Paulo, abril de 1997 Superlotação das salas de aula da USP ... · catapulta linhas de pesquisa em...

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)V Editoriais - pág ág. 2 ECA - pág. 4 Crusp - pág. 9 Shine - pág. 10 Cultura - pág. 11 AwnccUllSP Paulo, abril de 1997 Superlotação das salas de aula da USP beira o CAOS Em algumas unidades, alunosassistem às aulas sentados nos corredores dos edifícios - pág. 12 Salas de aula superlotadas são apenas uma das conseqüências da redução do número de professores da qual a USP vem sendo vítima nos últimos anos. Com a superlotação, o processo de aprendizado é prejudicado e a qualidade de ensino cai, que estudantes mal acomodados têm mais dificuldade em manterá concentração. Em algumas unidades da USP, como no Curso de Letras, a situação tem chegado a níveis insuportáveis. Em algumas disciplinas, as salas de aula ficam tão cheias que alguns alunos são obrigados a assistirem aula praticamente no corredor. Em julho do ano passado, a FFLCH contabilizava a perda de 83 professores desde 1990. Reitoria abandona círculares -pág 5 r^ Acima, usuários disputam um lugar no circular; Ao lado, aluno sentado no corredor da Letras. Ato pela reforma agraria movimenta sem-terra no Pontal do Paranapanema págs.óe?

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)V Editoriais - pág ág. 2 • ECA - pág. 4 • Crusp - pág. 9 • Shine - pág. 10 • Cultura - pág. 11

AwnccUllSP Paulo, abril de 1997

Superlotação das salas de aula da USP beira o CAOS Em algumas unidades, alunos já assistem às aulas sentados nos corredores dos edifícios - pág. 12

Salas de aula superlotadas são apenas uma das conseqüências da redução do número de professores da qual a USP vem sendo vítima nos últimos anos. Com a superlotação, o processo de aprendizado é prejudicado e a qualidade de ensino cai, já que estudantes mal acomodados têm mais dificuldade em manterá concentração.

Em algumas unidades da USP, como no Curso de Letras, a situação tem chegado a níveis insuportáveis. Em algumas disciplinas, as salas de aula ficam tão cheias que alguns alunos são obrigados a assistirem aula praticamente no corredor. Em julho do ano passado, a FFLCH já contabilizava a perda de 83 professores desde 1990.

Reitoria abandona círculares -pág 5 r^

Acima, usuários disputam um lugar no circular; Ao lado, aluno sentado no corredor da Letras.

Ato pela reforma agraria movimenta sem-terra no Pontal do Paranapanema

págs.óe?

o-p-i-n*i-d«o

LOR Provão de novo, não! fyóbuío feKecívBL.

CPI Já! O DCE apoia integralmente a

campanha iniciada pelo Centro Acaflêmico XI de Agosto da Faculdade de Direito da USP que defende a criação de uma CPI dos Precatórios na Câmara Municipal de São Paulo. A campanha já tem um abaixo-assinado que está sendo divulgado. A mensagem é clara:

"j CPI dos Precatórios no Senado Federal já levantou sérias suspeitas sobre a honestidade do atual prefeito Celso Pitta quando se encontrava à frente da Secretaria de Finanças na administração de Paulo Maluf. É, então, no exercício da cidadania, nossa obrigação assegurar que tais suspeitas sejam investigadas nos mínimos detalhes e que todos os envolvidos sejam devidamente punidos".

Mais uma vez, o governo federal propõe a realização do famigerado provão. E mais uma vez. a comunidade acadêmica é obrigada a desviar seus esforços para combater tal arbitrariedade, ao invés de estar expondo uma avaliação universitária de verdade, já gestada em discussão com a sociedade, diametralmente oposta a esse "engana-trouxa" bolado pelo pirotécnico Paulo Renato Souza.

Até a imprensa, normalmente condescendente com as propostas do ministro da Educação (e perniciosa ao tratar da universidade, especialmente a pública), reconhece a inutilidade dessa prova, que só infere aquilo que todos já estão "carecas" de saber: os melhores resultados vêm da universidade pública. Ora, não é preciso ser gênio para saber que. salvo algumas ínfimas exceções, a universidade privada brasileira sempre se eximiu da obrigação de formar

pensadores e profissionais. Limita-se a produzir diplomas em massa, e nisto é auxiliada pelos governantes, que não se cansam de autorizar a abertura de novas universidades de fundo de quintal.

Além disso, o governo, mesmo após a divulgação dos seus próprios dados sobre o provão, segue avalizando esse ensino superior privado de baixa qualidade e, como única conseqüência prática, anuncia um programa de verbas públicas para as piores universidades privadas, dinheiro que, seguramente, não será aplicado na melhoria da educação nessas instituições de "ensino", e que deveria estar sendo aplicado na universidade pública.

Ademais, é revoltante que o governo exima-se da obrigação de participar de uma avaliação universitária conseqüente, em conjunto com todos os setores que pensam a educação superior no país. jogando nas costas apenas dos estudantes universitários brasileiros a responsabilidade de responder pela excelência acadêmica da instituição a que pertencem.

É preciso deixar claro que o DCE-Livre da USP não é contra a avaliação universitária, ao contrário, já que defendemos a qualidade de ensino como uma das características essenciais à existência de uma universidade. Apenas entendemos que não se faz avaliação propondo sacrifícios de apenas uma das categorias que compõem o universo acadêmico e, mais que isso, não aceitamos esta prova que nos é imposta de forma autoritária, sem levar em conta as obrigações de cada setor do qual depende a educação brasileira.

Assim, propomos que os colegas formandos boicotem o provão. Queremos ser avaliados sim, mas em conjunto com a avaliação dos professores, da pesquisa, da administração universitária e, principalmente, das obrigações dos governos que nos propõem absurdos como estes. Que os governos passem a cumprir o que lhes é devido, a saber: fornecer condições para que a universidade pública possa continuar formando indivíduos capazes de pensar o país em sua totalidade, não apenas naquilo que desejam os governantes de plantão.

Brasil: capitalismo sem riscos Desde a eleição de Fernando

Collor o país vive assoberbado por uma "febre" de privatizações e entrega de forma acelerada anos de desenvolvimento nacional que, bem ou mal, supriram uma necessidade estratégica de produção tecnológica da nação. Já foram vendidas uma série de empresas estatais (principalmente siderúrgicas) sem que a população tivesse possibilidade de discuti-las. O governo FHC, utilizando-se de uma campanha de marketing estrondosa, trata empresas como a Vale do Rio Doce e a Petrobrás como se fossem sapatarias ou hotéis. E fica muito frágil o argumento do governo de que deve privatizar porque as estatais são deficitárias, já que é ele próprio quem inviabiliza as empresas públicas para depois tentar desmoralizá-las perante a opinião pública. E particularmente no caso da Vale do Rio Doce é oposto o que acontece, já que esta é uma das

empresas mais lucrativas do país. Isto sem falar das maracutaias

descaradas do processo de privatização, gerido por uma empresa diretamente ligada a uma das mais fortes concorrentes para a compra da Vale. O descaramento do mercado financeiro é de tal envergadura, que um diretor de uma grande empresa tem a desfaçatez de declarar à imprensa que se soubesse que o preço da Vale seria tão baixo, teria guardado uma parte do dinheiro das férias para participar do leilão!

Por outro lado. neste país de capitalismo sem riscos, FHC nacionaliza os prejuízos, ao assumir a parte podre dos bancos e entregar ao capital financeiro a parte saneada. Basta compararmos o montante de dinheiro aplicados no Nacional e Econômico, capital que daria para comprar mais de uma Vale do Rio Doce, segundo cálculos do próprio governo. Ora, o que está em jogo nesta questão é

saber quem determina os rumos do país, se o capital financeiro ou a população brasileira.

Agora, FHC investe sem dó contra a Vale do Rio Doce, uma das maiores empresas mineradoras do planeta, que além da enorme geração de divisas que traz ao país, catapulta linhas de pesquisa em quase todas as universidades públicas do país, gerando uma das poucas áreas em que o Brasil dita

regras na tecnologia mundial. O que pretende o governo com a privatização de uma empresa tão estratégica como a Vale?

Para nós, está claro que governo se utiliza da venda das estatais para sustentar o Plano Real, pois sem o caixa adquirido nestas vendas, tal plano já teria caído por terra. Ademais, FHC precisa avalizar o país junto ao mercado financeiro internacional, e nada melhor para

isso que entregar de bandeja a sua melhor empresa, aquela que gera divisas, riqueza e tecnologia. E não há pior forma de inserção submissa que abrir mão de produzira própria tecnologia, fato que. aliás, o sociólogo Fernando Henrique Cardoso já identificava em seus escritos acerca da dependência dos países subdesenvolvidos. O lobo já vestia pele de cordeiro há muito tempo.

