendo algumas delas encontrado,efectivamente, petróleo (Abadia-Torres Vedras no

“onshore”; Moreia e 14-A1 na plataforma continen-tal) mas, até ao presente, sem dimensão económica.

Os anos de 1950 a l980 correspondem, sem dúvi-da, a um período áureo da prospecção mineira em Por-tugal, graças ao relevante papel dos organismos estataisatrás referidos, protagonistas de quase todas as desco-bertas, e também de empresas mineiras nacionais e es-trangeiras. Dos vários casos de sucesso há a destacarcomo mais importante a descoberta em 1977 deNeves-Corvo, jazigo de classe mundial, fabulosamenterico de Cu-Sn, a que se juntam enormes recursos deZn, Pb, (Ag, Au) e de vários outros elementos meno-res, sendo hoje o principal produtor de cobre e esta-nho da Europa Ocidental (Figs. 11, 12 e 13). Neves--Corvo foi descoberto por uma associação luso--francesa (Sociedade Mineira de Santiago, SociedadeMineira Metalúrgica Peñarroya Portuguesa e Sociétéd’Études et Recherches Minières) num alvo gravimé-trico (Fig. 14) previamente evidenciado e selecciona-do pelo SFM (Direcção Geral de Minas e ServiçosGeológicos).

Como sempre acontece quando surge uma desco-berta sensacional, verificou-se uma corrida das empre-sas mineiras nacionais e estrangeiras, algumas dasmaiores do mundo mineiro, para prospectarem emPortugal, mas, tal como os mais atentos e informadospreviam, a prática veio demonstrar que os êxitos fá-ceis não surgiram. Porém, as potencialidades existeme as perspectivas para algumas áreas continuam aconsiderar-se favoráveis. Muitas das razões de tantosinsucessos são conhecidas e da ponderada reflexão so-bre as mesmas poderão, certamente, surgir novas li-nhas de rumo para acções futuras.

A generalizada depressão dos mercados da maio-ria dos metais verificada na última década veio criarsérios problemas de sobrevivência a várias minas e àdiminuição conjuntural do interesse pela prospecção

Fig. 11 – Tonelagem e teores de diferentes tipos de jazigos de co-bre (adaptado de Jensen and Bateman, Economic mineral deposits,3rd ed., John Wiley & Sons, 1981).

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dos metais básicos, Sn, e W, surgindo, em contrapar-tida, uma corrida à procura de metais preciosos, ourofundamentalmente, como consequência de novasideias metalogenéticas, da evolução tecnológica nosdomínios da exploração e do tratamento mineralúrgi-co de minérios de baixo teor e das condições favorá-veis de mercado. Novos alvos que pudessem conterjazidas de ouro de baixo teor (1,5 a 4 p.p.m. de Au)mas de grande tonelagem passaram a despertar inte-resse. São os primeiros passos de longa caminhada,muito havendo ainda para investigar antes que se che-gue a algum êxito de relevo neste domínio.

Traços gerais da situação actual

Fruto da dedicação e do intenso trabalho de tantasgerações que, no campo, serviços, universidades e em-presas, desenvolveram em prol do sector geológico--mineiro, as riquezas do subsolo foram sendoregularmente reveladas e exploradas em função daspossibilidades tecnológicas, financeiras e de mercado.

Muito embora não seja directamente traduzido nosindicadores macroeconómicos (mesmo no Canadá, 3.o

produtor mineiro mundial, não atinge os 5% do PIB),a importância dos recursos minerais produzidos pelaindústria extractiva (exploração e tratamento primá-rio de matérias-primas) para ser avaliada terá que seter em conta o seu papel como suporte de importan-tes sectores da indústria transformadora com grandecontribuição no PIB e no emprego (cimento, materiaisde construção, cerâmica, vidro, pasta de papel, pro-dutos químicos, produção de energia, etc.). Além dis-so, contribui para melhorar a balança comercial,chegando a atingir mais de 3% do valor das exporta-ções, e é fonte de emprego em regiões do país econo-micamente deprimidas.

Como se pode ver das figuras 15 e 16, apesar doPaís ser fortemente dependente da importação, em al-guns casos a 100%, a taxa de cobertura das importa-ções pelas exportações, excluindo o petróleo, passoua ser francamente positiva, após a entrada em produ-ção de Neves-Corvo em 1989, que, como se deduz dafigura 17, nos tirou da cauda da Europa no referenteao valor da produção de metais.

