PEDAGÓGICA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · pelo acompanhamento da vida escolar de um grande número...
Transcript of PEDAGÓGICA - diaadiaeducacao.pr.gov.br · pelo acompanhamento da vida escolar de um grande número...
1 FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO DIDÁTICO - PEDAGÓGICA
Título: A Literatura Infanto Juvenil como elo de afetividade entre gerações
Autora: Maria Helena Bonfim Kapusta
Disciplina/Área (ingresso no PDE) Língua Portuguesa
Escola de Implementação do
Projeto e sua localização
Colégio Estadual Teotônio Vilela
Rua Robert Redzinski, 1000 – CIC –
NORTE
Município da escola Curitiba
Núcleo Regional de Educação Curitiba
Professor Orientador Elisiani Vitória Tiepolo
Instituição de Ensino Superior Universidade Federal do Paraná –
Litoral
Relação Interdisciplinar
Resumo RESUMO
O Brasil está se tornando um país de
idosos; as estimativas são de que, em
2020, atingirá a sexta posição na lista
de países com maior número de idosos
do mundo. A sociedade tem que dar um
valor maior aos idosos , e isso é uma
questão de educação. Uma criança
deve aprender desde pequena (na
família e na escola) a respeitar e a
valorizar o idoso. O jovem deve ser
lembrado de que, se não morrer cedo,
também envelhecerá.
O pressuposto de que, na escola,
muitos idosos (avós) são responsáveis
pelo acompanhamento da vida escolar
de um grande número de alunos, e a
indiferença e o desrespeito com os
quais os mais velhos são tratados,
tanto pelas crianças como pelos
adultos, fez com que se considerasse a
necessidade de resgatar, por meio da
leitura e do registro de memórias, o
diálogo intergeracional. Cada um
trazendo na sua bagagem experiências
de vida.
O ensino de produção de textos
(memórias) envolverá a prática de
leitura de alguns livros que trazem a
figura do idoso e escrita constante e
diversificada. As histórias são baseadas
em fatos cotidianos e histórias antigas
das pessoas mais velhas da família ou
da comunidade, motivando entrevistas,
roda de conversa, registros destes
relatos em uma coletânea de textos e
exposição de objetos e fotos
Palavras-chave Leitura. Afetividade. Memória. Idosos
Formato do Material didático Unidade Didática
Público Alvo Alunos do 6º ao 9º ano
2. APRESENTAÇÃO
O Brasil, segundo as estatísticas, está se tornando um país de idosos. As
estimativas são de que, em 2025, atingirá a sexta posição na lista de países com
maior número de idosos do mundo (RAMOS, 1993, 1995, 2002; LOBATO, 2004;
SILVA, 2006), pois teremos em torno de 34 milhões de pessoas com mais de 65 anos
(CANÇADO, 1994).
Pode-se observar que muitos idosos são desprezados e até maltratados física e
emocionalmente. Por outro lado, muitos idosos (especialmente os avós) são
responsáveis pelo acompanhamento da vida escolar de um grande número de alunos.
A partir disso, percebe-se a necessidade de resgatar, por meio da leitura e o registro
de memórias, o diálogo respeitoso entre diferentes faixas etárias, cada uma trazendo
na sua bagagem experiências de vida.
Os idosos, no papel de avós, são testemunhas do passado, guardiões das
tradições da família e elo de ligação de todas as gerações, unindo o passado ao
presente. Assim, as relações intergeracionais construídas entre crianças,
adolescentes e idosos devem ser de afeto e estima.
Expressar emoções ao contar histórias, descrever seres e ambientes, ou expor
ideias e opiniões são necessidades comuns a todas as crianças, jovens e velhos e,
para isso, se faz necessário que a escola proporcione a capacitação que permita ao
aluno desenvolver suas potencialidades de participar das diversas atividades
exigidas pela vida moderna.
E para esse diálogo ser prazeroso e respeitoso, o gênero textual memória se
constitui em um exercício de interrogação de experiências passadas para fazer aflorar
não só recordações/lembranças, mas também informações que confiram novos
sentidos ao presente. Afinal, a forma como encaramos certas situações e objetos está
impregnada por nossas experiências passadas.
