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Brasileiras cotidiano Brasil Dificuldades Educação Estados Unidos Europa exterior idade Imigração imigrantes moradia motivos Mulheres Mundo Reino Unido São Paulo visto Imigrantes Brasileiras Pelo Mundo, 2013 Yara Evans Tânia Tonhati Ana Souza Trabalho Idioma Domicílio Tempo Discriminação Dezembro de 2013 ISBN: 978-0-902238-92-3 cidadania passaporte mudança

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Brasileiras cotidiano

Brasil

Dificuldades

Educação

Estados Unidos

Europa exterior

idade

Imigração

imigrantes moradia

motivos

Mulheres

Mundo

Reino Unido

São Paulo

visto

Imigrantes Brasileiras Pelo Mundo, 2013 Yara Evans Tânia Tonhati Ana Souza

Trabalho

Idioma

Domicílio Tempo

Discriminação

Dezembro de 2013

ISB

N: 9

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cidadania passaporte

mudança

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Imigrantes Brasileiras Pelo Mundo, 2013

Yara Evans

Tânia Tonhati

Ana Souza

Londres, Reino Unido Dezembro de 2013

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Apresentação O GEB (Grupo de Estudo sobre Brasileiros no Reino Unido) foi fundado em 2008 por pesquisadores de diversas áreas (sociologia, geografia, linguística, entre outras) com o objetivo de pesquisar e debater questões relativas à população brasileira no Reino Unido. Ao longo desses cinco anos, um de seus principais objetivos tem sido promover o diálogo e o intercâmbio multidisciplinar para propiciar um melhor entendimento sobre as dinâmicas que afetam as comunidades brasileiras e suas diferentes experiências migratórias. Para atingir tal objetivo, o GEB tem conduzido um diálogo no âmbito acadêmico, assim como com organizações não-governamentais1, e também com orgãos do governo brasileiro, no Reino Unido, e em outros países.

Desse modo, como parte de sua missão, o GEB organiza seminários mensais (trimestrais a partir de 2012), onde pesquisadores e estudantes tem a oportunidade de divulgar e discutir seus trabalhos. Outra atividade importante realizada pelo GEB é seu seminário anual (bienal a partir de 2012), em que participam seus próprios integrantes ao lado de acadêmicos e representantes da comunidade brasileira no Reino Unido para discutir temas específicos relevantes para a população brasileira.

O GEB também incentiva seus integrantes a participarem de congressos, oficinas e seminários, assim como a divulgarem seus trabalhos em publicações acadêmicas. Dentre as atividades de disseminação de pesquisa, destacam-se o dossiê Brasileiros em Londres, organizado pelo GEB e publicado em 2010 pela Revista Travessia no Brasil, uma das principais revistas acadêmicas sobre migração no país.

Outro passo importante para o GEB foi lançar sua própria pesquisa sobre a população brasileira em Londres, que resultou no relatório Por uma vida melhor: Brasileiros em Londres, 2010, publicado em 2011.

Assim, o GEB tem se empenhado em ampliar o conhecimento sobre os imigrantes brasileiros e, desse modo, contribuir para a formulação de políticas públicas voltadas para o seu bem-estar.

Maiores informações sobre o GEB, seus integrantes e seu trabalho estão disponíveis em

www.ioe.ac.uk/geb

www.geblondon.wordpress.com/ Comentários sobre esse relatório podem ser dirigidos a

Yara Evans: [email protected]

1 O GEB participa das seguintes organizações (ou com elas dialoga): RedeUK de Brasileiras e Brasileiros, Rede de Brasileiros e Brasileiras na Europa, Conselho Participativo de Cidadania do Reino Unido, Latin American Women’s Rights Service (LAWRS) e Conferência Brasileiros no Mundo.

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Sobre as Autoras Dra Yara Evans, Visiting Research Fellow, Queen Mary, Universidade de Londres www.geog.qmul.ac.uk/staff/evansy.html

Dra. Yara Evans é formada em História pela Unicamp e em Geografia Humana, pela London Metropolitan University. Obteve o mestrado em Geografia pela Royal Holloway, University of London, e o doutorado em Geografia pela University of Wales Aberystwyth. É pesquisadora na School of Geography, Queen Mary, University of London desde 2004. Seu principal tema de pesquisa é imigração ao Reino Unido, com especial enfoque nas experiências de imigrantes de baixa renda, e também brasileiros e latino-americanos. Integrante do GEB desde 2008, liderou pesquisa sobre brasileiros em Londres que produziu um dos primeiros perfis sócio-econômicos desse importante grupo da chamada ‘nova imigração’, cujos resultados foram reportados no relatório Por Uma Vida Melhor: Brasileiras e Brasileiros em Londres (2011). É também orientadora do mestrado à distância do Centre for Development, Environment and Policy da School of Oriental and African Studies (SOAS), University of London, e Associate Lecturer da Open University.

Tânia Tonhati, PhD student, Goldsmiths, Universidade de Londres, https://goldsmiths.academia.edu/TaniaTonhati

Tânia é doutoranda em Sociologia na Goldsmiths, Universidade de Londres. Tânia obteve o mestrado na Universidade Federal de São Carlos, UFSCar e cursou especialização na Universidade Estadual Paulista, UNESP. Nesses trabalhos, ela desenvolveu um projeto destinado a incentivar a participação popular em políticas públicas via o uso de tecnologias para informação e comunicação (TICs). Sua graduação é em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista , UNESP. Tânia já trabalhou como pesquisadora em vários projetos relacionados à vida dos imigrantes brasileiros em Londres. Dentre eles, destacam-se o projeto THEMIS, Universidade de Oxford, financiado pela NORFACE, e a pesquisa realizada pelo GEB e reportada no relatório Por uma vida melhor: Brasileiras e Brasileiros em Londres (2011). Ademais, Tânia tem participado ativamente dos debates sobre a migração brasileira na Europa, através de conferências acadêmicas e participação política no Conselho Participativo de Cidadania, em Londres e Comissão da Mulher.

Dra Ana Souza, John Adams Research Fellow, Instituto de Educação, Universidade de Londres www.ioe.ac.uk/staff/66915.html

Dra. Ana Souza lecionou inglês como língua estrangeira (EFL) no Brasil antes de fazer Mestrado em Ensino de Língua Inglesa na Thames Valley University (atual West London University), Londres. Tem experiência no ensino de inglês para falantes de outras línguas (ESOL), português para adultos (PLE) e crianças (POLH) em Londres, onde co-fundou a Abrir, Associação Brasileira de Iniciativas Educacionais no Reino (www.abrir.org.uk). Ana também co-fundou o GEB. Para sua tese de doutorado na Universidade de Southampton, estudou língua e identidade junto à comunidade brasileira no Reino Unido. Sua área de pesquisa inclui bilinguismo, o ensino de Português como Língua de Herança e a formação de professores de línguas. Seus artigos podem ser encontrados em revistas acadêmicas tais como Curriculum Planning, Current Issues in Language Planning, Portuguese Studies e Revista Travessia. No momento trabalha como pesquisadora no Instituto de Educação na Universidade de Londres.