O projecto da mina de Neves-Corvo levou, desdea descoberta do jazigo até ao arranque da produçãono final de 1988, onze anos a concretizar. Período de

Fig. 14 – Anomalia gravimétrica Bouguer na área de Neves-Corvo(adaptado de dados da SOMINCOR e SFM).

Fig. 12 – Contacto do minério maciço (18% Cu) com estéril (embaixo). Mina de Neves-Corvo (massa Corvo).

Fig. 13 - Minério de estanho e cobre de Neves-Corvo (massa Cor-vo) ao microscópio (cas-cassiterite, cp-calcopirite, st-estanite, py--pirite). Tirado de Mitsuno et al. 1988.

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Fig. 15 – Grau de dependência externa de recursos minerais.

tempo relativamente curto, atendendo à envergadurada obra e à profundidade do jazigo (de 250 a mais de1 000 m). O impacte da produção de Neves-Corvo(1.600.000 ton. de minério, que deram 600 000 deconcentrados de Cu e 6 500 ton. de concentrados deSn, em 1992), veio revolucionar as estatísticas minei-ras conforme consta do Quadro I, onde se destaca ocrescimento do valor da produção total anual e o sal-to do contributo dos recursos do sub-sector “Metáli-cos”, o qual se deve, exclusivamente, àquela mina.

Quadro I

Fontes: INE e DGGM(*) inclui alguns valores provisórios

Deste quadro ressalta, também, a relevante impor-tância do sub-sector dos recursos “não metálicos”no contexto da indústria mineira. Com efeito, na es-trutura da exportação das dez principais substâncias(99% do total de 73 milhões de contos em 1991) apa-recem logo a seguir ao minério de cobre, em primeirolugar com cerca de 46%, os mármores e calcários or-namentais com 29% e os granitos com 16%. O esta-

Fig. 16 – Valor das importações e exportações das 10 principais substâncias minerais e do total referente a 1991, excepto petróleo (milharesde contos).

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nho e o tungsténio contribuem com cerca de 2%, aardósia 1 % e o ouro, prata, urânio e sal com menosde 1 % cada.

A comprovação, de facto, do real valor de Neves--Corvo, preciosa riqueza da nossa Base de Recursoshoje reflectida na economia do País, veio despertar asatenções e o interesse pelo sector geológico-mineiro,factor da maior importância para prosseguir com per-severança no caminho do futuro. Todavia, não podedeixar de causar apreensão a distorcida imagem que,por vezes, transparece como se Portugal fosse um “ElDorado” e estivesse a viver uma época de grande di-namismo e expansão na indústria extractiva. Tal fac-to desfoca a verdadeira e dura realidade que se traduz,porventura, por uma das maiores crises que o sectorjá enfrentou. Com efeito, o número de minas em efec-tiva laboração tem vindo, em boa parte por razões deordem externa, a diminuir drasticamente nos últimosanos, sendo grande a vulnerabilidade do sector, quan-do perspectivado a médio-longo prazo.

O ciclo de vida de uma mina diz-nos que ela nas-ce, cresce e morre, mas a morte absoluta só se podeaceitar com o esgotamento dos seus recursos e não dasreservas. A crise do mercado de metais decorrente doexcesso de oferta, tem várias causas, nomeadamente,das novas fontes de abastecimento a partir dos paísesda Europa Leste, do aumento da reciclagem e substi-tuição de produtos, e de distorções anormais do mer-cado (“dumping”). Estes são alguns dos factores que,de uma maneira ou de outra, mais determinaram a ine-xistência de reservas mineiras que assegurassem a con-tinuação da laboração de praticamente todas as nossasminas de estanho, tungsténio, ouro e urânio.

Pensar o Futuro

Não será arriscado afirmar haver consenso quantoà relativa riqueza e variedade de recursos geológicosno território nacional. A relevante contribuição dosmesmos para a economia desde tempos recuados, emespecial a partir dos metais básicos, W, Sn, Au, U,carvão, mármores e granitos, e o bom conhecimen-to que já se possui da geologia do País, dão fundamentoa tal ideia. Mais reforçada, ainda, quando se toma porreferência o quadro europeu, em particular o conjun-to da CE, a qual tem uma dependência global em me-tais importados superior a 70%. Somos, inclusiva-mente, ricos de vários recursos geológicos, que, ape-sar disso, temos de importar; ou porque de tais recur-sos não é possível constituir reservas, devido a baixosteores, à complexidade intrínseca dos minérios e ina-dequação tecnológica para o seu tratamento, ou porrazões de mercado, ou, noutros casos (cobre e esta-nho, p.e.) devido à inexistência de metalurgias no País.