Segundo Ecléa Bosi (1994), através da memória, não só o passado emerge,
misturando-se com as percepções sobre o presente, como também desloca esse
conjunto de impressões construídas pela interação do presente com o passado que
passam a ocupar todo o espaço da consciência. O que a autora enfatiza é que não
existe presente sem passado, ou seja, nossas visões e comportamentos estão
marcados pela memória, por eventos e situações vividas. De acordo ainda com essa
autora, o passado atua no presente de diversas formas. Uma delas, chamada de
memória-hábito, está relacionada com o fato de construirmos e guardarmos
esquemas de comportamento dos quais nos valemos muitas vezes na nossa ação
cotidiana.
Essa aprendizagem amplia nossa competência linguística e discursiva e nos
dá mais possibilidade de participação social. Os gêneros discursivos "são formas
comunicativas que não são adquiridas em manuais, mas sim nos processos
interativos" (MACHADO, 2005, p.157). Conforme Bakhtin (1997), a língua reflete as
relações sociais “relativamente estáveis” dos falantes. Logo, ela carrega marcas de
sua história, de quem a produz, do lugar onde é produzida e em função de que(m) é
empregada.
O aprimoramento da competência linguística do aluno acontecerá com maior
propriedade se for dado conhecer, nas práticas de leitura, escrita e oralidade, o
caráter dinâmico dos gêneros discursivos.
A escola precisa identificar situações autênticas de comunicação. Por
exemplo, histórias antigas das pessoas mais velhas da família ou da comunidade.
Surge, então, uma real oportunidade de motivar os alunos a registrarem, através da
escrita, tais memórias. Cria-se, portanto, a necessidade de ensinar como fazer o
registro das memórias. Identificando, adequadamente seu interlocutor, surge o
momento de ensinar efetivamente a importância do uso da linguagem formal. Nesse
sentido, quanto mais a escola estiver sintonizada com os alunos, mais condição terá
de identificar e, mesmo, provocar situações em que eles tenham real necessidade de
ler e produzir textos.
Sendo assim, essa Unidade Didática propõe criar um espaço para
compartilhar acontecimentos vividos, na situação de quem relembra, fortalecendo as
práticas da oralidade, leitura e escrita, a partir do resgate da memória, sensibilizando-
os para que, assim, os alunos possam aprender a respeitar os saberes e vivências
das pessoas mais velhas como importante na construção das memórias coletivas da
comunidade.
OBJETIVO GERAL
Despertar na criança e no adolescente, por meio da leitura e da escrita de memórias,
um olhar mais afetivo em relação aos idosos.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Desenvolver o gosto pela leitura de textos em que a memória seja a temática.
- Proporcionar situações reais de leitura e produção de textos em diferentes gêneros
textuais.
- Sensibilizar a respeito do valor da experiência das pessoas mais velhas da família e
da comunidade.
- Promover o contato entre diferentes gerações.
UNIDADE DIDÁTICA
As questões que antecedem os textos promovem a interação na oralidade e têm
como objetivo suscitar a curiosidade e proporcionar um espaço para troca de
conhecimentos prévios.
O que você fazia com 7 anos e que não faz mais?
Fale sobre algum fato que aconteceu quando você era pequeno e que foi
importante.
Você lerá um fragmento do primeiro livro infantil de Adélia Prado “Quando eu
era pequena”. É uma bela história sobre as lembranças da autora: sua
infância com os avós, as
Professor, faça parte também desse compartilhar; se achar
conveniente, contando algumas passagens de sua infância.
Os alunos adoram saber que professor é gente como ele.
TEXTO 1
Eu me chamo Carmela.
É um nome que não se usa mais, um nome antigo. Quando eu nasci, os nomes
das meninas eram Luzia, Conceição, Clotilde, Rita, Aparecida e Ana. Ângela foi um
nome diferente que apareceu. Queria muito me chamar Ângela ou Lucinha. Lucinha
quer dizer luz pequenina. Não é lindo?
Nossos pais escolhem para nós os nomes que acham bonitos. Às vezes não
gostamos. Meu pai costumava me chamar de Melona ou Melanita. Não me importava.
‘Melona, me traz a binga’, ‘Melanita, me traz um gole de café’. Só me chamava assim
quando estava muito alegre, por isso não me importava. A coisa mais boa é ver pai e
mãe com cara alegre.
