Paulo Kramer - II Forum da Liberdade
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II FÓRUM DA LIBERDADE EM MINAS GERAIS
Painel: “Liberdade & Educação”
- Paulo Kramer - Instituto de Ciência Política
Universidade de Brasília (Ipol/UnB)
Palácio das Artes/Belo Horizonte(29 de agosto de 2011)
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns:
1ª) “Água benta, já!” Associação a palavrões como neoliberal e neoliberalismo (não como conceitos analítico-descritivos, mas sim como xingamento contra os inimigos do povo e da classe trabalhadora).
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns (continuação):
2ª) Bem menos frequente. Lembranças: John Locke (1632-1704):
Segundo tratado sobre o governo civil.
David Hume (1711-1776):
Ensaios morais, políticos e literários.
Montestiqueu (1689-1755):
O espírito das leis; Cartas persas; Grandeza e dec. dos romanos.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns (continuação):
Imannuel Kant (1724-1804):
Fundament. da metafísica dos costumes; A paz perpétua.
Adam Smith (1723-1790):
A riqueza das nações; Teoria dos sentimentos morais.
James Madison (1751-1836), Alexander Hamilton (1757-1804):
Artigos federalistas.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns (continuação):
Wilhelm von Humboldt (1767-1835):
Limites da ação do Estado.
Benjamin Constant de Rebecque (1767-1830):
Escritos de política (“Da liberdade dos antigos comparada à liberdade dos modernos”).
John Stuart Mill (1806-1873):
Sobre a liberdade
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns (continuação):
Alexis de Tocqueville (1805-1859):
Democracia na América. O antigo regime e a revolução; Lembranças de 1848.
Lorde Acton (1834-1902):
A lecture on the Study of history; Lectures on modern history.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMODuas reações mais comuns: (continuação)
Max Weber (1864-1920):
Ensaios de sociologia; Escritos políticos (ed. mexicana, 2 vols.)
Jose Ortega y Gasset (1883-1973):
A rebelião das massas.
Ludwig von Mises (1881-1973):
Ação humana; A mentalidade anticapitalista; O liberalismo segundo a tradição clássica.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Friedrich von Hayek (1899-1992):
O caminho da servidão; A constituição da liberdade; Law, legislation and liberty (1973 a 1979, três volumes.)
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Raymond Aron (1905-1983)
Ensaios sobre as liberdades; O ópio dos intelectuais; Em defesa da Europa decadente (ed. portuguesa); Memórias; O marxismo de Marx.
Isaiah Berlin (1909-1997):
Quatro ensaios sobre a liberdade; Limites da utopia; O sentido da realidade; Estudos sobre a humanidade.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Milton Friedman (1912-2006):
Capitalismo e liberdade; Livres para escolher.
Domingo Sarmiento (1811-1888):
Facundo.
Octávio Paz (1914-1998):
O ogro filantrópico; Tiempo nublado.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Tavares Bastos (1839-1875):
A província; Os males do presente e as esperanças do futuro.
Joaquim Nabuco (1849-1910):
Um estadista do império; O abolicionismo.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Armando Salles de Oliveira (1887-1945):
Escritos políticos.
José Guilherme Merquior (1941-1991):
Rosseau e Weber; O argumento liberal; A natureza do processo; Liberalismo - antigo e moderno.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Roberto Campos (1917-2001):
A lanterna na popa (memórias); O século esquisito; Antologia do bom senso.
Antonio Paim (1927):
O liberalismo contemporâneo; Evolução histórica do liberalismo; Momentos decisivos na história do Brasil; A questão democrática.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Celso Lafer (1941):
Ensaios liberais; Hobbes, o direito e o Estado moderno.
José Osvaldo de Meira Penna (1917):
Em berço esplêndido; O espírito das revoluções; A ideologia do século XX.
Palavras LIBERAL, LIBERALISMO
Duas reações mais comuns: (continuação)
Ricardo Vélez Rodríguez (1943):
A democracia liberal segundo Alexis de Tocqueville; Ética empresarial.
Eduardo Giannetti da Fonseca (1957):
Vícios privados, benefícios públicos? O mercado das crenças; O valor do amanhã.
