PD EA
-
Upload
eduardo-couto -
Category
Documents
-
view
226 -
download
3
description
Transcript of PD EA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC (UFABC)
CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
(CECS)
Eduardo Araujo Couto
AGENDA RETÓRICA E AGENDA LEGISLATIVA NO PRIMEIRO ANO DO
GOVERNO DILMA
São Bernardo do Campo
2015
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ABC (UFABC)
CENTRO DE ENGENHARIA, MODELAGEM E CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
(CECS)
AGENDA RETÓRICA E AGENDA LEGISLATIVA NO PRIMEIRO ANO DO
GOVERNO DILMA
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Bacharelado em Ciências e
Humanidades do Centro de Engenharia, Modelagem e Ciências Sociais
Aplicadas da Universidade Federal do ABC como requisito para obtenção
do título de Bacharel em Ciências e Humanidades.
Aluno: Eduardo Araujo Couto
Professora Orientadora: Prof.ª Dr.ª Simone Diniz
São Bernardo do Campo
2015
Sumário
1 Introdução.............................................................................................................1
1.1 Tema e Discussão com a Bibliografia.........................................................1
1.2 Problema.....................................................................................................4
1.3 Hipótese......................................................................................................5
1.4 Objetivo.......................................................................................................6
1.5 Justificativa..................................................................................................7
2 Objetivos............................................................................................................8
2.1 Objetivos Gerais..........................................................................................8
2.2 Objetivos Específicos
3 Materiais e Métodos..........................................................................................9
4 Crongrama......................................................................................................11
5 Resultados esperados e Conclusões..............................................................12
Referências Bibliográficas....................................................................................13
1
1Introdução
1.1 Tema e Discussão com a Bibliografia
Com a promulgação da Constituição de 1988, as discussões sobre o modelo
político escolhido naquele momento e o que poderia ter sido feito, a Ciência Política
brasileira tem como tarefa estudos para compreender o novo panorama político-
institucional que resultou da redemocratização. Havia um grande receio no que diz
respeito à comparação com a configuração política de 1946: por que fazer
prevalecer presidencialismo, multipartidarismo e sistema proporcional, sendo que o
sistema que perdurou entre as décadas de 40 e 60 teve seu desfecho no golpe de
1964, a consequência de uma paralisia decisória, “ou seja, um colapso do sistema
político, resultante de sua incapacidade de funcionar (isto é, de tomar decisões
sobre questões conflitantes)” (SANTOS, 1986).
Tal paralisia teria lugar na nova ordem constitucional por conta de algumas já
citadas características do Sistema Político recém-inaugurado correlatas ao sistema
pré-ditatorial: presidencialismo, representação proporcional e multipartidarismo, com
tendências a partidos fracos e não representativos do ponto de vista geográfico e
estrutural. Silva (2011) lembra-nos que para muitos adeptos a essas críticas, “o
parlamentarismo estaria mais adequado à consolidação do sistema político do país e
aos propósitos democráticos” (Ibid., p. 20).
A razão do parlamentarismo ter mais sucesso na sua produção legislativa do
que o presidencialismo estaria no fato do governo ser mais facilmente dissolvível
sem muitas consequências de crise para o sistema como um todo: basta um voto de
desconfiança para novas eleições, enquanto o presidencialismo deve esperar
obrigatoriamente (a não ser que uma ruptura – golpe ou revolução – acabe com o
governo em questão), tendo que suportar qualquer tipo de crise. Linz (1991) exalta o
caráter flexível do parlamentarismo demonstrado acima, além de nos trazer que o
governo depende da confiança do Parlamento – a única instância democraticamente
legitimada.
Diferente do presidencialismo, que carrega em si um conflito de legitimação
democrática: o fato (que diferencia os dois tipos de governo) de haver eleição
2
exclusiva e majoritária (plebiscitária, para Linz) para o chefe do Executivo lhe dá a
possibilidade de reclamar total legitimidade democrática, pretensão de ser a voz do
povo na direção governamental. Mas, questiona o autor, os partidos (e os
parlamentares) não dispõem também de legitimidade democrática? Quem estaria
mais bem legitimado para falar em nome do povo? Linz conclui que não há princípio
democrático que resolva essa questão. Pode-se, como no caso dos EUA, pedir-se
por partidos mais disciplinados e responsáveis, em número menor, para atenuar tais
querelas.
