Pedrinho A. Guareschi - sociologia critica alternativas de mudança

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SOCIOLOGIA CRÍTICA Alternativas de mudança Porto Alegre, 2011 Pedrinho A. Guareschi 63ª edição

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SOCIOLOGIACRÍTICA

Alternativas de mudança

Porto Alegre, 2011

Pedrinho A. Guareschi

63ª edição

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Um agradecimento especial a RoqueDal Ross e Ivonilda Hansen pelas excelen-tes críticas feitas ao livro, incorporadas apartir da 5ª edição.

Uma homenagem a Leonilda Buzzi -exemplo de humanidade, educadora autên-tica, amiga profunda.

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Índice

Apresentação .................................................................................. 8 e 10Introdução ............................................................................................. 11Cap. 1 - Teoria e Ciência ...................................................................... 15Cap. 2 - Ideologia .................................................................................. 18Cap. 3 - Sociologia: teorias e ideologia ................................................ 23Cap. 4 - Sociedade: sistema ou modo de produção? ......................... 32Cap. 5 - A teoria do modo de produção .............................................. 37Cap. 6 - Capitalismo .............................................................................. 44Cap. 7 - Socialismo ................................................................................ 49Cap. 8 - Comunismo ............................................................................. 54Cap. 9 - Ampliando o quadro ................................................................ 59Cap. 10 - Classe social .......................................................................... 68Cap. 11 - A dinâmica conflitivade uma sociedade:infraestrutura e superestrutura .......................................................... 76Cap. 12 - Os aparelhos de reprodução da sociedade ........................ 85Cap. 13 - O aparelho ideológico do direito ......................................... 88Cap. 14 - O aparelho ideológico da escola .......................................... 93Cap. 15 - O aparelho ideológico da família ....................................... 104Cap. 16 - O aparelho ideológico das igrejas ..................................... 110Cap. 17 - O aparelho ideológico dos sindicatos ............................... 116Cap. 18 - O aparelho ideológico das cooperativas ........................... 123Cap. 19 - O aparelho ideológico da comunicação ............................ 129Cap. 20 - Os meios de comunicação e o massacre da cultura ........ 134Cap. 21 - Notícias: as belas mentiras ................................................. 138Cap. 22 - Propaganda-publicidade:“atenção para nossos comerciais” ..................................................... 142Cap. 23 - A comunicação alternativa ................................................. 147Cap. 24 - A força da utopia ................................................................. 152Conclusão ............................................................................................ 156

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Hoje cresce por todas as partes a percepção de que o mundoassim como está não pode continuar. Nas principais áreas da vida,praticamente todos os itens vão piorando dia a dia: a alimentação éinsuficiente para quase um bilhão de pessoas, a água doce se transfor-ma, lentamente, numa tragédia para milhões e milhões; o planeta-favela cresce no mundo inteiro; a segurança não é garantida, semdizer que as instâncias de sentido e de valor estão cada vez maisenfraquecidas, incapazes de suscitar esperança e alegria de viver.

Num contexto assim, a primeira ideia que nos vem à mente é:isso não é possível; temos que mudar.

Para mudar importa, primeiramente, conhecer como funcionasociedade. Qual é a estratégia que vamos usar para transformá-la,quer dizer, que mapa nos vai orientar nesta empreitada? Que táticavamos usar, isto é, que passos concretos temos que dar? Se precisa-mos dar cem, devemos começar pelo primeiro, caso contrário nuncachegaremos ao centésimo passo. Com que forças próprias contamos?Com que aliados? Como vão reagir os poucos satisfeitos com a atualsituação que os beneficia? E eles controlam grande parte do ter, dosaber e do poder. Vivem inventando justificativas ideológicas paramostrar que a sociedade não pode ser diferente e que assim como ascoisas estão acabam sendo melhores para todos. São perigosos por-que enganosos, por isso há que tomá-los em conta e desmascará-los.E, por fim, qual é a chama interior que nos anima e sustenta; qual autopia que nos alimenta e a mística que inspira nossas práticas?

Para responder a estas questões fundamentais, para aqueles in-dignados e generosos que querem mudar o mundo a fim de que sejamais humano e justo para todos, este livro de Pedrinho Guareschi -Sociologia Crítica, Alternativas de mudança - é um roteiroprecioso e certeiro.