Em busca das raízes longínquas do LIBERALISMO:
─ STRAUSS, Leo (1899-1973), Liberalism, ancient and modern (Ithaca, NY: Cornell University Press, 1968). Ensaios: “What is liberal education?”; “Liberal education and responsibility”.
Referências adicionais:
─ Irmã Miriam Joseph, C. S. C., (1898-1982), O trivium: as artes liberais da lógica, gramática e retórica (entendendo a natureza e a função da linguagem). (S. Paulo: É realizações, 2008);
─ STRAUSS, What is political philosophy? (University of Chicago Press, 1988);
─ STRAUSS, & CROPSEY, Joseph (orgs.), Historia de la filosofía política (México: FCE, 1993).
─ PAIM, A. O liberalismo contemporâneo, 3ª edição, revista (Londrina: Humanidades, 2007). Cap. 5º, “A educação liberal”, pp. 215-270.
LIBERDADE, LIBERAL, LIBERALISMO: da antiguidade greco-romana à era moderna (um abismo semântico!)
─ Na Antiguidade Clássica, o termo liberalidade tinha uso bem mais corrente que liberdade e significava a virtude do homem que era livre (não escravo), alguém suficientemente abastado para ser “economicamente dispensável” (Max Weber) e socialmente disponível para dedicar a maior parte do seu tempo, energia e talento à vida pública (polis).
Obs.: Platão e seu antigo discípulo Aristóteles consideravam os governos que funcionam em proveito dos governantes como formas degeneradas, patológicas de convivência política.
─ Na Antiguidade tardia, Marco Terênio Varrão (116-27 a.C.) formulou a classificação que viria a se impor a partir do século II d.C.: o currículo das artes liberais.
─ Em contraposição às “artes mecânicas” (utilitárias) e às belas artes (cujo objeto é a excelência estética em si), o currículo das artes liberais compendiava o que uma criança ou um rapazola devia aprender para se tornar um homem livre – e livre permanecer.
─ Que “currículo” era esse?
TRIVIUM: Lógica, gramática e retórica;
QUADRIVIUM: aritmética, astronomia, geometria e música.
─ Para STRAUSS, o LIBERALISMO ANTIGO se identifica com o cultivo da excelência humana, mobilizando as qualidades mais nobres e elevadas, cujo ápice corresponde a “a vida filosófica”. O filosófico – amigo do saber – questiona as crenças do seu tempo e os próprios conhecimentos, a fim de alcançar a contemplação última da Verdade, da Justiça, da forma eterna e perfeita.
Mas... e o LIBERALISMO MODERNO?
─ Crença de que todos o seres humanos – e não apenas um punhado de aristocratas abastados e cultos – nascem com igual direito à liberdade (lembrar Thomas Jefferson [1743-1826] e a Declaração de Independência dos Estados Unidos [1776]: “... vida, liberdade e busca da felicidade”)
─ Liberdade tomada tanto no seu sentido negativo (contra a invasão da nossa individualidade contra invasões de governantes opressivos e concidadãos intrometidos) quanto na acepção positiva (ser livre para, autonomamente, formular e, assim, desenvolver nossas potencialidades, desde que isso não comprometa o exercício do mesmo direito pelos nossos semelhantes).
P/ TOCQUEVILLE, em Democracia na América, o advento do Cristianismo foi responsável pela translação semântica entre liberalismo antigo (aristocrático) e liberalismo moderno (igualitário, ou democrático).─ A boa nova: todos somos irmãos, porque filhos do mesmo Pai.
SANTO AGOSTINHO (354-430): obra Sobre o livre arbítrio. (Razão, dádiva de Deus a todas as pessoas, propriedade espiritual que permite distinguir o bem do mal. Responsabilidade de cada um pelas consequências dos seus atos. Razão, sede da liberdade.)
SANTO TOMÁS DE AQUINO (1225-1274). Suma Teológica, depois das Escrituras Sagradas, a principal fonte de autoridade intelectual da Igreja: origem do poder soberano é Deus. Os governantes o recebem por meio do povo. Compromisso de servir c/ justiça e benevolência.