Meu pai, minha mãe, eu e o Alberto, meu irmão moramos um tempo com Vovô
da Horta, na ponta da rua que todos mundo chamava de Rua Comprida. Era mesmo
uma rua muito grande. O nome do Vovô da Horta era João Antônio. Ele tinha um baú
de madeira onde guardava queijo e moedas. Fervia leite com sal numa panela de
ferro e me deixava comer a rapa. Trabalhava numa horta grande que produzia
verduras, cebolas e banana roxa. De vez quando chamava Alberto e eu para irmos
com ele. Parecia o Sítio do Pica-Pau Amarelo, mina d’água, lagartixas e o rancho de
telhado baixinho que cheirava a cebolas e banana madura. Alberto era muito
pequeno. Um dia teve dor de barriga: Vovô ligou a mangueira com jato forte no
bumbum do meu irmão. Nosso avô era bom. Deu uniforme para Alberto e eu irmos
para a escola. Com certeza tirou o dinheiro do seu baú. No dia do jato d’água no
bumbum do Alberto, ele se sacudia de tanto rir.
Tínhamos um outro avô, que para diferenciar de Vovô da Horta nós
chamávamos de Vovô do Brumado, porque ele morava num lugar com esse nome,
Era Vovô da Horta e Vovô do Brumado, nervoso toda vida. Uma vez um irmão do meu
pai, tio Juquinha, ainda menino, foi lhe tomar a bênção e ele não escutou porque
estava muito culpado. Juquinha ficou falando: ‘A bênção, pai; a bênção, pai; a bênção
pai’. Vovô ficou tão nervoso que respondeu: ‘Deus te abençoe, diabo.’ Se estivesse lá
eu ia rir demais e era perigoso ele danar comigo também. Vovô do Brumado nervoso
ficava igual a bicho com raiva.
Não chegamos a conhecer nenhuma de nossas avós, porque morreram antes
de nossos pais se casarem.
De vez em quando Vovô da Horta tirava moedas do seu baú e me deixava ir ao
bar do Júlio gastar o dinheiro. Foi lá que tomei guaraná a primeira vez. Achei
delicioso, também porque era geladinho. O Júlio tirou um retrato meu que sumiu.
Queria muito saber como era minha cara. Tenho pena, acho que minha mãe estava
no retrato. Até hoje só existe um retrato dela, mesmo assim bem pequeno.
(...)
Quando morávamos na Rua Comprida, eu era doidinha por esses balões de
aniversário que nós chamávamos de ‘bola de soprar’. Devia ser barato como hoje e
mesmo assim ninguém comprava para mim. Papai só falaisto: ‘Quando a guerra
acabar, compro duas pra você.’ Naquele tempo os alemães brigavam com o mundo
inteiro. As pessoas falavam na guerra todo dia, as coisas ficaram caras e difíceis de
encontrar. Isso era chamado de carestia e racionamento. Mamãe me mandava entrar
na filha de comprar açúcar, que tinha ficado escuro, meio azedo e pouco. Eu ficava na
fila, pois minha irmã Célia tinha nascido e precisávamos de açúcar para o mingau.
(...)
1) No texto a narradora diz que o nome dela é antigo, que não se usa mais. Você
concorda que existam nomes que não se usam mais? Cite alguns exemplos. E o seu
nome, é antigo? A turma pode fazer um quadro em duas colunas para separar nomes
antigos e nomes atuais.
2) Encontre no texto palavras que despertem sensações como cheiros, sabores,
tristezas e alegrias. Conte para os colegas porque você escolheu essas palavras.
3) No 4º e 5º parágrafos Carmela apresenta seus dois avôs. Quais são as
características deles? E como são os seus avôs?
4) Por que Carmela e o irmão não conheceram nenhuma das avós? E você, conhece
as suas avós? Como elas são?
5) O retrato que Júlio tirou de Carmela sumiu. Por que isso causou frustração nela? E
você tem muitas fotos de quando era criança? Em sua opinião por que as pessoas
tiram fotografias?
TEXTO 2
Guilherme Augusto Araújo Fernandes
Era uma vez um menino chamado Guilherme Augusto Araújo Fernandes, que
tinha vizinhos muito interessantes. Vocês sabem por quê? É que Guilherme Augusto
morava ao lado de um asilo de velhos.
O menino conhecia todos os moradores, como a Sra. Silvano que tocava piano, o
Sr. Cervantes que contava histórias arrepiantes, o Sr. Valdemar que adorava remar, a
Sra Mandala que andava com bengala e o Sr. Possante que tinha voz de gigante.
Havia, porém, uma pessoa especial para o menino, de quem ele gostava muito e que
tinha, como ele, quatro nomes: a Sra Antônia Maria Cordeiro Diniz. Ele a chamava de
D. Antônia e contava-lhes todos os seus segredos.
Um dia Guilherme Augusto escutou seus pais conversando, preocupados com D.
