PDF Modelo Artigo Connepi 2015 - Correção

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8/20/2019 PDF Modelo Artigo Connepi 2015 - Correção http://slidepdf.com/reader/full/pdf-modelo-artigo-connepi-2015-correcao 1/6  X Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2015 Página 1 CASO SENSACIONAL: A CRIAÇÃO DO PSEUDOENTORNO PELOS JORNAIS NO DISCURSO DA REVOLUÇÃO ACREANA  RESUMO:  Este texto tem o objetivo de mostrar como o espanhol Luiz Galvez de Arias 1 utilizou os jornais de Belém e do Amazonas para conquistar a opinião pública para legitimar 2 um conflito internacional, a partir da passagem do navio de guerra norte americano 3 Wilmington pelos rios da Amazônia, sem prévia autorização do Governo do Brasil, no ano de 4 1899, criando um pseudoentorno, teoria em que o jornalismo apresenta duas visões de mundo, 5 na qual metade é verdadeira e a outra artificial. Isso porque uma fração do que se sabe é 6 construído a partir de narrativas contadas por meio do jornalismo, da história ou de outros 7 meios. 8 Palavras  – chave: enunciado,  jornalismo, opinião pública, pseudoentorno, revolução acreana 9 10 SENSATIONAL EVENT : THE CREATION OF NEWSPAPERS IN 11 SPEECH BY PSEUDOENTORNO REVOLUTION OF ACRE 12 13 ABSTRACT: This text aims to show how the Spanish Luis Galvez of Arias used the 14 newspapers of Belém and the Amazon to win public opinion to legitimize an international 15 conflict , from the passage of the North American warship Wilmington rivers of the Amazon 16 without prior authorization from the Government of Brazil , in 1899 , creating a 17  pseudoentorno , theory that journalism presents two world views , in which half is true and 18 the other artificial. That's because a fraction of what is known is constructed from narratives 19 told through journalism , history or other media. 20 KEYWORDS: statement , journalism , public opinion, pseudoentorno , Acre revolution 21 22 INTRODUÇÃO 23 Este artigo surge da necessidade de entender como o jornalismo cria um 24  pseudoentorno, ou seja, cria uma versão artificial de fatos, o que serve a grupos sociais que 25 almejam a conquista de poder, mas que para isso, antes, precisam do apoio da opinião pública. 26  Nesta pesquisa, a problemática formulada é entender, a partir de pesquisas feitas em jornais e 27 que fazem parte da historiografia oficial do Acre, publicadas pelo historiador Leandro 28 Tocantins e o jornalista Jailson Soares Dantas, como o jornalista espanhol Luiz Galvez usou 29 um fato cujas explicações devidas até então não foram esclarecidas que é a passagem do navio 30 de guerra dos Estados Unidos Wilmington por rios da Amazônia - sem a autorização do 31 governo brasileiro - para ancorar a história de um acordo de arrendamento da região hoje 32 conhecida como Estado do Acre, entre o governo boliviano e o norte-americano; fato que 33 culminou em um conflito armado pela posse das terras acreanas. Dessa forma, o objetivo 34

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X Congresso Norte Nordeste de Pesquisa e Inovação, 2015 Página 1 

CASO SENSACIONAL: A CRIAÇÃO DO PSEUDOENTORNO PELOSJORNAIS NO DISCURSO DA REVOLUÇÃO ACREANA 

RESUMO:  Este texto tem o objetivo de mostrar como o espanhol Luiz Galvez de Arias1

utilizou os jornais de Belém e do Amazonas para conquistar a opinião pública para legitimar2

um conflito internacional, a partir da passagem do navio de guerra norte americano3

Wilmington pelos rios da Amazônia, sem prévia autorização do Governo do Brasil, no ano de4

1899, criando um pseudoentorno, teoria em que o jornalismo apresenta duas visões de mundo,5na qual metade é verdadeira e a outra artificial. Isso porque uma fração do que se sabe é6

construído a partir de narrativas contadas por meio do jornalismo, da história ou de outros7

meios.8

Palavras – chave: enunciado,  jornalismo, opinião pública, pseudoentorno, revolução acreana9

