Pegadinha Verbal Parte Ii1

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Pegadinha Verbal Por PROF. SÉRGIO NOGUEIRA QUANDO VOCÊ QUISER DEIXAR boa impressão com o uso das palavras, é melhor que esteja prevenido. O Português muitas vezes nos prega peças. Pegadinha Verbal mostra alguns dos enganos mais frequentes no nosso idioma. Errado: "Eles ainda não comporam o samba deste ano." certo: "Eles ainda não compuseram o samba deste ano." O verbo compor é derivado do verbo pôr. Os verbos derivados devem seguir os verbos primitivos. Assim sendo, se o verbo pôr é irregular, todos os derivados (compor, expor, dispor, repor, antepor, contrapor... ) deverão apresentar as mesmas irregularidades do verbo primitivo. Se a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo pôr é "eu ponho", os derivados ficarão: eu componho, exponho, disponho, reponho, anteponho, contraponho ... Se o verbo pôr, na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, fica "eles puseram", o certo será: eles compuseram,expuseram, repuseram ... A pegadinha: o verbo requerer parece ser derivado do verbo querer, mas não é. Requerer não é "querer de novo". Nos tempos do pretérito, o verbo requerer é regular. Não segue, portanto, as irregularidades do verbo querer. O pretérito perfeito do indicativo do verbo querer é: eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes e eles quiseram. O verbo requerer, por ser regular, fica: eu requeri, tu requereste, ele requereu, nós requeremos, vós requerestes e eles requereram. Isso significa que na frase "o aluno requis isenção de matrícula" o verbo está mal usado. O certo é "o aluno requereu isenção de matrícula". Errado: "As lentes dos seus óculos eram verdes-escuras." Certo: "As lentes dos seus óculos eram verde-escuras." Quando o adjetivo é composto, somente o último elemento se flexiona (=vai para o feminino e para o plural): "São questões técnico-científicas"; "Literatura luso-brasileira"; "Problemas sociopolítico-econômicos"; "Candidatos social-democratas"; "Cultura greco-latina " ; "Blusas azul- claras" ... A pegadinha: as cores compostas só fazem plural quando o segundo elemento é "claro" ou "escuro": "lentes verde-escuras" e "blusas azul- claras". Quando o segundo elemento for um substantivo exercendo a função de um adjetivo, a palavra torna-se invariável, ou seja, não apresenta flexão nem de gênero nem de número: gênero nem de número: "calças verde-garrafa, verde-oliva, verde-musgo"; "camisas azul-piscina, azul-céu, azul-mar"; "blusas amarelo-ouro, vermelho-sangue, rosa-choque, marrom-bombom" ... Errado: "Ela fez de tudo para vim ao meu programa." Certo: "Ela fez de tudo para vir ao meu programa." Não devemos confundir a forma verbal vim com o infinitivo vir. Só podemos usar a forma vim, quando o verbo estiver na 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: "Faz mais de vinte anos que

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Pegadinha VerbalPor PROF. SÉRGIO NOGUEIRA

QUANDO VOCÊ QUISER DEIXAR boa impressão com o uso das palavras, é melhor que esteja prevenido. O Português muitas vezes nos prega peças. Pegadinha Verbal mostra alguns dos enganos mais frequentes no nosso idioma.

Errado: "Eles ainda não comporam o samba deste ano." certo: "Eles ainda não compuseram o samba deste ano."

O verbo compor é derivado do verbo pôr. Os verbos derivados devem seguir os verbos primitivos. Assim sendo, se o verbo pôr é irregular, todos os derivados (compor, expor, dispor, repor, antepor, contrapor... ) deverão apresentar as mesmas irregularidades do verbo primitivo. Se a 1ª pessoa do singular do presente do indicativo do verbo pôr é "eu ponho", os derivados ficarão: eu componho, exponho, disponho, reponho, anteponho, contraponho ... Se o verbo pôr, na 3ª pessoa do plural do pretérito perfeito do indicativo, fica "eles puseram", o certo será: eles compuseram,expuseram, repuseram ...

