Pedro Tamen Retábulo das Matérias · Com verdadeira calma afastamos o ar devagarinho 108 E vejam...

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Pedro Tamen Retábulo das Matérias 1956-2013 SUB Hamburg IMPRENSA NACIONAL 2018

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Pedro Tamen Retábulo das Matérias1956-2013

SUB Hamburg

IMPRENSA NACIONAL 2018

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ÍNDICE

POEMA PARA TODOS OS DIAS (1956) 5

I — O DIA 9

Fresco era o dia, plantado na chuva 11

II — OS DIAS 15

Não há mais céu 17

Tempo verde de choupos, de salgueiros, de rios ignorantes e espraiados 18

Naquele tempo, viver era a melhor coisa do mundo 19

O tempo era os teus olhos claros 20

E aquele dia em que viemos à cidade 21

Simples, perfeito aviso 22

Como eram cheios os dias de tudo! 23

— Vai até ao fim do ar colher a branca flor 25

Sonho-te real em lágrimas de mar 26

Neste seco papel 27

Uma noite de grande sombra escura, natural 28

Estávamos por fim 30

O tempo 31

Eu bem me lembro 32

Entre luzes atentas, ficámos em silêncio 34

Lentamente, na terra preparada descansou o vento 35

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III — TODOS OS DIAS 37Cântico sorvido na delicadeza das horas 39A corte reunida, eis que os cavaleiros aparecem 41Eis que a mortalha caiu e não vale a pena levantá-la 42Quando o muro desceu até ao nível da terra 43As mãos fechadas 44Quando dos montes leves aquela voz rolava devagar

e descia lentamente para os rios 45Porque choram, porque gritam 46Eu vi a multidão que rapidamente avançava pelos campos 47Senhor, nós sabemos: enormes as ruas 48Dorme, dorme, Cidade... 49Ai os olhos imperfeitos 50Densas ruas de mistério 51A rapariga está 52A raiva não existia 53Entre a poeira 54Na rua sem lugar 56Pesada, pesada mão 58Cai grave, cai perfeita 60Nitidamente sólidas sobre o fundo do ar 61Enfim, homem, tu calmo, tu simples, tu pacífico pescador de múrex 62 Aí, a duração de um século saltando frouxamente a ponte submersa 63 Sem vento não virá, decerto não virá 64Círculo largo, a fonte. Será o vento forte 65Eis o que os cães fizeram: detritos. Cuidadosamente 66No beijo contra a parede, na boca a saber a cal 67

IV - DEPOIS DE TODOS OS DIAS 69No ressaibo das noites, as Tuas longas asas, as Tuas largas asas

de morcego 71Reconhecido pranto, este, delicado 75Barco, barco subo, ardente, hemisfério pleno, sem mar... 78

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0 SANGUE, A ÁGUA E O VINHO (1958) 83

I — O SANGUE 87Agora ressoa a noite sacudida, se fura o céu de fúria 89Eis que de trás, de longe, alguma coisa chama 90Escrevo estes versos de grãos de terra na mão: eis a prova 92Não há montanhas se não há palavras 93Veloz, desce a causa ao fundo como um pêndulo 94Sofreguidão e onda, corpos lassos, tudo 95Estava o monte, estava a cruz, estava ele 96Uma única morte: agora, em toda a parte, exangue, vem nos ventos 97 Um soldado levantou a lança e rebentaram os cânticos 98Mil vezes homem, mil vezes grito 99Agora os montes descem vagarosamente em veredas sem limites 100Minha Senhora, porque está de luto 101

II - A ÁGUA 103

Agora muitos montes; e o rio 105Na perfeição do ramo está a pedra. Na seiva 106As próprias sombras se perfazem; e os frutos 107Com verdadeira calma afastamos o ar devagarinho 108E vejam alegria tão solta, nos buracos abertos 109Cada monte tem um certo cheiro a montes 110Do coração dos frutos um Sopro diz às mãos 111Contemplemos a força inevitável desse espelho 112Rígidas cabeças, não lembrais 113

III-O VINHO 115Isso de que gostámos tanto; impulso 117É onde a sombra cai, como de neve 118Quem chegará, civil e progressivo, de unhas mais limadas 119Deixámos as paredes pintarem-se de roxo 120