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ÍNDICE PÁGINA Lista de Ilustrações……………………………………………………………………………… 5 i. Introdução……………………………………………………………………………... 6 ii. Brasileiras Imigrantes…………………………………………………………………. 6 1. Brasileiras Pelo Mundo………………………………………………………………..... 7 1.1 País de Domicílio…………………………………………………………………….... 7 1.2 Origem no Brasil………………………………………………………………………. 8 1.3 Idade…………………………………………………………………………………… 9 1.4 Nível Educacional……………………………………………………………………... 9 1.4.1 Cursos de Graduação………………...………………………………………................ 9 1.5 Atividade Econômica Pré-imigração………………………………………………...... 10 1.6 Motivos da Imigração………………………………………………………………..... 11 1.7 Situacão Imigratória na Admissão ao País de Domicílio……………………………... 12 1.8 Tempo de Residência no País de Domicílio…………………………………………... 12 1.9 Situação Imigratória Atual…………………………………………………………...... 13 1.10 Mudança na Situação Imigratória……………………………………………………... 14 1.11 Atividade Econômica Atual………………………………………………………….... 15 1.12 Principais Problemas no Cotidiano……………………………………………………. 16 2. Imigrantes Brasileiras: América do Norte, Europa e Reino Unido…………………… 17 2.1 País de Domicílio…………………………………………………………………….... 17 2.2 Origem no Brasil………………………………………………………………………. 17 2.3 Idade………………………………………………………………………………….... 18 2.4 Nível Educacional……………………………………………………………………... 18 2.5 Atividade Econômica Pré-imigração………………………………………………...... 19 2.6 Motivos da Imigração…………………………………………………………………. 20 2.7 Situação Imigratrória na Admissão ao País de Domicílio…………………………...... 21 2.8 Tempo de Residência no País de Domicílio…………………………………………... 22 2.9 Situação Imigratória Atual…………………………………………………………….. 22 2.10 Mudanças na Situação Imigratória……………………………………………………. 23 2.11 Atividade Econômica Atual………………………………………………………….... 26 2.12 Principais Problemas no Cotidiano……………………………………………………. 27 3. Imigrantes Brasileiras Pelo Mundo: um resumo……………………………………….. 28 4. Imigrantes Brasileiras: desafios por documentar …………………………………….. 29 5. Agradecimentos……………………………………………………………………....... 29 6. Bibliografia……………………………………………………………………………. 29

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES PÁGINA Mapa 1.1 Brasileiras no Mundo (2013)………………………………………………. 7 Mapa 1.2 Origem no Brasil por Unidade Federativa (2013)…………………………. 8 Gráfico 1.3 Idade (2013)………………………………………………………………... 9 Gráfico 1.4 Nível Educacional (2013)………………………………………………...... 9 Gráfico 1.4.1a Curso de Graduação (N≥5)………………………………………………… 10 Gráfico 1.4.1b Curso de Graduação (N≥2)………………………………………………… 10 Gráfico 1.5 Atividade Econômica no Brasil (2013)……………………………………. 10 Gráfico 1.5a Quadro de Empresa Privada……………………………………………...... 11 Gráfico 1.5b Sem Atividade Remunerada……………………………………………...... 11 Gráfico 1.6 Fatores que Motivaram a Imigração (2013)……………………………….. 11 Gráfico 1.7 Visto Obtido/Documento Usado ao Entrar no País de Domicílio (2013)..... 12 Gráfico 1.8 Tempo de Residência no País de Domicílio (2013)……………………….. 12 Gráfico 1.9 Situação Imigratória Hoje no País de Domicílio (2013)…………………... 13 Gráfico 1.10 Mudança na Situação Imigratória (2013)………………………………...... 14 Gráfico 1.11 Atividade Econômica no País de Domicílio (2013)……………………...... 15 Gráfico 1.11a Quadro de Empresa Privada……………………………………………...... 15 Gráfico 1.11b Sem Atividade Remunerada……………………………………………...... 15 Gráfico 1.12 Principais Problemas Enfrentados no País de Domicílio, 2013…………… 16 Gráfico 2.2 Origem no Brasil por Unidade Federativa (2013)………………………… 18 Gráfico 2.3 Idade (2013)………………………………………………………………... 18 Gráfico 2.4 Nível Educacional (2013)………………………………………………..... 19 Gráfico 2.5 Atividade Econômica no Brasil (2013)……………………………………. 19 Gráfico 2.5a Quadro de Empresa Privada……………………………………………..... 20 Gráfico 2.5b Sem Atividade Remunerada……………………………………………..... 20 Gráfico 2.6 Fatores que Motivaram a Imigração (2013)……………………………..... 20 Gráfico 2.7 Visto Obtido/Documento Usado ao Entrar no País de Domicílio (2013).... 21 Gráfico 2.8 Tempo de Residência no País de Domicílio (2013)……………………...... 22 Gráfico 2.9 Atual Situação Imigratória no País de Domicílio (2013)………………….. 23 Gráfico 2.10a Mudança na Situação Imigratória -América do Norte…………………….. 24 Gráfico 2.10b Mudança na Situação Imigratória -Europa……………………………...... 24 Gráfico 2.10c Mudança na Situação Imigratória -Reino Unido………………………...... 24 Gráfico 2.11 Atividade Econômica no Atual País de Domicílio (2013)………………… 26 Gráfico 2.11a Sem Atividade…………………………………………………………....... 26 Gráfico 2.11b Quadro de Empresa Privada……………………………………………...... 26 Gráfico 2.12 Principais Dificuldades Encontrada no País de Domicílio, 2013………...... 27 Tabela 2.1 País de Domicílio por Região, 2013 (N)………………………………....... 17 Tabela 2.10d Mudança na Situação Imigratória, 2013 (%)………………………………. 25

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i. Introdução

“Birds of passage are also women” (Morokvasic, 1984)

Até meados dos anos 1980, a figura masculina predominou nos estudos migratórios como sendo o imigrante típico. O processo migratório era geralmente explicado como tendo um imperativo econômico, onde as teorias apontavam que o homem, como chefe da familia, era quem deveria imigrar, geralmente com o intutito de trabalhar para provir melhores condições para sua família (Miranda, 2009). De acordo com Morokvasic (1984), nos estudos e nas políticas migratórias predominava um modelo de família patriarcal que colocava as mulheres como dependentes dos homens. Nesse estudo, que foi um dos primeiros a enfocar a experiência migratória das mulheres, a autora chama atenção para o fato de que, como as mulheres não predominavam no mercado de trabalho, eram vistas como economicamente inativas, de modo que suas experiências no projeto migratório eram relegadas.

Somente a partir dos meados dos anos 1980 é que os acadêmicos envolvidos em pesquisa de imigração (geralmente mulheres migrantes, influenciadas por teorias feministas), começaram a posicionar as mulheres no centro das discussões sobre imigração (Morokvasic, 1984; Pedraza, 1991). No entanto, para autoras como Boyd e Grieco (2003) e Miranda (2009), a feminização da migração não pode ser explicada apenas pelo aumento do número de mulheres nos fluxos populacionais, como observa Castells e Miller (1998). A aceitação do conceito de mulher migrante fez com que mais e mais estudos documentassem suas experiências.

Com relação à imigração brasileira, os dados do Ministério das Relações Exteriores revelam que apenas 2% da população brasileira havia emigrado no período 1980-1990 (MRE, 2011). Recentemente, o IBGE (2012) dedicou uma seção do Censo Brasileiro de 2010 aos brasileiros emigrantes, reportando que 491.645 brasileiros viviam no exterior, dos quais 54% eram mulheres. O crescente interesse na imigração de mulheres brasileiras reflete-se num incremento de pesquisas sobre o tema, a maior parte delas realizadas nos Estados Unidos (McDonnell and Lourenco 2009; Debiaggi, 2002; Messias, 2001; Assis 2007), em Portugal (Padilla 2007, 2008, 2009; Padilla e Gomes, 2012; Giacomini 2006; Gomes, 2011) e também Espanha e Itália (Piscitelli 2005, 2007).

O estudo aqui reportado visa contribuir para uma melhor compreensão das experiências das imigrantes brasileiras ao redor do mundo. A novidade deste último estudo do GEB é ter propiciado uma visão geral das características de mulheres brasileras residentes em vários países em um mesmo período de tempo, assim como uma abordagem comparativa da situação de brasileiras em regiões específicas. Portanto, ao apontar as principais características sociais e econômicas da população de brasileiras imigrantes no mundo, assim como em regiões-chaves, o Grupo de Estudos sobre Brasileiros no Reino Unido (GEB) dá continuidade à sua missão de contribuir para um melhor entendimento das experiências brasileiras de imigração.

ii. Brasileiras Imigrantes

Na ocasião da primeira edição do seminário Brasileiras Pelo Mundo2, organizado e sediado em Londres em 26 de janeiro de 2013, o GEB lançou um estudo sobre mulheres que deixaram o Brasil em busca de melhores oportunidades e novas experiências. O estudo foi realizado no primeiro

2 Organizado por Ann Moeller (http://www.brasileiraspelomundo.com/) e apoiado pelo GEB, o encontro contou com a presença de quase 40 mulheres de diferentes partes do Brasil que atuam como profissionais em várias áreas nos respectivos países de domícilio.

