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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA INTRODUÇÃO DA ABELHA COLETORA DE ÓLEO Centris (Heterocentris) analis PARA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE CULTIVOS COMERCIAIS DE ACEROLA (Malpighia emarginata D.C.). CELSO BRAGA MAGALHÃES FORTALEZA CE 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA

INTRODUÇÃO DA ABELHA COLETORA DE ÓLEO Centris (Heterocentris) analis

PARA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE CULTIVOS

COMERCIAIS DE ACEROLA (Malpighia emarginata D.C.).

CELSO BRAGA MAGALHÃES

FORTALEZA – CE

2012

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CELSO BRAGA MAGALHÃES

Zootecnista

INTRODUÇÃO DA ABELHA COLETORA DE ÓLEO Centris (Heterocentris) analis

PARA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE CULTIVOS

COMERCIAIS DE ACEROLA (Malpighia emarginata D.C.)

Dissertação submetida à Coordenação

do Curso de Pós-Graduação em Zootecnia, da

Universidade Federal do Ceará, como requisito

parcial para obtenção do grau de Mestre em

Zootecnia.

Área de concentração: Produção e

Melhoramento Animal

Orientador: Prof. PhD. Breno

Magalhães Freitas

FORTALEZA – CE

BRASIL

2012

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação

Universidade Federal do Ceará

Biblioteca de Ciências e Tecnologia

M165i Magalhães, Celso Braga.

Introdução da abelha coletora de óleo Centris (Heterocentris) analis para polinização e aumento de

produtividade de cultivos comerciais de acerola (Malpighia emarginata D.C.). / Celso Braga

Magalhães. – 2012.

61 f. : il., enc. ; 30 cm.

Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Ciências Agrárias, Programa de

Pós-Graduação em Zootecnia, Fortaleza, 2012.

Área de Concentração: Produção e Melhoramento Animal.

Orientação: Prof. PhD. Breno Magalhães Freitas.

1. Abelha. 2. Polinização agrícola. 3. Polinização por inseto. 4. Produtividade agrícola

I. Título.

CDD 636.08

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CELSO BRAGA MAGALHÃES

Zootecnista

INTRODUÇÃO DA ABELHA COLETORA DE ÓLEO Centris (Heterocentris) analis

PARA POLINIZAÇÃO E AUMENTO DE PRODUTIVIDADE DE CULTIVOS

COMERCIAIS DE ACEROLA (Malpighia emarginata D.C.)

Esta dissertação foi submetida

como parte dos requisitos necessários à

obtenção do Grau de Mestre em Zootecnia,

outorgado pela Universidade Federal do Ceará,

e encontra-se a disposição dos interessados na

Biblioteca de Ciências e Tecnologia da referida

Universidade.

Área de concentração: Produção e

Melhoramento Animal

Dissertação aprovada em Fortaleza em 29 de fevereiro de 2012.

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I

À Deus, pelo dom da vida e sabedoria.

Aos meus pais, Raimundo Nonato Dias

Magalhães e Maria do Livramento Vieira Braga

Magalhães, pelo amor e educação, aos meus

irmãos, Adriana Braga, Bruno Braga, Cleonilda

Silva e Natalia Fonseca pela oportunidade da

convivência e estruturação de uma família

harmoniosa.

À minha namorada, Sabrina Maciel

Dias, companheira e amiga nesta jornada.

Eternamente gratos a todos vocês pelo

amor, carinho, compreensão e incentivo na

conclusão deste trabalho.

DEDICO

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II

AGRADECIMENTOS

À Deus, pelo dom da vida, por estar sempre comigo ao longo desse trabalho e de

toda minha vida, guiando os meus passos, dando-me forças, coragem, proteção, determinação

e perseverança que me permitiram sonhar e acima de tudo ousar.

Aos meus pais, Raimundo Nonato Dias Magalhães e Maria do Livramento Vieira

Braga Magalhães pela educação e instrução que recebi, pelo carinho e amor concedido em

todos os momentos.

Aos irmãos Adriana Braga, Bruno Braga, Cleonilda Silva e Natalia Fonseca pela

amizade e companheirismo.

Ao meu amor e amiga Sabrina Maciel Dias que me ajudou nesse trabalho. Por todo

apoio, carinho, amor, compreensão e pelo companheirismo com o qual pude contar sempre. Sem

ela a realização deste trabalho teria sido muito mais difícil.

Aos Familiares, em especial a minha tia Joana Braga pelo crédito e incentivo que

sempre recebi.

Ao amigo e orientador Profº. Breno Magalhães Freitas, pelos valiosos

ensinamentos, dedicação, compreensão e conselhos.

Ao amigo Aurélio Portela Guimarães Junior pelo apoio em todos os momentos

desta jornada.

Ao professor José Everton Alves, pelos ensinamentos e incentivo ao trabalho

apícola.

À Universidade Federal do Ceará (Departamento de Zootecnia), pela

oportunidade de realização do Curso de Mestrado em Zootecnia bem como ao corpo docente

que o torna de excelência.

Ao Grupo de Pesquisa com abelhas da UFC: Valdênio Mendes Mascena, Rômulo

Augusto Guedes Rizzardo, Marcelo Casimiro Cavalcante, Marcelo de Oliveira Milfont,

Michelle de Oliveira Guimarães, Patrícia Barreto de Andrade, Mikail Olinda de Oliveira,

Epifânia Emanuela de Macêdo, Francisco Wander Soares Araújo, Antonio Diego de Melo

Bezerra, Isac Abrahão Bomfim e aos demais integrantes do grupo.

À Dra. Raquel Pick pelas valiosas sugestões e contribuições a esta pesquisa.

Ao professor Dr. Fernando Zanella, da Universidade Federal de Campina Grande,

Paraíba - PB, pela identificação das abelhas.

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III

À Fazenda Amway Nutrilite do Brasil por ter cedido o espaço para coleta de

dados, em especial aos colaboradores Joaquim Alex Rodrigues Duran, José Vieira Diniz,

Francisco José Pereira da Silva, Antônio Francisco Pereira da Silva, Luis Alves de Brito, José

Gerardo Bernardino, Genival Fontenele de Brito, José Samuel Lima Pinheiro, Wagner

Mendes de Lima, Ozaias Honorato, Cosmo Damasceno de Lima, Márcio Carvalho da Silva,

Fábio Carvalho Pereira, João Rodrigues de Sousa e demais funcionários que ajudaram direto e

indiretamente na coleta de dados durante o experimento de campo.

Ao CNPq, pela bolsa de estudos que me possibilitou realizar o curso de mestrado.

Aos professores que participaram da banca examinadora, Dr. José Everton Alves e

Dr. Júlio Otávio Portela Pereira, pelas sugestões e contribuições.

A todos os colegas da pós-graduação em Zootecnia da UFC.

À Secretária da Coordenação da Pós-Graduação Francisca Prudêncio, pelo apoio

administrativo indispensáveis durante todo o curso e, sobretudo, pela amizade, incentivo e carinho

em todos os momentos.

A todos, que direta ou indiretamente, independente da função, grau de parentesco e

ou instrução contribuíram neste percurso. Sempre terão meus reconhecimentos e estarão em meus

pensamentos, Muito obrigado!

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IV

“Faça as coisas o mais simples que você puder,

porém não se restrinja às mais simples”

Albert Einstein

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V

SUMÁRIO

SUMÁRIO ............................................................................................................... V

LISTA DE TABELAS .......................................................................................... VII

LISTA DE FIGURAS ......................................................................................... VIII

RESUMO GERAL ............................................................................................... IIX

ABSTRACT ............................................................................................................ X

CAPÍTULO I ........................................................................................................ 111

Referencial Teórico .............................................................................................. 111

1. REFERENCIAL TEÓRICO ............................................................................... 12

1.1- A importância das abelhas na polinização ...................................................... 12

1.2 - O cultivo de acerola no Brasil ........................................................................ 14

1.3 - Aspectos botânicos e biologia floral .............................................................. 15

1.4 - Abelhas coletoras de óleo ............................................................................... 16

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 19

CAPITULO II ......................................................................................................... 25

Diversidade e frequência de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia

emarginata D.C.) e espécies potenciais para uso na polinização. ............................................. 25

RESUMO ................................................................................................................ 26

ABSTRACT ........................................................................................................... 27

1 – INTRODUÇÃO ................................................................................................ 28

2 - MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 30

2.1 – Caracterização dos núcleos experimentais .................................................... 30

2.2 – Características endafoclimáticas da região .................................................... 31

2.3 – Núcleos experimentais ................................................................................... 31

2.4 – Paisagem do entorno dos núcleos .................................................................. 33

2.5 – Diversidade e frequência de abelhas visitantes florais .................................. 34

2.6 - Análises dos dados ......................................................................................... 35

2.6.1 - Estimativa da diversidade .................................................................... 35

2.6.2 - Equabilidade ........................................................................................ 35

2.6.3 - Frequência dos visitantes ..................................................................... 36

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 37

3.1 – Diversidade de abelhas coletadas em visita as flores da acerola ................... 37

3.2 - Riqueza, diversidade e abundância de abelhas visitantes florais da acerola. . 39

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VI

3.3 - Frequência de abelhas visitantes florais da acerola ........................................ 40

4 - CONCLUSÕES ................................................................................................. 42

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 43

Capitulo III.............................................................................................................. 46

Uso de ninhos armadilhas povoados com abelhas Centris (Heterocentris) analis

para polinização de acerola (Malpighia emarginata D.C.). ...................................................... 46

RESUMO ................................................................................................................ 47

ABSTRACT ........................................................................................................... 48

1 - INTRODUÇÃO................................................................................................. 49

2 - MATERIAL E MÉTODOS............................................................................... 51

2.1 – Os ninhos armadilhas ..................................................................................... 51

2.2 – O experimento ............................................................................................... 51

2.3 - Análise dos dados ........................................................................................... 52

