Pedro Celso Braga Alexandre · PEDRO CELSO BRAGA ALEXANDRE RISCO DE MORTE POR CÂNCER DE ESÔFAGO...
Transcript of Pedro Celso Braga Alexandre · PEDRO CELSO BRAGA ALEXANDRE RISCO DE MORTE POR CÂNCER DE ESÔFAGO...
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – UFRJ CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE - CCS INSTITUTO DE ESTUDOS EM SAÚDE COLETIVA – IESC MESTRADO EM SAÚDE COLETIVA
Pedro Celso Braga Alexandre
RISCO DE MORTE POR CÂNCER DE ESÔFAGO ENTRE AGRICULTORES DA REGIÃO SUL DO BRASIL: Estudo caso-controle baseado em certificados de óbito
RIO DE JANEIRO, 2009
PEDRO CELSO BRAGA ALEXANDRE
RISCO DE MORTE POR CÂNCER DE ESÔFAGO ENTRE AGRICULTORES DA REGIÃO SUL DO BRASIL: Estudo caso-controle baseado em certificados de óbito
Orientador: Prof. Dr. Armando Meyer
RIO DE JANEIRO
2009
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Coletiva.
FICHA CATALOGRÁFICA
A382r Alexandre, Pedro Celso Braga. Risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil: estudo caso-controle baseado em certificados de óbito/Pedro Celso Braga Alexandre.- Rio de Janeiro: UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2009. 72p.; 30cm. Orientadores: Armando Meyer. Dissertação (Mestrado)- UFRJ/Instituto de Estudos em Saúde Coletiva, 2009. Referências: p. 65-72. 1. Neoplasias esofágicas – mortalidade - Brasil. 2. Agricultura – fatores de risco. 3. Praguicidas – efeitos adversos. 4. Neoplasias – prevenção & controle. I. Meyer, Armando. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Estudos em Saúde Coletiva. IV. Título. CDD 616.994
PEDRO CELSO BRAGA ALEXANDRE
RISCO DE MORTE POR CÂNCER DE ESÔFAGO ENTRE AGRICULTORES DA REGIÃO SUL DO BRASIL: Estudo caso-controle baseado em certificados de óbito.
Aprovada em: de 2009
(Dr. Armando Meyer – IESC/UFRJ)
(Dr. Volney Camara – IESC/UFRJ)
(Dr. Sérgio Koifman – ESNP/FIOCRUZ)
Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, do Instituto de Saúde Coletiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências na área de Saúde Coletiva.
Dedico este trabalho a minha família e
amigos, pelo apoio e incentivo que me
deram para que eu conseguisse enfrentar
os momentos de dificuldades e assim
poder concluir este mestrado. Muito
obrigado.
AGRADECIMENTOS - A Deus por me iluminar e por me dar força nos momentos mais complicados e pela sabedoria, humor e amizade para com aqueles a minha volta. - Ao Dr. Armando Meyer, pela orientação, pelas palavras sucintas e esclarecedoras nos momentos de dúvidas e insegurança e pela confiança na realização desse trabalho. - A minha querida amiga Juliana Chrisman, por me aturar durante boa parte da dissertação. - Aos meus amigos, que ao longo desses anos participaram direta ou indiretamente junto comigo desse trabalho: Allan, Iamara, Paulo, Raphael Tavares, Lívia, Daniele, Ciça, Vinícius, Emerson, Fernando, João, Éverton, Ricardo, Jaime - pela companhia, pelas risadas e pelas conversas nos momentos chave. - Aos meus pais, pelo amor, carinho, paciência, esforço, por acreditarem no meu sucesso e pelas horas de dedicação em me ensinar a sempre ir até o fim, mesmo que os obstáculos sejam enormes. - Aos meus irmãos por afinidade que sempre vão representar tudo na minha vida – Moisés e Fabio. - A Carolina, pela cumplicidade, pelo companheirismo, pelas horas de conversa e carinho, e pelas horas de escutar meus desabafos e angústias. - À minha família, por me receber em casa sempre com amor e carinho. - A minha avó Irinitt, por seu carinho de avó e por sempre torcer por mim.
LISTA DE ABREVIATURAS
• IMC Índice de Massa Corporal
• IDH Índice de Desenvolvimento Humano
• PIB Produto Interno Bruto
• SIM Sistema de Informação de Mortalidade
• OR Oddis Ratio (Razão de Chance)
LISTA DE FIGURAS
Figura 1a e 1b – Representação espacial comparativa das taxas brutas de incidência por
100 mil homens (a) e mulheres (b), estimadas para o ano de 2008, segundo a Unidade
da Federação (neoplasia maligna de esôfago). .................................................. Página 11
Figura 2 – Região Sul do Brasil......................................................................... Página 17
Figura 3 – Distribuição da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, por regiões
brasileiras. .......................................................................................................... Página 18
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Distribuição das variáveis sócio-demográficas para casos e controles.
........................................................................................................................... Página 23
Tabela 2 - Razão de chance de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região
sul do Brasil e seus estados constituintes, de 1996 a 2005. ............................. Página 25
Tabela 3 - Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores
da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por sexo, de 1996 a
2005. ................................................................................................................. Página 27
Tabela 4 - Razão de chance de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região
sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por faixa etária, de 1996 a 2005.
........................................................................................................................... Página 30
Tabela 5 - Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores
da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por raça, de 1996 a
2005. ................................................................................................................. Página 33
Tabela 6 - Risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do
Brasil e seus estados constituintes, estratificado por escolaridade, de 1996 a 2006.
........................................................................................................................... Página 36
Tabela 7 - Estimativa do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores da
região sul do Brasil combinada, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária,
de 1996 a 2005. ................................................................................................ Página 38
Tabela 8 - Estimativas do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do
estado do Paraná, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a
2005. ................................................................................................................. Página 40
Tabela 9 - Risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do estado de Santa
Catarina, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a 2005.
........................................................................................................................... Página 41
Tabela 10 - Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores
do estado do Rio Grande do Sul, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária,
de 1996 a 2005. ................................................................................................ Página 43
RESUMO
O modelo vigente de produção agrícola empreende uma busca incessante pelo o aumento da produtividade o que tem levado a introdução de novas tecnologias como, por exemplo, o uso de agroquímicos, a mecanização das lavouras e a biotecnologia. Apesar de todo este conjunto de tecnologias terem contribuído para o aumento da produtividade no campo, tais tecnologias, associadas a diversos outros fatores presentes no ambiente rural, podem também representar um risco a saúde dos trabalhadores agrícolas. A possível associação entre a atividade agrícola e o desenvolvimento de câncer, por exemplo, tem concentrado a atenção de segmentos da comunidade científica e da sociedade civil organizada. No Brasil, estudos anteriores demonstraram que agricultores residentes na Região Serrana do Estado do Rio de Janeiro estiveram sob maior risco de morrer por câncer, principalmente de estômago e esôfago, nas décadas de 80 e 90, quando comparados com populações de referencia. Quanto ao câncer de estômago, existem diversos estudos em diferentes que países que corroboram estes resultados. Entretanto, com relação ao câncer de esôfago, são raros os estudos que sugerem haver alguma associação entre a atividade agrícola e o desenvolvimento de tal neoplasia. A maioria destes estudos foi realizada em países desenvolvidos, onde o regime de exposição aos diversos fatores de risco inerentes a atividade agrícola é bem diferente daquele apresentado em países em desenvolvimento. No Brasil, o consumo per capita de agrotóxicos em 11 estados brasileiros no ano 1985 apresentou elevada a moderada correlação com as taxas de mortalidade por diversos cânceres no período de 1996 a 1998, dentre eles o câncer de esôfago. Neste estudo então, a possível associação entre a atividade agrícola e câncer de esôfago no Brasil foi avaliada através da análise de certificados de óbito para a região do sul do País, uma região de intensa atividade agrícola. Para isto, um estudo caso-controle de base populacional foi realizado. Foram definidos como casos, indivíduos de ambos os sexos, com idades entre 30 e 59 anos, residentes em um dos estados que compõem a região sul e que foram a óbito por câncer de esôfago (CID10 – C15). Para cada caso, foi selecionado, de forma aleatória, um controle de mesmo sexo, idade, ano de óbito e estado de residência e cuja causa básica de morte tenha sido diferente de neoplasia (CID10 - C00-D48) ou doenças do aparelho digestivo (CID10 - K00–K93). Determinaram-se as razões de chance bruta e ajustadas para as seguintes variáveis de confundimento disponíveis no banco de dados de mortalidade: sexo, raça (classificada como brancos e não brancos), escolaridade (classificada como nenhuma escolaridade, de 1 a 7 anos de estudo, de 8 anos ou mais de estudo), idade (estratificada em 30 a 44 e 45 a 59 anos) e estado de residência (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. O risco de morte por câncer de esôfago na região sul e seus estados constituintes foi significativamente mais elevado entre agricultores (OR = 1,36 a 1,44). A análise ajustada por todas as variáveis conjuntamente, revelou que os agricultores do sexo masculino, não brancos, com baixa escolaridade e de faixa etária mais velha foram os que apresentaram maior magnitude do risco (OR: 2,59; IC 95%: 1,20 – 5,58) na região sul combinada. Assim, ainda que a atividade agrícola, com sua multiplicidade de exposições químicas, físicas e biológicas possa não figurar entre os possíveis fatores de risco para o câncer esofágico, principalmente em países desenvolvidos, sucessivos estudos, incluindo este próprio, sugerem que, no Brasil e talvez em outros países em desenvolvimento, a atividade agrícola pode aumentar o risco de câncer esofágico. Tal informação pode ser importante para que se leve em conta em eventuais programas de controle e prevenção dessa doença principalmente em áreas do Brasil onde a atividade agrícola é intensa.
ABSTRACT The current model of agricultural production constantly seeks for increasing productivity. Such process has introduced several technologies to achieve this objective, such as agrochemicals, machines, and biotechnologies. Although such technologies have been contributing to raise crop production, together with other risk factors present in the rural environment, they may pose a threat to the health of agricultural workers. For example, the possible association between agricultural activities and cancer development has attracted the attention of the society and scientific community. In Brazil, previous studies have shown that agricultural workers from the mountain regions of Rio de Janeiro were at higher risk to die by cancer, especially those of stomach and esophagus, in the 80s and 90s, when compared to appropriate references. In what concerns stomach cancers, several studies performed in different countries reinforce those results. However, regarding the esophageous cancer, the evidences of a possible association with agricultural activities actually goes in the opposite direction. Most of these studies were performed in developed countries, where exposure to agricultural risk factors are quite different of that experienced in developing countries. In Brazil, per capita consumption of pesticides in 11 Brazilian countries in 1985 showed high to moderate correlation with the mortality rates of specific types of cancer, between 1996-1998, including esophagus cancer. In the present study, the possible association between agricultural activity and esophagus cancer was investigated through death certificates in the south region of Brazil, which is characterized by intense use of pesticide. To achieve this objective, we performed a population-based case-control study. Cases were defined as individuals of both sexes, with ages between 30-59 yrs old, residents in one of the states in the south region, which have died by esophagus cancer (CID10- C15). For each case we randomly selected one control, paired by sex, age, state of residence, and year of death, for which the ascertained cause of death was different from neoplasms (CID10 – C00-D48) or diseases of digestive system (CID10 – K00-K93). Crude and adjusted odds ratios were calculated according to sex, age strata, educational level, race and state of residence. The risk to die by esophagus cancer was significantly higher among agricultural workers (OR = 1.36 to 1.44). Stratification revealed that, for the entire south region, white male agricultural workers of older ages were at higher risks to die by esophagus cancer (OR: 2.59; CI95%: 1.20-5.58). Therefore, our results suggest that, despite lack of evidence of an association between agricultural activity and esophageous cancer in the international literature, some studies, including this very one, have been indicating that this association may exist in Brazil and, perhaps, in other developing countries. This information can be of great relevance for programs designed to prevent and control esophagus cancer, especially within those areas in Brazil intense agriculture.
SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO 14 1.1- Atividade Agrícola 14 1.2- Impactos sobre a saúde 15 1.3- Câncer em agricultores 17 1.4- Câncer em agricultores brasileiros 18 1.5- Câncer de esôfago 20 1.6- Epidemiologia do câncer de esôfago 21 1.7- Fatores de risco associados ao câncer de esôfago 24 1.8- Lacunas nos estudos sobre câncer de esôfago em agricultores 26 2- OBJETIVOS 28 3- METODOLOGIA 29 3.1– Área de estudo 29 3.2– Desenho de estudo 31 3.3– População de estudo 31 3.3.1– Definição dos casos 31 3.3.2 – Definição dos controles 32 3.4 – Análise dos dados 32 4- RESULTADOS 34 5- DISCUSSÃO 57 6- CONCLUSÃO 64 7- REFERÊNCIAS 65
14
1. INTRODUÇÃO
1.1 - ATIVIDADE AGRÍCOLA
Quase metade da força de trabalho mundial (1,3 bilhões de trabalhadores) está
presente na agricultura. A distribuição da população agrícola é realizada da seguinte forma:
Ásia (76%), América Central e Caribe (1,3%), Europa (2,2%), Oriente Médio e Norte da
África (3,8%), América do Norte (0,2%), Oceania (0,2%), América do Sul (2,0%) e África
Subsaariana (14%) (WRI, 2008).
O processo de produção agrícola passou por uma transformação, devido à grave crise
alimentar mundial ocorrida da década de 40 e 50 que atingiu o mundo e que deu origem na
década de 60 e 70 à chamada revolução verde. Durante a revolução verde foram disseminadas
novas práticas agrícolas visando um vasto aumento na produtividade. Assim ocorre uma
modernização, que determina a incorporação de novos investimentos tecnológicos nos
cultivos, possibilitando uma diversificação e um aumento das culturas, modificações na
estrutura e nos fatores de produção, gerando um crescimento na produtividade e também nos
lucros (KHUSH, 2001).
