Pequeno Relato de Experiência: Construindo um Grupo de Saúde Mental na Estratégia Saúde da...

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Unidade de Saúde da Família Marcionílio R. dos Santos (Baraúnas) Trabalhador: Helvécio Ribeiro de Meira Júnior Relato de Experiência: o Grupo de Saúde Mental da Estratégia de Saúde de Baraúnas, em Brumado, Bahia Neste relato, explanaremos sobre as dificuldades, facilidades e potencialidades encontradas no processo de construção do Grupo de Saúde mental. Colocaremos acerca da nossa discussão com todos os atores envolvidos no cuidado dos usuários com transtornos mental que participam do grupo. Dentre os colaboradores do grupo, encontramos cinco pessoas da comunidade, mais cinco familiares, uma estudante de assistência social, quatro conselheiros locais de saúde. Sempre dialogamos rotineiramente, em todas as reuniões. E estes encontros se fazem geralmente em pé de igualdade, quando todos, usuários e colaboradores, colocam suas opiniões e planejam as diversas ações. De qualquer forma, utilizamos nosso último encontro, dia 28 de novembro de 2013, quando estávamos todos os colaboradores – conselheiros de saúde, familiares, outras pessoas da comunidade - a fim de concluirmos sobre as facilidades, dificuldades e potencialidades encontradas no processo.

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Unidade de Saúde da Família Marcionílio R. dos Santos (Baraúnas) Trabalhador: Helvécio Ribeiro de Meira Júnior

Relato de Experiência: o Grupo de Saúde Mental da Estratégia de Saúde

de Baraúnas, em Brumado, Bahia

Neste relato, explanaremos sobre as dificuldades, facilidades e potencialidades encontradas no processo de construção do Grupo de Saúde mental. Colocaremos acerca da nossa discussão com todos os atores envolvidos no cuidado dos usuários com transtornos mental que participam do grupo. Dentre os colaboradores do grupo, encontramos cinco pessoas da comunidade, mais cinco familiares, uma estudante de assistência social, quatro conselheiros locais de saúde. Sempre dialogamos rotineiramente, em todas as reuniões. E estes encontros se fazem geralmente em pé de igualdade, quando todos, usuários e colaboradores, colocam suas opiniões e planejam as diversas ações. De qualquer forma, utilizamos nosso último encontro, dia 28 de novembro de 2013, quando estávamos todos os colaboradores – conselheiros de saúde, familiares, outras pessoas da comunidade - a fim de concluirmos sobre as facilidades, dificuldades e potencialidades encontradas no processo.

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O Grupo de Saúde Mental continua suas atividades semanalmente, durante a tarde até a noitinha das quartas-feiras (das 16 às 19 horas), quando proseamos, cantamos, também tem os comes e bebes e, sobretudo, planejamos sobre nosso trabalho.

Partindo dos usuários, resolvemos fazer uma horta para auto sustento. Fala-se também em possibilidades como plantar ervas para comercialização de medicações alternativas e até venda de marmitas com os produtos da nossa plantação. Atualmente, estamos fazendo horta com plantação de alface, pimentão, tomate, pimenta.

A percepção de que o trabalho pode ter consequências sobre a saúde mental dos indivíduos é muito antiga. Podemos encontrá-la, por exemplo, no clássico "Tempos Modernos" de Charlie Chaplin - sensível à violência produzida pelas transformações contemporâneas do taylorismo e do fordismo sobre os trabalhadores. A proposta do grupo, cuja ideia e motivação partiu dos usuários foi trabalhar a terra, a natureza (a horta) para o sentido da integralidade e valorização do ser humano.

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Unidade de Saúde da Família Marcionílio R. dos Santos (Baraúnas) Trabalhador: Helvécio Ribeiro de Meira Júnior Uma das orientações do grupo foi no sentido de acudirmos a uma necessidade dos usuários de saúde mental em satisfazer seus desejos de trabalhar com uma horta. O trabalho em grupo faz-se sob a colaboração intensa dos conselheiros de saúde, de pessoas da comunidade e dos familiares, porém centrado nos usuários de saúde mental, tendo como mais importante a alegria e bem-estar dessas pessoas com transtornos mentais.

