Pense Na Lagosta DFW

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7/21/2019 Pense Na Lagosta DFW http://slidepdf.com/reader/full/pense-na-lagosta-dfw 1/13 Pense na lagosta Uma incursão num mundo de exageros, mau gosto, prazeres e crueldade  por DAVID FOSTER WALLACE O enorme, pungente e muitíssimo bem divulgado Festival da Lagosta do Maine ocorre a cada final de julho na região costeira central do estado, isto , o lado ocidental da baía de !enobscot, tronco nervoso da ind"stria da lagosta do Maine# $ chamada região costeira central vai de O%l&s 'ead e (homaston, ao sul, at )elfast, ao norte# *+a verdade poderia se estender at )ucsport, mas nunca conseguimos passar de )elfast seguindo rumo ao norte pela -ota ., cujo tr/fego no verão , como se pode imaginar, inimagin/vel#0 $s duas  principais comunidades da região são 1amden, com suas famílias ricas tradicionais, marina, restaurantes cinco estrelas e pousadas maravilhosas, e -ocland, um vilarejo de pescadores muito antigo 2ue a cada verão abriga o festival no hist3rico 'arbor !ar, bem ao lado da /gua# O turismo e as lagostas são os principais setores de atividade da região costeira central, dois ramos associados ao clima 2uente, e o Festival da Lagosta do Maine, mais 2ue uma intersec4ão dessas ind"strias, representa uma colisão proposital, alegre, lucrativa e barulhenta# O assunto escolhido para este artigo da revista Gourmet o 56 o  FLM, promovido de 78 de julho a 7 de agosto de 9887, neste ano com o tema oficial de :Far3is, -isadas e Lagostas;# O p"blico pagante total superou as <8 mil pessoas, em parte gra4as a um an"ncio veiculado nacionalmente na 1++ em junho, no 2ual a editora s=nior da revista Food &Wine saudava o FLM como uma das melhores festividades gastron>micas do mundo# !ontos altos do festival em 9887? as apresenta4@es de Lee $nn Aomac e Orleans, o concurso de beleza anual da Beusa do Mar do Maine, o grande desfile do s/bado, a 1orrida Cobre Daiolas de Lagosta em Mem3ria a Ailliam D# $t%ood no domingo, a 1ompeti4ão $nual de 1ulin/ria $madora, os brin2uedos e estandes do par2ue de divers@es, as barra2uinhas de comida e a !ra4a de $limenta4ão !rincipal da flm, onde  perto de .9 mil 2uilos de lagostas do Maine fres2uinhas são consumidos ap3s serem preparados na :Maior !anela !ara Lagostas do Mundo;, perto do acesso norte do festival# (ambm são oferecidos sanduíches de lagosta, folhados de lagosta, lagosta salteada, salada de lagosta Bo%n East, sopa creme de lagosta, ravi3li de lagosta e bolinhos fritos de lagosta# possível obter lagosta G thermidor em um restaurante tradicional chamado )lac !earl, no cais noroeste do 'arbor !ar# Um amplo estande de madeira de pinho patrocinado pelo 1onselho de Fomento G Lagosta do Maine distribui  panfletos gratuitos com receitas, dicas de consumo e curiosidades sobre lagostas# O vencedor da 1ompeti4ão de 1ulin/ria $madora da sextaHfeira preparou !otinhos de Lagosta com $4afrão, receita 2ue agora se encontra disponível ao p"blico para download em %%%#mainelobsterfestival#com# '/ camisetas de lagostas,  bonecos articuladosde lagostas, lagostas infl/veis para piscinas e chapus acopl/veis de lagosta com enormes garras escarlates 2ue chacoalham em molas# Este correspondente viu tudo isso, acompanhado por uma namorada e ambos os pais I um dos 2uais, a prop3sito, nascido e criado no Maine, ainda 2ue no interior da região mais ao norte, uma terra de batatas a um mundo de distJncia do turismo da região costeira central#  ara fins pr/ticos, todo mundo sabe o 2ue uma lagosta# 1omo de costume, todavia, existe muito mais  para saber do 2ue a maioria de n3s se importa em descobrir I tudo uma 2uestão de interesses pessoais# Em

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Ensaio de David Foste Wallace

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Pense na lagosta

Uma incursão num mundo de exageros, mau gosto, prazeres e crueldade

 por DAVID FOSTER WALLACE 

O enorme, pungente e muitíssimo bem divulgado Festival da Lagosta do Maine ocorre a cada final de julho

na região costeira central do estado, isto , o lado ocidental da baía de !enobscot, tronco nervoso da

ind"stria da lagosta do Maine# $ chamada região costeira central vai de O%l&s 'ead e (homaston, ao sul, at

)elfast, ao norte# *+a verdade poderia se estender at )ucsport, mas nunca conseguimos passar de )elfast

seguindo rumo ao norte pela -ota ., cujo tr/fego no verão , como se pode imaginar, inimagin/vel#0 $s duas

 principais comunidades da região são 1amden, com suas famílias ricas tradicionais, marina, restaurantes

cinco estrelas e pousadas maravilhosas, e -ocland, um vilarejo de pescadores muito antigo 2ue a cada

verão abriga o festival no hist3rico 'arbor !ar, bem ao lado da /gua#

O turismo e as lagostas são os principais setores de atividade da região costeira central, dois ramos

associados ao clima 2uente, e o Festival da Lagosta do Maine, mais 2ue uma intersec4ão dessas ind"strias,representa uma colisão proposital, alegre, lucrativa e barulhenta# O assunto escolhido para este artigo da

revista Gourmet o 56o FLM, promovido de 78 de julho a 7 de agosto de 9887, neste ano com o tema oficial

de :Far3is, -isadas e Lagostas;# O p"blico pagante total superou as <8 mil pessoas, em parte gra4as a um

an"ncio veiculado nacionalmente na 1++ em junho, no 2ual a editora s=nior da

revista Food &Wine saudava o FLM como uma das melhores festividades gastron>micas do mundo#

!ontos altos do festival em 9887? as apresenta4@es de Lee $nn Aomac e Orleans, o concurso de beleza

anual da Beusa do Mar do Maine, o grande desfile do s/bado, a 1orrida Cobre Daiolas de Lagosta em

Mem3ria a Ailliam D# $t%ood no domingo, a 1ompeti4ão $nual de 1ulin/ria $madora, os brin2uedos e

estandes do par2ue de divers@es, as barra2uinhas de comida e a !ra4a de $limenta4ão !rincipal da flm, onde perto de .9 mil 2uilos de lagostas do Maine fres2uinhas são consumidos ap3s serem preparados na :Maior