Expediente Jornal do DCE é uma publicação do Diretório Central dos Estudantes da USP

Fechamento: 27 de março de 1997 Tiragem: 15000 exemplares Diretores Responsáveis: Rodrigo Ricupero (editor) Gilberto Giusepone Reportagem: Andréa Lie Iwamizu

Diagramação:

tal:S02-4278

DCE livre USP Cidade Universitária

tel: 818-3269 fax: 818-3270

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u • n • i • v • e r*s-i«d-d-d«

Diretor da ECA ignora consulta popular e indica vice-diretor Centro Acadêmico Lupe Cotrím organiza protesto contra indicação autoritária

O Centro Acadêmico Lupe Cotrím está se mobilizando em repúdio à indicação do professor Valdenir Caldas ao cargo de vice-diretor da ECA (Escola de Comunicações e Artes).

No dia 4 de março, alunos, professores, funcionários e os três candidatos a vice-diretor se reuniram em um debate organizado pelo Centro Acadêmico, respondendo a perguntas formuladas pela professora Dilma de Melo. Os três candidatos se comprometeram a acatar o resultado da consulta à comunidade, que seria realizada no dia seguinte. Pela consulta, da qual participaram estudantes, funcionários e docentes, o professor Eduardo Leone foi escolhido como vice- diretor da faculdade. O segundo lugar ficou com o professor José Vendramini, e o terceiro com o professor Caldas.

O colégio eleitoral da ECA. formado pelos membros dos conselhos departamentais e colegiados da escola, se reuniu no dia 7 de março para votar a lista tríplice com os nomes dos

candidatos a ser enviada ao Reitor. A votação foi adiada por duas vezes, por não ter alcançado o quorum mínimo necessário para a sua realização.

resultado da consulta à comunidade. Para completar, o professor Vendramini, segundo colocado na consulta, não foi incluído na lista tríplice, dando

Finalmente, na terceira tentativa, a votação foi feita, sendo que o professor Valdenir Caldas foi eleito como vice- diretor, com vantagem de dois votos sobre o professor Leone. escolhido na consulta à comunidade. De acordo com o CA., foi a primeira vez na história da escola em que o colégio eleitoral não acatou o

lugar a um novo candidato, o professor Gandra Martins.

No mesmo dia da votação do colégio eleitoral, o diretor da ECA. professor Tupã. foi procurado pelo CA. para defender o resultado da consulta à comunidade, se comprometendo a relatá-lo à reitoria. No entanto, no dia 18 de março, o diretor da ECA

nomeou o professor Valdenir Caldas como vice-diretor. De acordo com a tradição, o reitor leva em conta a opinião do diretor da faculdade para a nomeação do vice. Ou seja: o professor Tupã ignorou a vontade da comunidade, indicando o professor Caldas à reitoria. Segundo o CA., o professor Caldas já aceitou o cargo, faltando apenas formalizar sua decisão

O CA. está organizando para quarta-feira, dia 2 de abril, uma pizzada às 12h na sala do professor Tupã. A manifestação deve contar com alunos, funcionários e professores, que estão sendo convidados a comparecerem com instrumentos musicais. Além disso, os alunos de Artes Cênicas devem fazer uma participação especial.

"Nas atividades muito sérias, as pessoas não vão", diz o diretor do CA. Fábio Valério Beraçoli. "A intenção é chamar a atenção das pessoas fazendo uma

sátira da situação que passamos", completa. Durante a manifestação, será entregue ao diretor da ECA um abaixo- assinado em repúdio à indicação do vice-diretor. O documento critica o fato do professor Tupã não ter se manifestado contra a indicação e pede que o professor Caldas renuncie ao cargo. As próximas ações em relação ao assunto serão formuladas em uma reunião aberta a todos os interessados no dia Io de abril, no aquário do CJE.

Notas

0 Congresso dos estudantes da USP já é uma realidade

Na última semana de março, a comissão do Congresso reuniu-se na sede do DCE e conseguiu avançar nas soluções dos problemas estruturais para que o evento se tome uma realidade. Estas soluções serão apresentadas no Conselho de Centros Acadêmicos, que se realizará no dia 05 de abril, onde espera-se que seajm definidas todas as questões relativas ao tema.

Discutiu-se o critério de delegação, os espaços onde acontecerão as plenárias e discussões, alimentação, alojamento, caderno de teses, caderno de textos, etc.

Porém, a discussão mais importante

que se travou foi acerca dos eixos centrais de debate, antes e durante o Congresso. Chegou-se à conclusão que. para que o debate seja realizado em alto nível, deve- se ter como eixos centrais temas generalizantes, que permitam que cada faculdade possa participar partindo de seu universo para atingir um patamar de discussão da universidade como um todo.

Assim, os eixos centrais propostos são: 1) Financiamento da universidade-, 2) Autonomia universitária; 3) Ensino/Pesquisa/Extensão: 4) Movimento estudantil.

A comissão entendeu que tais temas gerarão um debate frutífero nas unidades, preparando os três dias finais do Congresso para deliberações calcadas em discussões conseqüentes, em direção a um projeto para a Universidade de São Paulo. Os estudantes da USP podem — e devem — sinalizar às universidades públicas do país o salto de qualidade naquilo que deve ser chamado de projeto plural, includente e democrático para a educação brasileira. É um desafio que nos encherá de orgulho enfrentar.

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Licenciatura A representação discente presente

no Conselho de Graduação do dia 20 de março encaminhou ao pró-reitor Carlos Alberto Barbosa Dantas a proposta de criação de um fórum de discussões sobre a Licenciatura que reúna professores e alunos de varias unidades

Sumiço no DCE Foram furtados do DCE por volta

das 22h do dia 2 de março um aparelho de fax marca Panasonic, duas caixas acústicas de som, um kit multimídia Sound Blaster e seis pacotes de papel sulfite. Não há suspeitos.

Integrapoli O Integrapoli. que aconteceu nos

dias 19. 20 e 21 de março, para a recepção unificada dos bixos politécnicos, arrecadou mais de dez toneladas de alimentos. A comida será destinada, junto com roupas e colchões que também foram doados, para o Vale do Jequitinhonha.

Ameaça cumprida Como já havia sido antecipado, o

diretor da FEA. Denizard Alves, enviou um ofício ao Centro Acadêmico Visconde de Cairu cumprindo a ameaça de abrir uma licitação para a lanchonete da FEA Denizard deixou bem claro que o dinheiro arrecadado com o aluguel do espaço da lanchonete, antes destinado ao CAVC. irá para fundos da biblioteca.

por» trdz • da • política Roberto de Souza Campos

Maluf 98 O ex-prefeito Paulo Maluf já definiu seu

futuro político: será candidato a governador do Estado de São Paulo, em 98. Só uma queda vertiginosa de popularidade de FHC ou um efeito político estrondoso da CPI dos Precatórios pode mudar a decisão. Nem mais influentes secretários municipais cogitam a possibilidade de serem candidatos.

Cartas Marcadas •••••• O secretário municipal da Habitação e

Desenvolvimento Urbano, Lair Krahenbuhl. já está em campanha para ser candidato à prefeitura no ano 2.000. Ele quase foi escolhido por Maluf para concorrer à vaga, mas acabou perdendo para Pitta. "Fiquei muito chateado, mas isso não me impediu de apoiar o Pitta." Ele avalia que o Cingapura é o melhor projeto maluhsta.

Quem diria? ••••••••• O jornalista Alberto Dines revelou um

detalhe sobre a vida pregressa do senador Roberto Requião. relator da CPI dos Títulos, que ainda é desconhecido por muita gente: dos quatro mandatos que teve, dois foram cassados por corrupção -e o atual está "sub- judice". Ele também é inimigo político do governador do Paraná. Jaime Lemer. Mas informações no Observatório da Imprensa (http://www2.uol.com.br/observatorio).

Crise de Maluf Dois dos principais secretários do

governo Maluf estão sendo processados pelo Ministério Público: o da Saúde. Roberto Paulo Richter. porque não suspendeu os repasses mensais para as cooperativas do PAS (Plano de Atendimento à Saúde), apesar de não ter recebido as prestações de contas; e o de Serviços e Obras, Reynaldo de Barros, porque contratou a empresa do tio sem licitação para fazer um serviço que poderia ser feito por outras.

Dor de cabeça •••••••• O publicitário Celso Loducca, que fez

o início da campanha de Luiza Erundina à prefeitura, resolveu explorar a imagem mais do que desgastada da primeira- dama do município para vender analgésico. O texto insinua que o remédio é tão bom que seria capaz até de curar a dor de cabeça de Nicéa Pitta.

USP Ribeirão A Secretaria Municipal do Planejamento

de Ribeirão Preto estuda transformar a "pedreira da USP" em um parque de lazer. O terreno rochoso de 250 m2, anexo ao campus, pertence tantoà prefeitura quantoà USP. Uma das idéias é triplicar o tamanho do lago hoje existente no local

Duas histórias com o mesmo fim: Pittagate

Ao longo do processo eleitoral que escolheu Celso Pitta como prefeito de São Paulo, duas grandes denúncias contra ele foram publicadas, sem grande repercussão, pela grande imprensa.