10

SENSATIONAL EVENT : THE CREATION OF NEWSPAPERS IN11

SPEECH BY PSEUDOENTORNO REVOLUTION OF ACRE12

13

ABSTRACT: This text aims to show how the Spanish Luis Galvez of Arias used the14

newspapers of Belém and the Amazon to win public opinion to legitimize an international15conflict , from the passage of the North American warship Wilmington rivers of the Amazon16

without prior authorization from the Government of Brazil , in 1899 , creating a17

 pseudoentorno , theory that journalism presents two world views , in which half is true and18

the other artificial. That's because a fraction of what is known is constructed from narratives19

told through journalism , history or other media.20

KEYWORDS: statement , journalism , public opinion, pseudoentorno , Acre revolution21

22

INTRODUÇÃO23

Este artigo surge da necessidade de entender como o jornalismo cria um24  pseudoentorno, ou seja, cria uma versão artificial de fatos, o que serve a grupos sociais que25

almejam a conquista de poder, mas que para isso, antes, precisam do apoio da opinião pública.26

 Nesta pesquisa, a problemática formulada é entender, a partir de pesquisas feitas em jornais e27

que fazem parte da historiografia oficial do Acre, publicadas pelo historiador Leandro28

Tocantins e o jornalista Jailson Soares Dantas, como o jornalista espanhol Luiz Galvez usou29

um fato cujas explicações devidas até então não foram esclarecidas que é a passagem do navio30

de guerra dos Estados Unidos Wilmington  por rios da Amazônia - sem a autorização do31

governo brasileiro - para ancorar a história de um acordo de arrendamento da região hoje32

conhecida como Estado do Acre, entre o governo boliviano e o norte-americano; fato que33

culminou em um conflito armado pela posse das terras acreanas. Dessa forma, o objetivo34

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deste trabalho é mostrar como o jornalismo cria um pseudoentorno comparável ao Mito da35

Caverna de Platão.36

Para tanto, é preciso voltar um pouco na história até aproximadamente 1450, quando37

Johann Gutenberg de Maniz criou uma prensa gráfica. Segundo Asa Brigs e Peter Burke38

(2006), 50 anos depois, as máquinas de impressão gráfica estavam espalhadas por mais de39

250 regiões da Europa e cerca de 13 milhões de livros haviam sido impressos. Os autores40

destacam que ao lado da pólvora e da bussola, a imprensa provocou grandes mudanças no41

estado e na face das coisas pelo mundo. Mesmo não sendo unânimes, os panfletos, os livros,42

os jornais e outras formas de impressão gráfica estiveram presentes em, como citou Brigs e43Burke (2006), acontecimentos rotulados como a Reforma, as guerras religiosas, a guerra civil44

inglesa, a Revolução Gloriosa de 1688 e a Revolução Francesa de 1789 e no caso analisado45

neste texto, o conflito conhecido pelos bolivianos como Guerra del Acre, ou como ficou46

registrado na historiografia oficial brasileira, Revolução Acreana. A grande contribuição da47

imprensa nesses eventos refere-se à conquista da opinião pública e a o surgimento da esfera48

 pública.49

Antes do invento de Gutenberg, “um evento se tornava público quando era50

representado diante de uma pluralidade de indivíduos fisicamente presentes à sua ocorrência”51

(THOMPSON, 1999, p. 114) e em um lugar específico, onde eram promovidos os debates,52

 prática presente na vida comunitária desde a Grécia antiga, o que foi chamado por John B.53

Thompson (1999) como publicidade de co- presença, caracterizada pela presença da “visão” e54

“audição”, “aparência visual” e “palavra”: 55

O evento público era um espetáculo que, por aqueles poucos indivíduos que56calhavam de estar presentes, podia ser visto, ouvido, talvez até cheirado ou sentido57de alguma maneira. Além disso, como a publicidade de co-presença traz como58consequência a reunião de indivíduos num mesmo lugar, ela tem essencialmente um59caráter dialógico. (THOMPSON, 1999, p. 114)60

Mas com o surgimento da imprensa na Europa, foi criado “um novo tipo de61

 publicidade ligada às características da palavra impressa e a seu modo de produção, difusão e62

apropriação” (THOMPSON, 1999, P. 115). Essa nova publicidade atingiria um número63

maior de pessoas e não dependia de um lugar físico. E mesmo com uma parcela muito grande64da população ainda analfabeta, era possível a transmissão rápida e extensiva de informações65

 para um grande número de pessoas e lugares. A tecnologia da impressão demonstrou, somada66