Ele vai logo ao cerne das questões. Sua linguagem é direta e portodos compreensível. Especialmente nos adverte e instrui sobre oscaminhos ilusórios. E nos fornece todos os tijolinhos com os quais seconstrói coletiva e historicamente o tipo de sociedade que se apresen-ta melhor, mais humana e integradora.

Hoje, nesta diligência, temos que incluir a Terra, a Humanidade e

Apresentação da 62ª edição,por Leonardo Boff

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a vida. Elas estão ameaçadas pela crise ecológica global. O nível deagressão do modo de produção até agora imperante contra a Terra,seus ecossistemas e recursos naturais foi de tal monta que produziu oaquecimento global e o risco de fazer desaparecer até a espécie huma-na. Então não podemos pressupor que a Terra como Casa Comumcontinue habitável e benfazeja para nós. Temos que garantir esta pré-condição. Ela pode viver sem nós. Nós não podemos viver sem ela.

Daí que importa combinar o pacto natural com o pacto social. Opacto natural trata a Terra com cuidado e responsabilidade para quepossa continuar com sua vitalidade e integridade, necessária para anossa continuidade. O pacto social diz respeito às formas de produçãoe de relação entre os cidadãos, às normas que nos regem e à coalizãode valores que inspiram nossas práticas. Os dois pactos, o natural e osocial, devem andar juntos, partindo do pacto natural que permite opacto social.

Estamos numa etapa nova da Humanidade, na qual devemos fa-zer uma aliança de cuidado global de uns para com os outros e paracom a Terra ou então arriscaremos o nosso desaparecimento e a de-vastação da comunidade de vida.

O livro de Guareschi termina como devia terminar: mostrando-nos a imprescindível presença da utopia como luz nas mentes e calornos corações. Bem dizia Oscar Wilde: “Um mapa que não inclua autopia, não é sequer digno de ser consultado, pois ignora o único terri-tório no qual a humanidade sempre atraca, partindo em seguida parauma terra ainda melhor”. Algo inatingível? Nenhuma utopia é atingíveltotalmente, mas ela é necessária se não seguimos num voo cego e numcaminho sem rumo.

Sábio foi o poeta gaúcho Mário Quintana ao observar:“Se as coisas são inatingíveis, oraNão é motivo para não querê-las.Que tristes seriam os caminhos se não foraA mágica presença das estrelas”.

A serviço da transformação e da construção lenta desta utopiaserve excelentemente o livro de Pedrinho Guareschi.

Leonardo Bof f, Teólogo e da Iniciativa Car ta da TerraPetrópolis, 22 de abril, dia internacional da Mãe Terra.

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Apresentação da 1ª edição,por Ir. Ernesto Dewes

É com imensa satisfação que apresento este trabalho do profes-sor e padre Pedrinho A. Guareschi.

A Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul faz ques-tão de estar presente na produção científica rio-grandense e brasileira,lançando ao mercado do livro mais esta obra de Pedrinho Guareschi.Em Sociologia Crítica - Alternativas de Mudança, professo-res, estudantes e agentes sociais encontrarão ricos subsídios para aconsolidação de seus conhecimentos.

Possuímos, do mesmo autor, em 13ª edição, Comunicação e Po-der, editado pela Vozes; e outras obras.

Pedrinho Guareschi é pessoa ligada à PUCRS desde o início desua carreira. Foi aqui que ele cursou pós-graduação em Sociologia.Recomendado pela PUC, ele obteve, posteriormente, nos EstadosUnidos, seus títulos de Mestrado e Doutorado. No ensino, na pesqui-sa, bem como na orientação de teses e dissertações, ele marcou oInstituto de Estudos Sociais, Políticos e Econômicos (IESPE) e diver-sos outros Institutos da Universidade.

Seu novo livro é uma tentativa de desvendar o oculto incrustadonas instituições e ideologias que se formam no decorrer dos tempos.O enfoque crítico que procura dar à análise dos diversos aparelhos einstituições enfatiza a preocupação em profundidade das diferentesfacetas e meandros dos problemas sociais. Neste sentido, contribuipara desfazer os aspectos acidentais dos fenômenos, dando oportuni-dade a possibilidades de mudanças necessárias ao desenvolvimentode qualquer nação.

Como os outros trabalhos do professor Guareschi, também esteserá acolhido pelas pessoas interessadas no social e certamente con-correrá para a elaboração de melhores condições em favor de nossopovo em processo de desenvolvimento.