Do conhecimento existente sobre o nosso Geossis-tema não é difícil, por razões de ordem geológica, eli-minar uma série de possibilidades quanto à existênciade várias substâncias, das quais somos e seremos for-

tes importadores. Em relação a todas as indicadas comdependência a 100 % na figura 15, não há fundamen-to credível para que a situação se possa alterar no fu-turo, pelo menos a partir da área emersa do territórionacional. Dados novos surgiram, porém, em especialnas duas últimas décadas, que obrigam a cuidados es-peciais nos diagnósticos e cenários evolutivos para osector. Sem procurar ser exaustivo salientarei os se-guintes:

– O progresso no melhor aproveitamento dasmatérias-primas e da energia por unidade de produto,conhecido pela expressão “fazer mais com menos”(doing more with less), a crescente taxa de reciclagemde metais, o desenvolvimento de novos materiais e denovas tecnologias.– Alargamento das fontes de fornecimento dematérias-primas a partir de países do leste europeu edo oriente, com crescente descontrolo de mercadose maior imprevisibilidade na evolução dos mesmos.– Mais exigentes padrões de qualidade e rigorosos me-canismos de controlo na preservação do meio ambien-te natural.– Descoberta de Neves-Corvo e demonstração da exis-tência de jazigos anomalamente ricos e de grande di-mensão, justificando-se, por isso, a prospecção dezonas mais profundas das áreas de maior favorabi-lidade.– Enorme progresso no conhecimento da tectónica,da geologia económica e das técnicas geoquímicas egeofísicas e de teledetecção, bem como na tecnologiamineira, no tratamento de minérios, na modelação ma-temática e simulação.– Descobertas revolucionárias sobre a génese de de-pósitos polimetálicos em formação activa junto dasgrandes fracturas dos fundos oceânicos, bem como natecnologia de investigação e exploração dos recursosdo solo e subsolo marinho.– Considerável progresso no conhecimento da geo-logia do País em geral e do contexto geológico ondeocorrem importantes jazigos, bem como sobre as res-

Fig. 17 – Valor da produção de minerais metálicos em países daEuropa Ocidental em 1988 (adaptado de Lumsden, G.I., ed., Geo-logy and the Environment in Western Europe, Oxford, 1992).

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postas geoquímica e geofísica dos mesmos, facilitan-do a selecção de áreas potenciais e a sua prospecçãoe pesquisa.– Começar a ganhar credibilidade a possibilidade de,dentro de algumas décadas, poder vir a ser controla-do o complexo processo de produção de energia porfusão nuclear.

Estes grupos de dados, em particular os três primei-ros e o último, traduzem-se em factores que, conjun-tamente ou de per si, podem vir a introduzirprofundas e imprevisíveis mutações capazes de invia-bilizarem o aproveitamento de recursos hoje econó-micos ou, em contrapartida, despertar o interesse pornovos outros que até aí não o eram. Torna-se, assim,difícil admitir que a generalidade das pequenas minasde Sn, W, Au-Ag, Pb-Zn, Cu, entre outras, que dantestrabalhavam com teores médios a fracos, e que só per-mitam a exploração pelos métodos de lavra subterrâ-nea tradicionais, possam voltar, em condições normaisda conjuntura internacional, a operar economicamen-te, salvo se, porventura, contiverem nos seus minériosmetais menores susceptíveis de importante valoriza-ção por necessários à aplicação em novos materiais ounovas tecnologias. Há vários casos conhecidos da li-teratura, como p.e. minas de zinco que só são rentá-veis graças ao germânio obtido das blendas, ou comoa antiga pequena mina de cobre Apex (Utah, EUA) quevoltou a ser reactivada graças à extracção de germâ-nio e do gálio.