3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO ...................................................................... 53

3.1- Nidificação de espécies de abelhas Centris (Heterocentris) analis em ninhos

armadilhas na área I. .................................................................................................................. 53

3.2 – Produção de acerola ....................................................................................... 54

CONCLUSÕES ...................................................................................................... 56

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 57

CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES .................................................. 60

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VII

LISTA DE TABELAS

TABELA – 1

Espécies de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia

emarginata D.C.) em dois núcleos de cultivo orgânico, no município

de Ubajara – CE, em 2010................................................................... 37

TABELA – 2 Índices de riqueza, diversidade e equabilidade de abelhas visitantes

florais da acerola (Malpighia emarginata DC.) em dois núcleos de

cultivo orgânico, no município de Ubajara – CE, em 2010................. 40

TABELA – 3 Frequência média de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia

emarginata DC.) orgânica, no município de Ubajara – CE, em 2010. 40

TABELA – 4 Número de ninhos armadilhas povoados por abelhas Centris

(Heterocentris) analis introduzidos no início e coletados no final do

florescimento da acerola (Malpighia emarginata DC.) em cultivo

orgânico no município de Ubajara – CE, em 2010.............................. 53

TABELA – 5 Produtividade média da aceroleira (Malpighia emarginata DC.) em

cultivo orgânico com introdução de ninhos artificiais de Centris

(Heterocentris) analis e sem a introdução de ninhos, no município

de Ubajara – CE, em 2010................................................................... 55

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VIII

LISTA DE FIGURAS

FIGURA – 1 Mapas do Brasil, Estado do Ceará e município de Ubajara,

destacando a localização da Fazenda Amway Nutrilite do Brasil,

em Ubajara CE.................................................................................. 30

FIGURA – 2 Esquema da paisagem no entorno dos núcleos em estudo

enfatizando os seus respectivos limites............................................. 32

FIGURA – 3 Imagem de uma dos núcleos experimentais mostrando uma quadra

do plantio com as seis linhas de acerola (Malpighia emarginata

D.C.), faixa de quebra-vento dos dois lados e capina manual no pé

da planta, no município de Ubajara - CE, em 2010........................... 33

FIGURA – 4 Freqüência média de abelhas visitantes florais da acerola

(Malpighia emarginata D.C.) em cultivo orgânico, no município

de Ubajara,-CE, em 2010.................................................................. 41

FIGURA – 5 Desenho esquemático do modelo de um bloco contendo 96 ninhos

armadilhas.......................................................................................... 51

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IX

RESUMO GERAL

Objetivou-se com este trabalho conhecer a diversidade e freqüência das abelhas visitantes

florais em dois núcleos de cultivo orgânico de acerola (Malpighia emarginata D.C.) e estudar

o efeito da introdução de ninhos povoados da abelha coletora de óleo, Centris (Heterocentris)

analis Fabricius, na produtividade desta cultura. A pesquisa foi realizada de agosto a outubro

de 2010, em Ubajara, Ceará, Brasil. A metodologia constou do monitoramento, coleta e

identificação dos visitantes florais em dois núcleos com quatro variedades de acerola sem e

com a introdução de 242 ninhos povoados por C. analis, estimativa da diversidade,

freqüência, equabilidade e análise da produção de frutos entre os núcleos. As abelhas foram

contadas e coletadas com rede entomológica em transectos entre as fileiras dos plantios. Para

estimar a diversidade de espécies de abelhas visitantes das flores da acerola, utilizou-se o

índice de Shannon-Weaner (H’), a frequência foi determinada pela quantidade de cada espécie

de abelha presente ao longo do dia e a equabilidade pelo índice de Pielou (J’). Oito espécies

de abelhas foram coletadas visitando as flores da acerola, quatro comuns aos dois núcleos

(Apis mellifera, C. (Centris) aenea, C.(Centris) flavifrons e Trigona spinipes) e quatro

exclusivamente no núcleo onde foram introduzidas as abelhas (C. analis, C. (Trachina)

fuscata, C. (Ptilotops) sponsa e Xylocopa cearensis). As abelhas do gênero Centris foram os

visitantes florais mais frequentes e representaram 64% no núcleo com introdução dos ninhos

povoados e 11% no núcleo sem introdução, estando presentes nos pomares das 6:00 as

15:00h, mas em grandes quantidades somente até as 9:00h. As demais espécies de abelhas,

além de estarem presentes em pequenos números só visitavam as flores entre 6:00 e 9:00h. Os

índices de diversidade e equabilidade diferiram entre os núcleos (p<0,05), tendo o núcleo com

abelhas apresentado valores significativamente maiores (1,85 e 0,89, respectivamente) do que

o núcleo onde não foram introduzidos abelhas (0,92 e 0,66, respectivamente). Durante os três

meses de experimento, a quantidade de ninhos povoados por C. analis aumentou 38%,

chegando a outubro com 391ninhos. No que se refere à produção, houve aumentos

significativos (p<0,05) na produção de frutos tanto por área, quanto por variedade e por planta

no núcleo que recebeu os ninhos de C. analis em relação aquele sem a introdução de abelhas.

Concluiu-se ser possível usar cultivos de acerola para multiplicar populações de C. analis

para uso na polinização; aumentar a quantidade de abelhas C. analis e reduzir déficits de

polinização em pomares de acerola por meio da introdução de ninhos povoados; e que a

introdução destes ninhos de C. analis para polinização em áreas de cultivo comercial da

acerola pode proporcionar ganhos reais de produção.

Palavras chave: criação de abelhas, ninhos-armadilha, polinização, polinização agrícola,

polinização por abelhas, produção agrícola.

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X

ABSTRACT

The present work aimed to know the diversity and frequency of bees visiting flowers of two

plots of organic orchards of acerola (Malpighia emarginata D.C.) and to study the effect of

introducing trap nests inhabited by the oil collecting bee Centris (Heterocentris) analis

Fabricius on the productivity of this crop. The research was carried out from July to October

2010, in Ubajara, Ceará, Brazil. The methodology consisted in monitoring, collecting and

identifying the floral visitors in two plots cultivated wth four acerola varieties, with and and

without the introduction of 242 trap nests inhabited by C. analis, estimate of diversity,

frequency, evenness and analysis of fruit production between plots. Bees were counted and

collected using sweep nets in transects walked among the lines of the orchards. To estimate

bee species diversity visiting acerola, I used the Shannon-Weaver diversity index (H'), the

frequency was determined by the amount of each bee species present throughout the day and

evenness by the Pielou's evenness index (J'). Eight bee species were collected visiting the

flowers of the acerola, four common to both plots (Apis mellifera, C. (Centris) aenea, C.

(Centris) flavifrons and Trigona spinipes) and four exclusive to the plot where the inhabited

trap nests were introduced (C . analis, C. (Trachina) fuscata, C. (Ptilotops) sponsa and

Xylocopa cearensis). Bees of the genus Centris were the most frequent floral visitors and

accounted for 64% in the plot I (with introduction of inhabited nests) and 11% in plot II (no

nest introduction), being present in the orchards from 6:00 to 15:00, but in large numbers only

until 9:00. The other bee species were present in small numbers and only visited flowers

between 6:00 to 9:00. Diversity and evenness indices differed between plots (p <0.05): plot I

showed significantly higher diversity and evenness values (1.85 and 0.89, respectively)

comparing to plot II (0.92 and 0.66, respectively). Over the three-month experimental period,

the number of trap nests inhabited by C. analis increased 38%, reaching 381 nests in October.

Regarding yield, there were significant increments (p <0.05) in fruit production per area,

variety and plant in the plot with the nests of C. analis in relation to that without the

introduction of bees. It was concluded that C. analis is an efficient pollinator of acerola; it is

possible to use acerola orchards to multiply populations of C. analis for pollination purposes;

it is possible to increase the number of bees C. analis and to reduce pollination deficits in

acerola orchards by the introduction of inhabited trap nests, and that the introduction of these

nests of C. analis for pollination in areas of commercial cultivation of acerola can provide real

gains in productivity.

Key words: bee pollination, bee rearing, crop pollination, crop production, pollination, trap

nests.

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CAPÍTULO I

Referencial Teórico

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12

1. REFERENCIAL TEÓRICO

1.1- A importância das abelhas na polinização

A polinização representa um fator de produção fundamental na condução de

muitas culturas agrícolas ao redor do mundo, porém devido à sua baixa compreensão,

muitas vezes é negligenciada (FREITAS e IMPERATRIZ-FONSECA, 2005).

Para que possa ocorrer à polinização é preciso que o grão de pólen seja

transferido das anteras de uma flor para o estigma da mesma flor (autopolinização) ou

de outra flor da mesma espécie. Além de fundamental para a perpetuação das espécies

vegetais, se realizada adequadamente, contribui para melhorar a qualidade dos frutos,

aumentar o seu número de sementes, prevenir má formações, além de conduzir a um

amadurecimento uniforme dos frutos (FREITAS, 1995). A polinização é o primeiro

passo no processo reprodutivo da maioria das plantas, sendo alcançada por meios

bióticos e/ou abióticos. A polinização abiótica acontece através do vento, água e

gravidade, enquanto a biótica é realizada por animais (KEVAN, 1999).

Dentre os agentes polinizadores, os animais apresentam grande destaque,

atuando como polinizadores de aproximadamente 90% das 250.000 espécies de

angiospermas (COSTANZA et al., 1997, NABHAN e BUCHMANN, 1997; KEARNS

et al., 1998; KEVAN e IMPERATRIZ-FONSECA, 2002).

Os animais visitam as flores em busca de recursos que podem ser utilizados

como alimento, atrativos ou como materiais de construção dos ninhos. Enquanto

realizam essa coleta, o pólen fica aderido ao seu corpo, o que pode promover a

polinização ao visitarem as flores (VILHENA, 2009).