No Brasil a agricultura passou por algumas mudanças, que ocorreram
fundamentalmente dos anos 70 até os anos 80, sendo a mais notável ocorrida na composição
da produção e na direção das culturas. Além disso, a mecanização, a pesquisa agrícola e o uso
de insumos químicos também foram fundamentais para a expansão da fronteira agrícola,
gerando impactos na composição da produção, e conseqüentemente, no uso dos fatores
necessários para sua obtenção (REIS, 1996).
Assim os antigos latifúndios transformaram-se em empresas rurais, grandes e
produtivas. De um patamar de 50 milhões, a safra nacional de grãos ultrapassa os 100 milhões
de toneladas, batendo recordes sucessivos de produtividade. A atual produção agrícola
15
brasileira atingiu os R$ 116,6 bilhões com uma alta de 17,8% sobre o ano anterior, sendo as
safras de soja, cana-de-açúcar e milho as que mais impulsionaram esse crescimento (IBGE,
2008).
Por um lado a tecnologia proporcionou vantagens já citadas, por outro lado o
desenvolvimento dos processos de produção no mundo levou a severas conseqüências
prejudiciais a saúde das populações humanas que ficaram expostas a um grande número de
substâncias e riscos diferenciados em todas as etapas de produção (CÂMARA et al, 2003).
1.2 - IMPACTOS SOBRE A SAÚDE
O trabalho agrícola tem sido desde há muito, reconhecido como uma atividade
ocupacional perigosa. Enquanto as condições políticas, econômicas, climáticas variam o
trabalho agrícola comumente é classificado como uma das três ocupações que mais causam
lesões em trabalhadores, juntamente com a mineração e a construção civil (MYERS, 1998).
As lesões agrícolas são muito bem documentadas em países industrializados, mas não
tanto em países em desenvolvimento. Estima-se que 170.000 trabalhadores agrícolas são
mortos por ano e alguns milhões feridos gravemente em acidentes no trabalho. É provável que
a subnotificação seja uma prática comum e os números reais sejam ainda maiores
(RAUTIAINEN, 2008).
Os agricultores estão expostos a uma variedade de riscos, incluindo tratores, máquinas,
estruturas fechadas, tais como grãos e silos contentores, sobrecarga das linhas elétricas,
ferramentas, tanques, e animais. Além disso, eles muitas vezes trabalham longas horas sob
severas condições de tempo e muitos utilizam um modelo mais antigo de manuseio dos
equipamentos agrícolas que não apresenta características de segurança. Máquinas agrícolas
estão envolvidas em aproximadamente 50% das mortes agrícolas relacionadas com o trabalho
e 18% das lesões não fatais. Quando não fatais estas lesões podem causar sérios danos a saúde
16
como a invalidez permanente. Por exemplo, tratores podem causar esmagamento ou mesmo
amputação de algum membro. Outros tipos de morte a partir de lesão incluem asfixia silo-gás
e soterramento em grão, trauma físico de trabalhar pelo manuseio de gado, afogamento e
eletrocussão (DEROO, 2000).
Os agricultores sofrem ainda o risco de exposição e intoxicação por substâncias
químicas utilizadas na lavoura, como agrotóxicos e fertilizantes. Estima-se que dois terços da
população brasileira está exposta a diferentes níveis, aos efeitos nocivos de agrotóxicos, seja
pelo consumo de alimentos contaminados, seja pelo uso para o combate de vetores de doenças
infecto-contagiosas ou simplesmente pela atividade laboral (PERES et al, 2005).
Na América Latina, o Brasil desponta como o maior consumidor de agrotóxicos, com
um consumo estimado em 50% da quantidade comercializada nesta região. O tamanho do
problema pode ser mais bem observado nos valores envolvidos na comercialização desses
produtos, cujo consumo aumentou de U$ 988 milhões gastos em 1981 para U$ 2,2 bilhões em
1997 (OLIVEIRA-SILVA et al, 2001).
A exposição aos agrotóxicos pode gerar efeitos agudos e/ ou crônicos para a saúde dos
trabalhadores rurais. A Organização Mundial da Saúde estima uma incidência anual de cerca
de três milhões de intoxicações agudas por agrotóxicos em todo o mundo (WHO/UNEP,
1990). Destas, dois terços seriam de intoxicações intencionais, suicídios e homicídios, e
apenas um terço (um milhão), seriam devido a exposições não intencionais, incluindo-se aí as
exposições ocupacionais.
Dentre os efeitos crônicos, o uso dos pesticidas pode ser considerado como uma das
condições potencialmente associadas à etiologia do câncer, por sua possível atuação como
iniciadores - substâncias capazes de alterar o DNA de uma célula, podendo futuramente
originar o tumor – e/ou como promotores tumorais – substâncias que estimulam a célula
alterada a se dividir (HATAGIMA, 2002).
17
1.3 - CÂNCER EM AGRICULTORES
O câncer é um importante problema de saúde pública em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, sendo responsável por mais de seis milhões de óbitos a cada ano,
representando cerca de 12% de todas as causas de morte no mundo. Embora as maiores taxas
de incidência de câncer sejam encontradas em países desenvolvidos, dos dez milhões de casos
novos anuais de câncer, cinco milhões e meio são diagnosticados nos países em
desenvolvimento (GUERRA et al, 2005).
Em 2005, de um total de 58 milhões de mortes ocorridas no mundo, o câncer foi
responsável por 7,6 milhões, o que representou 13% de todas as mortes. No Brasil, as
estimativas para o ano de 2008, válidas também para o ano de 2009, apontam que ocorrerão
466.730 casos novos de câncer. Os tipos mais incidentes, à exceção do câncer de pele do tipo
não melanoma, serão os cânceres de próstata e de pulmão, no sexo masculino, e os cânceres
de mama e de colo do útero, no sexo feminino, acompanhando o mesmo perfil da magnitude
observada no mundo (INCA, 2007).
Alguns estudos epidemiológicos vêm sugerindo que os agricultores apresentam uma
mortalidade total menor do que aquela observada na população geral. Além disso, este grupo
populacional morre menos por doenças cardiovasculares e por todos os tipos de câncer
combinados (DICH et al, 1997). Entretanto, os agricultores apresentam uma maior
mortalidade para algumas neoplasias específicas como leucemia, linfoma não-Hogdkin,
mieloma múltiplo, câncer de lábio, de próstata e estômago (ACQUAVELLA et al, 1998;
BLAIR; ZAHM, 1995). Uma das hipóteses científicas que explicariam tal fenômeno seria a
elevada exposição aos agrotóxicos a que este grupo populacional está submetido (BLAIR et
al, 1992; BLAIR; ZAHM, 1995).
18
O programa nacional de toxicologia americano (National Toxicology Program) testou
47 pesticidas, em associação com o Instituto Nacional do Câncer (US – National Câncer
Institute) e desses, 23 apresentaram evidências positivas quanto à ação carcinogênica em ratos
e/ou camundongos (SELKIRK; SOWARD, 1993). Considerando-se ainda exclusivamente o
critério da experimentação animal, a Agência Internacional para Pesquisa em Câncer (IARC),
reconhece evidências suficientes sobre a carcinogenicidade de 18 agrotóxicos e evidências
limitadas para outros 16 (PIMENTEL et al, 1992).
Nos últimos 15 anos, foram publicadas diversas revisões e meta-análises sobre câncer
em agricultores, reforçando a hipótese de que a atividade agrícola, que tem do ponto de vista
da toxicologia, a exposição a agroquímicos como uma de suas principais características,
aumenta o risco de desenvolvimento de determinados cânceres em seres humanos. Dentre
estes, os cânceres hematológicos (leucemias e linfomas) e os hormônios-dependentes
(próstata, testículos, mama, ovário e tiróide), têm merecido grande destaque na literatura
(ACQUAVELLA et al, 1998; BLAIR et al, 1992; BLAIR; ZAHM, 1995; DICH et al, 1997;
KELLER-BYRNE et al, 1995; KELLER-BYRNE et al, 1997; KHUDER; MUTGI, 1997;
VAN MAELE-FABRY; WILLEMS, 2004)
1.4 - CÂNCER EM AGRICULTORES BRASILEIROS
No Brasil, na década de 80, o câncer era a quinta causa de morte, vindo depois das
doenças do aparelho circulatório, de mortes por causas externas, de afecções mal definidas e
das doenças infecciosas e parasitárias. Nesse mesmo período, o câncer foi responsável por
aproximadamente 8% dos óbitos do País. No ano 2000, as neoplasias responderam por 12,6%
do total de óbitos registrados no Brasil, ocupando a terceira posição entre as principais causas
de morte no (OPAS, 2002).
19
Paralelamente a esse aumento nos casos de câncer, no meio rural o uso de agrotóxicos
vem crescendo a várias décadas nas cidades brasileiras, porém os estudos sobre o impacto da
exposição a estes compostos sobre o perfil de morbi-mortalidade por câncer ainda são
escassos (KOIFMAN et al, 2002; MEYER et al, 2003).
Sabe-se, por exemplo, que o consumo desses agroquímicos observado em 11 estados
brasileiros, na década de 80, apresentou elevada correlação com a taxa de mortalidade por
câncer de mama feminino e moderadas correlações com as taxas de mortalidade para cânceres
de ovário, próstata e testículos, entre os anos de 1996 e 1998, nos mesmos estados
(KOIFMAN et al, 2002).
Mais recentemente, em um estudo sobre a mortalidade por câncer na região serrana do
Estado de Rio de Janeiro, observou-se um elevado risco de morte, por alguns tipos específicos
de câncer entre os agricultores desta região. Neste estudo, que utilizou o Sistema de
Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde (SIM/DATASUS) como fonte de dados,
chama a atenção o significativo incremento no risco de morte por câncer de esôfago e
estômago, entre os agricultores de ambas as faixas etárias (30 a 49 e 50 a 69 anos) e ambas as
décadas (1979 a 1988 e 1989 a 1998) estudadas. Além destes, os agricultores de 30 a 49 anos
de idade apresentaram um risco mais elevado de morte para os cânceres de fígado, cavidade
oral, próstata, testículos, além de leucemia e sarcoma de tecidos moles. Já os agricultores de
50 a 69 anos, apresentaram uma maior mortalidade por câncer de laringe, cavidade oral e
sarcoma de tecidos moles (MEYER et al, 2003).
20
1.5 - CÂNCER DE ESÔFAGO
O esôfago é um tubo longo, de ± 25 cm, músculo-membranoso e estreito, que
comunica a orofaringe ao estômago. Ele permite a passagem do alimento ou líquido deglutido
até o interior do estômago, através de contrações musculares peristálticas (Sobotta, 2006). O
câncer de esôfago pode ser de dois tipos, o epidermóide, responsável por 96% dos casos e o
adenocarcinoma que vem tendo um aumento significativo nos últimos anos no número de
casos (INCA, 2009).
O câncer de esôfago é uma das formas mais comuns de tumor maligno em todo o
Mundo, ocupando a oitava posição no ranking de incidência e a sexta no ranking de
mortalidade entre os tumores. Apesar dos recentes esforços na tentativa de melhorar o
desfecho dos pacientes, o câncer de esôfago ainda apresenta um prognóstico ruim, devido
principalmente, ao diagnóstico tardio, a ineficácia do tratamento e aos casos subnotificados.
(RIBEIRO PINTO et al, 2003).
A mortalidade por câncer de esôfago no Brasil apresentou uma diminuição para ambos
os sexos, entre 1980 e 2002, com base em dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade
(SIM). Nesse período, a taxa de mortalidade, ajustada por idade (população mundial), passou,
entre os homens, de 7,12 para 6,71/100.000; e entre as mulheres, de 1,95 para 1,65/100.000
(DATASUS, 2008).
As causas do câncer de esôfago são complexas e não foram suficientemente
elucidadas. O diagnóstico do câncer de esôfago geralmente é feito quando do aparecimento da
disfagia, resultando em detecção do mesmo nas formas avançadas. Nestes casos, a sobrevida
de cinco anos é inferior a 10%. Nos tumores superficiais de esôfago (restritos até a
submucosa) e sem metástases, a sobrevida de cinco anos é de 62%. Um número considerável,
21
porém, de câncer superficial de esôfago apresenta metástases, com conseqüente sobrevida de
cinco anos em somente 17% (DIETZ et al, 2000).
Diversos fatores ambientais têm sido identificados como associados à gênese desta
neoplasia, entre eles o tabagismo e o etilismo, já estabelecidos com base na consistência das
evidências dos estudos epidemiológicos observacionais, assim como fatores dietéticos e
agentes infecciosos, tais como o Papiloma Vírus Humano e o Helicobacter pylori (BLOT,
1999; CHEN et al, 2002a).
1.6 - EPIDEMIOLOGIA DO CÂNCER DE ESÔFAGO
A distribuição geográfica da incidência do câncer de esôfago apresenta variações
marcantes entre países. Cerca de 80% dos cânceres de esôfago ocorrem em países em
desenvolvimento, contudo grandes variações nas taxas de incidência ocorrem em pequenas
regiões geográficas (RIBEIRO PINTO et al, 2003). O câncer esofágico acomete mais homens
do que mulheres. Aparece com maior freqüência depois dos 50 anos de idade (maior
incidência aos 65 anos). Na América do Norte e na Europa Ocidental, é muito mais comum o
desenvolvimento da doença em negros do que em brancos. Uma característica interessante é a
baixa taxa de incidência antes dos 30 anos (QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2005).
As áreas de alto risco estão localizadas ao longo do chamado “cinturão do câncer
esofágico”, que abrange desde a China ao norte do Irã. (TOMATIS et al, 1990). A título de
comparação as regiões consideradas de baixa incidência possuem uma taxa de 1/100.000:
como o Noroeste da África e entre as mulheres de vários países. Já as regiões consideradas de
incidência intermediária têm uma taxa de 5/100.000 como no Caribe e Sudeste da América
Latina e Índia. As regiões conhecidas como de incidência elevada possuem uma taxa de
15/100.000, ocorrendo nos homens de raça negra na África do Sul e América do Norte. Nas
áreas que têm as taxas de incidência muito elevada como a região já citada e o Litoral
22
Caspiano visualizamos valores acima de 50/100.000 habitantes (QUEIROGA RC;
PERNAMBUCO AP, 2005).