!anela !ara Lagostas do Mundo;, perto do acesso norte do festival# (ambm são oferecidos sanduíches de

lagosta, folhados de lagosta, lagosta salteada, salada de lagosta Bo%n East, sopa creme de lagosta, ravi3li de

lagosta e bolinhos fritos de lagosta# possível obter lagosta G thermidor em um restaurante tradicional

chamado )lac !earl, no cais noroeste do 'arbor !ar#

Um amplo estande de madeira de pinho patrocinado pelo 1onselho de Fomento G Lagosta do Maine distribui

 panfletos gratuitos com receitas, dicas de consumo e curiosidades sobre lagostas# O vencedor da 1ompeti4ão

de 1ulin/ria $madora da sextaHfeira preparou !otinhos de Lagosta com $4afrão, receita 2ue agora seencontra disponível ao p"blico para download em %%%#mainelobsterfestival#com# '/ camisetas de lagostas,

 bonecos articuladosde lagostas, lagostas infl/veis para piscinas e chapus acopl/veis de lagosta com

enormes garras escarlates 2ue chacoalham em molas# Este correspondente viu tudo isso, acompanhado por

uma namorada e ambos os pais I um dos 2uais, a prop3sito, nascido e criado no Maine, ainda 2ue no

interior da região mais ao norte, uma terra de batatas a um mundo de distJncia do turismo da região costeira

central#

 

ara fins pr/ticos, todo mundo sabe o 2ue uma lagosta# 1omo de costume, todavia, existe muito mais

 para saber do 2ue a maioria de n3s se importa em descobrir I tudo uma 2uestão de interesses pessoais# Em

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termos taxon>micos, uma lagosta um crust/ceo marinho da famíliahomaridae, caracterizado por cinco

 pares de patas articuladas dos 2uais o primeiro termina em grandes garras semelhantes a pin4as, utilizadas

 para subjugar presas# 1omo muitas outras espcies de carnívoros bent>nicos, as lagostas são ao mesmo

tempo ca4adoras e sapr3fagas# !ossuem antenas, olhos pedunculares e guelras nas patas# '/ mais ou menos

uma d"zia de tipos diferentes de lagostas ao redor do mundo, mas a espcie a2ui relevante a Homarus

amerianus, conhecida como lagosta do Maine ou lagostaHamericana#$ palavra inglesa lo!ster vem do

ingl=s antigolo""estre, supostamente uma corruptela de lousta# a palavra latina para gafanhoto 2ue tambm a raiz de :lagosta;, combinada com o ingl=s antigo lo""e, 2ue significa aranha#

$lm disso, um crust/ceo um artr3pode a2u/tico da classe rustaea, 2ue inclui caranguejos, camar@es,

cracas, lagostas e lagostinsHdeH/guaHdoce# (udo isso est/ l/, na enciclopdia# E os artr3podes são membros

do filo Arthro"oda, 2ue abrange insetos, aranhas, crust/ceos e 2uil3podesKdipl3podes, 2ue possuem como

 principal tra4o comum, alm da aus=ncia de uma estrutura centralizada cerebroespinal, um exoes2ueleto

2uitinoso composto por segmentos,ao 2ual se articulam pares de ap=ndices#

 

2uestão 2ue lagostas são basicamente insetos marinhos gigantes# *!or sinal, o termo usado pelos

nativos da região costeira central para falar de lagostas :inseto;# !or exemplo? :$parece l/ em casa no

s/bado, vamos cozinhar uns insetos#;0 1omo a maioria dos artr3podes, as lagostas remontam ao períoHdo

 jur/ssico biologicamente são anteriores aos mamíferos 2ue bem 2ue poderiam ser de outro planeta# E I

 particularmente em seu estado natural marromHesverdeado, brandindo as garras como se fossem armas e

agitando as grossas antenas I não são bonitas de se ver#E verdade 2ue se trata de lixeiras do mar,

comedoras de coisas mortas, embora tambm comam um pouco de moluscos vivos, certos tipos de peixes

machucados e por vezes umas Gs outras# 1ultura in"til? armadilhas para lagostas geralmente usam como isca

aren2ues mortos#

Mas tambm são boas de comer# Ou pelo menos o 2ue achamos agora# $t certa altura do sculo N,

todavia, a lagosta era literalmente um alimento de classe baixa, consumido apenas pelos pobres e

encarcerados# $t mesmo no rude ambiente penal dos prim3rdios da hist3ria americana algumas das

col>nias tinham leis limitando o uso de lagostas na alimenta4ão dos detentos a uma "nica vez por semana,

 por2ue isso era julgado cruel e incomum, semelhante a obrigar pessoas a comerem ratos# Uma das raz@es

 para esse baixo prestígio era a fartura de lagostas na +ova Nnglaterra de então# :$bundJncia inacredit/vel;

são as palavras com 2ue uma fonte descreve a situa4ão, inclusive com relatos de peregrinos de !lmouthcapturando lagostas G vontade com as mãos nuas ou do antigo litoral de )oston coberto de lagostas ap3s

uma srie de tempestades# Elas foram consideradas um inc>modo fedorento e moídas para serem usadas

como adubo# (ambm preciso levar em conta 2ue as lagostas prHmodernas eram cozidas mortas e em

seguida postas em conserva, geralmente em sal ou embalagens hermticas primitivas# $ ind"stria da lagosta

no Maine teve início com uma d"zia dessas f/bricas de conserva nos anos .<P8, de onde as lagostas eram

enviadas a lugares tão distantes 2uanto a 1alif3rnia, e a demanda existia somente por serem baratas e

 possuírem um alto teor de proteína, basicamente um combustível mastig/vel#

'oje em dia, claro, a lagosta chi2ue, uma iguaria, poucos graus abaixo do caviar# !ossui uma carne maissaborosa e substancial 2ue a maioria dos peixes, com um gosto sutil se comparado ao gosto de mar dos

mexilh@es e dos mariscos# +a imagina4ão alimentícia populardos Estados Unidos, a lagosta se tornou o

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an/logo marinho do fil, ao lado do 2ual tantas vezes servida comoSur$ and Tur$ na parte mais cara dos

card/pios de cadeias de restaurantes#

$li/s, um projeto 3bvio do FLM e de seu patrocinador onipresente, o 1onselho de Fomento G Lagosta do

Maine, combater a ideia de 2ue a lagosta uma comida luxuosa, cara ou prejudicial G sa"de, ade2uada

somente a paladares afetados ou como petisco ocasional para escapar da dieta# !alestrase panfletos

enfatizam sem descanso 2ue a carne de lagosta tem menos calorias, menos colesterol e menos gordura

saturada 2ue a carne de frango# E na !ra4a de $limenta4ão !rincipal possível comprar um :2uarto; *gíriada ind"stria para uma lagosta de 688 gramas0, um copinho com .98 gramas de manteiga derretida, um saco

de batatas fritas e um pãozinho com manteiga por .9 d3lares, o 2ue apenas um tantinho mais caro 2ue

 jantar no McBonald&s# claro 2ue o h/bito corri2ueiro de mergulhar carne de lagosta em manteiga derretida

torpedeia todas essas alegres curiosidades saud/veis sobre gordura, o 2ue nunca mencionado pelo material

 promocional do 1onselho, assim como os informativos da ind"stria da batata nunca mencionam o creme

azedo e os cubinhos de bacon#

 

aiba 2ue no Festival da Lagosta doMaine a democratiza4ão da lagosta vem acompanhada por toda a

inconveni=ncia maci4a e concessão esttica da verdadeira democracia# 1onfira, por exemplo, a supracitada