Dentre os animais, os insetos, devido à sua abundância na natureza e

eficiência como polinizadores, tornaram-se polinizadores quase exclusivos de culturas

agrícolas de interesse econômico, que dependem da entomofilia para se reproduzirem.

Entre os insetos ganhou destaque à interação das abelhas com as plantas que garantiu

aos vegetais o sucesso na polinização cruzada, importante adaptação evolutiva vegetal,

aumentando o vigor das espécies, possibilitando novas combinações de fatores

hereditários e aumentando a produção de frutos e sementes (McGREGOR, 1976;

NABHAN e BUCHMANN, 1997; COUTO e COUTO, 2002; FAO, 2004; RICKETTS

et al., 2008). Essas interações tornaram as abelhas os principais agentes polinizadores

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13

das culturas agrícolas. Estima-se que, das espécies vegetais cultivadas no mundo,

aproximadamente 73% são polinizadas por abelhas (FAO, 2004).

O valor econômico da polinização de culturas agrícolas realizada por

insetos, principalmente por abelhas, pode ser estimado com base na abundância e valor

de mercado das culturas polinizadas (SADEH et al., 2007). Em escala global, o valor

anual da polinização agrícola tem sido estimado em US$ 200 bilhões (SLAA et al.,

2006). McGregor (1976) listou 166 culturas que se beneficiam ou dependem da

polinização melitófila e calculou que, no caso de abelha melífera, o valor gerado com

seu papel na polinização de algumas culturas é de 60 a 100 vezes o valor do mel por

elas produzido.

As abelhas melíferas são os insetos sociais mais usados para a polinização

de cultivos comerciais. A habilidade polinizadora dessas abelhas é justificada por vários

fatores tais como: a presença de estruturas para coletar, armazenar e transportar grãos de

pólen (pêlos ramificados e corbículas); a necessidade de coletar grandes quantidades de

pólen e néctar para o sustento de crias das colônias; e fidelidade ás espécies vegetais

que visitam (FREE, 1993, ALVES, 2000).

Outro aspecto que favorece o uso de abelhas melíferas em áreas agrícolas é

que sua biologia é bem conhecida e elas podem ser manejadas em colmeias as quais são

transportáveis, para proporcionar a polinização de culturas agrícolas (COBERT et al.,

1991; FREITAS, 1995).

Embora Apis mellifera possua uma grande habilidade para polinização de

muitas espécies vegetais, não são consideradas os polinizadores mais eficientes para

todas as culturas. Há casos em que algumas espécies de abelhas solitárias podem

realizar melhores serviços de polinização do que as espécies sociais, como as

pertencentes aos gêneros Xylocopa que polinizam o maracujazeiro (Passiflora edulis),

Megachile polinizadores da alfafa (Medicago sativa) e as abelhas da tribo Euglossini,

polinizadoras das solanáceas, (FREITAS et al., 1999; CAMILLO, 2003;

HOGENDOORN, 2004).

A aceroleira (M. emarginata) é outro exemplo de cultura agrícola que é

visitada por abelhas melíferas, mas que tem as abelhas solitárias como às polinizadoras

mais efetivas, beneficiada principalmente pela a visita de abelhas da tribo Centridini

especialista na coleta de óleos florais. De acordo com Silva (2008), os principais

polinizadores da aceroleira, são especialmente dos gêneros Centris e Epicharis.

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14

A identificação das espécies de visitantes florais e da sua importância para

os serviços de polinização da M. emarginata são de extrema significância para

direcionar alternativas de manejo adequado dos polinizadores, reduzindo as perdas

causadas pela sua escassez, e podendo proporcionar um aumento na produtividade de

frutos.

Sabendo-se da importância dos recursos fornecidos pelas espécies de

Malpighiaceae para abelhas Centridini, e da dependência que essa espécie têm com

estas abelhas para uma produção ótima de frutos, faz-se necessário estudos que visem à

conservação desses polinizadores para incrementos na produtividade de frutos das

espécies de interesse econômico como M. emarginata (VILHENA, 2009).

1.2 - O cultivo de acerola no Brasil

O cultivo da aceroleira no Brasil intensificou-se rapidamente devido à

adaptabilidade da espécie ao clima tropical e subtropical, com uma grande produção de

frutos de excelente qualidade e elevado teor de vitamina C, garantindo uma intensa

demanda no mercado internacional, sendo exportados principalmente para a Europa,

Estados Unidos e Japão (MANICA et al., 2003).

No Brasil há evidências dessa cultura em pequenos pomares desde a

primeira metade do século dezenove na cidade do Rio de Janeiro. No Nordeste, a

introdução da aceroleira ocorreu em abril de 1958, através da professora Maria Celene

Cardoso de Almeida que trouxe sementes oriundas de Porto Rico para a Universidade

Federal Rural de Pernambuco (SOARES FILHO e OLIVEIRA, 2003).

O Brasil é o maior produtor, consumidor e exportador de acerola do mundo

(CARVALHO, 2000), ocupando o primeiro lugar na produção de frutos de acerola, em

razão de vários fatores, dentre eles destaca-se a existência de condições favoráveis de

clima e solo em grandes áreas do país (JUNQUEIRA et al., 2007). Na região Nordeste,

onde esta cultura melhor se adapta, há a necessidade da utilização de irrigação no

período seco para uma maior produção (PAIVA et al., 1999; GUEDES, 2011). Os

principais Estados brasileiros produtores de acerola são Pernambuco, com 23,11% da

produção nacional, seguido pelo Ceará (14,32%), São Paulo (11,39%) e Bahia

(10,48%). A região Nordeste é responsável por aproximadamente 70% da produção

nacional de frutos de acerola (IBGE, 2007). Dados referentes a 1996 indicam que a

produção brasileira foi de 32.990 toneladas, obtida em uma área plantada de 11.050 ha

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com acerola (IBGE, 1996), tendo uma produtividade entre 20 a 50 kg/planta/ano

(ALVES et al., 1995; OLIVEIRA e SOARES FILHO, 1999).

O interesse dos fruticultores pelo cultivo da acerola em várias regiões do

Brasil tem crescido pelo seu inegável potencial como fonte natural de vitamina C e sua

grande capacidade de aproveitamento industrial (NOGUEIRA et al., 2002). Para Asenjo

e Moscoso (1950), em 100 g de suco de acerola pode-se obter 4000 mg de vitamina C,

cerca de 80 vezes mais que o encontrado em frutas cítricas. Além de excelente fonte de

vitamina C, a acerola apresenta-se como fonte razoável de provitamina A, contém

vitaminas do grupo B como tiamina (B1), riboflavina (B2), piridoxina (B6) e niacina, e

apresenta em sua composição os minerais, ferro, cálcio, fósforo e sódio (FOLEGATTI e

MATSUURA, 2003).

O fruto desta espécie é bastante consumido na sua forma natural ou

transformado em doces, sucos e sorvetes, e por isso é amplamente cultivada

(VILHENA, 2009). O consumo de acerola é indicado para o combate de várias doenças

humanas, como a gripe, infecções pulmonares, controle de hemorragias nasais e

gengivais, auxilia no tratamento de doenças do fígado, além de evitar a perda de apetite

e dores musculares (MENDONÇA e MEDEIROS, 2011). A aceroleira também tem

sido utilizada para fins ornamentais devido à coloração da folhagem, flores e frutos

(RITZINGER e RITZINGER, 2005).

Quanto ao destino da produção, cerca de 60% permanecem no mercado

interno e 40% vai para o mercado externo (OLIVEIRA e SOARES FILHO, 1998),

especialmente para o Japão, Europa e Estados Unidos (COELHO et al., 2003).

1.3 - Aspectos botânicos e biologia floral

A aceroleira é originária de regiões da America Central, noroeste da

America do Sul e Antilhas (NEVES et al., 2002). Segundo Guedes et al. (2011) é uma

importante frutífera tropical, planta rústica, que cresce como arbusto ou arvoreta e

produz frutos conhecidos pelo elevado conteúdo de ácido ascórbico (vitamina C).

O Gênero Malpighia contém de 39 a 41 espécies de arbustos e pequenas

árvores, sempre verdes (MENDONÇA e MEDEIROS, 2011), atinge de 3 a 4m de

altura, com hábito de ramificação vertical ou curvado. A diferenciação do botão floral

ocorre entre 8 a 10 dias e a antese após 15 a 17 dias (MARTINS et al., 1999).

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A aceroleira pode florescer e frutificar várias vezes durante o ano, conforme

as condições climáticas locais, podendo chegar até nove safras/ anuais em regiões

tropicais (MUSSER, 1995). As flores apresentam 2,0 a 2,5 cm de diâmetro, cinco

sépalas, de coloração verde, e em cuja base estão localizados de seis a dez elaióforos,

cinco pétalas livres, com coloração variando do branco a rosa, sendo a pétala superior

diferenciada, conhecida como pétala estandarte que serve de suporte para abelhas

durante coleta e manipulação de óleos (SIQUEIRA et al., 2011). Apresenta 10 estames

e três carpelos formando um ovário único e súpero com três estiletes e estigmas na

mesma altura dos estames (VILHENA, 2009). As inflorescências e as flores podem

tanto originar-se na axila das folhas dos ramos maduros em crescimento, como também

nas axilas das folhas do ramo recém brotado onde crescem isoladas ou em cachos de

dois ou mais frutos (EMBRAPA SEMI – ÁRIDO, 1999; MENDONÇA e MEDEIROS,

2011).

Segundo Oliveira et al. (2003), a viabilidade dos grãos de pólen de M.

emarginata pode variar de 10 a 90%, de acordo com a variedade.

A acerola é uma drupa de tamanho, forma e peso variáveis. Os frutos

apresentam-se maduros entre 21 e 25 dias após a antese, e pesam de 2 a 10g

(MARTINS et al., 1999). Pode ter forma oval ou subglobosa (SILVA, 2008),

arredondada, cônica, com formato trilobado e, quando maduro, de cor vermelha, roxa

ou amarela, normalmente mais largo do que comprido (MENDONÇA e MEDEIROS,

2011).