Ir. Ernesto Dewes, Fundador e ex-diretor do IESPE/PUCPorto Alegre, 10 de outubro de 1984.

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IntroduçãoTemos recebido inúmeras cartas de professores, estudantes, pes-

soas ligadas a um trabalho de base, agentes de pastoral e outros, soli-citando-nos indicações e fontes para discussões de temas sociológi-cos. Diziam ter lido os artigos do jornal Mundo Jovem, e gostariam dedesenvolver temas dentro do enfoque e na metodologia que costumá-vamos usar.

Ao mesmo tempo, a direção do Mundo Jovem incentivou a ideiade lançar uma série de livros, sobre diversos assuntos, juntando osmuitos tópicos já discutidos no jornal, enfeixando-os num só volume.Insistiu que organizássemos esse volume com os assuntos referentesà Sociologia.

Levado por essas razões, resolvemos deixar algumas atividadese colocar em dia esse compromisso assumido com os colegas doMundo Jovem.

Os tópicos sociológicos que aqui discutimos possuem, contudo,uma característica diferente. Muita coisa do que vocês vão ver aquinão vão encontrar em outro lugar. É que Mundo Jovem não deve nadaa ninguém e não precisa esconder as coisas. Se quiséssemos resumiras características dessas “pílulas sociológicas” poderíamos dizer queelas se distinguem pelos seguintes fatores:

a) É uma sociologia que se propõe dizer o que, em geral, não édito; é uma sociologia do escondido, do velado, do oculto (propositada-mente ou não).

b) Procura tornar claras, passar a limpo as coisas mais complica-das; quer ser simples, popular, sem deixar de ir às raízes dos proble-mas, isto é, é uma sociologia popular, mas radical.

c) É uma sociologia pensada, principalmente, para quem quermudar, para quem quer transformar a realidade. A maioria dos tra-balhos sociológicos, que possuímos, têm, implícita ou explicitamen-te, intenção de explicar apenas as coisas, compreender como fun-cionam. Nossa intenção é explicar e compreender como as coisasfuncionam e mais um pouco: ver como é possível mudá-las. Mes-mo porque só compreende, perfeitamente, uma coisa quem é ca-paz de mudá-la.

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d) É uma sociologia dirigida à ação. Não separa o pensar do agir,mesmo porque é impossível separar estas duas coisas sem nos alie-narmos.

e) É uma sociologia questionadora, uma sociologia que procuramais fazer a pergunta, montar uma discussão, do que dar imediata-mente a resposta. Por isso mesmo ela se presta muito para discussão.

f) É uma sociologia ligada ao dia-a-dia, ao cotidiano. É o que vocêencontra momento a momento em sua vida, o que o cerca, o que orodeia.

g) Por tudo isso, escolhemos para designar o nosso enfoque apalavra “crítica”. É uma tentativa de uma sociologia crítica, como vaiexplicado no capítulo 3.

Os capítulos tratam, separadamente, de cada assunto, mas entreeles há uma ligação lógica. Para se compreender bem o seguinte, seriainteressante ter discutido os anteriores. Quando possível, nós avisare-mos o capítulo a que se refere a discussão, quando isso for necessáriopara o bom entendimento.

Para simplificar ao máximo a leitura, não vamos colocar citaçõesno decorrer dos assuntos.

A maioria dos capítulos, porém, é resultado de nossa experiênciaem trabalhos, tanto com alunos, como com grupos populares das peri-ferias de Porto Alegre. Foi no meio do povo, na provocação dele, quefomos amadurecendo muitos pontos que aqui foram discutidos. A ex-periência com o povo foi muito boa para nós, pois o povo não necessitaesconder e encobrir nada. Ele não deve nada a ninguém. Enfrenta acoisa como a coisa é mesmo.

Ninguém pense que os assuntos aqui discutidos são completos eterminados. Isso vai contra toda a argumentação que procuramos de-senvolver. O que se quer discutir são apenas alguns tópicos, com pala-vras claras e simples, dizendo o que, em geral, não se diz, pensandosempre nos grupos de ação, constituídos por pessoas simples, de boavontade, comprometidos com a maioria de nossa população brasileira.

Alguém poderá dizer que essas colocações são primárias, infan-tis, superficiais, ou mesmo incompletas.

Tudo isso poderá ser verdadeiro, dependendo do ângulo pelo qual ascoisas são analisadas. Por exemplo: em vez de primárias, a gente poderiadizer que as colocações são radicais, são o fundamento primeiro de tudo.