Cinco dias antes do primeiro turno, o Jornal dã Tarde publicou uma reportagem mostrando como o então secretários de Finanças deu prejuízo de R$ 1.7 milhão à prefeitura, em um único dia, através da venda de títulos públicos destinados ao pagamento de precatórios.

Dois dias antes do segundo turno, a Folha da Tarde publicou que os gastos realizados por Pitta em 95 foram incompatíveis com as receitas que ele declarou à Receita Federal. Apenas para pagar prestações do apartamento, compra de carros, condomínios, salário de empregadas e contas, todo o orçamento da família era insuficiente. Sem falar em comida, roupas, viagens, gasolina, cabeleireiro e outras despesas normais da família. A defesa: "Isso é uma invasão da minha vida pessoal."

Os jornalistas foram processados criminalmente por Pitta.

As duas reportagens poderiam ter sido publicadas antes, mas não foram. Poderiam ter merecido destaque nos veículos de maior circulação, mas isso não aconteceu. E não alteraram o rumo da história -pelo menos até agora.

Quase quatro meses depois, surge a CPI dos Precatórios, por causa de uma outra reportagem publicada por O Estado de São Paulo, também sem repercussão eleitoral.

Os fatos até agora apurados mostram que Wagner Ramos, ex-assessor direto de Pitta. executada as tarefas de um grande esquema de desvios de dinheiro, através dos títulos. Pitta já demitiu todos os funcionários da prefeitura que apareceram no escândalo, menos sua mulher, Nicéa.

Aliás, ela teve um carro alugado em seu nome por R$ 6.100 e pago pelo principal banco envolvido no escândalo, o Vetor. Pitta e a mulher contaram versões diferentes para o fato. Ele jura que não sabia de nada. Apenas comeu a pizza!!!

Vetor pagou al»ír"í,,,f^,TO

1 UM PREQNHO DESSE. E AINDA TtM GENTE QUE ARRBCA TODO O SEU PATRIMÔNIO PRA ALUGAR UM CARRO.

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Masturbação virtual vira hit na USP As salas de chat (bate-papo) na internet

estão infestadas de pessoas que se apresentam como estudantes da USP, em busca de masturbação virtual. Para quem não conhece, as salas permitem diálogos "on-line" entre pessoas que adotam apelidos, sem qualquer tipo de compromisso.

Depois de trocaram informações sobre os locais onde estão e as idades, os intemautas costumam perguntar "o que você faz da vida?". O número de respostas "estudo na USP" é impressionante. Daí para frente, começam as descrições físicas e o sexo vitual -muito semelhante ao chamado sexo por telefone, mas com outro tipo de estímulo.

Por causa da falta de mulheres dispostas a um "virtual" nas salas heterossexuais, a nova técnica utilizada pelos

alunos é mudar de sexo! Eles entram nas salas de lésbicas, com nome de mulher, e conseguem uma bela conversa virtual

"A net proporciona uma alternativa que não existe em nenhum outro meio de comunicação do mundo", disse um aluno da universidade que se apresenta no chat como Mirella. "Em que outro lugar eu poderia me sentir uma mulher transando com outra mulher", pergunta.

Ela diz que o fato de ter que parecer uma mulher não é problemático. "O que importa é o estímulo que a gente recebe."

Sobre a possibilidade do interlocutor também ser um homem, Mirella afirma que "a gente nunca sabe se realmente é uma mulher, mas nunca vai ficar sabendo se era um homem".

Crise de Pitta Deu a maior briga entre os secretários

pittistas Reynaldo de Barros (Serviços e Obras) e Ópice Blum (Administrações Regionais), por causa do lixo na cidade. Barros distribuiu um folheto segundo o qual a fiscalização contra o despejo de entulho clandestino nas praças é de responsabilidade de Blum. Ele afirma que Barros deveria cuidar dessa área. Resultado: Blum resolveu ficar ae pediu licença. Para completar, o principal articulador político de Pitta. Edevaldo Alves da Silva (Governo), está internado.

Cuidado! ••••••••••• Um professor da Faculdade de Saúde

Pública da USP, preocupado em concluir a redação da tese de doutorado, viajou para a fazenda de um amigo no interior de São Paulo. Hospedou-se no melhor quarto, com vista para o pasto. Após várias semanas de trabalho, quando já estava com quase toda a tese datilografada, em uma moderna máquina de escrever manual, encontra uma charmosa vaquinha saboreando seus conhecimentos. Duas semanas de trabalho viraram estéreo.

Estratégia Petista Alguns grupos de militantes petistas

defendem que o partido deve investir mais no legislativo e se preocupar menos com o executivo. A idéia é só lançar nomes fortes para o executivo onde há chances reais de vitória. Para o governo do Estado de São Paulo, por exemplo, seria lançado um deputado estadual, apenas para que ele se tornasse mais conhecido e garantisse uma votação expressiva para vereador em 2.000.

Fala sapo! •••••••••• Após o procurador-chefe da prefeitura

de Mauá. Laércio José dos Santos, o Lalá, imitar o latido de um cão. na última festa de aniversário do presidente de honra do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, houve o seguinte diálogo:

Lula: Sai pra lá, cachorro samento! Lalá: Sai pra lá, sapo barbudo! As gargalhadas foram tantas que Lula

sequer teve chance de tréplica.

Boa Resalva ••••••••• Já virou motivo de piada, dentro da

prefeitura, o fato do prefeito Celso Pitta afirmar que não sabia das operações irregulares de Wagner Ramos com os títulos públicos. Toda vez que um secretário afirma desconhecer um projeto que está sendo tocado por sua assessoria. faz questão de ressaltar: "Mas sei que eles não fazem não mexem com precatórios."

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u • n • i • v • e • r*s«i*d«d-d-

Circular: em estado de calamidade Ônibus danificados e sem escala de horários definida atrapalham a vida dos usuários.

A cena se repete várias vezes ao dia: os pontos de ônibus da Cidade Universitária ficam lotados de alunos e funcionários que esperam pelos circulares para se locomoverem dentro do campus ou para chegarem até os portões, de onde partem as conduções que os levam para casa.

Ninguém sabe precisar quanto tempo aguarda, em média, pelo circular. Alguns já se cansaram de esperar, e optam por andar ou tentar uma carona. Depois de meia hora. quarenta minutos ou mais tempo esperando, só há uma certeza: o passageiro embarcará em ônibus velhos em péssimo estado de conservação, onde os bancos rasgados, semi destruídos ou inexistentes são apenas um detalhe.

A funcionária da USP Sônia Maria Furlaneto. 52 anos, diz que os circulares são "péssimos". Ela mora em Osasco e costuma chegar por volta das 18hl5 em casa, após pegar duas conduções. "Vou a pé até a Vital Brasil em 25 minutos para pegar o ônibus quando não estou muito

cansada, como nas quintas e sextas- feiras", diz a cozinheira, que trabalha há quinze anos no restaurante central. "Se eu for esperar o circular, chego em casa só às 19h". afirma.

Sônia tem saudades do tempo em que havia três Unhas de circulares, há cerca de seis anos. "Se a gente perdia o das 8h05. pegava o das 8hl0. Hoje em dia. esperamos até às 9h, quando o ônibus vem", afirma Sônia. "Mas sei que o pessoal que trabalha à noite na USP sofre muito mais", conforma-se.

A aluna Nicole Assis Pereira. 18 anos. do primeiro ano de Veterinária, diz que os circulares já são chamados de linha virtual. "Geralmente tento pegar caronas para me locomover na USP", afirma Nicole. "Para solucionar o problema, seriam necessários mais ônibus, porque os que existem sempre lotam, além de serem velhos", completa.

O funcionário Arthur Zampieri. 27 anos. trabalha há dois anos como técnico de laboratório no Instituto de Química, mas antes já

Usuários do ônibus aguardam o circular em longas filas no ponto inicial da linha

freqüentava o campus como aluno de Ciências Sociais. "Em 83, a linha tinha mais ônibus, mais novos e rápidos", afirma. Naquela época, além disso, os circulares chegavam até o bar Rei das Batidas. "A tendência é mesmo que o circular acabe, é algo deliberado por parte da prefeitura, já que eles são

poucos, em péssimo estado de conservação e demoram muito", acredita Zampieri.

O prefeito da Cidade Universitária, professor Antônio Rodrigues Martins, informou por intermédio de sua secretária que prestaria informações sobre o funcionamento das linhas circulares. desde que a

reportagem enviasse um ofício com as perguntas por escrito. O oficio foi entregue no protocolo da prefeitura algumas horas depois. No entanto, após uma semana, a mesma secretária informou que o prefeito não poderia responder, pois não foi possível encontrá-lo durante todos esses dias.

USP perde duas linhas de ônibus

ibus do circular rodam completamente deteriorados

As linhas de ônibus 736-A e 746-). que cumprem o itinerário Consolação/Cidade Universitária, devem ser canceladas em abril, de acordo com informações da Prefeitura de São Paulo, obtidas através da São Paulo Transporte S/A (SPTrans), empresa que administra o sistema de ônibus da cidade.