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Alguém domador de cavalos 122A meio da mudança, no peso do que passa 123Pois se é cansados, Pai, que o nosso pé reclama 124Subidos, tombam das trombetas os solenes 125Um pé por sobre o pobre 126Aos que nasceram hoje de manhã 127Revoam setas, gastam-se os sinais 128Reposto o pão na mesa 129O que existe resume 130O som que faz, caindo 131Amada a clara lança 132O que na relva corre tem ora nas pegadas 133Filhos do mar, rígidas fontes 134Estes, não outros olhos veem 135É mesa o horizonte 136Casados num só sim 137

PRIMEIRO LIVRO DE LAPINOVA (1960) 139

Perto de Lapinova 143Versos para o primeiro poema 144As oito e tal, amor 145Se dia, porque dia, como dia 146Que tempo me empurrou? E quem se deu 147Se recordando os prédios me levanto 148Ouves-me? O próprio azul é interessado 149Nas unhas que não eram 150Seguro te sei 151Ouves, meu amor, a água que brotou 152Hoje trago-te o vento; eu sei 153De ti o cálice levanta 154Socorre a tua mão se no perdido 155

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Nas mais exatas fontes 156E agora: a tua pele 157A segurança destas paralelas 158Agora são lumes o que escorre? 159Ao calor da tua mão refaz-se o mundo 160E canto agora o passo e a pegada 161E não há nada, agora. Sabes da queda 162Alaranjados, verdes, são deuses que aparecem 163Calafetemos a noite: serão cardos 164Nas nervuras da luz 165Ondadas, as neves que entorpecem 166Porque se amanhã 167Ninguém está longe: ao pé 168Sereníssimo o jeito 169Vento que brando abanas 170No desfazer-se de água, ruídos arejados 171Desdigo as horas e quem demais se apressa? 172Eu digo exato e dito a forma 173Eu digo-te uma coisa: os grilos cantam 174Agora me esperas, de novo me esperas 175Te levo 176Um pé de noite em pé se põe 177Branco é 178Aqui, junto da foz do rio, meu amor, eu digo vivo 179Insuspirados, prontos 180E leves, quem nos leva 181Minha mulher cabeça tronco e membros 182E é a tua sombra, e é e se desfaz 183Um pequeno momento, só para dizer 184

POEMAS A ISTO (1962) 185

O Mosquito 189Não do perfume ou quedo engate 190

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Internato 191Se digo a morte e a fonte 192On ne badine pas avec 1’amour 193Nunca direi 194Cardo 195Todas as palavras 196Sorte 197S 198Futebol 199Fazer horas 200Hora da refeição 201Primavera 202Ao tempo 203Câmara escura, porém ardente 205Figo seco 206Muito mais que praia 207Transporte coletivo 208Salto à corda 209Assim-assim 2110 corte 2120 iceberg 213Sem rede 214Improviso aos profetas 215Edital 216Os ocultos errados 217Em louvor dos desportos náuticos 218Mercurocromo 219Para que todos 220Ao pé de nós e vem 221Investigação de paternidade legítima 223Finale 226

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DANIEL NA COVA DOS LEÕES (1970) 227

DANIEL NA COVA DOS LEÕES 231Antes de cedo ou já depois de tarde 233Que mal e vento veio 234Quando a lua de joão penha se põe por sobre as casas 235A isso que dos olhos nos decai, agora só 236Amigo, temos veias importunas 237Na lenta exsudação das plantas, onde 238Tenso perfume 239Como dos lobos fujo. Pois que é se não 240Assim moído, gasto e moço 240Eu digo amor de forma intensa e breve 241Adis-Abeba tem belos eucaliptos 242Ganho braços de vime, agora cheiro 243Vá, gambozino 243Ora me calo. Que o túmido fruto 244Que se calou tão de repente braço 245Nem do que deste ou dás 246

SEGUNDO E TERCEIRO LIVROS DE LAPINOVA 247Já um sono internado atrás dos muros altos 249Eu, isto é, o braço 250Eis, fécula das horas, a sumidade esconsa 251A curva das pestanas conhecida 252Meu amor, que grave espanto 253Nem esquece o que tenho 254É um sino que timbra 255Bolem folhas e são nadas 256Nascem do céu agulhas 257Digo de ti búzios desertos — ocos não 258