O presidencialismo, então, combinado ainda com muitos partidos – e por isso
com diversas vozes ou “ambições” nas palavras dos federalistas norte-americanos –
fracos, ou seja, com forte atuação individual dos parlamentares (e por isso sem a
coesão necessária para sucesso), teria fortes tendências ao imobilismo. Portanto, a
relação de forças que o governo deveria coordenar seria demais dispersa para
chegar em uma coalizão, acrescentando o já citado argumento da divisão entre
Executivo e Legislativo, eleitos paralelamente e sem correlação obrigatória entre o
partido que recebe a presidência e os mais votados para deputados e senadores –
ambos com legitimidade democrática “plena”.
Quanto ao processo político, ou seja, a estruturação da competição política
para a proposição de leis e políticas públicas, Linz (idem) identifica que, enquanto no
parlamentarismo se trabalha no sentido de assegurar a maioria necessária para não
paralisar o sistema, seja por maioria absoluta (mais facilmente alcançável pelo
processo eleitoral e escolha do primeiro-ministro pelo Parlamento) ou pelos moldes
de uma democracia consociativa (coalizões); o presidencialismo tende a tomar seu
processo político com resultados de soma zero, ou seja, o “vencedor leva tudo”,
deixando perdedores no processo, de maneira mais prejudicial que no
parlamentarismo.
Abranches (1988) ainda adiciona outra variável ao insucesso: o federalismo, o
poder dos estados e dos governadores em mobilizar suas bancadas estaduais para
barrar projetos do Executivo federal. Fato correspondente a isso no cenário
brasileiro é o Senado, onde o Nordeste, Norte e Centro-Oeste, atuando em conjunto,
teriam 70% das cadeiras (são 3 por Estado) e assim poder de veto com maioria
qualificada.
A combinação dos fatores citados traria um nome especial para a
conformação política brasileira: o presidencialismo de coalizão, expressão cunhada
3
por Abranches (idem). Explico: visto que haja multipartidarismo, é muito difícil que o
partido que elegeu o presidente consiga, por si só, construir a maioria
regimentalmente necessária para a aprovação de seus projetos. Por isso, deve
buscar outros partidos para formar alianças e garantir número de parlamentares
suficientes apoiando as políticas que intenciona. Segundo Abranches e outros
componentes da já citada corrente pessimista, isso seria muito difícil, ainda mais
com um suposto poder de veto dos governadores que controlariam suas bases
estaduais, nos termos do federalismo acima descrito. A coalizão necessária seria
por demais ampla para ter consenso sobre qualquer assunto, gerando conflitos
dificilmente resolvíveis por meios institucionais, ainda mais com o caráter não-
flexível do presidencialismo
Há estudos paradigmáticos, porém, que surgem a partir do marco referencial
constituído por Figueiredo e Limongi, cuja constatação como referência deriva das
críticas à literatura “parlamentarista” e aos pessimistas quanto à nova configuração
institucional. Em Executivo e Legislativo na nova ordem constitucional (1999), inicia-
se novo momento na literatura da Ciência Política brasileira, sobretudo em suas
ramificações institucionais. A saída para o suposto colapso previsto e já ocorrido em
1964 seriam resquícios (ou não) do período ditatorial à nova ordem constitucional:
Em primeiro lugar, em relação à Constituição de 1946, os poderes
legislativos do presidente da República foram imensamente ampliados. [...]
a Constituição de 1988 manteve as inovações constitucionais introduzidas
pelas constituições escritas pelos militares com vistas a garantir a
preponderância legislativa do Executivo [...]. (FIGUEIREDO; LIMONGI,
1999, p. 20)
A saída, portanto, para um suposto problema operacional – e estrutural –da
produção legislativa seria, na visão dos autores, um Executivo com forte poder de
agenda e com instrumentos à mão para fazer valer suas iniciativas: tal poder do
executivo serviria como barganha para negociar uma coalizão responsável com o
Legislativo. Há outros fatores de crítica à visão pessimista dos autores que podemos
aqui classificar como “parlamentaristas” ou aliados à suposta retomada da paralisia
decisória: a disciplina partidária – analisada e constatada empiricamente pelos
autores no período de 1989 a 1994 – cuja importância é dada pela constatação de
que a “unidade de referência a estruturar os trabalhos legislativos são os partidos e
4
não os parlamentares” (Ibid., p. 20); a centralização do Poder Legislativo em torno
de seus líderes partidários – fatores estes que auxiliariam na condução do processo
legislativo como cooperativo entre os poderes (coalizão) e assim alçassem sucesso
na produção de leis – e, por consequência, políticas públicas.