Antônia, pois já estava com noventa e seis anos e havia perdido a memória.
Guilherme Augusto, curioso, logo quis saber o que era memória e não satisfeito com a
resposta do pai – que memória é algo que você se lembre- Procurou seus amigos do
asilo para saber mais.
A Sra Silvano disse para o menino que memória era algo quente: o Sr. Cervantes
explicou que era algo bem antigo. O Sr. Valdemar falou que, para ele, memória era
algo que fazia chorar, bem ao contrário da Sra Mandala, que pensava que memória
Você sabia que quando falamos de fatos ocorridos em nossas vidas
estamos rememorando, falando de lembranças? Você vai ler um texto
que fala de memória, mas, antes disso, quem sabe dizer o que é
memória? Memória é a mesma coisa de memórias? O que é
perder a memória? Se a gente perde a memória, para onde será que ela
vai?
Peça aos alunos que tragam para a próxima aula algum objeto que lhes
remetam alguma lembrança. Faça uma roda de leitura em que todos
possam falar do objeto que trouxeram e de suas lembranças.
era algo que fazia rir. Finalmente o Sr. Possante lhe contou que memória era algo que
valia ouro.
Depois dessa conversa, Guilherme Augusto voltou para casa disposto a
encontrar as memórias de D. Antônia. Lembrando-se do que seus amigos haviam
dito, ele pegou uma cesta e foi guardando nela vários objetos: algumas conchas que
já eram em antigas e uma marionete muito engraçada. Ele pegou também a medalha
que seu avô lhe tinha dado e, tristonho, a colocou ao lados das conchas. Depois
achou algo que para ele valia ouro: sua bola de futebol. Ficou faltando alguma coisa
quente, entrou então no galinheiro e pegou debaixo da galinha um ovo bem
fresquinho.
Aí, Guilherme Augusto foi visitar D. Antônia e deu a ela cada um de seus
achados. Ao pegar os objetos da cesta, ela começou a se lembrar: acontecimentos
antigos, a sensação de um calorzinho gostoso, lembranças alegres e tristes. Com isso
D. Antônia se recordou do dia, há muito tempo, em que havia encontrado um ninho no
jardim de sua tia, de como havia sentido calor em uma viagem à praia, de seu irmãp
que havia morrido na guerra e também de um dia em que sua irmãzinha a fizera rir.
Pegando a bola de futebol, ela A JOGOU PARA Guilherme e Augusto e lembrou-se
do dia em que se conheceram e de todos os segredos que havia contado um ao
outro.
Então os dois se olharam no fundo dos olhos e começaram a sorrir, pois toda a
memória perdida de D. Antônia tinha sido encontrada por um menino que nem era tão
velho assim.
Adaptação do livro Guilherme Augusto Araújo Fernandes, de Mem Fox. Tradução de
Gilda de Aquino. São Paulo: Brinque-Book. 1995
1- Cada um dos amigos de Guilherme dá um sentido diverso à memória: algo quente,
bem antigo, que faz chorar ou rir e que vale ouro. Relacione o personagem a cada
sentido.
a) algo quente: ___________________________
b) bem antigo: ____________________________
c) que faz chorar: ___________________________
d) que faz rir: ______________________________
e) que vale ouro: _____________________________
2) Na história de Guilherme Augusto, os objetos ajudaram Dona Antônia a recuperar
lembranças e episódios da vida passada.
Texto 3
TEXTO 3
(...)
Dizem que ele viajou para São Paulo. Naquele tempo São Paulo ficava quase
em outro país. Foi comprar esse olho que não via. Ele jamais acreditou que, em terra
de cego, quem tem um olho é rei. Venceu longos dias de estrada, poeira, lama,
fantasiado de pirata, como se fosse carnaval. Tudo para conquistar um olho. Meu avô
era vaidoso, mesmo sem desejar ter reinado.
Voltou com dois olhos, mas apreciando a paisagem apenas com o lado direito.
Pelo olho esquerdo ele só adivinhava. Um olho era de mentira e o outro da verdade,
Mas isso não lhe trazia problemas. Cego é aquele que não quer ver. Ele via muito.
Tudo no mundo é, em parte, uma verdade e, por outra parte, uma mentira.
(...)
Você conhece alguém que tem um olho de vidro? Já imaginou que
mistérios podem estar escondidos neste olho? Que tal tentar descobrir
lendo fragmentos do livro “O olho de vidro do meu avô” do autor
Bartolomeu Campos de Queirós?