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Correntes de ar arejam 259Tempo, nevoeiro e argamassa 260Com muito frio a tua mão é ela 261A palma branca e lisa é só areia 262Que quer dizer um ano, ou mês? 263Que tempo é o meu? Que mal 264Balança estreme onde o que pousa pesa 265O mar é longe, mas somos nós o vento 266Acresce em tempo, é leve a bruma 267Falo. Digo-te azuis e verdes 268Gotas de sol ou neve 269Não tenho para ti quotidiano 270Em ti não busco mais do que pensar-te 271Anuncia-te a lua cabeça de toiro 272Quando digo o teu nome digo romãzeiras 273Adiro ao grande segredo da pedra, ao 274Vamos dormir aqui um bocadinho 275

MINÚSCULAS 277Começar por assentar bem o papel 279Haver no fundo um templo ou uma casa 281Que morte amar-te 282Para que alguma coisa seja minha 283Indubitável crosta, lerdo pano, carne viva e neutra 284Por que raízes puxo mais do que 285Pele a pele, ponto por ponto toco 286Entrada a vida pelo largo túnel 287Acolitar as ruas com olhos azulados 288Aperta a mão do mar, diz-lhe bom-dia 289E agora que não tenho mais nada a dizer 290Regando lentamente as flores do riso 291

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ESCRITO DE MEMÓRIA (1973) 293

Amor falaz e tenso, encantação 297O teu corpo, o teu corpo é sem estrada 298A perfeição calhada em cada gesto 299Atrás do muro grosso açaimo o fogo 299E nisso haver. E nisso persistir 300Adiro à tua mão como ter nome 301Formado em direito e solidão 301Por me dizeres o nome nascem fontes 302Meu amor, de madrugada 303Não te digo mais que um nome escrito 304Um dia olharemos estas mãos 305Quando as bocas não servem para falar 306Contra a terra te deitaste 307Já não há estações, mas a tua pele 308Meu chão de maçãs, celeiro 309Abre-se o lume onde se espera menos 310Não durmas, que há uma escada 311Nessa árvore de verde à nossa espera 312Quando se fazem água os olhos 313Noite de sete noites, onde estrelas 317Tenho uma coisa para te entregar 318Nasceste tu onde os cavalos bebem 319Escrevo-te de perto, como se a mão 320Que luas me deram 321Amar-te é vir de longe 322Adiro e rememoro, calo e vejo 323Sob a terra de inverno 324Tu, mulher de lago, és de vento e frágua 325Tanto e tonto te amo 326Ter-te, ou não, amar-te 327De que flor me nasce a vida 328

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Amor calado em tanto e em tão pouco 329Como se a vida em branco 330Minha secura agulha pela noite 331Tal como do ovo e da galinha te pergunto 332Que verde ou amarelo, que mudança 333Ah, tempo mais comprido que a garganta 334Parcos arados sob a chuva brusca 335Que duro e longo curso 336Seja qual for a estrada 337Meu luminoso milho, macho e verde 338Qual no princípio de uma outra era 339Tenho mãos de te amar por sobre os rios 340Não falo de palavras, nem de goivos 341

OS QUARENTA E DOIS SONETOS (1973) 343

Por sob os ombros me caio 347Lembro vimes e lagos manhã cedo 348Erguer-te perto e longe pela noite 349Tento pensar-te acima de menino 350Minha mulher de parmas e cidades 351De outonos brandos como o sol nascido 352Só me separa intenso do que foge 353Atrás do morro vivo e digo mar 354Não temas outros olhos do que os teus 355Que sabes, e o que sei, que me devoras 356Ó sede fugitiva, se navegas 357Os trémulos sinais à minha beira 358Amor, fazer amor, fazer crescer 359Entre a vida e a vida te colocas 360De bruma e bruma a branco e branco vem 361Sedento abrigo, em fumo te manejo 362

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Sobre a perna direita me divido 363Devido e esconso, poço, aqui te chego 364Se duro e te mereço, rememoro 365Como o Caeiro, sabes, digo adeus 366Pois dorme, ó meu amor, a sono salto 367Quase não querer-te é querer-te ainda mais 368Amor, amar-te qual, amar-te quanto 369Por ti dou tudo, mortes, mais do que eu 370Amor intraduzível em francês 371Não seja o que te quero que me traga 372Num país infalível eu te quero 373Não sei, amor, sequer, se te consinto 374Nem choro, nem me vingo, nem afago 375Se não supor-te é suportar deveras 376Da minha sombra antiga ou do tabaco 377Já mais que o verso a tua pele me interessa 378Já se das mãos nos larga a madrugada 379Num outro mar que desses morreria 380Não mais, portanto, as ondas atormentem 381Do ar, amor, doado surto abate 382Mulher, crescem os dias. Que estações 383Ó meu amor de belicosa lava 38405 ventos soltos sobem as encostas 385Pois, meu amor, aqui me tens doado 386Tocam banjo meus olhos nas tapadas 387Nas primaveras dúbias, impotentes 388