A partir da constatação de que os estudos oriundos desse paradigma iniciado
por Figueiredo e Limongi, dentre outros que se seguiram, destacam o proeminente
papel de que dispõe o Poder Executivo na produção de políticas públicas. Temos,
assim, o principal fator que operacionaliza tal expediente: o poder de agenda de que
pode lançar mão o presidente.
Figueiredo e Limongi colocam que o funcionamento do presidencialismo no
Brasil não difere muito dos regimes parlamentaristas, pois os presidentes, para
formar seus governos, devem formar uma coalizão multipartidária, o que assegura
votos suficientes para suas iniciativas.Para além disso, porém, poderes institucionais
seriam o motivo de tal primazia: poderes constitucionais de iniciativa exclusiva –
sobretudo de matéria orçamentária eedição de medidas provisórias, além da medida
ex post do veto presidencial.
1.2 Problema
O projeto aqui proposto pretende, entretanto, dar um passo atrás em relação
aos mecanismos supracitados. Entendemos que tais recursos nem sempre são
suficientes para que o Executivo alcance suas pretensões, não fosse assim não
haveria matérias originadas pelo (a) Presidente e rejeitadas e/ou vetadas quando da
sua tramitação no Legislativo.
Argumentamos que para além dos poderes de agenda o mandatário do Poder
Executivo recorre a ações estratégicas para fazer valer seus interesses e evitar o
fracasso presidencial em sancionar suas proposições legislativas.Quais as
estratégias das quais o presidente poderia lançar mão para obter garantias de que
não será rejeitado na parte final do trâmite legislativo, aqui entendido como o
processo legislativo institucionalizado no Poder Legislativo?
A literatura norte-americana, na figura de Larocca (2006), por exemplo, pode
dar-nos pistas para tal problema. Perguntando-se em que medida o presidente
norte-americano – que dispõe apenas do veto presidencial dentre as opções
institucionais elencadas acima – influencia o processo legislativo, o autor propõe
5
atuações informais do Executivo na promoção de suas políticas, a partir de
assimetrias informacionais: de um lado, as agências executivas, que sobretudo a
partir de informações ditas técnicas são acionadas para usar de seu know-how e
colocar projetos de difícil entendimento para os membros do Legislativo; de outro
lado, a matéria-prima para a discussão de nosso problema, o poder mobilizador de
que dispõe o mandatário do Executivo em relação à população: o going-public,
discursos que pautariam as propostas do governo e trariam saliência pública aos
assuntos que deseja colocar na agenda política do país.
Há uma segunda série de questionamentos: quando utilizar o poder
informacional em relação à população? Qual sua efetividade? E, tratando da
realidade brasileira, considerando que o principal instrumento apontado por Larocca
para a efetivação de tal mecanismo – o State of the Union, discurso programado e
de suma importância para a política estadunidense – não se encontra no Brasil, de
quais mecanismos poderia lançar mão o Executivo de nosso país?
Para as primeiras perguntas, Larocca tem repostas. Segundo ele, o going-
publicconstitui-se como arma intensiva e pontual do Executivo, devido à limitação do
número de assuntos que podem permanecer salientes de forma tão efetiva a ponto
de ter chance para transformar-se em legislação.
Para a última, porém, fica a questão: o Executivo brasileiro utiliza
mecanismos informais – donde o termo agenda retórica – para mobilizar a
população ou o próprio Congresso em relação a suas políticas? Em que medida?
1.3 Hipótese
A hipótese que permeia esse projeto tenta articular a obra de Larocca com as
estratégias que podemos depreender do referencial de Figueiredo e Limongi: o
Executivo anuncia publicamente uma determinada proposta de política pública, que
funcionando como uma espécie de “balão de ensaio” possibilitaria a(o) presidente
estimar o grau de apoio e oposição à proposta, antes de submetê-la formalmente ao
Congresso.Para tanto, é necessário retomar o debate conceitual sobre as diferentes
agendas presidenciais.