A pegadinha: o verbo requerer parece ser derivado do verbo querer, mas não é. Requerer não é "querer de novo". Nos tempos do pretérito, o verbo requerer é regular. Não segue, portanto, as irregularidades do verbo querer. O pretérito perfeito do indicativo do verbo querer é: eu quis, tu quiseste, ele quis, nós quisemos, vós quisestes e eles quiseram. O verbo requerer, por ser regular, fica: eu requeri, tu requereste, ele requereu, nós requeremos, vós requerestes e eles requereram. Isso significa que na frase "o aluno requis isenção de matrícula" o verbo está mal usado. O certo é "o aluno requereu isenção de matrícula".

Errado: "As lentes dos seus óculos eram verdes-escuras." Certo: "As lentes dos seus óculos eram verde-escuras."

Quando o adjetivo é composto, somente o último elemento se flexiona (=vai para o feminino e para o plural): "São questões técnico-científicas"; "Literatura luso-brasileira"; "Problemas sociopolítico-econômicos"; "Candidatos social-democratas"; "Cultura greco-latina " ; "Blusas azul-claras" ...

A pegadinha: as cores compostas só fazem plural quando o segundo elemento é "claro" ou "escuro": "lentes verde-escuras" e "blusas azul-claras". Quando o segundo elemento for um substantivo exercendo a função de um adjetivo, a palavra torna-se invariável, ou seja, não apresenta flexão nem de gênero nem de número: gênero nem de número: "calças verde-garrafa, verde-oliva, verde-musgo"; "camisas azul-piscina, azul-céu, azul-mar"; "blusas amarelo-ouro, vermelho-sangue, rosa-choque, marrom-bombom" ...

Errado: "Ela fez de tudo para vim ao meu programa." Certo: "Ela fez de tudo para vir ao meu programa."

Não devemos confundir a forma verbal vim com o infinitivo vir. Só podemos usar a forma vim, quando o verbo estiver na 1ª pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo: "Faz mais de vinte anos que eu vim para o Rio de Janeiro." O pretérito perfeito do indicativo do verbo vir fica assim: eu vim, tu vieste, ele veio, nós viemos, vós viestes, eles vieram.

A pegadinha: No português falado no Brasil, é frequente substituirmos a forma simples do futuro do indicativo (=farei, tratará, proporemos, quererão) pela forma composta, que usa o verbo ir como auxiliar (=vou fazer, vai tratar, vamos propor, vão querer). Até aí não há nada de errado. O problema ocorre quando precisamos usar o verbo vir no futuro. Em vez de "eu vou vir", ouvimos muito um tal de "vou vim". Assim não dá. A forma "vou vim" é totalmente inaceitável. Na dúvida, em vez de "eu vou vir", prefira "eu virei".

Errado: "Eu fiquei fora de si." Certo: "Eu fiquei fora de mim."

O pronome reflexivo "si" (sujeito pratica e sofre a ação verbal = idéia de “a si mesmo”) é de 3ª pessoa: “ele ficou fora de si”; “Ela feriu a si mesma”; "Você iludiu a si mesmo”; "Eles ficaram fora de si"; "Elas feriram a si próprias". Na 1ª pessoa do singular, devemos usar o pronome "mim": "Eu fiquei fora de mim"; "Eu feri a mim mesmo". Pior ainda é o famoso "Nós se ferimos". O sujeito (= nós) está na 1ª pessoa do plural e o pronome "se" é de 3ª pessoa. O certo é: "Nós nos ferimos" e "Ele se feriu".

A pegadinha: Muita gente quer saber quando devemos usar "entre si” ou “entre eles". A diferença é a seguinte: a) devemos usar "entre si" somente quando o sujeito pratica e recebe a ação verbal: "Os lutadores brigavam entre si" ("os lutadores" é o termo que exerce a função de sujeito da oração = pratica e recebe a ação de "brigar"); b) usamos "entre eles" quando o sujeito é um e o complemento é outro: "Nada existe entre eles" (= o sujeito é "nada" e o complemento é "entre eles"). Vejamos mais exemplos: "Os políticos discutiam entre si"; "Eles repartiram o prêmio entre si mesmos"; "O prêmio foi repartido entre eles"; "O segredo ficou entre eles mesmos".