Com base nos dados da Organização Mundial de Saúde, Levi et al (1999),
apresentaram as taxas de mortalidade por câncer de esôfago em 35 países europeus, no
período de 1990 a 1994. As maiores taxas de mortalidade por câncer de esôfago, entre os
homens, foram registradas na França (10,34/100.000 homens), na Escócia com
(10,26/100.000 homens) e na Rússia onde a taxa foi de (8,68/100.000 homens). Entre as
mulheres as maiores taxas encontradas foram, na Escócia (4,77/100.000 mulheres), seguido
da Inglaterra e pelo País de Gales com (3,21/100.000 mulheres) e na Irlanda do Norte com
(2,82/100.000 mulheres). As menores taxas de mortalidade observadas, para o sexo masculino
foram na Macedônia com (1,53/100.000 homens), na Grécia com (1,44/100.000 homens) e na
Albânia com (1,53/100.000 homens). Para o sexo feminino, as menores taxas de mortalidade
foram na Romênia com (0,41/100.000 mulheres), na Grécia com (0,42/100.000 mulheres) e
na Bélgica com (0,45/100.000 mulheres). Possivelmente essas diferenças encontradas nas
taxas podem estar associadas com consumo elevado de álcool, segundo os autores.
No Brasil, as mais altas taxas de incidência de câncer esofágico para homens e para
mulheres ocorrem na região sul. Para os homens, o estado do Rio Grande do Sul possui uma
taxa de (19,73/100.000 homens), em Santa Catarina a taxa é de (14,49/100.000 homens) e no
Paraná é de (14,65/100.000 homens). Para as mulheres o estado do Rio Grande do Sul
apresenta uma taxa de (7,58/100.000 mulheres), em Santa Catarina a taxa é de (3,32/100.000
mulheres) e no estado do Paraná temos uma taxa de (5,31/100.000 mulheres). A figura 1
mostra a distribuição dos casos de câncer de esôfago pelos estados brasileiros em homens e
mulheres (INCA, 2009).
23
Figura 1 - Representação espacial comparativa das taxas brutas de incidência por 100 mil homens (a) e mulheres (b), estimadas para o ano de 2008, segundo a Unidade da Federação (neoplasia maligna de esôfago)
24
As enormes diferenças epidemiológicas sugerem o envolvimento, como já citado
anteriormente, dos fatores ambientais e alimentares, alem de uma predisposição genética
pouco definida. Como fatores de risco para essa neoplasia têm sido apontados: o fumo, o
consumo de bebidas alcoólicas, dieta rica em gordura, a ingestão de alimentos e bebidas em
altas temperaturas, as lesões químicas (aminas heterocíclicas), o refluxo gastresofágico
(síndrome de Barrett), obesidade, fatores sócio-econômicos como a má-nutrição e deficiências
em vitaminas A,C e E entre outros possíveis fatores (QUEIROGA; PERNAMBUCO, 2005).
1.7 - FATORES DE RISCO ASSOCIADOS AO CÂNCER DE ESÔFAGO
Alguns estudos epidemiológicos têm investigado o papel do fumo, na etiologia do
câncer de esôfago. O tabagismo é um forte e bem estabelecido fator de risco para carcinoma
de células escamosas do esôfago, mas parece desempenhar um papel menos proeminente no
que diz respeito ao adenocarcinoma esofágico (LAGERGREN, 2006). Oito estudos caso-
controle relataram um moderado aumento do risco para câncer de esôfago entre os fumantes
com ORs geralmente entre 1,5-2,8. Em dois estudos realizados nos Estados Unidos foram
encontrados aumentos moderados no risco para câncer de esôfago entre os fumantes, porem
em um estudo sueco similar não ocorreram associações significativas (LAGERGREN, 2005).
O consumo de álcool é sabidamente um importante fator de risco para câncer
esofágico, contudo alguns estudos sugerem uma relação inversa, particularmente entre o
consumo de vinho e o risco para esse tipo de câncer (LAGERGREN , 2005). No estudo de
Gammon et al (1997), encontraram uma forte associação entre o álcool e a neoplasia
esofágica, mas nem cerveja nem licor apresentaram associações significativas com risco de
câncer do esôfago e ainda encontraram um redução significativa para o risco com o consumo
de beber vinho.
25
Alguns fatores relacionados aos hábitos alimentares demonstram possíveis associações
com risco para neoplasia esofágica. Alimentos ricos em gorduras totais, gorduras saturadas e
colesterol parecem estar associados com elevado risco para esse câncer, enquanto alguns
nutrientes particularmente encontrados em alimentos vegetais (fibras, vitamina C, β –
caroteno e folato) podem estar associados como fatores de proteção, pela produção de
antioxidantes (LAGERGREN, 2006).
Um dos fatores de risco que mais crescem com forte associação para o
desenvolvimento de câncer esofágico é a obesidade (MAYNE; NAVARRO, 2002). Em um
estudo caso–controle realizado nos Estados Unidos em 1998, Chow et al. mostraram que para
os indivíduos situados no quarto quartil na avaliação do índice de massa corporal (IMC,
comumente utilizado na análise do percentual de tecido adiposo e expresso em kg/m2) em
comparação aos indivíduos do primeiro quartil, que havia uma associação para o risco ao
câncer de esôfago quatro vezes maior para os indivíduos com valores do IMC mais alto.
A mais forte condição de risco para o surgimento do câncer de esôfago é a síndrome
do esôfago de Barrett, ou simplesmente esôfago de Barrett, que aparece como uma causa
secundária ao longo da doença de refluxo gastro-esofágico. O papel do refluxo gastro-
esofágico no desenvolvimento do câncer de esôfago tem sido investigado nos quatro últimos
grandes estudos epidemiológicos. Em estudo caso–controle baseado em prontuários incluindo
196 pacientes com neoplasia esofágica nos Estados Unidos, mostrou um risco duas vezes
maior significativamente entre as pessoas com uma história de grave refluxo gastro-esofágico,
ou que apresentaram hérnia de hiato, ou ainda com diagnostico de esofagite, úlcera esofágica,
ou dificuldade em engolir (LAGERGREN, 2005).
26
Foi sugerido por um estudo caso-controle nos Estados Unidos que a infecção por
Helicobacter pylori pode ser inversamente relacionada com o risco de câncer no esôfago. A
hipótese utilizada para explicar o mecanismo é de que tal infecção poderia reduzir a
ocorrência do refluxo gástrico. A infecção por H. pylori está associada com o
desenvolvimento de gastrite atrófica, uma condição que, por sua vez, reduz a acidez do suco
gástrico, o que reduziria os efeitos nocivos da acidez no esôfago (LAGERGREN, 2006).
1.8 - LACUNAS NOS ESTUDOS SOBRE CÂNCER DE ESÔFAGO EM AGRICULTORES
Com poucas exceções, na maioria dos estudos realizados o risco para câncer esofágico
é menor entre os agricultores, em comparação com a população em geral ou outros grupos
profissionais (LEE et al, 2004). O padrão de distribuição da neoplasia de esôfago no Brasil
ainda é pouco conhecido e os poucos dados existentes sugerem que há uma variação
geográfica importante na sua ocorrência. Não existem dados bem esclarecidos que mostrem
possíveis associações entre a ocupação de agricultor e mortalidade por câncer de esôfago.
Para Pinto e Curi (1991), as estatísticas de mortalidade por neoplasias desempenham
papel fundamental na saúde pública, por que possibilitam avaliar as tendências para o risco de
morte por câncer ao longo de um período de tempo. Permitem também identificar a presença
de possíveis associações entre o aumento ou a diminuição da mortalidade com aparecimento,
aumento ou diminuição de algum fator ambiental. E ainda possibilita a comparação das taxas
de mortalidade entre diferentes países, regiões ou grupos de populações.
Devesa et al (1987), monitoraram a tendência secular da ocorrência de câncer a fim de
identificar mudanças que possam demonstrar alterações na prevalência dos fatores de risco
para determinadas localizações. Também quiseram fornecer indícios para a identificação de
exposições a fatores cancerígenos e de mudanças no risco entre populações com
27
suscetibilidade variadas em relação ao câncer. Por fim tentaram avaliar a magnitude do
problema do câncer no âmbito da saúde pública.
Os estudos descritivos realizados até agora que buscaram relacionar possíveis
associações entre câncer e atividade agrícola possuem limitações. Como exemplo podemos
citar o estudo realizado por Meyer et al (2003), na região serrana do estado do Rio de Janeiro.
Tratou-se de um estudo transversal sobre a mortalidade por câncer em agricultores que
apresenta como principal limitação a dificuldade de assegurar causalidade, já que o desfecho
(morte por câncer) e a exposição são avaliados simultaneamente.
No estudo realizado por Chrisman et al (2008), avaliou-se o risco de mortalidade por
câncer, entre eles a neoplasia esofágica, em trabalhadores agrícolas nos 11 estados brasileiros
que mais consomem agrotóxicos. Foi um estudo ecológico que teve como principal limitação
não permitir um adequado controle sobre os fatores de confundimento.
No Brasil, há poucos estudos abordando as características da distribuição e tendência
da mortalidade por essa neoplasia e a sua distribuição nas diferentes regiões do país. Com
dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA), a região sul do Brasil é a que possui a mais
alta taxa de mortalidade para câncer de esôfago no Brasil. Assim, a fim de avançarmos na
compreensão das possíveis relações entre trabalhadores agrícolas brasileiros e câncer de
esôfago, e analisarmos o perfil de mortalidade nos estados do sul do Brasil, propomos um
estudo caso-controle que nos permitirá avaliar com maior amplitude a mortalidade por essa
neoplasia.
28
2. OBJETIVOS
Este projeto tem como objetivo avaliar a possível associação entre trabalho agrícola e a
mortalidade por câncer de esôfago na região sul do Brasil.
2.1 - OBJETIVOS ESPECÍFICOS
- Determinar a mortalidade por câncer de esôfago entre indivíduos de 30 a 59 anos, residentes
da região sul do Brasil, para o período de 1996 a 2005.
- Estimar a proporção de agricultores e não agricultores entre os casos de câncer de esôfago e
no grupo de comparação.
- Avaliar a magnitude da associação entre o câncer de esôfago e o trabalho agrícola na região
sul do Brasil segundo: sexo, faixa etária, escolaridade, raça e estado de residência.
29
3. METODOLOGIA
3.1 - ÁREA DE ESTUDO
A região sul do Brasil (Figura 2) possui 577.214 km2 e é a região de menor área total,
ocupando apenas 6,75% do território brasileiro. É formada pelos estados do Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, possuindo cerca de 24.546.983 habitantes. Os estados que
compõem a região Sul apresentam particularidades bastante visíveis, em função
principalmente de sua história econômica e formação social. O Paraná tem muitas de suas
atuais características originadas da colonização influenciada pela economia cafeeira paulista,
o que o torna muito distinto, por exemplo, de Santa Catarina, caracterizada pela baixa
integração interna e do predomínio da pequena propriedade familiar. Já o Rio Grande do Sul,
pela forma original de sua ocupação (basicamente para defesa da fronteira e para o
fornecimento de animais à zona mineradora) e seu posterior desenvolvimento, tem hoje três
tipos diferentes de agricultura: a pecuária extensiva tradicional, as áreas de lavoura
empresarial (arroz, trigo, soja) e a agricultura colonial (policultura, fumo, uva) (HOFFMANN
et al, 1985).
Figura 2 – Região Sul do Brasil
30
Dados do último censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), no ano 2000, mostram que a região Sul possui 94,8% da população alfabetizada. A
região apresenta ainda o maior índice de desenvolvimento humano (IDH) do Brasil (0,831), e o
segundo maior PIB per capita do país, (R$ 13.208,00), atrás apenas da região Sudeste. (IBGE,
2008).
A região Sul possui características geomorfológicas com duas paisagens em contraste:
relevo com extensos planaltos e estreitas planícies. Faz fronteiras com o Uruguai ao sul, com a
Argentina e com o Paraguai ao oeste, com a região Centro-Oeste e com a região Sudeste do Brasil
ao norte e com o oceano Atlântico ao leste. A vegetação característica constitui-se da mata de
araucárias e também por vastas extensões de terra de campos limpos, conhecidos pelo nome
de campos meridionais.
A atividade econômica de maior rendimento e que emprega o maior número de
trabalhadores é a agricultura, responsável por 42% da produção nacional de grãos como mostra
a figura 3. A atividade agrícola no Sul distribui-se em dois amplos e diversificados setores: a
policultura com destaque para o cultivo de milho, feijão, mandioca, batata, maçã, laranja, e fumo;
e a monocultura com destaque soja, trigo, algodão, cana-de-açúcar, e café. A erva-mate, produto
do extrativismo, é também muito cultivada na região.
Figura 3 – Distribuição da produção de cereais, leguminosas e oleaginosas, por regiões brasileiras.
31
3.2 - DESENHO DE ESTUDO
Foi realizado um estudo caso-controle baseado em certificados de óbitos, para estimar
o risco de morte por câncer de esôfago em trabalhadores rurais no período de 1996 a 2005,
nos estados do sul do Brasil.
Os dados de mortalidade foram obtidos no SIM do DATASUS. Foram selecionados
todos os óbitos, ocorridos entre 1996 e 2005 entre residentes dos estados do Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul, cuja causa básica fosse neoplasia de esôfago.