Proponha aos alunos individualmente ou em pequenos grupos para
conversar com pessoas mais velhas (um vizinho, um parente, da própria
escola ou de casa), solicitando um objeto ou foto que lembre alguma
“passagem” de sua vida neste bairro ou cidade. O que a foto ou objeto
lembra? Peça aos alunos que façam um pequeno texto com as
informações fornecidas pelo entrevistado, procurando manter as marcas
de linguagem. Lembre-os de anotar nome, idade e o tempo que a pessoa
reside no bairro ou na cidade. O texto fará parte de uma coletânea.
Um dia eu virei meu avô. Minha mãe me vestiu de pirata. Eu nem sabia o que
era carnaval. Meu desejo era afastar a venda que cobria o meu olho e me impedia de
ver melhor. Faltava luz para o meu olhar. Mas sem a venda eu deixaria de ser pirata e
ainda mataria a alegria da minha mãe de me ver como seu pai. Com um olho eu via o
baile, as máscaras, os disfarces. Com o outro eu invadia caravelas, assaltava navios,
vencia mares, me assustava com os tesouros. Como meu avô , eu via o visível e me
encantava com o invisível. Não ter um olho é ver duas vezes. Com um olho você vê o
raso e com o outro mergulha o fundo.
(...)
O olho mágico do meu avô não cansava de espiar. Não era um olhar
ameaçador, de olho por olho e dente por dente. Se não parecia um olhar de peixe-
morto, também deixava de ser um olho-gordo ou um olho raso d’água. Seu olhar
comprido derramava certa doçura tímida sobre todas as coisas como um olhar de
poeta. Mesmo olhando para depois de tudo, seu olhar não trazia inquietações.
Mas o olhar de meu avô continuava me deixando atordoado. Imaginar que ele
poderia estar lendo o que escrito dentro de mim, me afligia. E minhas palavras, ainda
presas em minha garganta, eu as guardava por linhas tortas. Mas se amarradas,
costuradas, construiriam uma oração inteira. Eu não sabia se meu avô gostaria de ler
a história que ele escrevia no meu coração. Nem sei se ele gostava de orações.
(...)
Muitas vezes desejei ver meu avô chorando. Queria saber se olho de vidro contém
lágrimas. Mas ele não chorava. Motivo ele tinha. Não poder ver o mundo inteiro deve trazer
ansiedade. Ver tudo pela metade traz tristeza. O mundo fica parecendo um retrato de meio-
corpo. Na sala da casa, dependurado na parede, estava um retrato de meu avô e da minha
avó, de meio-corpo. Dentro da mesma moldura eles pareciam felizes. O retrato deixa as
pessoas para sempre.
Pode ser feita a leitura, na íntegra, do livro “O olho de vidro do meu avô”,
de Bartolomeu Campos de Queirós. É possível que a biblioteca de sua
escola o possua, pois ele fez parte de um kit fornecido, para as escolas,
pela Fundação Nestlé Brasil, em 2006.
1) Nos trechos do livro “O olho de vidro do meu avô”, o personagem-narrador faz
referências aos olhos do avô, cujos olhares são sempre colocados em oposição. Faça
um levantamento dessas referências:
a) O olho esquerdo via:
b) O olho direito via:
2) O personagem-narrador, no primeiro parágrafo diz que ”Naquele tempo, São Paulo
ficava quase em outro país.” Apesar de o texto não apresentar datas, podemos
afirmar que ele faz uma volta ao passado. Como ele descreve a cidade de São
Paulo?
3) Buscar no texto acima, anotar e reunir em um cartaz:
a) Expressões ou ditados populares.______________________
b) Expressões com a palavra olho._______________________
4) Pesquise juntos aos seus familiares sobre “histórias reais de pessoas da
sua família” e registre-as para a troca desses relatos em uma roda de histórias que
será feita na sala de aula .
TEXTO 4
Chame a atenção para o uso da pontuação, pois quando estamos
conversando usamos a entonação para expressar o que queremos.
Elevamos a voz, usamos pausas, fazemos gestos e mímicas. Já na escrita
são os sinais de pontuação, que vão ajudar a organizar as ideias e o texto.