Primeiramente, seguindo a trajetória de Larocca, temos que a definição
importante de agenda para a problemática de que estamos tratando é a de resultado
de um controle sobre os assuntos (issues) que o Congresso discute. Nessa
6
perspectiva, medir o sucesso dos mecanismos informais de que pretendemos tratar
é avaliar as pautas mais debatidas do Congresso em contraposição ao que o (a)
presidente postulou em suas idas ao público.
Em segundo lugar, Kingdon (2003) nos diz que não há uma únicaagenda
presidencial, dividindo-a em agenda governamental, como os temas que estão
recebendo atenção; e agenda de decisão, como itens já levantados para um
desfecho final.
Dado o seguinte panorama, e tentando de certa forma adequá-lo ao escopo
da pesquisa, há duas “agendas” sobre as quais devemos lançar luz: a retórica e a
legislativa.
A primeira, segundo Cohen (2012), é formada por todos os assuntos que o (a)
presidente levanta em público, usualmente dirigindo-se à população, seja na forma
de discurso, à mídia ou grupos de interesse. É a forma de anunciar suas intenções,
prioridades e propostas, além de – segundo a nossa hipótese – testar o cenário
político para almejar eventuais apoios.
Em relação à agenda legislativa, é a que requere de qualquer forma a ação
do Legislativo: no caso americano (COHEN, idem), pela impossibilidade de ação
legislativa do Executivo; no caso brasileiro, pela necessidade da submissão pelo
menos de parte da legislação ao Legislativo.
1.4 Objetivo
A principal meta a ser perseguida nesta proposta de pesquisa é identificar tal
estratégia na ação da presidente Dilma em seu primeiro ano de mandato (2011),
verificando a partir disso o quão relevante seria dizer que tal uso ajuda em certa
antecipação da ação dos parlamentares ou apoio público de ação proposta.
Para tal, tem-se como objetivo levantar as propostas de políticas públicas (e
afins) anunciadas na mídia governamental, especificamente no programa de rádio
“Voz do Brasil”, da agência do governo Empresa Brasileira de Comunicações (EBC),
compondo assim um método de aferição da chamada agenda retórica nos termos
acima descritos e assim entender quais políticas públicas formaram esta agenda
para a presidente, e a partir disso analisar qualitativamente as questões
apresentadas nos termos de tempo e relevância (ESHBAUGH-SOHA, 2005, p. 259).
7
Além disso, há de se definir se a presidente utilizou de várias estratégias –
sendo isso parte da hipótese – e se as diferenciou de acordo com o tipo de política
que visava apresentar, inclusive para determinar se há tipos de issues mais
correlacionadas ao going-public.
1.5 Justificativa
Apesar da contribuição do paradigma aqui sintetizado nas figuras de Limongi
e Figueiredo, é necessário avançar na compreensão de certos aspectos que
compõem as estratégias presidenciais para seu sucesso legislativo e na expansão
do entendimento das relações entre Legislativo e Executivo. Mapear o
comportamento estratégico dos atores políticos pode ser uma etapa importante para
o combate da crença de que é necessário recorrer a práticas ilícitas para obter a
aprovação de matérias relevantes para a vida política brasileira.
Entender o comportamento do (da) presidente nas dimensões teórica e
empírica pode ser chave para contribuir em um melhor entendimento do desenho e
do desempenho institucional do Executivo; ademais, constitui avanço dentro do tema
da(s) agendas presidenciais.
Além disso, é necessário abarcar dentro dos estudos da Ciência Política
brasileira inovações em termos de tecnologia. Apesar do rádio ou mesmo do
programa “Voz do Brasil” não serem novos meios de utilização política, seu uso
ainda é restrito nas análises do processo legislativo e político de uma maneira geral,
onde normalmente se recortam trabalhos investigativos no que tange ao poder da
mídia em relação aos estudos institucionais.
8
2Objetivos
2.1 Objetivos Gerais
Os objetivos gerais dessa pesquisa a ser realizada são, além daqueles já
dispostos em 1.3,1.4 e 1.5, verificar os meandros da estratégia goingpublic descrita
aqui a partir dos trabalhos de Larocca (idem). Para tal, lançaremos mão, assim como
o autor citado, de classificação temática das proposições apresentadas, verificando
assim quais problemas o governo quer repassar ao debate público e, por
consequência (e suposta pressão popular), ao Congresso. Com isso, perceberemos
ou não se é possível antecipar a ação do poder Legislativo em futura votação de tal
proposição. Quão relevante, nesse sentido, é o apoio do público?