AGORA, ESTAR (1975) 389

SEIS PSEUDOSSEXTINAS 393Dolor exata como a turva marga 395Te digo, te mendigo, te redobro 397

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Tão morto-vivo, ou mais que morto, vivo 399Que digo eu que te não seja escasso 401Indelicada morte que me estimas 403Vou a Praga à boleia, meu amor 405

OS PRONOMES PESSOAIS E OUTROS POEMAS 407Quando a meio da noite baixa a tua sede 409Pois que te digo que não saiba ou oiça 412

Agora tu, pequena Graça, que nos olhas 414Mares de turva e branca e arenosa 415E vós ouvi, que eu digo contra o vento 416Só dos mortos devemos ter ciúmes; acordar 417Sibila, diz que sim, sibila 419Minha palavra simples, ó herdeira 420Te visto, te lavo 421Era decerto o escriba acocorado 422Nada afazer, amor: tu és nascida 422Este meu termo, ou lugar que amamenta 423

AGORA, ESTAR 425Tal mesmo no princípio 427A, ante, após 428Eu vi-te branca como as intenções 429Do mesmo passo em que te aceito, aceito 430Que há de novo aqui que te não queira? 431Adiro à planta que nos planta e cola 432Vazios dedos, vasos de teus dedos 433Descer devagar até ao limbo 434A luz que vem das pedras, do íntimo da pedra 435Mulher minha de carne e aves loucas 436Eu falo de cores de Bonnard na mão 437

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Como se árvore subimos à verdade 439Devassa livre o braço todo aberto 440

Sentidos frios de passadas frases 441

Cão adiado à soleira sentado 442

O APARELHO CIRCULATÓRIO (1978) 443

Deveras tudo. Devoras 447Deserto bando alude ao tempo vário 448

Luminoso perdão 449Ê verde o rosto, é verde o lado 450

Temida ondulação do nosso mar coado 451Nada mais arde a sul da morte 452

Não só criámos olhos, mas o visto 453Um filho como um verso: neste branco 454Se da mão se nos solta a armadilha 455

Pois que diabo, Alfredo, arruma a porra 456

É a mão que sobe à tua pele 457É o riso augurai, madrugador 458Há mundo mais do que nos olhos sopra 459Não tem memória a morte, nem a vida 460

Demente, escorre a luz atrás da luz 461De neve nada sei, de sol também 462Em carne e pelo, em sobredita fronte 463

Digo azeitona de tal forma serena 464

Bruxo limão: dorida purga 465Há de, fortuna, um dia perceber-se 466Macia, entre as coisas 467

De onde não sabes nem sei 468De luas ou de trigos busco o nome 469

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HORÁCIO E CORIÁCEO (1981) 471

Como falar de assírios nos perturba 475De pequena e firme e repentina 476Sumo penitente dado à praia 477Que é isto de silêncio? 478Digo: o sol nasce a oriente 479Assim temos a terra: a hubris calma 480Demora o sangue da gente 481Donde vieram os candeeiros 482Do lar, do lido 483Onde foste ao bater das quatro horas 484Por acaso ele e ela se deitaram 486Cabe nos olhos que tenho 488De longe, a luz dos barcos espreitava 489Em segredo, como quem vai ao armário de si próprio 490Falo das areias, do branco das brumas 491Tua palavra é longe 492Não tinha amor, amor, o sol ausente 493Olha, Daisy: quando amanhã for à praça 494— Não te vejo há séculos rapaz como vais tu? 495Saudável e real, aqui me trago 496Ah, sinais violentadores de espuma imaginada 497Faz hoje oito dias tinha eu oito anos 498A mais não sofro que não sofra ainda 499Eu, sem pai nem mãe, aqui presente 500Adulto estava sobre as horas sumas 501Faltou dizer que tenho mãos 502Labutaram anos vários calafates 503Ao descer o monte para o rio de vidro 505Nas folhas, nas palavras escritas 506