A tendência para “fazer mais com menos” tem ti-do repercussões extremamente positivas na economiade recursos, ajudando a minorar o impacte da tremen-da procura que o crescimento populacional do globoirá impor. Por outro lado, a substituição de metais po-de causar forte perturbação no mercado, como vemjá acontecendo com o W, Cu, Al , que têm sido substi-tuídos por novos produtos, tais como, respectivamen-te: cerâmicas, fibra óptica e materiais compósitos.Sintomático disso é o que se irá passar com a indústriaaeronáutica em que os principais construtores pre-vêem, em valores médios globais, passar, no consumode alumínio dos 80% de 1980 para 56% no ano 2000,enquanto que a aplicação de materiais compósitos pas-sará de 2,7% para 25% no mesmo período.

Muito embora para estes novos materiais se tenhade recorrer a maior variedade de recursos geológicose a mais avançada tecnologia, as quantidades requeri-das são incomparavelmente menores (Fig. 18). Em con-trapartida, tais recursos existem em zonas maislocalizadas e em quantidades globais muito pequenaso que impõe novos desafios para a sua descoberta eaprovisionamento. Mas isso não contrariará, porém,tal tendência, que certamente irá prosseguir, sendo deadmitir como provável que quando se avizinhar o es-gotamento efectivo de determinado metal, a respostaserá encontrar-se substituto, em vez de induzir aumen-tos substanciais e duradouros nas cotações que permi-

tam a retoma da exploração de depósitos pequenos epobres. Por outro lado, mesmo que venha a ser possí-vel dispor de energia inesgotável a custos competiti-vos, também não é de supor que, devido ao impacteambiental, pelo menos nos países mais evoluídos sepasse à produção de metais a partir das rochas comuns,ou seja, descer os teores de corte (teores pagantes doscustos operatórios) para valores da ordem do “clar-ke” (teor médio de cada elemento geoquímico na crus-ta terrestre), como adiante se verá.

Em Portugal, excluindo a pequena produção de mi-nérios de ferro e manganês do Cercal, sem expressãoeconómica, todos os restantes metais produzidos per-tencem ao grupo dos elementos geoquímicos escassos,teor médio na crusta inferior a 1 000 p.p.m.. As curvasde Skinner (Fig. 19) revelam que a relação metal nacrusta/teor se traduz por uma distribuição bimodal paraestes elementos. Neste caso, os dois ramos da curvasão separados pela zona de fronteira correspondenteà barreira mineralógica, ou seja, a ocorrência do me-tal nos respectivos minerais próprios (exploração eco-nómica actual), da que corresponde ao mesmoelemento na rede cristalina de outros minerais das ro-chas comuns, p.e., o níquel na olivina, ou o cobre nabiotite. Há correntes optimistas que crêem ser possí-vel, em caso de esgotamento de reservas, passar essabarreira. Porém, para estes elementos mesmo dispon-do de energia “inesgotável” e barata, primeira condi-ção para encarar tal hipótese (dado o enorme salto noconsumo de energia para produzir a mesma quantida-de de metal a partir de materiais dum ou doutro ladoda curva, contrariamente ao caso dos elementos escas-sos em que esse consumo cresce progressivamente),mesmo nessa hipotética situação, não é de prever quetal possa vir a acontecer. Na verdade, os danos causa-dos ao meio ambiente seriam sempre de proporçõesgigantescas, certamente inaceitáveis. Veja-se o caso o dasactuais explorações dos famosos jazigos de cobre de

Fig. 18 – Relação entre quantidade de recursos e a informação cien-tífica no fabrico de produtos.

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baixo teor e grande tonelagem (porphyry copper*) al-guns dos quais já chegaram, na década de 70, a baixaro teor de corte para valores da ordem dos 3 500 p.p.m.(mas a partir de minérios de minerais de cobre), figura20. É tanto assim que, a cratera de subsidência da mi-na de exploração subterrânea (“block caving”) do“porphyry copper” de San Manuel (Arizona) e a imensacorta da exploração a céu aberto de Bingham Canyon(Utah) onde chegaram, num só dia, a movimentar maisde meio milhão de toneladas de minério e estéril ,incluem-se já nos pontos conspícuos do nosso plane-ta quando visto da Lua! Por outro lado, certa corrente

optimista chegou mesmo a admitir estar o problemados recursos resolvido, dado que, pela relação deLasky, à diminuição aritmética do teor de corte cor-responderia crescimento geométrico das reservas. Ce-do se demonstrou ser isso apenas parcialmente válidoquase só naquele tipo de jazigos e para determinadagama de valores.