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semestre de 2013, por meio de um questionário3 disponibilizado em página da internet, cujo link de acesso foi circulado amplamente em redes sociais, em grupos de discussões sobre brasileiros e também via correio eletrônico. O critério de seleção utilizado foi o de brasileiras adultas que, à época do estudo, estivessem residindo há pelo menos seis meses fora do Brasil. No total, foram obtidos 435 questionários.

O relatório está estruturado em duas partes. Na primeira parte (Brasileiras no Mundo), apresentam-se os resultados para a amostragem como um todo, sem distinção de países. Na segunda parte (Brasileiras na América do Norte, Europa e Reino Unido), apresentam-se somente os dados para os países reunidos em três regiões-chaves, uma vez que tais regiões representam a grande maioria das brasileiras pesquisadas (89% da amostragem). É importante ressaltar que, nessa análise, o Reino Unido é tratado como uma região-chave separada da Europa. Recorremos a esse artifício por várias razões. Primeiramente, embora o Reino Unido seja constituído por um conjunto de países, para efeitos de legislação imigratória, representa um único país. Em segundo lugar, o Reino Unido foi responsável pela maior parcela individual de participantes (28% da amostragem). Finalmente, tratar o Reino Unido como região-chave propiciou uma abordagem comparativa mais diversificada, contribuindo assim, para enriquecer o entendimento sobre a imigração de mulheres brasileiras.

1. Brasileiras Pelo Mundo

1.1 País de Domícilio As mulheres brasileiras que participaram do estudo haviam se estabelecido em 42 países ao redor do mundo. O mapa 1.1 mostra os países onde residiam à época do estudo. Observa-se que os Estados Unidos, Canadá, e o Reino Unido e vários outros países na Europa abrigam as principais concentrações. Ao se reunir os países em regiões, nota-se que a Europa abriga a maior parcela (36%), seguida do Reino Unido (28%) e da América do Norte (25%). O contraste é visível em relação as demais regiões (África, 2%; América do Sul, 3%, Ásia, 4%, Oceania, 1.5%, e Oriente Médio, 1%).

Mapa 1.1

3 O programa Bristol Online Surveys foi utilizado para desenvolver e disponibilizar o questionário eletrônico.

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1.2 Origem no Brasil Em termos da origem no Brasil, os dados revelaram que 21 das 27 unidades federativas do país estavam representadas na amostragem, constituindo a unidade político-administrativa de nascimento. O mapa 1.2 mostra a distribuição das brasileiras segundo a origem. Conforme se vê, o estado de São Paulo destaca-se como o responsável pelo maior contingente das brasileiras imigrantes, representando pouco mais de um terço (36%). Tal proporção corresponde a mais do que o dobro do contingente de brasileiras oriundas dos estados do Rio de Janeiro (14%) e de Minas Gerais (12%), estados que contribuíram as outras parcelas mais altas. Nota-se, assim, a predominância da região Sudeste na amostragem enquanto região de origem de quase dois-terços (62%) das brasileiras pesquisadas.

Mapa 1.2

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1.3 Idade Conforme se verifica no gráfico 1.3 abaixo, a maior parte das brasileiras pesquisadas (44%) encaixa- se na faixa etária de 30 a 39 anos. A essa parcela, seguem-se as brasileiras com idade entre 18 e 29 anos (25%), e brasileiras pertencentes à faixa etária entre 40 e 49 anos (23%). A idade média registrada para a amostragem toda foi de 35 anos.

Gráfico 1.3

Idade (2013) ≥50 18-29

40-49

30-39 1.4 Nível Educacional Os dados do estudo mostram que as brasileiras possuem avançado nível educacional, tendo a grande maioria (93%) cursado o ensino superior. Cerca de 43% cursaram pós-graduação, constitutindo a maior parcela individual da amostragem. Um terço das pesquisadas concluiu a graduação, porém 12% não chegaram a obter o diploma de conclusão de curso.

Gráfico 1.4

Nível Educacional (2013)

Pós-graduação

1o. Grau 2o. Grau

Graduação Incompleta

Graduação completa

1.4.1 Cursos de Graduação Os dados do estudo revelam um alto número de disciplinas de graduação cursadas pelas brasileiras. No total, 65 cursos foram mencionados, ressaltando, portanto, um perfil universitário muito diversificado. O gráfico 1.4.1a mostra os cursos citados pelo menos cinco vezes, enquanto que o gráfico 1.4.1b mostra os cursos citados pelo menos duas vezes. Os cursos que foram citados apenas uma vez incluem Biotecnologia, Física, Geofísica, Geologia, Neurolinguística, Oceanografia, Pediatria, Teologia, e Veterinária.

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Gráfico 1.4.1a Gráfico 1.4.1b

Curso de Graduação (N ≥ 5) Administração de Empresas Antropologia Arquitetura Biologia Computação Comunicação Direito Economia Engenharia Geografia História Jornalismo Letras Medicina Nutrição Odontologia

Curso de Graduação (N ≥ 2)

Análise de Sistemas Comércio Exterior Desenho

Educação Física Enfermagem Farmácia

Fisioterapia Fonoaudiologia Matemática

Química Recursos Humanos Relações Públicas

Secretariado Serviço Social

1.5 Atividade Econômica Pré-imigração Conforme mostra o gráfico 1.5, a maioria das brasileiras imigrantes havia exercido atividade econômica no Brasil antes de emigrarem.

Gráfico 1.5

Atividade Econômica no Brasil (2013)

Autônoma/Dona de negócio

Funcionária Pública

Quadro de Empresa Privada

Trabalhadora Informal

Outra

Não exercia atividade remunerada

(%) 0 10 20 30 40 50 60

10

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Gráfico 1.5a Gráfico 1.5b

Quadro de Empresa Privada Sem Atividade Remunerada

Funcionária Executiva Mãe/Dona-de-casa Estudante

Observa-se no gráfico 1.5 que metade das pesquisadas trabalhavam em empresa privada (50%), sendo a maioria funcionárias, e as demais, executivas (gráfico 1.5.a). Cerca de 23% das mulheres não exerciam atividade ecônomica remunerada ao deixarem o Brasil, constituindo o segundo maior grupo da amostragem. Dessas, a vasta maioria era estudante, dedicando-se as demais à atividades do âmbito doméstico (gráfico 1.5.b). Trabalhadoras autônomas ou donas de negócio compunham o terceiro maior grupo da amostragem (12%), seguido das funcionárias públicas (8%) e trabalhadoras informais (5%).

1.6 Motivos da Imigração As brasileiras apontaram várias razões para migrarem. O gráfico 1.6 mostra os motivos apontados pela vasta maioria (98%).

Gráfico 1.6

Fatores que Motivaram a Imigração (2013)

Aventura Trabalhar e estudar

Trabalhar Construir vida

Estudar Companheiro

Família

0 5 10 15 20 25 30 35 40

(%) O gráfico 1.6 revela que o maior grupo da amostragem é o de brasileiras que imigraram para seu atual país de domícilio para acompanhar ou se unir ao marido ou companheiro (38%). Este constitui o maior grupo da amostragem, sendo duas vezes maior do que os outros dois grupos mais numerosos, o de mulheres que haviam imigrado com o objetivo de estudar (17%), e as mulheres que imigraram para trabalhar e estudar (16%). Os dois próximos grupos com as maiores proporções compreendem as mulheres que imigraram com o objetivo de se fixar permanentemente no país do atual domicílio (11%), e as brasileiras que tinham imigrado para trabalhar (10%). Unir-se à família foi o objetivo de uma pequena minoria (3.5%), assim como foi a busca de aventura (3%).