Antes da apresentação da crônica para os alunos, divida a turma em
grupo de quatro alunos e entregue-lhes um envelope com a crônica
Espinha de Peixe, de Fernando Sabino. Dividida em cinco partes e sem
título. O aluno deverá montá-lo e colocar um título. Cada grupo lerá a
montagem de seu texto. Registre no quadro as sugestões de títulos e
indague aos alunos o porquê dessa escolha. Em seguida apresente o
título original e faça a leitura do texto, se em sua escola for possível, com
o uso da Internet ou Tv multimídia
ESPINHA DE PEIXE
De repente Dona Carolina deixou cair o garfo e soltou um grunhido. Todos se
precipitaram para ela, abandonando seus lugares à mesa: a filha, o genro, os netos:
_ Uma espinha - deixou escapar afinal, com esforço: - Estou com uma espinha
de peixe atravessada aqui. E apontava o gogó com o dedinho seco.
- Come miolo de pão.
- Respira fundo, vovó.
- Com licença - e o marido de uma das netas, que era médico recém-formado,
abriu caminho: - Deixa ver. Abre bem a boca, Dona Carolina.
Dona Carolina reclinou a cabeça para trás, abriu bem a boca, e a dentadura superior
se despregou. Constrangido, o moço retirou-a com dedos delicados, deixou-a sorrindo
sobre a toalha da mesa:
- Assim. Agora vira aqui para a luz. Não estou vendo nada... A espinha já saiu, não
tem nada aí. A garganta ficou um pouco irritada, é por isso... Bebe um pouco d'água,
Dona Carolina, que tudo já passou.
Todos respiraram aliviados, voltando aos seus lugares. Dona Carolina, porém,
fuzilou o rapaz com um olhar que parecia dizer: 'Passou uma ova!' e continuava a
gemer. Como ninguém se dispusesse mais a socorrê-la, acabou se retirando para o
quarto, depois de amaldiçoar toda a família. Uma das netas, solícita, foi levar-lhe a
dentadura, esquecida sobre a mesa.
- Estou com uma espinha na garganta - queixava-se ela, a voz cada vez mais
fraca.
- Já saiu, mamãe. É assim mesmo, a gente fica com a impressão que ainda tem,
deve ter ferido a garganta...
A família, de novo reunida, se alvoroçava, e Dona Carolina, arquejante, dizendo
que morria sufocada. Uma das filhas corria a buscar um copo d'água, outra abanava a
velha com um jornal. O dono da casa foi bater à porta do vizinho de apartamento, Dr.
Fontoura, que, pelo nome, devia ser médico:
Você já engasgou com uma espinha de peixe? Já precisou ir à
farmácia ou hospital por causa de uma espinha de peixe? O que
fazer quando ninguém acredita no que a gente está sentindo?
Engula em seco e leia a história de Dona Carolina.
- Abre bem a boca, minha senhora - ordenou, gravemente, e contendo a língua da
velha com o cabo de uma colher, meteu o nariz pela boca adentro: - Assim.
Humhum... Não vejo nada. Alguém tem uma lanterna elétrica?
Um dos rapazes trouxe a lanterna elétrica, e o dentista iluminou a goela de sua
nova cliente, sob a expectativa geral.
(...)
(Fernando Sabino
1) O texto traz algumas expressões de pouco uso em nosso cotidiano. Será que elas
também envelheceram? Verifique, através do contexto, o seu significado e só então
consulte o dicionário:
a) A família, de novo reunida, se alvoroçava, e Dona Carolina, arquejante, dizendo
que morria sufocada.
b) “A velha engasgou e, em represália, por pouco não lhe mordeu a mão.”
c) “...soprando-lhe no rosto uma voz roufenha, quase inaudível.”
2) Você já passou por alguma experiência de estar falando a verdade e as pessoas
não acreditarem em você? Como se sentiu?
3) Esse texto foi escrito há algumas décadas, será que houve alguma mudança no
relacionamento dos jovens com os mais velhos?Justifique.
4) Você já pensou que um dia ficará idoso? Como gostaria de ser tratado?
5) Apesar de se falar muito em qualidade de vida do idoso, será que todos os idosos
conhecem seus direitos e vivem, realmente, com qualidade?
6) Crie uma narrativa em que tenha o idoso como personagem(ens). Escreva
pensando que você é o escritor e que terá um leitor que não é a professora, pois seu
texto fará parte de uma coletânea que ficará na biblioteca.
Apresente o Estatuto do Idoso para conhecimento dos alunos, e questione
se ele precisaria mesmo existir, já que respeitar os mais velhos e dar
assistência a eles é responsabilidade de todos: família e estado. A leitura
de alguns artigos do estatuto poderia ser feita pela Internet ou Tv
multimídia.