Aproveitamos nossa última reunião do mês de novembro, no dia 27, quando todos os atores colaboradores estavam presentes: representantes do conselho de saúde, comunidade em geral e familiares dos usuários da saúde mental. Aqui relacionaremos os pontos positivos e facilidades encontradas, dificuldades e potencialidades destacadas.

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Sem dúvida alguma, foi percebido uma melhor relação dos usuários com transtornos mentais com seus amigos e familiares. Um familiar relatou sobre um usuário: “ ele está mais calmo”; um outro falou que “a casa está mais em paz”; dois familiares referiram sobre a melhora do humor de seus parentes com transtorno mental; dois colaboradores da comunidade identificaram uma maior autoconfiança por parte dos usuários; os conselheiros de saúde aprovaram o trabalho da horta, referindo como aspecto positivo uma valorização da pessoa humana através do seu trabalho - um sentimento de valorização com o trabalho que está sendo executado (horta). Também foi identificado por todos “um aumento do diálogo e dos sorrisos (maior alegria e espontaneidade demonstrada pelos usuários.)”.

Também contamos com a boa vontade dos colaboradores, quando um doou o terreno, outros doaram o adubo e as sementes para o plantio, outros se revezam no oferecimento do lanche.

Além disto, as reuniões seguem com presença unânime em todos os momentos que houveram.

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Numa região aonde a sequidão é regra, a falta d’água foi tida como uma grande dificuldade. Porém, estamos aproveitando o período de chuvas em Brumado para a realização do plantio. Com isto, a terra amoleceu e se tornou boa para o trabalho. O adubo já foi jogado, sendo feito a semeação.

Ocorrendo falta d’água, esta deverá ser contornada pelo custeio da agua da embasa por parte dos colaboradores, segundo nosso acerto.

Alguns usuários falam em diversificar o trabalho: plantar ervas medicamentosas, vender na feira o produto do trabalho, fazer outra atividade como o artesanato do fuxico.

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Unidade de Saúde da Família Marcionílio R. dos Santos (Baraúnas) Trabalhador: Helvécio Ribeiro de Meira Júnior O grupo existe há pouco tempo, porém possui muito entusiasmo e assiduidade, sendo que poderá ser um dispersor de novas relações, mais harmônicas e inclusivas, entre os usuários com transtornos mentais e a comunidade.

O envolvimento dos familiares, amigos e comunidade em um trabalho inclusivo de implantação dum grupo comunitário que agregasse pessoas com transtornos mentais é fascinante.

Em 2015, Grupo de Saúde de Baraúnas ainda continua com suas atividades de plantio e reuniões regulares. Estamos planejando mais um churrasco numa tarde lúdica dum domingo

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Unidade de Saúde da Família Marcionílio R. dos Santos (Baraúnas) Trabalhador: Helvécio Ribeiro de Meira Júnior de fevereiro. Na verdade, os usuários e colaboradores que organizam e apenas tento acompanhar, na facilitação, amizade e empenho social. Oxalá que este compartilhamento das subjetividades e construção solidária da cidadania provoque cada vez mais a comunidade para formas alternativas de tecnologias fortificadores da atenção primária visando ações sustentáveis de promoção da saúde.

1 - BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Geral de Saúde Mental. Coordenação de Gestão da Atenção Básica. Saúde mental e a atenção básica: o vínculo e o diálogo necessários. Brasília: MS, 2003. 2 - VAllADARES, A.C.A. et al. Reabilitação psicossocial através das oficinas terapêuticas e/ou cooperativas sociais. Rev. Eletron. Enferm. v.5, n.1, p.4-9, 2003. 3 - Duncan BB, Schmidt MA, Giugliani ERJ. Med. Amb. Condutas Clínicas em Atenção Primária. 4ªed. Porto Alegre: Artes Médicas; 2013. 4 - MERLO, A.R.C. A Informática no Brasil:prazer e sofrimento no trabalho. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1999

“Primar pela valorização da subjetividade do usuário, com ênfase na sua

autonomia, onde a identidade das pessoas deve ser respeitada, senão, o Cuidado

tornar-se-á “inautêntico”, palavreado vazio e inoperante” (Adaptado de Paulo Freire).