3.3 - POPULAÇÃO DE ESTUDO
3.3.1 - Definição dos casos
Foram definidos como casos os indivíduos de ambos os sexos que tiveram como causa
da morte a neoplasia de esôfago. Esses tumores são classificados, segundo a 10ª Revisão da
Classificação Internacional de Doenças (CID 10) (Organização Mundial da Saúde, 1997),
como: neoplasia maligna da parte cervical do esôfago (C15.0); neoplasia maligna da parte
torácica do esôfago (C15.1); neoplasia maligna da parte abdominal do esôfago (C15.2);
neoplasia maligna do terço superior do esôfago (C15.3); neoplasia maligna do terço medial do
esôfago (C15.4); neoplasia maligna do terço inferior do esôfago (C15.5); neoplasia maligna
de sobreposição de lesões do esôfago (C15.8); neoplasia maligna de esôfago não especificada
(C15.9).
O critério de inclusão dos casos selecionou os indivíduos com faixa etária
compreendida entre 30 a 59 anos de idade, de ambos os sexos, residentes nos estados do
Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, que tenham ido a óbito entre janeiro de 1996 e
dezembro de 2005, com diagnóstico de neoplasia maligna do esôfago (CID 10 – (C15.0 a
C15.9).
32
3.3.2 - Definição dos controles
Foram definidos como controles os indivíduos de ambos os sexos, com faixa etária
compreendida entre 30 a 59 anos de idade, residentes nos estados do Paraná, Santa Catarina e
Rio Grande do Sul, que tenham ido a óbito entre janeiro de 1996 e dezembro de 2005 e cuja
causa básica de morte não incluísse neoplasia (CID 10 – (C00 – D48) ou, sistema digestivo
(CID 10 (K00 – K93).
Dentre todos os possíveis controles, para cada caso foi selecionado de forma aleatória
um controle, pareado por sexo, idade, ano de óbito e estado de residência. Os indivíduos que
não apresentavam ocupação definida no Sistema de Informação de Mortalidade foram
excluídos da população do estudo.
3.4 - ANÁLISE DOS DADOS
A coleta de informações sobre casos e controles foi realizada utilizando-se Tabwin
(versão 3.3). A seleção de casos e controles deu-se através do uso do software SPSS (versão
15.0). O mesmo SPSS também foi utilizado para o tratamento estatístico dos dados. O
programa Microsoft Excel 2007 foi utilizado para a construção das tabelas.
Com objetivo de estimar a magnitude do risco de morte por câncer de esôfago em
agricultores (código ocupacional 600 – 639) utilizamos como medida de associação a Odds
Ratio (OR) com seus respectivos intervalos com 95% de confiança.
Primeiramente foi realizada uma descrição das variáveis sócio-demográficas, para toda
região sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul), onde foi calculado o qui-quadrado
(χ²) a fim de avaliar possíveis diferenças significativas entre tais variáveis para casos e
controles.
33
Em seguida, foram calculadas as OR para toda a região sul combinada (Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul), onde se buscou estimar a razão de chance de ser agricultor
entre casos contra a razão de chance de ser agricultor entre os controles. Neste sentido
determinou-se a OR bruta e as OR ajustadas para as seguintes variáveis de confundimento
disponíveis no banco de dados de mortalidade: sexo, raça (classificada como brancos e não
brancos), escolaridade (classificada como nenhuma escolaridade, de 1 a 7 anos de estudo, de 8
anos ou mais de estudo), idade (estratificada em 30 a 44 e 45 a 59 anos) e estado de
residência (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul).
Da mesma forma que para toda a região sul, este mesmo modelo de análise foi
empregado separadamente para cada um dos 3 estados que compõem esta região e para o Sul
como um todo.
34
4. RESULTADOS
Este estudo incluiu um total de 11564 indivíduos com óbito notificado ao Sistema de
Informação de Mortalidade e que residiam na região sul do Brasil. Dentre estes, 5782 foram
casos e 5782 controles. A tabela 1 apresenta a distribuição dos dados sócio-demográficos em
ambos os grupos. Devido ao pareamento, dos 5782 casos e 5782 controles, 4787 (82,79%)
eram do sexo masculino e 995 (17,21%) do sexo feminino em ambos os grupos de estudo. Da
mesma forma, em ambos os grupos, 825 (14,27%) tinham idade entre 30 e 44 anos e 4957
(85,73%) se encontravam no grupo com idades entre 45 e 59 anos. Com relação à raça, o
grupo dos casos apresentou 4041 (69,89%) indivíduos brancos e 678 (11,73%) não brancos.
Entre os controles, esta distribuição foi de 4061 (70,24%) indivíduos brancos e 621 (10,74%)
não brancos. Conforme demonstrado pelo teste do qui-quadrado, não houve diferença
significativa (p=0,12) na distribuição de freqüências de raça entre casos e controles. Já com
relação à escolaridade, 665 (11,50%) casos e 546 (9,44%) controles não tinham nenhuma
escolaridade, 2037 (35,23%) casos e 1781 (30,80%) controles tinham de 1 a 7 anos de estudo
e 377 (6,52%) casos e 522 (9,03%) controles tinham 8 anos ou mais de estudo. Para esta
variável, o teste do qui-quadrado demonstrou haver diferença significativa (p<0,001) entre
casos e controles. Os indivíduos também foram pareados por estado de residência. Assim no
estado do Paraná tivemos um total de 3776 indivíduos, 1888 (32,65%) casos e 1888 (32,65%)
controles. Da mesma forma no estado de Santa Catarina tivemos um total de 2074 indivíduos,
1037 (17,93%) casos e 1037 (17,93%) controles e o estado do Rio Grande do Sul com 5714
indivíduos, tivemos 2857 (49,41%) casos e 2857 (49,41%) controles.
35
n (%) n (%) Total χ²
4787 82,79 4787 82,79 9574
995 17,21 995 17,21 1990
5782 100,00 5782 100,00 11564
825 14,27 825 14,27 1650
4957 85,73 4957 85,73 9914
5782 100,00 5782 100,00 11564
4041 69,89 4061 70,24 8102
678 11,73 621 10,74 1299
4719 81,62 4682 80,98 9401
665 11,50 546 9,44 1211
2037 35,23 1781 30,80 3818
377 6,52 522 9,03 899
3079 53,25 2849 49,27 5928
1888 32,65 1888 32,65 3776
1037 17,93 1037 17,93 2074
2857 49,41 2857 49,41 5714
5782 100,00 5782 100,00 11564
Região Sul
30-44 anos
1,00*45-59 anos
Total
Sexo
Ocupação
Casos Controles
População
Brancos
0,12Não Brancos
Total
Masculino
1,00*Feminino
Total
Faixa Etária
De 1 a 7 anos de estudo
8 anos ou mais de estudo
Total
Estado de Residência
Raça
Escolaridade
Paraná
Santa Catarina
Rio Grande do Sul1,00*
Total
Nenhuma
0,00
Tabela 1 – Distribuição das variáveis sócio-demográficas para casos e controles.
Nota: Casos e controles com status ignorado foram excluídos da tabela. * - Casos e controles pareados.
Na tabela 2 podemos observar as razões de chance calculadas para mortalidade por
câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, no
período de 1996 a 2005. Dos 5872 casos da região sul, 1353 (23,40%) eram agricultores e
4429 (76,60%) eram não agricultores. Já entre os 5872 controles, 1047 (18,11%) eram
agricultores e 4735 (81,89%) não agricultores. Assim, observamos um aumento significativo
no risco de morte por câncer esofágico entre os agricultores residentes de toda a região sul
combinada (OR: 1,38; IC 95%: 1,26 – 1,51).
36
Da mesma forma, para o estado do Paraná, dos 1888 casos selecionados, 521 (27,60%)
eram agricultores, e 1367 (72,40%) eram não agricultores. Entre os controles, 413 (21,88%)
eram agricultores e 1475 (78,13%) eram não agricultores, levando a uma razão de chance de
morte por neoplasia do esôfago entre agricultores do estado do Paraná de 1,36 (IC 95%: 1,17
– 1,58).
Já no estado de Santa Catarina, pelo pareamento dos grupos caso e controle, foram
selecionados 1037 indivíduos em ambos os grupos. Entre os casos, 231 (22,28%) eram
agricultores e 806 (77,72%) eram não agricultores, enquanto que entre os controles, 172
(16,59%) eram agricultores e 865 (83,41%) eram não agricultores. Assim, o risco de morte
por câncer de esôfago foi estimado em 1,44 vezes maior entre agricultores, quando
comparados a não agricultores, residentes neste estado. O intervalo de confiança não incluiu a
unidade (IC 95%: 1,15 – 1,79).
Finalmente, para o estado do Rio Grande do Sul, foram selecionados 2857 casos e
controles. Entre os casos, 601 (21,04%) eram agricultores e 2256 (78,96%) eram não
agricultores. A mesma distribuição entre os controles resultou em 462 (16,17%) agricultores
e 2395 (83,83%) eram não agricultores. Para este estado, tal distribuição denota mais uma vez
um aumento significativo no risco de morte por neoplasia esofágica entre agricultores (OR:
1,38; IC 95%: 1,21 – 1,58).
37
n (%) n (%) Total OR IC
1353 23,40 1047 18,11 2400
4429 76,60 4735 81,89 9164
5782 100,00 5782 100,00 11564
521 27,60 413 21,88 934
1367 72,40 1475 78,13 2842
1888 100,00 1888 100,00 3776
231 22,28 172 16,59 403
806 77,72 865 83,41 1671
1037 100,00 1037 100,00 2074
601 21,04 462 16,17 1063
2256 78,96 2395 83,83 4651
2857 100,00 2857 100,00 5714
Agricultores
Não-Agricultores
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Rio Grande do Sul
População
Região Sul
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Paraná
Ocupação
Total
Santa Catarina
Casos Controles
1,38 (1,21 - 1,58)
1,38 (1,26-1,51)
1,36 (1,17 - 1,58)
1,44 (1,15 - 1,79)
Tabela 2: Razão de chance de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, de 1996 a 2005
A tabela 3 apresenta as estimativas do risco de morte por câncer de esôfago entre
agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificadas por sexo, no
período de 1996 a 2005. Os resultados mostram que dos 4787 casos do sexo masculino, 1236
(25,82%) eram agricultores e 3551 (74,18%) eram de não agricultores e que entre os 4787
controles do sexo masculino, apenas 967 (20,20%) eram agricultores e 3820 (79,80%) eram
de não agricultores. O cálculo da razão de chance sugere uma elevação, estatisticamente
significante, no risco de morte por neoplasia esofágica entre os agricultores do sexo
masculino residentes na região sul como um todo (OR: 1,37; IC 95%: 1,25 – 1,51). Já entre as
mulheres da mesma região, este risco foi ainda mais elevado (OR: 1,53; IC 95%: 1,14 – 2,07).
38
A análise estratificada por sexo para o estado do Paraná revelou que dos 1524 casos do
sexo masculino, 469 (30,77%) eram agricultores e 1055 (69,23%) eram de não agricultores e
que para o mesmo número de controles do sexo masculino, 383 (25,13%) eram de
agricultores e 1141 (74,87%) eram de não agricultores. Mais uma vez, observamos um
aumento significativo no risco para câncer de esôfago para os agricultores do sexo masculino
(OR: 1,32; IC 95%: 1,13 – 1,55). Da mesma forma que para a região sul como um todo, o
risco de morte por câncer de esôfago entre agricultoras do estado do Paraná foi mais alto que
o observado entre os homens e quase 2 vezes maior comparado as não agricultoras (OR: 1,91;
IC 95%: 1,18 – 3,09).
Em Santa Catarina, dos 926 casos selecionados do sexo masculino, 212 (22,89%)
eram agricultores e 714 (77,11%) não agricultores. A mesma distribuição para o igual número
de controles resultou em 161 (17,39%) agricultores e 765 (82,61%) não agricultores. Com
base em tal distribuição, a razão de chance para os agricultores do sexo masculino foi de 1,41
(IC 95%: 1,12 – 1,77). Já entre as mulheres deste mesmo estado, observamos 111 casos, com
19 (17,12%) agricultoras e 92 (82,88%) não agricultoras e 111 controles, com 11 (9,91%)
agricultoras e 100 (90,09%) não agricultoras. Uma vez mais, tais números revelaram uma
estimativa de risco de morte por câncer de esôfago mais elevadas para agricultores do sexo
feminino. Neste caso, o reduzido número de casos implicou em um intervalo de confiança
mais extenso e que incluiu a unidade (OR: 1,87; IC 95%: 0,85 – 4,15).
Por fim, no estado do Rio Grande do Sul obtivemos 2337 casos do sexo masculino,
sendo 554 (23,71%) agricultores e 1783 (76,29%) não agricultores. Entre os controles, 422
(18,06%) eram agricultores e 1945 (83,23%) eram não agricultores. Houve um aumento
significativo no risco de morte entre os agricultores do sexo masculino (OR: 1,41; IC 95%:
1,22 – 1,62). Diferente do observado anteriormente, o risco de morte para câncer de esôfago
foi menor entre as agricultoras para o estado do Rio Grande do Sul, quando comparados com
39
n (%) n (%) Total OR IC
1236 25,82 967 20,20 2203
3551 74,18 3820 79,80 7371
4787 100,00 4787 100,00 9574
118 11,86 80 8,04 198
877 88,14 915 91,96 1792
995 100,00 995 100,00 1990
469 30,77 383 25,13 852
1055 69,23 1141 74,87 2196
1524 100,00 1524 100,00 3048
51 14,01 29 7,97 80
313 85,99 335 92,03 648
364 100,00 364 100,00 728
212 22,89 161 17,39 373
714 77,11 765 82,61 1479
926 100,00 926 100,00 1852
19 17,12 11 9,91 30
92 82,88 100 90,09 192
111 100,00 111 100,00 222
554 23,71 422 18,06 976
1783 76,29 1945 83,23 3698
2337 100,00 2337 100,00 4674
47 9,04 40 7,69 87
473 90,96 480 92,31 953
520 100,00 520 100,00 1040
1,19 (0,76 - 1,85)
1,41 (1,12 - 1,77)
1,87 (0,85 - 4,15)
1,41 (1,22 - 1,62)
(1,25-1,51)
1,53 (1,14-2,07)
1,32 (1,13 - 1,55)
1,91 (1,18 - 3,09)
Não-Agricultores
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Feminino
Total
Rio Grande do Sul
Masculino
Não-Agricultores
Total
Agricultores
Total
Feminino
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Santa Catarina
Masculino
Feminino
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino
Agricultores
Feminino
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino
Agricultores
Não-Agricultores
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Paraná
1,37
Ocupação
Casos Controles
População
Região Sul
os agricultores, mas mais elevado, ainda que não significante do ponto de vista estatístico, que
entre não agricultoras (OR: 1,19; IC 95%: 0,76 – 1,85).