De acordo com a assessoria de imprensa da SPTrans. nove linhas de ônibus servem o campus da USP, com uma frota que conta com 113 ônibus que transportam uma média de 48.200 passageiros em dias úteis.

A São Paulo Transporte argumenta que o cancelamento das linhas faz parte de um "projeto de redimensionamento para adequar a frota ao volume de passageiros" em todo o sistema, que prevê o

cancelamento das linhas que tenham "baixa demanda". O plano começou pela Zona Leste da cidade, onde o número de ônibus nas ruas já foi reduzido em 4% nos últimos meses.

A aluna Nicole Assis Pereira, do primeiro ano de Veterinária, mora no bairro do Itaim e utiliza a linha 736-A para chegar até a USP. "Pode até ser que o ônibus não venha lotado, mas a linha é importante para quem usa", diz Nicole. Com o cancelamento da linha, ela será obrigada a usar outra, que passa apenas de uma em uma hora.

Benedito Araújo de Moura. 20 anos. está no segundo ano de Português e mora na cidade de Caieiras. Para chegar até a Faculdade de Letras, ele pega todos os dias a linha 7702. que o leva do terminal Barra Funda, onde desembarca de um ônibus

intermunicipal, até o campus. Segundo ele, a linha tem apenas dois ônibus. "De manhã, pego o ônibus que sai às 6h30 da Barra Funda. Se perder, o próximo só às 7h50". diz Moura. "Pelo número de pessoas que precisam vir para a USP todos os dias. era preciso que a prefeitura colocasse mais ônibus", completa.

A São Paulo Transporte argumenta que os usuários de ônibus do campus não serão prejudicados com o cancelamento das duas linhas. A empresa afirma que a linha 775-U, com onze ônibus cumprindo o itinerário provisório Liberdade/Cidade Universitária, irá substituir as linhas canceladas, que juntas tinham oito veículos. No entanto, não há nenhuma previsão de quando esta linha será criada.

nn*o*v*i*m«e-n-t«o

Ato em defesa da reforma agrária no Pontal do Paranapanema Partido dos Trabalhadores se mobiliza pelos sem-terra.

Lúcia Rodrigues Enviada especial ao Pontal do

Paranapanema

O PT (Partido dos Trabalhadores) promoveu no dia 16 de março um grande ato em defesa da reforma agrária no Pontal do Paranapanema. Durante a manifestação foi inaugurada uma réplica do monumento projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer em homenagem aos 19 sem-terra mortos pela Polícia Militar, que foi destruído em Eldorado dos Carajás, no Pará.

O PT enviou 66 ônibus para Teodoro Sampaio (710 km a oeste de SP). A CUT. PCdoB,

Notas Encontro estadual O 12° Encontro Estadual

do MST, realizado de 5 a 7 de março em Santo André, contou com a presença de cerca de 3 mil delegados, que reafirmaram que as ocupações de terras devem ter continuidade. Além do compromisso firmado, o MST quer ultrapassar os limites do campo, envolvendo toda a sociedade na luta pela reforma agrária.

Para Raimundo Bomfim. da direção nacional da CMP (Central de Movimentos Populares), alguns limites já estão sendo quebrados. Segundo ele, 1500 famílias da Capela do Socorro compram alimentos produzidos em um assentamento do MST através de uma cooperativa, repassando-os para a comunidade a preço de custo. Ele acredita que essa prática possa ser estendida a outros grupos que tenham interesse.

Gado vira arma A UDR está realizando

vários leilões de gado na região do Pontal para obtenção de recursos para a compra de

PSTÜ, CMP (Central de Movimentos Populares), DCE- USP, UEE e entidades sindicais participaram do ato, totalizando oito mil manifestantes, segundo a Polícia Militar.

O presidente nacional do PT, José Dirceu, disse que o partido deve estar ao lado do MST lutando para que a reforma agrária seja efetivada. Para ele, onde "tremular a bandeira do MST, tem que tremulara bandeira do PT". Dirceu acredita que atos como o dos trabalhadores da Ford de São Bernardo, o bloco parlamentar de oposição que está sendo rearticulado no Congresso e principalmente a defesa da

armas. Os latifundiários que participam desses leilões arrematam as cabeças de gado e as devolvem para serem leiloadas repetidas vezes. Para o advogado do MST, Luiz Eduardo Greenhalgh. a UDR está se rearticulando no Brasil a partir do Pontal, e é importante que ocorram manifestações na região para evitar seu crescimento.

Prefeito apoia reforma O prefeito de Teodoro

Sampaio, Antônio Nunes, afirmou durante o ato que sua cidade é a capital da reforma agrária. Para ele, a reforma agrária significa uma das viáveis soluções para o desemprego na região.

CUT se mobiliza O secretário-geral da CUT

em São Paulo Antônio Sousa Ribeiro, o Trampolim, acredita que as mobilizações em defesa da reforma agrária contribuem também para frear a privatização da Vale do Rio Doce. Ele afirma que o Brasilprecisa mudar de cara, e isso sõ será possível com mobilizações de rua.

reforma agrária vão motivar a sociedade civil a ir para as ruas protestar contra a política neoliberal do governo FHC.

O deputado estadual do PCdoB, Jamil Murad. acredita que as manifestações populares são a principal forma de contraposição à política do governo. Murad alerta para o fato da UDR estar se rearticulando no Brasil e afirma que FHC, ao tentar isolar o MST. está dando força para a UDR, que é constituída por "bandidos de colarinho branco".

A líder dos sem-terra Diolinda Alves de Souza considera que a solidariedade da sociedade é fundamental para que a reforma agrária saia do papel. Ela considera positivo o apoio que o PT tem dado ao MST. Diolinda afirma que o PT vivenciou momentos históricos como a campanha pelas Diretas, a

Manifestantes em frente à Faz

campanha de Lula à presidência da república e o impeachement de Collor. "É importante que o partido esteja conosco defendendo o projeto de reforma agrária para o Brasil", disse Diolinda.

Para Diolinda, é importante que as mobilizações tenham continuidade. A Marcha Nacional Pela Reforma Agrária, que chegará a Brasília no dia 17 de abril tem recebido o apoio da

enda São Domingos, no Pontal

população pelas cidades por onde tem passado.

O presidente estadual do PT, João Paulo Cunha, informou que o partido está orientando seus diretórios municipais a se transformarem em Comitês em Defesa da Reforma Agrária. O partido está organizando uma caravana à Brasília que se encontrará com a marcha dos sem-terra.

Fazendeiro dificulta negociação Para o senador

Eduardo Suplicy (PT), está faltando vontade política por parte do governo para resolver a questão da reforma agrária. Segundo ele. FHC tem se desdobrado para salvar bancos falidos, enquanto o seu interesse em resolver a questão agrária caminha a passos de tartaruga.

Suplicy tem ido regularmente ao Pontal

do Parana-panema na tentativa de encontrar uma solução pacífica para a colheita da plantação de milho nos 250 alqueires da Fazenda São Domingos. O dono da fazenda, Osvaldo Paes, só aceitou conversar com Suplicy no batalhão da PM em Presidente Prudente, mediante a presença de um coronel. Suplicy estranhou a atitude de

Paes, pois não se considera perigoso. O latifundiário condiciona a negociação da colheita à retirada do acampamento dos sem- terra da região, proposta que o MST considera fora de qualquer propósito.

Segundo Gilmar Mauro, da direção nacional do Movimento Sem-terra os trabalhadores rurais não irão levantar

acampamento pelo simples fato de não quererem só o milho, mas sim a terra. Ele afirma que os fazendeiros da região têm verdadeiros arsenais. "A Polícia Militar veio procurar armas em nossos acampamentos e só encontrou uma espingarda velha de caça, mas não entrou em nenhuma fazenda da região".

Baleada não quer abandonar MST A trabalhadora rural Míriam

Farias de Oliveira, que foi baleada por pistoleiros da Fazenda São Domingos enquanto observava o milho plantado por ela e seus companheiros, diz que o incidente não arrefeceu seu ânimo de lutar por um pedaço de terra.

Míriam foi atingida por um tiro que perfurou seu peito e saiu pelas costas. Os autores dos disparos já estão em liberdade. "Agora é que tenho força, não vou abandonar o MST nunca porque estamos reivindicando trabalho, o pão para nossos

filhos", disse. Míriam é chefe de família.

Desquitada, ela sustenta seus dois filhos de 9 e 13 anos. Entrou para o MST depois de ter sido demitida da prefeitura de Teodoro Sampaio, onde trabalhava.

m*o-v«i-m«e-n*'t«o

Manifestantes invadem a região Mais de oito mil pessoas apoiaram o movimento pela reforma agrária em um ato pacífico

O Pontal do Paranapanema viveu um 16 de março atípico. A cidade de Teodoro Sampaio foi "invadida" por mais de oito mil manifestantes de São Paulo que foram levar sua solidariedade ao MST na luta pela reforma agrária. Habituada a uma vida pacata, a cidade parecia viver um dia de festa.