1.4 - Abelhas coletoras de óleo

No final da década de 60, foi descoberto na região neotropical um complexo

de interações entre abelhas especializadas e plantas: plantas com glândulas florais que

oferecem óleos em vez de néctar, associadas às abelhas especializadas na coleta deste

recurso (VOGEL, 1969).

Malpighiaceae é a principal família produtora de óleos florais, sendo que

apenas as linhagens americanas desenvolveram glândulas de óleo (BUCHMANN, 1987;

VOGEL, 1990). As flores das Malpighiaceae apresentam cálice caracteristicamente com

pares de glândulas de óleo, os elaióforos, (JOLY, 1977), os quais apresentam número

variável e até ausentes em algumas espécies (ANDERSON, 1979). O óleo produzido

pelos elaióforos é coletado por abelhas fêmeas das tribos Centridini, Tapinotaspidini e

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Tetrapediini, e é normalmente utilizado na alimentação e criação das larvas (SIMPSON

et al., 1977; AGUIAR e GARÓFALO, 2004), e para compactar e impermeabilizar as

paredes das células de cria (CAMARGO e MAZUCATO, 1984). O comportamento de

coleta de óleo floral já foi registrado para espécies de Centris e Epicharis

(BUCHMANN, 1987; VOGEL, 1990).

Existem entre 20 e 30 mil espécies de abelhas no mundo (MICHENER,

2000), que diferem na forma e na variedade de plantas que visitam e polinizam. O

conhecimento das plantas fornecedoras de recursos tróficos para diferentes espécies de

abelhas polinizadoras é fundamental para preservação e manejo das abelhas em

ecossistemas naturais, agrícolas e urbanos (VILHENA, 2009).

As abelhas do gênero Centris visitam as flores da aceroleira à procura de

pólen e/ou óleo, realizando comportamentos padronizados, quando do pouso nas flores

e retirada da recompensa floral. Para coletar óleo, estas espécies pousam sobre os

órgãos sexuais da flor, prendem-se com as mandíbulas à pétala anterior (estandarte)

abraçam a flor, e com os dois primeiros pares de pernas raspam os elaióforos. Neste

momento a porção ventral do tórax e/ou abdômen entre em contato com as anteras e os

estigmas. Todo este comportamento dura um curto período na flor, cerca de 1 a 3

segundos. Em seguida, saem da flor e, em vôo estacionário, transferem o óleo para as

escopas. Botões em pré-antese também são usados para a coleta de óleo (TEXEIRA e

MACHADO, 2000).

O pólen é coletado por processo de vibração, sendo possível a audição do

zumbido emitido. Na seqüência, abandonam a flor e, paradas no ar, realizam

movimentos de limpeza no corpo, transferindo os grãos de pólen para as escopas. Em

uma mesma planta, em média, essas abelhas podem passar de 2 a 3 minutos, tempo

suficiente para visitarem de 20 a 80 flores (SIQUEIRA, 2007).

As abelhas da tribo Centridini são conhecidas por suas interações com

plantas produtoras de óleo (ALVES-DOS-SANTOS et al., 2006). Com cerca de 250

espécies, esta tribo (composta pelos gêneros Centris Fabricius, 1804 e Epicharis Klug,

1807) é o grupo de abelhas coletoras de óleos mais diversificadas e está restrito às

Américas. As espécies da tribo Centridini se distinguem das de outras tribos de abelhas

coletoras de óleos florais das Américas (Tapinotaspidini e Tetrapediini) por estarem

mais adaptados à extração de óleos de elaióforos epiteliais (NEFF e SIMPSON, 1981;

VOGEL, 1990), como os presentes em Malpighiaceae.

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As abelhas Centridini configuram-se em importantes polinizadores de

numerosas espécies de plantas nas florestas neotropicais e no Cerrado (FRANKIE et al.,

1983; SCHLINDWEIN e MARTINS, 2000). São abelhas com hábito solitário que

nidificam preferencialmente em solo plano (ROZEN e BUCHMANN, 1990; AGUIAR

e GAGLIANONE, 2003; GAGLIANONE, 2005), algumas em termiteiros

(GAGLIANONE, 2001) e barrancos (COVILLE et al., 1983) e, no caso de Centris,

mais especificamente dos subgêneros Heterocentris, Hemisiella e Xanthemisia, em

cavidades pré-existentes, em madeira (GAZOLA e GARÓFALO, 2003; AGUIAR e

GARÓFALO, 2004; THIELE, 2005).

A importância das abelhas da tribo Centridini na polinização de M.

emarginata, é tão evidente que na ausência da atividade destes polinizadores não houve

sucesso reprodutivo. Já a presença dos visitantes florais, possibilitou um incremento na

taxa de frutificação (FREITAS et al., 1999; SCHLINDWEIN et al., 2006).

Pesquisas realizadas com os recursos florais utilizados por Centris ainda são

reduzidas, já que estas abelhas são importantes polinizadoras de espécies da família

Malphigiaceae, como a acerola e o murici Byrsonima crassifolia L. (PERREIRA e

FREITAS, 2002; MACHADO, 2011).

Alguns aspectos são fundamentais na preservação e no manejo das abelhas

em ecossistemas naturais, agrícolas e urbanos. Um deles é a manutenção de locais para

nidificação, o que se faz através de preservação das áreas naturais no entorna dos

cultivos ou criação destes locais nas áreas desejadas.

Apesar de existir vários trabalhos que enfatizam a dependência da M.

emarginata com abelhas da tribo Centridini (FREITAS et al., 1999; TEIXEIRA e

MACHADO, 2000), não há na literatura consultada trabalhos onde foram introduzidos

ninhos armadilhas povoados com abelhas do gênero Centris e o possível incremento

pela presença dessas abelhas na área de cultivo.

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CAPITULO II

Diversidade e frequência de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia

emarginata D.C.) e espécies potenciais para uso na polinização.

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RESUMO

Objetivou-se com este trabalho conhecer a diversidade e frequência das abelhas

visitantes florais em dois núcleos de cultivo orgânico de acerola (Malpighia emarginata

D.C.) visando identificar espécies potenciais para o criatório e uso na polinização

agrícola. A pesquisa foi realizada de agosto a outubro de 2010 em Ubajara, Ceará,

Brasil. A metodologia constou da coleta e identificação dos visitantes florais em núcleos

de quatro variedades de acerola para uma estimativa da diversidade, freqüência e

equabilidade. Oito espécies de abelhas foram coletadas visitando as flores da acerola,

quatro comuns aos dois núcleos (Apis mellifera, C. (Centris) aenea, C.(Centris)

flavifrons e Trigona spinipes) e quatro exclusivamente no núcleo onde os ninhos foram

introduzidos (C. analis, C. (Trachina) fuscata, C. (Ptilotops) sponsa e Xylocopa

cearensis). As abelhas do gênero Centris foram os visitantes florais mais freqüentes e

representaram 64% no núcleo com introdução de abelhas e 11% no núcleo sem

introdução de abelhas, estando presentes nos pomares das 6:00 h as 15:00 h, mas em

grandes quantidades somente até às 9:00 h. Os índices de diversidade e equabilidade

diferiram entre os núcleos (p<0,05), tendo o núcleo com abelhas apresentado valores

significativamente maiores (1,85 e 0,89, respectivamente) do que no núcleo sem abelhas

(0,92 e 0,66, respectivamente). Concluiu-se que as abelhas Centris foram os principais

visitantes florais da acerola nos núcleos estudadas, apresentando o pico de atividade no

momento crucial para a polinização da cultura. A existência de diferenças significativas

entre a diversidade e a quantidade de abelhas nos núcleos estudadas deve estar

relacionada às diferenças na disponibilidade de recursos alimentares entre elas,

reforçando a importância de fontes alimentares complementares para a atração e fixação

de populações de abelhas do gênero Centris.

Palavras chave: Abelhas Centris, equabilidade, polinização agrícola, recursos

alimentares.

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ABSTRACT

The present work aimed to know the diversity and the frequency of bee species visiting

flowers in two plots of organic orchards of acerola (Malpighia emarginata D.C.) to

identify potential species for artificial rearing and use in crop pollination. The research

was carried out from July to October 2010 in Ubajara, Ceará, Brazil. The methodology

consisted in monitoring, collecting and identifying the floral visitors in two plots

cultivated wth four acerola varieties to estimate bee diversity, frequency and evenness.

Eight bee species were collected visiting the flowers of the acerola, four common to

both plots (Apis mellifera, C. (Centris) aenea, C. (Centris) flavifrons and Trigona

spinipes) and four exclusive to the plot where the inhabited trap nests were introduced

(C . analis, C. (Trachina) fuscata, C. (Ptilotops) sponsa and Xylocopa cearensis). Bees

of the genus Centris were the most frequent floral visitors and accounted for 64% in the

plot I (with introduction of inhabited nests) and 11% in plot II (no nest introduction),

being present in the orchards from 6:00 to 15:00, but in large numbers only until 9:00.

The other bee species were present in small numbers and only visited flowers between

6:00 to 9:00. Diversity and evenness indices differed between plots (p <0.05): plot I

showed significantly higher diversity and evenness values (1.85 and 0.89, respectively)

comparing to plot II (0.92 and 0.66, respectively). It was concluded that Centris bees

were the main floral visitors of acerola in the studied plots, showing the peak of

foraging activity at the crucial moment to this crop pollination. The significant

differences observed between the diversity and number of bees in the studied plots must

be related to differences in availability of food resources between them, reinforcing the

importance of complimentary food sources to the attraction and establishment of

Centris bee populations.

Key words: Centris bee, evenness, crop pollination, food resource.