Considerando o factor de concentração em relaçãoao “clarke”, para os elementos abundantes (Si, Al, Fe,Mn, Mg, Ti) e para os elementos escassos, necessáriopara se atingirem os mais baixos teores de corte dasexplorações actuais no mundo, verifica-se que, p.e.,enquanto que tal factor é da ordem dos 4,5 no Fe, 16no Ti e 2,5 no Al, ele passa para 2 100 no Pb, 1 500 noSn, 4 000 no Au, 15 000 no W e é de 100 000 parao Hg. Estes valores dão, em certa medida, ideia sobrea raridade e o refinamento dos processos exigido parase atingirem tais concentrações em quantidade e vo-lume que formem jazigos. Os recursos minerais terão,pois, de ser sempre considerados como bens escassos.

Tendo presentes tais dados e as características dageologia e das mineralizações do nosso território, épossível delinear caminhos a seguir para encarar o fu-turo, mais precisamente, para ampliar, valorizar e apro-veitar, a Base de Recursos, devendo ter-se bempresente que a prospecção mineira será cada vez maisuma actividade de investigação aplicada. Apontam-seseguidamente algumas considerações e linhas de acçãoque parecem pertinentes em tão delicado assunto:

– Sendo um jazigo mineral o resultado de processosgeológicos, óbvio se torna concluir que quanto melhor

Fig. 19 – Relação metal na crusta versus teor dos elementos abun-dantes (a) e elementos escassos (b). Adaptado de Skinner, Amer. Scien-tist, 64, 1976.

Fig. 20 – Exploração a céu aberto de um “porphyry copper”. Mina de Ajo, Arizona

* Os principais jazigos “porphyry copper” ocorrem no designado círculo de fogo do Pacífico. Estão associados aos ambientes geotectónicos (zonasde subducção) que, desde o Mesozóico, geraram magmatismo dos arcos insulares e das cadeias de montanhas à volta daquele oceano. Esta actividadeígnea, que à superfície se manifesta hoje por vários vulcões activos, produz, a profundidades de l a 3 km, rochas porfiríticas (pórfiros monzoníticos,tonalíticos, quartzo-dioríticos, etc.) com as quais se associam o cobre, ouro, molibdénio e, nalguns casos, estanho e tungsténio. É nestes jazigos queexistem as principais reservas e recursos de cobre do planeta, com destaque para o Chile, EUA, Canadá, Perú, México e Filipinas.

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conhecimento houver da geologia do território tantomais fácil será apurar o que possuímos ou não pode-mos possuir. O uso das novas tecnologias de informa-ção permitiu revolucionar métodos de trabalhos e oapuramento de resultados, mas importa ter presenteque continua, e, certamente, continuará sempre, a serimprescindível, a colheita directa de dados na fonte,melhor dizendo, no terreno. A discriminação cartográ-fica, a caracterização geológico-estrutural detalhadadas diferentes formações e dos ambientes geotectóni-cos onde se formaram são fundamentais para qualquersalto qualitativo na criação de novas perspectivas e de-finição de novos horizontes para a prospecção de re-cursos; petróleo, gás e geotermia (HDR) incluídos. Oapoio da geofísica e geoquímica na fase do estudo geo-lógico regional, bem como o recurso a sondagens re-lativamente profundas em áreas criteriosamenteseleccionadas são cruciais para tal objectivo. Sem taissondagens arrastar-se-ão, ad aeternum, importantesquestões de natureza geotectónica e do conhecimen-to crustal por esclarecer;

– Em Portugal justifica-se, apesar do elevado risco, de-senvolver esforços no sentido de descobrir jazigos deteores elevados, de média e grande dimensão, paraalém das profundidades já hoje praticadas na explora-ção. O simples facto da existência de Neves-Corvo aisso obriga. Parece pertinente questionar se será estejazigo excepção à regra ou haverá mais? Nada do quese conhece sugere que se deva optar pela negativa. Tu-do indica, porém, que tendo em conta os dados da geo-logia, da prospecção geofísica e sondagens, apossibilidade de eventuais descobertas de jazigos dotipo Neves-Corvo a baixas profundidades (menos de300 m) é muito pequena. De todas as áreas potenciaisressalta, para o autor destas linhas, como alvo prefe-rencial a indicada na figura 21; mas a tarefa não vaiser fácil;– Os progressos na investigação dos processos geo-lógicos geradores de recursos, do controlo estrutural,da geoquímica das terras-raras, dos isótopos e das in-clusões fluídas, bem como dos diferentes domínios dageofísica, conjugados com a crescente tendência para

Fig. 21 – Mineralizações da Faixa Piritosa Portuguesa e área potencial para prospecção de jazigos tipo Neves-Corvo no lineamento Estaçãode Ourique-Neves-Foupana.