Tabela 3: Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por sexo, de 1996 2005
40
A influência da idade sobre o risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores
da região sul do Brasil no período de 1996 a 2005 é apresentada na tabela 4. Os resultados
obtidos mostram que dos 825 casos selecionados na faixa etária mais jovem (30-44 anos) em
toda a região sul, 185 (22,42%) eram agricultores e 640 (77,58%) não agricultores. Já entre o
igual número de controles da mesma faixa etária, 132 (16,00%) eram agricultores e 693
(84,00%) não agricultores. Nesta faixa etária então, o risco de morte por câncer esofágico foi
cerca de 50% maior entre os agricultores quando comparados aos não agricultores (OR: 1,52;
IC 95%: 1,18 – 1,94). Com relação à faixa etária de maior idade (45-59 anos), a região sul
combinada apresentou um total de 4957 casos e 4957 controles entre 1996-2005. Entre os
casos, 1168 (23,56%) eram agricultores e 3789 (76,44%) eram não agricultores. Entre os
controles, 915 (18,46%) eram agricultores e 4042 (81,54%) eram não agricultores. O risco de
morte por câncer de esôfago entre os agricultores foi significativamente maior, quando
comparado aos controles, na maior faixa etária estudada (OR: 1,36; IC 95%: 1,23 – 1,50).
Cabe ressaltar que tal risco foi ligeiramente inferior aquele observado para agricultores mais
jovens.
Da mesma maneira no estado do Paraná obtivemos 263 casos dentro da faixa etária
mais jovem (30-44 anos), onde 77 (29,28%) eram agricultores e 186 (70,72%) eram não
agricultores. Nos 263 controles, 49 (18,63%) eram agricultores e 214 (81,37%) eram não
agricultores. A razão de chance calculada para esta distribuição revelou um aumento
significativo no risco de morte por câncer de esôfago entre os agricultores mais jovens no
estado do Paraná (OR: 1,81; IC 95%: 1,20 – 2,72). Como na análise anterior, para toda a
região sul, o risco de câncer de esôfago, ainda que significativamente maior entre agricultores,
foi menor entre aqueles mais velhos que entre os mais jovens (OR: 1,30; IC 95%: 1,11 –
1,53).
41
Em Santa Catarina, dos 874 casos selecionados na faixa etária mais velha, 195
(22,31%) eram agricultores e 679 (77,69%) eram não agricultores. Já entre os controles, 140
(16,02%) agricultores e 734 (83,98%) não agricultores foram selecionados. O risco de morte
por câncer esofágico nesta faixa etária foi mais elevado entre os agricultores (OR: 1,50; IC
95%: 1,18 – 1,91). Já o risco de morte entre os agricultores mais jovens, diferente do
observado anteriormente, foi mais baixo que aquele observado entre os mais velhos, mas
superior, ainda que não significante estatisticamente, que o de não agricultores.
Por último, a análise do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do Rio
Grande do Sul, estratificada pela faixa etária, revelou um perfil semelhante aquele observado
para o estado do Paraná e a própria região sul como um todo. Entre os agricultores mais
jovens, dos 399 casos selecionados, 72 (18,05%) foram agricultores e 327 (81,95%) não
agricultores. Obtivemos, por pareamento, também 399 controles, onde 51 (12,78%) eram
agricultores e 348 (87,22%) não agricultores. Para este estado, o risco de morte por câncer de
esôfago entre os agricultores mais jovens do estado do Rio Grande do Sul foi
significativamente mais elevado que entre não agricultores (OR: 1,50; IC 95%: 1,02 – 2,21).
Tal risco, entre os agricultores mais velhos também foi mais elevado que entre os não
agricultores, porém menor em menor magnitude que aquele observado entre os agricultores
mais jovens (OR: 1,36; IC 95%: 1,18 – 1,57).
42
n (%) n (%) Total OR IC
185 22,42 132 16,00 317
640 77,58 693 84,00 1333
825 100,00 825 100,00 1650
1168 23,56 915 18,46 2083
3789 76,44 4042 81,54 7831
4957 100,00 4957 100,00 9914
77 29,28 49 18,63 126
186 70,72 214 81,37 400
263 100,00 263 100,00 526
444 27,32 364 22,40 808
1181 72,68 1261 77,60 2442
1625 100,00 1625 100,00 3250
36 22,09 32 19,63 68
127 77,91 131 80,37 258
163 100,00 163 100,00 326
195 22,31 140 16,02 335
679 77,69 734 83,98 1413
874 100,00 874 100,00 1748
72 18,05 51 12,78 123
327 81,95 348 87,22 675
399 100,00 399 100,00 798
529 21,52 411 16,72 940
1929 78,48 2047 83,28 3976
2458 100,00 2458 100,00 4916
(1,02 - 2,21)
1,36 (1,18 - 1,57)
1,30 (1,11 - 1,53)
1,16 (0,68 - 1,98)
1,50 (1,18 - 1,91)
1,52 (1,18-1,94)
1,36 (1,23-1,50)
1,81 (1,20 - 2,72)
Ocupação
Casos Controles
População
Região Sul
Faixa Etária (30 - 44 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Faixa Etária (45 - 59 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Paraná
Faixa Etária (30 - 44 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Faixa Etária (45 - 59 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Santa Catarina
Faixa Etária (30 - 44 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Faixa Etária (45 - 59 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Rio Grande do Sul
Faixa Etária (30 - 44 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
1,50
Faixa Etária (45 - 59 anos)
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Tabela 4: Razão de chance de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por faixa etária, de 1996 a 2005
Na tabela 5, observamos as razões de chance para a mortalidade por câncer de esôfago
entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por raça,
no período de 1996 a 2005. O número de indivíduos brancos foi bem maior no estudo, o que
pode ser explicado pela ocupação da região sul ter sido formada por povos em sua maioria de
43
origem germânica. Os resultados obtidos mostram que foram selecionados um total de 4041
casos de indivíduos brancos, onde 961 (23,78%) eram agricultores e 3080 (76,22%) eram não
agricultores. Para os controles obtivemos um total de 4061 indivíduos brancos, onde 740
(18,22%) eram agricultores e 3321 (81,78%) de não agricultores. O cálculo da razão de
chance sugere um aumento no risco de morte por câncer de esôfago entre os agricultores de
raça branca da região sul combinada (OR: 1,40; IC 95%: 1,25 – 1,56). Dada a magnitude da
estimativa do mesmo risco calculado para indivíduos não brancos (OR: 1,37; IC 95%: 1,02 –
1,82), supõem-se que o risco de câncer esofágico não difere significativamente entre
agricultores brancos e não brancos na região sul do País.
Os resultados obtidos para o estado do Paraná apresentam padrão semelhante aquele
observado para a região sul como um todo. O risco de morte por câncer de esôfago foi
significativamente maior entre agricultores brancos quando comparados a não agricultores
também classificados como brancos no Sistema de Informação de Mortalidade (OR: 1,33; IC
95%: 1,11 – 1,60) e este risco também foi mais elevado e em igual magnitude entre
agricultores não brancos quando comparados ao grupo pertinente, ainda que não significativo
do ponto de vista estatístico (OR: 1,37; IC 95%: 0,89 – 2,10).
Já a distribuição de agricultores e não agricultores entre os grupos de casos e
controles, em função da raça no estado de Santa Catarina revelou uma diferença importante
no risco de morte por neoplasia esofágica. Enquanto que este risco foi cerca de 60% mais
elevado e significativo entre os agricultores brancos deste estado (OR: 1,60; IC 95%: 1,21 –
2,10), o cálculo da razão de chances para a distribuição de agricultores e não agricultores não
brancos entre casos e controles, não sugeriu nenhuma elevação no risco de morte por câncer
de esôfago naquele grupo ocupacional (OR: 0,98; IC 95%: 0,41 – 2,35).
44
No estado do Rio Grande do Sul os resultados obtidos mostram um total de 2096 casos
de indivíduos brancos, onde 462 (22,04%) eram agricultores e 1634 (77,96%) eram não
agricultores. Para os controles obtivemos um total de 2146 indivíduos brancos, onde 365
(17,01%) eram agricultores e 1781 (82,99%) eram não agricultores. Esta distribuição sugere
um aumento significativo no risco de morte por câncer esofágico entre agricultores brancos
do estado do Rio Grande do Sul (OR: 1,38; IC 95%: 1,18 – 1,60). Já entre os agricultores não
brancos, este risco foi ainda mais elevado (OR: 1,64; IC 95%: 1,05 – 2,56), diferente do
observado para o estado de Santa Catarina, onde o risco de morte entre agricultores brancos
foi mais elevado e diferente também do observado para o estado do Paraná, onde a magnitude
do risco foi similar para agricultores brancos e não brancos.
45
n (%) n (%) Total OR IC
961 23,78 740 18,22 1701
3080 76,22 3321 81,78 6401
4041 100,00 4061 100,00 8102
137 20,21 97 15,62 234
541 79,79 524 84,38 1065
678 100,00 621 100,00 1299
343 26,97 266 21,68 609
929 73,03 961 78,32 1890
1272 100,00 1227 100,00 2499
61 27,73 52 21,85 113
159 72,27 186 78,15 345
220 100,00 238 100,00 458
156 23,18 109 15,84 265
517 76,82 579 84,16 1096
673 100,00 688 100,00 1361
15 20,83 11 21,15 26
57 79,17 41 78,85 98
72 100,00 52 100,00 124
462 22,04 365 17,01 827
1634 77,96 1781 82,99 3415
2096 100,00 2146 100,00 4242
61 15,80 34 10,27 95
325 84,20 297 89,73 622
386 100,00 331 100,00 717
(1,18 - 1,60)
1,64 (1,05 - 2,56)
1,37 (0,89 - 2,10)
1,60 (1,21 - 2,10)
0,98 (0,41 - 2,35)
1,40 (1,25-1,56)
1,37 (1,02-1,82)
1,33 (1,11 - 1,60)
Ocupação
Casos Controles
População
Região Sul
Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Não Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Paraná
Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Não Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Santa Catarina
Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Não Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Rio Grande do Sul
Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
1,38
Não Brancos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Tabela 5: Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por raça, de 1996 a 2005
46
A tabela 6 apresenta as estimativas de risco de morte por câncer de esôfago entre
agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificadas pela
escolaridade, no período de 1996 a 2005. Os dados combinados para a região sul como um
todo sugerem mais uma vez que os agricultores estiveram sob um risco mais elevado de
morrer por câncer de esôfago no período estudado. Este risco foi maior entre os agricultores
sem nenhuma escolaridade (OR: 1,65; IC 95%: 1,30 – 2,10), seguidos pelos agricultores com
1 a 7 anos de escolaridade (OR: 1,30; IC 95%: 1,12 – 1,51) e por aqueles com maior nível
educacional (8 ou mais anos de estudo) (OR: 1,13; IC 95%: 0,68 – 1,87), quando comparados
a não agricultores com o mesmo nível educacional.
No estado do Paraná a relação entre mortalidade por câncer de esôfago e ocupação
agrícola, em função da escolaridade, sugere que o risco de morte também é maior entre os
agricultores sem escolaridade (OR: 1,87; IC 95%: 1,32 – 2,66). Entretanto, para este estado, o
risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores de maior escolaridade, ainda que não
tenha atingido significância estatística, também foi elevado e estimado na mesma magnitude
(OR: 1,83; IC 95%: 0,78 – 4,30) que para os agricultores sem escolaridade. O grupo de
agricultores com nível educacional intermediário (1 a 7 anos de estudo) apresentou um risco
mais elevado que não agricultores de mesma escolaridade, porém a magnitude deste risco foi
a menor entre as três categorias de educação (OR: 1,18; IC 95%: 0,95 – 1,48).
Para o estado de Santa Catarina, uma vez mais os resultados sugerem um aumento no
risco de câncer de esôfago entre agricultores deste estado, mesmo quando a análise leva em
consideração o nível educacional destes profissionais. As estimativas de risco não atingiram
significância estatística. No entanto, os números sugerem que este risco é maior entre os
agricultores de maior escolaridade (OR: 1,74; IC 95%: 0,54 – 5,67) e entre aqueles sem
escolaridade (OR: 1,71; IC 95%: 0,86 – 3,38) e menor entre aqueles de escolaridade
47
intermediaria (OR: 1,40; IC 95%: 0,98 – 2,02), quando comparados com não agricultores de
igual escolaridade.
Por fim, para o estado do Rio Grande do Sul, os resultados indicam um padão diverso
ao observado anteriormente, com a maior magnitude no risco de câncer esofágico observado
entre os agricultores com nível de escolaridade intermediário (OR: 1,56; IC 95%: 1,24 –
1,97). Para os demais níveis de escolaridade, observamos uma elevação, não significante
estatisticamente, no risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores sem escolaridade
(OR: 1,40; IC 95%: 0,97 – 2,07), mas uma redução neste risco, que também não atingiu
significância estatística, entre agricultores com maior nível de escolaridade (OR: 0,50; IC
95%: 0,17 – 1,47).