!ra4a de $limenta4ão !rincipal, para a 2ual existe uma fila constante digna da BisnelJndia, e 2ue consiste

em meio 2uil>metro2uadrado de balc@es de cafeteria protegidos por um toldo e fileiras de longas

mesasinstitucionais onde amigos e desconhecidos sentamHse coladinhos, 2uebrando, mastigando e babando#

um lugar 2uente, onde o teto descaído aprisiona o vapor e os odores, sendo 2ue estes "ltimos são fortes e

apenas parcialmente relacionados a alimentos# tambm um lugar barulhento, e uma porcentagem

consider/vel do ruído total mastigat3ria#

$ comida servida em bandejas de isopor, os refrigerantes não t=m gelo nem g/s, o caf caf de loja de

conveni=ncia em mais isopor e os talheres são de pl/stico *não possível encontrar nenhum da2ueles garfos

especiais e compridos 2ue servem para extrair a carne da cauda, ainda 2ue alguns clientes espertostragam os

seus de casa0# O n"mero de guardanapos fornecido tambm não chega nem perto do suficiente, levandoHse

em considera4ão 2ue comer lagosta uma lambuzeira, especialmente 2uando se est/ espremido em bancos

ao lado de crian4as de idades variadas e est/gios vastamente diversos de coordena4ão motora I isso sem

mencionar as pessoas 2ue de algum jeito conseguiram contrabandear sua pr3pria cerveja em enormesisopores 2ue blo2ueiam a passagem, ou a2uelas 2ue aparecem de repente com toalhas de pl/stico 2ue

espalham sobre por4@es consider/veis das mesas numa tentativa de reserv/Hlas *as mesas0 aos seus

grupinhos# E assim por diante#

Nsolado, 2ual2uer um desses exemplos naturalmente não passa de um inc>modo trivial, mas o fato 2ue o

FLM se mostra cheio desses pe2uenos aborrecimentos irritantes I por exemplo, 2uando voc= descobre 2ue

 precisa pagar 98 d3lares a mais por uma cadeira dobr/vel se 2uiser se sentar ao assistir a alguma das grandes

atra4@es do !alco !rincipal ou a loucura desenfreada 2ue se instala na (enda +orte 2uando come4a a

distribui4ão dos copinhos min"sculos, 2ue mais parecem dedais, com bocadinhos das receitas finalistas da1ompeti4ão de 1ulin/ria ou a aclamadíssima final do concurso de beleza Beusa do Mar do Maine, 2ue se

revela excruciantemente longa e consiste sobretudo em infinitos agradecimentos e homenagens a

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 patrocinadores locais# Melhor nem falar sobre a terrível inade2ua4ão dos banheiros 2uímicos ou sobre o fato

de não haver lugar algum para se lavar as mãos antes ou depois de comer#

 +a verdade o Festival da Lagosta do Maine uma feira interiorana de nível mdio com gancho culin/rio, e a

esse respeito não difere muito dos festivais de caranguejos de (ide%ater, dos festivais de milho do MeioH

Oeste, dos festivais de chili do (exas etc#,e compartilha com esses acontecimentoso paradoxo central de

todos os apinhados eventos comerciais populares? não para todos# +ada contra a euf3rica editora s=niorda Food & Wine, mas eu ficaria surpreso se descobrisse 2ue ela realmente j/ esteve a2ui no 'arbor !ar,

entre multid@es matando a tapa os mos2uitos da zona do canal en2uanto comem (%inies fritose assistem ao

 professor !addHAhac aterrorizando as crian4as sobre pernas de pau de .,<8 metro, vestido com um

sobretudo de onde saltam em todas as dire4@es lagostas de pl/stico dependuradas em molas#

Um par=ntese? na verdade, muitas coisas podem ser ditas a respeito das diferen4as entre a classe

trabalhadora de -ocland e o sabor acentuadamente populista do festival %ersusa confort/vel e elitista

1amden com sua paisagem caríssima, suas lojas tomadas inteiramente por suteres de 988 d3lares e fileiras

de casas vitorianas transformadas em pousadas de luxo# E tambm a respeito dessas diferen4as como os dois

lados da grande moeda 2ue o turismo nos Estados Unidos# 1onfesso 2ue nunca entendi por 2ue a ideia defrias divertidas de tantas pessoas cal4ar chinelos e 3culos de sol e se arrastar por um tr/fego

enlou2uecedor at locais turísticos 2uentes e lotados com o intuito de provar um :sabor local; 2ue por

defini4ão arruinado pela presen4a de turistas# Nsso tudo pode ser uma 2uestão de personalidade e gostos

inatos? o fato de eu não gostar de locais turísticos significa 2ue nunca vou compreender seu encanto, e assim

 provavelmente não sou a pessoa mais indicada para falar sobre isso *o suposto encanto0# Bo meu ponto de

vista, prov/vel 2ue ser turista fa4a mesmo algum bem para a alma, mesmo 2ue apenas de vez em 2uando#

(odavia, não 2ue fa4a bem para a alma de algum modo revigorante ou alentador, mas de um jeito severo e

obstinado de vamosHencararHosHfatosHcomHhonestidadeHeHtentarHencontrarHumHmodoHdeHlidarHcomHeles#

Minha experi=ncia pessoal não a de 2ue viajar pelo país seja relaxante ou amplie os horizontes, ou de 2ue

mudan4as radicais de lugar e contexto tenham um efeito salutar, mas sim de 2ue o turismo intranacional

radicalmente constritivo e humilhante da pior forma I hostil G minha fantasia de ser um indivíduo genuíHno,

de viver de algum modo fora e acima de todo o resto# Cer um turista massificado, para mim, se tornar um

 puro americano contemporJneo? alheio, ignorante, /vido por algo 2ue nunca poder/ ter, frustrado de um

modo 2ue nunca poder/ admitir# macular, atravs de pura ontologia, a pr3pria imaculabilidade 2ue se foi

experimentar# se impor sobre lugares 2ue, em todas as formas não econ>micas, seriam melhores e mais

verdadeiros sem a sua presen4a# confrontar, em filas e engarrafamentos, transa4ão ap3s transa4ão, uma

dimensão de si mesmo tão inescap/vel 2uanto dolorosa? na condi4ão de turista voc= se tornaeconomicamente significativo mas existencialmente detest/vel#

 

lagosta, em ess=ncia, um alimento de verão# Nsso por2ue agora preferimos lagostas frescas, o 2ue

significa 2ue elas precisam ter sido capturadas recentemente, o 2ue por raz@es tanto t/ticas 2uanto

econ>micas ocorre em profundidades inferiores a P5 metros# Lagostas tendem a ficar mais famintas e ativas