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1 – INTRODUÇÃO

A acerola é uma planta da família Malpighiaceae que apresenta como

característica principal relacionada à sua polinização, o fato de suas flores não

secretarem néctar, mas óleos de glândulas localizadas no cálice da flor (RAW, 1979).

O cálice das flores é constituído de dez grandes glândulas de óleo, os

elaióforos, localizadas na base externa das sépalas, raramente ocorrendo plantas sem

glândulas (JOLY, 1977).

A secreção das glândulas são normalmente utilizadas por abelhas fêmeas

das tribos Centridini, Tapinotaspidini e Tetrapediini, em sua alimentação e criação das

larvas, bem como para compactar e impermeabilizar as paredes das células

(CAMARGO e MAZUCATO, 1984; ALVES-DOS-SANTOS et al., 2007).

Para muitas plantas produtoras de óleos florais, as abelhas Centridini foram

consideradas os principais polinizadores (TEIXEIRA e MACHADO 2000,

MACHADO, 2004). Em particular, interações destas abelhas com flores de

Malpighiaceae foram relatadas em diversos estudos, enfocando adaptações

morfológicas das abelhas e relações evolutivas entre os dois grupos (VOGEL 1974,

GAGLIANONE, 2001) ou ainda relações ecológicas entre abelhas e flores (SIGRIST e

SAZIMA 2004).

Dentre as Malpigiaceae polinizadas por abelhas coletoras de óleo, pode-se

destacar a aceroleira (Malpighia emarginata D.C) por sua importância econômica para

o Brasil, especialmente a região Nordeste. Vários trabalhos na literatura têm relatado o

papel de diversas espécies de abelhas da tribo Centridini na polinização desta cultura

(FREITAS et al., 1999; SILVEIRA 2002; MACHADO, 2004; RITZINGER et al.,

2004; SIQUEIRA et al., 2011; GUEDES 2011). Apesar de a literatura ser enfática na

importância destas abelhas como polinizadoras de M. emarginata, estudos testando a

sua eficiência ainda são incipientes.

Oliveira e Schlindwein (2009) estudaram a biologia reprodutiva de C. analis

reproduzindo em ninhos-armadilhas instalados em cultivo de aceroleira, mas não

avaliaram a eficiência das abelhas ou incrementos na produção. Apenas Martins (1999)

e Freitas et al., (2009) avaliaram a eficiência destas abelhas em vingar frutos na

aceroleira, mostrando que esta pode variar em função da espécies de abelha e da

variedade estudada.

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Desta forma, há a necessidade de estudos sobre os visitantes florais da aceroleira

em diversas localidades com o objetivo de identificar espécies com maior potencial para

uso na polinização dirigida. O presente trabalho foi proposto para estudar a diversidade,

abundância e frequência das abelhas visitantes florais da aceroleira em cultivo orgânico

na Serra da Ibiapaba, Ceará, visando identificar espécies potenciais para o criatório e

uso na polinização agrícola na região.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

2.1 – Caracterização dos núcleos experimentais

A pesquisa foi desenvolvida de agosto a outubro de 2010 e tinha por

objetivo conhecer a diversidade e freqüência das abelhas visitantes florais em dois

núcleos de cultivo orgânico de acerola (Malpighia emarginata D.C.) pertencente à

Fazenda Amway Nutrilite do Brasil. A fazenda é localizada na serra da Ibiapaba, no

município de Ubajara – CE (Altitude: 847,5m, Latitude: 3º 51' 16"S, Longitude: 40º 55'

16"W) (IPECE, 2010), (Figura 1).

Figura 1- Mapas do Brasil, Estado do Ceará e município de Ubajara, destacando a localização da Fazenda Amway Nutrilite do Brasil,

em Ubajara – CE.

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2.2 – Características endafoclimáticas da região

O município de Ubajara - CE, encontra-se quase que totalmente na área

úmida, tendo seu clima classificado como Tropical Quente Sub-úmido, com

temperaturas médias entre 24ºC nos meses de chuva, e 26ºC nos meses secos, com

precipitação média anual próxima dos 1.483,5mm (IPECE, 2010). A vegetação que

envolve o município de Ubajara é o carrasco, (carrasco, floresta caducifólia espinhosa,

floresta subcaducifólia tropical pluvial e floresta subperenifólia tropical pluvio-nebular

(IPLANCE, 1997). Os solos encontrados na região são: areias quartzosas distróficas,

solos litólicos, latossolo vermelho- amarelo e podzólico vermelho- amarelo (IPECE,

2010)

2.3 – Núcleos experimentais

As áreas experimentais eram formadas por dois núcleos de 15 há cada,

distanciados 2 km um do outro, e cada qual constituído pelo cultivo de quatro

variedades de acerola: AC71 (8 talhões), FP19 ( 6 talhões), AC69 (4 talhões) e AC13/2

(4 talhões), cada talhão compreendendo uma área de 0,68 ha (Figura 2). As árvores

possuem 13 anos de idade.

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Figura 2: Esquema da paisagem no entorno dos núcleos em estudo enfatizando os seus respectivos limites

Núcleo com introdução de abelhas

Núcleo sem introdução de abelhas

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Cada núcleo é dividido em quadras de 30 m de largura e seis linhas contendo

140 plantas cada. As plantas apresentam distâncias de 3,5 x 5,0m entre elas, existindo

assim 571 plantas/ha. Entre cada quadra existe um quebra vento de vegetação nativa,

com predominância da espécie sabiá (Mimosa caesalpiniifolia Benth) (Figura 3).

Figura 3: Imagem de um dos núcleos experimentais mostrando uma quadra do plantio com as seis

linhas de acerola (Malpighia emarginata D.C.), faixa de quebra-vento dos dois lados e capina manual

no pé da planta, no municipio de Ubajara - CE, em 2010.

As plantas recebiam irrigação diária por meio de micro aspersão e foram

adubação com um composto orgânico produzido na própria fazenda, assim como

também eram obtidos os defensivos naturais aplicados no combate de pragas e doenças.

A limpeza dos núcleos era realizada por meio de capinas manuais com enxadas, sendo

removida apenas a vegetação até 0,5 m ao redor da planta.

2.4 – Paisagem do entorno dos núcleos

Os dois núcleos apresentavam condições semelhantes de conservação dos

seus entornos. O núcleo com introdução de abelhas Centris analis limitava-se ao Leste

com uma área plantada com acerola, ao Oeste com vegetação nativa de caatinga com

aproximadamente 15 anos de repouso, ao Norte com um plantio de seis ha de cajueiro

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anão precoce (Anarcardiun occidentale L.), com idade de aproximadamente cinco anos

e, na extremidade Sul, com plantadas de acerola da mesma idade da área em estudo,

porém de outras variedades. Já o núcleo sem introdução de abelhas C. analis, limitava-

se ao Leste com uma plantação de 35 ha de coqueiro (Cocos nucifera L.), ao Oeste com

outra área de 15 ha de acerola, ao Norte com vegetação nativa de caatinga também com

15 anos de repouso e, ao Sul, com outra área semelhante de acerola (Figura 2).

2.5 – Diversidade e frequência de abelhas visitantes florais

A diversidade de abelhas visitantes florais foi obtida por meio da coleta

destas com o auxílio de uma rede entomológica, quando visitavam as flores da cultura.

Para tanto, percorria-se um transecto de 50 m de extensão dentro de uma das quadras de

cada núcleo, a cada 3 horas a partir das 06:00 h até as 18:00 h, perfazendo um total de

cinco coletas diárias em cada núcleo. Esse procedimento foi realizado durante seis dias

alternados no mês de outubro para cada núcleo.

Os insetos capturados foram sacrificados em câmara mortífera contendo

acetato de etila, e em seguida foram conservadas em álcool etílico, a uma concentração

de 70%, até serem montadas em alfinetes entomológicos e secas em estufa no

Laboratório de Abelhas da Universidade Federal do Ceará. Posteriormente, foram

enviadas para identificação, realizada pelo professor Dr. Fernando Cesar Vieira Zanella,

da Universidade Federal de Campina Grande, Paraíba – PB.

Para determinação da frequência dos visitantes florais nas flores da acerola

seguiu-se a mesma metodologia descrita acima, exceto pelo fato de que as abelhas não

eram capturadas nas flores, mas contadas. Devido à dificuldade de distinção entre as

espécies de Centris no campo, os dados referentes a essas abelhas foram compilados

sob o gênero.

Os dados de freqüência foram coletados apenas no núcleo com introdução

de abelhas C. analis.

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2.6 - Análises dos dados

2.6.1 - Estimativa da diversidade

Para estimar a diversidade das espécies de abelhas coletadas visitando as

flores da aceroleira em cada núcleo, utilizou-se o índice de diversidade de Shannon-

Weaner (H’), que considera a proporção de indivíduos em relação ao total da amostra e

a riqueza de espécies (SHANNON e WEANER, 1949; ZAR, 1996; BEGON et al.,

2007). Posteriormente os índices foram comparados pelo teste t ao nível de significância

de 5%.

O índice de diversidade de Shannon-Weaner (H’) é dado pela fórmula:

S

H’ = - ∑ pi ln pi i = 1

Onde:

H’ = Índice de diversidade;

ni = O número dos indivíduos em cada espécie; a abundância de cada

espécie;

S = O número de espécies. Chamado também de riqueza;

N = O número total de todos os indivíduos;

Pi = A abundância relativa de cada espécie, calculada pela proporção dos

indivíduos de uma espécie pelo número total dos indivíduos na comunidade: PI = ni/N.

2.6.2 - Equabilidade

Para estimar a uniformidade de distribuição da abundância, utilizou-se o

índice de equabilidade de Pielou (J’) que se refere ao padrão de distribuição dos

indivíduos entre as espécies (PIELOU, 1975; MAGURRAN, 2003).

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Este índice é dado pela fórmula:

J’=H’ / lnS

Onde:

H’= Índice de Shannon-Weaver.

S = O número de espécies.

