Paulo Freire

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"Trata-se de aprender a ler a realidade (conhec-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transform-la)" Paulo Freire O fundamental que professor e alunos saibam que a postura deles, do professor e dos alunos, dialgica, aberta e curiosa, indagadora e no apassivada, enquanto fala ou enquanto ouve. O que importa que professores e alunos se assumam epistemologicamente curiosos. (...) O exerccio da curiosidade convoca imaginao, a intuio, as emoes, a capacidade de conjecturar, de comparar, na busca da perfilizao do objeto ou do achado de sua razo de ser. Um rudo, por exemplo, pode provocar minha curiosidade. (Paulo Freire, 1997:96). Paulo Freire - O mentor da educao para a conscincia Introduo Paulo Freire (1921-1997) foi o mais clebre educador brasileiro, com atuao e reconhecimento internacionais, defendia como objetivo da escola ensinar o aluno a "ler o mundo" para poder transform-lo.Conhecido principalmente pelo mtodo de alfabetizao de adultos que leva seu nome, ele desenvolveu um pensamento pedaggico assumidamente poltico. Para Freire, o objetivo maior da educao conscientizar o aluno. Isso significa, em relao s parcelas desfavorecidas da sociedade, lev-las a entender sua situao de oprimidas e agir em favor da prpria libertao. O principal livro de Freire se intitula justamente Pedagogia do Oprimido e os conceitos nele contidos baseiam boa parte do conjunto de sua obra. Apresentaremos a seguir ento uma pequena biografia e alguns de seus principais pensamentos afim de que possamos conhecer mais sobre esse grande pensador e pedagogo Brasileiro. Biografia Paulo Freire nasceu em 1921 em Recife, numa famlia de classe mdia. Com o agravamento da crise econmica mundial iniciada em 1929 e a morte de seu pai, quando tinha 13 anos, Freire passou a enfrentar dificuldades econmicas. Formou-se em direito, mas no seguiu carreira, encaminhando a vida profissional para o magistrio. Suas idias pedaggicas se formaram da observao da cultura dos alunos em particular o uso da linguagem e do papel elitista da escola. Em 1963, em Angicos (RN), chefiou um programa que alfabetizou 300 pessoas em um ms. No ano seguinte, o golpe militar o surpreendeu em Braslia, onde coordenava o Plano Nacional de Alfabetizao do presidente Joo Goulart. Freire passou 70 dias na priso antes de se exilar. Em 1968, no Chile, escreveu seu livro mais conhecido, Pedagogia do Oprimido. Tambm deu aulas nos Estados Unidos e na Sua e organizou planos de alfabetizao em pases africanos. Com a anistia, em 1979, voltou ao Brasil, integrando-se vida universitria. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores e, entre 1989 e 1991, foi secretrio municipal de Educao de So Paulo. Freire foi casado duas vezes e teve cinco filhos. Foi nomeado doutor honoris causa de 28 universidades em vrios pases e teve obras traduzidas em mais de 20 idiomas. O ambiente poltico-cultural em que Paulo Freire elaborou suas idias e comeou a experiment-las na prtica foi o mesmo que formou outros intelectuais de