*isto , mais f/ceis de capturar0 2uando a temperatura da /gua fica entre Q e .8 graus, como típico do

verão# +o outono a maioria das lagostas do Maine migra para /guas mais profundas, seja em busca de calorou para evitar as ondas pesadas 2ue golpeiam o litoral da +ova Nnglaterra durante o inverno inteiro# $lgumas

se enterram no leito marinho# (alvez hibernem ningum sabe ao certo# tambm no verão 2ue as lagostas

trocam de carapa4a I mais especificamente, do início G metade de julho#

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$rtr3podes 2uitinosos crescem trocando de carapa4a, mais ou menos da mesma forma 2ue compramos

roupas maiores G medida 2ue envelhecemos e ganhamos peso# 1omo as lagostas podem viver mais de .88

anos, podem tambm ficar bem grandes, chegando a passar dos R 2uilos I ainda 2ue nos dias de hoje sejam

raras as lagostas da terceira idade, pois as /guas da +ova Nnglaterra estão cheias de armadilhas# Enfim, disso

vem a diferen4a culin/ria entre lagostas de casca dura e de casca mole#Uma lagosta de casca mole uma

lagosta 2ue acabou de trocar de carapa4a# $mbas são oferecidas nos card/pios de verão dos restaurantes da

região costeira central, nos 2uais as lagostas de casca mole são um pouco mais baratas mesmo sendo maisf/ceis de destrinchar e donas de uma carne considerada mais suave#O motivo do desconto 2ue uma lagosta

em fase de troca utiliza uma camada de /gua do mar como isolamento en2uanto a nova carapa4a endurece, e

 por causa disso 2uando se arrebenta uma lagosta de casca mole h/ um pou2uinho menos de carnee um

fragrante jorro d&/gua 2ue se espalha sobre tudo, Gs vezes espirrando como um limão e atingindo um

companheiro de mesa bem no olho# Ce inverno ou se voc= est/ comprando lagostas em algum lugar

distante da +ova Nnglaterra, por outro lado, d/ 2uase para apostar 2ue a lagosta vai ter a casca dura, 2ue por

motivos 3bvios mais transport/vel#

1omo prato principal la arte, a lagosta pode ser assada, grelhada, cozida ao vapor, refogada, salteada,feitaem wo' ou no microHondas#Mas o mtodo mais comum a fervura# Suem gosta de comer lagostas em casa

 provavelmente a prepara desta forma, pois ferver lagostas muito f/cil# necess/rio um tacho grande com

tampa, 2ue preenchido com /gua at mais ou menos a metade *a recomenda4ão mais comum são 9 litros e

meio de /gua por lagosta0# O ideal /gua do mar, ou adicione duas colheres de sopa de sal a cada litro de

/gua da torneira# (ambm interessante saber o peso de cada lagosta# EsperaHse a /gua ferver, colocaHse

uma lagosta de cada vez, cobreHse o tacho e aumentaHse o fogo at a /gua voltar a ferver#Então preciso

 baixar o fogo e deixar o tacho em fogo brando I dez minutos para o primeiro meio 2uilo de lagosta, e acima

disso tr=s minutos para cada meio 2uilo# *Nsso considerandoHse 2ue estão sendo usadas lagostas de casca

dura, 2ue, repito, se voc= não mora entre )oston e 'alifax, são provavelmente as "nicas 2ue conseguiu

encontrar# +o caso de lagostas de casca mole preciso subtrair tr=s minutos do total#0 $s lagostas

ficamvermelhas por2ue de algum modo essa fervura suprime todos os pigmentos na 2uitina, exceto um# Um

teste simples para saber se as lagostas estão prontas tentar arrancar uma das antenas I se ela se descolar da

cabe4a ao menor esfor4o, o bicho est/ pronto para comer#

Um detalhe tão 3bvio 2ue a maioria das receitas nem se preocupa em mencionar 2ue as lagostas precisam

estar vivas ao serem colocadas no tacho# Nsso faz parte do apelo contemporJneo da lagosta I o alimento

mais fresco 2ue existe# +ão acontece decomposi4ão alguma entre a pescaria e a hora de comer# E alm de

não precisarem ser limpas, temperadas nem depenadas, simples para os vendedores manter as lagostasvivas# 1hegam vivas dentro das armadilhas, são colocadas em recipientes com /gua do mar e podem *desde

2ue a /gua seja mantida aerada e as garras dos animais estejam amarradas ou presas para impedir 2ue

ata2uem uns aos outros por causa do estresse do confinamento0 sobreviver at o instante em 2ue são

fervidas# Um raciocínio similar embasa o 2ue se chama de :debicar; frangos e galinhas poedeiras nas

fazendas de confinamento# $ m/xima efici=ncia comercial exige 2ue popula4@es imensas de galin/ceos

sejam confinadas em espa4os desnaturadamente exíguos, condi4@es sob as 2uais muitas aves enlou2uecem e

 bicam umas Gs outras at a morte# 1omo observa4ão de car/ter puramente empírico, informo 2ue a

:debicagem; costuma ser um processo automatizado e 2ue as galinhas não recebem anestsico nenhum# +ão

sei se os leitores conhecem a :debicagem; ou as pr/ticas relacionadas, como a extra4ão dos chifres do gadoem fazendas industriais e o corte da cauda dos porcos em fazendas de confinamento de suínos para impedir

vizinhos psicoticamente entediados de arranc/Hlas com os dentes e assim por diante#

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uase todo mundo j/ esteve em supermercados ou restaurantes 2ue contam com a2u/rios de lagostas

vivas, onde podemos escolher o jantar en2uanto ele encara nosso dedo estendido# E uma parte importante do

espet/culo no Festival da Lagosta do Maine assistir Gs embarca4@es dos pescadores de lagostas atracando

nos molhes da parte nordeste e descarregando o produto recmHpescado, 2ue então transferido

manualmente ou com auxílio de carrinhos por cerca de R8 metros at os imensos tan2ues transparentes

empilhados ao redor do panelão do festival I 2ue, como mencionei, divulgado como a Maior !anela para

Lagostas do Mundo e pode cozinhar de uma s3 vez mais de .88 lagostas para a (enda !rincipal#

Então a2ui vai uma pergunta 2ue se torna praticamente inevit/vel diante da Maior !anela para Lagostas do

Mundo e pode vir G tona em cozinhas espalhadas por todos os Estados Unidos? certo ferver viva uma

criatura senciente para nosso mero prazer gustativoT Um conjunto de preocupa4@es relacionadas? seria a

 perguntaanterior uma manifesta4ão enfadonha de sentimentalismo ou raciocínio politicamente corretoT

 +esse contexto, 2ual seria o sentido de :certo;T Ceria isso tudo apenas uma 2uestão de escolha pessoalT

1omo talvez voc= saiba, ou não, um grupo not3rio conhecido como !eople for the Ethical (reatment of