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a quantificação das observações e uso das tecnologiasda informação, da modelização matemática e simula-ção, irão proporcionar melhores e mais eficazes meiospara a descoberta de jazigos minerais. Do mesmo mo-do, a biogeoquímica multielementar, utilizando não sóplantas mas, inclusive, microorganismos, poderá vira revelar-se, em alguns casos, de grande utilidade. Comefeito, ensaios recentes num projecto de investigaçãosobre o jazigo de Neves-Corvo (desenvolvido pelos Ser-viços Geológicos dos Estados Unidos da América e osServiços Geológicos de Portugal, financiado pelaFLAD), revelaram que as folhas da Quercus ilex (vul-go, azinheira) acusam com facilidade anomalias metá-licas existentes no solo e subsolo que podem sercorrelacionáveis com a presença de jazigos minerais,e servir para ajudar a detectar jazigos ocultos (Fig. 22);– Como novos domínios para a prospecção deverá,para além do já referido, ter-se em conta que ao longoda coluna geológica das formações que ocorrem noPaís são conhecidos vários episódios vulcânicos, mui-tos deles ainda insuficientemente estudados, em par-ticular as fácies de rochas vulcânicas distais(depositadas longe dos centros vulcânicos) ou as exa-lativas - sedimentares (exhalitos, ou seja, sedimentosquímicos derivados de fluidos vulcânicos). Da inves-tigação do vulcanismo actual e antigo tem-se concluí-do que a tais rochas, quando em condições estruturaisfavoráveis, podem estar associadas mineralizações, emparticular, de ouro. Igualmente para o ouro há que in-tensificar a investigação de possíveis ocorrências de ja-zidas associadas a zonas de fraqueza crustal antigas que

possam ter rejogado ao longo dos tempos geológicos(zonas de cisalhamento e zonas de sutura);– A procura de metais para os novos materiais e no-vas tecnologias vai despertar o interesse em minérioscorrentes que possam conter tais elementos em con-centrações susceptíveis de recuperação como sub--produtos de grande valia, como é o caso, entre outros,do Ge, In, Nb, Ta, Ga, Se, Cd. Do mesmo modo, ha-verá que fazer o estudo das rochas ígneas alcalinas eperalcalinas que ocorrem no País, tendo em vista o co-nhecimento da sua potencialidade em terras-raras, nió-bio e outros elementos raros. Das formações aplito--pegmatíticas é igualmente de esperar poderemdetectar-se zonas de relativo enriquecimento em me-tais raros susceptíveis de interesse actual e futuro;– Muito há ainda a realizar para melhorar o conheci-mento estrutural e mineralógico e para mais rigorosa-mente fazer a caracterização de recursos já conhecidos,metálicos e não metálicos, tendo em vista a sua valo-rização e aproveitamento. Importa reforçar a articu-lação e aumentar o grau de integração vertical com aindústria transformadora, ainda bastante débeis, à ex-cepção dos casos do sal-gema para a indústria quími-ca, as argilas para a cerâmica e os materiais deconstrução. Além disso, a modernização de estruturasprodutivas e a racionalização de explorações, em par-ticular no sub-sector dos “não-metálicos”, são indis-pensáveis para assegurar a competitividadeinternacional.

Uma fronteira para vastos horizontesA Zona Económica Exclusiva

Pela sua extensão e grande importância, pelo pou-co conhecimento que, apesar dos notáveis trabalhosrealizados, dela se tem e pelo muito que importa fa-zer, julgou-se adequado destacar este tema. É facto co-nhecido que o território imerso sob jurisdiçãoportuguesa corresponde a uma área cerca de dezoitovezes superior à superfície da zona emersa, ou seja, amaior da CE e a terceira da Europa (Fig. 23). A tremen-da responsabilidade que advém da posse de tão impor-tante património territorial terá de ser assumida emtoda a sua plenitude, sob pena de virmos a ser “colo-nizados” neste domínio.

Tradicionalmente, quando se aborda o tema dos re-cursos não vivos do mar, associa-se logo a ideia do pe-tróleo e gás. Sem dúvida que estes são os maisimportantes recursos geológicos explorados nas áreasmarinhas do globo, mas outros há que, no futuro, po-derão desempenhar relevante papel na economia dasnações.