Ainda de madrugada, muitos ônibus se concentravam no trevo de acesso à cidade à espera dos outros, que iriam se juntar à carreata programada para o inicio da manhã. Do trevo, os manifestantes se dirigiram ao acampamento Taquaruçu em Sandovalina. Parte do trajeto foi feito de ônibus, e quase dois quilômetros completados a pé.

Na rodovia que liga Sandovalina a Teodoro Sampaio (palco de uma sala de aula improvisada pelos sem-terra no final de 95, quando foram despejados dos galpões da CESP pelo governo Covas), foi realizado um ato público. Delwek Matheus, da Coordenação Nacional do MST. afirmou que "a união do campo e da cidade irá dar um basta na política neoliberal do governo FHC".

Em seguida. os

manifestantes se concentraram na frente da Fazenda São Domingos, onde oito sem-terra foram baleados por pistoleiros. No local, foi realizada uma mística, nome dado pelo MST às manifestações onde se tocam as músicas do movimento e se fazem discursos. Um dos refrões cantado pelos manifestações deixou clara a mensagem: "Só. só, só. só sai reforma agrária, com a aliança camponesa- operária".

Zelitro Luz, da direção estadual, ressaltou que o governo insiste em afirmar que os trabalhadores rurais não devem se "meter em política". Para ele, isso é um grande absurdo. "A nossa carteira de identidade não fala que somos sem-terra. mas que somos brasileiros, portanto não vamos entregar o pais ao capital internacional", disse Luz. referindo-se à privatização da Vale do Rio Doce.

À tarde foi realizado um ato público em frente à prefeitura de Teodoro Sampaio, com a presença de representantes de partidos, sindicatos, estudantes, deputados, do prefeito e da população da cidade e do

senador Eduardo Suplicy. O ato teve ainda a participação de artistas ligados ao MST e da sambista Leci Brandão. A prefeitura de Teodoro Sampaio distribuiu para a imprensa um saquinho com terra e grãos de milho da Fazenda São Domingos, simbolizando a luta do MST.

USP participa Três ônibus saíram da USP

levando alunos e funcionários que participaram do ato de apoio ao MST. A caravana foi organizada pelo DCE, Sintusp, Adusp. Assipen e Geografia.

Segundo a diretora do Sintusp. Dinizete Xavier, a entidade estará impulsionando a luta pela reforma agrária no campus. "Devemos seguir o exemplo do MST". afirmou. Para o diretor do Centro Acadêmico de História. Alexandre Nicolae Muscalu, "é fundamental que toda a sociedade esteja engajada na luta pela reforma agrária".

O DCE. em conjunto com as demais entidades, estará organizando a caravana que irá a Brasília no dia 17 de abril, quando a Marcha Nacional dos Sem-terra chega à capital federal.

Ato pelo MST reúne 5 mil A Passeata Pela Reforma

Agrária e Justiça, que reuniu cerca de cinco mil pessoas no dia 7 de março, parou as ruas de São Paulo. Estudantes, trabalhadores rurais sem- terra, políticos e entidades sindicais participaram do ato. Os manifestantes se concentram na Praça da Sé e no Masp (Museu de Arte de São Paulo) e se encontraram na Rua Maria Antônia, a caminho do Pacaembu.

Na Praça Charles Miller, artistas como Leci Brandão, Edvaldo Santana, Racionais

MC"s e membros da Companhia Paulista de Bailei se apresentaram em um show que foi até a madrugada.

No dia 6 de março, os estudantes compareceram em massa a um outro ato de apoio ao MST, em Ribeirão Preto. Cerca de quatro mil pessoas estiveram na Esplanada do Teatro Pedro II para levar solidariedade aos integrantes da Marcha Nacional Pela Reforma Agrária e Justiça, de passagem pela cidade.

MST recebe o prêmio Rei Balduíno na Bélgica

Enquanto no Brasil FHC tenta isolar o MST afirmando que não negocia com invasores e a justiça prende trabalhadores rurais alegando formação de quadrilha, na Bélgica o MST é homenageado recebendo o prêmio Rei Balduíno, atribuído ao fato de o MST ser uma entidade que luta pelo desenvolvimento do Terceiro Mundo.

Representantes do MST receberam o prêmio no dia 19 de março em cerimônia com a presença do rei da Bélgica. Durante uma semana, eles participaram de uma série de atividades no país, a convite

da organização não- govemamental Rei Balduíno.

Não é a primeira vez que o MST recebe um prêmio internacional. Em 91, o governo sueco concedeu o Prêmio Nobel Alternativo em reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelo movimento. Só no ano passado, o MST recebeu quase 20 prêmios e condecorações. A Unicef e o Instituto Cultural Itaú conferiram um prêmio no valor de R$ 50 mil pelo trabalho que o MST desenvolve na área de educação em seus assentamentos.

Vista parcial do acampamento sem-terra, próximo à fazenda São Domingos, no Pontal do Paranapanema

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m • e- m / o r • i • d

Evento discute desaparecidos políticos Ciclo de debates e vídeos no prédio da História e Geografia lembrará horror da ditadura militar

Paulo Santos Lima

O evento Mortos e Desaparecidos Políticos: Reparação ou Impunidadençaniece em abril, tratando de questões referentes à repressão do governo militar e à procura de suas vitimas, trabalho e técnicas de pesquisa, necrópsia e escavações. O presidente da Qirisb Especial de Reconhecimento dos Desaparecidos Políticos Miguel Reale Jr. Eugênio Bucci {OEstado de S. Pauldi e o professor Ismail Xavier discutirão assuntos como direitos humanos, mídia e história. O evento contará ainda com uma mostra de filmes e documentários.

Como qualquer pais imerso num regime totalitário, o Brasil, em 20 anos de governo militar, expurgou a oposição. Muitos foram mortos; muitos desapa- receram; alguns retornaram sem rumo ao pais; outros voltaram após a anistia retomando suas atividades. Quem reclama, principalmente, pelos desapa- recidos são as respectivas famílias e entidades de direitos humanos.

Em agosto de 1979 foi encontrado o corpo de um desaparecido político enterrado como indigente no Cemitério Dom Bosco, em Perus. Este nome tornou-se conhecido pelo povo brasileiro e virou símbolo da elucidação dos casos de "desaparecimento". A partir dai, várias comissões de direitos humanos foram vasculhando à procura de provas, ossadas e indenizações.

Em 1990, a gestão Luíza Erundina criou uma Comissão Especial de Investigação das Ossadas de Perus, conveniada com o governo do Estado e a Universidade de Campinas.

Em dezembro de 1995 foi sancionada a lei 9-140 que reconhece a responsabilidade do Estado pela morte de 136 desaparecidos por razões políticas. Os familiares ainda reclamam a morte de outras 217 pessoas. Uma comissão instituída pela própria lei tem examinado os casos para apurar as condições das mortes, se sob tortura ou custódia oficial, assim como já recolheu dez novas

denúncias. "Mas é pouco o que se está

fazendo", diz Janaina de Almeida Teles. 30 anos, sobrinha de um guerrilheiro do Araguaia, e uma das organizadoras do evento. Ela continua: "O Brasil tem quase 400 mortos/desaparecidos; Hélio Bicudo já falou que, no Brasil. 50 mil pessoas foram atingidas de alguma forma com o regime militar, entre expurgos, mortes ou coações. A transição brasileira é lenta... o SNI só mudou de nome. As Forças Armadas têm relatórios sobre todas suas ações mas ainda escondem da população seus arquivos. Temos que desmontar o aparelho repressivo que ainda existe no país e a exumação dos corpos é uma das formas. Além dos problemas legais, nossas técnicas de escavações não são suficientemente adequadas. Tem de ser feito um trabalho arqueológico para se reconstituir os crimes. A idéia também é alertar para o que acontece ainda hoje."

Por isso, Luís Fondebrider, integrante da famosa Equipe Argentina de Antropologia Forense — que aliás já trabalhou com a Unicamp em 90 — , participará do evento. A EAAF conta com médicos legistas e arqueólogos e vem trabalhando em vários países da América Latina, além da Romênia, Etiópia. África do Sul, Zimbábue e até mesmo na caótica Croácia.

Caótica, aliás, é a situação deste Brasil prestes a cair nesta onda neoliberal. Que este evento, tão valioso para a "memória nacional", reanime a consciência brasileira para a pior das ditaduras que este país já presenciou: a "ditatuta monetária". Esta sim, vai deixar muitos mortos pelo meio do caminho. Esta sim, vai aturdir o povo brasileiro a tal ponto que ninguém mais se importará em saber que milhares de presidiários dormem literalmente de pé por falta de espaço, como o gado que vai acossado em caminhões para o matadouro. E ainda temos Carandiru. ROTA, corrupção, chacinas, desemprego...