$nimals* (essoas "elo Tratamento )tio dos Animais0 acredita 2ue a moralidade do ato de ferver lagostas

não apenas uma 2uestão de consci=ncia individual# +a verdade, uma das primeiríssimas coisas 2ue

escutamos sobre o FLM### bem, vamos definir a cena? estamos vindo de t/xi do 2uase indescritivelmente

estranho e r"stico aeroporto do condado de nox, na madrugada anterior G abertura do festival, dividindo o

t/xi com um consultor político endinheirado 2ue passa metade do ano morando na ilha Vinalhaven, 2ue fica

na baía *seu destino a balsa de -ocland0#O consultor e o motorista estão respondendo a sondagens jornalísticas informais sobre avisão real dos

moradores da região sobre o FLM, se por exemplo consideram o festival apenas um evento para atrair

turistas e lucrar bastante ou se algo pelo 2ual os moradores do local esperam ansiosos, 2ue genuinamente

 promove seu orgulho como cidadãos etc# O motorista *2ue passou dos Q8 anos e parece fazer parte de um

 pelotão inteiro de aposentados contratado pela empresa de t/xi para ajudar no burburinho do verão, usa um

 broche de lapela com a bandeira americana e dirige de um modo 2ue pode somente ser descrito como

muito auteloso0 nos garante 2ue os moradores apoiam e apreciam o FLM, embora fa4a v/rios anos 2ue ele

mesmo não comparece ao evento e, parando para pensar, ningum 2ue ele ou a esposa conhe4am# (odavia o

consultor seminativo participou de alguns festivais recentes *tive a impressão de 2ue fez isso por ordem daesposa0, dos 2uais guardou como impressão mais vívida o fato de ser necess/rio :esperar na fila por um

tempo intermin/vel e lancinante at comprar as lagostas, e en2uanto isso um monte de exHmalucosHbeleza

zanza para cima e para baixo distribuindo panfletos dizendo 2ue as lagostas morrem sofrendo dores terríveis

e 2ue ningum deveria com=Hlas;#

E calhou 2ue os p3sHhippies das reminisc=ncias do consultor eram ativistas do !eta# +ão havia ningum do

!eta G vista no FLM de 9887,W.X mas eles foram uma presen4a ostensiva em muitos dos festivais recentes#

Besde a metade dos anos R8, pelo menos, artigos publicados em todo tipo de jornais, do Camden

 Herald ao *ew +or' Times, descreveram o !eta incitando boicotes ao Festival da Lagosta do Maine, muitas

vezes empregando portaHvozes famosos como Mar (ler Moore em cartas abertas e an"ncios declarando

coisas como :Lagostas são extraordinariamente sensíveis; e :!ara mim, comer uma lagosta est/ fora de

2uestão#; Mais concreto o depoimento oral de Bic, nosso floreado e deveras soci/vel contato na locadora

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de autom3veis, segundo o 2ual o !eta esteve tão presente nos "ltimos anos 2ue os ativistas e os nativos do

festival chegaram a uma espcie de homeostase de tolerJncia prec/ria, por exemplo? :(ivemos alguns

incidentes uns anos atr/s# Uma mulher tirou 2uase toda a roupa, se pintou inteira de lagosta e 2uase acabou

 presa# Mas na maior parte do tempo eles são deixados em paz# WUma se2u=ncia r/pida de risadinhas

ambíguas, algo 2ue acontece bastante com Bic#X Eles fazem a parte deles e n3s fazemos a nossa#;

Essa interlocu4ão inteira ocorre na -ota ., em 78 de julho, durante um trajeto de 6 2uil>metros e cin2uenta

minutos do aeroporto at a locadora para assinar os documentos de aluguel do carro# Bepois de v/riosdesdobramentos irreproduzíveis das anedotas sobre o !eta, Bic *cujo genro pescador de lagostas por

ofício e um dos fornecedores da !ra4a de $limenta4ão !rincipal0 exp@e o 2ue ele e sua família consideram o

fator atenuante crucial em toda essa 2uestão sobre a moralidade de ferver lagostas vivas? :+o crebro das

 pessoas e dos animais existe uma parte 2ue nos faz sentir dor, e os crebros das lagostas não t=m essa parte#;

Cem entrar no mrito de essa tese estar incorreta por uns onze motivos diferentes, a declara4ão de Bic se

torna interessante por ser mais ou menos ecoada pelo pronunciamento oficial do FLM sobre lagostas e dor,

 parte integrante de um teste chamado :(este seu SN de lagosta; encartado no programa do festival de 9887

 por cortesia do 1onselho de Fomento G Lagosta do Maine? O sistema ner%oso da la,osta - muito sim"les# ena %erdade - muito semelhante ao sistema ner%oso do ,a$anhoto. ) desentrali/ado# sem um -re!ro. *0o

h1 um 2rte3 ere!ral# 4ue nos humanos - a 1rea do -re!ro 4ue "ro"oriona a e3"eri5nia da dor.

Embora soe mais sofisticado, boa parte do embasamento neurol3gico desta afirma4ão ainda falsa ou

imprecisa# O c3rtexcerebral humano a parte do crebro 2ue lida com as faculdades superiores, como a

razão, a autoconsci=ncia metafísica, a linguagem etc# Cabemos 2ue os receptores da dor fazem parte de um

sistema muito mais antigo e primitivo de nociceptores e prostaglandinas administrados pelo tronco

encef/lico e o t/lamo# !or exemplo, a experi=ncia corri2ueira de encostar a mão sem 2uerer em um forno

2uente e retir/Hla bruscamente antes mesmo de notar 2ue h/ algo de errado se explica pelo fato de muitos

dos processos atravs dos 2uais detectamos e evitamos os estímulos dolorosos não envolverem o c3rtex# +o

caso da mão e do forno, o crebro totalmente contornado toda a a4ão neuro2uímica importante acontece

na espinha dorsal#

!or outro lado, verdade 2ue o c3rtex cerebral est/ envolvido no 2ue se costuma chamar de sofrimento,

afli4ão ou experi=ncia emocional da dor I isto , experimentar estímulos dolorosos como desagrad/veis,

muito desagrad/veis, intoler/veis e assim por diante#

 

ntes de avan4armos, vamos reconhecer 2ue as 2uest@es sobre se e como diferentes tipos de animais

sentem dor, e de se e por 2ue seria justific/vel lhes infligir dor para se alimentar deles, se mostram

extremamente complexas e difíceis# E neuroanatomia comparada apenas parte do problema# 1omo a dor

uma experi=ncia mental totalmente subjetiva, não temos acesso direto G dor de ningum ou de coisa alguma,

somente G nossa e at mesmo os princípios pelos 2uais podemos inferir 2ue outros seres humanos

experimentam a dor e t=m um interesse legítimo em não sentir dor envolvem filosofia pura I metafísica,

epistemologia, teoria dos valores, tica#

O fato de nem mesmo os mamíferos não humanos mais evoluídos serem capazes de usar linguagem para se

comunicar conosco a respeito de sua experi=ncia mental subjetiva apenas a primeira camada da

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complica4ão adicional de tentar estender aos animais nossos raciocínios sobre dor e moralidade# E tudo fica

cada vez mais abstrato e intrincado G medida 2ue nos afastamos mais e mais dos maHmíferos superiores e

 passamos aos bovinos e suínos, aos cães e gatos e aos roedores, e então aos p/ssaros, aos peixes e por fim

aos invertebrados, como as lagostas#

(odavia o mais importante a2ui 2ue toda a 2uestão da crueldade com os animais e da moralidade de com=H

los não apenas complexa, mas tambm desconfort/vel# Ou pelo menos desconfort/vel para mim, e para praticamente todos os meus conhecidos 2ue apreciam uma ampla gama de alimentos e ao mesmo tempo não