Além disso, outras variáveis podem ser observadas: são políticas de curto ou
longo prazo? Dentro da classificação de Lowi (1972, apud Frey, 2000), são
distributivas, redistributivas, regulatórias ou constituintes? Qual o grau de sucesso
de tal estratégia?
Por fim, Larocca também coloca que o primeiro ano de mandato dos
presidentes norte-americanos são os mais importantes e efetivos nesse tipo de
estratégia, pois os olhos do público estão voltados à posse e esperam que o poder
de agenda se estabeleça.
2.2 Objetivos Específicos
Os objetivos específicos estão contidos nos gerais: o estudo de caso servirá
também para uma análise mais detalhada do primeiro ano de mandato da presidente
Dilma Rousseff, abrindo o caminho para um entendimento mais profundo do perfil
pessoal da mandatária, seguindo a linha de Neustadt (1960) e Diniz (2005) para
compreendermos as habilidades e estratégias pessoais de Rousseff.
Para chegarmos ao objetivo geral de classificar as políticas tematicamente,
Larocca chama a atenção para a metodologia de tal classificação. Está dentre os
objetivos, portanto, a análise de diversas metodologias já criadas, ou a partir destas
elaborar uma mais confortável à nossa análise.
9
3 Materiais e Métodos
Os materiais necessários para a execução do projeto aqui proposto se
restringem à bibliografia que será revisada, cuja amostra se encontra nesse
documento; às transcrições e programas em áudio disponíveis no site da Empresa
Brasileira de Comunicações; à busca e/ou criação de banco de dados das
proposições legislativas apresentadas ao Congresso pelo Executivo; e à utilização
de software de manipulação de dados para contabilizar os programas e políticas
anunciados n’A Voz do Brasil e fazer os testes e correlações necessários, dentre
eles: a variação temática dos projetos e programas e sua interferência em seu
sucesso; o formato (projeto ou programa), até como forma de fugir da tramitação
legal; etc.
Quanto aos métodos, pode-se vê-lo ao decorrer deste texto: a revisão
bibliográfica da literatura sobre o modelo institucional atual brasileiro, agenda(s) e
afins; a manipulação de dados, seja da agenda retórica ou da agenda legislativa
para tirar daí conclusões quantitativas e sobretudo qualitativas sobre o uso dos
mecanismos, objetos desta pesquisa.
Há de se destacar, quanto aos métodos, a variável temática, dentro de
estudos mais qualitativos. É necessário o desenvolvimento de uma classificação que
seja, assim como coloca Larocca (2006), nem tão abrangente nem específico ao
ponto de criar uma hierarquização confusa. A multiplicidade de temas e subtemas
intrínseco a um só projeto de lei pode ser um empecilho nesse sentido, assim como
os chamados “jabutis”, leis (especialmente medidas provisórias) que contêm uma
série de assuntos cuja conexão é difícil de fazer. Almejamos, então, uma
classificação exclusivista ao ponto de ser facilmente discernível, mas cirúrgica o
suficiente para não perder detalhes importantes.
A categorização também perpassará, como já citado, a classificação de
Eshbaugh-Soha, no sentido das dimensões de tempo e relevância, para averiguar
de melhor forma o tipo de política que o Executivo crê que seja mais efetiva anunciar
publicamente. A tabela 1 dá mais base para compreendermos tal classificação:
10
Tabela 1. Dimensões de tempo e relevância de políticas anunciadas.
Dimensões Longo Prazo Curto Prazo
Relevantes Políticas importantes Políticas Efêmeras
Não-relevantes Políticas Incrementais Políticas Secundárias
Obviamente, haveremos de tentar encontrar definições mais concretas e
adaptadas ao cenário brasileiro de relevância e “prazo”. É importante destacar, por
fim, que os dois tipos de classificação apresentados aqui, relacionados com a
análise da conjuntura política, social e econômica do período estudado, se
complementarão para uma abordagem multifacetada do objeto.