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Tecida via de soldadas pontes 507Na correnteza ou estrada 508Atirar-me ao candeeiro 509Sei bastante de mãos: falange, fàlanginha e falangeta 510Está um Volkswagen branco matrícula HG-63-24 511Um bando de pombas voa 512Do meio do mar deveras 513Abraça sobre o verde, jovem, o corpo inacabado 514De Odessa, pela escada, quem se faz ou morre 515Um canto em quatro cantos repartido 516Nestas mesmas palavras 517Jaz no que faço ou canto 518Interstícios de verbo em que insinuo 519Ao encontro das pequenas tremuras 520O dado odiado que me sai da mão 521Sobre as pernas imigas me levanto 522De fato feito, sem medida ou pano 523Caindo a tarde me levanto eu 524Como no Trovador, avanço quatro passos 525Ondina branca de que mar tão escuso 526Adoece de parto e de medida 527Entrego o dia de hoje ao de amanhã 528Bebo sentado pelas seis da tarde 529De mente em punho 530Ao respirar demando a cada coisa 531A tua morte pulsa-me nos dedos 532Não espero nada do petardo, abuso 533E quem sou eu, de pé, ao pé de ti 534Como um papel, não rasgues este dia 535Vão-se-me os dedos, ficam-me os anéis 536Agora abandonado sem sentimento algum 537

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DENTRO DE MOMENTOS (1984) 539

Para a abelha não tenho solução 543Vê o pássaro descer sobre a folha exata 543Às palavras que descem pelo rio 543Duro 543Ao velho falece o braço 544Orfeu ao balcão avia bicas 544O susto e fito de mudar enquanto 544Drapeja o pano; é algo ainda 544Ao subir da várzea onde sachou o milho 544Se vinte e quatro é par, o é 545O pescoço do cisne, dizem 545Quanta mensagem passa 545De nada me enamoro que não seja 545A luminosa filha do outono 545Na tábua do andaime, o pé do homem 546Livre do medo, o morto 546A lágrima que desce ao pôr do sol 546O homem destro que modelou o vaso 546Não é de olhos fitos mas no corpo gasto 546Ao lado da manhã nasceu outra manhã 547A5 crianças brincam adivinhas 547No estuque azul do teto está um céu 547Toca guitarra aquele 547Renato disse: existo 547Dobrado dote, o teu 548Do vento leve foge 548Mordeu a maçã Branca de Neve 548Murcha a gota de orvalho mais depressa 548Aquele que não ama nem odeia 548Agora é verão 549

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Belo é o poema dado à costa 549Na lenta légua que termina o dia 549Passivo documento, nem a lágrima 549É o dorso apetecido das gazelas 549De cabeça nas mãos, diz-me, Judite 550Estende o teu desejo 550A beira-tanque a rã palpita 550Redondos, brandos, montes róseos 550As verdades herdadas 550Oscilam breves os peitos das mulheres 551Adiro à paz de ter nascido ontem 551Quando o sol cai a pique sobre as coisas 551O lépido animal que trepa pela casca 551Á boca aflora o beijo dado 551História sem documentos, mais real 552Hesitam-me os olhos, e a marinha 552As diferenças na luz, aqui ou lá 552Quem sabe de lagos mais que nós 552Descansa o dedo sobre a mesa: breve 552No meu jardim ou neste 553A vida alada que nos passa ao lado 553Tal como o frade de que falava o frade 553A menina come frango intensamente 553Há manhã farásse a paz 553O tempo nasce com o nascer do sol 554Á ilharga das uvas 554O pedido da noiva fez-se então 554De pera em riste 554Insone assoma 554Não há maneira, não há maneira 555Aturo, Artur, o que me dizes 555Os olhos ternos da infância feminina 555

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Qual a diferença, qual 555O mar resfolga na ressaca 555Por que razão, me digam, me desvelo 556

DELFOS, OPUS 12 (1987) 557

Por sobre a terra intensa 559Desagua o vale no lento plaino 560Púbis sagrada e verde 561Longe do Sá, passam as aves alto 562O que foi o último a nascer 563Ele que fere ao longe perpassou 564Seio, centro, nó: lugar 565Quando souberes agora que é atrás da linha 566Ao possuí-la, a boca treme e fala 567Geia, a primeira, perdeu sua Serpente 568Penetra de alma pura no templo do deus puro 569A camponesa que ao fugir dele afoga 570Outra, também fugindo, caçadora 571Nas clareiras do Hélicon ou aqui - 572Elas contam o mundo com seus corpos 573Que zagalo perpassou por sobre a pedra 574Adriano aqui veio duas vezes 575No museu, à beira de um Apoio 576E eu, qual o tesouro que te trago 577E jaz entre as Fedríades, mais plácido 578Notas 579