Para todas as análises de diversidade e dominância foi utilizado o programa

computacional PAST.

2.6.3 - Frequência dos visitantes

Os dados de frequência dos visitantes florais não atendem às pressuposições

da análise de variância por apresentarem uma alta variância, sendo analisados através do

teste não paramétrico de Kruskall-Wallis, a 5% de significância. Para tanto se utilizou o

programa computacional PAST (HOLANDA-NETO, 1999).

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 – Diversidade de abelhas coletadas em visita as flores da acerola

Oito espécies de abelhas visitantes florais da acerola foram coletadas nos

dois núcleos experimentais, sendo quatro comuns aos dois núcleos e quatro exclusivas

do núcleo onde foram introduzidas as abelhas C. analis. No núcleo com introdução de

abelhas coletaram-se 42 indivíduos, pertencentes a oito espécies, quatro gêneros, quatro

tribos e duas Família, enquanto que no núcleo sem introdução de abelhas foram

coletados 156 indivíduos de quatro espécies, três gêneros, três tribos e uma família.

(Tabela 1).

Tabela 1- Espécies de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia emarginata D.C.) em dois núcleos

de cultivo orgânico, no município de Ubajara – CE, em 2010.

APIDAE Área I Área II

Apis mellifera Linnaeus 1758 9 102

Centris (Centris) aenea Lepelitier, 1841 6 13

Centris (Centris) flavifrons Fabricius, 1775 9 4

Centris (Heterocentris) analis Fabricius, 1804 9 0

Centris (Trachina) fuscata Lepelitier, 1841 2 0

Centris (Ptilotops) sponsa Smith, 1854 1 0

Trigona spinipes Fabricius, 1793 5 37

XYLOCOPINAE

Xylocopa (Neoxylocopa) cearensis Ducke, 1910 1 0

Total 42 156

Em ambos os núcleos o gênero mais representativo em quantidades de

espécies coletadas foi Centris com cinco espécies (62,5%) no núcleo onde foram

introduzidas as abelhas e duas no núcleo sem introdução de abelha (50%). Sendo que

das espécies que foram coletadas exclusivamente no núcleo com abelhas, três eram

deste gênero: Centris (Heterocentris) analis Fabricius, 1804, Centris (Trachina) fuscata

Lepelitier, 1841, Centris (Ptilotops) sponsa Smith, 1854. A maior expressividade deste

grupo no núcleo com abelhas está, possivelmente, ligada à maior disponibilidade de

recursos alimentares no local do que no núcleo sem abelhas. Segundo Freitas e Pereira

(2004), esses recursos são fundamentais para o estabelecimento de populações de

abelhas Centris. Ambos os núcleos são cercadas por outros plantios de acerola em duas

bordas e vegetação de mata nativa na terceira borda, que no período do ano do estudo

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encontrava-se em dormência. Portanto, o único diferencial entre os dois núcleos era a

presença de cultivo de cajueiro na quarta borda do núcleo com abelhas, enquanto que no

núcleo sem abelhas existia um plantio de coqueiros. Não há relatos na literatura de

abelhas Centris visitando flores de coqueiro. Por outro lado, o cajueiro floresce no

segundo semestre do ano e as abelhas Centris fazem uso tanto do néctar como do pólen

desta cultura (FREITAS, 1995).

A diversidade de abelhas Centris encontrada no presente estudo mostrou-se

similar aos demais trabalhos conduzidos com esse grupo de abelhas no Nordeste do

Brasil, tendo sido menor que as dezesseis espécies de Centridini registradas por

SCHLINDWEIN et al., (2006) na Paraíba e Pernambuco, nove por SILVEIRA (2002)

no estado da Bahia e seis por MACHADO (2004) em Pernambuco, igual as cinco

observadas por SIQUEIRA et al., (2011) também em Pernambuco, e maior que as

quatro relatadas por GUEDES et al., (2011) na Paraíba, três por RITZINGER et al.,

(2004) na Bahia e uma espécie registrada por FREITAS et al., (1999) no Ceará.

Dentre as duas espécies de Centris observadas em ambos os núcleos do

presente trabalho, C. aenea foi a que se mostrou mais frequente, o mesmo tendo

acontecido nos estudos conduzidos por SILVEIRA (2002), RITZINGER et al., (2004),

SCHLINDWEIN et al., (2006), VILHENA (2009), SIQUEIRA et al., (2011), GUEDES

et al., (2011). Esta espécie é uma das abelhas solitária mais amplamente distribuída e

particularmente abundante na caatinga e cerrada, característica que pode ser atribuída,

entre outros fatores, ao seu comportamento generalista (AGUIAR e GAGLIANONE,

2003).

A segunda espécie mais presente nos dois núcleos em estudo, C. flavifrons,

apresenta-se bem menos comum que C. aenea na literatura, tendo sido registrada na

região Nordeste somente no estudo de SILVEIRA (2002). No entanto, ela também foi

observada por VILHENA e AUGUSTO (2007) e VILHENA (2009) em Minas Gerais.

Talvez essa espécie esteja mais associada a relevos mais elevados e vegetação de

cerrado como em Minas Gerais e existentes também no município de Ubajara, mas

ausentes nas demais áreas de estudo no Nordeste.

A terceira espécie mais frequente, C. analis, foi encontrada apenas no

núcleo com introdução de abelhas. Assim como no presente trabalho, esta espécie

sempre aparece como a segunda ou terceira mais comum em vários estudos realizados

na região Nordeste, mas nunca prevalece como a mais abundante (SILVEIRA et al.,

2002; MACHADO, 2004; RITZINGER et al., 2004; SCHLINDWEIN et al., 2006;

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VILHENA, 2009). A dinâmica populacional dos visitantes florais relaciona-se

diretamente com a quantidade e qualidade dos recursos disponíveis no agroecossistema,

dependendo da dinâmica temporal da floração, grau das flores e da presença de outros

visitantes florais na comunidade (AUGSPURGER, 1983; NEWSTROM et al., 1993,

1994; WILLIANS et al., 1999). Como C. analis nidifica em orifícios pré-escavados em

madeira, a existência e disponibilidade destes pode ser um fator limitante ao

estabelecimento de populações maiores em uma determinada núcleo. No entanto, essa

característica de nidificação abre a possibilidade para o seu criatório, já tendo sido

registrado a sua nidificação em ninhos-armadilhas (OLIVEIRA e SCHLINDWEIN,

2009).

No que se referem às demais espécies de abelhas observadas neste estudo, como

Apis mellifera, Trigona spinipes e Xylocopa cearensis, as duas primeiras foram

encontradas em ambos os núcleos e a última apenas no núcleo com introdução de

abelhas. Apis mellifera e T. spinipes são espécies sociais e generalistas comuns, na

maioria dos estudos de levantamento de visitantes florais, independentemente da

espécie vegetal. No caso de M. emarginata, vários trabalhos relatam a presença dessas

abelhas, mas de uma forma geral são unânimes em não considerá-las como

polinizadores efetivos desta cultura (MELO et al., 1997; FREITAS et al., 1999;

MARTINS et al., 1999; SILVA, 2004, e VILHENA e AUGUSTO, 2007).

Já X. cearensis, tanto por haver poucos registros na literatura dessa espécie como

visitante floral da aceroleira, quanto pelos baixos números em que já foi observada,

pode ser considerada um visitante eventual, com pouco impacto na polinização da

cultura. A expressiva maior ocorrência de A. mellifera e T.spinipes no núcleo sem

abelhas em relação ao núcleo com introdução de abelhas, sugere a existência de alguma

colônia silvestre dessas espécies nas proximidades daquele local, o que explicaria a

maior abundância de campeiras no núcleo sem introdução de abelhas.

3.2 - Riqueza, diversidade e abundância de abelhas visitantes florais da acerola.

Houve diferença estatística (p<0,01) na diversidade e equabilidade de

espécies observadas nos dois núcleos, sendo o núcleo onde foram introduzidas as

abelhas o que apresentou maior riqueza de espécie e melhor índice de equabilidade,

demonstrando maior uniformidade na distribuição das espécies (Tabela 2).

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Tabela 2 - Índices de riqueza, diversidade e equabilidade de abelhas visitantes florais da acerola

(Malpighia emarginata DC.) em dois núcleos de cultivo orgânico, no município de Ubajara – CE, em

2010.

Núcleo Riqueza (S) Diversidade de

Shannon (H’) Equabilidade (J’)

Com abelhas 8 1,85a 0,89a

Sem abelhas 4 0,92b 0,66b

As médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna não diferem entre si, pelo teste de t a 1% de

significância.

Considerando que ambos os núcleos são semelhantes, inclusive com as

mesmas variedades de acerola, possivelmente essa diferença entre os índices de

diversidade e equabilidade dos núcleos esteja relacionada ao entorno dos plantios,

conforme discutido anteriormente. Algumas pesquisas têm identificado que a riqueza

das espécies de abelhas visitantes florais em culturas agrícolas, está relacionada à

existência e proximidade de habitats diferenciados no entorno dos cultivos (CANE,

2001; RICKETTS et al., 2006; KREMEN et al., 2007, MASCENA, 2011). No caso do

presente estudo, a diferença na oferta de alimento das culturas do entorno parece ser o

principal responsável pelos resultados observados.

3.3 - Frequência de abelhas visitantes florais da acerola

A análise estatística das frequências média dos visitantes florais evidenciou

diferenças significativas (p<0,05) entre a atividade das espécies ao longo do dia (Tabela

3).

Tabela 3- Frequência média de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia emarginata DC.) orgânica,

no município de Ubajara – CE, em 2010.