2uerem se enxergar como cruis ou insensíveis# $t onde percebo, minha principal maneira de lidar com

esse conflito tem sido evitar pensar sobre esse assunto tão desagrad/vel# Bevo admitir 2ue tambm me

 parece improv/vel 2ue muitos leitores deGourmet 2ueiram pensar sobre isso ou ser 2uestionados a respeito

da moralidade dos seus h/bitos alimentares por uma revista mensal de gastronomia# !orm, como a pauta

definida para este artigo descrever como foi participar do FLM de 9887, e por causa disso passar v/rios

dias em meio a uma grande massa de americanos comendo lagostas, e conse2uentemente ser mais ou menos

impelido a pensar a fundo sobre lagostas e sobre a experi=ncia de comprar e comer lagostas, calha 2ue não

existe uma maneira honesta de evitar certas 2uest@es morais#'/ v/rios motivos para isso# !ara come4ar, não existe s3 o problema de 2ue as lagostas são fervidas vivas,

mas tambm o de 2ue 2uem faz isso voc= I ou pelo menos isso feito especificamente para voc=, in loo#

Em termos de moralidade, preciso admitir 2ue isso uma faca de dois gumes# !elo menos comer lagostas

não torna ningum c"mplice do sistema corporativo de fazendas de confinamento 2ue produz a maior parte

da carne de boi, porco e frango# !or causa, no mínimo, do modo como são comercializadas e embaladas,

comemos essas carnes sem ter de pensar 2ue um dia j/ foram criaturas sencientes e dotadas de consci=ncia

Gs 2uais foram feitas coisas horríveis#

1onforme mencionado, a Maior !anela para Lagostas do Mundo, 2ue destacada como uma atra4ão no

 programa do festival, fica bem G vista de todos na /rea norte do FLM# (ente imaginar um Festival da 1arne

do +ebrasa cujas festividades incluíssem caminh@es estacionando e gado sendo descarregado por uma

rampa para em seguida ser abatido diante do p"blico no Maior Matadouro do Mundo ou coisa parecida I

seria impossível#

 

intimidade da coisa toda maximizada em casa, onde naturalmente a maioria das lagostas preparada

e comida *percebam, contudo, o eufemismo semiconsciente :preparada;, 2ue no caso das lagostas significa

na verdade mat/Hlas bem no meio das nossas cozinhas0# +o cen/rio habitual, o sujeito chega em casa com as

lagostas e toma pe2uenas provid=ncias como encher o tacho de /gua e p>r para ferver, em seguida retira as

lagostas da sacola ou 2ual2uer 2ue seja o recipiente em 2ue tenham sido trazidas### e então coisas

desconfort/veis come4am a acontecer# !or mais estuporada 2ue esteja depois do trajeto, por exemplo, a

lagosta costuma voltar G vida de forma alarmante ao ser colocada na /gua fervente# Suando despejada do

recipiente para dentro do tacho fumegante, Gs vezes a lagosta tenta se segurar nas bordas do recipiente ou at

mesmo enganchar as garras na beira do tacho como uma pessoa dependurada de um telhado, tentando não

cair# !ior ainda 2uando a lagosta fica imersa por completo# Mesmo 2ue o sujeito tampe o tacho e saia de perto, normalmente possível ouvir a tampa chacoalhando e rangendo en2uanto a lagosta tenta empurr/Hla#

Ou escutar as garras da criatura raspando o interior do tacho en2uanto se debate# Em outras palavras, a

lagosta apresenta um comportamento muito parecido com o 2ue eu ou voc= apresentaríamos se f>ssemos

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atirados em /gua fervente *com a 3bvia exce4ão dos gritos0# !ara falar de modo ainda mais direto, a lagosta

age como se sentisse dores terríveis, fazendo com 2ue algumas pessoas abandonem a cozinha levando

consigo um da2ueles cron>metros de pl/stico para esperar em outro c>modo at o processo inteiro chegar ao

fim#

'/ um mito populista relevante acerca do apito agudo 2ue por vezes escapa de uma panela onde se fervem

lagostas# O som causado pelo vapor expelido pela camada de /gua marinha entre a carne da lagosta e suacarapa4a * por isso 2ue as lagostas de casca mole apitam mais 2ue as de casca dura0, mas a versão pop

afirma 2ue esse som, semelhante aos guinchos de um coelho, o grito de morte da lagosta# $s lagostas se

comunicam atravs de ferom>nios na urina e não possuem nada remotamente parecido com o e2uipamento

vocal necess/rio para gritar, mas o mito bastante persistente I o 2ue pode, mais uma vez, apontar para um

desconforto baixo cultural a respeito dessa hist3ria de ferver lagostas#

 

maioria dos eticistas concorda 2ue existem dois critrios principais para determinar se uma criatura

viva possui a capacidade de sofrer e, assim, possui interesses genuínos 2ue podemos ou não ter o dever

moral de levar em conta#W9X Um deles se relaciona ao hard%areneurol3gico re2uerido para a experi=ncia da

dor com 2ue o animal vem e2uipado I nociceptores, prostaglandinas, neurorreceptores de opioides etc# O

outro critrio se o animal demonstra algum comportamento associado G dor# E necess/ria uma boa dose

de gin/stica intelectual e detalhismo behaviorista para não ver as a4@es de lutar, se debater e fazer tilintar

tampas de panela como comportamentos associados G dor# Cegundo os zo3logos marinhos, em geral uma

lagosta leva de 75 a P5 segundos para morrer dentro da /gua fervente# *+ão consegui encontrar nenhuma

fonte 2ue mencione o tempo necess/rio paHra 2ue morram em vapor supera2uecido esperaHse 2ue seja maisr/pido#0

Existem, claro, outras maneiras de matar sua lagosta in loo e assim obter o m/ximo de frescor# $lguns

cozinheiros t=m como h/bito espetar a ponta de uma faca afiada e pesada em um ponto logo acima da

metade da distJncia entre os olhos pedunculares da lagosta *mais ou menos onde o (erceiro Olho se localiza

nas frontes humanas0# $ alega4ão 2ue isso ou mata a lagosta instantaneamente ou a torna insensível, e

dizem 2ue elimina ao menos parte da covardia envolvida no ato de jogar uma criatura em /gua fervente e em

seguida abandonar o recinto#

$t onde pude deduzir conversando com defensores do mtodo da facada na cabe4a, o raciocínio 2ue ele

mais violento, todavia no fim das contas mais misericordioso, alm de 2ue a disposi4ão de exercer ag=ncia

 pessoal e aceitar a responsabilidade de apunhalar a cabe4a da lagosta de algum modo honra o animal e

autoriza algum a com=Hlo *os argumentos pr3Hfacada muitas vezes t=m um sabor vago de :espiritualidade

da ca4a; do nativo americano0# Mas o problema do mtodo da facada biologia b/sica? os sistemas nervosos

das lagostas não operam a partir de um, mas de diversos gJnglios conhecidos como feixes de nervos, meio

2ue conectados em srie e distribuídos por toda a parte de baixo do corpo do animal, da proa G popa# E

incapacitar somente o gJnglio frontal não costuma resultar em morte r/pida ou perda de consci=ncia#