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1.7 Situação Imigratória na Admissão ao País de Domicílio O gráfico 1.7 ilustra a diversidade de documentos apresentados e os vistos obtidos pelas brasileiras no momento de admissão ao país de domícilio. Observa-se que a maior proporção de mulheres recebeu o visto de turista ao ser admitida no atual país de domicílio, correspondendo a pouco menos de um terço da amostragem (31%). O segundo maior grupo compreende as brasileiras que foram admitidas com o visto de estudante (19%), seguido imediatamente pelo grupo de mulheres que receberam o visto de residência (16%). Nota-se, em seguida, o grupo de mulheres que foram admitidas ao país de destino em virtude de portarem um passaporte europeu obtido por ancestralidade (12%), e as mulheres que foram admitidas com permissão para trabalhar (10%). Os menores grupos da amostragem compreendem as brasileiras que foram admitidas com passaporte europeu obtido por meio de união com pessoa de cidadania europeia (6%), e ainda, mulheres que receberam visto de tempo indefinido (4%).

Gráfico 1.7

Visto Obtido/Documento Usado ao Entrar no País de Domicílio (2013) Visto de Tempo

Turista

Visto de Residência Indefinido Outro Passaporte Europeu

(descendência)

Permissão para trabalho

Estudante

Passaporte Europeu (união)

1.8 Tempo de Residência no País de Domicílio O gráfico 1.8 mostra o tempo transcorrido desde a admissão das brasileiras ao atual país de domícilio até o momento de sua participação no estudo.

Gráfico 1.8

Tempo de Residência no País de Domicílio (2013)

40

30 (%)

20

10

0 ≥ 1 ano >1-5 anos >5-10 anos >10 anos

Conforme se pode averiguar no gráfico 1.8, pouco mais de um terço das brasileiras pesquisadas estavam residindo em seu atual país de domicílio entre 1 e 5 anos (36%), podendo-se afirmar que sua

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imigração é relativamente recente. Cerca de um quinto (22%) da amostragem compreendia mulheres que residiam em seu atual país de domicílio entre cinco e dez anos, e quase um quarto (23%) eram brasileiras que residiam no país de atual domicílio há mais de dez anos. Observa-se assim, que em conjunto, pouco menos da metade das brasileiras (43%) já residia há mais de cinco anos no país de seu atual domicílio, configurando, assim, uma imigração de médio a longo prazo. Contudo, uma quinta parte das pesquisadas havia imigrado para o país do atual domicílio recentemente, residindo nele, no máximo, por um ano.

1.9 Situação Imigratória Atual O gráfico 1.9 ilustra a situação imigratória das brasileiras no momento de sua participação no estudo, reportando-se os tipo de documentos e vistos que determinam os termos de sua permanência no país de domícilio.

Gráfico 1.9

Situação Imigratória Hoje no País de Domicílio (2013)

(%)

Cidadania (A/C)

Sem visto

Outro

Visto de Tempo Indefinido

Visto de Residência

Turista

Permissão para trabalho

Estudante

Passaporte Europeu (Tempo)

Passaporte Europeu (união)

Passaporte Europeu (descendência)

0 10 20 30

Conforme mostra o gráfico 1.9, a maior parcela da amostragem (29%) corresponde às mulheres que, ao longo de sua estada no país de domicílio, haviam obtido o visto de residência, visto que normalmente confere uma série de direitos (por exemplo, ao trabalho remunerado e a acesso aos serviços públicos). Vale ressaltar que essa parcela da amostragem é duas vezes maior do que os outros dois contingentes mais numerosos das pesquisadas, constituídos das brasileiras que haviam obtido passaporte europeu em virtude de ancestralidade (13%) e por união com pessoa de cidadania europeia (12%). Observa-se também que três outros grupos da amostragem representavam um percentual idêntico (8%), compreendendo as brasileiras que possuíam visto de estudante, visto de tempo indefinido ou ainda, permissão para trabalho. O restante da amostragem constitui-se de grupos minoritários (turista, situações especiais, visto vencido). Contudo, é interessante observar que algumas mulheres haviam obtido passaporte europeu em virtude do tempo de permanência no país (4%), e outras haviam obtido a cidadania americana ou canadense (A/C 6%).

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1.10 Mudança na Situação Imigratória A fim de ilustrar mudanças ao longo do tempo, o gráfico 1.10 contrasta os dados sobre a situação imigratória das brasileiras no momento de admissão ao país de destino com os dados sobre sua situação imigratória no momento da participação do estudo.

Gráfico 1.10

Mudança na Situação Imigratória (2013) 35

30

25

Passaporte Europeu (descendência) Passaporte Europeu (união) Passaporte Europeu (Tempo) Estudante

20 Permissão para trabalho Turista

15

Visto de Residência

10 Visto de Tempo Indefinido

5 Outro

0

(%)

Situação na Entrada Situação Hoje

Sem visto

Cidadania (A/C)

A mudança mais expressiva registrada no gráfico 1.10 refere-se ao visto de turista. Enquanto esse tinha sido o visto obtido por quase um terço das brasileiras (31%) no momento da admissão ao país do atual domicílio, apenas uma pequena minoria (4%) reportou ainda possuí-lo à época da participação no estudo. Esse resultado não é de supreender muito, uma vez que o visto de turista geralmente é emitido para períodos curtos, consoante com o objetivo geral de permitir uma passagem temporária pelo país. Igualmente, verifica-se mudança considerável entre o percentual de brasileiras que haviam obtido o visto de estudante no momento da entrada no país de destino (19%) e o percentual das brasileiras que ainda o possuíam no período da realização do estudo (8%). A mudança na proporcão das brasileiras que haviam obtido permissão de trabalho é inexpressiva. Contudo, outra mudança marcante é o aumento no contingente de brasileiras que possuíam o visto de residência (de 16% para 29%). Do mesmo modo, observa-se um acréscimo na parcela das brasileiras que possuíam passaporte europeu em virtude de união com pessoa de cidadania europeia (de 6% para 12%), assim como no percentual das mulheres que possuíam o visto de tempo indefinido (de 4% para 8%).

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Praticamente não houve mudança na proporção de mulheres que reportaram possuir o passaporte europeu em virtude de ancestralidade.

1.11 Atividade Econômica Atual Em sua maior parte, as brasileiras exerciam atividade econômica remunerada no país do atual domicílio, compreendendo quase dois terços de toda a amostragem. O gráfico 1.11 ilustra as diversas categorias de atividade.

Gráfico 1.11

Atividade Econômica no País de Domicílio (2013)

Profissional Liberal

Funcionária Pública

Quadro de Empresa Privada

Autônoma/Dona de Negócio

Trabalhadora Informal

Não exerce atividade remunerada

0 10 20 30 40 (%)

Gráfico 1.11a Gráfico 1.11b

Quadro de Empresa Privada Sem Atividade Remunerada

Executiva Funcionária Mãe/Dona de casa Estudante/bolsista

Aposentada

Observa-se no gráfico 11.1 que a categoria profissional liberal representa o maior percentual das brasileiras que exerciam atividade remunerada (21% do total da amostragem). A segunda categoria mais numerosa dentre as mulheres economicamente ativas corresponde à das mulheres que compunham o quadro de pessoal de empresa privada (19% do total da amostragem). Dessas (gráfico

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11.1a), a proporção de funcionárias (60%) é superior à das executivas (40%). A categoria autônoma/dona de negócio constituiu o terceiro maior grupo da mulheres que exerciam atividade econômica (13% do total das pesquisadas), seguida proximamente da categoria trabalhadora informal (8% de todas as mulheres). A categoria que configurou a menor parcela da amostragem como um todo foi a de funcionária pública (2%). Contudo, pode-se observar também que a maior parcela individual de toda a amostragem compunha-se de mulheres que não exerciam atividade econômica remunerada alguma (38%). Dessas (gráfico 11.1b), o grupo estudante/bolsista era o mais numeroso (60%), seguido do grupo aposentada (24%) e do grupo mãe/dona de casa (17%).