48
n (%) n (%) Total OR IC
276 41,50 164 30,04 440
389 58,50 382 69,96 771
665 100,00 546 100,00 1211
554 27,20 396 22,23 950
1483 72,80 1385 77,77 2868
2037 100,00 1781 100,00 3818
30 7,96 37 7,09 67
347 92,04 485 92,91 832
377 100,00 522 100,00 899
144 46,45 79 31,60 223
166 53,55 171 68,40 337
310 100,00 250 100,00 560
228 26,79 193 23,57 421
623 73,21 626 76,43 1249
851 100,00 819 100,00 1670
14 12,61 10 7,30 24
97 87,39 127 92,70 224
111 100,00 137 100,00 248
33 44,00 22 31,43 55
42 56,00 48 68,57 90
75 100,00 70 100,00 145
96 23,53 59 17,93 155
312 76,47 270 82,07 582
408 100,00 329 100,00 737
8 12,90 5 7,81 13
54 87,10 59 92,19 113
62 100,00 64 100,00 126
99 35,36 63 27,88 162
181 64,64 163 72,12 344
280 100,00 226 100,00 506
233 26,60 154 18,78 387
643 73,40 666 81,22 1309
876 100,00 820 100,00 1696
5 4,72 12 8,96 17
101 95,28 122 91,04 223
106 100,00 134 100,00 240
1,56 (1,24-1,97)
0,50 (0,17 - 1,47)
1,40 (0,98-2,02)
1,74 (0,54 - 5,67)
1,41 (0,97-2,07)
1,18 (0,95-1,48)
1,83 (0,78 - 4,30)
1,71 (0,86-3,38)
(1,30-2,10)
1,30 (1,12-1,51)
1,13 (0,68 - 1,87)
1,87 (1,32-2,66)
Agricultores
Ocupação
Casos Controles
População
Região Sul
1,65
Não-Agricultores
Total
8 anos ou mais de estudo
Nenhuma escolaridade
Agricultores
Não-Agricultores
Total
De 1 a 7 anos de estudo
Paraná
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Não-Agricultores
Total
Nenhuma escolaridade
Agricultores
Não-Agricultores
Total
8 anos ou mais de estudo
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Santa Catarina
Nenhuma escolaridade
Agricultores
Não-Agricultores
Não-Agricultores
Agricultores
De 1 a 7 anos de estudo
Total
8 anos ou mais de estudo
Agricultores
Total
De 1 a 7 anos de estudo
Agricultores
Não-Agricultores
De 1 a 7 anos de estudo
Agricultores
Não-Agricultores
Total
8 anos ou mais de estudo
Não-Agricultores
Total
Rio Grande do Sul
Nenhuma escolaridade
Agricultores
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Total
Tabela 6: Risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil e seus estados constituintes, estratificado por escolaridade, de 1996 a 2005
49
Na tabela 7, as estimativas do risco de morte por câncer esofágico entre agricultores da
região sul do Brasil, no período de 1996 a 2005, foram ponderadas pela influência das
variáveis: sexo, raça, escolaridade e faixa etária conjuntamente. Os resultados obtidos
sugerem que este risco é maior entre os agricultores do sexo masculino, não brancos, sem
nenhuma escolaridade e com idades entre 45 e 59 anos (OR: 2,59; IC 95%: 1,20 – 5,58). O
risco ainda foi bastante elevado, ainda que não estatisticamente significativo (OR: 2,13; IC
95%: 1,00 – 4,56) entre aqueles agricultores do sexo feminino, brancas, sem escolaridade e
com idades entre 45 e 59 anos. Em seguida, a terceira maior magnitude no risco de morte por
câncer de esôfago foi observada entre os agricultores do sexo masculino, brancos, com 1 a 7
anos de escolaridade e 30 a 44 anos de idade (OR: 1,72; IC 95%: 1,06 – 2,79), quando
comparados com não agricultores com as mesmas características. Além destes resultados,
cabe chamar a atenção para o fato de que todas as demais estimativas de risco indicam que
este é maior entre os agricultores que entre não agricultores, independente de sexo, faixa
etária, escolaridade e raça. As demais estimativas variaram de OR= 1,05 a OR= 1,41. Dentre
estas, a única que atingiu significância estatística foi observada entre agricultores do sexo
masculino, brancos, com 1 a 7 anos de escolaridade e idades entre 45 e 59 anos (OR: 1,28; IC
95%: 1,07 – 1,53).
50
n (%) n (%) Total OR IC
16 42,11 10 37,04 26
22 57,89 17 62,96 39
38 100,00 27 100,00 65
128 46,38 85 38,81 213
148 53,62 134 61,19 282
276 100,00 219 100,00 495
58 28,16 33 18,54 91
148 71,84 145 81,46 293
206 100,00 178 100,00 384
392 31,16 284 26,10 676
866 68,84 804 73,90 1670
1258 100,00 1088 100,00 2346
30 44,12 14 23,33 44
38 55,88 46 76,67 84
68 100,00 60 100,00 128
8 21,62 7 20,00 15
29 78,38 28 80,00 57
37 100,00 35 100,00 72
48 26,37 32 20,25 80
134 73,63 126 79,75 260
182 100,00 158 100,00 340
26 26,80 12 14,63 38
71 73,20 70 85,37 141
97 100,00 82 100,00 179
29 14,01 30 13,45 59
178 85,99 193 86,55 371
207 100,00 223 100,00 430
1,23 (0,45-3,04)
1,36 (0,95-1,95)
1,72 (1,06 - 2,79)
Ocupação
Casos Controles
População
Região Sul
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,30-44 anos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,30-44 anos
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Masculino,Não Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
Agricultores
Não-Agricultores
Total
Não-Agricultores
Não-Agricultores
Total
Masculino,Não Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
Total
Masculino,Não Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,30-44 anos
Agricultores
Não-Agricultores
Feminino,Brancas,nenhuma escolaridade,45-59 anos
1,41 (0,85 - 2,34)
1,05 (0,60 - 1,81)
Total
Feminino,Brancas,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
Não-Agricultores
1,28 (1,07 - 1,53)
2,59 (1,20 - 5,58)
1,10 (0,35 - 3,45)
Agricultores
Total
Total
(1,00-4,56)2,13Não-Agricultores
Tabela 7: Estimativa do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores da região sul do Brasil combinada, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a 2005
51
As estimativas do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores, no período
de 1996 a 2005, estratificados por sexo, faixa etária, raça e escolaridade, conjuntamente, ao
nível de cada estado apresentou o inconveniente do número reduzido de casos em estrato,
com conseqüentes intervalos de confiança muito largos. A tabela 8 apresenta tal análise para o
estado do Paraná. Nesta análise, cabe ressaltar que os resultados sugerem um risco de morte
por câncer de esôfago cerca de 2 vezes mais alto entre agricultores do sexo feminino, brancas,
sem escolaridade e com idades entre 45-59 anos (OR: 1,99; IC 95%: 0,69 – 5,73) e entre
aqueles do sexo masculino, não brancos, sem escolaridade e 45 a 59 anos de idade (OR: 1,96;
IC 95%: 0,67 – 5,73). Este risco foi ainda cerca de 70% maior entre agricultores do sexo
masculino, brancos, sem escolaridade e idade entre 45-59 anos (OR: 1,71; IC 95%: 0,96 –
3,06).
52
n (%) n (%) Total OR IC
60 56,07 35 42,68 95
47 43,93 47 57,32 94
107 100,00 82 100,00 189
23 27,38 15 19,48 38
61 72,62 62 80,52 123
84 100,00 77 100,00 161
155 29,87 136 27,31 291
364 70,13 362 72,69 726
519 100,00 498 100,00 1017
13 40,63 8 25,81 21
19 59,38 23 74,19 42
32 100,00 31 100,00 63
26 32,50 22 24,44 48
54 67,50 68 75,56 122
80 100,00 90 100,00 170
14 25,45 6 14,63 20
41 74,55 35 85,37 76
55 100,00 41 100,00 96
Ocupação
Casos Controles
População
Paraná
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,71 (0,96-3,06)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,30-44 anos
Agricultores
1,56 (0,74 - 3,26)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,13 (0,86 - 1,49)Não-Agricultores
Total
Masculino,Não Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,96 (0,67 - 5,73)Não-Agricultores
Total
Masculino,Não Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,49 (0,76 - 2,91)Não-Agricultores
Total
Feminino,Brancas,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,99 (0,69-5,73)Não-Agricultores
Total
Tabela 8: Estimativas do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do estado do Paraná, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a 2005
53
Na tabela 9 são apresentadas as estimativas do risco de morte por câncer de esôfago
entre agricultores do estado de Santa Catarina, estratificado por sexo, raça, escolaridade e
faixa etária no período de 1996 a 2005. Nesta análise, cabe destacar uma elevação de cerca de
66% no risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do sexo masculino, brancos,
sem escolaridade e 45-59 anos de idade (OR: 1,66; IC 95%: 0,58 – 4,73) e um aumento de
cerca de 54% no mesmo risco entre agricultores homens, brancos, com 1 a 7 anos de
escolaridade e idades entre 45-59 anos (OR: 1,54; IC 95%: 1,00 – 2,37).
54
n (%) n (%) Total OR IC
15 44,12 9 32,14 24
19 55,88 19 67,86 38
34 100,00 28 100,00 62
10 28,57 8 22,86 18
25 71,43 27 77,14 52
35 100,00 35 100,00 70
72 27,38 43 19,63 115
191 72,62 176 80,37 367
263 100,00 219 100,00 482
5 14,29 5 11,63 10
30 85,71 38 88,37 68
35 100,00 43 100,00 78
Ocupação
Casos Controles
População
Santa Catarina
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,66 (0,58-4,73)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,30-44 anos
Agricultores
1,35 (0,46 - 3,96)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,54 (1,00 - 2,37)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,8 anos ou mais de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,26 (0,33 - 4,78)Não-Agricultores
Total
Tabela 9: Risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do estado de Santa Catarina, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a 2005
55
Por fim, as estimativas do risco de morte por câncer de esôfago entre agricultores do
estado do Rio Grande do Sul, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária no
período de 1996 a 2005, são apresentadas na tabela 10. Para o referido estado, cabe destacar,
não só pela magnitude, mas também pela significância estatística o aumento no risco de morte
entre agricultores do sexo masculino, brancos, com 1 a 7 anos de escolaridade e 45-59 anos de
idade (OR: 1,58; IC 95%: 1,20 – 2,10). Dentre os demais resultados obtidos para este estado,
cabe ressaltar que todas as estimativas sugerem que agricultores apresentaram maior risco de
morte por câncer de esôfago. Estas estimativas variaram entre OR=1,05 e OR=1,81, mas não
atingiram significância estatística.
56
n (%) n (%) Total OR IC
6 37,50 4 36,36 10
10 62,50 7 63,64 17
16 100,00 11 100,00 27
53 39,26 41 37,61 94
82 60,74 68 62,39 150
135 100,00 109 100,00 244
25 26,60 13 16,67 38
69 73,40 65 83,33 134
94 100,00 78 100,00 172
168 31,28 109 22,29 277
369 68,72 380 77,71 749
537 100,00 489 100,00 1026
15 20,00 11 17,19 26
60 80,00 53 82,81 113
75 100,00 64 100,00 139
9 23,68 6 17,14 15
29 76,32 29 82,86 58
38 100,00 35 100,00 73
17 17,00 15 11,81 32
83 83,00 112 88,19 195
100 100,00 127 100,00 227
Ocupação
Casos Controles
População
Rio Grande do Sul
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,30-44 anos
Agricultores
1,05 (0,21-5,16)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,07 (0,64-1,80)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,30-44 anos
Agricultores
1,81 (0,85 - 3,84)Não-Agricultores
Total
Masculino,Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,58 (1,20 - 2,10)Não-Agricultores
Total
Masculino,Não Brancos,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,20 (0,51 - 2,85)Não-Agricultores
Total
Feminino,Brancas,nenhuma escolaridade,45-59 anos
Agricultores
1,50 (0,47-4,75)Não-Agricultores
Total
Feminino,Brancas,De 1 a 7 anos de estudo,45-59 anos
Agricultores
1,53 (0,72 - 3,24)Não-Agricultores
Total
Tabela 10: Razão de chance para mortalidade por câncer de esôfago entre agricultores do estado do Rio Grande do Sul, estratificado por sexo, raça, escolaridade e faixa etária, de 1996 a 2005
57
5. DISCUSSÃO
Os problemas de saúde que afetam os trabalhadores agrícolas e são objetos de estudo a
várias décadas, começaram a aumentar drasticamente dos anos 40 e 50 com a crise alimentar
que assolou principalmente os países desenvolvidos e em desenvolvimento e que exigiu ações
rápidas e constantes visando melhorar a produtividade, principalmente das culturas de grãos,
como arroz, trigo e milho. Assim ocorreu de fato uma grande elevação na produtividade
agrícola, mas em contrapartida observou-se também desde então um aumento nos danos
provocados a saúde dos agricultores e nas taxas de mortalidade por lesões relacionadas ao
trabalho agrícola.
Estudo realizado por Pickett, et al (1999) com agricultores no Canadá entre 1991 e
1995 indica que a taxa anual de mortalidade relacionada a acidentes de trabalho foi de 11,6
por 100.000 agricultores. Durante o período do estudo 503 agricultores morreram, sendo que
47,5% (n = 239) dos óbitos foram causados por maquinário pesado como tratores, 24,3% (n =
122) foram causados por outras máquinas agrícolas além de tratores e 28,4% (n = 143) foram
causados por outros fatores que não maquinários. Em comparação a taxa de mortalidade nas
outras indústrias canadenses que é de 0,9 a 71,0 por 100 000 habitantes, o estudo classifica a
agricultura como a quarta atividade laboral mais perigosa para os trabalhadores.
Além da mortalidade causada por maquinário, o trabalhador agrícola está exposto a
diversos agentes químicos utilizados nas lavouras visando o aumento da produção. Dentre
estes, os agrotóxicos tem merecido grande destaque na literatura. O Brasil em 2008 superou o
consumo de agrotóxicos dos Estados Unidos e hoje é o maior consumidor desses produtos
com quase 7 bilhões gastos em defensivos agrícolas segundo dados da Secretaria de
Agricultura. Segundo Moreira, et al (2002), a ampla utilização desses produtos, o
desconhecimento dos riscos associados a sua utilização, o conseqüente desrespeito às normas
58
básicas de segurança, a livre comercialização, a grande pressão comercial por parte das
empresas distribuidoras e produtoras e os problemas sociais encontrados no meio rural
constituem importantes causas que levam ao agravamento dos quadros de contaminação dos
agricultores com enormes prejuízos a saúde como o aumento do número de casos de câncer
entre os agricultores (PIMENTEL, 1996).