─ Concepção de gov. limitado. Segundo Michael Novak, neoconservador católico americano, Aquino foi o “primeiro whig (O espírito do capitalismo democrático). P/ Novak, na teologia/filosofia tomista e de outros escolásticos medievais, o início de uma ética favorável à economia de mercado.
WEBER, A ética protestante e o espírito do capitalismo
─ Puritanismo calvinista: seres humanos nascem predestinados p/ Deus à bem-aventurança ou à danação eterna.
─ Em busca de sinais, senão ‘oficiais’, ao menos ‘oficiosos’ da escolha divina, os fieis se dedicam a obter sucesso material/profissional. Resultado: o capitalismo racional moderno, dinâmico, inovador, via aplicação metódica, frugal e rigorosa na expansão dos negócios.
─ Economia de mercado: imperativo da igualdade formal de todos perante a lei.
─ Liberalismo antigo: virtude dos governantes/liberalismo moderno: arranjos institucionais.
─ Apelos ao telos mais elevado ou ao ‘ponto de partida’ mais baixo.
─ Aristóteles e seu regime misto (politeia: oligarquia + democracia). Monstesquieu e Federalistas americanos.
─ (O vínculo entre a Ética a Nicômaco e a Política, de Aristóteles.)
─ Maus cidadãos podem produzir bons arranjos institucionais? Papel central do caráter, redescoberto pelos neoconservadores.
GRANDES LIVROS:
─ A ‘ponte’ de cultura humanística ligando os dois liberalismos. (Mortimer Adler (1902- 2001), Universidade de Chicago.)
─ O perigo para a liberdade do abandono das artes liberais (na perspectiva mais estrita de trivium/quadrivium e na perspectiva mais ampla de incorporação da literatura, da história...). B. A. (bachelor of arts). Até o início do séc. XX, as artes liberais eram consideradas o caminho para a modelagem do caráter e o amadurecimento do intelecto. (Por que não existem mais estadistas e líderes espirituais como Churchill, De Gaulle, Adenauer, Maritain e Woytila...)
GRANDES LIVROS:
TOCQUEVILLE e sua advertência ao Homo democraticus: o estudo dos clássicos como contrapeso às tendências despóticas, ainda que “suaves”, da democracia (indiferentismo cívico-político, consumismo, vulgaridade estética, infantilização dos cidadãos). Quando a obsessão por igualdade esmaga a liberdade.
Quem abre mão da “liberdade positiva”, acaba perdendo, também, a “liberdade negativa”.
O alerta de Sidney Hook (1902-1989), educador e filósofo liberal americano:
“Aqueles cuja lealdade primordial é votada à livre-empresa, como sistema [meramente] econômico, jamais morrerão por ela. Para eles, liberdade em primeiro lugar significa lucro em primeiro lugar; com os olhos fixos nas perdas e ganhos de curto prazo, chegarão ao ponto de fornecer as competências necessárias e os meios técnicos eficazes aos regimes totalitários para a destruição das culturas livres [...] Os que definem a cultura livre [...] em termos do direito das pessoas a escolherem por si mesmas [...], estes sim, serão capazes de assumir compromisso com a defesa da liberdade até as últimas consequências”.
Mas, então, por que os liberais preferem o regime econômico da iniciativa privada? Pelo seu bem fundamentado temor de que a estatização dos meios de produção concentre todos os tipos de poder nas mãos da burocracia governamental; de que o fim da competição no mercado e do conflito de interesses na sociedade civil e entre esta e o setor público decrete o assoreamento de múltiplas fontes de inovação e criatividade; de que, enfim, o futuro se transforme na “jaula de ferro” conforme a sombria alegoria weberiana.
“A corrupção no Brasil não é apenas resultado da impunidade e da dissolução dos valores morais, mas das tentações criadas pela própria organização do Estado”.
(Mário Henrique Simonsen, 1935-1997)
PARA CONCLUIR:
─ Millôr Fernandes → “Tem gente que caiu na contracultura, sem nunca ter passado pela cultura”.
─ Leo Strauss: “[Liberalismo significa] dedicação à liberdade, no sentido de que a liberdade e a dignidade de qualquer um pressupõem liberdade e dignidade para todos”.
─ Cecília Meirelles → “Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.
MUITO OBRIGADO!