1.12 Principais Problemas no Cotidiano A grande maioria (81%) das brasileiras pesquisadas reportou enfrentar problemas no seu dia-a-dia no país de domícilio. O gráfico 1.12 mostra os principais problemas identificados, ressaltando-se que cada participante podia nomear até três principais problemas.

Gráfico 1.12

Principais Problemas Enfrentados no Cotidiano no País de Domicílio, 2013 (*)

Outro

Discriminação Racial

Discriminação Sexual

Isolamento/Solidão

Serviços Públicos

Situação Imigratória

Moradia

Custo de vida

Trabalho

Língua

40 30 20 10 0 (% de casos)

(*) até tres citadas por participante

Conforme se vê no gráfico 1.12, os problemas mais comumente citados se relacionam ao trabalho (sobretudo a dificuldade de encontrar trabalho qualificado; 38% dos casos), problemas no manejo da língua (37% dos casos), o isolamento/solidão (37% dos casos), e o custo de vida (36% dos casos). Problemas mencionados com menor frequência dizem respeito à moradia (13% dos casos), ao acesso aos serviços públicos (11%), e também à discriminação racial (9% dos casos). Problemas relativos à situação imigratória e à discriminação por gênero foram os menos citados (5% e 4% dos casos, respectivamente). Com relação a categoria outro, o problema cotidiano mais frequentemente citado foi o clima.

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2. Imigrantes Brasileiras: América do Norte, Europa e Reino Unido

Esta seção do relatório reporta os resultados do estudo segundo regiões de imigração das brasileiras pesquisadas. Agregando-se o número das participantes em cada país de atual domícilio em regiões, observou-se que a América do Norte e a Europa sobressaíram-se como as regiões que registraram os maiores contingentes de participantes. Contudo, o Reino Unido sozinho é responsável pela parcela individual mais alta de toda a amostragem (27.5%). Assim, embora seja integrante da Europa enquanto região geográfica e político-administrativa, será tratado separadamente para propiciar a abordagem comparativa. No total, essas três regiões perfazem 89% de toda a amostragem

2.1 País de Domicílio A Tabela 2.1 mostra as parcelas da amostragem correspondentes aos países onde se encontravam domiciliadas a brasileiras que participaram do estudo, segundo as três principais regiões.

Tabela 2.1 País de Domicílio Por Região, 2013 (N)

América do Norte Europa Reino Unido(*) Canadá 31 Alemanha 12 Escócia Estados Unidos 70 Bélgica 1 Inglaterra México 4 Dinamarca 18 Irlanda do Norte

Eslováquia 4 País de Gales Espanha 12 França 12 Holanda 34 Hungria 4 Irlanda 4 Islândia 1 Itália 21 Malta 1 Noruega 1 Polônia 2 Portugal 12 Suécia 6 Suíça 12

Total 105 141 119 Total Geral 365 (*) As respondentes não diferenciaram entre os países.

2.2 Origem no Brasil O gráfico 2.2 mostra a origem das brasileiras no Brasil, segundo local de nascimento, representado pela correspondente unidade federativa. Conforme se verifica no gráfico 2.2, São Paulo destaca-se como o estado onde mais nasceram as brasileiras que emigraram para as três regiões. A maior parcela corresponde às brasileiras que residiam no Reino Unido (40%), seguidas das que se encontravam na América do Norte (36%) e das que reportaram um país da Europa como país de domicílio (32%). Vê- se também que o Rio de Janeiro foi o segundo estado mais citado, sendo responsável por quase um quinto (19%) das brasileiras residentes na América do Norte, por 14% das brasileiras domiciliadas no Reino Unido, e por 13% das brasileiras residentes na Europa. O terceiro estado mais citado foi Minas Gerais, representando parcelas de brasileiras mais ou menos próximas nas três regiões (América do Norte, 11.5%; Europa, 13.5%; Reino Unido 12%). Comprova-se, mais uma vez, uma predominância de três estados da região Sudeste do Brasil como local de nascimento das brasileiras pesquisadas.

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Gráfico 2 .2 Origem no Brasil por Unidade Federativa, 2013 (*)

50

40

30

20

10

0 (%)

(*) estados com mais de cinco participantes

América do Norte Europa

Reino Unido

2.3 Idade Em termos de idade, observa-se no gráfico 2.3 que as idades mais reportadas pelas brasileiras nas três regiões correspondem as idades agrupadas na faixa etária 30-39 anos. Quase metade das brasileiras residentes no Reino Unido (48%) tinham idades nessa faixa, seguidas das brasileiras na Europa (45%) e as brasileiras na América do Norte (42%). Nota-se também que o Reino Unido destaca-se por representar a parcela mais alta de brasileiras de idade entre 40-49 anos (30%), enquanto a América do Norte (25%) e Europa (27%) são responsáveis pelas proporções mais altas de mulheres na faixa etária 18-29.

Gráfico 2.3

Idade (2013)

50

40

30

20

10 0

(%)

18-29 30-39 40-49 ≥50

América do Norte Europa Reino Unido 2.4 Nível Educacional Os resultados quanto ao nível educacional das brasileiras nas três regiões demonstra que, assim como na amostragem como um todo, as brasileiras alcançaram um alto nível educacional. Conforme pode ser observado no gráfico 2.4, as parcelas mais altas de brasileiras correspondem àquelas que cursaram até a pós-graduação. A região responsável pela maior parcela dessas brasileiras foi o Reino

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Unido (48%), seguido de perto pela América do Norte (46%), enquanto na Europa, essas brasileiras perfaziam pouco mais de um terço (38%). Proporcões mais ou menos próximas de brasileiras nas três regiões reportaram haver concluído a graduação (35% no Reino Unido; 32% na América do Norte; 30% na Europa). Contudo, houve certa disparidade nos dados quanto a graduação incompleta, registrando o Reino Unido a porcentagem mais baixa (7%), correspondente à metade das porcentagens para a Europa (14%) América do Norte (13%).

Gráfico 2.4

Nível Educacional (2013)

Pós-graduação

Graduação completa

Graduação Incompleta

2o. Grau

1o. Grau

0 10 20 30 40 50

Reino Unido Europa América do Norte

(%)

2.5 Atividade Econômica Pré-imigração O gráfico 2.5 ilustra as atividades econômicas exercidas pelas brasileiras no pais de domicílio nas três regiões, conforme reportadas à época do estudo.

Gráfico 2.5

(%)

60

Atividade Econômica No Brasil (2013)

50

40

30

20

10

0 América do Norte Europa Reino Unido

Autônoma/Dona de negócio Funcionária Pública Quadro de Empresa Privada

Trabalhadora Informal Outra Sem atividade remunerada

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Gráfico 2.5a Gráfico 2.5b

Quadro de Empresa Privada Sem Atividade Remunerada

Reino Unido Reino Unido

Europa Europa

América do Norte (%)

Funcionária

0 cutiva

50 100

América do Norte (%)

0 20 40 60 80 100 Mãe/Dona-de-casa Estudante Exe

Verifica-se que a categoria quadro de empresa privada foi a mais reportada nas três regiões, embora em proporções diferenciadas. A América do Norte registrou a maior porcentagem de brasileiras nessa categoria (59%), perfazendo uma diferença considerável em relaçao à Europa (50%) e ao Reino Unido (47%). Dessas mulheres, a grande maioria, nas três regiões, compunha-se de funcionárias (gráfico 2.5a). A segunda maior categoria nas três regiões constitui a de mulheres que não exerciam atividade econômica remunerada alguma, representando proporções diferenciadas. O percentual mais alto foi registrado na Europa (24%), seguido pelo Reino Unido (20%), ao passo que a América do Norte registrou a menor proporção (15%). A grande maioria de mulheres nessa categoria era constituída por estudantes (gráfico 2.5b). Outro categoria importante nas três regiões foi a de autônoma/dona de negócio. O Reino Unido (14%) registrou o maior percentual de brasileiras nessa categoria, seguido da América do Norte (12%), e da Europa (11%).