Outra alternativa colocar a lagosta em /gua salgada fria e em seguida ferver lentamente# 1ozinheiros 2uedefendem este mtodo recorrem G analogia da rã, 2ue supostamente pode ser impedida de saltar de uma

 panela fervente se a /gua for es2uentada aos poucos# !ara poupar a todos de um resumo das minhas

 pes2uisas, vou simplesmente garantir 2ue a analogia entre rãs e lagostas não se sustenta I e digo mais, se a

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/gua na panela não for /gua marinha e aerada, a lagosta nela imersa submetida a uma lenta sufoca4ão,

embora esta não seja severa o suficiente para impedir 2ue ela se debata e fa4a barulho 2uando a /gua ficar

2uente o bastante para mat/Hla# +a realidade, lagostas fervidas aos poucos muitas vezes demonstram todo

um conjunto adicional de rea4@es pavorosas e convulsivas 2ue normalmente não são registradas na fervura

comum#

Em "ltima an/lise, as "nicas virtudes confirmadas dos mtodos de lobotomia caseira e fervura lenta sãocomparativas, pois h/ 2uem prepare lagostas de formas ainda piores, mais cruis# 1ozinheiros interessados

em poupar tempo Gs vezes colocam as lagostas vivas no microHondas *geralmente ap3s fazer v/rias

 perfura4@es na carapa4a, uma precau4ão cuja utilidade muitos adeptos do microHondas aprendem na pr/tica0#

Es2uartejar a lagosta viva, por outro lado, faz sucesso na Europa I alguns he$s dividem a lagosta ao meio

antes de cozinhar outros gostam de arrancar as patas e a cauda e atirar somente essas partes dentro da

 panela#

 

h/ outras m/s notícias relacionadas ao critrio de sofrimento n"mero .# $inda 2ue não se desta2uem

 pela visão ou pela audi4ão, as lagostas possuem um tato muito refinado, auxiliado por centenas de milhares

de pelos min"sculos 2ue se projetam atravs da carapa4a# :E por isso;, nas palavras de (# M# !rudHden no

cl/ssico do ramo, A!out Lo!sters, :2ue embora envolta pelo 2ue parece uma armadura s3lida e

impenetr/vel, a lagosta capaz de receber estímulos e sensa4@es do mundo exterior tão prontamente 2uanto

se possuísse uma pele macia e delicada#; E as lagostas possuem nociceptores,W7X bem como vers@es

invertebradas de prostaglandinas e neurotransmissores importantes atravs dos 2uais nossos pr3prios

crebros registram a dor#

!or outro lado, as lagostas não parecem contar com o e2uipamento necess/rio para produzir ou absorveropioides naturais como as endorfinas ou as encefalinas, utilizados pelos sistemas nervosos mais avan4ados

 para tentar lidar com a dor intensa# $ partir desse fato, porm, podeHse concluir 2ue as lagostas talvez sejam

ainda mais vulner/veis G dor, pois não contam com a analgesia embutida nos sistemas nervosos dos

mamíferos# Ou, em vez disso, concluir 2ue a aus=ncia de opioides naturais implica a aus=ncia das sensa4@es

de dor realmente intensas 2ue essas substJncias são destinadas a aliviar# Eu particularmente detecto uma

melhora sensível no meu humor ao contemplar esta "ltima possibilidade# possível 2ue a aus=ncia de

hard%arepara endorfinasKencefalinas signifi2ue 2ue para as lagostas a experi=ncia crua e subjetiva da dor

seja tão radicalmente diferente da experi=ncia dos mamíferos 2ue pode nem mesmo ser merecedora do

termo :dor;# (alvez as lagostas tenham mais em comum com a2ueles pacientes de lobotomia frontal sobre

2uem a gente Gs vezes l=, 2ue relatam experimentar a dor de uma maneira totalmente diferente de voc= e eu#

evidente 2ue esses pacientes sentem dor física, neurologicamente falando, mas não desgostam dela I

embora tambm não cheguem a gostar como se eles sentissem dor, mas não sentissem nada a res"eito dela

 I ou seja, a dor não lhes aflige nem algo 2ue desejem evitar#

(alvez as lagostas, 2ue tambm não possuem lobos frontais, sejam da mesma forma indiferentes ao registro

neurol3gico de ferimento ou perigo 2ue chamamos de dor# Existe, afinal de contas, uma diferen4a entre? *.0

a dor como um evento puramente neurol3gico e *90 o sofrimento genuíno, onde parece crucial o

envolvimento de um componente emocional, uma consci=ncia da dor como uma experi=ncia desagrad/vel,algo a se temerKdesgostarK2uerer evitar#

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$inda assim, ap3s toda a abstra4ão intelectual, restam os fatos da tampa batendo freneticamente, das patas

enganchadas de forma pattica na beira da panela# Biante do fogão difícil negar de 2ual2uer modo 2ue

a2uilo seja uma criatura viva sentindo dor e tentando evitarKescapar dessa experi=ncia dolorosa# !ara minha

mente leiga, o comportamento da lagosta no tacho parece ser uma expressão de "re$er5nia e bem

 possível 2ue uma habilidade para formar prefer=ncias seja o critrio decisivo para o sofrimento real# Em

linhas gerais :prefer=ncia; talvez seja um sin>nimo de :interesses;, mas um termo melhor para nossos fins

 por ser menos abstratamente filos3fico I :prefer=ncia; parece mais pessoal, e o 2ue est/ em 2uestão  justamente toda a ideia da experi=ncia pessoal de uma criatura viva#

$ l3gica desta rela4ão *prefer=ncia Y sofrimento0 pode ser mais facilmente compreensível no caso negativo#

Ce cortarmos ao meio certos tipos de vermes, muitas vezes as metades seguirão rastejando por aí e cuidando

dos seus assuntos vermiformes como se nada tivesse acontecido# Suando, tomando como base seu

comportamento p3sHoperat3rio, afirmamos 2ue esses vermes não parecem estar sofrendo, estamos na

verdade dizendo 2ue não existe indício algum de 2ue os vermes saibam 2ue algo de ruim aconteceu ou

2ue "re$eririam não ser divididos ao meio#

$s lagostas, porm, manifestam prefer=ncias# Experimentos demonstraram 2ue elas são capazes de detectar

mudan4as de apenas . ou 9 graus na temperatura da /gua um dos motivos para seus complexos ciclos

migrat3rios *2ue muitas vezes abarcam mais de .<8 2uil>metros por ano0 a busca por temperaturas 2ue

consideram mais agrad/veis# E, como j/ foi mencionado, as lagostas vivem no leito marinho e não gostam

de claridade I se um a2u/rio cheio de lagostas for colocado G luz do sol ou mesmo sob a luz fluorescente de

uma loja, elas vão sempre se aglomerar na parte mais escura# !or serem bastante solit/rias no oceano, as

lagostas tambm claramente desgostam do amontoamento 2ue parte indissoci/vel do seu cativeiro em

a2u/rios, pois *como tambm j/ foi mencionado0 um dos motivos pelos 2uais se amarram as garras das

lagostas assim 2ue elas são capturadas evitar 2ue elas ata2uem umas Gs outras por causa do estresse do

armazenamento em espa4os exíguos#

 

e 2ual2uer modo, no FML, diante dos a2u/rios borbulhantes em frente G Maior !anela para Lagostas

do Mundo, observando as lagostas recmHpescadas se amontoando umas sobre as outras, sacudindo

impotentes as garras amarradas, se escondendo nos cantos mais escuros ou se afastando in2uietas do vidro