O clone de Carlos Menen, vulgo Fernando Henrique Cardoso, vai entregar o país ao pior dos

imperialismos. onde as potências jogarão todos os trunfos contra nossas economias vulneráveis aos cartéis. O que FHC pretende fazer do Brasil? Uma versão piorada do Portugal salazarista, com moeda forte e população enfraquecida?

Estão todos anestesiados. Ninguém repudia a barbárie da globalização. Com FHC, o Brasil caminha para o "coração das trevas", bem ao estilo conradiano. Talvez, no futuro, não haja nem mesmo comissões para varrer os mortos do caminho. Onde, é óbvio, estaremos incluídos.

Exumação no cemitério clandestino de Perus

Programação: (todos os debates serão realizados

às 19:30, no anfiteatro de História) 08/04 - A Comissão Especial

de Desaparecidos Políticos e perspectivas: - Maria Vitória Benevides ■ prof. da Faculdade de Educação-USP - Miguel Reale Jr, ■ Comissão Especial

de Desaparecidos Políticos - Suzana Lisboa - representante dos Familiares dos desaparecidos - James Louis Cavallaro - Human Rights Watcb Américas e CEJIL - Luis Fondebrider - E.A.A.F.

09/04 - Os anos 60 e 70 hoje na mídia: - Maria Aquino - História-USP

- Ismail Xavier - ECA-USP - Eugênio Bucci - jornalista ■ Maria Rita Kehl - jornalista

10/04 - A experiência argentina na busca e identificação dos desaparecidos - Coordenador: Norberto Luiz Guarinello - História-USP - Luis Fondebrider da E.A.A.F.

Queima de Arquivo O Tribunal de Justiça do Estado

de São Paulo estabeleceu, segundo a publicação no Diário Oficial do dia 20 de fevereiro, a incineração de autos e processos judiciais e administrativos considerados "sem relevância histórica". Quem tem o mínimo conhecimento do trabalho de documentação sabe o que este provimento pode significar. É perda tão séria quanto de qualquer outro patrimônio histórico.

Que o estado de armazenamento e conservação da documentação está caótico, todos sabemos. O volume é gigantesco. Todos os autos estão catalogados por números. Muitos deles estão praticamente destruídos. Qualquer processo de restauração e catalogação vai dispender tempo e dinheiro. Nada disso, porém, explica uma decisão tão repentina da justiça para resolver problema tão embaraçoso. Tempo proporcional tem de ser gasto para se organizar uma comissão competente paia salvar o destino da

vasta documentação. O Departamento de História da

Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo — juntamente com mais 19 entidades, como Academia Paulista de Letras, Museu Paulista da USP, Centro de Documentação e Memória da UNESP. Central de Documentação e Informação da PUC de São Paulo e Associação Brasileira de Pesquisas — solicita a sustação de quaisquer providências no sentido de destruir a referida documentação até que se possa, em conjunto, encaminhar propostas de solução.

O Centro Acadêmico de História, em nome dos alunos, contestou a ação judiciária, sendo contra qualquer tipo de destruição, parcial ou integral, clamando novas alternativas para o alegado problema de espaço e manutenção.

A Prof. Dra. Zilda M. Gricoli lokoi. do depto. de História,

aponta a urgência do caso: "Temos 100 km de documentação; o que não é pouca coisa, O problema é complexo e o governo tem de tomar uma medida que auxilie também a própria política geral de arquivos. Até financimento internacional é válido neste momento."

A diretora da Associação dos Arquivistas Brasileiros. Profa. Dra. Ana Maria de Almeida Camargo, também concorda com a professora Zilda a respeito da dificuldade em se organizar a documentação: "É algo que requer muito cuidado; ações emergênciais podem por tudo a perder. Já foi marcada uma audiência e tentaremos obter um entendimento para resolver a questão. O principal é a comissão, que deve estar preparada para selecionar e organizar o que de fato é importante para o trabalho historiográf ico e de pesquisas em geral. Eu também quero propor uma política de arquivos do sistema judiciário. A preservação disto é a própria preservação dos direitos do ddadão."

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Morador vê problema em reforma no Crusp Pesquisa realizada no Bloco B revela situação caótica

Problemas no acabamento, vazamentos crônicos, falta de segurança e apartamentos onde o único ralo não fica no lugar adequado. Os moradores que mudaram há cerca de três semanas do Bloco A para o Bloco B do Crusp, recém reformado, fizeram um levantamento em todos os apartamentos onde problemas como estes são uma constante.

Segundo a Comissão de Mudança formada pelos ex- ocupantes do Bloco A. a pesquisa teve como objetivo a detecção dos pontos críticos nos apartamentos após a reforma, além da importância de se levantar uma discussão para que os moradores tenham participação nas reformas dos outros blocos. Os moradores avaliaram quesitos como iluminação. isolamento acústico, parte hidráulica, projeto, móveis a acabamento, entre outros.

No apartamento 205, o chão fica permanentemente ensopado, já que o cano da pia não pára de soltar água. A descarga do vaso sanitário também apresenta vazamento e a vedação do tanque está quebrada.

Na avaliação da estudante Cheila Bragadin, o apartamento 208 apresenta problemas como o posicionamento das tomadas, já que algumas se localizam no meio da parede, impedindo a

colocação de móveis. Segundo ela, a pia deveria estar junto com o chuveiro, e não no meio da sala.

A maioria dos moradores afirma que a limpeza do apartamento é dificultada pelo fato de o único ralo estar junto com o chuveiro. Ou seja: para se fazer a limpeza do banheiro onde fica o vaso sanitário é preciso escoar a água suja pela sala. Além disso, quando se toma banho a água do chuveiro escapa pelo buraco feito na separação de mármore do box feito para que se possa escoar água do resto do apartamento até o ralo.

Os estudantes também tiveram problemas com os móveis fixos instalados nos quartos, além de reclamarem da demora do Coseas (Coordenadoria de Assistência Social) em executar serviços de manutenção. Eles alegam que as camas, armários e escrivaninhas fixados com parafusos nas paredes não se adaptam às necessidades de alguns moradores, como aqueles que precisam de camas de casal, além de coibirem a prática da hospedagem. A falta do mínimo isolamento acústico necessário, já que as paredes são muito finas, também é uma das principais reclamações.

"Visitamos as obras no Bloco B no meio do ano passado, e já havíamos

apontados problemas como esse", diz Sérgio Ricardo Schwerz. da Comissão de Mudança. "Apesar disso, não tivemos participação no processo de reforma", completa. A reforma foi organizada pela Coseas. que através do Fundusp (Fundo de Construção da USP) contratou a Esteto Engenharia e Comércio Ltda.

Vale lembrar que a reforma consumiu R$ 1.046.948.58, de acordo com a reitoria. Ou seja. apesar dos intermináveis problemas, cada um dos apartamentos do Bloco B teria consumido mais de R$ 15 mil. De acordo com dados da reitoria, a reforma do Bloco B custou 19% a mais do que a do Bloco D. Este acréscimo seria referente à inflação acumulada no período, além do custo adicional de 1% do valor total da reforma, devido à substituição do piso do edifício, não prevista inicialmente.

"Vários apartamentos apresentam vazamentos que vêm dos vasos sanitários dos apartamentos superiores", afirma Mário Otávio Salles. que também integra a Comissão de Mudança. "Desde a reforma do Bloco D. em 94, requisitamos informações sobre as reformas e não recebemos. Não houve transparência e em nenhum momento os moradores foram consultados", diz Salles.

Único ralo do apartamento atrapalha a limpeza

A comissão quer que no térreo do Bloco B seja construído um alojamento para os calouros. Outra reivindicação é um local para a sede da Amorcrusp e outro para atividades culturais, já que ambas funcionam hoje no térreo do Bloco C. que será o próximo a ser reformado. A comissão

enviou em julho do ano passado um projeto para as instalações do térreo para o Fundusp, que alegou que após a reforma de todos os blocos será formulado um projeto conjunto para todos os andares térreos.

Amorcrusp

Moradores rejeitam novo Reunidos em assembléia, moradores se organizam contra

regimento as imposições da Coseas

O Crusp retomou durante o mês de março o clima de efervescência que marcou o fim do último ano com a ocupação da Coseas, depois de uma lacuna de alguins meses que nos custou a imposição do novo regimento.

No dia 13 de março, a assembléia geral reuniu mais de cem pessoas, que discutiram as formas de se lutar contra o regimento, que traz imposições como a redução do tempo de permanência na moradia e a limitação da hospedagem.

O boicote ao novo regimento foi aprovado na assembléia por unanimidade. Uma das propostas levantadas é que seja feito um abaixo-assinado pelo boicote, além da idéia de se impetrar uma ação judicial de inconstitucionalidade do novo regimento. As novas regras restringem o acesso à educação pública, e ao mesmo tempo discriminam o estudante do Crusp em relação aos demais alunos da USP.

A Associação dos Moradores do Crusp (Amorcrusp) tem

organizado a discussão sobre estas lutas e convoca os interessados a participarem das reuniões da comissão de encaminhamento realizadas às quartas-feiras, no térreo do Bloco C, às 23h.