6h 9h 12h 15h 18h

A. mellifera 1,33± 0,55b 0,00 0,00 0,17± 0,16b 0,00

Centris 7,00± 0,82a 5,67± 1,09a 3,83± 0,70a 1,00± 0,23a 0,00

X.cearensis 0,33± 0,21b 0,17± 0,16b 0,00 0,00 0,00

T.spinipes 0,67±0,49b 0,00 0,00 0,17± 0,16b 0,00

As médias seguidas pelas mesmas letras, na coluna e nas linhas não diferem entre si, pelo teste de

Kruskall-Wallis a 5% de significância.

As abelhas Centris foram as mais frequentes nas flores da acerola em todos

os momentos do dia, tendo diferido significativamente (p<0,05) das demais espécies,

que por sua vez, não diferiram entre si (Tabela 4). No que diz respeito ao padrão de

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41

forrageamento, enquanto as outras espécies concentraram suas visitas apenas no início

da manhã, por volta das 6:00 h, ocorrendo apenas esporadicamente nos demais horários,

as abelhas do gênero Centris estiveram presentes nas flores das 6:00 às 15:00 h, embora

em padrão decrescente de abundância (Figura 4).

Figura 4 – Freqüência média de abelhas visitantes florais da acerola (Malpighia emarginata D.C.) em

cultivo orgânico, no município de Ubajara,-CE, em 2010.

Outros estudos já haviam relatado um comportamento de forrageamento

semelhante (MELO et al., 1997; FREITAS et al., 1999; OLIVEIRA e

SCHLINDWEIN, 2003; SILVA, 2004; MACHADO, 2004 e SIQUEIRA 2007). Este

padrão favorece a polinização da cultura, uma vez que o estigma das flores da acerola já

está receptivo a partir das 06:00 h, coincidindo também com o horário de deiscência das

anteras (FREITAS et al., 1999) e de maior atividade das abelhas neste estudo.

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4 - CONCLUSÕES

Diante dos resultados obtidos neste trabalho, pode-se concluir que:

A diversidade de visitantes florais de M. emarginata, em Ubajara-CE, não

difere das demais regiões do Nordeste brasileiro, onde as abelhas do gênero Centris

constituem o principal grupo.

A diversidade e abundância das abelhas Centris podem variar grandemente

entre núcleos semelhantes e próximos, provavelmente devido às variações nos recursos

essenciais para a sobrevivência ou estabelecimento de populações dessas abelhas.

As espécies de Centris mais freqüentes nos núcleos estudadas são C. aenea,

C. flavifrons e C. analis. Centris analis é a espécie com maior potencial para uso na

polinização dirigida pela possibilidade de criá-la em ninhos-armadilha.

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Capitulo III

Uso de ninhos armadilhas povoados com abelhas Centris (Heterocentris) analis

para polinização de acerola (Malpighia emarginata D.C.).

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RESUMO

Objetivou-se com este trabalho estudar o efeito da introdução de ninhos povoados de

abelha coletora de óleo Centris (Heterocentris) analis Fabricius na produtividade de

pomares orgânicos de acerola (Malpighia emarginata D.C.). A pesquisa foi realizada de

agosto a outubro de 2010 em Ubajara, Ceará, Brasil. A metodologia constou do

monitoramento da produção de frutos em núcleos com quatro variedades de acerola sem

e com a introdução de (n = 242) ninhos povoados por C. analis, análise e comparação

da produção de frutos entre os núcleos. Os resultados mostraram um aumento de 38%

no número de ninhos povoados e no que se refere à produção, houve um aumento

significativo (p<0,05) na produção de frutos tanto por área, quanto por variedade e por

planta no núcleo que recebeu os ninhos de C. analis em relação aquele sem a introdução

de ninhos. Concluiu-se ser possível multiplicar populações de C. analis em pomares de

M. emarginata para uso na polinização; aumentar a quantidade de abelhas C. analis e

reduzir déficits de polinização em pomares de acerola por meio da introdução de ninhos

povoados; e que a introdução de ninhos de C. analis para polinização em cultivos

comerciais de acerola pode proporcionar ganhos reais de produção.

Palavras – chaves: Abelhas coletoras de óleo, criação de abelhas, déficit de polinização,

polinização por abelha, polinização agrícola, produção de acerola.

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ABSTRACT

The present work aimed to study the effect of introducing trap nests inhabited by the oil

collecting bee Centris (Heterocentris) analis Fabricius on the productivity of organic

orchards of acerola (Malpighia emarginata D.C.). The research was carried out from

July to October 2010, in Ubajara, Ceará, Brazil. The methodology consisted in

monitoring and comparison of fruit production between two plots cultivated wth four

acerola varieties, with and without the introduction of 242 trap nests inhabited by

C. analis. Results showed an increment of 38% in the number of trap nests inhabited by

C. analis and regarding yield, there were significant increments in fruit production per

area, variety and plant in the plot with the nests of C. analis in relation to that without

the introduction of bees. It was concluded that it is possible to use M. emarginata

orchards to multiply populations of C. analis for pollination purposes; it is possible to

increase the number of C. analis and to reduce pollination deficits in acerola orchards

by the introduction of inhabited trap nests, and that the introduction of these nests of C.

analis for pollination in areas of commercial cultivation of acerola can provide real

gains in productivity.

Keyword: acerola yield, bee rearing, bee pollination, crop pollination, oil-collecting

bees, pollination deficit

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1 - INTRODUÇÃO

As abelhas pertencem aos Apoidea Apiformes, estimadas em

aproximadamente 30.000 espécies, tem uma grande variedade de hábitos de nidificação,

desde espécies solitárias com poucas células de cria, até espécies sociais com milhares

de células (ROUBIK 1989; MICHENER 2000).

As abelhas solitárias apresentam hábitos de nidificação variados

(EICKWORT e EICKWORT 1973; RAW, 1977; RAW, 1984; CAMILLO et al., 1993 e

MARTINS et al., 1996). Na tribo Centridini, por exemplo, as abelhas nidificam

preferencialmente em solo plano (ROZEN e BUCHMANN, 1990; AGUIAR e

GAGLIANONE, 2003; GAGLIANONE, 2005), algumas em termiteiros

(GAGLIANONE, 2001) e barrancos (COVILLE et al., 1983) e, no caso de Centris,

mais especificamente dos subgêneros Heterocentris, Hemisiella e Xanthemisia, em

cavidades preexistentes em madeira (GAZOLA e GARÓFALO, 2003; AGUIAR e

GARÓFALO, 2004; THIELE, 2005).

A arquitetura dos ninhos das espécies de Apidae, que nidificam em

cavidades preexistentes, caracteriza-se, por uma série de células individualizadas por

divisórias (PÉREZ-MALUF, 1993). Desta forma, procurou-se desenvolver um modo de

atrair as abelhas para nidificar em estruturas que pudessem ser posteriormente

deslocadas e ao mesmo tempo permitissem a obtenção de informações sobre a

diversidade e abundância de espécies nidificando em cavidades preexistentes, assim

como sobre a biologia das espécies, materiais de construção utilizados, arquitetura dos

ninhos, recursos fornecidos para as larvas e biologia das espécies parasitas

(GARÓFALO, 2000; OLIVEIRA e SCHILNDWEIN, 2009). Diversos modelos dessas

estruturas chamadas ninhos armadilhas foram propostas com diferentes graus de

sucesso para várias espécies de abelhas (CAMILLO et al., 1995; SILVA et al., 2001 e

MESQUITA, 2009).

Alguns estudos têm inferido a possibilidade de se utilizar as espécies que

nidificam em ninhos-armadilhas como bioindicadores de qualidade do ambiente e

diversidade em programas de conservação ambiental (BEYER et al., 1987; FRANKIE

et al., 1998; TSCHARNTKE et al., 1998; MORATO e CAMPOS 2000), como também

a sua utilização como espécies manejáveis para incremento da polinização de culturas

agrícolas (WILLIAMS, 1996; OLIVEIRA e SCHLINDWEIN, 2009).

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Diante do exposto, propôs-se no presente trabalho introduzir ninhos

armadilhas povoados pela abelha coletora de óleo Centris (Heterocentris) analis em

cultivo comercial de acerola (Malpighia emarginata D.C.) visando avaliar o efeito sobre

a população de abelhas, bem como na polinização e produtividade da cultura.

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2 - MATERIAL E MÉTODOS

As características edafoclimáticas da região, período do experimento e

localização, descrição e paisagem no entorno dos núcleos experimentais foram descritos

no capítulo 2.

2.1 – Os ninhos armadilhas

Os ninhos armadilhas eram formados por cavidades de 8 mm de diâmetro e 150

mm de profundidade, agrupados em sete pedaços de madeira (140 x 150mm) para

formar um bloco. Cada bloco continha 96 ninhos armadilha distribuídos em 16 colunas

e seis linhas (Figura 5).

Figura 5: Desenho esquemático do modelo de um bloco contendo 96 ninhos armadilhas.

2.2 – O experimento

O experimento constou da introdução em um dos núcleos de 14 blocos

contendo 242 ninhos povoados pelas abelhas coletoras de óleo Centris (Heterocentris)

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analis e o acompanhamento da nidificação, bem como da produção de frutos das quatro

variedades de acerola presente no núcleo. O mesmo procedimento foi feito no núcleo

onde não houve a introdução de ninhos povoados por abelhas coletoras de óleo.

No núcleo com introdução de abelhas, os blocos de ninhos armadilhas foram

distribuídos em uma linha reta sob árvores que formavam uma barreira de quebra vento

entre as culturas de acerola e caju. Cada bloco foi localizado aproximadamente a 1,5 m

de altura, distante 25 m um do outro, tendo um total de 14 blocos distribuídos em 360 m

de barreira de quebra vento.

Devido ao povoamento desigual pelas abelhas, alguns blocos possuíam números

de ninhos povoados bem maior do que outros e alguns não possuíam nenhum ninho

povoado no momento da introdução no núcleo com abelhas. Devido a isso, os ninhos

foram distribuídos aleatoriamente através de sorteio.