TEXTO 5
Retrato (Cecília Meirelles)
Eu não tinha este rosto de hoje,
assim calmo, assim triste, assim magro,
nem estes olhos tão vazios,
nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas, e frias e mortas;
eu não tinha este coração
que nem se mostra.
Faça uma breve apresentação de Cecília Meirelles, solicitando que os alunos
pesquisem alguns aspectos da poetisa: vida pessoal, vida profissional, sua obra
entre outros. Peça, também, para eles trazerem uma foto de uma pessoa idosa
para ilustrar o poema retrato.
1) O que você entende por poesia? 2) Você gosta de ler poesia com
rima ou sem rima? 3) “A poesia é a fotografia dos sentimentos.”
Você concorda com essa afirmação? 4) Algumas pessoas pensam
que poesia é coisa do passado, de gente apaixonada, coisa à toa.
Você concorda? 5) Você já viu poesia em algo ou alguém? 6) Poesia
para você, está relacionada a: a) amor b) nostalgia c) Compreensão
da vida d) outros (citar)
Eu não dei por conta desta mudança
tão simples, tão certa, tão fácil
__ Em que espelho ficou perdida
a minha face?
1) Eu-lírico é a pessoa que fala no poema. Neste poema ele está falando do
presente, passado ou do futuro?
2) As mudanças apresentadas, pelo eu-lírico, são características do envelhecimento.
Que mudanças o ato de envelhecer traz
a) ao rosto
b) às mãos
c) aos olhos
d) aos lábios
e) ao coração
3) Na 2ª estrofe o eu- lírico percebe as transformações que ocorreram em suas
mãos e em seu coração. Como será que eles eram antes da mudança?
4) Como o eu-lírico percebeu as mudanças que lhe ocorreram?
5) Que outro título você daria para esse poema?
6)Você sabia que ao nascer o bebê já está envelhecendo? Explique como.
7) Segundo estatísticas do IBGE – 2010 – em 2020 o Brasil se tornará um país
de velhos. Em sua opinião, as pessoas estão preparadas para envelhecer?
8) Como a sociedade pode se preparar para conviver melhor com o idoso?
9) Você já pensou que também irá envelhecer? Como gostaria de ser tratado
na velhice?
10) Você concorda que o idoso, só por causa da idade, tem que ser afastado do
trabalho?
11) Faça uma paráfrase do poema para expor em um varal de poesia.
TEXTO 6
Lucros e Perdas I Eu nasci num tempo antigo, muito velho, muito velhinho, velhíssimo. II Fui menina de cabelos compridos trançados, repuxados, amarrados com tiras de pano. Minha mãe não podia comprar fita. Tinha vestidos compridos de babado e barra redobrada (não fosse eu crescer e o vestido ficar perdido). Minha bisavó, setenta anos mais velha do que eu, costurava meus vestidos. Vestido “pregado”. Sabe lá o que era isso? (...)
O que é para você lucros e perdas? Quais foram
seus lucros e perdas na escola? E na sua família?
Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas é a mulher simples, doceira de profissão, que vendeu linguiça caseira, banha de porco e livros. Viveu longe dos grandes centros urbanos, alheia a modismos literários, mas produziu uma obra poética rica em motivos do cotidiano do interior brasileiro, em particular dos becos e ruas históricas de Goías onde nasceu em 20 de Agosto de 1889. Esta é Cora Coralina que teve seu primeiro livro publicado em 1965 (Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais), quando já tinha 76 anos de idade. Morreu em Goiânia em 10 de abril de 1985.
III Fui menina do tempo antigo. Comandado pelos velhos: barbados, bigodudos, dogmáticos – botavam cerco na mocidade. Vigilantes fiscalizavam, louvavam, censuravam. Censores acatados. Ouvidos. Conspícuos. Felizmente, palavra morta. [...] . V Fui moça desse tempo. Tive meus muitos censores Intra e extra-lar. Botaram-me o cerco. Juntavam-se, revelavam-se Incansáveis. Boa gente. Queriam me salvar. VI Revendo o,passado Balanceando a vida... No acervo do perdido, no tanto do ganhado está escriturado: “_ Perdas e danos, meus acertos _ Lucros, meus erros Daí a falta de sinceridade nos [meus versos.”] Esse poema descreve um pouco a vida de Cora Coralina.
1)A que época se reporta esse poema?