A Amorcrusp convida toda a comunidade da USP a participar da festa/ato marcada para o dia 14 de abril. Os interessados em participar em atividades culturais, como pintura, música, poesia, capoeira e teatro devem entrar em contato com a associação pelo telefone 818-3189, das 10 às 14h.

Anuncie no Jornal do DCE quinze mil leitores em toda USP

tel: 818-3269 fax:818-3270

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c-i • n•e- m • d

Vertígo mergulha de cabeça na nova onda cinematográfica

Paulo Santos Lima

Será possível fazer de um lacrimoso melodrama um suspense psicológico capaz de arrepiar até mesmo Jack. o Estripador? Muitos devem achar que são assuntos incongruentes mas, quem lembrar de Alfred Hitchcock, vai responder que tanto é possível, como já foi, há quase 40 anos.

Vertígo - Um Coipo Que Cai feito em 1958, é a própria superação de um mestre. Hitchcock, ao longo de uma filmografia que já ostentava trabalhos como Rebecca, Festim Diabólicos Pacto Sinistro, aliou a psicanálise ao suspense de uma forma nunca vista. O que antes era uma estratégia "velada" de seu cinema, foi mostrada nitidamente ao público.

Scottie (James Stewart) é um policial que vive atormentado após a morte de seu colega. Seu medo de altura lhe impõe um sentimento de culpa que beira a obsessão. Tudo piora quando começa a seguir a esposa de um amigo, a também obsessiva Madeleine (Kim Novak). A atração que ele sentirá pela mulher será sua própria histeria. Dai por diante, nem a morte poderá desviá- lo do culto a Madeleine, a seu corpo delineado num tailleur cinzento, à sua brancura enfatizada num decote negro, a seus cabelos dourados, à sua aura enigmática.

É este culto à imagem que liga Scottie ao espectador. Suas alucinações são meramente visuais. Seu olhar é o de um voyeur que apreende todas as formas e cores (o que lembra o fotógrafo òt Janela Indiscreta). Madeleine é como um retrato a ser mitificado. Mas, ao mesmo tempo que sua acro fobia vem do ato de olhar, ela é a própria limitação. A mesma que o objeto (filme) sofre ao ser transmitido pela fonte (tela) ao receptor. Em outras palavras, a limitação da estratégia de ilusionismo que Hollywood sempre tencionou levar às últimas conseqüências para "hipnotizar" o espectador com a magia de seu produto — ou de sua arte. se

preferir. Mas Scottie cai de cabeça numa história (a de Madeleine) que nem mesmo ele sabe ser real. A ficção é valorizada pelo seu inconsciente como o espectador o faz com uma trama cinematográfica.

O mais assustador é que Hitchcock nos mantém atados ao olha r de Scottie. Uma simples visita ao museu, caminhar pelas ruas ou dirigir pelas ladeiras de São Francisco aflora uma insuportável tensão. Graças, é claro, à antológica trilha de Bernard Herrmann (o mesmo de Cidadão Kane e Taxi Driveft. É certo que, sem esta, Vertigovõo seria a obra-prima nem o suspense hitchcockiano que é: a música passa do ritmo meloso ao frenético com uma sutileza rara. A câmera é a mais subjetiva do diretor, seguindo em suaves travellings o olhar do personagem, dando doses e angulares em seus momentos de grande impacto psicológico e exibindo um mundo sujeito às distorções do id.

Estas já aparecem nos créditos de Saul Bass, Este inicio é como um resumo técnico do que será o filme, sem tocar em momento algum no tom romanesco que contaminará o enredo. Com isto, o diretor comenta e idealiza o cinema empenhado em tornar visível o invisível. Enfim. Hitchcock faz um compêndio do gênero melodramático que agonizava no fim dos anos dourados sem abrir mão de sua visão irônica e sombria do mundo. A cenografia faz jus às intenções do mestre, predominando os tons florais, esmaecidos, típicos da obra de Douglas Sirk, mas não desprezando cores escuras e fortes, como o vermelho das paredes do restaurante no qual Scottie vê Madeleine pela primeira vez e assume seu papel de devoção ao belíssimo ícone. Não nos esqueçamos que, numa obra hitchcockiana, o vermelho pode simbolizar a paixão assim como a sangüínea morte. É o amor como chaga da psique, rasgando a alma como a Golden Gate vermelha rasga a azulada baía de São Francisco.

Alfred Hitchcock sempre discutiu o cinema em todos os seus

filmes. Desta vez. sobretudo, ele evidencia todo o processo de devoção do público à sétima arte e o embate no qual o espectador iria se defrontar, pelo menos, dois anos mais tarde: entregar-se à "farsa" ilusionista do cinema ou tentar

compreender seus meandros e repensá-lo como arte da manipulação?

Com Hitchcock, os Estados Unidos fizeram cinema novo antes da França de Jean-Luc Godard. Quem diria...

Em cartaz no Espaço Unibanco (São Paulo); em cópia restaurada e remasterizada

Também disponível nas locadoras de todo o Brasil pela distribuidora CIC Vídeo

Shíne carece de brilho Não vale a pena listar todos

os filmes que já foram feitos para glorificar uma personalidade. Alguns, com exageros ou não, conseguem se impor como obras de relativo quilate. Outros, mesmo seguindo à risca as respectivas trajetórias de vida, não passam de perda de tempo.

Shine - Brilhante absorve um pouco das duas coisas. Mitifica a figura de um pianista supostamente curioso, elevando- o à condição de gênio, e constrói- se como um filme quadrado, no pior estilo Metro Goldwyn Meyer. Mas a escassez de boas obras e o advento do Oscar é que têm dado impulso extra a este tipo de trabalho. Por isso, o filme tem arrebanhado tanto público.

Não há dúvida que. mais uma vez, um ator é o pilar de um

filme. O australiano Geoffrey Rush incorpora o pianista David Helfgott com tanta convicção, com tantophisique du role. que até fica difícil não se emocionar com o calvário que foi sua vida abalada por um pai frustrado e por um colapso nervoso que o deixou anos e anos no esquecimento.

Agora, graças ao sucesso do filme de Scott Hicks, o "levemente" esquizofrênico Helfgott tem realizado vários recitais nos EUA. Para a alegria do público e pesadelo da crítica, que o considera um medíocre pianista. Bem, distorcendo ou não. o CD com o Terceiro Concerto para Piano de Rachmaninoff (o estopim de seu ataque, por causa da exigência físico-psicológica para tocá-la) é muito bom e ameniza até

mesmo sua horrenda apresentação no Oscar 97.

Agora, o filme realmente poderia ter explorado melhor as nuances mentais de David. Começando-se pelo fim e resgatando a história com ãashbacks já é um clichê, se não for bem justificado. O vai e vem, os enquadramentos ortodoxos, pequenos suspenses para se desvendar certas atitudes dos personagens... Shine sofre da síndrome de Rain Man e Meu Pé Esquerda do débil mental que cativa a platéia. Por que não mostrar um deficiente comum ao invés de um "super-defidente" sensível e genial?

Se você gosta de música, não há porque deixar de ir ver. Mas, não se esqueça, Shine não tem brilho: é antiquado até a medula. (PSL)

Em cartaz no grande circuito de cinemas.

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Cultura Real e Imediata O evento "Aproximação das

Artes", que tem o objetivo de congregar quase todas as artes: cinema, teatro, música, literatura e artes plásticas, começou no dia 22 de março e vai até o final deste mês.

A intenção das atividades é soltar as amarras que cada arte tem pata consigo mesma. Assim, como em um diálogo interdisdplinar. haverá um fortalecimento que pode engrenar uma produção artística mais permanente nas unive n> idades. Não é à toa que UNE. UEE. os DCEs da USP, UNESP e UNICAMP. além do CA da

Filosofia-USP e Diretório Acadêmico da FAAP estão apoiando as atividades.

Dentre os vários destaques, vale lembrar o trabalho do grupo Tejtm de Narradores, que está adaptando a peça de Roberto Schwatz. A Lata de Lixo da História. A peça é um amplo mosaico discutindo estética, política, enfim, a cultura como um todo. nos idos do AI-5. A adaptação tirou as "rebarbas". atualizando as críticas que antes só eram apontadas ao regime militar para o contexto do neoliberalismo. Trata do plano de um cientista suíço em curar os

Cenas da peça "Lata de lixo da história"

Cinema em debate Incluído na programação do

evento "Aproximação das Artes", às segundas-feiras. asl9h30, na Sala Cinemateca (Rua: Fradique Coutinho. 361)

07/04 - No Rio das Amazonas, de Ricardo Dias. Debate com Ricardo Dias.