2.6 Motivos da Imigração Os resultados do estudo relativos aos motivos que levaram às brasileiras a imigrar para as três regiões revelaram uma importante variação por região. Conforme se pode observar no gráfico 2.6, o mais alto percentual de todas as categorias foi registrado na Europa, compreendendo as brasileiras que haviam imigrado para estar com o companheiro (50%). Esse grupo também foi o mais numeroso na América do Norte (39%), mas compreendia uma proporção menor no Reino Unido (20%).

Gráfico 2.6

Fatores que Motivaram a Imigração (2013) 50

40

30

20

10

0 (%)

América do Norte Europa Reino Unido

Acompanhar família Estar com companheiro Estudar Construir vida Trabalhar Trabalhar e estudar Aventura

20

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Observa-se ainda no gráfico 2.6 que a segunda mais alta parcela individual na amostragem por regiões quanto aos motivos para imigrar foi a de brasileiras que apontaram trabalhar e estudar, registrada no Reino Unido (27%), embora tenha sido menos expressiva na América do Norte (15%) e, ainda menos, na Europa (9.5%). No Reino Unido também foi registrado o terceiro maior percentual, correspondente às brasileiras que haviam imigrado com o objetivo de estudar (24%), objetivo que foi um pouco menos importante para brasileiras na Europa (15%) e também na América do Norte (13%). Ainda, muito mais brasileiras na América do Norte (18%) haviam se mudado para aquela região para construir vida, do que as mulheres que haviam se mudado para o Reino Unido ou Europa (9% em ambos os casos). Imigrar para trabalhar foi objetivo apontado por mais mulheres na Europa (11.5%) do que no Reino Unido (9%) ou Europa (7%).

2.7 Situação Imigratória na Admissão ao País de Domicílio Os dados obtidos pela pesquisa demonstraram grande variação, também, na situação imigratória das brasileiras no momento da admissão ao país de domicílio nas três regiões. O gráfico 2.7 mostra as diversas situações reportadas pelas brasileiras

Gráfico 2.7

Visto Obtido/Documento Usado ao Entrar no País de Domicílio (2013) Outro

Reino Unido Visto de Tempo Indefinido Visto de Residência

Europa Turista

América do Norte

(%)

0 10

20 30 40

Permissão para trabalho Estudante

Passaporte Europeu (união) Passaporte Europeu (descendência)

Verifica-se no gráfico 2.7 que o maior contingente individual de brasileiras na amostragem por regiões compreendia aquelas que haviam sido admitidas no país de domicílio com o visto de turista, observado na Europa (35%), embora representasse proporções menores das pesquisadas que residiam na América do Norte (26%) e no Reino Unido (21%). O segundo maior grupo foi o de brasileiras que haviam recebido o visto de estudante, registrado no Reino Unido (32%), embora fosse muito menos expressivo na América do Norte (16%) e na Europa (14%). As brasileiras que portavam passaporte europeu por ancestralidade perfizeram o terceiro maior grupo, registrado no Reino Unido (27.5%), embora correspondesse a uma proporção muito menor na Europa (9.5%). O visto de residência foi o mais obtido por brasileiras na América do Norte (21%), representando o quarto maior grupo com esse visto na amostragem por regiões, sendo seguido pelas brasileiras que obtiveram esse visto na admissão na Europa (20%); porém no Reino Unido representava uma diminuta minoria (2.5%). A permissão para trabalho também foi o tipo de visto mais obtido pelas brasileiras admitidas na América do Norte (18%), embora os percentuais para as brasileiras admitidas na Europa (6%),

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fossem muito menores (7%). Vale observar também que o passaporte europeu obtido por meio de união com cidadão europeu foi o documento mais apresentado pelas brasileiras ao entrarem no Reino Unido (10%) e na Europa (7%).

2.8 Tempo de Residência no País de Domicílio O gráfico 2.8 ilustra o tempo de permanência no atual país de domicílio nas três regiões, conforme reportaram as brasileiras.

Gráfico 2.8 Tempo de Residência no País de Domicílio (2013)

>10 anos

>5-10 anos

>1-5 anos

≥ 1 ano

0 10 20 30 40 50 Reino Unido Europa América do Norte

O dado que mais chama a atenção no gráfico 2.8 é o do grupo das brasileiras que reportaram residir entre um e cinco anos na Europa (46%), responsável pela maior parcela individual da amostragem por regiões, embora correspondesse a proporções menores mas expressivas no Reino Unido (25%) e na América do Norte (36%). Outro grupo mais numeroso da amostragem por regiões foi o de brasileiras residentes no Reino Unido, onde pouco mais de um terço (34%) já residia acima de cinco anos e até dez anos, embora compreendesse parcelas bem menores para as brasileiras residentes por esse período tempo na América do Norte (18%) e na Europa (17%). A esse grupo segue-se o grupo de brasileiras que reportaram residir no atual país de domicílio há mais de dez anos, representando pouco menos de um terço, tanto na América do Norte (30%) quanto no Reino Unido, embora fosse responsável por apenas metade das residentes na Europa (15%). Das brasileiras que residiam há menos de um ano no atual país de domicílio, o maior contingente foi registrado na Europa (22%), sendo menos expressivo na América do Norte (15%) e, menos ainda, no Reino Unido (10%).

2.9 Situação Imigratória Atual A atual situação imigratória no país de domicílio reportada pelas brasileiras pesquisadas está representada no gráfico 2.9 abaixo, revelando uma ampla gama de possibilidades. Nota-se no gráfico 2.9 que a maior proporção das brasileiras na amostragem por regiões detinha o visto de residência, registrada na América do Norte (38%), compreendendo também uma proporção importante na Europa (35%), mas muito menos expressiva no Reino Unido (11%). A segunda maior parcela na amostragem corresponde à das brasileiras que portavam passaporte europeu por ancestralidade, registrada no Reino Unido (33%), sendo porém essa categoria muito menor na Europa (10%). Outra categoria individual importante foi a de mulheres que reportaram ter obtido a cidadania americana

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ou canadense (24%), seguida de perto pelas brasileiras que portavam o passaporte europeu por união com cidadão europeu (21%), reportado pelas residentes no Reino Unido (21%) e também por brasileiras domiciliadas na Europa (17%). Mais brasileiras reportaram possuir o visto de estudante na América do Norte (10%), do que na Europa e no Reino Unido (7.5% em ambos os casos). Situação semelhante ocorreu com as brasileiras que possuiam permissão para trabalho, cujo maior contingente foi registrado também na América do Norte (10%), seguidos dos grupos no Reino Unido (6%) e na Europa (5%).Vale observar também que o passaporte europeu por tempo de permanência foi obtido por brasileiras na Europa (6%) e também no Reino Unido (5%). As demais categorias de visto ou documentos foram reportados por parcelas bastante minoritárias, exceto a categoria outro, que foi reportada por 7% das brasileiras residentes na América do Norte.

Gráfico 2.9

Atual Situação Imigratória no País de Domicílio (2013) 40

30

Passaporte Europeu (descendência) Passaporte Europeu (união) Passaporte Europeu (Tempo) Estudante

Permissão para trabalho

Turista 20

Visto de Residência

Visto de Tempo Indefinido 10

Outro

0

(%)

América do Norte Europa Reino Unido

Sem visto

Cidadania (A/C)

2.10 Mudança na Situação Imigratoria O cruzamento dos dados referentes à situação imigratória no momento de admissão ao país de domicílio e os dados relativos à atual situação imigratória nos permite entrever as mudanças ocorridas na situação imigratória ao longo do tempo. Os gráficos abaixo resumem os resultados obtidos para as brasileiras na América do Norte (gráfico 2.10a), Europa (gráfico 2.10b), e Reino Unido (gráfico 2.10c).