11
4 Cronograma
Sobre o plano proposto para execução da pesquisa,a Tabela 2 mostra
cronograma com planejamento para a duração do projeto de iniciação científica, 1
ano a contar a partir de sua aprovação. A divisão em trimestres foi proposta por
previsão da duração de cada etapa.
Tabela 2. Cronograma de execução do projeto.
Ação 1º
trimestre 2º
trimestre 3º
trimestre 4º
trimestre
Levantamento de dados “Voz do
Brasil”
Manipulação de dados “Voz do Brasil”
Levantamento de dados “Agenda
Legislativa”
Manipulação de dados “Agenda
Legislativa”
Manipulação das duas bases de
dados – correlações
Revisão Bibliográfica
Redação de artigo científico a partir
dos resultados
12
5 Resultados esperados e Conclusões
Seguindo as hipóteses da pesquisa, acreditamos que o Executivo se utilizou e
se utiliza fartamente de seu poder de mobilização pública a partir das mídias,
sobretudo em relação àquela que detém maior poder: a mídia oficial do governo.
Para tal, a multiplicidade de estratégias possíveis (dentre as que estudaremos e
outras tantas revistas na bibliografia (Diniz, 2005 e Larocca, 2006, por exemplo))
segue a diversidade dos projetos apresentados, a partir de ação racional.
Acreditamos também que os dados coletados pelo Executivo quando da
divulgação de suas intenções servirão como base para a tomada da próxima
decisão estratégica: seja apresentar ou não o projeto ao Legislativo, desistindo ou
lançando mão de programas sobre os quais o Executivo tem autonomia para por em
prática sem necessitar do trâmite legislativo; do tipo de proposição legislativa que
poderá submeter ao Legislativo (Medida Provisória, Projeto de Lei Ordinário,
orientação a sua bancada de propor legislação, etc.); da necessidade ou não de
acionar seu corpo técnico assistente ou de ir a público mais incisivamente (cf.
Larocca, op. cit.) – resumindo o argumento acima como antecipação da ação do
Legislativo. Ou até mesmo o contrário do acima: manifestações do Legislativo que
demandarem respostas do Executivo via mídia, e talvez até mesmo iniciando um
novo issuena Agenda Retórica.
Por fim, esperamos que haja diferenças no resultado do processo legislativo
quando o Executivo lança mão do going public; mudança essa conspirando a favor
do governo.
13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRANCHES, S. H. H. Presidencialismo de coalizão: o dilema institucional
brasileiro. Dados – Revista de Ciências Sociais, Rio de Janeiro. vol. 31, n. 1. 1988,
pp. 5-34.
COHEN, J. The President’s Legislative Policy Agenda, 1789-2002. New York:
Cambridge University Press. 2012.
DINIZ, S. Interações entre os Poderes Executivo e Legislativo no processo
decisório: avaliando sucesso e fracasso presidencial. Dados – Revista de Ciências
Sociais, Rio de Janeiro, vol. 48, n. 2, 2005, pp. 333-369
ESHBAUG-SOHA, M.The Politics of Presidential Agendas.Political Research
Quarterly, vol. 58, n. 2.2005, pp. 257-268.
FIGUEIREDO, A. ; LIMONGI, F. Executivo e Legislativo na Nova Ordem
Constitucional. 1ª edição. Rio de Janeiro. Editora FGV. 1999.
FREY, K. Políticas Públicas: um debate conceitual e reflexões referentes à
prática da análise de políticas públicas no Brasil. Planejamento e Políticas Públicas,
n. 21, 2009.
KINGDON, J. Agendas, Alternatives, and Public Policies.New York: Harper
Collins. 2003.
LAROCCA, R. The Presidential Agenda. Sources of Executive Influence in
Congress. The Ohio State University Press.2006.
LINZ, J. Presidencialismo ou Parlamentarismo: faz alguma diferença? In:
LAMOUNIER, B (org.). A opção parlamentarista. São Paulo: IDESP; Ed. Sumaré,
1991. Pp. 61-120.
NEUSTADT, R. President Power: The Politics of Leadership. New York: Wiley,
1960.
SANTOS, W.G.Sessenta e quatro: anatomia da crise. São Paulo, Vértice,
1986
SILVA, W A. Avaliando a literatura sobre o sistema presidencialista brasileiro
pós 88. 2011. 162 f. Tese (Mestrado) – Universidade Federal de São Carlos. São
Carlos. 2011.