As primeiras indicações concretas da formação demetais sob os oceanos foram obtidas pela expediçãoChallenger em 1870, quando recolheram os célebresnódulos de manganês e ferro, contendo também algumníquel, cobalto e cobre. Evidência indirecta de que im-portantes jazigos de sulfuretos polimetálicos maciços,

Fig. 22 – Teores de Cu, As, Sn, Bi, Sb, e In nas cinzas das folhasde Quercus ilex, um perfil sobre jazigo de Neves-Corvo. Adaptadode Grimes, D. et al., USGS Bull., in press.

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Fig. 23 - A Zona Económica Exclusiva (ZEE) portuguesa.

como os de Chipre, do Kuroko no Japão, ou os da Fai-xa Piritosa foi sendo obtida de diversos estudos em ter-renos antigos, um pouco por todo o mundo, vindo aser proposta e genericamente aceite, a partir do fimda década de 50, a teoria vulcano-sedimentar para ex-plicar a formação de tais jazigos no fundo marinho.Por outro lado, no início da década de 60, no SaltonSea (Golfo da Califórnia) e no Mar Vermelho detectava--se a presença de focos mineralizadores activos, for-mando salmouras metalíferas quentes, das quaisresultam lamas ou sedimentos polimetálicos muito fi-nos junto das áreas de descarga. Em 1962, uma son-dagem para a prospecção de petróleo e gás no ImperialValley, a SE do Salton Sea, encontrou, inesperadamen-te, à profundidade de 1 500 m, uma salmoura com320° de temperatura que, ao arrefecer à superfície pre-cipitou, durante três meses, cerca de 8 toneladas dematerial silicioso contendo 20% de Cu e 8% de Ag,em peso. Tais sistemas activos têm sido fonte de enor-me quantidade de dados científicos de extraordináriaimportância sobre os processos mineralizantes. Paraas lamas do Mar Vermelho, que atingem centenas demilhões de toneladas, existem já ensaios tecnológicospara a sua exploração, tratamento mineralúrgico e ex-tracção de metais Zn, Cu, e Ag. Mas, porventura, asmais sensacionais descobertas foram na East PacificRise, pela equipa do projecto RISE (Fractura 21N),quando em missão no submersível ALVIN (1978), amais de 2 500 m de profundidade, puderam observarao vivo a descarga dos “black smokers” (Fig. 24),

Fig. 24 – “Black smoker”. Solução hidrotermal a cerca de 320o C formando um depósito mineral no fundo marinho a 2 500 m de profundi-dade na Fractura 21 N da East Pacific Rise. A cor negra é devida às finas partículas de sulfuretos polimetálicos precipitados em contacto coma água do mar. Ao lado, uma camada de sulfuretos formados ã volta dos canais de exalação na 21N. Tirado de The Dynamic Earth, an Intro-duction to Physical Geology, 2nd. ed., 1992, por Skinner, B.J. e Porter, S.C. Copyright© 1992, by John Wiley & Sons, Inc. Reprodução autori-zada por John Wiley & Sons, Inc..

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i.é. chaminés, com três ou mais metros de altura, bro-tando fumos negros compostos de líquido e vapor su-persaturado em elementos metálicos, Fe, Cu, Zn, Mne metais preciosos a temperaturas que podem atingiros 400° C. Ficou assim demonstrada a deposição di-recta de mineralizações no fundo do mar a partir desistemas hidrotermais, fenómeno que muitos autoresjulgavam dantes ser inviável.

Para a formação e preservação de um depósito desulfuretos vulcanogénicos marinhos é necessária a con-jugação favorável de, fundamentalmente, cinco facto-res determinantes: a) – a existência de um fluidocapaz de transportar vários p.p.m. de metais, e enxo-fre reduzido em solução; b) – uma fonte de energiatérmica (intrusão magmática) capaz de gerar circula-ção convectiva através de vários quilómetros de rochasdo fundo oceânico; c) – existência de um sistema defracturas que proporcionem espaços abertos para a cir-culação do fluido; d) – mecanismos que levem à pre-cipitação dos metais. Normalmente a pressão da coluna deágua impede que o fluido entre em ebulição antesde atingir o fundo marinho e daí ele brotar sob a for-ma de “black smoker”; a precipitação resulta da sim-ples mistura do fluido hidrotermal com a água do marfria. Precipitam assim os sulfuretos metálicos e os sul-fatos de cálcio e de bário. O ferro e manganês formamóxidos e hidróxidos que permanecem em solução ouformam colóides e arrastam consigo metais nobres, emespecial o ouro, podendo vir a dispersar-se e irem pre-cipitar distalmente em relação aos focos donde bro-tam os fluidos de profundidade. Caso não hajasulfuretos metálicos no fluido geram-se os designados“white smokers”; e) – acumulação de material se-dimentar ou vulcânico para cobrir e preservar da ero-são as mineralizações depositadas.