DEPOIS DE VER (1995) 583

Pintura de Graça Morais (I) 587Pintura de Graça Morais (II) 589Júlio 591

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Uma fotografia 593O pintor ao espelho todas as manhãs 595Os nautas 597Manhã no Louvre 599A fotografia 603A ciência inexata 605Eduardo Chillida 607Discurso do papagaio de papel 609Guerreiros de João Cutileiro 611Moisés 613Chave, Klee 615Caracóis 617As galinhas da Catarina 621Uma fotografia de Isidoro Augusto 623Pintura de Alvim 625Um só livro 627Porcelana e papel 629Morandi, Giorgio 631Montanha de flores, de Lourdes Castro 633Anti-Diirer 635Kha-Resi 637Nobre revisited 639Lâmpada de mesquita 641As eróticas de Martha Telles 643Como se constrói uma casa 645Discurso a Helena Fourment 649A ordem das visibilidades 651

GUIÃO DE CARONTE (1997) 653

Bem te conheço, ó máscara 657Não tenho graves defeitos 658

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Sentado escrevo, sentado esqueço, sentado passo 659Os automóveis dormem. Na discoteca 660O que se fez igual a que se faz 661Serão precisos remos pra chegar 662que luzes nos esperam 663Este é o sabor 664Desligar, desatar, desamarrar • 665Passados mares e ventos, que trabalhos 666O que não se sabe não existe 667Barco de quantos remos? e que força 668Mas se tentar existe como verbo 669O que não sabes já, não saberás ja- 670Dizes? não dizes? que dizes 671Ou vento, ou brisa forte, ou o que seja 672Comendo, bebendo, conversando 673O que intriga é que não haja lá atrás 674Bato à porta de nada ensurdecido e bronco 675Aqui está: como um livro 676Pois se de rio é que falo 677Agora, se pode dizer-se agora, ou pôr do sol 678Eis a questão que ao Polónio porias 679Em Sírius, numa cadeira de balanço 680Se já não sou, não és. De nada vale 681Tantas vezes disseste, tantas disse 682Não se toca outra vez: nem com a mão que roça 683Da natureza não se fala agora, do que te cansa 684Se possível fosse pôr-se um problema 685Já te não sobe nas veias 686Não há estandarte que se não desfralde 687Velas, nem vê-las, nem soltá-las 688Falaremos de cores. Azul, ou negro 689Estás na jangada gelada que navega 690

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Ela não existe — nós existimos nela 691Quando eu morrer hás de rezar por mim 692Que se passa contigo, mulher, que foi que veio 693Tendo chegado ao fim da rua, vês de longe 694Eis-me satisfeito, gosma satisfeito 695o ter adelaidado o tempo todo 696

MEMÓRIA INDESCRITÍVEL (2000) 697

Como se na boca da trompete 701Um vento surdo liga 702Há de um dia o dente do futuro 703Nesta cadeira me sento 704Não digo do Natal — digo da nata 705Azimuto a minha barca 706Descai a folha sob o peso da tarde 707Como um velho como um cão 708Lembro-me muito bem do Ano Novo de um 709No Kaufhof espraiei o teu perfume 710Disseste: o sol nasceu 711Vinha do mar com relentos de cheiros e mistérios 712Em cima de uma cisterna temos nos pés o mundo 713Azul. Era azul? Era a cor 714A tinta preta que baila no papel 715O amor já não é o que era 716choravas mãe choravas 717Nas escadas do pátio havia lagartixas 718Da cama de folhelho o pé no chão 719Não me deste o retrato 720Atarda a mão que vai ao rés do colo 721Papel amarrotado desse chá que tomaste 722Havia tojo e urze entre as carumas 723

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Íamos à Barca. Não que navegasse 724Vozes para além do rio. São água 725Estendes a mão direita, abres os dedos 726Só os bons é que sofrem, disse ela 727Em Cheias, ao virar da esquina 728O que me sobra: febra 729A minha morte, não ta dou 730Sento-me na cadeira 731Cheguei ao fim. Andei de pé descalço 732