Conforme mostram os gráficos abaixo, houve mudanças bastante pronunciadas e também diferenciadas na situação imigratória das brasileiras nas três regiões, refletindo, necessariamente os diferentes tipos de legislação imigratória vigente nos distintos países de cada região.

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Gráfico 2.10a

Mudança na Situação Imigratória - América do Norte 40

35

30

25

20

15

10

5

0

Estudante

Permissão para trabalho

Turista

Visto de Residência

Visto de Tempo Indefinido Outro

Sem visto

Cidadania (A/C) (%) Entrada na América do Norte Situação Imigratória em 2013

Gráfico 2.10b Mudança na Situação Imigratória - Europa

35

30

25

20

15

10

5

0

Passaporte Europeu (descendência) Passaporte Europeu (união)

Passaporte Europeu (Tempo) Estudante

Permissão para trabalho

Turista

Visto de Residência

Visto de Tempo Indefinido

Outro

Sem visto (%) Entrada na Europa Situação Imigratória em 2013

Gráfico 2.10c Mudança na Situação Imigratória - Reino Unido

35

30

Passaporte Europeu (descendência) Passaporte Europeu (união)

Passaporte Europeu (Tempo)

25 Estudante

20

15

10

5

0 (%)

Entrada no Reino Unido Situação Imigratória em 2013

Permissão para trabalho

Turista

Visto de Residência

Visto de Tempo Indefinido

Outro

Sem visto

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Na América do Norte, observam-se algumas mudanças marcantes. Houve um decréscimo acentuado na parcela das brasileiras que haviam obtido o visto de turista no momento da entrada no país de domícilio (26%) e as que detinham esse visto à época da pesquisa (4%). Em contrapartida, houve o surgimento da categoria de brasileiras que haviam obtido a cidadania do país de residência (americana/canadense: 24%). Houve também um crescimento importante na proporção de brasileiras que haviam obtido o visto de residência no momento da entrada no país (21%) e as que possuíam esse visto no momento da pesquisa (38%). Dentre as mudancas menos expressivas, observa-se a queda entre as proporções das brasileiras que haviam sido admitidas ao país de domicílio com a permissão para trabalho (18%) e as que possuíam esse tipo de visto no momento da pesquisa (9.5%). Uma última mudança a destacar foi também o decréscimo entre as parcelas das brasileiras que foram admitidas ao país de residência com o visto de estudante (16%) e as que detinham esse visto no momento do estudo (9.5%).

No caso das brasileiras na Europa, a mudança mais contundente foi a queda entre as proporções de mulheres que haviam sido admitidas ao país de domícilio com o visto de turista (35%) e as que detinham esse visto no momento da pesquisa (3%). Outra importante mudança, embora não da mesma magnitude, foi o aumento registrado entre as parcelas de mulheres que declararam terem sido admitidas ao pais de domicílio com o visto de residência (20%) e a das que possuíam esse visto à época do estudo (35%). Das mudanças menos expressivas, porém importantes, observa-se o acréscimo entre as proporções das brasileiras que haviam sido admitidas ao país de domicílio com passaporte europeu por união com cidadão europeu (7%) e as que detinham o passaporte europeu por essa razão no momento do estudo (17%). Nota-se, também, o surgimento de nova categoria, a de mulheres que obtiveram o passaporte europeu por tempo de permanência no país de domicílio (6.5%).

O Reino Unido também registrou mudanças no que diz respeito à situação imigratória das brasileiras ali residentes. Dessas, a mais signficativa foi o descréscimo observado entre as proporções de mulheres que haviam obtidos o visto de turista na admissão ao país (32%) e as que ainda possuíam esse visto no momento do estudo (1.7%). Em contrapartida, surgiu nova categoria, a de mulheres que obtiveram o passaporte europeu por tempo de residência (21%). Observou-se também aumento do contigente de mulheres que obtiveram o visto de tempo indefinido na admissão ao país (1%) e as que possuíam esse visto à época da pesquisa (11%). Igualmente, houve aumento entre as parcelas de brasileiras que apresentaram passaporte europeu obtido por união com cidadão europeu para entrar no país (10%) e as que reportaram possuir documento na ocasião do estudo (19%). Das mudanças menos expressivas, nota-se o aumento do grupo de mulheres que haviam apresentado o passaporte europeu obtido por ancestralidade para admissão ao país, e as que reportaram possuir esse documento no período da pesquisa (6%). A Tabela 2.10d sintetiza as principais mudanças observadas nas três regiões.

Tabela 2.10d Mudança na Situação Imigratória, 2013 (%)

Tipo de visto/documento Região América do Norte Europa Reino Unido Passaporte Europeu (descendência) 0 +1 +6 Passaporte Europeu (união) 0 +10 +9 Passaporte Europeu (Tempo) 0 +6 +21 Estudante -6.5 -6 -24 Turista -22 -32 -19 Permissão para trabalho -8.5 -1 +1 Visto de Residência +17 +15 +8.5 Visto de Tempo Indefinido 0 -3 +10 Cidadania +24 0 0

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2.11 Atividade Econômica Atual Os dados sobre a atividade econômica exercidas pelas brasileiras no atual país de domicílio demonstram haver certa variabilidade entre as diversas categorias reportadas para as três regiões analisadas, conforme se pode averiguar no gráfico 2.11.

Gráfico 2.11

(%) 50

Atividade Econômica no Atual País de Domicílio (2013)

40

30

20

10

0 América do Norte Europa Reino Unido

Não exerce atividade remunerada Trabalhadora Informal Autônoma/Dona de Negócio Quadro de Empresa Privada Funcionária Pública Profissional Liberal

Gráfico 2.11a Gráfico 2.11b

Sem Atividade Remunerada Quadro de Empresa Privada

Reino Unido

Europa

América do Norte

(%)

0 20 40 60 80 100

Reino Unido

Europa

América do Norte

Mãe/Dona-de-casa/Aposentada (%) 0 20 40 60

Estudante/bolsista Funcionária Executiva

Primeiramente, salienta-se o alto contingente, nas três regiões, das brasileiras que declararam não exercer atividade econômica remunerada no país do atual domicílio, representando o grupo mais numeroso de todas as categorias. A maior proporção foi registrada na Europa (46%), sendo relativamente menores as proporções desse grupo no Reino Unido (34%) e na América do Norte (31%). Dentre essas, nota-se, no gráfico 2.11a, que na América do Norte, todas eram estudantes (100%), e que no Reino Unido essa categoria também predomina (67%) sobre as que são mães, donas de casa, ou ainda aposentadas (33%). Na Europa, essas proporções se reverteram, sendo as

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estudantes um pouco menos numerosas (43%), do que as mães, donas de casas, ou aposentadas (57%).

Observa-se também a importância numérica de duas outras categorias de atividade econômica reportadas em duas das regiões. Primeirammente, nota-se a maior parcela de brasileiras que compunham quadro de pessoal de empresa privada, registrada na América do Norte (27%). Nessa categoria, predominaram as funcionárias sobre as executivas, conforme se vê no gráfico 2.11b. Contudo, nota-se que são bem menores as proporções de mulheres que faziam parte do quadro de pessoal de empresa privada na Europa (17%) e no Reino Unido (16%), embora nessas duas regiões as funcionárias fossem mais numerosas do que as executivas, como mostra o gráfico 2.11b. Em segundo lugar, verifica-se a maior expressividade do grupo de mulheres reunidas na categoria profissional liberal no Reino Unido (27%), grupo que é menos numeroso na Europa (16%) e menos ainda na América do Norte (12.5%). Contudo, as mulheres que exerciam atividade como trabalhadoras informais eram mais numerosas na América do Norte (13.5%) e na Europa (9%) do que no Reino Unido (3%).