Meyer et al (2003) encontraram um total de 3871 casos de morte em agricultores na
região serrana do estado do Rio de Janeiro no período de 1979 a 1998. Desse total, 410
(10,6%) foram óbitos causados por câncer em geral, sendo que 17,7% foram por câncer de
esôfago. No estudo promovido por Wünsch et al (2002), revelou que as taxas de mortalidade
por todos os tipos de câncer eram mais altas nas regiões Sul e Sudeste, e estavam aumentando
nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Chrisman et al (2008) corroboram esses
resultados pois encontraram altas taxas de mortalidade por câncer nas regiões sul e sudeste do
Brasil, e ainda verificaram que o estado do Rio Grande do Sul apresentou as maiores taxas de
mortalidade para 8 dos 15 tipos analisados de câncer no estudo, dentre eles o câncer de
esôfago. E ainda que os estados do Paraná e Santa Catarina possuem altas taxas de
mortalidade para algumas formas de câncer.
O câncer de esôfago pode ser visto como um dos mais importantes sob o ponto de
vista médico, devido à sua alta letalidade e à freqüência com que ocorre em todo o mundo,
além da ampla variação em suas taxas de incidência e mortalidade, mesmo dentro de
pequenas áreas geográficas (DE STEFANI et al, 1990; GIMENO et al, 1995; MUÑOZ &
DAY, 1996).
Estudos realizados principalmente em países industrializados sugerem que o câncer de
esôfago parece não figurar entre aqueles possivelmente associados com a atividade agrícola
ou mesmo o uso intensivo de agrotóxicos por parte dos agricultores (ACQUAVELLA, 1998).
No entanto, estudos realizados no Brasil indicam situação diversa. Por exemplo, agricultores
59
de 30 a 59 anos de idade, residentes na região serrana do Rio de Janeiro, apresentaram um
risco significativamente mais elevado de morte por câncer de esôfago quando comparados
com populações de referencia apropriadas (MEYER et al, 2003). Além disso, as taxas de
mortalidade por câncer de esôfago observadas em 11 estados Brasileiros no período de 1996-
1998 apresentaram moderada correlação com o gasto per capita de agrotóxicos nos mesmos
estados, uma década antes. Esta correlação persistiu mesmo quando ajustada por diversas
variáveis ecológicas disponíveis para estes estados como consumo per capita de legumes e
verduras, consumo per capita de cigarros, consumo per capita de álcool, dentre outras. Além
disso, a categorização dos 11 estados em 3 grupos de consumo (alto, médio e baixo) baseado
no tercil de gasto per capita, revelou que a taxa de mortalidade por câncer de esôfago nos
estados de alto e médio consumo foram significativamente maiores que aquela observada para
os estados de baixo consumo (CHRISMAN et al, 2008). Estes estudos sugerem que, ao menos
no Brasil, a atividade agrícola e/ou a exposição a agrotóxicos podem aumentar o risco de
câncer de esôfago. No entanto, tais estudos apresentam limitações metodológicas óbvias e
inerentes aos estudos ecológicos e de mortalidade que não permitem aferir tal associação com
maior precisão.
O presente estudo utilizou dados do Sistema de Informação de Mortalidade (SIM) do
ministério da saúde para avaliar a associação entre a ocupação agrícola e morte por câncer de
esôfago na região sul do Brasil. Tal desenho também apresenta limitações que podem gerar
vieses nas estimativas de risco, uma vez que as informações são obtidas através de um banco
de dados que compila as informações existentes nos registros de óbitos. Tal estratégia pode
levar a uma deterioração na qualidade da informação em variáveis importantes como raça,
escolaridade, entre outras. O SIM não coleta informações sobre alguns hábitos de vida dos
indivíduos como dieta, consumo de cigarros, consumo de álcool, etc., que classicamente
podem influenciar, nos mais diversos desfechos, como por exemplo, o câncer de esôfago,
60
objeto deste estudo. Além disso, o uso da mortalidade para avaliar a associação entre um
determinado fator de risco e o desenvolvimento de um tipo específico de câncer pode levar a
distorções nas estimativas de risco, pois dependem da sobrevida que cada tipo de câncer
apresenta. Entretanto, no caso específico do câncer de esôfago, em função da alta letalidade
ainda observada para este tipo de neoplasia, as taxas de mortalidade podem ser uma boa proxy
das taxas de incidência.
Diversos investigadores têm demonstrado que as informações sobre óbitos por
neoplasia como causa básica de morte apresentam boa confiabilidade e validade nos registros
de óbito (MONTEIRO et al, 1997a; MONTEIRO et al, 1997b; QUEIROZ et al, 2002;
NUNES et al, 2004). Além disso, a despeito das limitações apresentadas acima, o uso de
bases de dados sobre mortalidade apresenta algumas vantagens em relação aos dados de
incidência. Neste sentido, Hallal et al (2001), apontam, por exemplo, a sua maior estabilidade
e a disponibilidade de informações para um período mais longo de tempo.
De fato, diversos autores têm utilizado registros de óbito como fonte principal de
informação para a elaboração de estudos caso-controle com vistas a estimar a magnitude da
associação entre tipos variados de câncer e alguns fatores de risco. Por exemplo, Svec et al
(2005) realizaram um estudo caso-controle com base em registros de óbito para avaliar o risco
de morte por câncer do sistema linfohematopoiético em indivíduos ocupacionalmente
expostos a animais. Os autores observaram um modesto aumento no risco de morte pelos 4
tipos de câncer linfohematopoiético entre os indivíduos expostos a animais, em sua maioria
exposições agrícolas. O risco de linfoma mielóide em indivíduos possivelmente expostos a
radônio também foi avaliado em uma pequena província Italiana utilizando-se dados de
registro de óbito. Neste caso, os autores não encontraram evidências contundentes de
associação entre as variáveis. Dados de registro de óbito também serviram de base para um
estudo caso-controle cujo objetivo foi investigar o risco de câncer de estômago em 12 grupos
61
ocupacionais. O risco de morte por câncer de estômago foi ligeiramente maior em grupos
ocupacionais expostos a poeira e nitrosaminas.
Em um dos poucos estudos que sugeriram uma associação entre câncer de esôfago e
ocupação agrícola, Dietz et al (1998) entrevistaram 55 casos, recém diagnosticados, de câncer
de esôfago e 110 controles no estado do Rio Grande do Sul. A estimativa do risco foi cerca de
3 vezes maior entre agricultores que entre não agricultores. Os resultados do presente estudo
também indicam que agricultores da região sul do País, bem como dos estados do Paraná,
Santa Catarina e Rio Grande do Sul isoladamente, apresentaram risco mais elevado de câncer
esofágico quando comparados a não agricultores, como demonstrado pelas razões de chance
não ajustadas e seus respectivos intervalos de confiança.
A literatura científica aponta um predomínio da ocorrência da neoplasia de esôfago no
sexo masculino, com cerca de 3,5 vezes mais casos em homens que em mulheres. Esta
diferença na ocorrência da doença entre os sexos tem sido atribuída a uma prevalência
diferencial nos fatores de risco como tabagismo e o consumo de bebidas alcoólicas em ambos
os sexos (BLOT & MCLAUGHLIN, 1999; MALVEZZI et al, 2004).
No presente estudo, o número de casos selecionados do sexo masculino foi cerca de 5
vezes superior aquele selecionado do sexo feminino. À semelhança de nossos achados, com
os de Wünsch et al (2002), também observaram predomínio da mortalidade por câncer de
esôfago em homens. A despeito deste maior número de casos do sexo masculino, os
resultados obtidos neste estudo indicam que a magnitude do risco de morte por câncer de
esôfago foi maior para agricultores do sexo feminino quando comparados aos do sexo
masculino. Este padrão foi observado no estado do Paraná, Santa Catarina e para a região sul
como um todo, não sendo observado, portanto apenas para o estado do Rio Grande Sul. No
entanto, estes resultados precisam ser avaliados com cautela, uma vez que a estratificação por
62
sexo, faixa etária, raça e escolaridade conjuntamente, revelou, em geral, magnitudes no risco
de morte por câncer de esôfago mais elevadas em agricultores do sexo masculino.
Com relação à faixa etária, como era de se esperar, o número de indivíduos
selecionados na faixa etária mais velha (45 a 59 anos), foi bem mais elevado que aqueles
selecionados na faixa etária mais jovem (30 a 44 anos). Em vários estudos, as taxas de
mortalidade por câncer de esôfago são mais altas entre indivíduos com idades superiores a 59
anos de idade (Virender et al, 1998; Newnham et al, 2003). No estudo de Dietz et al (1998) o
número de casos foi maior na faixa etária de 50 até 59 anos (38,2%). No presente estudo, a
magnitude do risco de morte por câncer esofágico foi maior entre agricultores mais jovens
que entre os mais velhos. A única exceção a esse padrão foi observada no estado de Santa
Catarina, onde a magnitude do risco foi maior entre os agricultores mais velhos. Mais uma
vez, a estratificação conjunta por sexo, faixa etária, raça e escolaridade revelou resultados
ligeiramente distintos a este, onde, de uma forma geral, as maiores magnitudes no risco de
morte por câncer de esôfago foi observado entre agricultores mais velhos.
Dados coletados do National Cancer Institute´s Surveillance, Epidemiology, and End
Results (SEER) a partir de pacientes que desenvolveram câncer de esôfago no período de
1973 até 2002, revelaram uma maior incidência desta neoplasia entre indivíduos negros do
sexo masculino (20,5/100000 em 1973 e 12,7/100000 em 2002). Já entre os homens brancos
esta variação na incidência foi de (5.7/100000 em 1973 para 7,7/100000 em 2002). As
mulheres negras apresentaram uma incidência maior que as mulheres brancas em 1973
(5,8/100000 para as negras e 1.9/100000 para as brancas) e em 2002 (4.2/100000 para as
negras e 2.0/100000 para as brancas) (HOLMES; VAUGHAN, 2006). Neste estudo, o
número de indivíduos brancos selecionados entre os casos foi cerca de 6 vezes superior que o
número de não brancos. No estado do Paraná, a magnitude do risco foi similar para
agricultores brancos e não brancos. O mesmo acontecendo para toda a região sul. Para os
63
estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, os resultados foram contraditórios. No
primeiro, a magnitude do risco observado foi maior entre agricultores brancos, enquanto que
no segundo, foi maior entre agricultores não brancos. A estratificação por sexo, faixa etária,
raça e escolaridade conjuntamente, em geral, demonstrou magnitudes de risco elevadas entre
agricultores não brancos, mas também entre agricultores brancos.
Alguns estudos têm mostrado uma relação inversa entre o grau de escolaridade e o
risco de câncer de esôfago. LEE, et al (2004), demonstraram que indivíduos com menor
escolaridade foram mais susceptíveis a neoplasia esofágica. Em outro estudo que selecionou
73 casos de câncer de esôfago no Instituto Nacional de Oncologia de Montevidéu no Uruguai
observou-se uma associação inversa de escolaridade com o risco por câncer de esôfago
(RONCO et al, 2004). No presente estudo, houve uma diferença significativa na distribuição
de casos e controles em relação ao nível de escolaridade. Os casos apresentaram maior
proporção de indivíduos com menor escolaridade, o que poderia confundir as estimativas de
risco. Ainda assim, o ajustamento dos dados pelo nível de escolaridade indicou um risco de
morte por câncer de esôfago mais elevado entre agricultores que entre não agricultores com o
mesmo nível de escolaridade. Além disso, a estratificação por todas as variáveis
conjuntamente reforçou o risco mais elevado entre agricultores e principalmente entre aqueles
com menor escolaridade.
Uma vez que neste estudo o desfecho analisado foi morte, é importante ressaltar que
no Brasil, em geral, o acesso ao sistema de saúde, bem como a qualidade do atendimento e do
tratamento de determinadas doenças como o câncer, por exemplo, é bastante diferente entre as
áreas urbanas e rurais. Neste sentido, como a grande maioria dos agricultores reside em áreas
rurais, é possível que a sobrevida dos casos de câncer nas áreas rurais seja menor que aquelas
observadas em área urbanas e que isso tenha contribuído para os nossos resultados que
indicam um risco mais elevado de morte por câncer de esôfago entre os agricultores.
64
6. CONCLUSÃO
Os resultados do presente estudo indicam que o risco de morte por câncer de esôfago
na região sul e seus estados constituintes foi significativamente mais elevado entre
agricultores no período analisado (1996-2005) que entre não agricultores. Este risco foi mais
elevado mesmo levando-se em consideração o sexo, a faixa etária, a raça e a escolaridade dos
participantes do estudo.
De uma forma geral, a magnitude do risco foi mais elevada para agricultores do sexo
masculino, não brancos, com baixa escolaridade e na faixa etária mais velha. Entretanto, foi
possível observar variações nesse padrão, principalmente de estado para estado.
Ainda que a atividade agrícola, com sua multiplicidade de exposições químicas, físicas
e biológicas possa não figurar entre os possíveis fatores de risco para o câncer esofágico,
principalmente em países desenvolvidos, sucessivos estudos, incluindo este próprio,
utilizando a base de dados de mortalidade do Brasil, ou não, sugerem que, para a nossa
realidade a atividade agrícola e/ou a exposição a agrotóxicos pode aumentar o risco de câncer
esofágico. Tal informação pode ser importante para que se leve em conta em eventuais
programas de controle e prevenção dessa doença principalmente em áreas do Brasil onde a
atividade agrícola é intensa e conseqüentemente o uso de agroquímicos é significativo.
No entanto, há que se ressaltar que estudos onde importantes variáveis que podem
influenciar significativamente no desenvolvimento do câncer de esôfago como o tabagismo,
consumo de álcool e dieta, possam ser aferidos ao nível individual são importantes e
necessários para que os resultados aqui obtidos possam ser confirmados.