às outras estratégias utilizadas por Martinho Lutero, que a exposição para um grande número67

de pessoas, a partir de materiais impressos, como livros e panfletos, poderia confrontar até o68

 poder da igreja. “Pela primeira vez, as Escrituras estavam acessíveis em outra língua que não69

o latim”. (DEFLUER,1993, p. 39). Hannah Arendt (1987) diz que essa criação da esfera70

 pública baseada na mídia facilitou também a tentativa de uniformização do pensamento, da71

massificação de ideologias. Em resumo, Ciro Marcondes Filho (2000) explica que:72

O primeiro jornalismo, de 1789 à metade do século XIX, foi, assim o da73“iluminação, tanto no sentido de exposição do obscurantismo à luz quanto de74esclarecimento político e ideológico. O controle do saber e da informação75

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funcionava como forma de dominação, de manutenção da autoridade e do poder,76assim como facilitava a submissão e a servidão. Enquanto eu não sei que o poder é77algo dos homens associado a seus interesses de domínio e exploração de outros78homens, eu acredito que ele é “natural”, que Deus e a natureza criam homens para79mandar e outros para servir. (FILHO, 2000, p. 11)80

Ignácio Ramonet e Naom Chomsky (2002) apresentam um bom exemplo dessa nova81

 publicidade baseada na força da esfera pública. Eles contam que Woodrow Wilson, quando82

foi eleito presidente dos Estados Unidos em 1916, decidiu que o país precisava participar da83

Segunda Guerra Mundial, mas para tal feito seria necessário convencer a população de que84

havia tal necessidade, foi quando utilizou a imprensa como ferramenta para induzir a85sociedade a participar da guerra. Para isso, foi criado a Comissão de Propaganda86

Governamental. Em seis meses, a população pacífica foi convertida em população assustada e87

armada, pronta para entrar no conflito internacional “que queria ir a la guerra y distruir todo ló88

que diera a alemãn, desprezar a todos os alemanes, y salvar así e al mundo” (RAMONET e89

CHOMSKY, 2002, p.p. 8-9).90

Ao final do século XX, estava ficando claro para os pioneiros cientistas sociais de91então que os novos veículos de massa  –   jornais, livros e revistas, todos os quais92amplamente utilizados na sociedade –  estavam trazendo importantes mudanças para93a condição humana. Aqueles meios representavam uma forma de comunicação que94influenciava não apenas padrões de interação nas comunidades e sociedades, como95

também as perspectivas psicológicas dos indivíduos. (DEFLEUR, 1993, p. 40)96Walter Lippmann (2003) destaca a própria mudança na percepção da realidade97

 provocada nas massas, no povo. Para Lippmann (2003), a visão de mundo é dividida em98

duas partes: uma metade é verdadeira e a outra artificial. Isso porque uma fração do que99

sabemos é construído a partir de narrativas contadas por meio do jornalismo, da história ou100

de outros meios. O resultado dessa mediação seria então a construção de um101

“pseudoentorno”, semelhante ao Mito da Caverna de Platão, no qual as sombras eram102

reconhecidas como o reflexo de uma população que vivia na caverna. Dessa forma, o103

 jornalismo tornou-se um mediador entre as partes “verdadeiras” e “artificiais” do mundo.104

105

MATERIAL E MÉTODOS106Para este artigo, foram feitos estudos descritivos sobre a utilização de jornais do107

Amazonas e Pará, no ano de 1899, data do início do conflito denominado pela historiografia108

oficial brasileira de “Revolução Acreana”, mas que os bolivianos batizaram de “Guerra Del109

Acre”. Mas, embora o foco deste trabalho seja a imprensa da época, as edições analisadas,110

ou seja, o corpus deste artigo está nas obras do historiador Leandro Tocantins e do jornalista111

Jailson Soares Dantas. O referencial teórico também tem apoio em autores como Asa Briggs112

e Peter Burke, Malvin L. Defleur, Noam Chomsky e Ingnácio Ramonet, que ajudam no113

entendimento de como e quando a imprensa surgiu, além de Jhon B. Thompson e Miquel114

Rodrigo Alsina, Michel Foucault, presentes na parte teórica do texto.115

116

O LADO ARTIFICIAL DA VERDADE117

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Segundo Miquel Rodrigo Alsina (1993) é fundamental para a compreensão de uma118

notícia o enquadramento dela em um modelo de mundo referencial, um mundo real que119

 produz os acontecimentos utilizados na confecção da notícia. E o fato encontrado que inicia120

uma série de artigos, reportagens e transcrições em jornais do Brasil, principalmente do121