2)“Fui menina de cabelos compridos...amarrados com tiras de pano.” Qual era a a
situação financeira da família de Cora? E como a bisavó, em idade já avançada,
tentava amenizar a situação? Podemos encontrar semelhança de atitude nos dias
atuais?
3) Como era o relacionamento das crianças com os adultos e os mais velhos?
4) O verso “ Barbados, bigodudos, dogmáticos” descreve fisicamente como eram
os homens nesta época. Em sua família tem algum barbudo ou bigodudo? Você
concorda que barba e bigode possam, mesmo, ser sinal de honestidade, segurança,
independência e sucesso?
TEXTO SETE
O livro Bisa Bia Bisa Bel narrado em 1ª pessoa pela protagonista, conta a
história da menina Isabel que descobre um antigo retrato de infância de sua bisavó. O
diálogo de Isabel com Bisa Bia e, depois, com sua futura bisneta é uma mistura
encantadora do real e do imaginário, levando o leitor a perceber as mudanças nos
costumes, modas, valores e preconceitos. Nessa dupla dimensão, ela reflete, em
especial, sobre a condição feminina e sobre a sua própria condição de mulher.
Segundo Vera Maria Tietzmann Silva, Bel situa-se no limite que separa a
infância da adolescência. Reúne em si harmoniosamente aspectos femininos e
masculinos, em saudável equilíbrio, assumindo roupas, atitudes e
brincadeiras de moleque que são criticadas por sua bisavó e aprovadas por sua
bisneta, o que torna a narrativa bem divertida.
Atividades:
1) Quais os tempos presentes na narrativa?
2) Quais as transformações percebidas entre as gerações descritas na narrativa?
Você já ouviu falar de Bisa Bia Bisa Bel? Imagina o que pode conter
dentro dessas páginas? Que segredo teria a protagonista desta
história que ninguém desconfia? Você sabe o que significa uma trança
de gente? Pela capa do livro você consegue imaginar? O título do
primeiro capítulo dá uma dica “No fundo de uma caixinha.”
O livro Bisa bia Bisa Bel faz parte do projeto Literatura em Minha CASA,
com distribuição gratuita pelo Ministério da Educação em 2002 lançado
pela Editora Moderna, portanto é possível que todas as escolas o tenha.
A leitura poderá ser feita oralmente, sendo necessária aproximadamente
10 aulas.
3) Observe as ilustrações de Regina Yolanda procurando descobrir sua relação com o
texto escrito.
4) Você concorda que é difícil conviver com alguém mais velho?
5) Traga um retrato de seu bisavô ou de sua bisavó, ou dos dois juntos.
a) Qual o tema da fotografia?
b) Quem são as pessoas retratadas?
c) Que paisagem está nela retratada. ( ) vida urbana ( ) vida rural ( ) ambiente
fechado ( ) ambiente aberto
d) Quais as diferenças de aspectos entre uma fotografia antiga e as modernas
fotografias digitais?
e) Quais elementos históricos são perceptíveis nas fotografias escolhidas? Quais as
transformações? Que costumes, valores e elementos materiais estas fotografias
apresentam?
4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BOSI, E. Memória e sociedade. SP, Companhia das Letras, 1988.
CORALINA, Cora. Meu livro de cordel. 9 ed. São Paulo: Global, 2001 p.98-100
FERNANDES, Guilherme A. A. de Mem Fox. Tradução de Gilda de Aquino. São
Paulo: Brinque-Book.1995
MORAGAS, Ricardo M. Gerontologia Social: Envelhecimento e qualidade de vida.
São Paulo: Paulinas, 2004.
MACHADO, Ana Maria. Bisa Bia Bisa Bel
QUEIRÓS, B. C. O olho de vidro do meu avô. 1ª edição, SP. Editora Moderna, 2006
PRADO, Adélia. Quando eu era pequena.
SABINO, Fernando. A Espinha de peixe in O homem nu. RJ, Record, 1987
Organize uma visita com a turma ao lar de idosos e prepare com eles uma
entrevista. As questões propostas nessa unidade podem nortear esse
preparo. Sugira questões relativas à educação, profissão, família,
preferências musicais, de leitura, etc. Os alunos deverão fazer o registro
dessas memórias em textos e fotos (com a autorização do local e das
pessoas).
http://www.youtube.com/watch?v=dPJUCdhTSNQ
http://www.kboing.com.br/musica-e-letra/sueli-costa/1107055-retrato-sobre-o-poema-de-cecilia-
meirelles/
http://sergiodantas.files.wordpress.com/2012/02/cecilia-meirelles.jpg