ANALOGIA E DEDOS (2006) 735

Madame Butterfly, velha 739Herodes 740Raskolnikov 741Linneu 742Alexandre VI 743Noé 744Moisés 745Herzog 746Nefertiti 747A tentação de Santo Antão 748Romeu 749Bocage 750Europa 751O romeiro, D. João de Portugal 752Afonso VI de Portugal 753Inês de Castro 754Creonte 755Lázaro 756Holofernes 757Lagartixa 758

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César 759Brutus 760Annie Besant 761Mosca 762Amendoeira 763As portas da esperança: Shaare Tikvah 764Adam Smith 765Carlos Paredes 766Ouve, Cleópatra 767Simão Botelho 768Tirésias 769Natércia 770O vale velho 771Ivan Illitch 772Tomás António Gonzaga 773

O LIVRO DO SAPATEIRO (2010) 775

Iremos procurar a razão da giesta 779Mordeu a vida a pele da minha mão direita 780Sentado no curto escabelo que me deram 781Há um rio e o outro lado do rio 782Estar aqui é como não estar aqui 783E assim a minha mão vai ao centro do mundo 784Meia sola é meia sola 785Vou dando forma aformoseio 786Enquanto ponto a ponto coso 787Toca música lá em cima 788A quem dou eu alegria 789Penso no que de parte pus 790Por esta cave deserta 791A mão. Ê esta mão que percorre 792

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Õ temerária mão 793Esta perna invertida 794No clandestino recanto 795Amo o sapato que faço 796Não trabalho de encomenda 797Cheiram-me os dedos à alma do sapato 798Que te prometo eu, ó pele 799Tenho a mão mordida da sovela 800E ao fim do meu dia 801Ardem-me as mãos de lhe afagar a pele 802Não é qualquer ilusão 803Suspendo a mão entre o A e o B 804Incham-me os olhos 805A quem usar a peça que fabrico 806Essa nudez de carne que vislumbro 807De cada lado do banco 808O que pergunto 809Um longo casaco de veludo azul 810Brilha outra luz refletida 811Não escolho a cor ou o feitio 812A quem deixarei o meu cansaço 813Se entra alguém, chegando pela tarde 814Olho para trás, as peças que arrumei 815E entretanto um prego aqui 816Quando, ao cair da noite 817Que faço eu senão amar 818A pele transfigurada que as minhas mãos modelam 819Música 820Não sai de mim afinal 821Minha maneira: sentado 822Acocorado como estava o escriba 823Aqui não tenho relógio 824

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E no entanto chega luz 825Ardem-me os olhos de tanto me fixar 826Vejo-me no brilho que te dou 827

UM TEATRO ÀS ESCURAS (2011) 829

1. A personagem veio lá de trás 8332. Ele: Eu digo-te onde estou 8343. Ela: Quem sou eu então se não me vês? 8354. Voz do público: É um comboio fantasma 8365. Ele: Desfeita em tantas peças 8376. Ela: Eu não sou nada — luzes 8387. O contra-regra: Não percebo o que faço 8398. Ele: Se mais te aproximares 8409. Ela: Como se fará isso 84110. Ele: Também eu estava perdido 84211. Alguém do público: Aí coisas que pensaste 84312. Ele: Se não te vejo não existo 84413. Ela: Eu sou. De pé eu sou 84514. Haydn, o autor da música: Aqui venho, velho e feio 84615. Ela: Nesta escuridão não há mais que perguntas 84716. Ele: Sim, é verdade que choro, mas não é por ti 84817. Ainda ele: Não, não sou bom nem sou mau 84918. Ela: Se não te vejo não te oiço 85019. O encenador: Tudo me ultrapassa 85120. Ela: Eu digo sim — oh, não 85221. Ele: Como te posso amar se não te vejo 85322. Ela: Olho para trás 85423. Ele: Eis o corpo celeste mais antigo 85524. Ainda ele: Sei que subi ao palco 85625. Outra voz do público: Mas onde está ela, onde está 85726. Ela: E sei no entanto que a liquidez dos meus olhos 858