2uando algum se aproxima, difícil não sentir 2ue estão infelizes, ou assustadas, mesmo 2ue seja alguma

forma rudimentar dessas emo4@es### e, a prop3sito, por 2ue a rudimentariedade tem 2ue ser incluída na2uestãoT !or 2ue uma forma primitiva e inarticulada de sofrimento seria menos urgente ou desconfort/vel

 para a pessoa 2ue est/ colaborando com ela ao pagar pelo alimento resultante desse sofrimentoT +ão estou

tentando passar um sermão ao estilo do !eta I ou pelo menos acho 2ue não# Em vezdisso, estou tentando

compreender e articular alguns dos 2uestionamentos perturbadores 2ue v=m G tona em meio Gs risadas, G

anima4ão e ao orgulho comunit/rio do Festival da Lagosta do Maine# $ verdade 2ue, se comparecendo ao

festival o sujeito se permitir cogitar 2ue as lagostas podem sofrer e 2ue prefeririam 2ue isso não acontecesse,

o flm come4a a ficar parecido com um circo romano ou um festival de torturas medievais#

!arece uma compara4ão exageradaT Ce for o caso, exatamente por 2u=T Ou 2ue tal esta? possível 2ue asgera4@es futuras considerem as pr/ticas de agroneg3cio e alimentares contemporJneas da mesma maneira

como hoje enxergamos os espet/culos de +ero ou os experimentos de MengeleT Minha pr3pria rea4ão

inicial achar tais compara4@es histricas e extremadas I todavia, o motivo pelo 2ual me parecem

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extremadas 2ue eu creio 2ue os animais são moralmente menos importantes 2ue os seres humanosWPX e

2uando se trata de defender essa cren4a, ainda 2ue para mim mesmo, preciso reconhecer 2ue? *a0 tenho um

3bvio interesse egoísta nessa cren4a, pois gosto de comer certos tipos de animais e 2uero ser capaz de

continuar fazendo isso, e *b0 não consegui elaborar nenhum tipo de sistema tico pessoal dentro do 2ual essa

cren4a se torne verdadeiramente justific/vel em vez de ser apenas uma conveni=ncia egoísta#

 

evando em conta o lugar onde este artigo ser/ publicado e minha pr3pria falta de sofistica4ão culin/ria,

tenho curiosidade de saber se o leitor se identifica com 2uais2uer dessas rea4@es, confiss@es e desconfortos#

(ambm não 2uero soar excessivo ou moralista, 2uando na verdade o 2ue sinto confusão# !erguntas aos

leitores de Gourmet 2ue apreciam refei4@es bemHfeitas e bemHapresentadas envolvendo carne de vaca, vitela,

cordeiro, porco, frango, lagosta etc#? Voc=s pensam muito sobre a *possível0 condi4ão moral e o *prov/vel0

sofrimento dos animais envolvidosT Ce pensam, 2uais convic4@es ticas desenvolveram para se permitir não

apenas comer, mas tambm saborear e desfrutar de iguarias G base de carnes de animais *pois

o des$rute refinado, em contraste com a mera ingestão, naturalmente a razão de ser da gastronomia0T Ce, por outro lado, voc=s não dão a menor bola para confus@es ou convic4@es e acham coisas como o par/grafo

anterior puro umbiguismo sem sentido, o 2ue em seu íntimo faz voc=s sentirem 2ue não existe realmente

 problema algum em desconsiderar de forma perempt3ria toda essa 2uestãoT Nsto , a recusa em pensar

nessas coisas seria o produto de um raciocínio ou na verdade voc=s apenas não 2uerem pensar sobre o

assuntoT E se for isso mesmo, por 2ue nãoT Voc=s chegam a pensar, mesmo G toa, sobre as possíveis raz@es

dessa relutJncia em pensar no assuntoT +ão estou tentando importunar ningum I minha curiosidade

genuína# $final de contas, ser muito consciente, atencioso e cuidadoso a respeito do 2ue se come e de todo o

contexto englobante não parte do 2ue distingue um verdadeiro ,ourmet T Ou toda a aten4ão e a

sensibilidade extraordin/rias do ,ourmet devem se limitar ao sensorialT (udo poderia realmente ser resumido

a uma 2uestão de sabor e apresenta4ãoT

Estas "ltimas indaga4@es, todavia, ainda 2ue sinceras, obviamente envolvem 2uest@es muito maiores e mais

abstratas a respeito das conex@es *caso existentes0 entre esttica e moralidade I sobre o 2ue realmente

significa o adjetivo em uma expressão como :$ -evista da )oa Vida; I, e essas 2uest@es levam diretamente

a /guas tão profundas e trai4oeiras 2ue talvez seja melhor encerrar por a2ui a discussão p"blica# Existem

limites mesmo para o 2ue as pessoas interessadas podem perguntar umas Gs outras# Z

 

W.X +o fim das contas se descobriu 2ue um tal sr# Ailliam -# -ivasH-ivas, membro de alto escalão do 2uartelH

general do !eta na Virginia, estava no festival este ano, ainda 2ue sozinho, cuidando das entradas principal e

lateral no s/bado, dia 9 de agosto, distribuindo panfletos e adesivos com a inscri4ão :Cer Fervido B3i;#

 

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W9X:Nnteresses; significa basicamente prefer=ncias fortes e legítimas, 2ue obviamente exigem algum grau de

consci=ncia, reatividade a estímulos etc# Veja, por exemplo, o 2ue diz o fil3sofo utilitarista !eter Cinger, cujo

livro Li!erta60o Animal , de .RQ5, a bíblia do movimento contemporJneo de direitos dos animais? Seria

tolie di/er 4ue n0o est1 nos interesses de uma "edra ser hutada "or um ,aroto ao lon,o de uma estrada.

7ma "edra n0o tem interesses# "ois n0o "ode so$rer. *ada 4ue "ossamos $a/er om ela re"resentaria

4ual4uer di$eren6a em seu !em8estar. 7m rato# "or outro lado# tem interesse em n0o ser hutado ao lon,o

da estrada# "ois so$rer1 se isso %ier a aonteer. 

W7XEste o termo neurol3gico para receptores sensoriais específicos, :sensíveis a extremos de temperatura

 potencialmente nocivos, a for4as mecJnicas e a substJncias 2uímicas liberadas 2uando os tecidos do corpo

sofrem danos;#

 

WPXCignificando !em menos importantes, ao 2ue parece, posto 2ue a compara4ão moral em jogo não o valor

de uma vida humana %ersus o valor de uma vida animal, mas sim o valor de uma vida animal %ersus o valor

do gosto humano por um tipo específico de proteína# $t mesmo o :carn3filo; mais teimoso reconheceria

2ue possível viver e comer bem sem consumir animais#