Se o fluido na sua ascensão para a superfície sofrerebulição, os sulfuretos podem precipitar ainda no seiodas rochas do subsolo marinho dando filonetes, vénu-las e veios ou formar uma lama que se extravasa e afun-da na bacia de sedimentação.

Estas impressionantes descobertas geraram novosparadigmas e vieram reforçar o potencial de recursos dosolo e subsolo marinhos, muito em particular nasvizinhanças das zonas de fraqueza estrutural associa-das às cristas médias e falhas transformantes das pla-cas oceânicas. Portugal com a sua vasta ZEE, na qualse incluem extensas zonas vizinhas da Crista Médiado Atlântico e de falhas transformantes, em particu-lar nas regiões dos Açores e Madeira, dispõe, desde lo-go, de condições particularmente favoráveis.

Para além dos sulfuretos polimetálicos, vários sãoos recursos que podem existir nos diferentes ambien-tes geológicos marinhos (Fig. 25). Na área portuguesaconhecem-se indícios de óleo e de gás e admitem-seboas perspectivas para estes recursos nas bacias sedi-mentares do “deep-offshore”. Por outro lado, nela jáforam definidos alguns depósitos de areias e cascalhosjunto à costa e descobertos nódulos fosfatados e nó-dulos metálicos (Fig. 26). Ocorrências de sulfuretos fo-ram também já reveladas na crusta oceânica atlântica.

Parece, assim, razoável admitir ser desta imensaárea sob jurisdição portuguesa que, no próximo sécu-lo, poderão surgir importantes contributos para a am-pliação da Base de Recursos. O desafio é enorme ea tarefa gigantesca. Alguns dirão que isso vai levar mui-to tempo e há que trabalhar para o presente. Outroscontestarão que, por isso mesmo, há que começar ce-do para não se correr o risco de perder a corrida. Ape-sar dos escassos meios, muito já foi feito e de boaqualidade, o que é, só por si, um bom ponto de parti-

Fig 25 – Tipo de recursos minerais em ambientes geológicos marinhos. Adaptado de Monteiro, H., Bol. Minas, vol. 22, n.o 1, 1985.

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Fig. 26 – Nódulos de manganês e fosforites da ZEE portuguesa.

da. A cooperação internacional, fundamental neste do-mínio, face aos custos envolvidos, tem sido exemplare muito frutuosa. Importará prosseguir com determi-nação e alargar, desde já, o conhecimento geológicoa toda a ZEE, incluindo as planícies abissais e os ar-quipélagos dos Açores e Madeira, e desenvolver estu-dos de detalhe de áreas potenciais em recursos, bemcomo acompanhar de perto a evolução científica nosdiversos domínios da oceanografia e da tecnologia daexploração mineira submarina.

O progresso dos povos sempre foi e, apesar das pre-visíveis mutações, por certo continuará a ser fortemen-te dependente da utilização dos recursos geológicos.Portugal reúne condições naturais relativamente favo-ráveis para encarar o futuro com tranquilidade e es-perança, desde que se verifique criteriosa e racionalexploração e valorização dos recursos conhecidos, ese criem os meios e envidem os esforços necessáriospara traduzir a real potencialidade de ampliação daBase de Recursos em efectivas descobertas em terrae no mar.

AGRADECIMENTOS

Ao Eng. Moitinho de Almeida e ao Dr. Hipólito Monteiro, pela ajuda na obtenção de algumas fotografias; à Dra Maria de Jesus Sousa peloprocessamento e composição gráfica do texto e ao desenhador José de Almeida pela elaboração das peças desenhadas.Ao Professor Martim Portugal Ferreira pela cuidada revisão do texto.

SUGESTÕES DE LEITURA

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