14/04 - Curtas: Terral (Eduardo Neves); Criaturas Que Nascem em Segredo (Francisco Teixeira): Retrato de Deus Quando Jovem (Fernando

Coimbra): A Escada (Philipe Barcinsky); O Caramujo Flor (Joel Pizzini). Debate com a organizadora do Festival de Curtas. Zita Carvalhosa

21/04 - A Volúpia da Vingança, de Enzo Sugawa. Debate com o diretor Carlos Reichenbach

28/04 - Cabaret Mineiro. de Carlos Alberto Prates. Debate com o professor da ECA- USP. Teixeira Coelho.

males do homem e da sociedade através da violência, agregando ricos, pobres, homens livres e escravos. O espetáculo é uma comédia em tom de farsa e conta com um grupo teatral quase tão diversificado quanto seus personagens, com estudantes da USP. outras universidades, escolas e até um padeiro.

O Grupo de Cinema de São Paulo também promete grandes atrações que serão conferidas nos destaques da programação de abril:

Abril Sábados e domingos: peça "A Lata

de Lixo da História", do grupo Teatro de Narradores, estará no Teatro das Nações. Sempre às 21 h

dia 02/04 - Quarta-feira Às 19h30: Leitura de contos com

os autores Noêmia Sartori e Márcia Beatriz Ara^o e de poemas com José Bento Machado Ferreira - no Teatro das Nações (Av. São João. 1737 - Sta. Cecília / 220-8012)

dia 08/04 - Terça-feira Às 19h30: Seminário sobre artes

plásticas - na Faculdade de Filosofia- USP (Av. ProL LudanoGualberto. 315 - Cidade Universitária)

09/04 - Quarta-feira Às 19h30: Leitura com os

dramaturgos Vadim Nikitin ("Peça Inacabada para Garoa e Vela") e Alberto da Silva Jr. ("A Intriga") - no Teatro das Nações

dia 11/04 - Sexta-feira As 20h30: Show com os grupos

"Medusa Gel". Teté. Emiliano & Ricardo Hetz. Cristiane Negreira & André Carone e "Uróboro" - no Teatro das Nações

dia 15/04 Terça-feira — às I9h30: Leitura

dos poemas "Bundo". de Valdo Motta - na Faculdade de Filosofia - USP

dias 17 e 18/04 - Quinta e Sexta-feira

Às 21h: Apresentação da peça "Vaso Ruim Não Quebra", do Grupo Ninguém Atemporal / no Teatro das Nações

dia 22/04 - Terça-feira Às I9h30; Seminário Temático:

Teatro épico, com a autora do livro "A Hora do Teatro Épico", no Teatro das Nações

dia 23/04 - Quarta-feira Àsl9h30: Leitura com os autores

José Arrabal ("Em Tomo da Morte do Pai") e do estudante de filosofia da USP Abrahào CostAndrade

(poemas de "O Idioma dos Pães")

dias 24 e 25/04 - Quinta e Sexta-feira

Às 2Ih: apresentação da peça "Piquenique no Front". do grupo Cincoincena. No Teatro das Nações

dia 26/04 - Sábado Às 19h: Apresentação da peça

"Prelúdio para downs e guitarra", dos alunos da EAD (dir. por Cristiane Paoli-Quito). No Teatro das Nações

dia 29/04 - Terça-feira Show no Teatro das Nações

dia 30/04 - Quarta-feira Às 19h30:Conferência de

Encerramento "Ideologia e Cultura", com o crítico literário Roberto Schwarz. Na Faculdade de Filosofia - USP

Cabo de guerra contra a fome Gincana entre cursos da USP ao vivo na Transamérica

O programa de rádio Cabo de Guerra estreou no dia 19 de março na emissora Transamérica. O quadro é uma gincana disputada entre universitários da USP e da UFRJ que foi idealizado pela rádio em parceria com o Banco Real. Os estudantes formaram equipes que responderão a perguntas de conhecimentos gerais, e aqueles que vencerem em todas as etapas serão premiados.

Uma campanha paralela para arrecadação de alimentos estará acontecendo durante a veiculação do programa. A cada dois quilos de alimentos doados, a pessoa ganhará um cupom para concorrer a um carro zero quilômetro.

As equipes poderão se inscrever até o dia 2 de abril nos C.A.s das faculdades. As competições estão sendo transmitidas das 12h às I4h e são transmitidos a» vivo de um

estúdio que foi montado no velódromo da USP.

A final entre estudantes da USP e URFJ está marcada para o dia 3 de julho.Os vencedores e os seus Centros Acadêmicos ganharão um carro zero. além de R$ 10 mil para a universidade. Serão distribuição de mais prêmios, como walkmans. computadores e viagens para Porto Seguro durante as eliminatórias.

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Salas superlotadas prejudicam qualidade de ensino na USP Falta de professores enche as salas e leva os alunos a assistirem às aulas nos corredores

Salas de aula superlotadas são apenas uma das conseqüências da redução do número de professores da qual a USP vem sendo vítima nos últimos anos. Com a superlotação, o processo de aprendizado é prejudicado e a qualidade de ensino cai. já que estudantes mal acomodados têm mais dificuldade em manter a concentração.

Em algumas unidades da USP, como no Curso de Letras, a situação tem chegado a níveis insuportáveis. Em algumas disciplinas, as salas de aula ficam tão cheias que alguns alunos são obrigados a assistirem aula praticamente no corredor. Em julho do ano passado. a FFLCH já contabilizava a perda de 83 professores desde 1990.

A aluna Ana Cristina Milagres. 21 anos, do segundo ano de Português, desistiu de assitir a aula de Toponímia na sala 169 do prédio de Letras no dia 17 de março junto com a colega Ligia Martins, 19 anos, do terceiro ano de Espanhol. As carteiras onde elas estavam acomodadas ficavam praticamente fora da sala de aula, impedindo que elas enxergassem a lousa. ouvissem

ou visualizassem a professora. Ana Cristina acredita que a

superlotação das salas de aula é uma conseqüência da falta de professores, problema que fica mais visível nas discplinas que reúnem alunos de vários anos, como é o caso de algumas optativas. "É preciso chegar meia hora antes para reservar lugar", diz Ana Cristina. "Seria preciso um contato maior com a professora para se tirar dúvidas, mas sei que no noturno a situação está pior", conforma-se a estudante.

"O problema existe desde que eu entrei na faculdade, mas vem se agravando", diz Júlia Ribeiro, 19 anos, do terceiro ano de Inglês, júlia diz que, com a diminuição do número de professores, o rendimento da aula cai, já que eles são obrigados a acumularem funções. Ela também chama atenção para o fato de que várias optativas estão sem professores. Segundo ela. alguns têm que enfrentar turmas enormes, em alguns casos com 150 alunos, como nas matérias de Latim 1 e 2. "Sei que para aulas de inglês e espanhol fica difícil quando a sala tem mais que 30 a 32 alunos", afirma a estudante.

"O problema da falta de

Letras: maior sala do prédio da História e Geografia é insuficiente para a aula do curso de Lingüística

professores é gritante em toda a Universidade, mas muito forte em algumas unidades, como na Letras", diz Helade Scutti Santos, diretora do CAELL. Ela critica o fato de que a contratação de professores estar sendo vinculada à elaboração de um projeto acadêmico.

No dia 12 de março, entre 300 e 400 alunos da Letras se mobilizaram em uma passeata até a reitoria para entregarem um ofício e um abaixo-assinado ao reitor pedindo a contratação de professores. Como o reitor

estava fora do país. a vice-reitora recebeu uma comissão formada por Helade e Elder Vieira dos Santos, do CAELL. e Márcio Funcia, do DCE.

A vice-reitora informou que a contratação de professores para todos os departamentos depende da elaboração de um relatório para pedido de abertura de vagas, que deveria ser enviado até o final de março. No caso da Letras, seria necessário também a elaboração de um projeto de reestruturação acadêmica.

O projeto já vinha sendo desenvolvido por um grupo de professores, que passou a trabalhar em conjunto com o CA. Em uma reunião no dia 24 de março, ficou decidido que

Estudantes da Letras caminham em direção à reitoria para protestar pela falta de professores

uma das mudanças consiste na implantação do primeiro ano unificado antes dos alunos optarem por uma língua. "A idéia é que o currículo seja extremamente flexibilizado, e que a opção do aluno por uma língua seja mais madura e consciente", afirma Helade. O projeto de reestruturação acadêmica será encaminhado aos departamentos e deve ser votado em plenária no início deste mês, devendo ser enviado à reitoria até o dia 15.

O diretor da FFLCH, professor João Batista Borges Pereira, foi procurado para comentar a superlotação das salas de aula na Faculdade de Letras e a falta de professores mas não atendeu a reportagem

DCE convoca Conselho de Centros Acadêmicos

A diretoria do DCE está convocando uma nova reunião do Conselho de Centros Acadêmicos (CCA) para o dia 5 de abril às 14 horas na Faculdade de Direito no Largo São Francisco. O DCE pretende discutir junto com os Centros Acadêmicos e demais estudantes a participação da

universidade no dia nacional de luta convocado pela UNE para 10 de abril. O CCA irá discutir a realização de uma atividade conjunta com professores e funcionários da USP em defesa da univresidade e, por fim, aprovar os últimos detalhes para a realização do congresso dos estudantes.

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