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27. O encenador: Nem eu sei quem sou 85928. Ele: Se nos falta a luz não nos falta o som 86029. Ela: Um caminho pode ser a luz ausente 86130. O eletricista: Eu não tirei a luz 86231. Ela: Não te vejo mas vejo 86332. Ele: Sei que existes, e nisto se resume 86433. Ela: Ah, eu sei agora que é magia 86534. Ele: E no entanto és luz 86635. Ela: Piso estas tábuas com minhas pernas fortes 86736. O ponto: Não dizer, não ditar 86837. Ele: Nascemos vindos do escuro 86938. Ela: E até lá nenhum de nós está só 87039. Ele: Tocas o próprio corpo 87140. Ela e ele alternadamente: Pressinto um outro mundo 872

RUA DE NENHURES (2013) 873

fala-se de uma pedra 877Do lençol solitário 878Cantas. Não sei bem onde 879Como se estende a minha mão 880Cheguei do fundo das ravinas 881Guardarás numa caixinha virtual 882Cotovia perto 883Vieste caminhando sobre as ondas 884Ave que me afagas, que me afogas 885Não me vejo no espelho em que te miro 886Ardes-me no peito onde a custo 887Atravesso o rio 888Entro na floresta, sigo por entre 889As folhas que o vento rejeitou 890Quando as uvas amadurecem 891

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Deixo os dedos enrugados navegar 892Troco-me por ti 893Devagar te amo, e devagar assomo 894Braços, tenho braços 895Eu não te digo nada: só talvez 896que te faço que te digo que te mato 897Oiço o trinado da carriça 8980 fantasma, meu amor, ergue o lençol 899Nas olheiras que cavam estes anos 900Mais perto que nunca está o sol 901Fui ao outro lado do mundo 9020 senhor dos passos 903o que não tenho tenho 905Sentado no mais baixo cume 906Refeito aragem, pentearei os montes 907Amor em sottovoce, conjugado 908Minha mesa a que me sento 909Quase de borco aporta o barco 910Quero-te de branco 911Vara que me apascentas 912Adianto uma pedra sobre o tabuleiro 913Caí gota de água no teu ombro 914A minha mão direita 915Ouvindo Schubert grito: Rais me partam! 916Donde caminhas não sei 917Como dizia o outro, mesmo 918Atravesso, Leandro, o Helesponto 919Impenitente criador de mastros 920Felizes fiz mulheres 921Devolve-me esse corpo 922De sete em sete ondas 923Encostado à parede 924

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Despeço-me devagar ao pé de ti 925Nem branco nem preto — nada 926Unção extrema que me lava e leva 927Colo-me à tua mão: não me dirige 928Respiro. Respiro ainda. Expiro 929Com todas as letras, com todos os números 930Os que matam o amor que me tenho 931Que te dou eu nas horas emprestadas 932Aos quatro ventos 933Que fazes tu aqui 934Um pequeno pedro a correr pelo campo 935De cabelo crestado pela língua de fogo 936Não tenho coração 937Agudas apontaste ao alvo escuro 938Onde não estava mais do que não estou 939Corro, feito merda, para os braços 940Sentas-te no muro e tens o tempo atrás 941

ESPARSOS (1956-2013) 943

Temos as estradas largas, infindáveis, abrindo-se entre relvas 945Verdes anos 946Fontes 948Um fado: palavras minhas 949Fúr Helena 950Três fragmentos à memória de Cristovam Pavia 951Se nasce em sangue e parte 952Ode 953Prometeu Prometeu 954Ensoneto 955Da lâmina impresente que nos corta 956Almoço 957O amigo da sabedoria 958

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Apontamento 959É dia 960Agora que luz procuras? 962Como suar de frio ao pé da luva 963Entre mentes e crês: porém maldizes 964Nem mais uma palavra. Nem uma 9650 último não entra no reino dos céus 966A ninguém pergunto se casou 967Se a história se repete 968Encontro o sol perdido 969Abundam sais de magnésio e bruma 970Não vou a tempo, sabes, de saber 971Deverá, senhores, pensar-se 972Amor de branco alado e preso ao chão 973Para Jorge de Sena, à sua maneira 974Ardente ardósia em que feroz te escrevo 975Não digo nada a ninguém 976Á cal por onde corre a centopeia 977Canção Masoquista à Ribeirinha do Sado 978Cesário 979Fiir Adelina, em 1987 980Mal deslizam os pés por sobre a terra 982Poema à moda antiga 983Sete passos no escuro 984Prova geral de acesso 9860 verso que escreveste, ó malfadada 9875 homenagens a Bashô 988As palavras das folhas 989A mulher impossível 993Não ri nem chora, o palhaço 995Menina de Timor 996César 997Notas 998