primeira linha, como o economista Celso Furtado e o antroplogo Darcy Ribeiro (19221997). Todos eles despertaram intelectualmente para o Brasil no perodo iniciado pela revoluo de 1930 e terminado com o golpe militar de 1964. A primeira data marca a retirada de cena da oligarquia cafeeira e a segunda, uma reao de fora s contradies criadas por conflitos de interesses entre grandes grupos da sociedade. Durante esse intervalo de trs dcadas ocorreu uma mobilizao indita dos chamados setores populares, com o apoio engajado da maior parte da intelectualidade brasileira. Especialmente importante nesse processo foi a ao de grupos da Igreja Catlica, uma inspirao que j marcara Freire desde casa (por influncia da me). O Plano Nacional de Alfabetizao do governo Joo Goulart, assumido pelo educador, se inseria no projeto populista do presidente e encontrava no Nordeste onde metade da populao de 30 milhes era analfabeta um cenrio de organizao social crescente, exemplificado pela atuao das Ligas Camponesas em favor da reforma agrria. No exlio e, depois, de volta ao Brasil, Freire faria uma reflexo crtica sobre o perodo, tentando incorpor-la a sua teoria pedaggica. Pensamentos: Professor: Maravilhosa fabrica de inquietao de alunos : Ao propor uma prtica de sala de aula que pudesse desenvolver a criticidade dos alunos, Freire condenava o ensino oferecido pela ampla maioria das escolas (isto , as "escolas burguesas"), que ele qualificou de educao bancria. Nela, segundo Freire, o professor age como quem deposita conhecimento num aluno apenas receptivo, dcil. Em outras palavras, o saber visto como uma doao dos que se julgam seus detentores. Trata-se, para Freire, de uma escola alienante, mas no menos ideologizada do que a que ele propunha para despertar a conscincia dos oprimidos. "Sua tnica fundamentalmente reside em matar nos educandos a curiosidade, o esprito investigador, a criatividade", escreveu o educador. Ele dizia que, enquanto a escola conservadora procura acomodar os alunos ao mundo existente, a educao que defendia tinha a inteno de inquiet-los Aprendizado conjunto Freire criticava a idia de que ensinar transmitir saber porque para ele a misso do professor era possibilitar a criao ou a produo de conhecimentos. Mas ele no comungava da concepo de que o aluno precisa apenas de que lhe sejam facilitadas as condies para o auto-aprendizado. Freire previa para o professor um papel diretivo e informativo portanto, ele no pode renunciar a exercer autoridade. Segundo o pensador pernambucano, o profissional de educao deve levar os alunos a conhecer contedos, mas no como verdade absoluta. Freire dizia que ningum ensina nada a ningum, mas as pessoas tambm no aprendem sozinhas. "Os homens se educam entre si mediados pelo mundo", escreveu ele. Isso implica um princpio fundamental para Freire: o de que o aluno, alfabetizado ou no, chega escola levando uma cultura que no melhor nem pior do que a do professor. Em sala de aula, os dois lados aprendero juntos, um com o outro e para isso necessrio que as relaes sejam afetivas e democrticas, garantindo a todos a possibilidade de se expressar. As palavras chaves: A valorizao da cultura do aluno a chave para o processo de conscientizao preconizado por Paulo Freire e est no mago de seu mtodo de alfabetizao, formulado inicialmente para o ensino de adultos. Basicamente, o mtodo prope a identificao e catalogao das palavras-chave do vocabulrio dos alunos as chamadas palavras geradoras. Elas devem sugerir situaes de vida comuns e significativas para

os integrantes da comunidade em que se atua, como por exemplo "tijolo" para os operrios da construo civil. Diante dos alunos, o professor mostrar lado a lado a palavra e a representao visual do objeto que ela designa. Os mecanismos de linguagem sero estudados depois do desdobramento em slabas das palavras geradoras. O conjunto das palavras geradoras deve conter as diferentes possibilidades silbicas e permitir o estudo de todas as situaes que possam ocorrer durante a leitura e a escrita. "Isso faz com que a pessoa incorpore as estruturas lingsticas do idioma materno", diz Romo. Embora a tcnica de silabao seja hoje vista como ultrapassada, o uso de palavras geradoras continua sendo adotado com sucesso em programas de alfabetizao em diversos pases do mundo. Coerncia Um conceito a que Paulo Freire deu a mxima importncia, e que nem sempre abordado pelos tericos, o de coerncia. Para ele, no possvel adotar diretrizes pedaggicas de modo conseqente sem que elas orientem a prtica, at em seus aspectos mais corriqueiros. "As qualidades e virtudes so construdas por ns no esforo que nos impomos para diminuir a distncia entre o que dizemos e fazemos", escreveu o educador. "Como, na verdade, posso eu continuar falando no respeito dignidade do educando se o ironizo, se o discrimino, se o inibo com minha arrogncia. Seres inacabados O "mtodo" Paulo Freire no visa apenas tornar mais rpido e acessvel o aprendizado, mas pretende habilitar o aluno a "ler o mundo", na expresso famosa do educador. "Trata-se de aprender a ler a realidade (conhec-la) para em seguida poder reescrever essa realidade (transform-la)", dizia Freire. A alfabetizao , para o educador, um modo de os desfavorecidos romperem o que chamou de "cultura do silncio" e transformar a realidade, "como sujeitos da prpria histria".