Amazonas, Pará e Rio de Janeiro, com objetivo de legitimar um conflito financiado pelo122

governo do Amazonas e confiado ao jornalista espanhol Luiz Galvez de Arias, é o fato123

destacado pelo historiador Leandro Tocantins (2006):124

A história começou em Belém do Pará, no ano de 1899. Certamente ninguém previu125que uma notícia publicada em destaque, na primeira página d’A Província do Pará,126na manhã de 11 de março, daria inicio a uma intriga internacional cujos verdadeiros127fundamentos até hoje se ignoram, desautorizando conclusões positivas ou negativas128do fato, permanecendo, assim, mescla inextricável de verdade e fantasia. O registro129da folha paraense, acompanhado do clichê de uma unidade da esquadra norte-130americana, pois se referia à visita da canhoneira de nome Wilmington, dava os131detalhes e características da belonave que fundeara no porto às 6

1/4horas da tarde do132

dia antecedente (TOCANTINS, 2006, p. 298)133

Cerca de um mês antes da notícia do navio de guerra norte-americano, o jornalista134

responsável pela publicação, embora não a tenha assinado, o que demonstra que ele não135

queria ligar seu nome à notícia, teria saído do Amazonas em direção ao Pará como anuncia o136

 jornal Commercio do Amazonas, na edição de 16 de fevereiro de 1899, que diz: “Para Belém137

seguiu ontem o nosso ativo cooperador Luiz Galvez, que por algum tempo esteve encarregado138da gerencia do Commercio do Amazonas”.139

Os jornais da época dizem que o comandante da canhoneira chamava-se Chapman140

Todd. O militar norte-americano afirmou que a missão da equipe comandada por ele seria de141

 paz. Mas o que ajudou na possibilidade do surgimento da narrativa construída por Luiz142

Galvez, com apoio de membro da delegação boliviana que montaria a Aduana no Acre,143

chamado Gulherme Uthoff 1  foi o detalhe destacado pelo jornalista Jailson Soares Dantas144

(2012):145

De Belém zarpa a Wilmington para Manaus onde aguardava igual acolhida por parte146do governo e do povo, sendo bastante visitada segundo anuncia o Comércio do147

Amazonas, em edição de 2 de abril de 1899. E na capital amazonense vai ocorrer o148  primeiro incidente da série de fatos que turvariam os propósitos da mission of149friendship proclamados pelo comandante Tood. Aí começa o encadeamento de uma150história constituída de retalhos, de suposições, de misteriosos informes, de151afirmativas e negativas reticenciosas. O ponto de partida foi o estranho152

 procedimento do comandante da canhoneira que, havendo solicitado licença ao153Governador Ramalho Júnior para subir o Amazonas, e este recusado a concedê-la,154resolvera, de motu próprio empreender o cruzeiro rio acima, saindo de Manaus,155furtivamente, durante a noite, com os faróis de navegação apagados. A atitude do156comandante Todd originou muitas críticas e restrições à sua missão de boa157vizinhança, tento em Manaus quanto em Belém, mormente quando soube haver o158

1

 Neste texto será a dotada a grafia Uthoff, mas em vários jornais o nome está escrito de diversas formas, comoHuthoff, Ultoff e Utoff.

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Ministério do Exército Brasileiro concedido a necessária licença. (DANTAS, 2012,159P. 39)160

Percebe-se que a incongruência entre a fala do comandante da Marinha dos Estados Unidos161

e ação dele deixou margem para a interpretação feita por Galvez, criando um162

“pseudoentorno” sobre o fato, que vai se desenrolar até um conflito internacional. Leandro163

Tocantins (2001) diz que:164165

Em Manaus realizaram-se comícios públicos em condenação ao procedimento do166comandante norte-americano que, recebido em caráter oficial pelo Governador, na167

 primeira passagem pelo porto, não contou, porém, na volta de Iquitos, com a menor168atenção do governo, nem ao menos a visita da saúde pública.169Em Belém, aonde regressou a 28 de abril de 1899, Wilmington teve fria recepção. O cônsul Kenndedy170apressou-se a ir justificar na redação d’A Província do Pará o insensato gesto de seu compatriota.171(TOCANTINS, 2001, p. 300) 172