2.12 Principais Problemas no Cotidiano Reportam-se aqui os problemas que as brasileiras encontravam no seu dia-a-dia no país de domicílio nas três regiões. O gráfico 2.12 ilustra todas as dificuldades identificadas, sendo que cada respondente apontou até três principais dificuldades.

Gráfico 2.12

Principais Dificuldades Encontradas no País de Domicílio,2013 (*)

Língua 50

Trabalho

40 Custo de vida

30

20

10

0

(%)

América do Norte Europa Reino Unido

(*) até tres citadas por participante

Moradia

Situação Imigratória Serviços Públicos Isolamento

Discriminação Sexual Discriminação Racial Outra

Observa-se no gráfico 2.12 que quatro tipos de dificuldades cotidianas foram as mais reportadas nas três regiões. O custo de vida foi a dificuldade mais citada de todas na amostragem por regiões, liderando o rol de dificuldades mencionadas no Reino Unido (55%), sendo também expressiva na

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Europa (29.5%) e na América do Norte (28%). As dificuldades relativas ao trabalho (por exemplo, encontrar trabalho qualificado) também foram citadas mais comumente, sobretudo na Europa (46%), embora fossem um pouco menos expressivas na América do Norte (30%) e no Reino Unido (33%), ainda que bastante importantes. Igualmente, as dificuldades com o idioma foram citadas mais frequentemente por brasileiras na Europa (44%), embora fossem importantes na América do Norte (31%), e também Reino Unido (26%). Outra dificuldade citada com bastante frequência foi o isolamento/solidão, sendo apontada por parcelas expressivas e relativamente próximas nas três regiões (40% na América do Norte, 40 % na Europa e 34% no Reino Unido). Outra dificuldade que se sobressaiu no Reino Unido (21%) relaciona-se à moradia, embora fosse bem menos citada na Europa (10.5%) e, menos ainda, na América do Norte (7%). As dificuldades relativas à discriminação racial foram apontadas por parcelas bastante próximas nas três regiões (12% na América do Norte, 9.5% no Reino Unido, e 9% na Europa). A categoria outra reuniu as dificuldades citadas menos frequentemente na amostragem por regiões, porém dentre essas, destacaram-se o clima e a saudade da família e amigos no Brasil.

3. Imigrantes Brasileiras Pelo Mundo: um resumo

O estudo de imigrantes brasileiras revelou uma amostragem de brasileiras que residiam em 42 países ao redor do mundo. Contudo, a América do Norte, a Europa e o Reino Unido se destacaram por abrigar a grande maioria dessas brasileiras, representando 20 países.

Em termos da origem no Brasil, verificou-se que 21 das 27 unidades federativas do Brasil foram reportadas pelas brasileiras como a unidade politico-administrativa de seu nascimento. Porém, o estado de São Paulo sobressaiu-se como o estado de origem de mais de um terço das brasileiras, representando mais do que o dobro das brasileiras oriundas dos estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais, os outros estados que contribuíram as outras parcelas mais expressivas de brasileiras. Evidencia-se, assim, a importância da região Sudeste do Brasil no contexto da emigração, responsável por pouco menos de dois terços de todas as brasileiras pesquisadas.

Em sua maioria, as brasileiras são relativamente jovens (2/3), tendo alcançado avançado nível educacional (nove de cada dez havia cursado a graduação; 2/5 haviam cursado também a pós- graduação). A maior parte das brasileiras também havia exercido atividade econômica remunerada no Brasil antes de deixar o país, predominando aquelas que foram funcionárias em empresa privada. Porém, o estudo revelou que uma proporção importante das brasileiras não exercia atividade econômica remunerada no atual país de domicílio (pouco mais de um terço). Das brasileiras que reportaram exercer atividade remunerada, os grupos mais numerosos foram as profissionais liberais e as que trabalhavam em empresa privada. Cerca de um terço das brasileiras residia no atual país de domicílio entre um e cinco anos (o maior grupo), configurando uma imigração relativamente recente. Contudo, uma maioria (2/5) já havia imigrado há pelo menos cinco anos.

Com relação aos motivos para a imigração, destacam-se as brasileiras que haviam imigrado para seu atual país de domicílio para acompanhar ou se unir a seu companheiro ou marido (pouco mais de 1/3). Sobressaíram-se também aquelas para as quais trabalhar constituía o principal motivo (ou motivo adjunto) para imigrar (trabalhar e/ou estudar; 1/4).

O visto mais obtido no momento da admissão ao país de residência foi o visto de turista (pouco menos de 1/3). Contudo, verificou-se que no momento da participação no estudo, uma maioria de brasileiras já havia obtido cidadania do país de residência (europeia, americana, ou canadense, 31%), e outro importante contingente já havia obtido o visto de residência (29%).

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Finalmente, a grande maioria das brasileiras encontra dificuldades no cotidiano no atual país de domicílio, sendo as mais mencionadas as dificuldades relativas ao trabalho, língua, custo de vida, e isolamento (todas mencionadas em 1/3 dos casos).

4. Imigrantes Brasileiras: desafios por documentar

O estudo do GEB sobre imigrantes brasileiras permitiu entrever algumas das características e experiências das brasileiras que se lançaram aos quatro cantos do mundo em busca de novas oportunidades.

Contudo, há ainda muito por ser documentado sobre o processo e as dinâmicas da imigração de mulheres brasileiras, antes, e depois de deixarem o Brasil. Pouco se sabe sobre temas que tendem a afetar as mulheres mais diretamente como, por exemplo, a questão da saúde, e uso que fazem dos serviços de saúde no país de residência e os desdobramentos disso, tanto em relação à sua própria saúde quanto à reprodução social mais amplamente (âmbito doméstico/familiar). Do mesmo modo, pouco se sabe sobre a questão da violência doméstica, abuso sexual, tráfico de mulheres, perda da custódia dos filhos, e discriminação. No Reino Unido, por exemplo, tem crescido o número de mulheres brasileiras que recorrem à entidades4 que oferecem serviços de auxílio e suporte contra a violência doméstica e abuso sexual evidenciando, portanto, a existência desses problemas, sendo muito provável que ocorram em outros países também. Ainda, outro tema relevante é o do papel do processo imigratório no empoderamento da imigrante brasileira, social e economicante, tanto em relação à situação que deixou no Brasil quanto às circustâncias que encontra no país de destino.

O exame desses temas é de grande importância, tanto mais quando visar contribuir para a formulação de políticas públicas orientadas para a promoção do bem-estar da imigrante brasileira, onde quer que ela se encontre. É também com esse intuito que o GEB dá prosseguimento à sua missão de documentar as diversas experiências imigratórias brasileiras.

5. Agradecimentos

O GEB agradece a todas as brasileiras que participaram do estudo, respondendo o questionário ou disseminando o link de acesso ao mesmo. Obrigada, também, a todas as organizações, grupos e indivíduos em diversos países por divulgarem nosso estudo. O GEB agradece, especialmente, a Ann Moeller por ter possibilitado o lançamento do estudo sobre imigrantes brasileiras no encontro Brasileiras Pelo Mundo, que promoveu no início de 2013, e também por disseminá-lo por meio de suas redes pessoais (www.facebook.com/BrasileirasPeloMundo; www.brasileiraspelomundo.com).

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4 Essas entidades são: 1. AMBE (Apoio à Mulher Brasileira no Exterior: http://ambeuk.wordpress.com/). 2. LAWRS (Latin American Women’s Rights Services: http://www.lawrs.org.uk/ ).

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Contato

Dr Yara Evans ([email protected]) Visiting Research FellowSchool of GeographyQueen MaryUniversity of London Mile End London E1 4NS UK