"Uma das grandes inovaes da pedagogia freireana considerar que o sujeito da criao cultural no individual, mas coletivo". Jos Eustquio Romo, diretor do Instituto Paulo Freire, em So Paulo. Obras: A propsito de uma administrao. Recife: Imprensa Universitria, 1961. Conscientizao e alfabetizao: uma nova viso do processo. Estudos Universitrios Revista de Cultura da Universidade do Recife. Nmero 4, 1963: 5-22. Educao como prtica da liberdade. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1967. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Editora Paz e Terra, 1970. Educao e mudana. So Paulo: Editora Paz e Terra, 1979. A importncia do ato de ler em trs artigos que se completam. So Paulo: Cortez Editora, 1982. A educao na cidade. So Paulo: Cortez Editora, 1991. Pedagogia da esperana. So Paulo: Editora Paz e Terra, 1992. Poltica e educao. So Paulo: Cortez Editora, 1993. Cartas a Cristina. So Paulo: Editora Paz e Terra, 1974. sombra desta mangueira. So Paulo: Editor Olho dgua, 1995. Pedagogia da autonomia. So Paulo: Editora Paz e Terra, 1997.

Mudar difcil, mas possvel (Palestra proferida no SESI de Pernambuco). Recife: CNI/SESI, 1997-b. Pedagogia da indignao. So Paulo: UNESP, 2000. Educao e atualidade brasileira. So Paulo: Cortez Editora, 2001 Premiaes: A Paulo Freire foi outorgado o ttulo de doutor Honoris Causa (Honoris causa, abreviado como h.c. (em portugus: causa nobre), um ttulo honorfico concedido a uma personalidade que tenha contribudo com os preceitos de uma instituio oficial de ensino, no pertencente a seu quadro funcional )por vinte e oito universidades. Por seus trabalhos na rea educacional, recebeu, entre outros, os seguintes prmios: "Prmio Rei Balduno para o Desenvolvimento" (Blgica, 1980); "Prmio UNESCO da Educao para a Paz" (1986) e "Prmio Andres Belo" da Organizao dos Estados Americanos, como Educador do Continente (1992) Concluso S falta isso em construo ainda Toda a obra de Paulo Freire uma concepo de educao embutida numa concepo de mundo. Mesmo assim, distinguem-se na teoria do educador pernambucano trs momentos claros de aprendizagem. O primeiro aquele em que o educador se inteira daquilo que o aluno conhece, no apenas para poder avanar no ensino de contedos, mas principalmente para trazer a cultura do educando para dentro da sala de aula. O segundo momento o de explorao das questes relativas aos temas em discusso o que permite que o aluno construa o caminho do senso comum para uma viso crtica da realidade. Finalmente, volta-se do abstrato para o concreto, na chamada etapa de problematizaro: o contedo em questo apresenta-se "dissecado", o que deve sugerir aes para superar impasses. Para Paulo Freire, esse procedimento serve ao objetivo final do ensino, que a conscientizao do aluno. No conjunto do pensamento de Paulo Freire encontra-se a idia de que tudo est em permanente transformao e interao. Por isso, no h futuro a priori, como ele gostava de repetir no fim da vida, como crtica aos intelectuais de esquerda que consideravam a emancipao das classes desfavorecidas como uma inevitabilidade histrica. Esse ponto de vista implica a concepo do ser humano como "histrico e inacabado" e conseqentemente sempre pronto a aprender. No caso particular dos professores, isso se reflete na necessidade de formao rigorosa e permanente. "o mundo no , o mundo est sendo". Paulo Freire