As observações em blocos de ninhos armadilhas povoados por abelhas C. analis

foram realizadas em diferentes gradientes de localização, ao lado do cultivo, tomando

como referência inicial a borda oeste do núcleo, correspondente a uma mata de caatinga

em repouso há 15 anos (Figura 2). Os ninhos armadilha com sucesso de nidificação

foram contados, coletadas as abelhas antes e depois do florescimento da cultura da

acerola e encaminhadas para serem identificadas.

Os dados referentes à produção foram obtidos através de registros diários em

planilhas dos frutos colhidos por variedade no campo durante os três meses de estudo,

em ambos os núcleos experimentais.

2.3 - Análise dos dados

Os dados de produção de acerola não atenderam às pressuposições da

análise de variância por apresentarem uma alta variância, sendo analisados através do

teste não paramétrico de Kruskall-Wallis, a 5% de significância. Para tanto se utilizou o

programa computacional PAST (HOLANDA – NETO, 1999).

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3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1- Nidificação de espécies de abelhas Centris (Heterocentris) analis em ninhos

armadilhas na área I.

Os resultados mostraram que ao final do florescimento da acerola, havia

uma diminuição no número de ninhos povoados nos dois blocos mais próximos a borda

oeste, localizados no gradiente de 60m. No entanto, em todos os demais blocos,

localizados de 80 a 360m da borda oeste, houve aumento de 38% no número de ninhos

povoados (Tabela 4).

Tabela 4 – Número de ninhos armadilhas povoados por abelhas Centris (Heterocentris) analis

introduzidos no início e coletados no final do florescimento da acerola (Malpighia emarginata DC.)

em cultivo orgânico no município de Ubajara – CE, em 2010.

Gradiente/

Blocos

60 m 80 m 120 m 160 m 200 m 240m 280 m 320m 360 m

A B C D E F G H I J K L M N

Ninhos

povoados

introduzidos

no início da

floração

9 50 68 12 0 27 1 0 20 0 0 0 29 26

Ninhos

povoados

coletados no

final da

floração

7 36 74 22 15 56 5 22 33 30 9 1 34 47

Diferença -2 -14 +6 +10 +15 +29 +4 +22 +13 +30 +9 +1 +5 +21

O declínio no número de ninhos povoados nos blocos mais próximos a

borda oeste, provavelmente se deu por esta apresentar condições de nidificação mais

naturais, sendo esta uma mata conservada, em que apresentava várias possibilidades de

substrato para nidificação destas abelhas. Assim conforme os novos indivíduos

eclodiam, possivelmente encontravam condições mais favoráveis, para nidificação na

mata. Segundo Cane (2001), o comportamento de nidificação das abelhas, assim como a

borda dos plantios, pode interagir influenciando a biodiversidade de visitantes florais

nos agroecossistemas. No caso das abelhas Centris, elas são reconhecidas por sua

preferência em nidificar em substratos facilmente encontrados nos habitats naturais

(RAMOS et al., 2007), portanto, a mata nas proximidades dos blocos localizados mais a

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Oeste do plantio podem ter se mostrado mais atrativa para a nidificação do que os

blocos artificiais.

Todavia, conforme a distância de localização dos blocos dentro do cultivo

aumentava em relação à mata, as condições de nidificação se tornavam mais escassas,

sendo, portanto mais favorável o povoamento dos ninhos armadilhas localizados dentro

do plantio. Isso pode justificar o aumento considerável no número de ninhos povoados

nestes blocos, inclusive naqueles que não possuíam nenhum ninho povoado quando

foram introduzidos no núcleo.

3.2 – Produção de acerola

Houve diferença significativa (p<0,01) na produção total dos núcleos em estudo,

tendo o núcleo onde foram introduzidos os blocos de ninhos armadilhas com abelhas C.

analis, apresentado uma produção de frutos de 2.763 kg/ha enquanto no núcleo sem

introdução de ninhos armadilhas, a produção foi de 963 kg/ha. Existindo assim um

acréscimo de 286,64% na produção de frutos no núcleo com introdução de ninhos

armadilhas.

A comparação entre as médias de produtividade dos dois núcleos estudadas

evidenciou diferenças estatísticas (p<0,01), sendo o núcleo com abelhas mais produtivo.

Em média o núcleo onde foram introduzidas as abelhas produziu 3,1kg de fruta por

planta a mais do que o núcleo sem introdução de abelhas, (Tabela 5). Considerando o

numero de plantas em por núcleos, houve um aumento de aproximadamente 1,8

toneladas de fruta nos três meses do experimento no núcleo onde as abelhas C. analis

foram introduzidas. Representando uma diferença em reais no núcleo com abelhas de

R$ 12.233,20 em relação ao núcleo onde não foram introduzidas abelhas C. analis.

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Tabela 5 - Produtividade média da aceroleira (Malpighia emarginata DC.) em cultivo orgânico com

introdução de ninhos artificiais de Centris (Heterocentris) analis e sem a introdução dos ninhos, no município

de Ubajara – CE, em 2010.

Variedades Talhões

Com

Introdução de

C. analis

(kg/planta)

Sem

Introdução de

C. analis

(kg/ planta)

Diferença entre

os Núcleos

(Kg)

AC 71 01 4,61 1,70 2,91

AC 71 02 4,16 2,40 1,76

AC 71 03 6,64 2,58 4,06

AC 71 04 4,00 3,00 1,00

AC 71 05 5,31 1,18 4,13

AC 71 06 7,58 1,66 5,92

AC 71 07 5,12 1,56 3,56

AC 71 08 5,99 1,34 4,65

Média - 5,42±0,43 1,92±0,22 3,49±0,55

FP 19 01 4,64 1,65 2,99

FP 19 02 3,97 2,47 1,50

FP 19 03 5,45 2,56 2,89

FP 19 04 7,63 1,18 6,45

FP 19 05 5,20 1,67 3,53

FP 19 06 3,05 1,55 1,50

Média - 4,99±0,63 1,84±0,22 3,14±0,74

AC 69 01 6,65 1,70 4,95

AC 69 02 3,87 3.04 0,83

AC 69 03 5,31 1,63 3,68

AC 69 04 5,15 1,34 3,81

Média - 5,24±0,56 1,92±0,37 3,31±0,87

AC 13/2 01 7,63 0,96 6,67

AC13/2 02 1,66 1,55 0,11

AC 13/2 03 2,48 1,34 1,14

AC 13/2 04 3,19 0,58 2,61

Média - 3,74±1,33 1,10±0,21 2,63±1,44

Média Geral - 4,84±0,37 1,69±0,19 3,14±0,18

Média de

produção p/ ha - 2.763,64 964,99 1.798,65

Como os núcleos apresentavam as mesmas condições de cultivo e solo, diferindo

apenas pela introdução dos ninhos armadilhas povoados com C. analis, provavelmente

essa diferença produtiva deve ser o resultado da presença destas abelhas, reconhecidas

como eficientes polinizadoras da cultura em estudo.

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CONCLUSÕES

Conclui-se com este trabalho que:

O cultivo comercial de acerola (Malpighia emarginata D.C.) pode ser usado

para manter e/ou multiplicar populações da abelha coletora de óleo Centris

(Heterocentris) analis em ninhos armadilhas;

A introdução de ninhos armadilhas povoados com abelhas Centris

(Heterocentris) analis em cultivos comerciais de acerola (Malpighia emarginata D. C.)

pode favorecer os polinizadores necessários para evitar déficits de polinização e levar a

aumentos consideráveis de produtividade;

Existe a possibilidade de exploração comercial da espécie Centris analis

para uso na polinização agrícola.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS E IMPLICAÇÕES

A acerola (Malpighia emarginata D.C) tem sido estimulada para produção de

frutos para consumo in natura e como matéria prima na produção de sucos obtidos a

partir da polpa congelada; em geléias, marmeladas, compotas, licores ou refrescos,

sucos, doces e sorvetes no Nordeste brasileiro. Apesar de existirem muitas dúvidas

sobre a cultura, este trabalho pôde contribuir com esclarecimentos sobre aspectos

relacionados à diversidade e frequência de abelhas visitantes florais da acerola, espécies

potenciais para uso na polinização e uso de ninhos armadilhas povoados com abelhas

Centris (Heterocentris) analis para polinização.

Dados obtidos neste trabalho mostram que uma diversidade de abelhas do

gênero Centris frequentam os pomares de acerola e visitam as flores da cultura. Os

resultados também sugerem que essas abelhas dependem de outras fontes de alimento e

locais de nidificação para o estabelecimento de populações grandes o suficiente para

causarem impacto na polinização da acerola. Implicando, portanto, na necessidade de

manter nas proximidades dos plantios, áreas de vegetação nativa ou culturas capazes de

fornecer esses recursos, como foi o caso do cajueiro (A. occidentale).

Dentre os visitantes florais mais freqüentes, apenas C. analis nidifica em

cavidades preexistentes, o que permitiu criá-las em ninhos armadilhas e introduzi-las

nos pomares. Feito isso, o estudo demonstrou que o cultivo comercial de acerola pode

ser usado para manter e/ou multiplicar populações desta abelha coletora de óleo

permitindo uma potencial exploração comercial desta espécie para uso na polinização

agrícola.

Por outro lado, a introdução de ninhos armadilhas povoados com abelhas Centris

analis em cultivos comerciais de acerola pôde favorecer os polinizadores necessários

para evitar déficits de polinização, implicando na possibilidade de se aumentar a

produtividade desta cultura por meio da polinização dirigida.

Esta é a primeira pesquisa onde se testou a introdução de ninhos armadilhas

povoados com uma espécie de abelha Centris em cultivo de acerola. Também é o

primeiro a demonstrar, por meio de avaliação da produção e comparação entre núcleos e

variedades onde essas abelhas foram introduzidas ou não. Espera-se que este trabalho

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venha a estimular mais pesquisas neste âmbito e que a polinização dirigida com

Centridini possa em breve ser uma realidade na agricultura brasileira.