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Em vez de superficiais, a gente poderia dizer que são simples,populares, diretas.

Em vez de infantis, a gente poderia dizer que o que se deseja éque todos entendam, principalmente o povo simples; que não sejamcolocações sofisticadas, rebuscadas.

Em vez de incompletas, poder-se-ia dizer que o que se quis foiacentuar uma determinada dimensão. Na realidade, são colocaçõesincompletas, pois nunca é possível dizer tudo sobre alguma coisa. Sem-pre fica faltando algo. Nós temos um objetivo específico: ver o essen-cial, e comunicá-lo à gente do povo.

Um adjetivo que nós não gostaríamos que fosse usado para desig-nar nosso trabalho é o que dissesse que essas discussões não ajudama mudar as coisas. A experiência que se tem é que essas discussõesdeixam as coisas claras para o povo, e ajudam o povo a se organizarpara mudar. Agora, quem quiser dizer que isso não funciona, primeirotem de experimentar, tem de colocar em prática, fazer a experiência.

E agora, por favor, se não funcionar, então escreva-nos dizendo, etente ver por que, talvez, não funcionou. E se você achar uma maneirade como as coisas funcionaram, deram certo, por favor, conte-nos,pois isso é, realmente, o que nos interessa. Muita gente já escreveu,discutiu, explicou os problemas todos; mas pouquíssimos consegui-ram mudar as coisas, melhorar a vida humana em sociedade.

Um adendo para a 43ª ediçãoMuita coisa ocorreu após a 1ª edição desse livro. Eu mesmo não

fazia ideia de que esse livro, escrito com rapidez, mas com paixão,fosse causar-me tantas surpresas e criar alguns impasses. Milhares depessoas (mais de 100 mil) leram e certamente se inspiraram nesse livro.Vou lembrar alguns lances e episódios interessantes que sucederam, eque poderão servir de inspiração, penso eu, aos queridos leitores(as), notrabalho de construção de uma sociedade mais democrática e participativa:

- O livro acabou sendo traduzido em inglês, espanhol e em italia-no. Quem o traduziu foram pessoas ligadas a movimentos alternati-vos, como os que trabalham com trabalhadores migrantes, jovens,grupos de estudantes, trabalhadores do social.

- Em Assunção, no Paraguai, o livro foi proibido nas escolas, mascirculava fotocopiado entre professores e alunos, e ajudou a mudar a

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direção de ao menos uma faculdade, onde o autoritarismo funcionavaa pleno vapor.

- Um candidato a vereador de uma das maiores capitais do paíspediu mil livros, e fez sua campanha para vereador discutindo os diver-sos capítulos do livro: foi o segundo vereador mais votado daquelacapital!

- Um dia telefonou-me um cego, dando-me os parabéns, pois final-mente podia entrar em contato com uma sociologia que realmentevalia a pena: estava lendo o livro em braile. Nem eu sabia que existiacópia para deficientes visuais ...

- Um bispo de uma diocese do Norte do Brasil, cada vez que vinhapara o Sul, levava uns 200 exemplares. Todos os grupos de base dadiocese faziam a análise da realidade a partir dele.

- Numa cidade do interior criou-se uma verdadeira guerra entreas alunas do curso de Magistério e os advogados da cidade. O quedetonou o conflito foi o capítulo sobre o direito (Cap. 13). Os advoga-dos queriam intervir na escola, pois ensinava-se “subversão” às “meni-nas”. Só porque elas se tinham dado conta do fato de que o importante,quando se fala em poder numa sociedade, não é o que está escrito nasleis, mas quem cria as leis... Os “doutores” (por que só os advogados...e os médicos se chamam de “doutores”, e os outros não?) dentro deuma visão positivista e arcaica de direito, perceberam que seu mundode status e prestígio estava sendo minado por uma visão histórica ecrítica, mostrando a relatividade das leis. Tive de mandar um fax, emdefesa da escola e das “meninas”, que tinham deixado os “doutores”tão preocupados...

E assim poderiam ser elencados muitos outros fatos semelhan-tes. O que espero e faço votos é de que essa edição, um pouco maislimpa e ajeitada, continue, em sua simplicidade, a ajudar os que possu-em um compromisso com a justiça e a solidariedade, a fim de que, commais consciência e eficiência, consigamos uma sociedade socialmenteigualitária, culturalmente plural, politicamente democrática, economi-camente justa.