65
7. REFRÊNCIAS
ACQUAVELLA, J. et al. Cancer among farmers: a meta-analysis. Ann. Epidemiol. v. 8, p. 64–74, 1998.
BLAIR, A. et al. Clues to cancer etiology from studies of farmers. Scand. J. Work Environ. Health, v. 18, p. 209-215, 1992.
_____________; ZAHM, S. Agricultural exposures and cancer. Environmental Health Perspectives, v. 103, p. 205-208, 1995.
BLOT, W. J.; Mc LAUGHLIN, T. K. The changing epidemiology of esophageal cancer. Seminars in Oncology, v. 26, n. 5, p. 2-8, 1999.
CÂMARA, V. M. et al. Saúde ambiental e saúde do trabalhador: epidemiologia das relações entre a produção, o ambiente e a saúde. In: ROUQUAYROL, M. Z.; ALMEIDA FILHO, N. Epidemiologia e saúde. 6. ed. Rio de Janeiro: Medsi, 2003. p. 469 – 497.
CHEN, H. et al. Nutrient intake and adenocarcinoma of the esophagus and distal stomach. Nutrition and Cancer, v. 42, n. 1, p. 33-40, 2002a.
_____________ et al. Dietary patterns and adenocarcinoma of the esophagus and distal stomach. Am. J. Clin. Nutr. , v. 75, p. 137- 44, 2002b.
CHOW, W. H. et al. Body mass index and risk of adenocarcinomas of the esophagus and gastric cardia. J. Natl. Cancer Inst., v. 90, p. 150-155, 1998.
COCCO, P.; WARD, M. H.; DOSEMECI, M. Risk of stomach cancer associated with 12 workplace hazards: analysis of death certificates from 24 states of the United States with the aid of job exposure matrices. Occup. Environ. Med., v. 56, n. 11, p. 781-7, 1999.
66
DATASUS Indicadores de Saúde 2008. Disponível em: <www.datasus.gov.br>. Acesso em: ago. 2008.
DE STEFANI, E. et al. Mate drinking alcohol, tobacco, diet, and esophageal cancer. Uruguay Cancer Research, n. 50, p. 426-431, 1990.
DEROO, L. A.; RAUTIAINEN, R,H. A systematic review of farm safety interventions. American Journal of Preventive Medicine, v. 18, p. 51–62, 2000. Supplement, n. 4.
DEVESA, S. S. et al. Cancer incidence and mortality trends among whites in the United States, 1947-84. J. Natl. Cancer Inst., v. 79, n. 4, p. 701-745, 1987.
DICH, J. et al. Pesticides and cancer. Cancer Causes Control, v. 8, n. 3, p. 420-43, 1997
.
DIETZ, J. et al. Fatores de risco relacionados ao câncer de esôfago no Rio Grande do Sul. Rev. Ass. Med. Brasil., v. 44, n. 4, p. 269-72, 1998.
_____________ et al . Pesquisa de micronúcleos na mucosa esofágica e sua relação com fatores de risco ao câncer de esôfago. Rev. Assoc. Med. Bras. v. 46, n. 3, set. 2000 .
GAMMON, M. D. et al. Tobacco, alcohol, and socioeconomic status and adenocarcinomas of the esophagus and gastric cardia. J. Natl. Cancer Inst., v. 89, p. 1277-1284, 1997.
GIMENO, S. G. A. et al. Fatores de risco para câncer de esôfago: estudo caso-controle em área metropolitana da região Sudeste do Brasil. Rev. Saúde Pública, v. 29, n. 3, 1995
GUERRA, M. R.; GALLO, C. V. M.; MENDONÇA, G. A. S. The risk of cancer in Brazil: tendencies and recent epidemiologic studies. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 51, n. 3, p. 227-234, 2005.
HALLAL, A. L. C; GOTLIEB, S. L. D; LATORRE, M. R. D. O. Evolução da mortalidade por neoplásicas malignas no Rio Grande do Sul, 1979-1995. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 4, n. 3, p. 168-177, 2001.
67
HATAGIMA, A. Genetic polymorphisms and metabolism of endocrine disruptors in cancer susceptibility. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, n. 2, p. 357-377, 2002.
HOFFMANN, R. et al. Inovações tecnológicas e transformações recentes na agricultura brasileira. Relatório de Pesquisa. Piracicaba: FEALQ, 1985, 4 v., 780p.
HOLMES, R. S.; VAUGHAN, T. L. Epidemiology and pathogenesis of esophageal cancer. Radiation Oncology, p. 1053-4296, 2006.
KELLER-BYRNE, J. E. et al. A meta-analysis of nonHodgkin's lymphoma among farmers in the central United States. Am. J. Ind. Med., v. 31, p. 442–444, 1997.
_____________; KHUDER, S. A.; SCHAUB, E. A. Meta-analyses of prostate cancer and farming. Am. J. Ind. Med., v. 31, p. 580–586, 1995.
KHUDER, S. A.; MUTGI, A. B.; SCHAUB, E. A. Meta-analyses of brain cancer and farming. Am. J. Ind. Med., v. 34, p. 252–260, 1998.
KOIFMAN, S., KOIFMAN. R. J.; MEYER, A. Human reproductive system disturbances and pesticide exposure in Brazil. Cadernos de Saúde Pública, v. 18, n. 2, p. 435-445, 2002.
KHUSH, G. S. Green revolution: the way forward. Nat. Rev. Genet., v. 2, n 10, p. 815-22, 2001.
IBGE Levantamento Sistemático da Produção Agrícola, 2008. Disponível em: <www.ibge.gov.br>. Acesso em: dez. 2008.
INCA. Coordenação de Prevenção e Vigilância de Câncer. Estimativas 2008: incidência de câncer no Brasil. Rio de Janeiro, 2007.
68
INCA Coordenação de Prevenção e Vigilância de Câncer, 2009. Disponível em: <www.inca.gov.br>. Acesso em: jan. 2009.
JOHNSON, M. C. The esophagus. Gastroenterology, v. 28, n. 3, p. 459-485, 2001.
LAGERGREN, J. Adenocarcinoma of oesophagus: what exactly is the size of the problem and who is at risk?. Gut , v. 54, p. i1–i5, 2005. Supplement, n. 1.
_____________. Etiology and risk factors for oesophageal adenocarcinoma: possibilities for chemoprophylaxis?. Best Practice & Research: Clinical Gastroenterology, v. 20, n. 5, p. 803-812, 2006.
LaVEIST, T. A. Beyond dummy variables and sample selection: what health services researchers ought to know about race as a variable. Health Services Research, Chicago, v. 29, n. 1, p. 1-16, 1994.
LEE, W. J. et al. Agricultural pesticides and stomach and oesophagus adenocarcinomas. Occup. Environ. Med., v. 61, p. 743–749, 2004.
LEVI, F.; LUCCHINI, F.; NEGRI, E. Cancer mortality in Europe 1990-1994, and an overview of trends from 1955 to 1994. European Journal of Cancer, v. 35, p. 1477- 1516, 1999.
MALVEZZI, M. et al. Trends in cancer mortality in Mexico 1970-1999. Annals of Oncology, v. 15, p. 1712-1718, 2004.
MAYNE, T. S.; NAVARRO, A. S. Diet, obesity and reflux in the etiology of adenocarcinomas of the esophagus and gastric cardia in humans. J. Nutr., v. 132, p. 3467S-3470S, 2002.
MEYER, A. et al. Cancer mortality among agricultural workers from Serrana Region, state of Rio de Janeiro, Brazil. Environmental Research, v. 93, p. 264-271, 2003.
69
MONTEIRO, G. T. R; KOIFMAN, R. J; KOIFMAN, S. Confiabilidade e validade dos atestados de óbitos por neoplasias. I. Confiabilidade da codificação para o conjunto das neoplasias no estado do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, p. 39-52, 1997. Suplemento, n. 1.
_____________; KOIFMAN, R. J; KOIFMAN, S. Confiabilidade e validade dos atestados de óbitos por neoplasias. II. Validação do câncer de estômago como causa básica dos atestados de óbitos do município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, v. 13, p. 53-65, 1997. Suplemento, n. 1.
MUÑOZ, N.; DAY, N. E. Esophageal cancer. In: SCHOTTENFELD, D.; FRAUMENI JR., J. F. (Ed.). Cancer epidemiology and prevention. 2. ed. New York: Oxford University Press, 1996. p. 681-706.
MYERS, M. L. Agriculture and natural resources based industries. In: Stellman, J. E. (Ed). Encyclopedia of Occupational Health and Safety. 4. ed. Geneva , 1998. v. 3. Industries and occupations. General Profile, Chapter 64.
NEWNHAM, A. et al. Trends in esophageal and gastric câncer incidence, mortality and survival in England and Wales 1971-1998/1999. Aliment. Pharmacol. Ther., v. 17, p. 655-664, 2003.
NUNES, J. N. et al. Confiabilidade e validade das declarações de óbitos por câncer de útero no município de Belém, Pará, Brasil. Cadernos de Saúde Pública, v. 20, n. 5, p. 1262-1268, 2004.
OLIVEIRA-SILVA, J. J. et al. Influência de fatores socioeconômicos na contaminação por agrotóxicos, Brasil. Revista de Saúde Pública, v. 35, n. 2, p. 130-135, 2001.
PARKIN, D. M.; PISANI, P.; FERLAY, J. Estimates of the world wide incidence of the 25 major cancers in 1990. Int. J. Cancer, n. 80, p. 827–841, 1999.
PERES, F. et al. Percepção de riscos no trabalho rural em uma região agrícola do Estado do Rio de Janeiro, Brasil: agrotóxicos, saúde e ambiente. Cadernos de Saúde Pública, v. 21, n. 6, p. 1836-1844, 2005.
70
PICKETT, W. et al. Fatal work-related farm injuries in Canada, 1991–1995. Canadian Medical Association Journal, v.160, n. 13, p. 1843-1848, 1999.
PIMENTEL, D. et al. Enviromental and economic cost of pesticide use. Bioscience, v. 42, p. 750-760, 1992.
PIMENTEL, D. Green revolution agriculture and chemical hazards. Sci. Total Environ., v. 188, p. S86-S98, 1996. Supplement, n. 1.
PINTO, F. G; CURI, P. R. Mortalidade por neoplasias no Brasil (1980/1983/1985): agrupamento dos Estados, comportamentos e tendências. Revista de Saúde Pública, v. 25, n. 4, p. 276-81, 1991.
QUEIROGA, R. C.; PERNAMBUCO, A. P. Câncer de esôfago: epidemiologia, diagnóstico e tratamento. Revista Brasileira de Cancerologia, v. 52, n. 2, p. 173-178, 2006.
QUEIROZ, R. C. S. et al. Confiabilidade e validade das declarações de óbito por câncer de boca no município do Rio de Janeiro. Cadernos de Saúde Pública, v. 19, n. 6, p. 1645-1653, 2003.
RAUTIAINEN, R. H. Interventions for preventing injuries in the agricultural industry. Cochrane Database of Systematic Reviews, v. 23, n. 1, 2008.
REDE INTERAGENCIAL DE INFORMAÇÕES PARA A SAÚDE. Indicadores básicos para a saúde no Brasil: conceitos e aplicações. Brasília: OPAS, 2002. 299p.
REIS, E. J. The expansion of the Brazilian agricultural frontier: a survey of the literature. Rio de Janeiro: IPEA/DIPES, 1996. Mimeografado.
RIBEIRO PINTO, L. F., et al. Mechanisms of esophageal cancer development in Brazilians. Mutation Research, v. 544, p. 365–373, 2003.
71
RONCO, A. L. et al. Risk factors for esophageal cancer in non-smokers and non-drinkers: a case-control study in Uruguay. Rev. Bras. Epidemiol., v. 7, n 4, p. 383-91, 2004.
SELKIRK, J. K.; SOWARD, S. M. (Ed). Compendium of abstracts from long-term cancer studies reported by the National Toxicology Program of the National Institute of Environmental Health Sciences from 1976 to 1992. Bethesda, MD: US Dept. of Health and Human Services, 1993. (Environmental Health Perspectives, v. 101, supp. 1,).
SOBOTTA, J. Atlas de anatomia humana. 22. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2009.
SVEC, M. A. et al. Risk of lymphatic or haematopoietic cancer mortality with occupational exposure to animals or the public. Occup. Environ. Med., v. 62, n. 10, p. 726-35, 2005.
TOMATIS, L. et al. Cancer: cause, occurrence and control. IARC Sci. Publ., n. 100. 1990.
TOTI, S.; BIGGERI, A.; FORASTIERE, F. Adult myeloid leukaemia and radon exposure: a bayesian model for a case-control study with error in covariates. Stat. Med., v. 24, n. 12, p. 1849-64, 2005.
VAN MAELE-FABRY, G.; WILLEMS, J. L. Prostate cancer among pesticide applicators: a meta-analysis. Int. Arch. Occup. Environ. Health., v. 77, n. 8, p. 559-70, 2004.
VIRENDER, K. et al. Changing trends in esophageal cancer: a 15-year experience in a single center. American Journal of Gastroenterology, v. 93, n. 5, p. 702-705, 1998.
WHO. International Agency For Research On Cancer. Globocan. Lyon, FR, [200?]. Disponível em: <www.depdb.iarc.fr/globocan/GLOBOframe.htm>. Acesso em: jan. 2008.
WHO. United Nations Environment Programme. Public Health Impact of Pesticides Used in Agriculture. Geneva , 1990.
WORLD RESOURCE INSTITUTE. Earth trends, agricultural labor force . Disponível em: <http: //earthtrends.wri.org/searchable_db/index.php?action=select_countries&theme=8&variable_ID=842>. Acesso em: dez. 2008.
72
WÜNSCH FILHO, V.; MONCAU, J. E. Mortalidade por Câncer no Brasil. Rev. Assoc. Méd. Bras., v. 48, n. 3, p. 250-7, 2002.