Tocantins (2001) relata ainda que os jornais lançavam críticas ao pedido de desculpa173

dos representantes dos Estados Unidos da América, influenciando a opinião pública. E174

como, segundo Michel Foucault (1987), não se pode falar em qualquer época de qualquer175

coisa, o espanhol Luiz Galvez de Arias, repórter do jornal Commercio do Amazonas, sabia176

que os vários elementos como economia, cenário internacional e local, entre outros,177

favorecia tanto a enunciação como o enunciado de um conflito bélico por terras que o178

governo brasileiro considerava serem bolivianas, mas que eram ocupadas por brasileiros e179

que geravam volumosas riquezas para o Estado do Amazonas e do Pará. Dessa forma, de180

um lado existia o entorno real, a passagem do navio de guerra dos EUA por rios da181

Amazônia, antes da autorização do Governo Federal, então do outro poderia existir uma182

versão dado pelo jornalista Luiz Galvez que poderia ser o envolvimento da tripulação norte-183

americana com a notícia de que:184

O ministro Paravicini tratava, secretamente, de celebrar um acordo com os Estados185Unidos para conservar sua soberania nos territórios do Acre, Purus e Iaco, mediante186concessões aduaneiras e territoriais. As conversações já estavam adiantadas e na187noite daquele mesmo dia o Ministro Paravicini tinha encontro aprazado com o188cônsul norte-americano, para ultimar os detalhes da proposta que, em nome da189Bolívia, ele ia encaminhar ao Presidente Mac Kinkley. (TOCANTIS, 2001, p. 304)190

 Nem a confirmação da participação do ministro boliviano, nem outras versões sobre o191

objetivo da missão da Wilmington foram encontradas. Os documentos mostrados para192

confirmar o acordo entre os bolivianos e os norte-americanos não foram assinados por193

nenhumas das partes. A única assinatura era a do espanhol Uthoff, parceiro de Galvez na194

 proclamação da República do Acre, o que abre possibilidade de um engodo propagado por195

meio da imprensa, demonstrando como se cria um pseudoentorno.196

197

198

CONCLUSÕES199

A imprensa, desde a invenção da prensa, foi palco para ideologias, para legitimação de200

discurso perante o público. O poder da igreja católica foi questionado, revoluções, guerras201

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foram iniciadas antes de tudo por enunciadores que usavam como meio jornais, revistas,202

 panfletos e outros tipos de materiais impressos. Diante desse quadro, o jornalismo pode ser203

comparado ao Mito da Caverna, de Platão, capaz de criar um pseudoentorno, apoiado na204

 parte real da convivência pública, a artificialidade das notícias. No caso do conflito205

internacional, financiado pelo governo do Amazonas, entre brasileiros e bolivianos, a206

 passagem de um navio de guerra pela Amazônia, sem a prévia autorização do Governo do207

Brasil, e sem, até hoje uma justificativa plausível do real objetivo da missão norte-208

americana, possibilitou, dentro das páginas dos jornais uma versão do fato criado pelo209

 jornalista espanhol Luiz Galvez e seu parceiro Guilherme Uthoff, que culminava com o210

arrendamento das terras do Acre para o Governo dos Estados Unidos, fatos que “justificaria”211

um embate armado e a tomada de posse de uma terra reconhecida pelo Brasil como sendo212

 pertencentes ao país vizinho.213

214

REFERÊNCIAS215

216

ALSINA, Miquel Rodrigo. La construcion de La noticia. 2.ed. Barcelona: Paidós, 1993.217

ARENDT, Hannah. A condição humana. 10.ed. São Paulo: Forense-Universitária, 2005.218

BRIGGS, Asa; BURKE, Peter. Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet .219

2.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006.220

CHOMSKY, Noam; RAMONTE, Ignácio. Cómo nos vendem La moto. 15.ed. Barcelona:221

Icaria, 2002.222

DANTAS, Jailson Soares. Espionagem no Acre: um caso sensacional. Brasília: Thesaurus,223

2012.224

DEFLEUR, Malvin L. Teorias da comunicação de massa. 5.ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,225

1993.226

FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. 3.ed.Rio de Janeiro: Forense-Universitária,227

1987.228

LIPPMANN, Walter. La opinión pública. Madrid: Langre, 2003.229

TOCANTINS, Leandro. Formação histórica do Acre I. Brasília: Senado Federal, 2001.230

THOMPSON, Jhon B.  A mídia e a modernidade: uma teoria social da mídia. 2.ed.231

Petrópolis: Vozes, 1999.232

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